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OAB EXAME DE ORDEM Capítulo 12 1 CAPÍTULOS Capítulo 1– Noções gerais do direito penal. Funções do direito penal. Ciência do direito penal. Categorias do Direito Penal. Fontes do Direito Penal. Evolução histórica do Direito penal. Escolas penais. História do Direito Penal Brasileiro. Velocidades do Direito Penal. Princípios do direito penal. Lei penal. Capítulo 2 – Teoria geral do crime. Noções introdutórias. Fato típico. Teoria do tipo. Crime doloso. Crime culposo. Crime preterdoloso. Capítulo 3 – Erro de tipo. Iter criminis. Capítulo 4 – Ilicitude. Capítulo 5 – Culpabilidade. Concurso de pessoas. Capítulo 6 - Das penas. Penas privativas de liberdade. Penas restritivas de direitos. Pena de multa. Aplicação da pena. Suspensão condicional da pena. Livramento condicional. Efeitos da condenação. Reabilitação criminal. Medidas de segurança. Capítulo 7 – Concurso de crimes. Capítulo 8 – Extinção da punibilidade Capítulo 9 – Homicídio. Infanticídio. Aborto. Lesão Corporal. Dos Crimes contra a Honra Capítulo 10 – Dos crimes contra a dignidade sexual Capítulo 11 – Furto. Roubo. Extorsão. Estelionato. Receptação. Disposições gerais dos crimes contra o patrimônio Capítulo 12 (você está aqui!) – Dos crimes contra a administração pública. Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral. Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral. Dos crimes contra a administração da justiça 2 SOBRE ESTE CAPÍTULO Olá, Futuro Advogado! A apostila de número 12 do nosso curso de Direito Penal tratará sobre Dos Crimes contra a Administração, matéria que é extremamente cobrada no Exame de ordem! De acordo com a nossa equipe de inteligência, esse assunto esteve presente 4 VEZES nos últimos 3 anos! Não precisamos falar que o estudo desse conteúdo é primordial, não é? Aqui, a banca costuma seguir o seu padrão: Apresentar um caso hipotético, pelo qual a resposta é respaldada na legislação vigente. Por isso, recomendamos a leitura atenta da letra seca da lei e entendimentos jurisprudenciais, e sempre em companhia de alguma doutrina à sua escolha. E o mais importante, responda questões! A resolução de questões é a chave para a aprovação! Adicionamos também questões de outras carreiras jurídicas para que você possa assimilar ainda mais o conteúdo visto e praticar 😊 Vamos juntos! 3 SUMÁRIO DIREITO PENAL ........................................................................................................................................ 6 Capítulo 12 ................................................................................................................................................ 6 13. Dos crimes contra a administração pública. Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral. Dos crimes praticados por particular contra a administração em geral. Dos crimes contra a administração da justiça. .................................... 6 13.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 6 13.2 Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral (Crimes funcionais). ............................................................................................................................................................................ 7 13.2.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 7 13.2.2 Crimes funcionais: conceito e espécies ....................................................................................................... 7 13.2.3 Crimes funcionais e concurso de pessoas ................................................................................................. 8 13.2.4 Conceito de funcionário público para fins penais: art. do Código Penal .................................... 8 13.2.5 Funcionário público por equiparação: art. 327, § 1.º ......................................................................... 10 13.2.6 Causa de aumento de pena: art. 327, § 2.º, do Código Penal ....................................................... 10 13.2.7 Rito especial dos crimes funcionais ........................................................................................................... 12 13.2.8 Peculato .................................................................................................................................................................. 13 13.2.9 Peculato próprio (art. 312, ‘caput’) ............................................................................................................. 14 13.2.10 Peculato furto ou peculato impróprio: art. 312, § 1.º ................................................................ 16 13.2.11 Peculato culposo: art. 312, § 2.º .......................................................................................................... 18 13.2.12 Causa extintiva da punibilidade (§3º) para o peculato culposo............................................ 19 13.2.13 Art. 313 – peculato mediante erro de outrem ............................................................................. 20 13.2.14 Peculato eletrônico (Art. 313-A e 313-B) ........................................................................................ 21 13.2.15 Concussão ..................................................................................................................................................... 23 4 13.2.16 Excesso De Exação .................................................................................................................................... 25 13.2.17 Corrupção Passiva ..................................................................................................................................... 27 13.2.18 Prevaricação ................................................................................................................................................. 31 13.2.19 Art. 319-A – Prevaricação Imprópria ................................................................................................. 32 13.2.20 Condescendência Criminosa ................................................................................................................. 33 13.2.21 Advocacia Administrativa ....................................................................................................................... 35 13.3 Dos crimes praticados por particular contra a administração em geral ................................... 36 13.3.1 Usurpação de função pública ....................................................................................................................... 36 13.3.2 Tráfico De Influência ......................................................................................................................................... 37 13.3.3 Corrupção Ativa .................................................................................................................................................. 39 13.3.4 Descaminho .......................................................................................................................................................... 40 13.3.5 contrabando ......................................................................................................................................................... 45 13.4 Dos crimes contra a administração da justiça ...................................................................................... 48 13.4.1 Denunciação Caluniosa....................................................................................................................................48 13.4.2 Comunicação Falsa De Crime Ou De Contravenção .......................................................................... 51 13.4.3 Auto-Acusação Falsa......................................................................................................................................... 51 13.4.4 Falso Testemunho E Falsa Perícia ............................................................................................................... 52 QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 56 QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 62 GABARITO ............................................................................................................................................... 72 QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 73 GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 74 LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 76 JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................................... 79 MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 82 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 83 6 DIREITO PENAL Capítulo 12 13. Dos crimes contra a administração pública. Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral. Dos crimes praticados por particular contra a administração em geral. Dos crimes contra a administração da justiça. 13.1 Introdução Os crimes contra a Administração Pública, contidos no Título XI da Parte Especial do Código Penal, estão divididos em cinco capítulos. Iremos tratar aqui dos crimes mais recorrentes em concurso público, inseridos no: Capítulo I – Dos crimes praticados por funcionário público contra a Administração em geral; Capítulo II – Dos crimes praticados por particular contra a Administração em geral; Capítulo III – Dos crimes contra a Administração da Justiça; e O bem jurídico tutelado nos crimes contra a Administração Pública é o interesse público concernente ao normal funcionamento e ao prestígio da administração pública em sentido lato, naquilo que diz respeito à probidade, ao desinteresse, à capacidade, à competência, à disciplina, à fidelidade, à segurança, à liberdade, ao decoro funcional e ao respeito devido à vontade do Estado em relação a determinados atos ou relações da própria administração. (Vicenzo Manzini). 7 13.2 Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral (Crimes funcionais). 13.2.1 Introdução O Código Penal disciplina, em seus arts. 312 a 326, os crimes funcionais, ou seja, os delitos praticados por funcionário público contra a Administração em geral. Nos crimes funcionais, busca-se proteger a probidade administrativa, compreendida como retidão de conduta, honradez, lealdade, integridade, virtude e honestidade do agente público. São crimes que correspondem a um ato improbo, razão pela qual, o desvalor da conduta e a extensão do resultado fazem com que o legislador eleve algumas condutas administrativamente ilícitas à condição de crimes. Importa dizer que o princípio da insignificância não aplicável aos crimes contra a administração pública: Súmula n.º 599, STJ. O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.1 Por fim, o crime funcional será alcançado pela lei penal pátria, mesmo quando cometido no estrangeiro, ou seja, fora dos limites da soberania nacional. Incide uma hipótese de extraterritorialidade da lei penal. 13.2.2 Crimes funcionais: conceito e espécies São aqueles cometidos pelo funcionário público no exercício da função pública ou em razão dela. Os crimes funcionais dividem-se em próprios e impróprios (ou mistos). Crimes funcionais próprios: são aqueles em que a condição de funcionário público no tocante ao sujeito ativo é indispensável à tipicidade do fato. Exemplo: prevaricação e corrupção passiva. 1 Vide questão 9 do material 8 Crimes funcionais impróprios (ou mistos): a falta da condição de funcionário público pelo agente importa na desclassificação para outro delito. Exemplo: no peculato-apropriação. 13.2.3 Crimes funcionais e concurso de pessoas Esse capítulo trata dos denominados crimes funcionais, já que exige a condição de funcionário público para o sujeito ativo. Entretanto, é possível que um particular concorra para o crime funcional praticado pelo funcionário público. A condição de funcionário público é elementar normativa, então, conforme o Art. 30 do CP é comunicável, mas, somente se o particular tiver conhecimento dessa qualidade. Conclui-se, portanto, que somente o funcionário público pode praticar diretamente os crimes funcionais. A condição de autor lhe é exclusiva. Nada impede, contudo, a responsabilização do particular por delitos desta natureza, como coautor ou partícipe. 13.2.4 Conceito de funcionário público para fins penais: art. do Código Penal O art. 327, caput, do Código Penal apresenta o conceito de funcionário público para fins penais: Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. A lei penal adota um conceito amplo de funcionário público, não se vinculando às definições do Direito Administrativo. Verifica-se que basta o exercício temporário de uma função pública, ainda que gratuita, a exemplo dos jurados no Tribunal do Júri e dos mesários no dia das eleições. Os agentes políticos (membros do Poder Executivo e do Poder Legislativo, em qualquer dos entes federativos, e do Poder Judiciário e do Ministério Público, no âmbito federal ou estadual) também se submetem ao conceito de funcionário público elaborado pelo art. 327 do Código Penal. Em resumo, incluem-se no conceito de funcionário público todas as modalidades de agentes públicos, ou seja, todas as pessoas que exercem funções de natureza ou de interesse público. A preocupação do Código Penal não é com a pessoa, mas com a função pública. 9 Mas não se pode confundir função pública com munus público, isto é, os encargos públicos atribuídos por lei a algumas pessoas, tais como os tutores, curadores e inventariantes judiciais. Destarte, a condição penal de funcionário público não se estende àqueles que exercem munus público, não se aplicando, portanto, o art. 327, caput, do Código Penal. STJ/2018: Depositário judicial não é funcionário público para fins penais, porque não ocupa cargo público, mas a ele é atribuído um munus, pelo juízo, em razão de bens que, litigiosos, ficam sob sua guarda e zelo. O STJ, em decisão recente (2018), considerou funcionários públicos para fins penais: Diretor de organização social. Administrador de Loteria. Advogados dativos. Médico de hospital particular credenciado/conveniado ao SUS. Estagiário de órgão ou entidade público. FUNCIONÁRIO PÚBLICO – EXTENSÃO. Para o fim previsto no artigo 327, § 1º, do Código Penal, tem a qualificação de funcionário público pessoa que exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal ou trabalha em empresa prestadora de serviços contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. ORGANIZAÇÃO SOCIAL – INSTITUTOCANDANGO DE SOLIDARIEDADE. Os dirigentes e prestadores de serviço têm, para efeito penal, a qualificação de funcionário público. PENA – MULTA. A fixação do valor do dia- multa circunscreve-se ao justo ou injusto, não alcançando, em geral, ilegalidade. (HC 138484, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 11/09/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-222 DIVULG 17-10-2018 PUBLIC 18- 10-2018). STJ/2018: Estagiário de órgão público que, valendo-se das prerrogativas de sua função, apropria-se de valores subtraídos do programa bolsa-família subsume-se perfeitamente ao tipo penal descrito no art. 312, § 1º, do Código Penal - peculato- furto -, porquanto estagiário de empresa pública ou de entidades congêneres se equipara, para fins penais, a servidor ou funcionário público, lato sensu, em decorrência do disposto no art. 327, § 1º, do Código Penal. Por fim, prevalece no STJ que o advogado dativo, embora não seja integrante dos quadros da Defensoria Pública. 10 STJ/2016: De acordo com o STJ, o advogado contratado por meio de convênio entre o Estado e a OAB (advogado dativo) é funcionário público para fins penais. 13.2.5 Funcionário público por equiparação: art. 327, § 1.º Em conformidade com o art. 327, § 1.º, do Código Penal: § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. Assim, é funcionário público por equiparação quem exerce Cargo, emprego ou função em: Entidade paraestatal: integrantes do terceiro setor. São as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, que atuam ao lado e em colaboração com o Estado. São seus exemplos o Sesc, o Senai e o Sesi. Empresa prestadora de serviço contratada para a execução de atividade típica da Administração Pública: são as empresas particulares responsáveis pela execução de serviços públicos por delegação estatal, mediante concessão, permissão ou autorização. É o que ocorre, a título ilustrativo, com o transporte coletivo, com a coleta de lixo e com as empresas funerárias. Empresa prestadora de serviço conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública: são as que celebram convênios com a Administração Pública. Convênios administrativos são os acordos firmados por pessoas administrativas entre si, ou entre estas e entidades particulares, visando alcançar um objetivo de interesse público. Nas duas últimas hipóteses (empresas contratadas e conveniadas), devem estar contratadas ou conveniadas para a execução de atividade típica da Administração. Se a empresa for contratada para atividade atípica, não se trata de funcionário público (ex.: os funcionários de um Buffet contratado pelo Lula não são funcionários públicos). 13.2.6 Causa de aumento de pena: art. 327, § 2.º, do Código Penal Em sintonia com o art. 327, § 2.º, do Código Penal: 11 § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. Essa majorante se aplica a todos os crimes funcionais (inclusive o peculato culposo). Há o aumento de 1/3 quando o agente exercer: Cargo em comissão; Função de direção; Função de Assessoramento; O fundamento do tratamento penal mais severo repousa na maior reprovabilidade da conduta criminosa. Cargo em comissão é o que se faz mediante nomeação para cargo público, independentemente de concurso público e em caráter transitório. Caracteriza-se pela relação de confiança. Esse aumento da pena, por expressa previsão legal, também é cabível quando o agente ocupa função de direção ou assessoramento, bem como aos agentes detentores de mandato eletivo que exercem, cumulativamente, as funções política e administrativa. Por fim, essa majorante não pode ser aplicada, de forma automática, em consequência do mero exercício de mandato popular. Também não se aplica aos parlamentares. No que tange as autarquias, o Código Penal não fez menção. Essa majorante é aplicável apenas a quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal: fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista, ou seja, pessoas jurídicas de direito privado cuja criação é autorizada por lei específica para a realização de obras, serviços ou atividades de interesse coletivo. Ex: organizações sociais. STF/2019: A causa de aumento prevista no § 2º do art. 327 do Código Penal não pode ser aplicada aos dirigentes de autarquias (ex: a maioria dos Detrans) porque esse dispositivo menciona apenas órgãos, sociedades de economia mista, empresas públicas e fundações. 12 13.2.7 Rito especial dos crimes funcionais O Código de Processo Penal prevê, em seus arts. 513 a 518, um rito especial para o processo e julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos. Art. 513. Os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos, cujo processo e julgamento competirão aos juízes de direito, a queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou justificação que façam presumir a existência do delito ou com declaração fundamentada da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas. Atualmente, todos os delitos funcionais são afiançáveis, em face da nova sistemática introduzida pela Lei 12.403/2011, incidindo a regra estatuída pelo art. 514, caput: Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando à denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de 15 dias. Nos crimes funcionais afiançáveis o procedimento é diferente do que ocorre com os crimes em geral. Aqui, o magistrado, antes de receber a denúncia ou queixa, deve notificar o acusado para, em 15 dias, responder por escrito a inicial acusatória. Só depois de superada esta fase, o juiz receberá ou rejeitará a denúncia ou queixa. Em caso de rejeição, será cabível o recurso em sentido estrito (CPP, art. 581, inc. I). Se for recebida, segue-se a partir daí o rito comum, ordinário ou sumário, na forma disciplinada nos arts. 396 e seguintes do Código de Processo Penal. Dessa forma, segue os demais artigos que trazem as regras do procedimento dos crimes funcionais: Parágrafo único. Se não for conhecida a residência do acusado, ou este se achar fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta preliminar. Art. 515. No caso previsto no artigo anterior, durante o prazo concedido para a resposta, os autos permanecerão em cartório, onde poderão ser examinados pelo acusado ou por seu defensor. 13 Parágrafo único. A resposta poderá ser instruída com documentos e justificações. Art. 516. O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho fundamentado, se convencido, pela resposta do acusado ou do seu defensor, da inexistência do crime ou da improcedência da ação. Art. 517. Recebida a denúncia ou a queixa, será o acusado citado, na forma estabelecida no Capítulo I do Título X do Livro I. Art. 518. Na instrução criminal e nos demais termos do processo, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e III, Título I, deste Livro. 13.2.8 Peculato O art. 312 do Código Penal contém quatro espécies de peculato, três dolosas e uma culposa: Peculato apropriação (1ª parte) e Peculato desvio (2ª parte) Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. Peculato furto § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público,embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Peculato culposo § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. 14 § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Peculato mediante erro de outrem (Peculato-estelionato) Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Inserção de dados falsos em sistema de informações (Peculato-eletrônico) Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações (Peculato- eletrônico) Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. As duas primeiras (apropriação e desvio) são também conhecidas como peculato próprio, enquanto a terceira é doutrinariamente classificada como peculato impróprio. 13.2.9 Peculato próprio (art. 312, ‘caput’) É o gênero do qual fazem parte o PECULATO-APROPRIAÇÃO e o PECULATO-DESVIO. 15 Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. Objeto jurídico O bem jurídico tutelado é a Administração Pública, tanto em seu aspecto patrimonial, consistente na preservação do erário, como também em sua face moral, representada pela lealdade e probidade dos agentes públicos. Também se protege o patrimônio do particular, nas hipóteses em que seus bens estejam confiados à guarda da Administração Pública. Nesses casos, o crime é denominado de “peculato malversação”. Objeto material É o dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular. Sujeitos Sujeito ativo: Funcionário público para fins penais, abrangendo também os equiparados do art. 327. Admite concurso de agentes, inclusive com a participação de particulares. Sujeito passivo: Administração em geral, podendo com ela concorrer o particular lesado pela ação do agente. Núcleos do tipo No peculato apropriação o núcleo do tipo é “apropriar-se”, ou seja, posicionar-se em relação à coisa como se fosse seu proprietário (animus domini). Apropriar-se é tomar para si, apoderar-se indevidamente de coisa que possuía legitimamente. Aqui, o agente inverte o título da posse, passando a agir como se dono fosse da coisa. Há o crime quando o servidor se apropria de coisa particular que está em poder da Administração. A posse é pressuposto do peculato-apropriação. O agente público deve ter uma liberdade desvigiada sobre a coisa. É imprescindível um nexo funcional. A posse da coisa deve decorrer das atribuições do servidor. 16 No peculato desvio o núcleo do tipo é “desviar”, equivalente a distrair ou desencaminhar. O sujeito confere à coisa destinação diversa da inicialmente prevista. Consumação e tentativa No peculato-apropriação: Consuma-se no momento em que o agente inverte o título da posse, passando a agir como se dono fosse da coisa (alienando, alugando, destruindo etc.). Crime material. Já no peculato-desvio: Consuma-se no momento em que o agente dá à coisa destinação diversa daquela prevista em lei. Crime material. Ambas as modalidades admitem tentativa. 13.2.10 Peculato furto ou peculato impróprio: art. 312, § 1.º Nos termos do art. 312, § 1.º, do Código Penal trás uma modalidade de peculato que se distancia da similitude com a apropriação indébita. O crime se assemelha ao furto, razão pela qual é chamado de peculato furto ou peculato impróprio. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Trata-se novamente de crime funcional impróprio: ausente à condição de funcionário público, desaparece o peculato, mas subsiste intacto o delito de furto. Núcleos do tipo O tipo penal contém dois núcleos: “subtrair” e “concorrer” para a subtração. Subtrair: é inverter o título da posse, ou seja, retirar algo de quem tinha a sua posse. Aqui o sujeito não tem a posse da coisa móvel, pública ou particular, mas a sua posição de funcionário público lhe proporciona uma posição favorável para a subtração dela. Concorrer para a subtração: o funcionário público não subtrai diretamente o dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel. Sua atuação restringe-se à concorrência dolosa para a subtração efetuada por terceira pessoa. Trata-se de crime de concurso necessário, pois reclama a presença de ao menos duas pessoas. 17 Elemento normativo do tipo É a facilidade que lhe é proporcionada na qualidade de funcionário público. Não basta a subtração. É imprescindível tenha esta sido realizada em decorrência da facilidade. Sujeitos Sujeito Ativo: em regra, funcionário público para fins penais, abrangendo também os equiparados do art. 327. Há, todavia, uma importante exceção a ser anotada. Para os prefeitos não é possível à adequação típica do crime de peculato doloso, em suas modalidades “peculato apropriação” (CP, art. 312, caput, 1.ª parte) e “peculato desvio” (CP, art. 312, caput, parte final). Nessas hipóteses, incide a regra especial estatuída pelo art. 1.º, inc. I, do Decreto-lei 201/1967: Art. 1.º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores: I – apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio. Sujeito Passivo: o sujeito passivo principal ou imediato é o Estado (em sentido amplo). Nada impede, todavia, a existência de um sujeito passivo secundário ou mediato, representado pela entidade de direito público ou pelo particular (proprietário ou possuidor do bem móvel) prejudicado pela conduta criminosa. Elemento subjetivo: peculato doloso No peculato apropriação, é imprescindível um elemento subjetivo específico, consistente no animus rem sibi habendi, isto é, a intenção definitiva de não restituir o objeto material ao seu titular. Para o STJ, a caracterização do crime de peculato reclama o fim específico de se apropriar, definitivamente, de bem móvel de que tem a posse o funcionário público em razão de sua função. Quanto ao “peculato desvio” (CP, art. 312, caput, parte final) e ao “peculato furto”, além do dolo, reclama-se um elemento subjetivo específico, representado pelas expressões “em proveito próprio ou alheio”. 18 Por fim, cumpre destacar que não há peculato desvio quando o agente altera o destino da coisa em proveito da própria Administração Pública. Consumação e tentativa Assim como o furto, consuma-se com a retirada da coisa da disponibilidade da Administração, dispensando posse mansa e pacífica (TEORIA DA “AMOTIO”). Admite-se perfeitamentea tentativa. PECULATO PRÓPRIO x PECULATO IMPRÓPRIO Peculato-apropriação/desvio (peculato próprio) Peculato-furto (peculato impróprio) O agente tem a posse legítima. O agente NÃO tem posse. Conduta é se apropriar ou desviar a coisa. A conduta é subtrair ou facilitar a subtração da coisa. É chamado de impróprio exatamente pelo fato de o sujeito não se apropriar, mas sim subtrair a coisa. O dolo de apoderamento é subsequente à posse. O dolo de apoderamento é anterior à posse. 13.2.11 Peculato culposo: art. 312, § 2.º O art. 312, § 2.º, do Código Penal instituiu uma infração penal de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal e compatível com a transação penal e o rito sumaríssimo, nos moldes da Lei 9.099/1995. Trata-se do único crime funcional que admite a forma culposa. Peculato culposo § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. O peculato culposo nada mais é do que o concurso não intencional pelo funcionário público, realizado por ação ou omissão, para a apropriação, desvio ou subtração de dinheiro, valor ou qualquer 19 outro bem móvel pertencente ao Estado ou sob sua guarda, por uma terceira pessoa, que pode ser funcionário público (intraneus) ou particular (extraneus). É fundamental a prática de um crime doloso por terceira pessoa, aproveitando-se da facilidade culposamente proporcionada pelo funcionário público. A consumação do peculato culposo verifica-se no momento em que se consuma o crime doloso praticado pelo terceiro. Em se tratando de crime culposo, não se admite a tentativa, razão pela qual o funcionário público somente responderá pelo peculato culposo na hipótese de consumação do crime doloso cometido por terceiro. 13.2.12 Causa extintiva da punibilidade (§3º) para o peculato culposo Art. 312 § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se PRECEDE à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é POSTERIOR, reduz de metade a pena imposta. Reparação de dano no peculato culposo Momento da reparação do dano Efeito Antes do trânsito em julgado da condenação Extinção da punibilidade Depois o trânsito em julgado da condenação Redução da pena pela metade (causa de diminuição da pena) A reparação do dano pode manifestar-se sob duas formas: (a) devolução do objeto material do crime; (b) ressarcimento do prejuízo causado ao ofendido. É um benefício exclusivo do peculato culposo. Em ambos os casos – extinção da punibilidade e redução da pena pela metade – a reparação do dano deve ser completa e não exclui eventual sanção administrativa contra o funcionário público. 20 13.2.13 Art. 313 – peculato mediante erro de outrem O crime tipificado pelo art. 313 do Código Penal é também conhecido como “peculato estelionato”, porque consiste na captação indevida, por parte do funcionário público, de dinheiro ou qualquer outra utilidade mediante o aproveitamento ou manutenção do erro alheio. Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Ocorre quando o funcionário, no exercício da função, recebe dinheiro ou qualquer utilidade, por erro exclusivo de outrem, fica quieto e se apropria da coisa (passa a agir como se dono fosse). Objeto jurídico e objeto material O bem jurídico tutelado é a Administração Pública, em sua dupla vertente: patrimonial (proteção do erário) e moral (lealdade e probidade dos agentes públicos). Já o objeto material, é o dinheiro ou qualquer outra utilidade. Núcleo do tipo O núcleo do tipo é “apropriar-se” de coisa recebida por erro de outrem, ou seja, comportar-se em relação à coisa como se fosse seu legítimo proprietário (animus domini). O funcionário público passa a agir como dono do objeto material, praticando algum ato que somente a este competia (exemplos: alienação, retenção, disposição ou destruição do bem). A posse do bem pelo funcionário público emana do erro de outrem, isto é, da falsa percepção da vítima acerca de algo. O erro da pessoa que entrega o dinheiro ou qualquer outra utilidade (vítima) deve ser espontâneo. Art. 312 (peculato próprio: apropriação / desvio) Art. 312, §1º (peculato impróprio: furto) Art. 313 (peculato- estelionato) Apropriar-se/desviar Subtrair Não há posse anterior Apropriar-se Posse anterior Posse anterior 21 Posse legítima (em razão do cargo). Posse ilegítima (fruto de subtração). Posse ilegítima (fruto de erro). Sujeitos do crime Sujeito Ativo: Funcionário público para fins penais, abrangendo também os equiparados do art. 327. Sujeito Passivo: Administração precipuamente. Eventualmente o particular lesado. Elemento subjetivo É o dolo. Fala-se, aqui, em dolo superveniente, pois surge após o bem se encontrar na posse do funcionário público. Não se admite a modalidade culposa. Consumação e tentativa Consuma-se no momento em que o agente, percebendo o erro, não o desfaz, agindo como se dono fosse. O crime pode se consumar somente depois de ele ter recebido a coisa. Admite-se a tentativa. 13.2.14 Peculato eletrônico (Art. 313-A e 313-B) Esse crime, conhecido como “peculato eletrônico”, divide-se em duas modalidades: Inserção de dados falsos em sistema de informações e modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações: Inserção de dados falsos em sistema de informações Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: 22 Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. Para facilitar o estudo, traremos uma tabela com as semelhanças e distinções das espécies de peculato eletrônico: Inserção de dados falsos em sistema de informações Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações Sujeito ativo: Funcionário público autorizado a manejar o sistema de informações. Sujeito ativo: Funcionário público, mesmo que não autorizado. Sujeito passivo: Administração em geral, podendo com ela concorrer o particular prejudicado. Sujeito passivo: Administração em geral, podendo com ela concorrer o particular prejudicado. Conduta: Inserir ou facilitar a inserção de dados incorretos; alterar ou excluir dados corretos. Conduta: Modificar ou alterar o sistema de informações. Elemento normativo: Indevidamente. Elemento normativo: Sem autorização da autoridade competente. Objeto material: Dados do sistema. O sistema (software), em si, não é afetado. Objeto material: O sistema ou programa de informática (software) que armazena os dados. 23 Tipo subjetivo: Dolo, com finalidade especial de obter vantagem indevida, para si ou para outrem, ou para causar dano. Sem finalidade especial, o fato é atípico. Tipo subjetivo: Dolo, sem finalidade especial. Consumação e tentativa: Crime formal. Consuma-se quando o agente insere dados incorretos ou facilita que outrem o faça, ou quando exclui ou altera dados corretos, independentemente da obtenção de vantagem indevida ou da ocorrência do dano. Admite a tentativa.Consumação e tentativa: Crime formal. Consuma-se com a modificação ou alteração do sistema. O resultado naturalístico dispensável está previsto no parágrafo único (dano à Administração ou ao particular). Admite tentativa. Equipara-se a uma falsidade ideológica: O documento (sistema) é verdadeiro, porém a ideia nele contida (dados) é falsa. Equipara-se a uma falsidade material: O próprio documento é falso (sistema). Pena: 02 a 12 anos. A doutrina critica essa desproporcionalidade. Pena: 03 meses a 02 anos. 13.2.15 Concussão Nos termos do art. 316, do Código Penal, considera-se concussão: Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019).2 A concussão é crime em que o funcionário público, valendo-se do respeito ou mesmo receio que sua função infunde, impõe à vítima a concessão de vantagem a que não tem direito. Há violação da probidade do funcionário público e abuso da autoridade ou poder de que dispõe. São, portanto, elementos da concussão: a) a exigência de vantagem indevida; b) que esta vantagem 2 Questão 01 24 tenha como destinatário o próprio concussionário ou então um terceiro; e c) que a exigência seja ligada à função do agente, mesmo que esteja fora dela ou ainda não a tenha assumido. Núcleo do tipo O núcleo do tipo é “exigir”, no sentido de ordenar ou impor. Não se confunde com o mero pedido (solicitação), que gera o crime de corrupção ativa. "Para si ou para outrem": O ‘para outrem’ pode reverter até mesmo para a Administração. Exemplo: Delegado exigindo dinheiro para reformar a Delegacia. Vantagem indevida: pode ser de qualquer natureza, até porque a concussão não se encontra no capítulo dos crimes contra o patrimônio. O art. 316, caput, do Código Penal deixa claro que a exigência também pode ser direta ou indireta. Exigência direta é a formulada pelo funcionário público na presença da vítima (facie ad faciem), taxativamente. Na exigência indireta o funcionário público se vale da colaboração de interposta pessoa, ou a realiza capciosamente, de forma velada, transmitindo subliminarmente sua imposição. Sujeitos Há possibilidade de ser sujeito ativo desse crime: I. Funcionário público no exercício da função; II. Funcionário público fora da função, mas praticando a conduta em razão dela (ex.: férias); III. Particular na iminência de assumir função pública. Iminência significa quando faltam etapas burocráticas para a investidura de particular já nomeado. É uma hipótese excepcional de crime funcional que pode ser praticado por particular. Já o sujeito passivo, pode ser: I. Primário: Administração Pública. II. Secundário: Particular constrangido pelo funcionário público. III. Esse particular pode ser até mesmo outro funcionário. Elemento subjetivo É o dolo, acrescido do elemento subjetivo específico “para si ou para outrem”. Não se admite a modalidade culposa. Consumação e tentativa 25 É um crime formal, que se consuma com a mera exigência, dispensando a obtenção da vantagem (exaurimento). Também se dispensa que a vítima se sinta coagida. Admite-se a tentativa, na forma escrita. Pena da concussão (Pacote Anticrime) A Lei nº 13.964, de 2019 (pacote anticrime) alterou o código penal, exasperando da pena máxima em abstrato do crime de concussão, passando de 8 anos para 12 anos, com intuito de fomentar que os funcionários públicos não pratiquem tal crime. Anterior Atual (Lei 13.964/19) Art. 316. (...) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. Art. 316. (...) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 13.2.16 Excesso De Exação Nos termos do art. 316, § 1.º, do Código Penal, com a redação conferida pela Lei 8.137/1990: § 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança, meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. É tipo penal fundamental previsto em um parágrafo, e não no caput, ao contrário do que ocorre nos demais delitos contidos no Código Penal. Exação, no sentido empregado pelo art. 316, § 1.º, do Código Penal, é a cobrança integral e pontual de tributos. Objeto material É o tributo ou contribuição social. 26 Tributo, nos termos do art. 3.º do Código Tribunal Nacional, é “toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. A contribuição social, de competência da União (CF, art. 149), pode ser definida como a espécie de tributo destinada a instrumentalizar sua atuação na área social (exemplos: saúde, previdência e assistência social, educação, cultura, desporto etc.). O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que à custa e os emolumentos correspondentes aos serviços notariais e registrais são tributos, servindo, destarte, como objeto material do crime de excesso de exação. Núcleos do tipo O excesso de exação contém dois núcleos: “exigir” tributo, ou contribuição social indevido, e “empregar” na cobrança, meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza. Exigir é ordenar ou impor. O funcionário público exige tributo ou contribuição social que sabe ou deve saber indevido, sem amparo válido para cobrança, seja porque seu valor já foi pago pela vítima, seja porque a quantia cobrada é superior à fixada em lei. A palavra “indevida” funciona como elemento normativo do tipo. Empregar é utilizar ou usar. Aqui o tributo ou contribuição social é devido, mas o funcionário público emprega na cobrança, meio vexatório ou gravoso, não autorizado por lei. Sujeitos Sujeito ativo: O excesso de exação é crime próprio ou especial, pois somente pode ser cometido pelo funcionário público, qualquer que seja ele, independentemente do motivo que o leva a agir, e não apenas pelos agentes fazendários. Admitem-se a coautoria e a participação. Sujeito passivo: É o Estado e, mediatamente, o contribuinte lesado pela conduta criminosa. Elemento subjetivo Na modalidade “exigência indevida” é o dolo, que pode ser direto (“que sabe indevido”) ou eventual (“que deveria saber indevido”). Já na modalidade “cobrança vexatória ou gravosa” o elemento subjetivo é o dolo, direto ou eventual, não incidindo a discussão acerca do alcance da expressão “que devia saber indevido”, a qual é inaplicável a esta conduta típica. 27 Consumação Consuma-se com a exigência indevida ou com o emprego de meio vexatório ou gravoso do tributo ou contribuição social, independentemente do seu efetivo pagamento. É crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. Tentativa Na modalidade “exigência indevida”, somente será cabível o conatus quando se tratar de crime plurissubsistente. Na espécie “cobrança vexatória ou gravosa”, a tentativa é perfeitamente possível. Excesso de exação e figura qualificada: art. 316, § 2.º Preceitua o art. 316, § 2.º, do Código Penal: § 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. O funcionário público desvia (altera o destino original) para si ou para outrem o tributo ou contribuição social que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos. Há, portanto, duas etapas distintas: O funcionário público recolhe indevidamente tributo ou contribuição social em favor do Poder Público; e Posteriormente, desvia o montante recebido em proveito próprio ou alheio. Importadizer que se a quantia foi regularmente recolhida aos cofres públicos, e o funcionário público a desvia ulteriormente, estará caracterizado o peculato desvio, nos termos do art. 312, caput, parte final, do Código Penal. Em outras palavras, o excesso de exação qualificado depende do desvio do tributo ou contribuição social indevido antes da sua incorporação aos cofres públicos. 13.2.17 Corrupção Passiva O art. 317, do Código Penal, trouxe o delito de Corrupção passiva: 28 Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:3 Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. A corrupção é uma exceção pluralista à teoria monista. Abriu-se espaço para uma exceção pluralística. Há dois delitos distintos: corrupção passiva (art. 317), de natureza funcional, inserida entre os crimes praticados por funcionário público contra a Administração em geral; e corrupção ativa (art. 333), versada no rol dos crimes praticados por particular contra a Administração em geral. Espécies de corrupção passiva A corrupção passiva divide-se em dois blocos distintos: Corrupção passiva própria e imprópria: Corrupção passiva PRÓPRIA: O agente tem por finalidade a realização de ato injusto (contrário a lei). Ex.: Solicitação de dinheiro para facilitar a fuga de preso. Corrupção passiva IMPRÓPRIA: O agente tem por finalidade a realização de ato legítimo. Ex.: Solicitar dinheiro para realização de ato de ofício. Corrupção passiva antecedente e subsequente: Corrupção passiva antecedente é aquela em que a vantagem indevida é entregue ou prometida ao funcionário público em vista de uma ação ou omissão futura (exemplo: Um oficial de justiça recebe dinheiro do réu para não citá-lo). 3 Questão 2 29 Corrupção passiva subsequente, por sua vez, a recompensa relaciona-se a um comportamento pretérito (exemplo: Investigador de Polícia que ganha um relógio de um empresário pelo fato de propositadamente não tê-lo investigado criminalmente no passado). Núcleos do tipo Cuida-se de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. O art. 317, caput, do Código Penal contém três núcleos: “solicitar”, “receber” e “aceitar”. Solicitar equivale a pedir algo. O funcionário público limita-se a manifestar perante outrem seu desejo de receber alguma vantagem indevida, e o particular pode ou não atendê-lo, pois não se sente atemorizado. Receber é entrar na posse de um bem, aceitando a entrega efetuada por outrem. Aceitar a promessa significa o comportamento do funcionário público de anuir com o recebimento da vantagem indevida. Sujeitos: Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio ou especial, pois somente pode ser cometido pelo funcionário público em razão da sua função, ainda que esteja fora dela (exemplo: férias, licenças etc.) ou antes de assumi-la (exemplo: candidato já aprovado em concurso público e regularmente nomeado, mas ainda não empossado). Sujeito passivo: É o Estado e, mediatamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela conduta criminosa. Elemento subjetivo É o dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), representado pela expressão “para si ou para outrem”, ou seja, em proveito próprio ou de terceiro, compreendido este último como qualquer pessoa diversa do próprio funcionário público responsável pela conduta criminosa ou da Administração Pública. Consumação A corrupção passiva é crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. Consuma-se no momento em que o funcionário público solicita, recebe ou aceita a promessa de vantagem indevida. 30 Tentativa É admissível nas hipóteses de crime plurissubsistente, ensejando o fracionamento do iter criminis. Causa de aumento da pena: art. 317, § 1.º § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. Esse aumento só incide na corrupção passiva PRÓPRIA (onde o funcionário age contrariamente à lei ou deveres funcionais). Em um primeiro momento, o agente solicita, recebe ou aceita a promessa de vantagem indevida, consumando o crime. No segundo momento, o agente deixa de praticar, retarda ou pratica com violação a dever funcional ato de ofício, incidindo a majorante. Corrupção passiva privilegiada: art. 317, § 2.º Art. 317 § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. O motivo do agente consiste em atender aos pedidos de amigos ou pessoas próximas, ou então ser agradável às pessoas influentes que solicitam seus préstimos. Desponta o famoso “jeitinho”, famigerados favores administrativos, funcionário quebra-galho. A corrupção passiva privilegiada (art. 317, §2º) não se confunde com a prevaricação (art. 319). Na corrupção passiva privilegiada, o agente pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem. Já na prevaricação o agente retarda ou deixa de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou o pratica contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. 31 13.2.18 Prevaricação Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá- lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:4 Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Prevaricação é a infidelidade ao dever de ofício, à função exercida. É o não cumprimento pelo funcionário público das obrigações que lhe são inerentes, em razão de ser guiado por interesses ou sentimentos próprios. Objeto jurídico e objeto material O bem jurídico penalmente protegido é a Administração Pública. O objeto material é o ato de ofício indevidamente retardado ou omitido pelo agente, ou praticado contra disposição expressa de lei. Incluem-se nessa categoria os atos públicos de qualquer natureza, executivos, judiciais ou legislativos. Núcleos do tipo O tipo penal do crime de prevaricação contém três núcleos: “retardar”, “deixar de praticar” e “praticar”. Retardar é atrasar, postergar ou adiar. O funcionário público não realiza o ato de ofício dentro do prazo previsto em lei. Deixar de praticar é abster-se no tocante à realização do ato de ofício. Ambos os núcleos (“retardar” e “deixar de praticar”) integram modalidades omissivas do crime de prevaricação. Trata-se, nesse ponto, de crime omissivo próprio ou puro, pois o tipo penal descreve condutas omissivas. Praticar é fazer algo. Visualiza-se aqui um crime comissivo, pois exige uma ação do sujeito ativo. Sujeitos Sujeito ativo: somente pode ser praticada pelo funcionário público. Trata se de crime de mão própria, de atuação pessoal ou de conduta infungível. 4 Vide questão 6 do material 32 Sujeito passivo: é o Estado, ofendido pela ação que estorva o seu desenvolvimento normal e regular, bem como a pessoa física ou jurídica lesada pela conduta penalmente ilícita. Elemento subjetivo É o dolo, acrescido de um especial fim deagir (elemento subjetivo específico), pois o funcionário público deve retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, “para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”. Interesse pessoal é qualquer proveito ou vantagem obtido pelo agente, de índole patrimonial ou moral. Sentimento pessoal, por sua vez, é a posição afetiva (amor, ódio, amizade, vingança, inveja etc.) do funcionário público relativamente às pessoas ou coisas a que se refere a conduta a ser praticada ou omitida. Consumação Nas modalidades do delito "Retardar e deixar de praticar", a prevaricação se consuma no momento em que o funcionário público retarda ou deixa de praticar indevidamente o ato de ofício. Na modalidade "praticar", a consumação verifica-se no instante em que o funcionário público pratica o ato de ofício contra disposição expressa de lei. Tentativa O conatus somente é admissível na modalidade comissiva (“praticá-lo contra disposição expressa de lei”). Nas demais condutas, de natureza omissiva (“retardar” e “deixar de praticar”), a tentativa não é cabível, em face do caráter unissubsistente do delito. 13.2.19 Art. 319-A – Prevaricação Imprópria Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. Objeto jurídico e objeto material O bem jurídico penalmente protegido é a Administração Pública. O objeto material é o aparelho telefônico (fixo ou móvel), de rádio (aparelho que emite e recebe ondas radiofônicas – exemplos: walkie- 33 talkies, Nextel etc.), ou similar (qualquer outro meio de comunicação entre pessoas – exemplo: aparelhos de informática e conversação via webcam). Núcleo do tipo O núcleo do tipo é “deixar”, no sentido de omitir-se ou não fazer algo. A destinação reservada ao aparelho de comunicação é permitir a comunicação do preso com outro detento, que pode se encontrar no mesmo presídio ou em estabelecimento penal diverso, ou entre o preso e qualquer outra pessoa localizada fora do ambiente carcerário, chamado pelo tipo penal de “ambiente externo”. Sujeito ativo Trata-se de crime próprio ou especial, pois somente pode ser cometido pelo Diretor de Penitenciária, responsável pela administração prisional, ou agente público. Sujeito passivo É o Estado e, mediatamente, a sociedade. Elemento subjetivo É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. Consumação Dá-se no momento em que o Diretor de Penitenciária ou agente público, conhecendo a situação ilícita, não faça nada para impedir o acesso do preso a aparelho telefônico, de rádio ou similar. Tentativa Não é cabível. 13.2.20 Condescendência Criminosa Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. 34 Na condescendência criminosa o funcionário público deixa de responsabilizar seu subordinado pela infração cometida no exercício do cargo ou, faltando-lhe atribuições para tanto, não leva o fato ao conhecimento da autoridade competente, unicamente pelo seu espírito de tolerância ou clemência. Não há intenção de satisfazer interesse ou sentimento pessoal, senão estaria configurado o delito de prevaricação (CP, art. 319), nem o propósito de receber vantagem indevida, pois em caso contrário o crime seria o de corrupção passiva (CP, art. 317). Núcleos do tipo O tipo penal contém dois núcleos: “deixar de responsabilizar” e “não levar ao conhecimento”. Trata-se de crime omissivo próprio ou puro, pois a conduta criminosa, em ambas as hipóteses, é omissiva. Deixar de responsabilizar equivale a não atribuir responsabilidade à pessoa que cometeu uma infração (administrativa ou penal), a fim de que possa ser regularmente processada e, se cabíveis, suportar as sanções pertinentes. Não levar ao conhecimento significa, no contexto da condescendência criminosa, ocultar ou esconder da autoridade competente para a responsabilização de um funcionário público a infração por este cometida, também por indulgência. Sujeito ativo Cuida-se de crime próprio ou especial, pois somente pode ser praticado pelo funcionário público. Todavia, não é suficiente a condição funcional. Exige-se a posição de hierarquia perante o autor da infração. Sujeito passivo É o Estado. Elemento subjetivo É o dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), consistente na intenção de ser indulgente com o funcionário público responsável pela infração no exercício do cargo. Indulgência é sinônimo de perdão, clemência ou tolerância. Consumação 35 O crime é formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. Consuma-se com a mera omissão do funcionário público que, ao tomar ciência da infração cometida pelo subordinado no exercício do cargo, deixa de adotar qualquer providência para responsabilizá-lo, ou, quando lhe faltar competência para tanto, não leva o fato ao conhecimento da autoridade competente. Tentativa Não é cabível. 13.2.21 Advocacia Administrativa O crime de advocacia administrativa caracteriza-se pela defesa de interesses privados perante a Administração Pública, aproveitando-se o funcionário público das facilidades proporcionadas pelo seu cargo. Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário:5 Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa. O interesse patrocinado pode ser legítimo (advocacia administrativa imprópria) ou ilegítimo (advocacia administrativa própria). O núcleo do tipo é “patrocinar”, ou seja, amparar, advogar, defender ou pleitear interesse privado de outrem. O patrocínio – que não depende de qualquer vantagem econômica em contrapartida ao agente público – pode ser direto, quando exercido pelo próprio funcionário público, ou indireto, na hipótese em que ele se vale de terceira pessoa, a qual age sob o manto do seu prestígio. 5 Vide questão 7 do material 36 13.3 Dos crimes praticados por particular contra a administração em geral 13.3.1 Usurpação de função pública Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. O núcleo do tipo penal é usurpar, no sentido de apoderar-se indevidamente ou exercer ilegitimamente uma função pública. Dessa forma, é imprescindível a execução de atos inerentes à função pública pelo usurpador.6 Com efeito, se o agente se limita a apresentar-se ilegalmente como funcionário público, não se pode falar no crime tipificado no art. 328 do Código Penal. No entanto, o fato não será irrelevante no campo penal, pois estará caracterizada a contravenção penal de simulação da qualidade de funcionário, prevista no art. 45 do Decreto-lei 3.688/1941 – Lei das Contravenções Penais: “Fingir-se funcionário público: Pena – prisão simples, de um a três meses, ou multa”. Por fim, é crime é formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado: consuma-se com a simples usurpação da função pública, isto é, com a realização pelo agente de algum ato de ofício inerente à função da qual não é titular, em razão de não ter sido nela legitimamente investido. Não é preciso que o ato praticado tenha produzido efetivo dano patrimonial à Administração Pública, também não se exigindo a obtenção de qualquer tipo de vantagem pelo sujeito ativo. Figuraqualificada: art. 328, parágrafo único Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. A pena é de reclusão, de dois a cinco anos, e multa, se do fato (usurpação de função pública) o agente aufere vantagem. Aqui, a usurpação de função pública é crime material. 6 Vide questão 11 do material 37 A vantagem pode ser de qualquer natureza (patrimonial, moral, política etc.), e pouco importa se é destinada ao proveito do usurpador ou de terceira pessoa. Veja-se que a lei não fala em vantagem “indevida”. Nem precisava, pois qualquer vantagem oriunda da usurpação de função pública só pode ser desta natureza. 13.3.2 Tráfico De Influência Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário. Núcleo do tipo O tipo penal contém quatro núcleos: solicitar, exigir, cobrar ou obter. Solicitar é pedir, pleitear ou requerer; exigir é ordenar ou determinar; cobrar é reclamar o pagamento ou cumprimento de algo; e obter é alcançar ou conseguir. Estes verbos conjugam-se com a conduta de influir (inspirar ou incutir). O objeto das ações é a vantagem ou promessa de vantagem relacionada ao ato praticado por funcionário público no exercício da função. O sujeito solicita, exige, cobra ou obtém, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir no comportamento do funcionário público. Ele não influi realmente no ato funcional, mesmo porque não tem como fazê-lo. Elemento subjetivo É o dolo, acrescido de um especial fim de agir, representado pela expressão “para si ou para outrem”. Exige-se, portanto, a intenção do agente de ter para si ou destinar para outra pessoa a vantagem. Consumação 38 Nos núcleos solicitar, exigir e cobrar o tráfico de influência é crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. Consuma-se com a realização da conduta legalmente descrita, independentemente da efetiva obtenção da vantagem desejada. De outro lado, no núcleo obter o crime é material ou causal, operando-se a consumação no instante em que o sujeito alcança a vantagem almejada. Tentativa É possível, nas situações em que o delito apresentar-se como plurissubsistentes. Não será cabível o conatus, entretanto, quando o tráfico de influência apresentar-se como crime unissubsistente, impossibilitando o fracionamento do iter criminis. Exemplo: Solicitação. Causa de aumento da pena: art. 332, parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário. Qual a diferença entre tráfico de influência e exploração de prestígio? Uma questão que sempre é cobrada nas provas de concursos. As condutas estão descritas nos artigos 332 e 357 do Código Penal. Os delitos possuem os mesmos verbos (núcleos do tipo): solicitar. Também compartilha do mesmo especial fim de agir: “a pretexto de influir”. Entretanto, embora sejam semelhantes, não se confundem. Para realizarmos uma adequação típica correta, precisaremos nos lembrar da razão da conduta do agente, ou seja, quem ele quer influir em cada caso. Em ambos os casos, o sujeito passivo é o Estado, mas a diferença está nos agentes que estão a corporificar o estado em cada caso. Tráfico de influência: funcionário público Exploração de prestígio: juiz, jurado, órgão do ministério público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha. 39 13.3.3 Corrupção Ativa Cuida-se de crime de forma livre, previsto no Art. 333, caput, do Código Penal:7 Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. O art. 333, caput, do Código Penal contempla dois núcleos: “oferecer” e “prometer” vantagem indevida. Oferecer é propor ou apresentar ao funcionário público a vantagem indevida, colocando-a a sua disposição. Prometer, de outro lado, equivale a obrigar-se a entregar futuramente a vantagem indevida, exigindo em contrapartida uma ação correspondente do funcionário público. Trata-se de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Destarte, haverá um só crime quando o particular, relativamente ao mesmo ato de ofício, promete vantagem indevida e depois a oferece ao funcionário público. Não há lugar para a corrupção ativa subsequente, ao contrário do que se verifica na corrupção passiva. Na corrupção ativa, exige-se oferecimento ou promessa de vantagem indevida a funcionário público “para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício”. Por fim, há possibilidade de corrupção ativa, independentemente da corrupção passiva, em seus dois núcleos, pois o particular pode oferecer ou prometer vantagem indevida ao funcionário público, sem que este aceite tanto a proposta como a promessa. Causa de aumento da pena: art. 333, parágrafo único Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. 7 Questão 2 40 A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. Trata-se de causa de aumento de pena, a ser utilizada pelo magistrado na terceira e última etapa da aplicação da pena privativa de liberdade. 13.3.4 Descaminho Dispositivo legal Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Conceito O descaminho, também conhecido como “contrabando impróprio”, é a fraude utilizada para iludir, total ou parcialmente, o pagamento de impostos de importação ou exportação. Essa mercadoria pode ser inclusive de fabricação nacional, desde que tenha procedência estrangeira, como na hipótese de um automóvel fabricado no Brasil, para exportação, e posteriormente aqui introduzido sem o pagamento dos tributos respectivos. O crime pode ocorrer em duas situações: Quando a pessoa traz para o Brasil (importa) uma mercadoria permitida, mas, ao fazê-lo, engana as autoridades e com isso não paga (ilude) o imposto devido; ou Quando a pessoa manda para fora do Brasil (exporta) uma mercadoria permitida, mas, ao fazê-lo, engana as autoridades e com isso não paga (ilude) o imposto devido. Descaminho e princípio da insignificância O descaminho é considerado um crime contra a ordem tributária. Logo, deverá ser aplicado o princípio da insignificância se o montante do imposto que deixou de ser pago era igual ou inferior a 20 mil reais. Núcleo do tipo 41 O núcleo do tipo é iludir, ou seja, enganar, ludibriar, frustrar o pagamento de tributo devido pela entrada ou saída de mercadoria do território nacional. Iludir traz a ideia de fraude: o sujeito se vale de um meio enganoso para dar a impressão, perante as autoridades fiscais, de não praticar conduta tributável. Dessa forma, se o agente simplesmente deixa de recolher os tributos devidos pela entrada ou saída de mercadoria permitida no território nacional, sem se valer de meio fraudulento, estará concretizado um mero ilícito tributário, e não o descaminho. Competência Competência da Justiça Federal. Em termos territoriais, a competência será da seção judiciária onde os bens foram apreendidos,não importando o local por onde entraram no país (no caso de importação) ou de onde seguiriam para o exterior (na hipótese de exportação). Tal entendimento está cristalizado em enunciado do STJ: Súmula n.º 151, STJ. A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens. STJ/2018: Compete à Justiça Federal a condução do inquérito que investiga o cometimento do delito previsto no art. 334, § 1º, IV, do Código Penal, na hipótese de venda de mercadoria estrangeira, permitida pela ANVISA, desacompanhada de nota fiscal e sem comprovação de pagamento de imposto de importação. STJ/2018: Compete à Justiça Federal o julgamento dos crimes de contrabando e de descaminho, ainda que inexistentes indícios de transnacionalidade na conduta. A natureza formal do delito: desnecessidade do esgotamento da esfera administrativa É crime formal e dispensa a exigência de procedimento administrativo, e nesse sentido, o STF dispõe: DESCAMINHO – PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL – DESNECESSIDADE. Sendo o crime de descaminho formal, inadequado é assentar a necessidade de procedimento administrativo fiscal com a constituição do crédito tributário. O descaminho é crime formal, não se aplicando a SV nº 24 (Não se tipifica crime 42 material contra ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I e IV, da Lei n.º 8.137/90 antes do lançamento definitivo do tributo). Para a configuração do crime é dispensada a existência de procedimento administrativo fiscal com a posterior constituição do crédito tributário. (HC 121798, Relator (a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 29/05/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe 116 DIVULG 12-06-2018 PUBLIC 13-06-2018). Pagamento do tributo devido e extinção da punibilidade Atualmente, contudo, a jurisprudência tem se posicionado que o pagamento do tributo devido não funciona como causa extintiva da punibilidade no delito de descaminho. Consumação e tentativa O delito se consuma com o ato de iludir o pagamento de imposto devido pela entrada ou saída de mercadoria do país. Cuida-se de crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. Admite-se a tentativa. Figuras equiparadas: art. 334, § 1.º O § 1º do art. 334 prevê condutas equiparadas a descaminho. As figuras previstas no § 1º do art. 334 do CP são chamadas de “descaminho por assimilação”. § 1º Incorre na mesma pena quem: I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho; III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem; 43 IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. § 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. § 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. Inc. I – pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; Navegação de cabotagem é a “navegação realizada entre portos ou pontos do território brasileiro, utilizando a via marítima ou esta e as vias navegáveis interiores”, conforme previsão do art. 2.º, inc. IX, da Lei 9.432/1997. Há crime quando se realiza navegação de cabotagem em alguma situação não contemplada em lei. Se a navegação for efetuada entre dois portos fluviais, será classificada como interior, e não de cabotagem, afastando a incidência do delito. Inc. II – pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho. Incumbe à legislação especial indicar quais são os fatos assimilados ao descaminho, tratando-se de lei penal em branco homogênea. Inc. III – vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem. 44 Possui duas condutas criminosas. Em ambas, o crime próprio ou especial, pois somente pode ser praticado pelo sujeito que se encontre “no exercício de atividade comercial ou industrial”. Em suma, o sujeito ativo há de ser comerciante ou industriário. Inc. IV – adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. Também se aplica a esta figura equiparada a norma penal explicativa ou complementar delineada no § 2.º, do art. 334, do Código Penal. Em relação à mercadoria de procedência estrangeira desacompanhada de documentação legal (exemplo: nota fiscal), o elemento subjetivo é o dolo (direto ou eventual), acompanhado de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), representado pela expressão “em proveito próprio ou alheio”. Figura equiparada (art. 334, § 2.º) § 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. Este inciso pune a pessoa que pratica atividade comercial ou industrial envolvendo mercadoria de procedência estrangeira, que foi trazida para o Brasil de forma clandestina (sem que as autoridades soubessem) ou fraudulenta (enganando as autoridades). Causa de aumento de pena: art. 334, § 3.º § 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. Essa causa de aumento da pena somente pode ser aplicada nas hipóteses de voos ou embarcações de natureza clandestina, pois os regulares, efetuados por empresas devidamente cadastradas perante os órgãos públicos competentes, submetem-se (ou ao menos deveriam submeter- se) a rígidas fiscalizações nas zonas alfandegárias. 45 13.3.5 contrabando Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Contrabando é a importação ou exportação de mercadoria absoluta ou relativamente proibida. O crime pode ocorrer em duas situações: I. Quando a pessoa traz para o Brasil (importa) uma mercadoria proibida; ou II. Quando a pessoa manda para fora do Brasil (exporta) uma mercadoria proibida. No crime de contrabando, há a importação ou a exportação de mercadorias absoluta ou relativamente proibidas de circularem no país (não abrange produtos que estejam com a importação suspensa temporariamente). Tem natureza genérica ou residual. Em outros termos, somente será aplicado quando a importação ou exportação de mercadoria proibida não configurar outro crime mais específico. Princípio da insignificância É inaplicável o princípio da insignificância ao crime de contrabando, uma vez que o bem juridicamente tutelado vai além do mero valor pecuniário do imposto elidido, alcançando também o interesse estatal de impedir a entrada e a comercialização de produtos proibidos em território nacional. Consumação No contrabando, a conduta diz respeito à importação ou exportação de mercadoria proibida. No campo da consumação, entretanto, duas situaçõesdiversas devem ser analisadas: O agente importa ou exporta a mercadoria proibida pelas vias ordinárias, isto é, vencendo a fiscalização alfandegária. O crime estará consumado no instante em que é ultrapassada a barreira fiscal, ou seja, no instante em que a mercadoria é liberada pela autoridade alfandegária; E o sujeito se vale de meios clandestinos para importar ou exportar a mercadoria proibida (exemplo: ingressa no Brasil pela Floresta Amazônica). Nesse caso, a consumação do delito se verifica no momento em que são transpostas as fronteiras do Brasil. Figuras equiparadas: art. 334-A, § 1.º 46 O § 1.º do art. 334-A do Código Penal relaciona figuras típicas equiparadas ao contrabando. § 1º Incorre na mesma pena quem: I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de órgão público competente; III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação; IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira; V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. § 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. As figuras previstas no § 1º do art. 334-A do CP são chamadas de “contrabando por assimilação”. São situações nas quais o agente não é punido por ter importado ou exportado mercadoria proibida, mas sim por ter praticado uma conduta relacionada com a prática de contrabando. Inc. I – pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando. Exemplo de fato assimilado: o art. 39 do Decreto-Lei n. 288/67, que trata sobre a Zona Franca de Manaus, prevê que “será considerado contrabando a saída de mercadorias da Zona Franca sem a autorização legal expedida pelas autoridades competentes.” Inc. II – importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de órgão público competente. A mercadoria é permitida no Brasil, mas sua importação ou exportação exige prévio registro, análise ou autorização pela autoridade brasileira. O crime repousa justamente na clandestinidade da 47 conduta do agente, que traz o produto para nosso país, ou então o leva ao exterior, sem conhecimento do órgão público competente. Inc. III – reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação. Existem determinadas mercadorias produzidas no Brasil, mas que só podem ser vendidas no mercado exterior, ou seja, destinam-se exclusivamente à exportação. Se o agente traz para o Brasil uma mercadoria nacional que estava no exterior porque se destina à exportação, ele praticará o crime do inciso III. Inc. IV – vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. Esse inciso pune a pessoa que pratica atividade comercial ou industrial envolvendo mercadoria proibida. Repare que o inciso IV não exige que a mercadoria proibida seja de procedência estrangeira, nem que tenha sido objeto de importação ou exportação. Desse modo, se a mercadoria proibida for nacional e não se destinar à exportação, a competência será da Justiça Estadual. Ao contrário, será julgado pela Justiça Federal se a mercadoria for de procedência estrangeira ou for de origem brasileira, mas destinada à exportação. Inc. V – adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. O tipo penal abrange o comportamento do comerciante ou industriário que, no exercício da atividade comercial ou industrial (crime próprio ou especial), realiza alguma das ações típicas no tocante à mercadoria de procedência estrangeira proibida pela lei brasileira, fruto de importação fraudulenta realizada por terceira pessoa. De fato, não foi o comerciante ou industriário quem importou o bem. Na verdade, ele funciona como receptador da mercadoria proibida no Brasil, oriunda de contrabando cometido por terceira pessoa. Competência Competência da Justiça Federal. 48 Súmula n.º 151, STJ: A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do juízo federal do lugar da apreensão dos bens. Causa de aumento de pena: art. 334-A, § 3.º Como estatui o § 3.º do art. 334-A do Código Penal: § 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. Essa causa de aumento da pena somente pode ser aplicada nas hipóteses de voos ou embarcações de natureza clandestina, pois os regulares, efetuados por empresas devidamente cadastradas perante os órgãos públicos competentes, submetem-se (ou ao menos deveriam submeter- se) a rígidas fiscalizações nas zonas alfandegárias. 13.4 Dos crimes contra a administração da justiça 13.4.1 Denunciação Caluniosa8 Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. A denunciação caluniosa é formada pela fusão do crime de calúnia (CP, art. 138) com a conduta lícita de noticiar à autoridade pública (magistrado, delegado de Polícia, representante do Ministério Público etc.) a prática de crime ou contravenção penal e sua respectiva autoria. Trata-se, portanto, de crime complexo em sentido amplo. Objeto jurídico e objeto material O bem jurídico penalmente tutelado é, em primeiro plano, a Administração da justiça. Já o objeto material é a investigação policial, o processo judicial, a investigação administrativa, o inquérito civil ou a ação de improbidade administrativa. 8 Questão 05 49 Conduta Crime de execução livre: pode ser praticado por meios diretos, indiretos, por pessoa, interposta pessoa etc. Investigação policial: dispensa a formalização dessa investigação em inquérito policial, basta que a notícia criminosa desencadeie atos investigatórios inúteis e criminosos. Não fala em INQUÉRITO policial e sim investigação, dispensando a formalização. Processo judicial: processo judicial penal. A doutrina diz que ele se forma com o oferecimento da inicial. Cuidado, o art. 363 do CPP diz que o processo está perfeito com a citação , embora a doutrina ainda insista que ele se forma com o recebimento da inicial. Investigação administrativa: é imprescindível que esta tenha como objeto um ilícito administrativo que corresponda a um crime. Inquérito civil: é imprescindível que esta tenha como objeto um ilícito civil/extrapenal que corresponda a um crime. Ação de improbidade: é imprescindível que esta tenha como objeto um ato ímprobo que corresponda a um crime. Consumação Trata-se de crime material ou causal. Consuma-se com a efetiva instauração da investigação policial, de processo judicial, de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, em razão da imputação falsa de crime ou contravenção penal de que o sabia inocente. Tentativa É possível, em face do caráter plurissubsistente do delito, compatível com o fracionamento do iter criminis. Causa de aumento da pena: art. 339, § 1.º Nos termos do art. 339, § 1.º, do Código Penal: § 1º - A pena é aumentadade sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto.9 9 Vide questão 10 do material 50 Essa causa de aumento da pena tem tratamento mais rigoroso em decorrência da ausência de identificação (anonimato) ou na indicação de qualificação equivocada (nome suposto). Isso dificulta a descoberta da autoria da denunciação caluniosa, tornando muitas vezes impossível a punição daquele que movimentou levianamente o aparato estatal mediante a imputação falsa a alguém de crime ou contravenção penal. Causa de diminuição de pena: art. 339, § 2.º § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. É a chamada “denunciação caluniosa privilegiada”. Passa a ser uma infração de médio potencial ofensivo, permitindo a suspensão condicional do processo. NOVIDADE: Denunciação caluniosa eleitoral Art. 326-A. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, de investigação administrativa, de inquérito civil ou ação de improbidade administrativa, atribuindo a alguém a prática de CRIME OU ATO INFRACIONAL de que o sabe inocente, com finalidade eleitoral: (2019). Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. (2019). § 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve do anonimato ou de nome suposto. (2019). § 2º. A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. (2019). § 3º. Incorrerá nas mesmas penas deste artigo quem, comprovadamente ciente da inocência do denunciado e com finalidade eleitoral, divulga ou propala, por qualquer meio ou forma, o ato ou fato que lhe foi falsamente atribuído. (2019). Cuida-se de conduta análoga àquela prevista no art. 339 do CP. Pena, causas de aumento e de diminuição da pena são idênticas, mas a redação típica é acrescida de um elemento subjetivo especializante (a finalidade eleitoral). 51 13.4.2 Comunicação Falsa De Crime Ou De Contravenção Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Embora o crime de comunicação falsa de crime ou de contravenção em muito se assemelhe à denunciação caluniosa (CP, art. 339). Entretanto, as diferenças entre tais delitos são incontestáveis. Na denunciação caluniosa, o sujeito imputa a uma pessoa determinada ou determinável a prática de crime de que a sabe inocente, dando causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa. De outro lado, na comunicação falsa de crime ou de contravenção o sujeito se limita a comunicar falsamente a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado, assim provocando a ação de autoridade. No entanto, o agente não acusa falsamente nenhuma pessoa, seja por se tratar de indivíduo indeterminado e indeterminável, seja por referir-se a pessoa que não existe (pessoa imaginária). 13.4.3 Auto-Acusação Falsa Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. O núcleo do tipo é “acusar-se”, ou seja, imputar ou atribuir a si próprio à prática de crime. Pune- se o comportamento da pessoa que se autoincrimina, invocando para si a responsabilidade por crime que não praticou, seja porque o fato não existiu, seja porque foi praticado por outra pessoa. O crime se consuma no momento em que a autoridade toma conhecimento da autoacusação falsa, não importando as ulteriores consequências. Chegou ao conhecimento da autoridade, pronto, o delito está consumado. Autoacusação falsa x Comunicação falsa de crime x Denunciação caluniosa 52 Denunciação caluniosa Comunicação falsa de crime ou contravenção Autoacusação falsa O agente imputa a infração penal a terceira pessoa. O agente não imputa a infração penal a terceira pessoa. O agente assume a infração penal inexistente ou praticada por outrem. Abrange crime e contravenção penal. No caso de imputação de contravenção penal a pena é diminuída na metade. Abrange crime e contravenção penal. Somente abrange crime. Cuidado! A autoacusação falsa de contravenção penal é fato atípico. 13.4.4 Falso Testemunho E Falsa Perícia Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo (abrange sindicância), inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Trata-se de infração penal de maior potencial ofensivo, não admite suspensão condicional do processo, salvo, na modalidade tentada. O bem jurídico que se busca tutelar é o prestígio da Justiça. É crime de mão própria, que somente pode ser praticado por: testemunha, perito, contador, tradutor e intérprete. Há divergência quanto à possibilidade de a testemunha informante (não compromissada) praticar o crime de falso testemunho. O informante (testemunha não compromissada) pratica falso testemunho? 1ª Corrente: sim, pois o art. 342 não pressupõe prestação de compromisso. Outro argumento é que o informante pode interferir na convicção do juiz; (STF). 2ª corrente: não, pois se a lei não as submete ao compromisso de dizer a verdade, não podem cometer o delito de falso testemunho (doutrina majoritária). 53 É possível concurso de pessoas? Em regra, tratando-se de crime de mão própria ou conduta infungível só admite participação. Essa é a resposta tradicional. Não a coautoria. Todavia, merece duas observações: 1. A falsa perícia admite a coautoria, quando o laudo for subscrito por dois peritos. Na falta de perito oficial, dois não oficiais subscrevem. 2. Para o STF, o advogado que induz testemunha a mentir é coautor de falso testemunho. O STF trabalha aqui com a teoria do domínio do fato. Conduta Trata-se de crime de ação múltipla, que comporta as seguintes ações nucleares: I Fazer afirmação falsa: o agente distorce a verdade com o intuito de beneficiar ou prejudicar alguém. É a chamada falsidade positiva. II Negar a verdade: o agente sabe a verdade real dos fatos, mas, quando indagado nega saber. III Calar a verdade (reticência): diferentemente das condutas anteriores, aqui, o agente, sabendo da verdade, não inventa e nem nega, apenas sobre ela se pronuncia. A falta com a verdade pode decorrer, de um lado, de um defeito de percepção; de outro, da própria intenção de enganar. No primeiro caso (defeito de percepção), demonstrado que a afirmação falsa decorreu de erro ou ignorância, estará afastada a voluntariedade da ação. No segundo, porém – e aqui já se passa ao exame do elemento psíquico -, evidenciado que o agente era conhecedor da existência de um fato que posteriormente omitiu ou deturpou ou da inexistência daquilo que forjou, o dolo aparece configurado com nitidez. Falsidade e relevância jurídica do fato Conforme Cleber Masson, para a caracterização do crime de falso testemunho ou falsa perícia, qualquer das condutas típicas – “fazer afirmação falsa”, “negar a verdade” ou “calar a verdade” – deve recair sobre fato juridicamente relevante, compreendido como o acontecimento idôneo a influir na valoração da prova a ser utilizada na decisão do processo judicial ou administrativo, ou então no inquérito policial ou em juízo arbitral. Consumação 54 O delito de falso testemunho consuma-se com o encerramento do depoimento, momento em que será reduzido a termo e assinado pela testemunha, pelo magistrado e pelas partes. Todavia, não é necessário que o depoimento inverídico tenha influído na decisão da autoridade. O crime é formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. Na óticado Supremo Tribunal Federal: “O crime de falso testemunho é de natureza formal e se consuma com a simples prestação do depoimento falso, sendo de todo irrelevante se influiu ou não no desfecho do processo”. Por sua vez, o crime de falsa perícia se consuma com a entrega do laudo em descompasso com a realidade, a fim de produzir efeitos em processo judicial, administrativo, inquérito policial ou juízo arbitral, ou então na ocasião em que o perito, tradutor, contador ou intérprete, nessa condição, faz afirmação falsa, nega ou cala a verdade perante a autoridade. Tentativa É controversa a admissão da tentativa nos casos de falso testemunho. Em regra, é inadmissível. O delito é unissubsistente. Porém, é possível a tentativa no falso testemunho prestado por escrito, caso em que o crime passa a ser plurissubsistente. Na hipótese de falsa perícia, na qual a falsidade se exterioriza na entrega do laudo à autoridade, é cabível o conatus, em face do caráter plurissubsistente do delito. Causas de aumento da pena: art. 342, § 1.º § 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. A pena do falso testemunho será majorada e um sexto a um terço quando o agente age mediante suborno ou com a finalidade especial de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte da entidade administração pública direta ou indireta (§1º). Abrange o falso testemunho ou falsa perícia praticados em inquérito policial. Retratação: art. 342, § 2.º § 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. 55 A natureza jurídica deste instituto é causa de extinção de punibilidade. Retratar-se não significa confessar (por exemplo, pratiquei falso testemunho), mas escusar-se, retirar do mundo o que afirmou retroceder na mentira, revelar o que ocultou. A retratação só extingue a punibilidade se ocorrida antes da prolação da sentença. 56 QUADRO SINÓTICO Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral (Crimes funcionais). CONCEITO Crimes funcionais são aqueles cometidos pelo funcionário público no exercício da função pública ou em razão dela. CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. A lei penal adota um conceito amplo de funcionário público, não se vinculando às definições do Direito Administrativo. Verifica-se que basta o exercício temporário de uma função pública, ainda que gratuita, a exemplo dos jurados no Tribunal do Júri e dos mesários no dia das eleições. FUNCIONÁRIO PÚBLICO POR EQUIPARAÇÃO: ART. 327, § 1.º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. CAUSA DE AUMENTO DE PENA: ART. 327, § 2.º, DO CÓDIGO PENAL A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. PECULATO Peculato próprio (art. 312, ‘caput’) É o gênero do qual fazem parte o PECULATO- APROPRIAÇÃO e o PECULATO-DESVIO. No peculato apropriação o núcleo do tipo é “apropriar- se”, ou seja, posicionar-se em relação à coisa como se fosse seu proprietário (animus domini). Apropriar-se é tomar para si, apoderar-se indevidamente de coisa que possuía legitimamente. 57 No peculato desvio o núcleo do tipo é “desviar”, equivalente a distrair ou desencaminhar. O sujeito confere à coisa destinação diversa da inicialmente prevista. Peculato furto ou peculato impróprio: Subtrair: é inverter o título da posse, ou seja, retirar algo de quem tinha a sua posse. Concorrer para a subtração: o funcionário público não subtrai diretamente o dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel. Sua atuação restringe-se à concorrência dolosa para a subtração efetuada por terceira pessoa. Peculato culposo: nada mais é do que o concurso não intencional pelo funcionário público, realizado por ação ou omissão, para a apropriação, desvio ou subtração de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel pertencente ao Estado ou sob sua guarda, por uma terceira pessoa, que pode ser funcionário público (intraneus) ou particular (extraneus). Peculato mediante erro de outrem: consiste na captação indevida, por parte do funcionário público, de dinheiro ou qualquer outra utilidade mediante o aproveitamento ou manutenção do erro alheio. Peculato eletrônico: divide-se em duas modalidades: Inserção de dados falsos em sistema de informações e modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações. CONCUSSÃO O núcleo do tipo é “exigir”, no sentido de ordenar ou impor. Não se confunde com o mero pedido (solicitação), que gera o crime de corrupção ativa. "Para si ou para outrem": O ‘para outrem’ pode reverter até mesmo para a Administração. Exemplo: Delegado exigindo dinheiro para reformar a Delegacia. Vantagem indevida: pode ser de qualquer natureza, até porque a concussão não se encontra no capítulo dos crimes contra o patrimônio. Pena da concussão (Pacote Anticrime): A Lei nº 13.964, de 2019 (pacote anticrime) alterou o código penal, 58 exasperando da pena máxima em abstrato do crime de concussão, passando de 8 anos para 12 anos, com intuito de fomentar que os funcionários públicos não pratiquem tal crime. EXCESSO DE EXAÇÃO O excesso de exação contém dois núcleos: “exigir” tributo, ou contribuição social indevido, e “empregar” na cobrança, meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza. Exigir é ordenar ou impor. O funcionário público exige tributo ou contribuição social que sabe ou deve saber indevido, sem amparo válido para cobrança, seja porque seu valor já foi pago pela vítima, seja porque a quantia cobrada é superior à fixada em lei. A palavra “indevida” funciona como elemento normativo do tipo. Empregar é utilizar ou usar. Aqui o tributo ou contribuição social é devido, mas o funcionário público emprega na cobrança, meio vexatório ou gravoso, não autorizado por lei. CORRUPÇÃO PASSIVA Cuida-se de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. O art. 317, caput, do Código Penal contém três núcleos: “solicitar”, “receber” e “aceitar”. Solicitar equivale a pedir algo. O funcionário público limita-se a manifestar perante outrem seu desejo de receber alguma vantagem indevida, e o particular pode ou não atendê-lo, pois não se sente atemorizado. Receber é entrar na posse de um bem, aceitando a entrega efetuada por outrem. Aceitar a promessa significa o comportamento do funcionário público de anuir com o recebimento da vantagem indevida. PREVARICAÇÃO O tipo penal do crime de prevaricação contém três núcleos: “retardar”, “deixar de praticar” e “praticar”. Retardar é atrasar, postergar ou adiar. O funcionário público não realiza o ato de ofício dentro do prazo previsto em lei. Deixar de praticar é abster-se no tocante à realização do ato de ofício. Ambos os núcleos (“retardar” e “deixar de praticar”) integram modalidades omissivas do crime de prevaricação. Trata-se, nesse ponto, de crime omissivo 59 próprio ou puro, pois o tipo penal descreve condutas omissivas. Praticar é fazer algo. Visualiza-se aqui um crimecomissivo, pois exige uma ação do sujeito ativo. CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA Na condescendência criminosa o funcionário público deixa de responsabilizar seu subordinado pela infração cometida no exercício do cargo ou, faltando-lhe atribuições para tanto, não leva o fato ao conhecimento da autoridade competente, unicamente pelo seu espírito de tolerância ou clemência. Não há intenção de satisfazer interesse ou sentimento pessoal, senão estaria configurado o delito de prevaricação (CP, art. 319), nem o propósito de receber vantagem indevida, pois em caso contrário o crime seria o de corrupção passiva (CP, art. 317). ADVOCACIA ADMINISTRATIVA O crime de advocacia administrativa caracteriza-se pela defesa de interesses privados perante a Administração Pública, aproveitando-se o funcionário público das facilidades proporcionadas pelo seu cargo. Dos crimes praticados por particular contra a administração em geral TRÁFICO DE INFLUÊNCIA O sujeito solicita, exige, cobra ou obtém, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir no comportamento do funcionário público. Ele não influi realmente no ato funcional, mesmo porque não tem como fazê-lo. CORRUPÇÃO ATIVA O art. 333, caput, do Código Penal contempla dois núcleos: “oferecer” e “prometer” vantagem indevida. Oferecer é propor ou apresentar ao funcionário público a vantagem indevida, colocando-a a sua disposição. Prometer, de outro lado, equivale a obrigar-se a entregar futuramente a vantagem indevida, exigindo em contrapartida uma ação correspondente do funcionário público. DESCAMINHO O descaminho, também conhecido como “contrabando impróprio”, é a fraude utilizada para iludir, total ou parcialmente, o pagamento de impostos de importação 60 ou exportação. Essa mercadoria pode ser inclusive de fabricação nacional, desde que tenha procedência estrangeira, como na hipótese de um automóvel fabricado no Brasil, para exportação, e posteriormente aqui introduzido sem o pagamento dos tributos respectivos. CONTRABANDO Contrabando é a importação ou exportação de mercadoria absoluta ou relativamente proibida. O crime pode ocorrer em duas situações: I. Quando a pessoa traz para o Brasil (importa) uma mercadoria proibida; ou II. Quando a pessoa manda para fora do Brasil (exporta) uma mercadoria proibida. Dos crimes contra a administração da justiça DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA A denunciação caluniosa é formada pela fusão do crime de calúnia (CP, art. 138) com a conduta lícita de noticiar à autoridade pública (magistrado, delegado de Polícia, representante do Ministério Público etc.) a prática de crime ou contravenção penal e sua respectiva autoria. Trata-se, portanto, de crime complexo em sentido amplo. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO O sujeito se limita a comunicar falsamente a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado, assim provocando a ação de autoridade. No entanto, o agente não acusa falsamente nenhuma pessoa, seja por se tratar de indivíduo indeterminado e indeterminável, seja por referir-se a pessoa que não existe (pessoa imaginária). AUTO-ACUSAÇÃO FALSA O núcleo do tipo é “acusar-se”, ou seja, imputar ou atribuir a si próprio à prática de crime. Pune-se o comportamento da pessoa que se autoincrimina, invocando para si a responsabilidade por crime que não praticou, seja porque o fato não existiu, seja porque foi praticado por outra pessoa 61 FALSO TESTEMUNHO E FALSA PERÍCIA Trata-se de crime de ação múltipla, que comporta as seguintes ações nucleares: I Fazer afirmação falsa: o agente distorce a verdade com o intuito de beneficiar ou prejudicar alguém. É a chamada falsidade positiva. II Negar a verdade: o agente sabe a verdade real dos fatos, mas, quando indagado nega saber. III Calar a verdade (reticência): diferentemente das condutas anteriores, aqui, o agente, sabendo da verdade, não inventa e nem nega, apenas sobre ela se pronuncia. A falta com a verdade pode decorrer, de um lado, de um defeito de percepção; de outro, da própria intenção de enganar. No primeiro caso (defeito de percepção), demonstrado que a afirmação falsa decorreu de erro ou ignorância, estará afastada a voluntariedade da ação. 62 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (XXIII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Catarina leva seu veículo para uma determinada entidade autárquica com o objetivo de realizar a fiscalização anual. Carlos, funcionário público que exerce suas funções no local, apesar de não encontrar irregularidades no veículo, verificando a inexperiência de Catarina, que tem apenas 19 anos de idade, exige R$ 5.000,00 para “liberar” o automóvel sem pendências. Catarina, de imediato, recusa-se a entregar o valor devido e informa o ocorrido ao superior hierárquico de Carlos, que aciona a polícia. Realizada a prisão em flagrante de Carlos, a família é comunicada sobre o fato e procura um advogado para que ele preste esclarecimentos sobre a responsabilidade penal de Carlos. Diante da situação narrada, o advogado da família de Carlos deverá esclarecer que a conduta praticada por Carlos configura, em tese, crime de A) corrupção passiva consumada. B) concussão consumada. C) corrupção passiva tentada. D) concussão tentada. Comentário: Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida. Portanto, o funcionário DEVE EXIGIR, de modo que atemoriza a vítima. Conduta: Exigir (em razão do emprego, cargo ou função pública que pratica, mesmo antes de assumi-la.) 63 Questão 2 (XXI EXAME DE ORDEM – FGV – 2016) Alberto, policial civil, passando por dificuldades financeiras, resolve se valer de sua função para ampliar seus vencimentos. Para tanto, durante o registro de uma ocorrência na Delegacia onde está lotado, solicita à noticiante R$2.000,00 para realizar as investigações necessárias à elucidação do fato. Indignada com a proposta, a noticiante resolve gravar a conversa. Dizendo que iria pensar se aceitaria pagar o valor solicitado, a noticiante deixa o local e procura a Corregedoria de Polícia Civil, narrando a conduta do policial e apresentando a gravação para comprovação. Acerca da conduta de Alberto, é correto afirmar que configura crime de A) corrupção ativa, em sua modalidade tentada. B) corrupção passiva, em sua modalidade tentada. C) corrupção ativa consumada. D) corrupção passiva consumada. Comentário: Corrupção ativa Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná- lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Corrupção passiva Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Nesse caso o agente, Alberto, praticou o crime de corrupção passiva, em sua modalidade CONSUMADA, nos termos do art. 317 do CP. 64 O crime de corrupção passiva é considerado FORMAL, e se consuma com a mera prática da conduta pelo agente (no caso, solicitar a vantagem indevida), sendo irrelevante se a vantagem chega a ser efetivamente obtida. Questão 3 (XX EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) Hugo estava dentro de seu automóvel esperando a namorada, quando foi abordado por dois policiais militares. Os policiais exigiram a saída de Hugo do automóvel e sua identificação, que atendeu à determinação. Após revista pessoal e no carro, e nada de ilegal ter sido encontrado, os agentes da lei afirmaram que Hugo deveria acompanhá-los à Delegacia para que fosse feita uma averiguação, inclusive para ver se havia mandado de prisão contra ele. Após recusa de Hugo, os policiais tentaram algemá-lo,mas ele não aceitou. Considerando apenas as informações expostas, é correto afirmar que a conduta de Hugo A) configura situação atípica. B) configura o crime de resistência. C) configura o crime de desobediência. D) configura o crime de desacato. Comentário: Configura o crime de RESISTÊNCIA a conduta de opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio (Art. 329,CP). O crime de DESOBEDIÊNCIA, por sua vez, configura-se quando o agente desobedece ordem legal de funcionário público (Art. 330, CP). Questão 4 65 (XX EXAME DE ORDEM – FGV- 2016) Guilherme, funcionário público de determinada repartição pública do Estado do Paraná, enquanto organizava os arquivos de sua repartição, acabou, por desatenção, jogando ao lixo, juntamente com materiais inúteis, um importante livro oficial, que veio a se perder. Considerando apenas as informações narradas, é correto afirmar que a conduta de Guilherme A) configura crime de prevaricação. B) configura situação atípica. C) configura crime de condescendência criminosa. D) configura crime de extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento. Comentário: Art. 314 / CP - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente. Art. 18 / CP - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Crime doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Crime culposo (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Questão 5 66 (XIX EXAME DE ORDEM – FGV -2016) Patrício, ao chegar em sua residência, constatou o desaparecimento de um relógio que havia herdado de seu falecido pai. Suspeitando de um empregado que acabara de contratar para trabalhar em sua casa e que ficara sozinho por todo o dia no local, Patrício registrou o fato na Delegacia própria, apontando, de maneira precipitada, o empregado como autor da subtração, sendo instaurado o respectivo inquérito em desfavor daquele “suspeito”. Ao final da investigação, o inquérito foi arquivado a requerimento do Ministério Público, ficando demonstrado que o indiciado não fora o autor da infração. Considerando que Patrício deu causa à instauração de inquérito policial em desfavor de empregado cuja inocência restou demonstrada, é correto afirmar que o seu comportamento configura A) fato atípico. B) crime de denunciação caluniosa dolosa. C) crime de denunciação caluniosa culposa. D) calúnia. Comentário: Calúnia = imputar falsamente fato definido como crime Denúncia caluniosa = dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente. Questão 6 (anca: IBADE - 2019 - Prefeitura de Jaru - RO - Analista Administrativo) Mévio é funcionário público municipal e retardou, indevidamente, ato de ofício, para satisfazer sentimento pessoal. De fato, ele trabalha no setor de recursos humanos e atrasou a concessão das férias de um colega de trabalho, desafeto seu, com o fim de fazê-lo perder a passagem aérea que ele havia comprado para passar férias no exterior. Consequentemente, o colega perdeu a viagem, o que 67 satisfez o sentimento pessoal de Mévio de ver o colega infeliz. Considerando essa situação hipotética, é correto dizer que com essa conduta Mévio praticou crime contra a Administração Pública, consistente no delito de: A) concussão B) corrupção C) peculato D) estelionato E) prevaricação Comentário: Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Questão 7 (Banca: VUNESP - 2019 - Prefeitura de Guarulhos - SP - Inspetor Fiscal de Rendas) De acordo com o CP, a conduta de funcionário público que, valendo-se dessa qualidade, patrocina interesse privado perante a Administração Pública A) configura prevaricação. B) configura advocacia administrativa. C) configura corrupção passiva. D) é punida com pena de detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. E) não é típica se o interesse patrocinado é legítimo. 68 Comentário: Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Questão 8 (Banca: VUNESP - 2019 - Câmara de Sertãozinho - SP - Procurador Jurídico Legislativo) Art. 312A respeito dos crimes contra a administração pública, previstos no Código Penal, assinale a alternativa correta. A) O crime de peculato apenas se configura quando o bem móvel apropriado ou desviado pelo funcionário público for público. B) No crime de peculato, na modalidade culposa, a reparação do dano até a condenação recorrível extingue a punibilidade. C) O crime de exercício arbitrário das próprias razões apenas se configura se a pretensão a ser satisfeita for ilegítima. D) O crime de promover ou facilitar a fuga de pessoa só admite sujeito ativo funcionário público. E) O crime de exploração de prestígio somente pode ser praticado por funcionário público. Comentário: Art. 312, § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. 69 Questão 9 (Banca: VUNESP - 2019 - Câmara de Monte Alto - SP - Procurador Jurídico) De acordo com Súmula do Superior Tribunal de Justiça, A) na ação de mandado de segurança se admite condenação em honorários advocatícios. B) a fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é da competência do Município. C) o princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a Administração Pública. D) compete ao juiz estadual, nas comarcas que não sejam sede de vara da Justiça Federal, processar e julgar ação civil pública, desde que a União não figure no processo. E) o Ministério Público não tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa do patrimônio público. Comentário: Súmula n.º 599, STJ. O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública. Questão 10 (Banca: VUNESP - 2019 - Câmara de Serrana - SP - Procurador Jurídico) A respeito dos crimes contra a administração pública, previstos no Código Penal, assinale a alternativa correta. A) O crime de inserção de dados falsos em sistema de informações (art. 313-A, do CP) não é próprio de funcionário público. B) O crime de usurpação de função pública (art. 328, do CP) somente se configura se o agente da usurpação aufere vantagem. 70 C) No crime de sonegação de contribuição previdenciária (art. 337-A), o perdão judicial da pena é obrigatório, caso o agente seja primário e de bons antecedentes, e as contribuições devidas de pequeno valor. D) No crime de denunciação caluniosa (art. 339, do CP), haverá aumento da pena se o agente se utiliza de anonimato. E) O crime de favorecimento pessoal (art. 348, do CP) não se caracteriza se o auxílio é prestado a autor de crime apenado com detenção. Comentário: Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial,de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. Questão 11 (Banca: CESPE - 2020 - TJ-PA - Analista Judiciário – Direito) Antônio e Breno, bacharéis em direito, fazendo-se passar por oficiais de justiça, compareceram em determinada joalheria alegando que teriam de cumprir mandado judicial de busca e apreensão de parte da mercadoria, por suspeita de crime tributário. Para não cumprir os mandados, solicitaram a quantia de R$ 10.000, que foi paga pelo dono do estabelecimento. Nessa situação, Antônio e Breno responderão pelo crime de A) concussão. 71 B) corrupção ativa. C) corrupção passiva. D) usurpação de função pública. E) tráfico de influência. Comentário: Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Aqui, diferentemente do que ocorre no crime de exercício funcional ilegal, o agente não possui qualquer vínculo com a administração pública ou, caso possua, suas funções são absolutamente estranhas à função usurpada. É necessário que o agente pratique atos inerentes à função. Não basta que apenas se apresente a terceiros como funcionário público. O § único estabelece, ainda, uma forma qualificada do delito e a Doutrina entende que esta ''vantagem'' pode ser de qualquer natureza, não necessariamente uma vantagem financeira, podendo ser, inclusive, um favor sexual, etc. 72 GABARITO Questão 1 - B Questão 2 - D Questão 3 - A Questão 4 - B Questão 5 - A Questão 6 - E Questão 7 - B Questão 8 - B Questão 9 – C Questão 10 – D Questão 11 – D 73 QUESTÃO DESAFIO Como se consuma o crime de descaminho? Qual o valor considerado pelo STF e pelo STJ para que haja incidência do princípio da insignificância nesse crime? Responda em até 5 linhas 74 GABARITO QUESTÃO DESAFIO O descaminho se consumará com a liberação na alfândega, sem o pagamento dos impostos devido. A partir da portaria MF nº 75, o STF passou a entender ser de 20 mil reais o patamar para se aplicar o princípio da insignificância. E, mais recentemente, o STJ decidiu que o patamar deve ser o mesmo. Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta: liberação na alfândega, sem o pagamento de imposto. O crime de descaminho está previsto no artigo 334 do Código Penal brasileiro (“Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014). Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.”). No crime de descaminho, a importação, exportação ou consumo não são ilícitos. O que se pune, no descaminho, é a burla ao sistema tributário. descaminho, por sua vez, irá se consumar com a liberação na alfândega, sem o pagamento dos impostos devidos (AgRg no REsp 1493968/PR, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, julgado em 07/05/2015, DJe 26/05/2015). Trata-se de crime formal. STF: R$ 20.000,00. Em relação ao descaminho, crime previsto no artigo 334 do Código Penal, a Jurisprudência entende, ainda, que em se tratando de prejuízo inferior ao patamar estabelecido pela Fazenda Nacional como irrelevante para fins de execução fiscal, temos hipótese de aplicação do princípio da insignificância (STF - HC 124867 AgR / PR; STJ - AgRg no REsp 1511445 / RS), de forma a afastar a tipicidade do fato, ou seja, o fato seria atípico (por ausência de lesividade social apta a justificar a tutela penal, já que por esse valor a Fazenda sequer promove a execução fiscal, de modo que não faz sentido aplicar o Direito Penal se não se aplica nem o Direito Administrativo ao caso).A Portaria MF nº 75 aumentou para R$ 20.000,00 o valor dos créditos tributários federais considerados irrelevantes para fins de execução fiscal, dispensando sua cobrança, de forma que 75 o STF passou a entender que este é o patamar para se aplicar o princípio da insignificância a tal delito. STJ: R$ 20.000,00. A terceira seção do STJ havia firmado entendimento no sentido de que o valor deveria ser o de R$ 10.000,00, seguindo o patamar previsto na Lei 10.522/02. Porém, mais recentemente, a própria Terceira Seção do STJ decidiu que o patamar deve ser o de R$ 20.000,00: (...) Considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia, nos termos do art. 927, § 4º, do Código de Processo Civil, afetou-se recurso especial para fins de revisão da tese fixada no REsp n. 1.112.748/TO (representativo da controvérsia) - Tema 157 (Relator Ministro Felix Fischer, DJe 13/10/2009), a fim de adequá-la ao entendimento externado pela Suprema Corte, no sentido de considerar o parâmetro fixado nas Portarias n. 75 e 130/MF - R$ 20.000,00 (vinte mil reais), para aplicação do princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho. (ProAfR no REsp 1709029/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/11/2017, DJe 01/12/2017). 76 LEGISLAÇÃO COMPILADA Crimes contra a administração pública Súmula n.º 599, STJ. O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública. Peculato Código Penal: Art. 312 Código Penal: Art. 312, §1º Peculato culposo Código Penal: Art. 312, §§2º e 3º Peculato mediante erro de outrem Código Penal: Art. 313 Peculato eletrônico Código Penal: Art. 313-A e 313-B Concussão Código Penal: Art. 316 Excesso de exação Código Penal: Art. 316, §§1.º e 2.º Corrupção passiva Código Penal: Art. 317 Prevaricação 77 Código Penal: Art. 319 Condescendência criminosa Código Penal: Art. 320 Advocacia administrativa Código Penal: Art. 321 Funcionário público Código Penal: Art. 327 Tráfico de Influência Código Penal: Art. 332 Corrupção ativa Código Penal: Art. 333 Descaminho Código Penal: Art. 334 Súmula n.º 151, STJ. A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do juízo federal do lugar da apreensão dos bens. Contrabando Código Penal: Art. 334-A Denunciação caluniosa Código Penal: Art. 339 Comunicação falsa de crime ou de contravenção Código Penal: Art. 340 78 Auto-acusação falsa Código Penal: Art. 341 Falso testemunho ou falsa perícia Código Penal: Art. 342 79 JURISPRUDÊNCIA STF. 1ª Turma. Inq 3515/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/10/2019 (Info 955). É possível que se configure o crime de corrupção passiva (art. 317 do CP) na conduta de Deputado Federal (líder do seu partido) que receba vantagem indevida para dar sustentação política e apoiar a permanência de determinada pessoa no cargo de Presidente de empresa pública federal. Comentário: Deputado Federal que recebe propina para apoiar permanência de diretor de estatal comete crime de corrupção passiva. STF. 1ª Turma. Inq 4075/DF, rel orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 10/9/2019 (Info 951). Mero fato de o Ministro ter pedido vista do processo sem saber que estava impedido, devolvendo na sessão seguinte e declarando seu impedimento, não configura indício de que ele tenha praticado tráfico de influência (art. 332, caput, do Código Penal). (AO 2093, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 03/09/2019, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-220 DIVULG 09-10-2019 PUBLIC 10-10-2019) No rol de incidência da causa especial de aumento de pena, entre os entes da AdministraçãoPública indireta, não há menção às autarquias. Analogia para entender que os servidores ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou de assessoramento das autarquias também estariam sujeitos à majorante. Pelo princípio da legalidade penal estrita, inadmissível o aproveitamento da analogia in malam partem. Recorrentes que não poderiam ter a pena majorada em um terço, na forma prevista no § 2º do art. 327 do Código Penal. 21. Crimes praticados com violação de dever com a Administração Pública. Pena aplicada em patamar superior a 4 anos. Aplicabilidade do efeito específico da sentença condenatória consistente na perda do cargo público. (STJ; AgRg-REsp 1.729.115; Proc. 2018/0055063-3; PR; Quinta Turma; Rel. Min. Joel Ilan Paciornik; Julg. 12/06/2018; DJE 25/06/2018; Pág. 1953) A jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de que a importação não autorizada de arma de pressão, ainda que de calibre inferior a 6 (seis) MM, configura crime de contrabando, sendo inaplicável o princípio da insignificância. Comentário: A importação de arma de pressão por ação de gás comprimido, ainda que de calibre inferior a 6 mm, configura o crime de contrabando, sendo inaplicável o princípio da insignificância 80 (REsp 1745410/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Rel. p/ Acórdão Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 02/10/2018, DJe 23/10/2018) 8. O crime de corrupção passiva consuma-se ainda que a solicitação ou recebimento de vantagem indevida, ou a aceitação da promessa de tal vantagem, esteja relacionada com atos que formalmente não se inserem nas atribuições do funcionário público, mas que, em razão da função pública, materialmente implicam alguma forma de facilitação da prática da conduta almejada. (HC 138484, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 11/09/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-222 DIVULG 17-10-2018 PUBLIC 18-10-2018) Para o fim previsto no artigo 327, § 1º, do Código Penal, tem a qualificação de funcionário público pessoa que exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal ou trabalha em empresa prestadora de serviços contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. ORGANIZAÇÃO SOCIAL – INSTITUTO CANDANGO DE SOLIDARIEDADE. Os dirigentes e prestadores de serviço têm, para efeito penal, a qualificação de funcionário público. PENA – MULTA. A fixação do valor do dia-multa circunscreve-se ao justo ou injusto, não alcançando, em geral, ilegalidade. (CC 159.680/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/08/2018, DJe 20/08/2018) Como o descaminho tutela prioritariamente interesses da União, é de se reconhecer a competência da Justiça Federal para conduzir o inquérito policial e, eventualmente, caso seja oferecida denúncia, julgar a ação penal, aplicando-se à hipótese dos autos o disposto no enunciado n. 151 da Súmula desta Corte. (HC 121798, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 29/05/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-116 DIVULG 12-06-2018 PUBLIC 13-06-2018) DESCAMINHO – PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL – DESNECESSIDADE. Sendo o crime de descaminho formal, inadequado é assentar a necessidade de procedimento administrativo fiscal com a constituição do crédito tributário. (HC 402.949/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 13/03/2018, DJe 26/03/2018) PROCESSUAL PENAL. DEPOSITÁRIO JUDICIAL QUE VENDE OS BENS EM SEU PODER. ATIPICIDADE PARA O DELITO DE PECULATO. DESCRIÇÃO FÁTICA QUE PODE SER SUBSUMIDA A OUTROS CRIMES. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL SEM PREJUÍZO DE NOVA DENÚNCIA POR OUTRO CRIME. 1 - O crime de peculato exige para a sua consumação que o funcionário público se aproprie de dinheiro, valor ou outro bem móvel em virtude do "cargo". 2 - Depositário judicial não é funcionário público para fins penais, porque não ocupa cargo público, mas a ele é atribuído um munus, pelo juízo, em razão de bens que, litigiosos, ficam sob sua guarda e zelo. 3 - Embora a narrativa da denúncia não possa ser subsumida ao tipo penal do peculato, descreve aquela peça acontecimentos que, em tese, podem ser enquadrados em outras molduras abstratamente definidas pela lei penal. 4 - Ordem 81 concedida para trancar a ação penal, sem prejuízo de o órgão acusatório apresentar nova denúncia por outro tipo penal. 82 MAPA MENTAL 83 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral (arts. 1º ao 120). 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2015. Estefam, André: Direito penal esquematizado: parte geral / André Estefam e Victor Eduardo Rios Gonçalves; coordenador Pedro Lenza. – 5. ed. – São Paulo: Saraiva, 2016. – (Coleção esquematizado). Masson, Cleber. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cleber Masson. – 13. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019. https://s3.meusitejuridico.com.br/2018/11/b9efe85a-primeiras-impressoes-sobre-o-crime-de-importunacao-sexual- e-alteracoes-da-lei-13.pdf Metzker, David. Lei Anticrime (Lei 13.964/2019): Comentários às modificações no CP, CPP, LEP, Lei de Drogas e Estatuto do Desarmamento / David Metzker. – Timburi, SP: Editora Cia do eBook, 2020. 93 p. .683/RS, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJe de 3/2/11). DIREITO PENAL Capítulo 12 13. Dos crimes contra a administração pública. Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral. Dos crimes praticados por particular contra a administração em geral. Dos crimes contra a administração da justiça. 13.1 Introdução 13.2 Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral (Crimes funcionais). 13.2.1 Introdução 13.2.2 Crimes funcionais: conceito e espécies 13.2.3 Crimes funcionais e concurso de pessoas 13.2.4 Conceito de funcionário público para fins penais: art. do Código Penal 13.2.5 Funcionário público por equiparação: art. 327, § 1.º 13.2.6 Causa de aumento de pena: art. 327, § 2.º, do Código Penal 13.2.7 Rito especial dos crimes funcionais 13.2.8 Peculato 13.2.9 Peculato próprio (art. 312, ‘caput’) 13.2.10 Peculato furto ou peculato impróprio: art. 312, § 1.º 13.2.11 Peculato culposo: art. 312, § 2.º 13.2.12 Causa extintiva da punibilidade (§3º) para o peculato culposo 13.2.13 Art. 313 – peculato mediante erro de outrem 13.2.14 Peculato eletrônico (Art. 313-A e 313-B) 13.2.15 Concussão 13.2.16 Excesso De Exação 13.2.17 Corrupção Passiva 13.2.18 Prevaricação 13.2.19 Art. 319-A – Prevaricação Imprópria 13.2.20 Condescendência Criminosa 13.2.21 Advocacia Administrativa 13.3 Dos crimes praticados por particular contra a administração em geral 13.3.1 Usurpação de função pública 13.3.2 Tráfico De Influência 13.3.3 Corrupção Ativa 13.3.4 Descaminho 13.3.5 contrabando 13.4 Dos crimes contra a administração da justiça 13.4.1 Denunciação Caluniosa 13.4.2 Comunicação Falsa De Crime Ou De Contravenção 13.4.3 Auto-Acusação Falsa 13.4.4 Falso Testemunho E Falsa Perícia QUADRO SINÓTICO QUESTÕES COMENTADAS GABARITO QUESTÃO DESAFIO GABARITO QUESTÃO DESAFIO LEGISLAÇÃO COMPILADA JURISPRUDÊNCIA MAPA MENTAL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS