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H W FASCHING - ORALIDADE - IMEDIAÇÃO - EUROPA

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A POSIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ORALIDADE E DA IMEDIAÇÃO NO 
PROCESSO CIVIL MODERNO - Descrita à luz de alguns 
ordenamentos processuais centro-europeus 
 
 
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A POSIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ORALIDADE E DA IMEDIAÇÃO NO 
PROCESSO CIVIL MODERNO - DESCRITA À LUZ DE ALGUNS 
ORDENAMENTOS PROCESSUAIS CENTRO-EUROPEUS 
 
Revista de Processo | vol. 39/1985 | p. 27 - 34 | Jul - Set / 1985 
DTR\1985\26 
 ___________________________________________________________________________ 
Hans Walter Fasching 
 
Área do Direito: Civil; Processual 
 
Sumário: 
 
 
 
1. Características essenciais do processo civil europeu * são a sua oralidade e imediatidade. 
Ambos os princípios são, freqüentemente, contemplados em conjunto e considerados 
como se foram inseparavelmente amalgamados, sendo então a oralidade colocada em 
primeiro plano. 1 Na verdade, no entanto, mostra-se, mormente na última fase do 
desenvolvimento, de maneira cada vez mais clara que se faz necessária uma rigorosa 
separação dogmática dos dois princípios, para que se possa ordenar corretamente as 
tendências de desenvolvimento que não correm absolutamente paralelas. Em 
conseqüência, por princípio da oralidade do processo entende-se o seguinte: o contato 
entre as partes e o juízo deve ser oral; à decisão da questão deve preceder uma audiência 
oral entre as partes e o juízo, e somente o que foi apresentado nesta audiência oral pode 
fundamentar a decisão do juízo. 2 O princípio da imediação - que certamente deverá estar 
em estreita conexão com isto - afirma que somente aqueles juízes, que tomaram parte em 
toda a audiência e que colheram e avaliaram as provas pessoalmente, devem poder 
decidir. 3 
Ambos os princípios já eram concretizados em maior ou menor grau em algumas formas de 
manifestação antigas do processo civil; foram, porém, nos primórdios da Idade Moderna, 
no âmbito do direito processual vulgar, quase que totalmente reprimidos. O processo dos 
albores do absolutismo, claudicante, escrito, mediato e reservado, conduziu a uma crise de 
confiança na justiça civil; a justiça converteu-se exclusivamente numa fonte de renda para 
profissões forenses, cujos integrantes exigiam uma posição monopolista cada vez maior. 
Os modelos processuais do século XVIII serviam menos à tutela jurídica que, muito mais, 
que à denegação da Justiça. 
As grandes reformas processuais do século XIX acentuaram, por isso, na Europa Central, 
de maneira expressiva, os princípios da oralidade e da mediação. Sua concretização foi 
entusiasticamente saudada e mereceram na moderna ciência processualística quase o 
caráter de dogmas intocáveis. Nesse sentido, qualquer dúvida levantada sobre o valor 
absoluto desses princípios, era por exemplo na Áustria, Alemanha e países escandinavos, 
quase um sacrilégio processual. 4 
 
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PROCESSO CIVIL MODERNO - Descrita à luz de alguns 
ordenamentos processuais centro-europeus 
 
 
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2. Obviamente, já naquela época deixavam-se os legisladores das reformas, aqui 
especialmente Franz Klein, guiar-se por concepções praticáveis e de modo algum 
concretizavam ambos os princípios completamente. Assim, a oralidade era rompida 
sempre que o objeto e a abrangência da controvérsia estavam por ser fixados, portanto na 
ação, na contestação e nos recursos. Todos esses passos processuais tinham que ser dados 
por escrito. Demais disso, imprescindia-se da forma escrita para se poder determinar os 
resultados da audiência oral e, com isso, os fundamentos da decisão, a fim de se 
possibilitar ao tribunal da instância superior uma reavaliação confiável da sentença apelada 
da instância inferior. O protocolo escrito permanecia, pois, inderrogavelmente necessário. 
Mas o princípio da mediação devia, igualmente, ser mantido em parâmetros: sempre que 
a coleta das provas no próprio foro fosse impossível ou causasse procrastinação 
desaconselhável ou custos exagerados, devia ser prevista ajuda através de outros juízos. 
De maneira geral, pode-se dizer que o processo civil centro-europeu moderno é 
visivelmente dominado pelos princípios da oralidade e da imediação, há que se concordar; 
mas há que se concordar, também, que há uma combinação com elementos essenciais da 
escrituralidade e que aquele processo conhece exceções essenciais à imediação. 5 
3. O processo civil moderno trouxe indubitavelmente uma melhora decisiva à persecução 
da Justiça na Europa Central. Principalmente, tornou-se ele sinótico também para a 
população leiga em matéria de direito. O desenrolar do processo redivivo pela oralidade 
fortaleceu a confiança dos clamantes por Justiça nos tribunais; a duração dos processos foi 
substancialmente encurtada e as possibilidades de arbitrariedades, fraudes e transgressão 
a deveres por juízes e representantes das partes foram consideravelmente estreitadas. Por 
outro lado, também aqui revelam-se algumas falhas: 
a) Quanto ao princípio da oralidade: Uma série de atos processuais orais transformaram-se 
em atos formais, que demandavam perda supérflua de tempo e custos. Isto vale 
precipuamente para o processo preparatório e para o processo recursal. Muito embora 
indubitavelmente desde o início tenha permanecido preceituada a forma escrita para 
importantes partes do processo preparatório, principalmente para a ação e contestação, 
evidenciou-se, mesmo assim, que a audiência preliminar, v. g. a prevista no Ordenamento 
Processual Civil austríaco para ser levada a efeito cogentemente perante os tribunais 
(primeira audiência), degenerou-se, em uma parte não desconsiderável dos casos, num 
ato formal puro, eis que aqui tinha-se como excluída a possibilidade de uma discussão da 
causa (com exceção da confissão, transação e renúncia) e somente se iria discutir sobre as 
premissas processuais de admissibilidade da ação. 6 Igualmente, tem-se mostrado, cada 
vez mais, que a oralidade não se revela especialmente apropriada para a solução de litígios 
em série sobre pretensões insignificantes economicamente (prêmios de seguros, 
contribuições a associações, assinaturas de periódicos etc.) e que contribui para 
procrastinação e para o agravamento de uma liquidação racional de tais pretensões. 
Concluindo, pode-se constatar, à luz de experiências práticas, que uma grande parte dos 
réus concebe a ação como uma advertência e, ou cumpre a obrigação imediatamente, ou 
põe-se de acordo com o autor da ação, extrajudicialmente. Nestes casos, o custo e a perda 
de tempo para uma audiência oral seriam supérfluos, assim como também o dispêndio e a 
atividade processual, necessários à preparação e desencadeamento da audiência oral, 
independentemente do fato de as partes, a final, comparecerem ou não à audiência. Mas 
 
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também no processo recursal a oralidade é despicienda nos casos em que o sistema 
recursal é limitado e já não permite a retomada integral das discussões. A bem da verdade, 
porém, aqui vai depender substancialmente da tradição jurídica de cada país, se está 
habituado ou não aos complicados relatos jurídicos. Principalmente nos países de origem 
romana, parece ser a sustentação oral da sua tradição e uma parte integrante 
indispensável do procedimento recursal, 7 mas também na Europa Central, dentro do 
círculo cultural de igual origem, pode-se distinguir diferenças tradicionais. Assim, por 
exemplo, na República Federal da Alemanha ocorre uma discussão oral perante o Superior 
Tribunal Federal versando sobre um recurso de Revisão, já acolhido, com minudente 
análise da questão de mérito, enquanto na Áustria, uma audiência oral em recurso de 
Revisão está, praticamente, fora de cogitação; aqui, na Áustria, prevalece a convicção de 
que a análise e decisão de questões de mérito de alta indagaçãosomente à luz de relatos 
escritos das partes pode ocorrer de maneira mais eficaz e que a audiência oral deve ficar 
reservada somente às instâncias nas qual.; também a questão de fato pode ser averiguada 
e a prova pode ser colhida. 8 
b) Mais visíveis ainda foram as experiências com o princípio da imediação. De um lado, 
mostrou-se que os processos demoravam mais tempo do que presumia o legislador, e que 
principalmente os juízes mudavam com maior freqüência do que se supunha no princípio. 
Um manuseio rigoroso do princípio da imediação significava, no caso de mudança de juiz, 
que o novo juiz deveria repetir todo o processo até então, e também que as partes não 
poderiam renunciar a isto, uma vez que elas não poderiam amputar a possibilidade de 
conhecimento da questão que lhes assegura o ordenamento jurídico. O resultado de um 
manuseio tão estrito do princípio significa que os processos se tornam mais longos e mais 
caros e que, principalmente, as partes não conseguem entender o porquê de, justamente 
o seu processo, ter que se tornar mais demorado e mais caro, em razão de uma reviravolta 
intrajudicial. Em virtude disso, em todos os países a prática forense mudou sua postura, no 
sentido de permitir, tacitamente, o prosseguimento na condução do processo, em caso de 
mudança de juiz, através da simples leitura dos termos de coleta de provas. Na verdade, 
entretanto, não há uma diretriz uniforme, já que se recalcitra, em parte, em se permitir às 
partes que, ao invés da simples leitura, possam elas exigir a repetição de todos os atos 
processuais. 9 
Ainda mais flagrante mostra-se a mitigação da imediatidade na prática na medida em que 
os juízes vêm se valendo da ajuda de outros juízes em proporções muito maiores do que o 
permite a lei. Mas a própria lei já foi aqui condescendente e não impôs neste vasto âmbito 
critérios demasiadamente rigorosos de imediação. Nesse sentido, por exemplo, o 
ordenamento processual austríaco permite a oitiva de testemunhas através da ajuda de 
outros juízes, quando o interrogatório das testemunhas in loco possa parecer útil à 
averiguação da verdade, quando percalços substanciais se antepõem à coleta direta das 
provas ou quando o interrogatório através do juízo do processo possa ocasionar um 
dispêndio despropositado em termos de custos. 10 O Ordenamento Processual Civil alemão 
é mais condescendente, neste ponto, porque lá a oitiva indireta da testemunha já é 
admitida quando esta encontrar-se "impedida" ou o seu comparecimento perante o juízo 
do processo for "inconveniente"; 11 além disso, o depoimento da testemunha pode, lá, ser 
prestado por escrito, o que equivale a uma renúncia parcial à imediação. Mais rigoroso, em 
contraposição, é o Ordenamento Processual Civil da República Democrática da Alemanha, 
 
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para o qual uma oitiva de testemunha fora do juízo do processo somente é admitida 
quando o dispêndio com uma coleta de prova de maneira direta for injustificadamente 
oneroso para as partes, levando-se em consideração a importância da causa, e quando a 
determinação do tipo legal não vier a ser, com isso, prejudicada. 12 
Não é de se estranhar, portanto, que o princípio da imediação tenha sido infirmado, 
principalmente mediante a excessiva invocação do auxílio através de outros juízos, e tenha 
sido reduzida a sua significância. 
Mas também ainda em uma terceira direção ocorreram problemas práticos: sobretudo 
litígios em matéria de responsabilidade civil, mas também em muitos outros casos trata-se 
de determinar um tipo legal, o qual já foi determinado em outros processos judiciais 
(processos paralelos, processos penais precedentes etc.). 
O manuseio rigoroso do princípio da imediação excluiu, de maneira geral, uma apreciação 
daquelas coletas de provas de outros processos judiciais e até forçou no mesmo litígio a 
que o tribunal da instância superior, que desejaria divergir da decisão da instância inferior, 
procedesse a uma repetição completa do processo probatório, a qual será sempre 
problemática já pelo fato de que os acontecimentos que deverão ser averiguados 
ocorreram há muito tempo e, por isso, os meios de prova serão tanto menos confiáveis 
quanto mais tardia for a repetição das provas. Além disso, a repetição das provas traz 
consigo um elevado dispêndio de tempo e de custos, o qual só é justificado pelos 
resultados nos casos mais raros. 
4. Essas tendências de desenvolvimento dos princípios da oralidade e da imediação na 
prática não puderam ser deixadas fora de consideração por ocasião das reformas 
processuais nas últimas décadas. Aproximadamente vinte anos após a II Guerra Mundial 
vislumbrou-se na maior parte dos países europeus uma reforma processual gradativa, a 
qual, acrescente-se, subordinava-se ao lema da simplificação e do abreviamento do 
processo. Os caminhos trilhados em cada caso foram, porém, os mais diversos. Por este 
motivo, é somente com muita precaução e, freqüentemente, só vagamente que se 
constatam alguns traços característicos comuns. Neste sentido, a oralidade foi 
parcialmente incentivada e parcialmente limitada, o mesmo valendo para a imediatidade 
do processo. 
Ordenamentos Processuais Civis completamente novos havia desde meados do século na 
Europa sobretudo na Grécia, 13 Bélgica, 14 e na República Democrática Alemã, 15 inovações 
profundamente abrangentes e gradativas ocorreram especialmente na República Federal 
da Alemanha, 16 na Suécia 17 e, por último, também na Áustria. 18 
a) O princípio da oralidade foi novamente repensado principalmente no processo 
preparatório. Assim, por exemplo na República Federal da Alemanha concedeu-se ao juiz a 
possibilidade de escolher entre um processo preparatório preponderantemente oral e um 
escrito. Após a entrega da petição inicial escrita, deve o juiz decidir como irá proceder. Se 
ele escolher o processo preparatório oral, deverá neste caso determinar incontinenti uma 
"primeira data próxima" para a audiência oral. Para isso ele pode concitar o réu a 
responder aos termos da ação dentro de determinado prazo. Se ambas as partes 
comparecerem na "primeira data próxima", terá lugar uma audiência contraditória. O 
processo já poderá ser encerrado nessa data. Se somente uma das partes comparecer, 
 
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poderá ser prol atado julgamento à revelia; em caso contrário, é possível uma solução 
através de confissão, renúncia, desistência, declaração de composição quanto ao principal 
ou através de transação. Se não ocorrer composição na primeira data próxima, deverá o 
juízo preparar e realizar a audiência principal. No processo preparatório escrito, o réu é 
solicitado pelo juízo a, no prazo de duas semanas a partir da citação, exteriorizar sua 
disposição de se defender e, dentro de outras duas semanas, entregar sua contestação por 
escrito. Ao autor poderá ser entregue contestação por escrito. Abstém-se o réu de externar 
sua disposição em defender-se, decidirá o juízo sem audiência oral, calcado unicamente 
nos argumentos constantes da petição inicial. Caso contrário, o juiz designará a data da 
audiência oral após a correspondente preparação por escrito da mesma. 19 
Uma semelhante duplicidade de via prevê também agora o direito processual civil austríaco 
para o processo preparatório, sendo, contudo, o arbítrio do juiz quanto à escolha entre os 
dois caminhos substituído por solução legal predeterminada; 20 o processo preparatório 
escrito puro só deverá ter lugar quando puder se esperar que, de acordo com o conteúdo 
da ação e dos documentos acostados, o réu prosseguirá na lide. Em todos os outros casos, 
deve-se prosseguir, na Áustria,com o processo preparatório atual, constante de elementos 
escritos e orais, cujo característico mais notável é a "primeira audiência", 21 no qual uma 
pré-audiência oral com uma missão limitada mostrou-se processualmente econômica e 
agilizadora 22 e que, por um lado, foi modelo no plano internacional para semelhantes 
instituições ou deverá sê-lo 23 e, por outro lado, constitui-se em modelo para a "primeira 
data próxima" do processo alemão. 
Mais nitidamente mostra-se a penetração da forma escrita no processo civil da Grécia, 24 lá 
o processo preparatório é, em princípio, por escrito (arts. 112 e 116, inc. I). O outro 
extremo constituem as normas do processo preparatório na República Democrática Alemã 
25 e nos países escandinavos, 26 dominados pela mais rigorosa oralidade. 
As boas experiências práticas, que foram feitas em muitos países com o tipo processual do 
processo admonitório, sugerem que este processo seja talhado como ponto de partida para 
um processo célere e praticável com vistas à solução de conflitos em massa de natureza 
simples. 27 Este caminho foi trilhado precipuamente pela República Federal da Alemanha e 
mais recentemente - de maneira ainda mais conseqüente - pela Áustria. Enquanto a regra 
alemã - apegando-se ao caráter voluntário do processo admonitório - criou a base legal 
para um processamento mecânico da ação admonitória e, aqui, colheu as primeiras 
experiências mais amplas, a Áustria deu um passo a mais: a partir de 1.1.1986 tem lugar 
obrigatoriamente o processo admonitório em todas as ações que tenham por objeto 
pagamento em dinheiro de pequeno valor. 28 Isto significa que, nestas ações, o juízo é 
obrigado a prolatar imediata e automaticamente uma ordem de pagamento. O 
procedimento oral somente será encetado em caso de contestação à ordem de pagamento 
pelo réu. Com isso terá sido dado o passo para o processo preparatório escrito puro. Par a 
par com isso, deverá também na Áustria ocorrer o processamento mecânico destas ações 
de cobrança (através do "processamento de dados por automação"). 
b) As reformas levaram, porém, em consideração as transformações do princípio da 
imediação e quiseram, por um lado, prevenir o afrouxamento deste princípio obtido 
através de uma prática excessiva do recurso à ajuda de outros juízos; por outro lado, 
todavia, quiseram também baratear e agilizar o processo através de uma atenuação do 
 
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princípio. Seja isto esclarecido à luz do exemplo da mais recente reforma do processo na 
Áustria. 
O elastecimento abusivo da ajuda por outros juízos deve ser combatido através de uma 
enunciação mais rigorosa das premissas sob as quais juízos estranhos à causa poderão ser 
invocados para a prática de atos oficiais, e combatido também mediante uma ampliação 
das possibilidades de virem os juízos a se ativar, também, além dos limites da sua 
jurisdição. 29 Ao contrário, em um outro vasto âmbito, contudo, foi o princípio da imediação 
atenuado. 
Assim, doravante, quando sobre os fatos controvertidos já houver sido colhida uma prova, 
em um (outro) processo judicial, no qual as partes foram envolvidas, o juízo está, então, 
autorizado a limitar-se à leitura do protocolo (ou de um parecer por escrito de um perito) 
e a renunciar a uma nova coleta de provas, caso uma das partes não exija expressamente 
o contrário (ou o meio probatório não esteja mais à disposição). 30 
Esta nova regulamentação - duramente hostilizada pelos defensores do "dogma da 
imediação" - é de significativa importância para a visão hodierna do princípio da imediação. 
Ela exprime uma dicotomia: aa) o reconhecimento da fundamental igualdade de valor das 
coletas de provas de todos os processos judiciais, e bb) que o princípio da imediação é um 
princípio prescindível, acerca de cuja utilização as partes podem dispor livremente. Demais 
disso, este princípio inclui-se no arcabouço geral da economia processual, uma vez que 
através da sua limitação pode o processo ser essencialmente barateado e agilizado. Se isso 
deve ocorrer, determinam, de um lado, as partes e, de outro lado, porém, ainda sempre o 
juízo. Ocorre que este poderá, não obstante, insistir na coleta direta de provas, quando ele 
reputar que esta, no caso concreto, é necessária por melhor atender a averiguação da 
verdade. Como uma tal regra geral, também o problema da repetição do processo em caso 
de mudança de juiz torna-se mais simples e será mais razoavelmente solucionado; e 
também a repetição das provas através dos tribunais recursais pode ocorrer com maior 
freqüência, mais facilmente e mais celeremente. 
5. À luz destes breves e incompletos exemplos pode-se, apesar disso, reconhecer um fato: 
os princípios processuais não são - talvez com a única exceção do princípio do contraditório 
de acordo com sua própria natureza nem dogmas, tampouco axiomas, senão o resultado 
de uma experiência acumulada ao longo de muitos anos com os diferentes modelos 
processuais, com a sua aplicação e com a sua finalidade. Esses princípios não devem se 
converter em um fim em si mesmos, devem, ao contrário, manter confirmadas, sempre 
renovadas, a sua aprovação e a legitimidade da sua própria existência. 31 Justamente o 
desenvolvimento do processo civil na prática das últimas décadas tem sido caracterizado 
pela constatação de que o processo transformou-se num fenômeno de massas. As 
instituições tradicionais da Justiça e as formas processuais assimiladas do passado são 
somente condicionalmente adequadas para superar a nova situação de maneira rápida, 
econômica e satisfatória para aqueles que buscam a Justiça. 
Destarte, também os princípios processuais devem ser visualizados nos contornos dessa 
nova missão. 32 Pertinentemente à oralidade e à imediação, extraem-se disso algumas 
ilações: 
a) Nenhum dos dois princípios deve ser um óbice a uma realização rápida e econômica do 
 
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processo. Eles devem ser desenvolvidos e fortalecidos naqueles casos em que a oralidade 
e a imediação possam conduzir a uma solução mais rápida e mais simples da questão 
litigiosa, como, por exemplo, no processo preparatório; mas esta não será a situação na 
generalidade dos litígios, de modo que deve ser aplicado um processo preparatório oral ou 
escrito de acordo com a necessidade de cada caso concreto; o correspondente vale no 
âmbito da ajuda por outros juízos, onde o dever da coleta direta de provas - em muitos 
casos - abrevia e barateia o processo. Onde ambos os princípios agem obstaculizando e 
encarecendo, é de se ponderar, no caso concreto, se as vantagens inerentes à manutenção 
destes princípios são maiores que as desvantagens de ordem econômico-processual. Se for 
este o caso, então é aconselhável uma limitação racional destes princípios e - em casos de 
ações em massa - de dar-se a preferência à forma escrita e à possibilidade de se limitar a 
imediatidade (através de resultados probatórios de outros processos judiciais). 
b) Estas limitações de ambos os princípios encontram porém as suas barreiras inarredáveis 
sempre que estas limitações possam redundar em uma exclusão ou em uma inadmissível 
lesão ao direito das partes de serem ouvidas ou em um obstáculo para uma decisão 
adequada à situação objetiva. Isto porque nem a oralidade, tampouco a imediação, devem 
ser um fim em si mesmas no moderno processo civil, senão devem servir à inderrogável 
missão de assegurar o direito às partes de serem ouvidas e de garantir a prolatação de uma 
decisão adequada e justa. 
 
* Traduzido do alemão pelo Dr. Wanderlei de Paula Barreto. 
 
1. Cf. a respeito, por exemplo: Fasching, "Escrituralidadee Oralidade no Processo Civil 
Austríaco", in: Informes Nacionais Austríacos do VIII Congresso Internacional de Direito 
Comparado em Pescara, 1970/69; Idem, "A Oralidade no Processo Civil Austríaco", 
comunicação perante o V Congresso Internacional de Direito Processual Civil no México, 
em 1971. 
 
2. A esse respeito Sperl, Tratado da Jurisdição Civil, p. 348; Fasching, Direito Processual 
Civil, n. marg. 667. 
 
3. § 412 do Ordenamento Processual Civil Austríaco: § 128, inc. I, do Ordenamento 
Processual Civil Alemão, § 54, "1", do Ordenamento Processual Civil da República 
Democrática Alemã e outros. 
 
4. Cf., por exemplo, Sperl (nota 2), pp. 352 e ss. 
 
5. Sobre isso Schima, OOrdenamento Processual Civil Austríaco à Luz de Novas Teorias 
Processuais, edição comemorativa às celebrações dos cinqüenta anos do Ordenamento 
Processual Civil Austríaco, p. 250. 
 
6. Mais detalhadamente Fasching, Comentários às Leis Processuais Civis, vol. III, p. 153; 
Fairen-Guillen, "Estudo do comparecimento em juízo de menor quantia do projeto de lei 
urgente de reforma da lei de ajuizamento civil de 1983", in Boletim etc. Colégio de 
Advogados de Madrid 5/1983, 35. 
 
 
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7. Cf. Cappelletti-Perillo, Processo Civil na Itália. 
 
8. Assim, o Supremo Tribunal Austríaco realizou somente uma única audiência oral de 
revisão, apesar da possibilidade que lhe propicia a lei para isto, desde 1945. 
 
9. Mais detalhadamente Fasching, Comentários (nota 6), vol. III, pp. 779 e ss. 
 
10. § 328 do Ordenamento Processual Civil Austríaco. 
 
11. § 375 do Ordenamento Processual Civil Alemão. 
 
12. § 54, "3", do Ordenamento Processual Civil da República Democrática Alemã; sobre 
isso Direito Processual Civil, Tratado, Kellner (coordenador), p. 100. 
 
13. Entrou em vigor em 1968. 
 
14. Belgisch Gerechtelijk Wetboek, maio de 1974. 
 
15. Lei sobre o Processo Judicial em Questões de Direito Civil, de Família e do Trabalho 
(Ordenamento Processual Civil) de 19.6.75, Boletim de Publicação de Leis, I, 1975/29, p. 
533. 
 
16. Reforma para simplificação, de 3.12.76. 
 
17. Sobre isso Ekelöf, Rättegang (4), Femte Häftet, p. 9 e ss. 
 
18. Reforma do Processo Civil de 1983, de 2.2.83, Boletim de Publicação de Leis, 135. 
 
19. §§ 274, 253, 270, 208, 276 do Ordenamento Processual Civil Alemão; sobre isso 
Rosenberg-Schwab, Direito Processual Civil, 13.ª ed., pp. 614 e ss.; Jauernig, Direito 
Processual Civil, 19.ª ed., p. 60. 
 
20. § 243, "4", do Ordenamento Processual Civil Austríaco. 
 
21. Veja nota 6. 
 
22. Rechberger, "Uma Sustentação Oral em defesa da Primeira Audiência", Boletim dos 
Advogados Austríacos, 1982/85. 
 
23. Mais detalhadamente Fairen-Guillen, nota 6. 
 
24. Rammos, "As Linhas Mestras da Reforma Processual Civil Grega, Jornal dos Juristas 
Austríacos 1968/458. 
 
25. Cf. §§ 42 e ss. do Ordenamento Processual Civil da República Democrática Alemã. 
 
26. Welamson, "Direito Processual Civil Austríaco e Sueco", Revista de Direito Comparado 
 
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Página 9 
1968/214; Tirkkonen, ODireito Processual Civil da Finlândia, pp. 16 e ss. 
 
27. "Sobre o Problema das Ações em Massa em Fasching, "Cortes de Pequenas 
Reclamações", Relatório Geral do I Congresso Internacional de Direito Processual Civil em 
1977, em Genebra, in: Rumo a uma Justiça com uma Feição Humana, 1978, p. 343. 
 
28. Atualmente 30.000 xelins austríacos. 
 
29. §§ 32, 33, 36, "3", da Lei que introduziu a mais recente reforma processual. 
 
30. § 281 do Ordenamento Processual Civil Austríaco. 
 
31. Fasching, "Princípios Processuais e Reforma do Processo Civil", in: Haller, Berchtold, 
Fasching e outros: Princípios Processuais - Reformas Processuais no Direito Austríaco, p. 
53. 
 
32. Schima, Princípios Processuais em visão hodierna. Quoranze a Piero Calamandrei, vol. 
II, p. 459.

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