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A POSIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ORALIDADE E DA IMEDIAÇÃO NO PROCESSO CIVIL MODERNO - Descrita à luz de alguns ordenamentos processuais centro-europeus Página 1 A POSIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ORALIDADE E DA IMEDIAÇÃO NO PROCESSO CIVIL MODERNO - DESCRITA À LUZ DE ALGUNS ORDENAMENTOS PROCESSUAIS CENTRO-EUROPEUS Revista de Processo | vol. 39/1985 | p. 27 - 34 | Jul - Set / 1985 DTR\1985\26 ___________________________________________________________________________ Hans Walter Fasching Área do Direito: Civil; Processual Sumário: 1. Características essenciais do processo civil europeu * são a sua oralidade e imediatidade. Ambos os princípios são, freqüentemente, contemplados em conjunto e considerados como se foram inseparavelmente amalgamados, sendo então a oralidade colocada em primeiro plano. 1 Na verdade, no entanto, mostra-se, mormente na última fase do desenvolvimento, de maneira cada vez mais clara que se faz necessária uma rigorosa separação dogmática dos dois princípios, para que se possa ordenar corretamente as tendências de desenvolvimento que não correm absolutamente paralelas. Em conseqüência, por princípio da oralidade do processo entende-se o seguinte: o contato entre as partes e o juízo deve ser oral; à decisão da questão deve preceder uma audiência oral entre as partes e o juízo, e somente o que foi apresentado nesta audiência oral pode fundamentar a decisão do juízo. 2 O princípio da imediação - que certamente deverá estar em estreita conexão com isto - afirma que somente aqueles juízes, que tomaram parte em toda a audiência e que colheram e avaliaram as provas pessoalmente, devem poder decidir. 3 Ambos os princípios já eram concretizados em maior ou menor grau em algumas formas de manifestação antigas do processo civil; foram, porém, nos primórdios da Idade Moderna, no âmbito do direito processual vulgar, quase que totalmente reprimidos. O processo dos albores do absolutismo, claudicante, escrito, mediato e reservado, conduziu a uma crise de confiança na justiça civil; a justiça converteu-se exclusivamente numa fonte de renda para profissões forenses, cujos integrantes exigiam uma posição monopolista cada vez maior. Os modelos processuais do século XVIII serviam menos à tutela jurídica que, muito mais, que à denegação da Justiça. As grandes reformas processuais do século XIX acentuaram, por isso, na Europa Central, de maneira expressiva, os princípios da oralidade e da mediação. Sua concretização foi entusiasticamente saudada e mereceram na moderna ciência processualística quase o caráter de dogmas intocáveis. Nesse sentido, qualquer dúvida levantada sobre o valor absoluto desses princípios, era por exemplo na Áustria, Alemanha e países escandinavos, quase um sacrilégio processual. 4 A POSIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ORALIDADE E DA IMEDIAÇÃO NO PROCESSO CIVIL MODERNO - Descrita à luz de alguns ordenamentos processuais centro-europeus Página 2 2. Obviamente, já naquela época deixavam-se os legisladores das reformas, aqui especialmente Franz Klein, guiar-se por concepções praticáveis e de modo algum concretizavam ambos os princípios completamente. Assim, a oralidade era rompida sempre que o objeto e a abrangência da controvérsia estavam por ser fixados, portanto na ação, na contestação e nos recursos. Todos esses passos processuais tinham que ser dados por escrito. Demais disso, imprescindia-se da forma escrita para se poder determinar os resultados da audiência oral e, com isso, os fundamentos da decisão, a fim de se possibilitar ao tribunal da instância superior uma reavaliação confiável da sentença apelada da instância inferior. O protocolo escrito permanecia, pois, inderrogavelmente necessário. Mas o princípio da mediação devia, igualmente, ser mantido em parâmetros: sempre que a coleta das provas no próprio foro fosse impossível ou causasse procrastinação desaconselhável ou custos exagerados, devia ser prevista ajuda através de outros juízos. De maneira geral, pode-se dizer que o processo civil centro-europeu moderno é visivelmente dominado pelos princípios da oralidade e da imediação, há que se concordar; mas há que se concordar, também, que há uma combinação com elementos essenciais da escrituralidade e que aquele processo conhece exceções essenciais à imediação. 5 3. O processo civil moderno trouxe indubitavelmente uma melhora decisiva à persecução da Justiça na Europa Central. Principalmente, tornou-se ele sinótico também para a população leiga em matéria de direito. O desenrolar do processo redivivo pela oralidade fortaleceu a confiança dos clamantes por Justiça nos tribunais; a duração dos processos foi substancialmente encurtada e as possibilidades de arbitrariedades, fraudes e transgressão a deveres por juízes e representantes das partes foram consideravelmente estreitadas. Por outro lado, também aqui revelam-se algumas falhas: a) Quanto ao princípio da oralidade: Uma série de atos processuais orais transformaram-se em atos formais, que demandavam perda supérflua de tempo e custos. Isto vale precipuamente para o processo preparatório e para o processo recursal. Muito embora indubitavelmente desde o início tenha permanecido preceituada a forma escrita para importantes partes do processo preparatório, principalmente para a ação e contestação, evidenciou-se, mesmo assim, que a audiência preliminar, v. g. a prevista no Ordenamento Processual Civil austríaco para ser levada a efeito cogentemente perante os tribunais (primeira audiência), degenerou-se, em uma parte não desconsiderável dos casos, num ato formal puro, eis que aqui tinha-se como excluída a possibilidade de uma discussão da causa (com exceção da confissão, transação e renúncia) e somente se iria discutir sobre as premissas processuais de admissibilidade da ação. 6 Igualmente, tem-se mostrado, cada vez mais, que a oralidade não se revela especialmente apropriada para a solução de litígios em série sobre pretensões insignificantes economicamente (prêmios de seguros, contribuições a associações, assinaturas de periódicos etc.) e que contribui para procrastinação e para o agravamento de uma liquidação racional de tais pretensões. Concluindo, pode-se constatar, à luz de experiências práticas, que uma grande parte dos réus concebe a ação como uma advertência e, ou cumpre a obrigação imediatamente, ou põe-se de acordo com o autor da ação, extrajudicialmente. Nestes casos, o custo e a perda de tempo para uma audiência oral seriam supérfluos, assim como também o dispêndio e a atividade processual, necessários à preparação e desencadeamento da audiência oral, independentemente do fato de as partes, a final, comparecerem ou não à audiência. Mas A POSIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ORALIDADE E DA IMEDIAÇÃO NO PROCESSO CIVIL MODERNO - Descrita à luz de alguns ordenamentos processuais centro-europeus Página 3 também no processo recursal a oralidade é despicienda nos casos em que o sistema recursal é limitado e já não permite a retomada integral das discussões. A bem da verdade, porém, aqui vai depender substancialmente da tradição jurídica de cada país, se está habituado ou não aos complicados relatos jurídicos. Principalmente nos países de origem romana, parece ser a sustentação oral da sua tradição e uma parte integrante indispensável do procedimento recursal, 7 mas também na Europa Central, dentro do círculo cultural de igual origem, pode-se distinguir diferenças tradicionais. Assim, por exemplo, na República Federal da Alemanha ocorre uma discussão oral perante o Superior Tribunal Federal versando sobre um recurso de Revisão, já acolhido, com minudente análise da questão de mérito, enquanto na Áustria, uma audiência oral em recurso de Revisão está, praticamente, fora de cogitação; aqui, na Áustria, prevalece a convicção de que a análise e decisão de questões de mérito de alta indagaçãosomente à luz de relatos escritos das partes pode ocorrer de maneira mais eficaz e que a audiência oral deve ficar reservada somente às instâncias nas qual.; também a questão de fato pode ser averiguada e a prova pode ser colhida. 8 b) Mais visíveis ainda foram as experiências com o princípio da imediação. De um lado, mostrou-se que os processos demoravam mais tempo do que presumia o legislador, e que principalmente os juízes mudavam com maior freqüência do que se supunha no princípio. Um manuseio rigoroso do princípio da imediação significava, no caso de mudança de juiz, que o novo juiz deveria repetir todo o processo até então, e também que as partes não poderiam renunciar a isto, uma vez que elas não poderiam amputar a possibilidade de conhecimento da questão que lhes assegura o ordenamento jurídico. O resultado de um manuseio tão estrito do princípio significa que os processos se tornam mais longos e mais caros e que, principalmente, as partes não conseguem entender o porquê de, justamente o seu processo, ter que se tornar mais demorado e mais caro, em razão de uma reviravolta intrajudicial. Em virtude disso, em todos os países a prática forense mudou sua postura, no sentido de permitir, tacitamente, o prosseguimento na condução do processo, em caso de mudança de juiz, através da simples leitura dos termos de coleta de provas. Na verdade, entretanto, não há uma diretriz uniforme, já que se recalcitra, em parte, em se permitir às partes que, ao invés da simples leitura, possam elas exigir a repetição de todos os atos processuais. 9 Ainda mais flagrante mostra-se a mitigação da imediatidade na prática na medida em que os juízes vêm se valendo da ajuda de outros juízes em proporções muito maiores do que o permite a lei. Mas a própria lei já foi aqui condescendente e não impôs neste vasto âmbito critérios demasiadamente rigorosos de imediação. Nesse sentido, por exemplo, o ordenamento processual austríaco permite a oitiva de testemunhas através da ajuda de outros juízes, quando o interrogatório das testemunhas in loco possa parecer útil à averiguação da verdade, quando percalços substanciais se antepõem à coleta direta das provas ou quando o interrogatório através do juízo do processo possa ocasionar um dispêndio despropositado em termos de custos. 10 O Ordenamento Processual Civil alemão é mais condescendente, neste ponto, porque lá a oitiva indireta da testemunha já é admitida quando esta encontrar-se "impedida" ou o seu comparecimento perante o juízo do processo for "inconveniente"; 11 além disso, o depoimento da testemunha pode, lá, ser prestado por escrito, o que equivale a uma renúncia parcial à imediação. Mais rigoroso, em contraposição, é o Ordenamento Processual Civil da República Democrática da Alemanha, A POSIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ORALIDADE E DA IMEDIAÇÃO NO PROCESSO CIVIL MODERNO - Descrita à luz de alguns ordenamentos processuais centro-europeus Página 4 para o qual uma oitiva de testemunha fora do juízo do processo somente é admitida quando o dispêndio com uma coleta de prova de maneira direta for injustificadamente oneroso para as partes, levando-se em consideração a importância da causa, e quando a determinação do tipo legal não vier a ser, com isso, prejudicada. 12 Não é de se estranhar, portanto, que o princípio da imediação tenha sido infirmado, principalmente mediante a excessiva invocação do auxílio através de outros juízos, e tenha sido reduzida a sua significância. Mas também ainda em uma terceira direção ocorreram problemas práticos: sobretudo litígios em matéria de responsabilidade civil, mas também em muitos outros casos trata-se de determinar um tipo legal, o qual já foi determinado em outros processos judiciais (processos paralelos, processos penais precedentes etc.). O manuseio rigoroso do princípio da imediação excluiu, de maneira geral, uma apreciação daquelas coletas de provas de outros processos judiciais e até forçou no mesmo litígio a que o tribunal da instância superior, que desejaria divergir da decisão da instância inferior, procedesse a uma repetição completa do processo probatório, a qual será sempre problemática já pelo fato de que os acontecimentos que deverão ser averiguados ocorreram há muito tempo e, por isso, os meios de prova serão tanto menos confiáveis quanto mais tardia for a repetição das provas. Além disso, a repetição das provas traz consigo um elevado dispêndio de tempo e de custos, o qual só é justificado pelos resultados nos casos mais raros. 4. Essas tendências de desenvolvimento dos princípios da oralidade e da imediação na prática não puderam ser deixadas fora de consideração por ocasião das reformas processuais nas últimas décadas. Aproximadamente vinte anos após a II Guerra Mundial vislumbrou-se na maior parte dos países europeus uma reforma processual gradativa, a qual, acrescente-se, subordinava-se ao lema da simplificação e do abreviamento do processo. Os caminhos trilhados em cada caso foram, porém, os mais diversos. Por este motivo, é somente com muita precaução e, freqüentemente, só vagamente que se constatam alguns traços característicos comuns. Neste sentido, a oralidade foi parcialmente incentivada e parcialmente limitada, o mesmo valendo para a imediatidade do processo. Ordenamentos Processuais Civis completamente novos havia desde meados do século na Europa sobretudo na Grécia, 13 Bélgica, 14 e na República Democrática Alemã, 15 inovações profundamente abrangentes e gradativas ocorreram especialmente na República Federal da Alemanha, 16 na Suécia 17 e, por último, também na Áustria. 18 a) O princípio da oralidade foi novamente repensado principalmente no processo preparatório. Assim, por exemplo na República Federal da Alemanha concedeu-se ao juiz a possibilidade de escolher entre um processo preparatório preponderantemente oral e um escrito. Após a entrega da petição inicial escrita, deve o juiz decidir como irá proceder. Se ele escolher o processo preparatório oral, deverá neste caso determinar incontinenti uma "primeira data próxima" para a audiência oral. Para isso ele pode concitar o réu a responder aos termos da ação dentro de determinado prazo. Se ambas as partes comparecerem na "primeira data próxima", terá lugar uma audiência contraditória. O processo já poderá ser encerrado nessa data. Se somente uma das partes comparecer, A POSIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ORALIDADE E DA IMEDIAÇÃO NO PROCESSO CIVIL MODERNO - Descrita à luz de alguns ordenamentos processuais centro-europeus Página 5 poderá ser prol atado julgamento à revelia; em caso contrário, é possível uma solução através de confissão, renúncia, desistência, declaração de composição quanto ao principal ou através de transação. Se não ocorrer composição na primeira data próxima, deverá o juízo preparar e realizar a audiência principal. No processo preparatório escrito, o réu é solicitado pelo juízo a, no prazo de duas semanas a partir da citação, exteriorizar sua disposição de se defender e, dentro de outras duas semanas, entregar sua contestação por escrito. Ao autor poderá ser entregue contestação por escrito. Abstém-se o réu de externar sua disposição em defender-se, decidirá o juízo sem audiência oral, calcado unicamente nos argumentos constantes da petição inicial. Caso contrário, o juiz designará a data da audiência oral após a correspondente preparação por escrito da mesma. 19 Uma semelhante duplicidade de via prevê também agora o direito processual civil austríaco para o processo preparatório, sendo, contudo, o arbítrio do juiz quanto à escolha entre os dois caminhos substituído por solução legal predeterminada; 20 o processo preparatório escrito puro só deverá ter lugar quando puder se esperar que, de acordo com o conteúdo da ação e dos documentos acostados, o réu prosseguirá na lide. Em todos os outros casos, deve-se prosseguir, na Áustria,com o processo preparatório atual, constante de elementos escritos e orais, cujo característico mais notável é a "primeira audiência", 21 no qual uma pré-audiência oral com uma missão limitada mostrou-se processualmente econômica e agilizadora 22 e que, por um lado, foi modelo no plano internacional para semelhantes instituições ou deverá sê-lo 23 e, por outro lado, constitui-se em modelo para a "primeira data próxima" do processo alemão. Mais nitidamente mostra-se a penetração da forma escrita no processo civil da Grécia, 24 lá o processo preparatório é, em princípio, por escrito (arts. 112 e 116, inc. I). O outro extremo constituem as normas do processo preparatório na República Democrática Alemã 25 e nos países escandinavos, 26 dominados pela mais rigorosa oralidade. As boas experiências práticas, que foram feitas em muitos países com o tipo processual do processo admonitório, sugerem que este processo seja talhado como ponto de partida para um processo célere e praticável com vistas à solução de conflitos em massa de natureza simples. 27 Este caminho foi trilhado precipuamente pela República Federal da Alemanha e mais recentemente - de maneira ainda mais conseqüente - pela Áustria. Enquanto a regra alemã - apegando-se ao caráter voluntário do processo admonitório - criou a base legal para um processamento mecânico da ação admonitória e, aqui, colheu as primeiras experiências mais amplas, a Áustria deu um passo a mais: a partir de 1.1.1986 tem lugar obrigatoriamente o processo admonitório em todas as ações que tenham por objeto pagamento em dinheiro de pequeno valor. 28 Isto significa que, nestas ações, o juízo é obrigado a prolatar imediata e automaticamente uma ordem de pagamento. O procedimento oral somente será encetado em caso de contestação à ordem de pagamento pelo réu. Com isso terá sido dado o passo para o processo preparatório escrito puro. Par a par com isso, deverá também na Áustria ocorrer o processamento mecânico destas ações de cobrança (através do "processamento de dados por automação"). b) As reformas levaram, porém, em consideração as transformações do princípio da imediação e quiseram, por um lado, prevenir o afrouxamento deste princípio obtido através de uma prática excessiva do recurso à ajuda de outros juízos; por outro lado, todavia, quiseram também baratear e agilizar o processo através de uma atenuação do A POSIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ORALIDADE E DA IMEDIAÇÃO NO PROCESSO CIVIL MODERNO - Descrita à luz de alguns ordenamentos processuais centro-europeus Página 6 princípio. Seja isto esclarecido à luz do exemplo da mais recente reforma do processo na Áustria. O elastecimento abusivo da ajuda por outros juízos deve ser combatido através de uma enunciação mais rigorosa das premissas sob as quais juízos estranhos à causa poderão ser invocados para a prática de atos oficiais, e combatido também mediante uma ampliação das possibilidades de virem os juízos a se ativar, também, além dos limites da sua jurisdição. 29 Ao contrário, em um outro vasto âmbito, contudo, foi o princípio da imediação atenuado. Assim, doravante, quando sobre os fatos controvertidos já houver sido colhida uma prova, em um (outro) processo judicial, no qual as partes foram envolvidas, o juízo está, então, autorizado a limitar-se à leitura do protocolo (ou de um parecer por escrito de um perito) e a renunciar a uma nova coleta de provas, caso uma das partes não exija expressamente o contrário (ou o meio probatório não esteja mais à disposição). 30 Esta nova regulamentação - duramente hostilizada pelos defensores do "dogma da imediação" - é de significativa importância para a visão hodierna do princípio da imediação. Ela exprime uma dicotomia: aa) o reconhecimento da fundamental igualdade de valor das coletas de provas de todos os processos judiciais, e bb) que o princípio da imediação é um princípio prescindível, acerca de cuja utilização as partes podem dispor livremente. Demais disso, este princípio inclui-se no arcabouço geral da economia processual, uma vez que através da sua limitação pode o processo ser essencialmente barateado e agilizado. Se isso deve ocorrer, determinam, de um lado, as partes e, de outro lado, porém, ainda sempre o juízo. Ocorre que este poderá, não obstante, insistir na coleta direta de provas, quando ele reputar que esta, no caso concreto, é necessária por melhor atender a averiguação da verdade. Como uma tal regra geral, também o problema da repetição do processo em caso de mudança de juiz torna-se mais simples e será mais razoavelmente solucionado; e também a repetição das provas através dos tribunais recursais pode ocorrer com maior freqüência, mais facilmente e mais celeremente. 5. À luz destes breves e incompletos exemplos pode-se, apesar disso, reconhecer um fato: os princípios processuais não são - talvez com a única exceção do princípio do contraditório de acordo com sua própria natureza nem dogmas, tampouco axiomas, senão o resultado de uma experiência acumulada ao longo de muitos anos com os diferentes modelos processuais, com a sua aplicação e com a sua finalidade. Esses princípios não devem se converter em um fim em si mesmos, devem, ao contrário, manter confirmadas, sempre renovadas, a sua aprovação e a legitimidade da sua própria existência. 31 Justamente o desenvolvimento do processo civil na prática das últimas décadas tem sido caracterizado pela constatação de que o processo transformou-se num fenômeno de massas. As instituições tradicionais da Justiça e as formas processuais assimiladas do passado são somente condicionalmente adequadas para superar a nova situação de maneira rápida, econômica e satisfatória para aqueles que buscam a Justiça. Destarte, também os princípios processuais devem ser visualizados nos contornos dessa nova missão. 32 Pertinentemente à oralidade e à imediação, extraem-se disso algumas ilações: a) Nenhum dos dois princípios deve ser um óbice a uma realização rápida e econômica do A POSIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ORALIDADE E DA IMEDIAÇÃO NO PROCESSO CIVIL MODERNO - Descrita à luz de alguns ordenamentos processuais centro-europeus Página 7 processo. Eles devem ser desenvolvidos e fortalecidos naqueles casos em que a oralidade e a imediação possam conduzir a uma solução mais rápida e mais simples da questão litigiosa, como, por exemplo, no processo preparatório; mas esta não será a situação na generalidade dos litígios, de modo que deve ser aplicado um processo preparatório oral ou escrito de acordo com a necessidade de cada caso concreto; o correspondente vale no âmbito da ajuda por outros juízos, onde o dever da coleta direta de provas - em muitos casos - abrevia e barateia o processo. Onde ambos os princípios agem obstaculizando e encarecendo, é de se ponderar, no caso concreto, se as vantagens inerentes à manutenção destes princípios são maiores que as desvantagens de ordem econômico-processual. Se for este o caso, então é aconselhável uma limitação racional destes princípios e - em casos de ações em massa - de dar-se a preferência à forma escrita e à possibilidade de se limitar a imediatidade (através de resultados probatórios de outros processos judiciais). b) Estas limitações de ambos os princípios encontram porém as suas barreiras inarredáveis sempre que estas limitações possam redundar em uma exclusão ou em uma inadmissível lesão ao direito das partes de serem ouvidas ou em um obstáculo para uma decisão adequada à situação objetiva. Isto porque nem a oralidade, tampouco a imediação, devem ser um fim em si mesmas no moderno processo civil, senão devem servir à inderrogável missão de assegurar o direito às partes de serem ouvidas e de garantir a prolatação de uma decisão adequada e justa. * Traduzido do alemão pelo Dr. Wanderlei de Paula Barreto. 1. Cf. a respeito, por exemplo: Fasching, "Escrituralidadee Oralidade no Processo Civil Austríaco", in: Informes Nacionais Austríacos do VIII Congresso Internacional de Direito Comparado em Pescara, 1970/69; Idem, "A Oralidade no Processo Civil Austríaco", comunicação perante o V Congresso Internacional de Direito Processual Civil no México, em 1971. 2. A esse respeito Sperl, Tratado da Jurisdição Civil, p. 348; Fasching, Direito Processual Civil, n. marg. 667. 3. § 412 do Ordenamento Processual Civil Austríaco: § 128, inc. I, do Ordenamento Processual Civil Alemão, § 54, "1", do Ordenamento Processual Civil da República Democrática Alemã e outros. 4. Cf., por exemplo, Sperl (nota 2), pp. 352 e ss. 5. Sobre isso Schima, OOrdenamento Processual Civil Austríaco à Luz de Novas Teorias Processuais, edição comemorativa às celebrações dos cinqüenta anos do Ordenamento Processual Civil Austríaco, p. 250. 6. Mais detalhadamente Fasching, Comentários às Leis Processuais Civis, vol. III, p. 153; Fairen-Guillen, "Estudo do comparecimento em juízo de menor quantia do projeto de lei urgente de reforma da lei de ajuizamento civil de 1983", in Boletim etc. Colégio de Advogados de Madrid 5/1983, 35. A POSIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ORALIDADE E DA IMEDIAÇÃO NO PROCESSO CIVIL MODERNO - Descrita à luz de alguns ordenamentos processuais centro-europeus Página 8 7. Cf. Cappelletti-Perillo, Processo Civil na Itália. 8. Assim, o Supremo Tribunal Austríaco realizou somente uma única audiência oral de revisão, apesar da possibilidade que lhe propicia a lei para isto, desde 1945. 9. Mais detalhadamente Fasching, Comentários (nota 6), vol. III, pp. 779 e ss. 10. § 328 do Ordenamento Processual Civil Austríaco. 11. § 375 do Ordenamento Processual Civil Alemão. 12. § 54, "3", do Ordenamento Processual Civil da República Democrática Alemã; sobre isso Direito Processual Civil, Tratado, Kellner (coordenador), p. 100. 13. Entrou em vigor em 1968. 14. Belgisch Gerechtelijk Wetboek, maio de 1974. 15. Lei sobre o Processo Judicial em Questões de Direito Civil, de Família e do Trabalho (Ordenamento Processual Civil) de 19.6.75, Boletim de Publicação de Leis, I, 1975/29, p. 533. 16. Reforma para simplificação, de 3.12.76. 17. Sobre isso Ekelöf, Rättegang (4), Femte Häftet, p. 9 e ss. 18. Reforma do Processo Civil de 1983, de 2.2.83, Boletim de Publicação de Leis, 135. 19. §§ 274, 253, 270, 208, 276 do Ordenamento Processual Civil Alemão; sobre isso Rosenberg-Schwab, Direito Processual Civil, 13.ª ed., pp. 614 e ss.; Jauernig, Direito Processual Civil, 19.ª ed., p. 60. 20. § 243, "4", do Ordenamento Processual Civil Austríaco. 21. Veja nota 6. 22. Rechberger, "Uma Sustentação Oral em defesa da Primeira Audiência", Boletim dos Advogados Austríacos, 1982/85. 23. Mais detalhadamente Fairen-Guillen, nota 6. 24. Rammos, "As Linhas Mestras da Reforma Processual Civil Grega, Jornal dos Juristas Austríacos 1968/458. 25. Cf. §§ 42 e ss. do Ordenamento Processual Civil da República Democrática Alemã. 26. Welamson, "Direito Processual Civil Austríaco e Sueco", Revista de Direito Comparado A POSIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ORALIDADE E DA IMEDIAÇÃO NO PROCESSO CIVIL MODERNO - Descrita à luz de alguns ordenamentos processuais centro-europeus Página 9 1968/214; Tirkkonen, ODireito Processual Civil da Finlândia, pp. 16 e ss. 27. "Sobre o Problema das Ações em Massa em Fasching, "Cortes de Pequenas Reclamações", Relatório Geral do I Congresso Internacional de Direito Processual Civil em 1977, em Genebra, in: Rumo a uma Justiça com uma Feição Humana, 1978, p. 343. 28. Atualmente 30.000 xelins austríacos. 29. §§ 32, 33, 36, "3", da Lei que introduziu a mais recente reforma processual. 30. § 281 do Ordenamento Processual Civil Austríaco. 31. Fasching, "Princípios Processuais e Reforma do Processo Civil", in: Haller, Berchtold, Fasching e outros: Princípios Processuais - Reformas Processuais no Direito Austríaco, p. 53. 32. Schima, Princípios Processuais em visão hodierna. Quoranze a Piero Calamandrei, vol. II, p. 459.
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