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Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário SEMINÁRIO I - PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL Andressa Sehn da Costa 1. Recurso administrativo protocolado intempestivamente tem o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário? Fundamentar sua decisão observando o que dispõe o art. 35 do Decreto Federal n. 70.235/72: “Art. 35. O recurso, mesmo perempto, será encaminhado ao órgão de segunda instância, que julgará a perempção.” O STJ possui diversos entendimentos1 no sentido de que o recurso intempestivo mantém a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, tendo em vista que, nos termos do art. 151, III e art. 174 do CTN, enquanto perdurar o contencioso administrativo o contribuinte não pode ser cobrado, pois apenas com o trânsito em julgado da decisão definitiva da instância administrativa e com a notificação do contribuinte é que o crédito tributário é definitivamente constituído. Contudo, também dispõe o art. 42 do Decreto n. 70.235/75 que são definitivas as decisões “de primeira instância esgotado o prazo para recurso voluntário sem que este tenha sido interposto”. E nesse sentido também já houve posicionamento do TRF4 no sentido de que a “impugnação intempestiva não dá início à fase litigiosa do procedimento e não suspende a exigibilidade do crédito tributário”2. Dessa forma, entendo que se o recurso intempestivo pudesse suspender a exigibilidade, o contribuinte estaria, em última análise, a se beneficiar do fato de protocolizar recurso fora do prazo, pois a ninguém é dado se valer da própria torpeza. 2. Considerando a presunção de legitimidade dos atos administrativos, a quem compete o ônus da prova nos recursos e impugnações? Até que momento o contribuinte (recorrente) pode juntar aos autos do processo administrativo provas documentais? Diante do que dispõem os arts. 9º e 10 do CPC/15, apresentadas novas provas pelo contribuinte o julgador administrativo deverá dar oportunidade ao Fisco para se manifestar a respeito antes de afetar o processo para julgamento? (Vide anexo I, II e III). Não é somente o contribuinte que deve instruir o processo administrativo, tendo em vista que possui o direito constitucional a ser compelido apenas a pagar tributo cujo fato gerador esteja devidamente previsto em lei, até porque é o fisco que possui o ônus de provar a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária. Dito isso, “Apenas o lançamento que estiver devidamente respaldado em provas poderá ser considerado legítimo, em conformidade com o sistema”3. No mesmo sentido, é o 1 A intempestividade do recurso administrativo não perfaz contexto fático juridicamente relevante para afastar o entendimento firmado no STJ acerca do tema. Precedentes: AgRg no AgRg no REsp 1.478.651/SP, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 13/3/2015; RCD no AREsp 623.936/RO, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 19/2/2015; AgRg no Ag 1.094.144/SP, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 4/6/2009). 2 TRF4, AC 5049022-76.2013.404.7100, Primeira Turma, Relator p/ Acórdão Jorge Antonio Maurique, juntado aos autos em 04/04/2014 3 DARZÉ. Andréa Medrado. Preclusão da prova no processo administrativo tributário: um falso problema. p. 6 Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário entendimento da doutrinadora Fabiana Del Padre Tomé, para quem “É insustentável o lançamento ou o ato de aplicação de penalidade que não tenha suporte em provas suficientes da ocorrência do evento”4. Quanto ao prazo para juntada de documento, trata o Decreto 70.235/72 em seu art. 16, §4° que a prova documental, via de regra, deve ser apresentada no momento da impugnação, listando em seus incisos as exceções, tais como a impossibilidade de juntada nessa oportunidade. Desde que não tenha nenhum prejuízo a parte contrária ou não tenha influência na decisão proferida, não há que se falar em negativa de prestação. 3. Os tribunais administrativos exercem “jurisdição”? Justifique sua resposta, definindo “jurisdição”. Podem, no ato de julgar, afastar a aplicação de Decreto sob a alegação de sua ilegalidade para com a Lei. Pode a decisão administrativa inovar o feito, agravando o lançamento por ocasião do julgamento da defesa do contribuinte? De acordo com as lições de Carlos Alberto Alvaro de Oliveira e Daniel Mitidiero, “A jurisdição é antes de tudo poder – é uma das manifestações do poder do povo (art. 1º, parágrafo único, CRFB), canalizando no Estado, cujo exercício se leva a cabo por meio da função judiciária. A jurisdicionalidade de um ato é aferida na medida em que é fruto de um órgão estatal, dotado de império, investido em garantias funcionais que lhe outorgam imparcialidade e independência, cuja função é aplicar o direito (e não apenas a lei) de forma específica, dotado o seu pronunciamento de irrevisibilidade externa”5. Destaca-se o requisito da irrevisibilidade externa, que, segundo os mesmos autores, significa a impossibilidade de revisão da decisão por entidade que não seja integrante dos quadros do Poder Judiciário. Ou seja, “A irrevevisibilidade consiste em que cabe à jurisdição dar a última palavra sobre as situações colocadas ao seu exame.” Assim, considerando que os tribunais administrativos não dão a última palavra, pois o Poder Judiciário pode ser acionado para reexame (princípio da inafastabilidade da apreciação judicial6) confirma o fato de que não exercem jurisdição. No entanto, embora não exerçam jurisdição, esses tribunais efetuam importante função ao realizar controle de legalidade dos próprios atos da administração. Corroroba com esse entendimento Andréa Darzé, quando arguiu que a sua finalidade “não é solucionar conflitos de interesses entre particular e o Poder Público, ainda que o faça mediatamente. Sua razão de ser é controlar a legalidade dos atos de constituição do crédito tributário”7. 4. Qual a aplicabilidade do CPC/15 ao processo administrativo tributário? Os enunciados das súmulas vinculantes devem ser observados pela Administração Pública? E os demais enunciados das súmulas do STF em matéria constitucional e do STJ em matéria infraconstitucional? E os 4 TOMÉ, Fabiana Del Padre. A prova no Direito Tributário. São Paulo: Noeses, 2011. p. 272 5 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de; MITIDIERO, Daniel. Curso de Processo Civil: volume 1: teoria geral do processo civil e parte geral do direito processual civil. São Paulo: Atlas, 2010, p. 125. 6 Artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal. 7 DARZÉ. Andréa Medrado. Preclusão da prova no processo administrativo tributário: um falso problema. p. 3. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário acórdãos em incidente de resolução de demandas repetitivas (vide art. 928, II, do CPC/15)? A aplicação do CPC é não só supletiva, em complementação ao disposto em regulamento próprio, mas também subsidiária, quando inexistente regra nesse sentido8. Ainda, a própria Lei 9.784/99, que regula o processo administrativo no âmbito federal, prevê no art. 69 que “Os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei”. Em outras palavras, o processo administrativo que tiver regulamentação própria, mas apresentar omissões, lacunas ou necessitar de complementação, como meio de solucionar e pacificar os conflitos é aplicado o CPC9. A Portaria do Ministério da Fazenda 256/09 ao alterar o Regimento Interno do CARF, passou a incluir o art. 62-A e §1°10, disciplinando que os entendimentos proferidos pelos Tribunais Superiores deverão ser aplicados/observados no âmbito do julgamentos administrativos11. Entendo que essa medida atende e reforça não só a aplicação do CPC, como também o próprio atendimento aos princípios Constitucionais de segurança jurídica, efetividade das decisõesjudicias e sobretudo duração razoável do processo, eis que, caso o contribuinte não tenha a aplicação desses entendimentos – do STF ou STJ - em âmbito administrativo, certamente recorrerá ao poder judiciário. 5. A lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro é aplicada ao procedimento/processo administrativo fiscal? Quais as implicações da aplicação da LINDB no PAF? Analisar especificamente os artigos 24 e 28 da referida lei (vide ACÓRDÃOS DO CARF Nª 9202-006.996, 1301-003.284, 9101-003.839). A desconsideração de negócios jurídicos para 8 De acordo com a previsão do art. 15, do referido diploma processual, dispondo que “Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente” 9 Ademais, há tempos, em julgados do próprio órgão administrativo temos o reconhecimento da aplicação do CPC, conforme se verifica da ementa: Processo Administrativo Fiscal Período de apuração: 25/06/1999 a 24/09/1999 NORMAS PROCESSUAIS. ADMISSIBILIDADE DO RECURSO. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. LEGITIMIDADE PASSIVA Aplicam- se, subsidiariamente, ao processo administrativo fiscal as normas do Código de Processo Civil, como a do seu art. 485 (antigo 267) que permite o conhecimento de ofício das matérias de ordem pública ali expressamente enumeradas, entre as quais consta a legitimidade das partes. (CARF, Acórdão 9303- 003.834. Processo 16327.001353/2004- 16. Data de Publicação 11/08/2016. Relator Henrique Pinheiro Torres) 10 Íntegra do referido artigo que se colaciona: “Art. 62-A. As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelos artigos 543-B e 543-C da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julamento dos recursos no âmbito do CARF. § 1º Ficarão sobrestados os julgamentos dos recursos sempre que o STF também sobrestar o julgamento dos recursos extraordinários da mesma matéria, até que seja proferida decisão nos termos do art. 543-B.” 11Desde a alteração pela referida Portaria, já encontramos na seara administrativa aplicação dos entendimentos proferidos nas cortes, como se verifica: Assunto: Normas de Administração Tributária Período de apuração: 01/06/2004 a 30/06/2004 MULTA DE MORA. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. COMPROVAÇÃO DA OCORRÊNCIA. Nos termos dos REsp 962.379 e 1.149.022, submetidos ao rito dos processos repetitivos previsto no art. 543C do Código de Processo Civil, portanto, de observância obrigatória no âmbito do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, nos termos regimentais, para que se configure a denúncia espontânea nos casos de tributos sujeitos a lançamento por homologação, o pagamento deve preceder a constituição da obrigação tributária, ou seja, a entrega da DCTF, excluindo-se, inclusive, a multa de mora.(Acórdão 3201- 002.308. Número do Processo: 10480.914465/2009-94. Data de Publicação: 10/10/2016) Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário requalificação dos efeitos tributários por consideração de inexistência de propósito negocial pode ensejar a aplicação do artigo 28 da LINDB? Recentemente o CARF publicou a Súmula 169, estabelecendo que “O art. 24 do decreto-lei nº 4.657, de 1942 (LINDB), incluído pela lei nº 13.655, de 2018, não se aplica ao processo administrativo fiscal”, isso porque, em apertada síntese, entendem que conforme disposto no art. 146, III da CF, a LINDB não tem caráter de lei complementar para regular procedimentos tributários. Contudo, em alguns julgados anteriores verifica-se que houve o debate e a divergência entre os julgados sobre a aplicação ou não, tendo em vista que tratam de normas gerais, a exemplo do acórdão 1301-003.284, julgado em 14/08/18, constando que “A LINDB é norma válida, vigente e eficaz, cuja aplicação depende, sobremaneira, da adequação do caso concreto às suas previsões normativas, cabendo ao CARF aplicá-la nos casos cabíveis”. Em seguida, em seu voto, constou a relatora que “há possibilidade de aplicação nos casos julgados pelo CARF, inclusive neste. No entanto, há a necessidade de se verificar efetivamente e caso a caso qual seria a jurisprudência majoritária à que se refere a lei. O que seria a jurisprudência majoritária? Ou seja, questões que num primeiro momento não são tão simples de serem verificadas. Tudo isso, no intuito de se assegurar a segurança jurídica e o direito adquirido”. Embora a relatora tenha sido vencida no caso, o levantamento do questionamento é de suma importância. Entendo que, se há um Tribunal que teria capacidade técnica e competência para aplicar as normas previstas na LINDB, é o CARF. Não desconheço a súmula ou a disposição Constitucional quanto a necessidade de lei complementar, contudo, diante das disposições desatualizadas que disciplinam o procedimento/processo tributário, acredito que a LINDB poderia trazer mais autonomia e inovação para a área, exatamente como forma de garantir a segurança jurídica, a efetividade das decisões e o direito a um encerramento/pacificação dos conflitos de forma definitiva, sem necessidade de recorrer ao Judicário ao fim de cada discussão. Assim, sendo o CARF um Tribunal especializado e direcionado, diferentemente do Judiciário, entendo que ele teria uma forma de aplicação da LINDB de forma mais adequada. Por fim, apenas menciono que quanto ao art. 28 da LINDB não entendo que seja uma novação no ordenamento, pois já existem outras normas que dispõe sobre a responsabilização, sendo plenamente aplicáveis no Tribunal Administrativo. Quanto a desconsideração de negócios jurídicos para requalificação dos efeitos tributários entendo que, assim como mencionei acima, deve ser aplicado os artigos 114 e 116 do CTN, pois a partir da ocorrência do fato gerador e do atendimento ao princípio da legalidade não podem ser simplesmente alterados12. 12 Conforme excelente parecer do Prof. Dr. Heleno Taveira Tôrres, lançado no acórdão 1201-003.561, julgado pela 1ª Seção de Julgamento em 22 de janeiro de 2020: “A requalificação deve corroborar os arts. 114 e 116, I, do CTN, segundo os quais o fato jurídico tributário dependerá da adequada verificação da situação definida em lei como necessária e suficiente a sua ocorrência, bem como das circunstancias materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios. Tudo, porém, muito bem entendido. Nenhuma liberdade qualificadora pode ser admitida para que a Administração possa, em prejuízo da legalidade e da vedação de analogia, desconsiderar os atos realizados.” Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário 6. A existência de processo judicial e administrativo concomitantes implica renúncia às instâncias administrativas? Desde que as matérias discutidas não sejam as mesmas não implica em renúncia a discussão na instância administrativa. Corrobora com esse entendimento a Súmula Vinculante 1 do CARF quando dispõe que “Importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial” (conforme Portaria MF nº 277, de 07/06/2018, DOU de 08/06/2018). Nesse mesmo sentido é o entendimento do Parecer Normativo COSIT 713, publicado em 22 de agosto de 2014, complementando que “Quando contenha objeto mais abrangente do que o judicial, o processo administrativo fiscal deve ter seguimento em relação à parte que não esteja sendo discutida judicialmente. A decisão judicial transitada em julgado, ainda que posterior ao términodo contencioso administrativo, prevalece sobre a decisão administrativa, mesmo quando aquela tenha sido desfavorável ao contribuinte e esta lhe tenha sido favorável”. 7. A Lei n° 13.988/2020 incluiu o art. 19-E na Lei nº 10.522/2002, cujo enunciado prescreve que “em caso de empate no julgamento do processo administrativo de determinação e exigência do crédito tributário, não se aplica o voto de qualidade a que se refere o § 9º do art. 25 do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972, resolvendo-se favoravelmente ao contribuinte.”. Tomando como base o dispositivo legal ora transcrito, responda: A existência do chamado “voto de qualidade”, tal qual originalmente previsto no art. 25, § 9º, do Decreto nº 70.235/72, afrontava preceitos legais de hierarquia superior e/ou constitucionais? E a extinção desse expediente, imposto pela Lei nº 13.988/2020, pressupõe alguma violação a princípios constitucionais e/ou legais? Responder as questões cotejando os cânones constitucionais da igualdade, do devido processo legal, da presunção de inocência e da supremacia do interesse público, bem como o disposto no art. 112 do CTN. A expressão “processo administrativo de determinação de crédito” abarca os processos que tenham sido originados da não homologação de declarações de compensação e do indeferimento de pedidos de ressarcimento/restituição de créditos? E os processos administrativos originados e autuações aduaneiras (pena de perdimento, por exemplo)? O voto de qualidade existe no regimento interno de outros diversos Tribunais, inclusive em casos que discutem as ações reciscisórias orginárias, além de ter previsão para isso. Contudo, além da previsão regimental, a aplicação do voto de qualidade não pode 13 Íntegra disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=55496&visao=original. Acesso em 13/08/2021. http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=55496&visao=original Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário desbordar dos contornos constitucionalmente fixados para o desenvolvimento válido do devido processo legal, do princípio da colegialidade e do juiz natural. Ademais, quanto ao ponto, colaciono entendimento proferido em artigo publicado na Revista de Direito Tributário, de autoria de Maria Eugênia Mariz de Oliveira14, qual compartilho: “Sob a ótica constitucional, concluiu-se que é possível, como decorrência do Princípio da Legalidade, extrair da Constituição Federal a máxima do in dubio pro contribuinte, que impõe a adoção do entendimento mais favorável ao contribuinte em casos de dúvida quanto à validade de certa exigência tributária. Isso porque, a Administração Pública, por força do Princípio da Legalidade, encontra-se vinculada à lei, de modo que somente pode formalizar o lançamento quando restar verificado, acima de qualquer dúvida, que a conduta adotada pelo contribuinte adequa-se perfeitamente à hipótese legal. Sendo assim, se não há certeza quando a essa identidade entre a conduta praticada e a hipótese legal, torna-se impossível a formalização de uma exigência em face do contribuinte. Por conta disso, a incompatibilidade identificada entre o voto de qualidade e o in dubio pro contribuinte traduz-se em verdadeira inconstitucionalidade da forma de desempate empregada no âmbito do CARF”. Nesse sentido, é o que defende o professor Heleno Torres, em artigo publicado15, que haveria a inconstitucionalidade formal do artigo 28 da lei 13.988/20, pois “o dispositivo impugnado resultou de emenda parlamentar apresentada após a emissão de parecer pela comissão mista, sem qualquer relação de pertinência com a Medida Provisória nº 899, de 16/10/2019, que lhe deu origem”. Complementa seu entendimento, ainda em referência ao art. 28 acima referido, aduzindo que há limitação “a liberdade do presidente do órgão julgador em decidir a favor do Fisco ou do contribuinte, conforme o caso concreto, cria preferência contrária ao princípio da prevalência do interesse público sobre o privado, corolário dos princípios democrático e republicano (artigo 1º da Constituição) e desequilibra a relação processual, em virtude da paridade do órgão julgador. Com isso, afronta o princípio da prevalência do interesse público sobre o privado, que afirma a indisponibilidade do tributo. Em órgãos paritários a decisão de desempate exige a efetividade do princípio de proporcionalidade, como ponderação necessária impõe a "proibição de excesso" do voto de qualidade, ao atribuir efeitos unicamente em favor do contribuinte, que terá, adicionalmente, em seu favor, a extinção definitiva do crédito tributário (artigo 156, IX do CTN)”. 8. A Administração lavra contra determinado contribuinte auto de infração imputando duas condutas que resultaram em ausência de recolhimento de imposto. Em face do auto, o contribuinte se insurge contra apenas uma das imputações, mantendo-se inerte em relação à remanescente. Pode o Fisco segregar o auto de infração para cobrança da parte não expressamente impugnada? Entendo que não, tendo em vista que o auto de lançamento é único. Dessa forma, deve aguardar a finalização do julgamento administrativo para que proceda a cobrança, pois é somente ao fim da análise que estará definitivamente constituído o auto de infração. 14 Disponível em: https://ibdt.org.br/RDTA/o-voto-de-qualidade-no-conselho-administrativo-de-recursos- fiscais-consideracoes-acerca-de-sua-inconstitucionalidade-e-ilegalidade/. Acesso em 13/08/2021 15 Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-mar-31/consultor-tributario-stf-voto-qualidade-processo- administrativo-fiscal. Acesso em 13/08/21. https://ibdt.org.br/RDTA/o-voto-de-qualidade-no-conselho-administrativo-de-recursos-fiscais-consideracoes-acerca-de-sua-inconstitucionalidade-e-ilegalidade/ https://ibdt.org.br/RDTA/o-voto-de-qualidade-no-conselho-administrativo-de-recursos-fiscais-consideracoes-acerca-de-sua-inconstitucionalidade-e-ilegalidade/ https://www.conjur.com.br/2021-mar-31/consultor-tributario-stf-voto-qualidade-processo-administrativo-fiscal https://www.conjur.com.br/2021-mar-31/consultor-tributario-stf-voto-qualidade-processo-administrativo-fiscal Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Ademais, o Tribunal administrativo também realiza revisão dos autos e faz uma espécie de “controle de qualidade”, de forma que, mesmo não havendo impugnação direta quanto ao ponto, poderia rever determinado ponto. Contudo, dispõe o art. 17 do Decreto 70.235/72 que não se considerará impgunada a matéria que não seja expressa na manifestação do recorrente, e nesse sentido, já entendeu o STJ16 que seria possível o desmembramento do crédito tributário para cobrança da parte do débito que não foi impugnada com base no art. 42, também do Decreto 70.235/72, quando dispõe que as decisões serão definitivas “na parte que não for objeto de recurso voluntário ou não estiver sujeita a recurso de ofício”. No referido caso, em seu voto, considerou o Ministro Herman Benjamin que “a parte da decisão que transitou em julgado administrativamente não poderá suspender a exigibilidade do crédito tributário, podendo, dessa forma, ser objeto de imediata inscrição e cobrança, pela singela razão de que tais valores não estão mais sujeitos à modificação, ao menos na esfera administrativa”. 9. Analise os acórdãos lavrados no RE nº 601.314 e na ADIN 2859 e responda, em relação à quebra de sigilo bancário: a) Há diferença entre envio de Declaração de Movimentação Financeira (DIMOF), atual e-FINANCEIRA, pelos bancos à RFB, e a obtenção de extratos bancários pela RFB junto aos bancos, sem autorização judicial. (Vide anexos VII e VIII). Entendo que não haveria diferença partindo do pressuposto que a própria Constituição Federal faculta que a administração pública tenha acesso aos demonstrativosdas empresas e também dos contribuintes. Isso pois, visa resguardar os princípios da efetividade da atuação administrativa, também considerando que a todos interessa o pagamento dos tributos da forma correta. Ademais, no que tange a e-FINANCEIRA há obrigação da prestação de informações diretamente a RFB17, da mesma forma já existia quanto da Dimof, nos termos da Instrução Normativa 811/08. A troca de informações também não é realizada de qualquer forma, tendo em vista que há limites objetivos, tais como o valor das movimentações para compartilhamento como fisco, além do pacto internacional com outros países, como foi considerado nas decisões judiciais. b) A declaração efetuada para fins de aproveitamento do Programa que recebeu o nome de “Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária” – RERCT, criado pela Lei n. 13.254/16 está protegida pelo sigilo fiscal? Sim, os dados declarados pelo contribuinte para adesão ao programa são protegidas pelo sigilo fiscal. 16 Íntegra disponível em: https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=6114173 2&num_registro=201600971141&data=20160826&tipo=51&formato=PDF. Acesso em 13/08/2021. 17 Conforme trata a Instrução Normativa RFB 1.571, de 02 de julho de 2015 que dispõe sobre a obrigatoriedade de prestação de informações relativas às operações financeiras de interesse da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB). Disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=65746. Acesso em 13/08/2021. https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=61141732&num_registro=201600971141&data=20160826&tipo=51&formato=PDF https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=61141732&num_registro=201600971141&data=20160826&tipo=51&formato=PDF http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=65746 Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Inclusive, a divulgação ou a publicidade das informações presentes no RERCT significa quebra do sigilo fiscal, sujeitando o responsável às penas previstas no art. 10 da Lei Complementar 105/01, quanto a quebra de sigilo fora das hipóteses legais e também violação ao próprio Código Penal, no art. 325, em caso de violação do sigilo funcional18. Além disso, mais recentemente, com a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) caso as informações sejam disponibilizadas de forma indevida estará sujeito as penalidades previstas na própria legislação. 18 Violação de sigilo funcional Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.