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Processos de Sindicância no Exército

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INTRODUÇÃO
A par das funções típicas relativas às atividades fins decorrentes de sua destinação constitucional, consistentes na defesa da pátria, garantia dos poderes constitucionais e garantia da lei e da ordem (art. 142, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil (CF/88)), que são atingidas através das duas vertentes principais, que são o preparo e o emprego (arts. 13, 14 e 15 da Lei Complementar (LC) nº 97, de 09/06/1999), e das chamadas atribuições subsidiárias (arts. 16, 17, 17-A e 18 da mesma LC), as Forças Armadas, nelas incluído o Exército, desenvolvem uma ampla atividade meio, consistente no exercício de uma parcela das atividades de administração pública.
A administração pública cria e desenvolve relações jurídicas (quando não as cria, delas participa) externas (envolvem ela de um lado e administrados que com ela não têm uma especial vinculação, do outro lado) e internas (a envolvem, de um lado, e administrados especialmente a ela vinculados (exemplo: militares da ativa e na inatividade, servidores públicos, pensionistas), do outro lado).
Para o esclarecimento e solução das questões ligadas às suas relações jurídicas internas a administração pública pode utilizar processos e procedimentos administrativos estabelecidos em atos normativos internos (portarias etc.). No caso do Exército, como exemplo de ato normativo interno utilizado para resolver questões internas temos as Instruções Gerais para a Elaboração de Sindicância no Âmbito do Exército Brasileiro (EB10-IG-09.001), aprovadas com a Portaria nº 107, do Comandante do Exército (Cmt Ex), de 13/02/2012, publicada no Boletim do Exército (BE) nº 7, de 17/02/2012.
Não é incomum que algum militar sinta uma certa apreensão ao ser nomeado sindicante. Essa apreensão é, de certa forma, justificável: não somos formados para conduzir processos administrativos, mas, eminentemente, para conduzir e praticar as funções que dizem respeito às atividades fins do Exército.
Neste trabalho buscarei colaborar, sem pretensão de esgotamento do assunto, com quem tenha por encargo desenvolver as atividades relativas à sindicância no âmbito do Exército. Espero, ainda, que este singelo trabalho sirva para colaborar com quem, por qualquer motivo, se veja atuando na sindicância como sindicado, denunciante, ofendido, testemunha, escrivão, perito etc.
Quanto às formalidades, na elaboração dos documentos que integram a sindicância devem ser observadas as disposições das Instruções Gerais para a Correspondência do Exército (EB10-IG01.001), aprovadas pela Portaria nº 769-Cmt Ex, de 07/12/2011, publicadas no BE nº 50 (Separata nº 1), de 16/12/2011.
Os dispositivos citados, quando outra fonte não é expressamente mencionada ou quando pelo contexto em que se apresentam não se possa inferir que de outra sejam, pertencem às EB10-IG-09.001, exceto os que estão mencionados na terceira parte, que, no silêncio da citação, devem ser entendidos como pertencentes ao Regulamento Disciplinar do Exército (RDE), aprovado com o Decreto nº 4.346, de 26/08/2002, publicado no Diário Oficial da União (DOU) de 27/08/2002.
Capítulo I - NOÇÕES GERAIS
1. CONCEITO, OBJETO E FINALIDADE DA SINDICÂNCIA
Para o Exército, “sindicância é o procedimento formal, apresentado por escrito, que tem por objetivo a apuração de fatos de interesse da administração militar, quando julgado necessário pela autoridade competente, ou de situações que envolvam direitos” (art. 2º, caput). A sindicância, no Exército, é sempre formal e escrita, ou seja, não é mais possível a sindicância verbal que outrora existia, onde apenas a portaria, o relatório e a solução eram escritos.
Em que pese o conceito formal contido no art. 2º, caput, há que se observar que sindicância é uma espécie de processo administrativo, e processo, por sua vez, é um conjunto ordenado de atos e diligências (procedimentos) necessários à obtenção de um determinado ato administrativo.
Do conceito formal de sindicância retiram-se seu objeto e sua finalidade, que são, respectivamente, “os fatos de interesse para a administração militar e as situações que envolvem direitos” e apuração desses mesmos fatos e situações (art. 2º, caput).
2. TIPOS DE SINDICÂNCIA
No Exército há dois tipos de sindicância: sindicância processual e sindicância investigatória (art. 2º, § 1º). Sindicância investigatória é aquela em que não é possível identificar uma pessoa diretamente envolvida no fato a ser esclarecido, não tem sindicado e não observa o contraditório e a ampla defesa (art. 2º, § 1º, e art. 16, § 3º). Sindicância processual é aquela em que é possível identificar uma pessoa envolvida diretamente no fato a ser esclarecido, tem sindicado e observa o contraditório e a ampla defesa, com todos os meios e recursos a ela inerentes (art. 2º, § 1º).
Não é a autoridade nomeante nem o sindicante quem determina que a sindicância será processual ou investigatória; são os fatos, que falam por si mesmos, quem estabelecem se há ou não acusação ou litígio. Se há acusação ou litígio, necessariamente a sindicância será processual, com contraditório e ampla defesa; se não há acusação nem litígio, então a sindicância será investigatória, sem contraditório e sem ampla defesa.
A existência de uma pessoa (natural ou jurídica) envolvida no fato a ser esclarecido pode ser detectada desde o início, caso em que a sindicância já inicia como processual, ou ao longo da apuração, caso em que a sindicância inicia como investigatória e é, por despacho do sindicante, convertida em processual tão logo essa pessoa se faça identificada (art. 2º, § 1º, e art. 16, § 4º).
A Nota nº 001-A1.13-Cmt Ex, de 09/02/2006 (BE nº 7, de 17/02/2006), estabelece que no caso de acidente em que não há um militar suspeito de ter agido com imperícia, imprudência ou negligência, nem indícios de transgressão disciplinar, mas apenas um fato a ser investigado pela administração militar, a sindicância não tem contraditório e ampla defesa. Em outras palavras, esse ato do comandante do Exército determina que a sindicância, nesse caso, não é processual, mas investigatória. Essa nota não foi revogada pelas EB10-IG-09.001; portanto, permanece em vigor.
3. FEIXE NORMATIVO
3.1. Fundamento constitucional
No sistema hierarquizado de normas adotado no Brasil, sem dúvida toda e qualquer norma legal e infralegal deve buscar seus fundamentos na lei maior, que é a Constituição da Republica Federativa do Brasil (CF/88). Com as normas de processo e de procedimento administrativos não é diferente: elas devem ser editadas, interpretadas e aplicadas em consonância com a CF/88, seja com suas normas expressas, seja com os seus princípios. Com relação à sindicância, da CF/88 vem vários princípios que devem ser observados, alguns dos quais são apresentados no item 4. 
3.2. Lei nº 9.784, de 29/01/1999
A Lei nº 9.784/99 regula o processo administrativo no âmbito da administração pública federal. O Exército Brasileiro é um órgão do Ministério da Defesa, inserindo-se na administração pública federal e exercendo uma parcela dessa administração. Sendo assim, o Exército está sujeito à Lei nº 9.784/99, devendo observá-la nos processos administrativos que instaura.
A Lei nº 9.784/99 regula todos os aspectos do processo administrativo, não havendo, em tese, necessidade de outras normas para regulamentá-la. Mas a lei em questão permite, em seu art. 69, a coexistência de outras normas específicas, destinadas a regerem processos administrativos específicos, reservando os seus dispositivos para aplicação subsidiária, quando tais outras normas específicas deles prescindirem. Assim sendo, prevalecem, para a sindicância no âmbito do Exército, as normas das EB10-IG-09.001, aplicando-se apenas subsidiariamente, quando necessário, as normas da Lei nº 9.784/99.
3.3. EB10-IG-09.001 (Portaria nº 107-Cmt Ex, de 12/02/2012)
A sindicância no âmbito do Exército é regulada pelas Instruções Gerais para a Elaboração de Sindicância no Âmbito do Exército Brasileiro (EB10-IG-09.001), aprovadas pela Portaria nº 107-Cmt Ex, de 12/02/2012. Os recursos administrativos contradecisões da autoridade nomeante e do sindicante são regulados pelo art. 38 das EB10-IG-09.001 c/c arts. 52 a 57 do Regulamento Disciplinar do Exército (RDE), aprovado pelo Decreto nº 4.346, de 26/08/2012.
A regulamentação de praticamente todos os procedimentos necessários à sindicância podem ser encontrados nas EB10-IG-09.001 e em sua combinação com os arts. 52 a 57 do RDE; mas, caso haja necessidade, a autoridade nomeante, o sindicante e o sindicado devem valer-se do subsídio prestado pela Lei nº 9.784/99. 
Para prevenir situações e falhas de difícil ou impossível reparação, o sindicante deve estudar as EB10-IG-09.001 e os arts. 52 a 57 do RDE antes de iniciar os procedimentos de instrução da sindicância, mesmo que já os tenha estudado em outras oportunidades.
3.4. Outras normas infralegais
Obviamente há inúmeras outras normas jurídicas (constitucionais, legais e infralegais) que devem ser estudadas pelo sindicante, de acordo com o objeto e a finalidade de cada sindicância.
Não cabe aqui arrolar todas as citadas normas, até porque isso seria praticamente impossível, haja vista a já grande e a cada dia crescente proliferação de normas jurídicas que vemos no ordenamento jurídico pátrio, haja vista, ainda, o fato de que, como foi dito, essas outras normas variam de acordo com o objeto e a finalidade específicos de cada sindicância. Portanto, o rol de normas a seguir apresentada é meramente exemplificativo e somente foi expressamente mencionado porque, de algum modo, apresenta alguma complementação ao especto procedimental das normas contidas nas EB10-IG-09.001.
Para facilitar sua pesquisa destinada a localizar as diversas normas aplicáveis aos diversos casos concretos, convém que o sindicante acesse a Relação das Publicações do Exército, aprovada pela Portaria nº 113-SGEx, de 31/03/2016, publicada no Boletim Especial do Exército (BEE) nº 4, de 31/03/2016.
3.4.1. Requisitos formais dos documentos de qualquer sindicância
No que diz respeito aos requisitos formais dos documentos da sindicância, sempre que não estejam de outro modo regulados nas EB10-IG-09.001 ou que com elas não colidam, o sindicante, o sindicado e os demais sujeitos da sindicância devem observar as Instruções Gerais para a Correspondência do Exército (EB10-IG-01.001), aprovadas pela Portaria nº 769-Cmt Ex, de 07/12/2011.
3.4.2. Acidente envolvendo viatura do Exército
Na sindicância cujo objeto versa sobre acidente envolvendo viatura do Exército, a par das EB10-IG-09.001, o sindicante deve observar as Instruções Gerais para a Apuração de Acidentes Envolvendo Viaturas Pertencentes ao Exército e Indenizações de Danos Causados à União e a Terceiros (IG 10-44), aprovados pela Portaria nº 39-Cmt Ex, de 28/01/2010.
Para prevenir situações e falhas de difícil ou impossível reparação, nas sindicâncias que tratem de acidente envolvendo viatura militar o sindicante deve estudar as IG 10-44 antes de iniciar os procedimentos de instrução da sindicância, e não deve olvidar que, nestes casos, normalmente todos os condutores, militares ou civis, deverão ser considerados sindicados.
3.4.3. Irregularidades administrativas e prejuízos ao erário
Na sindicância cujo objeto versa sobre irregularidades administrativas com indícios de danos ao erário, a par das EB10-IG-09.001, o sindicante deve observar as Normas para a Apuração de Irregularidades Administrativas, aprovadas pela Portaria nº 8-SEF, de 23/12/2003.
Para prevenir situações e falhas de difícil ou impossível reparação, nas sindicâncias que tratem de irregularidades administrativas e prejuízos ao erário o sindicante deve estudar as normas aprovadas pela Portaria nº 8-SEF, de 2003, antes de iniciar os procedimentos de instrução da sindicância, e não deve olvidar que, nestes casos, todos os autores, co-autores e partícipes das irregularidades administrativas, militares ou civis, deverão ser considerados sindicados.
3.4.4. Acidente em serviço
Na sindicância cujo objeto versa sobre acidente em serviço, a par das EB10-IG-09.001 o sindicante deverá observar o Decreto nº 52.272, de 16/11/1965, as Normas Reguladoras Sobre Acidente em Serviço, aprovadas pela Portaria nº 16-DGP, de 07/03/2001, e a Nota nº 1-A1.13-Cmt Ex, de 09/02/2006, publicada no BE nº 7, de 17/02/2006.
De acordo com o novo entendimento do DGP, o acidente ocorrido no deslocamento residência-quartel ou vice-versa não deve ser considerado acidente em serviço se o acidentado recebia auxílio-transporte e estava utilizando veículo particular em seu deslocamento.
Para prevenir situações e falhas de difícil ou impossível reparação, nas sindicâncias que tratem de acidente o sindicante deve estudar o Decreto nº 52.272, de 1965, e as normas aprovadas pela Portaria nº 16-DGP, de 2001, antes de iniciar os procedimentos de instrução da sindicância, e não deve olvidar que, de acordo com a Nota nº 1-A1.13-Cmt Ex, de 2006, nestes casos, a sindicância é normalmente do tipo investigatória, sendo processual apenas nas hipóteses em que haja suspeita de o acidentado ter agido com imperícia, imprudência ou negligência, e nas hipóteses em que haja indícios de transgressão disciplinar.
3.4.5. Cadastro de beneficiários do FUSEx
Na sindicância cujo objeto versa sobre inclusão ou reinclusão de dependente de militar no Cadastro de Beneficiários do Fundo de Saúde do Exército (CADBEN FUSEx) ou de exclusão dos mesmos, do referido cadastro, a par das EB10-IG-09.001 o sindicante e o requerente devem observar as Instruções Gerais para o Fundo de Saúde do Exército (IG 30-32), aprovadas pela Portaria nº 653-Cmt Ex, de 30/08/2005 (BE nº 35/05), e suas alterações, e as Instruções Reguladoras para o Gerenciamento do Cadastro de Beneficiários do FUSEx (IR 30-39), aprovadas pela Portaria nº 49-DGP, de 28/02/2008 (BE nº 10/08), e suas alterações, além das normas pertinentes que estavam em vigor na data da primeira inclusão do dependente no CADBEN FUSEx.
Para prevenir situações e falhas de difícil ou impossível reparação, nas sindicâncias que tratem de cadastramento de beneficiários do FUSEx o sindicante deve estudar as IG 30-32, as IR 30-39 e as demais normas pertinentes antes de iniciar os procedimentos de instrução da sindicância.
3.4.6. Auxílio-transporte
Na sindicância cujo objeto versa sobre auxílio-transporte cujo valor seja igual ou superior a R$ 700,00 (setecentos reais), [1] caso em que o ato concessório deve ser homologado pelo comandante da região militar enquadrante, [2] a par das EB10-IG-09.001 o sindicante deve observar a Medida Provisória (MP) n165656563636, de 23/08/2001;[3] o Decreto n963636363, de 24/02/1999; as Instruções Gerais para Concessão de Auxílio-Transporte no Exército Brasileiro (IG 70-04), aprovadas pela Portaria nº 334-Cmt Ex, de 25/06/1999 (BE nº 26/99); as Instruções Reguladoras para Concessão de Auxílio-Transporte no Âmbito do Exército Brasileiro (IR 70-21), aprovadas pela Portaria nº 14-DGP, de 30/06/1999 (BE nº 29/99); as Normas para o Controle da Solicitação e Concessão do Auxílio-Transporte e o Exame de sua Requisição no Âmbito do Exército Brasileiro, aprovadas pela Portaria nº 98-DGP, de 31/10/2001 (BE nº 45/01); a Portaria nº 103-DGP, de 18/07/2012; e o Parecer Administrativo nº 084-2013-DGP-Asse Jur.2, de 24/09/2013.
De acordo com o novo entendimento do DGP, o militar que utiliza meio de transporte particular não faz jus ao auxílio-transporte. Por esse novo entendimento, só faz jus ao benefício o militar que utiliza meio de transporte coletivo.
Nos casos de auxílio-transporte com valor superior a R$ 700,00 (setecentos reais), nas organizações militares da área sob jurisdição do Comando da 3ª Região Militar, além das normas supracitadas, o sindicante deverá observar, também, as normas publicadas no Aditamento nº 7 ao Boletim Regional nº 35, de 31/08/2011, do Comando da 3ª Região Militar, e o Guia de Procedimentos STA/3ª RM, elaborado pela Seção de Transporte Administrativo da 3ª Região Militar, atualizado em 13/11/2013, disponível em http://www.3rm.eb.mil.br e em http://intranet.3rm.eb.mil.br.
Para prevenir situações e falhas de difícil ouimpossível reparação, nessas sindicâncias o sindicante deve estudar as normas supracitadas antes de iniciar os procedimentos de instrução da sindicância.
3.4.7. Teste de Aptidão Física (TAF) Alternativo
Na sindicância cujo objeto versa sobre TAF Alternativo, a par das EB10-IG-09.001 o sindicante deve observar a Diretriz para o Treinamento Físico Militar e sua Avaliação, aprovada pela Portaria nº 32-EME, de 31/03/2008 (BE nº 15/08).
Para prevenir situações e falhas de dificil ou impossível reparação, nessas sindicâncias o sindicante deve estudar as normas supracitadas antes de iniciar os procedimentos de instrução da sindicância.
4. ORIENTAÇÃO PRINCIPIOLÓGICA
Os ordenamentos jurídicos compõem-se de normas escritas e não escritas e de princípios, expressos ou não. Princípios são regras gerais, enunciados lógicos admitidos como condição ou base de validade das demais asserções que compõem um dado campo do saber. A par das normas externas (leis, decretos etc.) e internas (portarias etc.), há princípios que devem ser observados em toda e qualquer forma de atuação da Administração e outros que regem especificamente processos administrativos.
No ordenamento jurídico brasileiro há vários princípios que devem ser observados. Muitos desses princípios estão expressamente inscritos na CF/88, outros em normas infraconstitucionais, e outros, ainda, não estão inscritos na CF/88 e em normas infraconstitucionais, mas constituem construções doutrinárias e jurisprudenciais. A observância desses princípios pela autoridade nomeante, pelo sindicante e por tantos quantos atuem na sindicância não constituem uma prerrogativa (que pode ou não ser exercitada), mas sim um dever (que deve ser cumprido independentemente da vontade do destinatário).
A seguir apresento os princípios que tocam mais diretamente ao sindicante, ao sindicado e aos demais sujeitos da sindicância.
4.1. Legalidade
Administração pública é uma atividade que se desenvolve debaixo da lei, na forma da lei, nos limites da lei e para atingir os fins previstos na lei. Por outras palavras, trata-se de uma atividade em que deve ser observado, sempre, o princípio da legalidade. Este princípio não se contenta com o assegurar uma mera aparência de legalidade, mas exige que se atente para o espírito da norma e para as circunstâncias dos casos concretos e que tenham efetivamente acontecido os fatos aos quais a lei estipulou uma determinada consequência jurídico-administrativa (arts. 5º, II, e 37, caput, da CF/88, e art. 2º, caput e parágrafo único, I, da Lei nº 9.748).
O princípio da legalidade tem feições diferentes, conforme o sujeito a que se refere. Do ponto de vista do administrado, esse princípio significa que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei e que o administrado pode fazer tudo o que a lei não proíbe (art. 5º, II, da CF/88). Do ponto de vista da administração pública esse princípio significa que às autoridades e aos agentes da Administração só é dado fazer ou deixar de fazer o que a lei manda ou autoriza, não podendo fazer aquilo que a lei proibe.
4.2. Impessoalidade
As autoridades e os agentes da administrativos, quando atuam nesta qualidade, não o fazem em nome próprio, mas em nome da Administração. Assim, tais autoridades e agentes da administração (incluídos a autoridade nomeante e o sindicante) não devem buscar a promoção pessoal nem atuar movidos por sentimentos de vingança, represália, afabilidade etc. Ao atuarem buscando o atendimento do interesse público, por certo os agentes e autoridades da administração pública estarão atendendo ao princípio da impessoalidade. Este princípio tem sede constitucional (art. 37 da CF/88), e decorre, também, do art. 2º, parágrafo único, III, da Lei nº 9.784/99.
4.3. Moralidade
É proibido às autoridade e aos agentes da Administração Pública agirem dissociados dos conceitos comuns, ordinários, válidos atualmente e desde sempre, respeitadas as diferenças históricas, daquilo que se tem por honesto, probo, brioso, justo. Tais autoridades e agentes devem atuar de acordo com os conceitos comuns daquilo que se tem por ético, honesto, probo, brioso, justo, adequado, correto, de boa-fé. O atuar em observância à moralidade deve ser uma constante em toda atuação das autoridades e agentes da administração pública. A moralidade não deve ser um elemento distintivo de uma autoridade ou agente perante os demais; deve ser algo inato a todos, uma conditio sine qua nom para atuar na administração da coisa pública. Este princípio tem sede constitucional (art. 37 da CF/88), e decorre, também, do art. 2º, parágrafo único, IV, da Lei nº 9.784/99.
4.4. Publicidade
Como regra, os atos e procedimentos dos processos políticos, judiciais e administrativos devem ser públicos, acessíveis ao público. Na sindicância não é diferente: como regra, ela (seus procedimentos e atos)é pública, acessível ao público em geral, e, mesmo que seja sigilosa por imposição dos fatos e das circunstâncias, ainda assim a publicidade é garantida, na pessoa do sindicado e de seu procurador. Este princípio tem sede constitucional (art. 37 da CF/88) e está inscrito expressamente, também, no art. 2º, parágrafo único, V, da Lei nº 9.784/99.
4.5. Eficiência
A Emenda nº 19, de 1998, inovou a ordem constitucional para determinar, de modo expresso, que a administração pública deve atuar com eficiência, ou seja, deve atender os administrados, enquanto membros da coletividade, na sua exata medida de necessidade, com prestabilidade (atendimento útil ao cidadão), com presteza (atender o cidadão com rapidez), com economicidade (satisfazer as necessidades do cidadão do modo menos oneroso possível ao erário) e mediante adequado aproveitamento dos recursos (humanos, materiais e institucionais) disponíveis, evitando desperdícios. É certo que foi com a Emenda nº 19 que a eficiência ganhou status de princípio constitucional expresso; mas certo também é que ela sempre esteve presente implicitamente na administração pública, pois nunca foi de se esperar que a administração da coisa pública se desse de outro modo, que não eficientemente art. 37, caput, da CF/88, e art. 2º, caput, da Lei nº 9.784/99).
4.6. Isonomia
No processo administrativo o Estado é, a um só tempo, parte e juiz, decorrendo daí uma desigualdade essencial. Mas essa desigualdade deve ser compensada através de uma atuação o mais isenta possível, na condução do processo buscando, sempre prestigiar a igualdade entre as partes, evitando colocar o administrado, que postula ou se defende, numa posição subalterna. A CF/88 não assegura uma igualdade absoluta, como aquela dos primeiros dias da Revolução Francesa, mas sim uma igualdade relativa – ou seja, o que se assegura é a isonomia –, que nas palavras de Rui Barbosa consiste em aquinhoar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida das desigualdades. Princípio da isonomia significa tratar igual aos iguais e desigual aos desiguais, na justa medida em que se desigualam, buscando sempre compensar os desequilibrios naturalmente existentes em uma sociedade complexa como é a nossa. Este princípio tem sede constitucional (art. 5º da CF/88, além de outros dispositivos constitucionais e infraconstitucionais).
No caso da sindicância, a isonômia significa tratar de modo igual as partes, sujeitos e interessados da sindicância.
4.7. Devido processo legal
Esse princípio indica, de um lado, que os processos, inclusive o administrativo, e seus procedimentos, devem estar devidamente regrados em atos normativos, e, de outro lado, que o processo e o procedimento previstos na norma devem ser fielmente observados. Os processos (inclsusive administrativos, de que a sindicância é exemplo) devem ter seus procedimentos regrados em norma jurídica, e devem ser realizados de acordo com o regramento pertinente. Em certos casos (quando disso decorre prejuízo à defesa ou ao litigante), o não atendimento do devido processo legal pode ensejar a anulação da sindicância. Trata-se de um princípio constitucional que, no que diz respeito à privação de liberdade ede bens, encontra sede no art. 5º, LIV, da CF/88, e no art. 2º, parágrafo único, I, da Lei nº 9.784/99, que prescreve, para os processos administrativos, entre outos, o critério de “atuação conforme a lei e o direito”.
Como corolários deste princípio, dando-lhe efetividade, temos os princípios do contraditório e da ampla defesa.
4.8. Contraditório
Contraditório é um sistema (oposto ao inquisitório) em que os acusados e litigantes em geral são admitidos a participar, em pé de igualdade, na formação do convencimento daquele que tem por dever julgar as questões que lhe são apresentadas. É imprescindível que aos acusados em geral e aos litigantes em processos judiciais ou administrativos seja dada a possibilidade de produzir suas próprias razões e provas, que lhes seja dada a possibilidade de examinar e contestar argumentos, fundamentos e elementos probantes, favoráveis as suas causas. Este princípio exige que o acusado e o litigante sejam efetivamente ouvidos e que seus argumentos sejam efetivamente considerados no julgamento da demanda. Só tem lugar para o contraditório nos processos em que há acusação ou litígio. Se na sindicância há acusado ou litigante, garante-se-lhes iguais condições para apresentar e defender teses e antíteses: nisso reside o atendimento do princípio do contraditório. Este princípio tem sede constitucional (art. 5º, LV, da CF/88), e decorre, também, do art. 2º, caput e parágrafo único, V e X, da Lei nº 9.784/99.
4.9. Ampla defesa
Aos acusados e aos litigantes devem ser assegurados os meios necessários para defenderem-se e para defenderem suas teses e antíteses. Garantir a ampla defesa não significa fazer a defesa dos acusados e dos litigantes, mas sim garantir que eles tenham condições, no tempo devido, de realizarem suas defesas, o mais amplamente possível; portanto, garante-se, por este princípio, não a ampla defesa em si mesma, mas sim os meios para tanto necessários, dentre os quais: assegurar acesso aos autos; possibilitar a apresentação de razões e documentos, e de produção de provas testemunhais ou periciais, bem como o conhecimento dos fundamentos da decisão proferida etc. No conceito de ampla defesa inserem-se todos os meios e recursos a ela inerentes, como, por exemplo, a possibilidade de utilização de todo e qualquer elemento esclarecedor e probatório disponível. Este princípio tem sede constitucional (art. 5º, LV, da CF/88) e está previsto, também, no art. 2º, parágrafo único, X, da Lei nº 9.784/99.
4.10. Vedação às provas ilícitas
Na sindicância, como em qualquer outro processo, devem ser admitidas todas as provas previstas ou não proibidas pela legislação pátria (prova documental, prova testemunhal, prova pericial), excluídas, obviamente, as provas ilicitas e as que tenham sido obtidas por meios ilícitos. De acordo com a teoria dos frutos da árvore envenenada, não se pode admitir, em qualquer processo (inclusive na sindicância), provas que, embrora não sejam em si mesmas ilicitas ou produzidas por meios ilicitos, sejam decorrentes de outras provas ilicitas ou obtidas por meios ilicitos. Este princípio tem sede constitucional (art. 5º, LVI, da CF/88) e encontra-se expressamente, também, no art. 38, § 2º, da Lei nº 6.784/99.
4.11. Finalidade
As normas administrativas devem ser interpretadas e aplicadas da forma que melhor garanta a realização do fim público a que se destinam. O mesmo vale para os processos, inclusive administrativos, de que a sindicância é exemplo: eles possuem uma finalidade pública e não podem ser utilizados para fins diversos, ou seja, não devem ser desvirtuados, utilizados para fins particulares. É necessário examinar, à luz das circunstâncias de cada caso, se o ato ou o processo em exame atendeu ou concorreu para o atendimento do específico interesse público almejado pela previsão normativa genérica. Este princípio está expressamente previsto no art. 2º da Lei nº 9.784/99.
4.12. Segurança jurídica
Este princípio, também conhecido como “da estabilidade das relações jurídicas”, impede a desconstituição injustificada de atos ou situações jurídicas, mesmo que tenham ocorrido inconformidades com o texto legal durante sua constituição, pois, em muitos casos, o desfazimento do ato ou da situação jurídica por ele criada pode ser mais prejudicial do que sua manutenção. Visando a segurança jurídica e a paz social, os atos e as situações jurídicas, e também os processos e atos administrativos, que tenham atingido a sua finalidade, não devem ser desconstituídos, salvo em casos de ilegalidade e imoralidade ou em casos em que em que tenhahavido danos ao interesse público ou a direitos de terceiros. Este princípio está expressamente previsto no art. 2º da Lei nº 9.784/99.
4.13. Formalismo atenuado
A sindicância deve ser escrita e nela devem ser observados os procedimentos pertinentes, previstos nas normas que a regem. Mas não deve se prender a formalismos exagerados, que só prejudicam o andamento do processo e, eventualmente, causam prejuízos à Administração Pública, à defesa e à atuação do litigante. Este princípio decorre do art. 2º, parágrafo único, que prescrece, para os processos administrativos, os critérios de “observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados” (inciso VIII) e “adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos administrados” (inciso IX).
Este princípio é conhecido, também, por outros nomes: “do formalismo moderado” e “da simplicidade das formas”.
De acordo com a norma pertinente, no processo administrativo podem ser dispensados alguns requisitos formais sempre que a ausência não prejudique terceiros nem comprometa o interesse público. Um direito não pode ser negado em razão da inobservância de alguma formalidade instituída para garanti-lo, contanto que tenha sido atendido o interesse público colimado.
4.14. Impulsão de ofício
A autoridade competente para decidir tem também o poder/dever de inaugurar e impulsionar o processo, até ao ponto em que logre obter um resultado final conclusivo e definitivo, ao menos no âmbito da Administração Pública. Este princípio decorre do fato de que a Administração tem o dever de satisfazer o interesse público, não podendo, para tanto, depender sempre da iniciativa dos administrados. Ele se revela no poder de iniciativa para instaurar o processo, na instrução do processo e na revisão de decisões, independentemente de previsão legal expressa. A Administração tem o dever de dar seguimento ao processo, podendo, por conta própria, providenciar a produção de provas, solicitar laudos e pareceres, enfim, fazer todo o necessário para chegar a uma decisão conclusiva (arts. 2º, parágrafo único, XII, e 29, caput, da Lei nº 9.748).
A aplicação deste princípio não impede que os interessados tomem a iniciativa de produzir provas, assim como não invalida a premissa geral de que, salvo se há inversão desse ônus, aquele que alega deve provar o fato alegado. Da mesma forma, não invalida nem prejudica o atributo de presunção de legitimidade de que os atos administrativos são dotados.
4.15. Verdade real (ou verdade material)
No processo administrativo – aí incluída a sindicância – deve ser buscada, sempre, a verdade real, ainda que para isso seja necessário valer-se a autoridade nomeante e o sindicante de outros elementos além daqueles trazidos aos autos pelos interessados. O exame que a autoridade nomeante e sindicante fazem não fica restrito aquilo que foi alegado, argumentado ou provado pelo sindicado ou pelos demais interessados, podendo e devendo coletar e juntar todos os elementos probatórios e esclarecedores que possam influir no seu convencimento, estejam eles onde estiverem.
4.16. Celeridade
A celeridade foi erigida à condição de princípio constitucional, estando expressamente insculpido no inciso LXXVIII do art. 5º da CF/88 desde a Emenda Constitucional nº 45, de 2004. Reza o dispositivo citado que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantama celeridade de sua tramitação”.
Razoável duração não significa a duração mínima, mas a duração adequada, isenta de morosidade ou de atropelo infundados; significa uma duração que garanta o “amadurecimento” do fruto (que é a decisão da autoridade) e não permita o seu “apodrecimento”. Celeridade não significa pressa atabalhoada, mas o andamento correto, na velocidade adequada, sem quebra indevida da continuidade dos atos e procedimentos.
O prazo razoável a e celeridade da sindicância estão devidamente assegurados, uma vez que os prazos pertinentes são os necessários e adequados, e o andamento normal dos procedimentos está devidamente regulamentado.
4.17. Razoabilidade
Este princípio constitui-se numa diretriz de senso comum ou de bom-senso, aplicada ao Direito. Por ele, a Administração, ao atuar discricionariamente, através de suas autoridades e agentes, deve obedecer a critérios aceitáveis do ponto de vista racional, coerentes com o senso normal de pessoas equilibradas que respeitam as finalidades que presidiram a outorga da competência exercida (art. 2º, caput, da Lei nº 9.784/99).
4.18. Proporcionalidade e adequação
Este princípio visa a coibir excessos desarrazoados, por meio da aferição da compatibilidade entre os meios e os fins da atuação administrativa, com o objetivo de evitar restrições desnecessárias ou abusivas; é, pois, um princípio, que exige a adequação entre os meios empregados e os fins colimados. É por força deste princípio que se considera ilícito à Administração usar de medidas restritivas ou exigir dos administrados além daquilo que é estritamente necessário para a realização da finalidade pública desejada e que se veda, à Administração, a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público (art. 2º, caput e inciso VI do parágrafo único do mesmo artigo, da Lei nº 9.784/99).
4.19. Motivação
As autoridades da Administração Pública devem indicar expressa e explicitamente as razões de fato e de direito que as levaram a tomar as decisões que tomaram. A ausência da motivação no ato administrativo ou no ato processual de cunho decisório torna possível a ocorrência de desvio ou abuso de poder, posto que faz difícil (ou mesmo impossível) o efetivo controle jurisdicional. É a motivação que permite aferir a verdadeira intenção dos agentes da Administração, quando em nome dela atuam (art. 2º, caput, e inciso VII do parágrafo único do mesmo artigo, da Lei nº 9.784/99).
4.20. Gratuidade
Nos processos administrativos – aí incluída a sindicância no âmbito do Exército – não devem ser cobradas despesas processuais, ressalvadas, apenas, aquelas eventualmente previstas em lei (art. 2º, parágrafo único, XI, da Lei nº 9.784/99). O princípio da gratuidade não impede que sejam cobradas, por exemplo, as cópias e autenticações de peças dos autos da sindicância.
4.21. Primazia do interesse público sobre o interesse privado
Para a administração pública, a finalidade da lei sempre será a realização do interesse público (interesse da coletividade). Interesse público é o interesse geral, aquele aquele resultante do conjunto dos interesses que os indivíduos pessoalmente têm, enquanto membros da sociedade (art. 2º, caput, e inciso XIII do parágrafo único do mesmo artigo, da Lei nº 9.784/99). Este primado (do interesse público sobre o interesse privado) deve orientar toda atuação do poder republicano, inclusive da administração pública; mas, de modo algum, pode servir de instrumento à atuações prepotentes, desarrazoadas, de dominação ilegal e ilegítima do aparato estatal sobre o indivíduo, a quem a CF/88 arrolou várias garantias individuais que também devem ser respeitadas pelo Estado.
4.22. Duplo grau de jurisdição administrativa
As decisões da administração pública, quando causem ou possam causar gravame a qualquer interessado, incluídas as que são proferidas nos processos – inclusive na sindicância no âmbito do Exército –, podem conter equívocos, resultando daí a necessidade da conduta estatal submeter-se a duplo exame, porque a oportunidade de uma segunda análise propicia uma melhor conclusão e maior segurança para o interessado e para a coletividade. À própria autoridade que tenha proferido a decisão recorrida é oferecida uma oportunidade de reexame (uma vez que, em geral, a ela é que se dirige o recurso e o pedido de reconsideração), o que, não ocorrendo, determina a remessa à autoridade hierarquicamente superior (arts. 2º, parágrafo único, X, e 56, da Lei nº 9.784/99).
4.23. Princípio da boa-fé
A boa-fé é elemento externo ao ato e ao processo, posto que se encontra na mente da autoridade ou do agente da administração pública, ou na intenção com a qual fez ou deixou de fazer alguma coisa. Ela pode servir de fundamento para a manutenção de um ato viciado por alguma irregularidade. Concordamos que não é possível “adivinhar” o pensamento da autoridade ou do agente da administração pública, mas não ignoramos que é possível aferir a boa ou má-fé pelas circunstâncias que cercam o caso concreto.
5. COMPETÊNCIA PARA INSTAURAR SINDICÂNCIA
São competentes para instaurar sindicância (art. 4º, I a IV): a) o comandante do Exército; b) oficiais-generais nos cargos de comandante, chefe, diretor ou secretário de organizações militares; c) comandantes, chefes e diretores de organizações militares; d) substituto legal das autoridades militares arroladas nos incisos I a III do art. 4º, quando no exercício regular da função.
As autoridades podem fazer pessoalmente toda a sindicância. Podem, também, designar um militar para instruir e relatara sindicância; mas as fases de instauração e solução sempre são da competência privativa das mencionadas autoridades.
A instauração da sindicância deve ser procedida no âmbito do comando em que se verificou a ocorrência, salvo determinação em contrário do escalão superior (art. 5º, caput). Se os fatos envolvem militares de diversas organizações militares de uma mesma guarnição militar e ocorrer fora da área dos respectivos comandos, a instauração da sindicância caberá ao comandante da guarnição militar onde se deu a ocorrência (art. 5º, parágrafo único).
Se alguma autoridade não competente constata a necessidade de instaurar sindicância, a providência cabível é informar à autoridade superior, e assim sucessivamente, até que a informação chegue ao conhecimento da autoridade que dispõe da necessária competência.
Sindicância instaurada por autoridade diversa daquelas arroladas no art. 4º (se for o caso, combinado com art. 5º, parágrafo único), ou em local indevido (art. 5º, caput), deve ser invalidada, nula que é, por vício de iniciativa.
6. FORMA DE INSTAURAÇÃO DA SINDICÂNCIA
A sindicância é instaurada mediante portaria (publicada em boletim), da autoridade militar (art. 3º), a requerimento de interessado, por ordem de autoridade superior ou ex-officio, à vista de denúncia de qualquer pessoa ou por ciência direta dos fatos (art. 2º, § 3º).
Na portaria, além de instaurar a sindicância, a autoridade designa o sindicante, delega competência (art. 20) e concede o prazo (trinta dias corridos) para a conclusão da sindicância (art. 10, caput). Se o fato a ser apurado é sigiloso, a sindicância deve ser classificada como sigilosa, devendo essa classificação ser mencionada na portaria (art. 36).
Nos casos de maior complexidade o sindicante pode ser auxiliado, na sindicância, por um escrivão; nesta hipótese, o escrivão pode ser designado na portaria de instauração da sindicância ou em ato posterior.
7. PARTES, SUJEITOS E INTERESSADOS NA SINDICÂNCIA
7.1. Partes na sindicância
Partes na sindicância (nos casos em que ela é do tipo processual) são a administração militar (representada pela autoridade nomeante e pelo sindicante) e o sindicado (quando este é pessoa natural ou jurídica); neste caso, a sindicância é feita com observância do sistema contraditório. Se na sindicância não há pessoa física ou jurídica acusada ou em litígio contra a administração militar ou, pelo menos, com interesse direto no objeto da sindicância(caso em que ela é do tipo investigatória), não haverá partes, mas apenas fatos a serem esclarecidos; neste caso, a sindicância é feita com observância do sistema inquisitório.
São capazes, para fim de sindicância, as pessoas maiores de dezoito anos de idade; sindicado com idade inferior a essa deve ser representado ou assistido por seus pais ou responsáveis, na forma da legislação civil e processual (art. 34).
7.2. Sujeitos da sindicância e interessados
Sujeitos da sindicância são as pessoas que nela atuam: autoridade nomeante, sindicante, sindicado, denunciante, ofendido, testemunhas, técnicos ou pessoas habilitadas (fazem exames e dão pareceres) e escrivão (art. 19, I a VI, e parágrafo único).
São legitimados como interessados, na sindicância: a) pessoas que tenham interesse direto ou indireto nos fatos sob investigação e pessoas que sejam titulares, ou pretensos titulares, dos direitos envolvidos nas situações sob investigação (art. 2º, caput); b) o sindicado (art. 19, II, e art. 30); c) o denunciante e o ofendido (art. 19, VI, art. 21 e art. 30).
7.3. O sindicante e suas atribuições
Até 11/10/2002 somente os oficiais podiam ser sindicante. A partir daquela data o Exército passou a permitir que os comandantes das regiões militares designassem, como sindicante, os subtenentes e os sargentos aperfeiçoados, nos locais onde não houvesse oficiais prontos (Portaria nº 539-Cmt Ex, de 12/10/2002). Desde 17/12/2004 os subtenentes e os sargentos aperfeiçoados podem ser designados como sindicantes não só pelos comandantes das regiões militares, mas por qualquer autoridade competente para instaurar sindicância, e não apenas nos locais onde não há oficiais prontos, mas em qualque lugar (Portaria nº 845-Cmt Ex, de 09/12/2004).
Ao sindicante compete presidir a sindicância desde a fase de instrução (passando pela defesa, pelas alegações finais e pelas diligências complementares) até a do relatório e parecer. Nas sindicâncias processuais (em que há acusação ou litígio) o sindicante deve exercer a polícia do processo, assegurando a todos os sindicados o exercício do contraditório e da ampla defesa. Entre as atribuições do sindicante destaca-se, ainda, a fiel observância e garantia dos prazos da sindicância. Junto com o relatório o sindicante deve dar o seu parecer, relativo à solução da questão investigada.
8. ASPECTOS GERAIS SOBRE A INSTRUÇÃO DA SINDICÂNCIA E DEFESA
8.1. Introdução
Instruir a sindicância significa trazer aos autos os dados e as informações necessárias à sua solução. Tais dados e informações podem constar em documentos, pareceres, laudos periciais, termos de reconhecimento de pessoas e de coisas, termos de avaliação de coisas, depoimentos prestados por pessoas que deles tenham ciência etc., e podem ser trazidos aos autos pelo denunciante, pelo ofendido, pelo sindicado ou por qualquer pessoa que os detenha, assim como podem ser buscados ex officio, pelo sindicante, onde quer que se encontrem.
O ingresso desses dados e informações na sindicância pode ocorrer em qualquer momento, durante a instrução; portanto, devem vir aos autos antes da fase do relatório, ocasião em que o sindicante já deve ter nos autos tudo de que necessita e foi possível colher, para elaborar seu relatório e parecer.
8.2. Análise, estudo e interpretação dos fatos e das normas pertinentes
Antes de iniciar os trabalhos de instrução deve o sindicante analisar e estudar detidamente as informações constantes na portaria e nos seus anexos, se houver. Com essa análise e esse estudo o sindicante detecta precisamente qual é o objeto e a finalidade da sindicância, assim como, em linhas gerais, as circunstâncias que cercam o fato principal. Isso lhe permite, entre outras coisas, constatar se o objeto da sindicância abriga uma acusação ou um litígio, e, consequentemente, se nela terá lugar, ou não, o contraditório e a ampla defesa.
Vencidos a análise e o estudo dos fatos, deve o sindicante verificar, no ordenamento jurídico, quais são as normas constitucionais, legais e regulamentares aplicáveis ao caso subjacente, e, então, estudá-las e interpretá-las, já com vistas a sua aplicação ao caso concreto.
Para facilitar sua pesquisa destinada a localizar as diversas normas aplicáveis aos diversos casos concretos, convém que o sindicante acesse a Relação das Publicações do Exército, aprovada pela Portaria nº 113-SGEx, de 31/03/2016 (BEE nº 4, de 31/03/2016).
8.3. Instrução com contraditório e ampla defesa
Se na sindicância há acusação ou litígio (o sindicado é uma pessoa natural ou jurídica que está sendo acusada de algo ou que se acha em litígio contra a administração pública), desde logo o sindicante deve instaurar o contraditório e a ampla defesa, com todos as suas consequências, fazendo isso constar no seu primeiro despacho.
Para os fins da sindicância, ocorre acusação quando a administração militar, ou alguma pessoa, afirma categoricamente que outra pessoa praticou algo que seja passível de acusação (há teses e antíteses em jogo, com cada parte provando a prevalência de seus argumentos).
Litígio ocorre quando há uma pretensão resistida: duas ou mais partes pretendem, cada uma para si, um determinado e único bem da vida (objeto); como o bem da vida é mesmo e único e os pretendentes são dois ou mais, passa um a resistir contra a pretensão dos demais (há testes e antíteses em jogo, cada um defendendo seus interesses).
Dizer que a instrução é feita com observância do contraditório e da ampla defesa significa dizer que as partes agem e reagem em pé de igualdade.
Para que se instaure o contraditório e a ampla defesa (sindicância com acusado ou litigante) deve o sindicante fazer a notificação prévia do sindicado, informando-lhe não só os termos da acusação ou do litígio, mas também os direitos e prerrogativas, referentes à defesa, que lhe são assegurados (art. 6º, V, e art. 13, caput e § 1º). E não basta apenas instaurar o contraditório e a ampla defesa (fazer notificação prévia), sendo necessário, também, assegurar que eles tenham condições de se concretizar ao longo de toda a sindicância; para isso, deve o sindicante notificar o sindicado com a antecedência regulamentar (três dias úteis) a respeito de todo e qualquer ato de instrução da sindicância.
O sindicado pode fazer pessoalmente a sua defesa e pode, também, a qualquer tempo, constituir advogado para realizar defesa técnica (art. 16, § 2º, e art. 17). O advogado, caso seja constituído, deve apresentar procuração, que será juntada aos autos; mas as providências reputadas urgentes podem ser admitidas independentemente de exibição da procuração, responsabilizando-se o advogado por apresentá-la para ser juntada aos autos tão logo seja possível.
8.4. Provas admissíveis na sindicância
Na sindicância no âmbito do Exército são admitidas todas as provas previstas ou não proibidas pelo direito, excluindo-se, obviamente, as provas obtidas por meios ilícitos e as provas decorrentes de provas ilícitas, e as provas que atentarem contra a moral, a saúde ou a segurança individual ou coletiva, ou contra a hierarquia ou a disciplina (art. 5º, LV e LVI, da CF/88, e arts. 6º, VIII e parágrafo único, 15, parágrafo único, e 16, caput, das IG). Admite-se na sindicância, portanto, as provas documentais, periciais e testemunhais. 
Ressalvado o direito do sindicado apresentar qualquer prova que desejar, compete ao sindicante estabelecer quais são as provas necessárias ou úteis para esclarecer e comprovar os fatos e circunstâncias objeto da sindicância.
Mediante decisão fundamentada o sindicante pode indeferir pedidos do sindicado que tenham por objeto provas que atentem contra a moral, a saúde, a segurança individual ou coletiva, a hierarquia ou a disciplina, e pedidos cujo objeto seja considerado ilícito (aí incluídas as provas obtidas por meios ilícitos e as que delas forem decorrentes), impertinente, desnecessário, protelatório ou de nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos (art. 16, § 1º). Como foi dito, essa decisão deve ser fundamentada, e é preciso ter cuidado para não incidir em cerceamento de defesa.Não há uma hierarquia previamente estabelecida de importância ou de preferência das provas, ou seja, a prova documental não é necessariamente mais importante ou preferível que a prova testemunhal ou que a prova pericial, ou vice-versa. A maior importância ou a prevalência de uma prova, em relação a outras provas, afirma-se objetivamente, em cada caso concreto (as informações prestadas por uma testemunha podem ser mais relevantes, importantes, completas do que as informações contidas em um documento, ou vice-versa).
8.4.1. Prova documental
Para fim de prova em processo, documento é toda e qualquer informação gravada em todo e qualquer meio (certidão de registro de casamento, boletim interno, DVD, CD, pen drive etc). Portanto, documento, para fim de prova na sindicância, não é apenas aquilo que o senso comum entende como tal (uma certidão de registro de nascimento, por exemplo).
Qualquer documento capaz de esclarecer ou comprovar fatos e circunstâncias relacionados ao objeto da sindicância podem ser admitidos como provas (arts. 6º, II, VI, VII e VIII, e parágrafo único, 13, caput, 16, caput, 19, VI, e 21, § 2º).
Os documentos, que constituem prova na sindicância, podem ser apresentados pelo denunciante, pelo ofendido ou pelo sindicado. Podem, também, ser obtidos, junto a quem os detém, pelo sindicante, ex officio ou a pedido do denunciante, do ofendido ou do sindicado.
8.4.2. Prova pericial
Sempre que cabível, o sindicante deve requisitar a realização de perícia, ex officio ou a pedido do sindicado, do denunciante ou do ofendido (arts. 6º, VIII e parágrafo único, 11, caput, 12, caput, e 16, caput).
Salvo disposição legal ou regulamentar em sentido contrário, a realização de perícias pode ser solicitada pelo sindicante diretamente ao órgão que tem competência para fazê-lo. A realização de perícias médicas (inspeção de saúde, por exemplo) deve ser determinada pela autoridade que detém essa competência (por exemplo, comandantes, chefes ou diretores de organização militar), a pedido do sindicante.
Algumas perícias (contábeis, sobre armas, munições, viaturas, equipamentos de uso militar, etc) podem ser feitas por oficiais devidamente habilitados, nomeados pelo comandantes, chefes ou diretores de organizações militares, a pedido do sindicante.
Ausentes regras específicas nas EB10-IG-09.001 e na Lei nº 9.784/99, devem ser observados nas perícias, no que cabível, as normas pertinentes do Decreto-lei nº 1.002, de 21/10/1969, que institui o Código de Processo Penal Militar (CPPM), especialmente o art. 9º, parágrafo único, os arts. 48 a 52, art. 139, art. 301, arts. 314 a 327, art. 340 a art. 341, art. 344 e art. 346.
No conceito de perícia podem ser incluídos, ainda, os reconhecimentos de pessoas ou de coisas (arts. 368 a 70 do CPPM), as avaliações de coisas (art. 342 do CPPM), as vistorias sobre locais ou coisas, a reconstituições de fatos etc (art. 13, parágrafo único). Essas provas, que devem ser reduzidas a termo escrito, quando não exigirem conhecimentos técnicos ou científicos específicos podem ser realizadas diretamente pelo sindicante, assistido, quando necessário, por técnicos designados pela autoridade nomeante, podendo ser assistidos, também, por técnicos indicados pelo sindicado, pelo denunciante ou pelo ofendido.
8.4.3. Prova testemunhal
Os acontecimentos da vida e os fatos e atos jurídicos são, quase sempre, protagonizados por pessoas e, em muitos casos, são observados por outras pessoas. Quer isso dizer que normalmente os acontecimentos, fatos e atos são testemunhados por alguém. Assim, as inquirições têm relevância incontestável, enquanto meio de prova ou de esclarecimento, na busca da verdade real. Portanto, o sindicante não pode abrir mão desse que, em muitos casos, é o único meio de prova ou de esclarecimento existente.
A inquirição pode referir-se não apenas à coisas que o depoente viu (visão), mas também à coisas que ouviu (audição) e às demais sensações que teve, ou seja, a tudo aquilo que sentiu (tato, olfato e gustação).
Os depoimentos devem ser tomados em dias com expediente na organização militar em cuja sede se processa a sindicância, entre às 8 e às 18 horas de um mesmo dia, salvo em casos de urgência inadiável, caso em que o sindicante deve justificar nos autos o não cumprimento deste horário (art. 29). 
Para que surta os desejados e esperados efeitos práticos e jurídicos as inquirições devem ser adequadamente conduzidas pelo sindicante. Intuitivamente qualquer um sabe que as pessoas tendem a ficar arredias e pouco cooperam, diante de inquiridores prepotentes, antipáticos, mal educados, explosivos; ao contrário, tendem a mostrar-se cooperantes, acessíveis, quando em presença de inquiridores mansos, centrados, educados, simpáticos, ponderados. É conveniente que o sindicante, ao conduzir inquirições e acareações, procure agir de modo a “cativar” o depoente, de tal sorte que este, às vezes sem nem perceber, coopere o mais possível.
É recomendável que, depois de estudar os fatos e as normas aplicáveis, o sindicante elabore um rol das perguntas que julga necessárias para responder as dúvidas suas e as que julga que a autoridade competente terá, na hora de solucionar a sindicância. Esse rol pode e deve ser reavaliado durante toda a fase de instrução, visando a exclusão ou modificação de perguntas impertinentes e a inclusão de outras que sejam pertinentes.
Não é necessário que a todas as pessoas sejam feitas as mesmas e todas as perguntas; por vezes isso nem é possível, porque há casos em que num contexto fático amplo uma pessoa testemunha um fato, enquanto outras testemunham outros fatos.
O sindicante pode reinquirir qualquer depoente, quando constatar a necessidade de complementar ou esclarecer informações por ele prestadas.
8.4.3.1. Acareações
Caso o sindicante encontre divergências nas declarações prestadas por duas ou mais pessoas, nos seus respectivos depoimentos, pode e deve, a qualquer tempo, realizar acareações entre as mesmas, visando aos esclarecimentos necessários (arts. 32 e 33).
A acareação constitui prova testemunhal, e consiste em colocar os depoentes, um em face do outro, e solicitar que os mesmos respondam novamente as perguntas sobre as quais divergiram em depoimentos anteriores, apresentando os esclarecimentos necessários.
Pode ocorrer (normalmente assim ocorre) que, na acareação, os depoentes divergentes sustentem, cada um, a versão que já haviam dado no depoimento anterior; mas isso não deve servir de argumento para não realizar a acareação. 
8.4.3.2. Sequência das inquirições na sindicância e acareação
Para as inquirições, na sindicância, há uma sequência que o sindicante deve necessariamente observar: primeiro ouve o denunciante, logo em seguida o ofendido, se um e outro há (art. 21, caput); depois ouve o sindicado (se há pessoa natural ou jurídica nessa condição); depois ouve as testemunhas arroladas pelo denunciante e pelo ofendido e na sequência as testemunhas arroladas pelo sindicado (se umas e outras há) (art. 31); por fim ouve testemunhas não arroladas, cuja inquirição julga necessária (art. 30).
Sendo necessário, o sindicante pode convocar uma mesma pessoa a retornar aos autos, para ser novamente inquirida, mesmo que isso implique em que determinada testemunha, ao ser reinquirida, deponha depois da sequência que lhe era regularmente própria (exemplo: reinquirir uma testemunha do denunciante depois de haver inquirido as testemunhas do sindicado).
9. DIREITOS E DEVERES DAS PARTES E DOS INTERESSADOS
9.1. Direitos do sindicado e dos interessados
Além de outros que lhe sejam assegurados, toda pessoa tem o direito de ser tratada com dignidade e respeito, por qualquer agente público (art. 3º, I, da Lei nº 9.784/99).
Quem se vê, numa sindicância, na condição de acusado ou em litígio, tem ainda os seguintes direitos: a) ser cientificado previamente da tramitação da sindicância e das decisões nela dadas, ter vista dos autos e obter cópias de documentos nela contidos (art. 3º, II, da Lei nº 9.784/99, e arts. 6º, V, 12 e 16, das IG); b) apresentar defesa prévia (arts.13, caput, e 16, caput, das IG); c) alegar, argumentar, contraditar, apresentar documentos e propor e produzir provas, inclusive testemunhais, antes da decisão, os quais devem ser considerados pelo sindicante e pela autoridade nomeante (art. 6º, III, da Lei nº 9.784/99, e arts. 16, caput, e 30, das IG); d) formular alegações finais (art. 6º, III, da Lei nº 9.784/99, e art. 13, § 2º); e) recorrer das decisões dadas na sindicância (art. 38); f) obter uma solução fundamentada num prazo razoável, num processo com a celeridade adequada ao caso concreto (art. 5º, LXXVIII, da CF/88).
Os direitos e prerrogativas processuais antes elencados podem ser exercidos pessoalmente ou por advogado constituído e com procuração nos autos (art. 3º, IV, da Lei nº 9.784/99, e arts. 16, § 2º, 17, das IG). Aos interessados, mesmo que não estejam sendo acusados ou em litígio são garantidos, no que forem aplicáveis, os direitos supracitados.
9.2. Deveres das partes e dos interessados
A administração militar (através da autoridade nomeante e do sindicante), o sindicado e os demais interessados, assim como todos os sujeitos, na sindicância em que atuam, devem: a) expor os fatos conforme a verdade (art. 4º, I, da Lei nº 9.784/99); b) proceder com lealdade, urbanidade e boa fé (art. 4º, II, da Lei nº 9.784/99); c) não agir de modo temerário (art. 4º, III, da Lei nº 9.784/99); d) prestar as informações que forem solicitadas e colaborar para o esclarecimento dos fatos (art. 4º, IV, da Lei nº 9.784/99), com a ressalva do sindicado, que não é obrigado a produzir provas a desfavor de si.
10. FORMA, TEMPO, LUGAR E COMUNICAÇÃO DOS ATOS DA SINDICÂNCIA
10.1. Forma dos atos da sindicância
Os atos da sindicância no âmbito do Exército não dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir (art. 22, caput, da Lei nº 9.784/99), [4] e devem ser produzidos por escrito, em português, com indicação da data e local em que foram produzidos e com identificação e assinatura de quem os produziu (art. 22, § 1º, da Lei nº 9.784/99, e art. 2º, caput, das IG), observadas, quanto às formalidades, as EB10-IG-01.001, sempre que essas não colidam com as EB10-IG-09.001.
A autenticação das cópias de documentos pode ser feita pela autoridade nomeante, pelo sindicante ou por outra autoridade da organização militar que tenha essa competência (art. 22, § 3º, da Lei nº 9.784/99).
Salvo se há legislação que o imponha, só se exige reconhecimento de firma quando há dúvida quanto à autenticidade (art. 22, § 2º, da Lei nº 9.784/99).
À exceção da capa e do documento que encaminha os autos, as folhas da sindicância devem ser numeradas e rubricadas pelo sindicante ou pelo escrivão, a medida em que entram nos autos da sindicância (art. 22, § 4º, da Lei nº 9.784/99, e art. 6º, II, das IG).[5]
10.2. Tempo dos atos da sindicância
Os atos da sindicância devem ser realizados em dias úteis, no horário normal de funcionamento da organização militar na qual tramita o processo (art. 23, caput, da Lei nº 9.784/99). Como exceção, os atos já iniciados, cujo adiamento prejudique o curso regular do procedimento ou cause dano aos interessados ou à administração pública, poderão ser concluídos depois do horário normal de expediente (art. 23, parágrafo único, da Lei nº 9.784/99).
Para os depoimentos as EB10-IG-09.001 prescrevem regra especial, relativa ao tempo dos atos da sindicância: salvo em caso de urgência inadiável, devem ser tomados em dias úteis (com expediente na organização militar), entre às 8 às 18 horas (art. 29, caput, das IG). Embora as EB10-09.001 não o digam de modo expresso, perícias e outras diligências que exijam a presença do sindicado ou de outros sujeitos também devem respeitar aquela limitação temporal (entre 8 e 18 horas de dias úteis).
10.3. Lugar dos atos da sindicância
Lugar da sindicância é o local em que está sediada a organização militar da autoridade que a instaura.
A instauração da sindicância deve ocorrer no âmbito do comando em que se verificou a ocorrência, salvo determinação em contrário do escalão superior (art. 5º, caput, das IG). Se os fatos envolvem militares de diversas organizações militares de uma mesma guarnição e ocorrerem fora da área dos respectivos comandos, a instauração da sindicância caberá ao comandante da guarnição onde se deu a ocorrência (art. 5º, parágrafo único, das IG).
Em regra, os atos da sindicância devem ser realizados na sede da organização militar processante, cientificando-se o sindicado e outros interessados se outro for o local da realização (art. 25 da Lei nº 9.784/99). Mas se o denunciante, o ofendido, o sindicado ou alguma testemunha se encontra em outra localidade, estando impossibilitados de comparecer para depor, suas inquirições podem ser feitas em outro local, mediante carta precatória (art. 26 das IG). Além da inquirição, alguns outros atos da sindicância (acareação etc) podem ser promovidos mediante precatória. O acusado ou o litigante, se na sindicância há, deve ser previamente notificado acerca da expedição da precatória, para, se quiser, no prazo de três dias corridos, apresentar quesitos a serem respondidos (art. 26, parágrafo único, das IG).
10.4. Comunicação dos atos da sindicância
Na sindicância do tipo processual o sindicante deve fazer a notificação prévia do sindicado, com antecedência mínima de três dias em relação à data do comparecimento ou da realização de qualquer outro ato de instrução (art. 26, caput e § 2º, da Lei nº 9.784/99, e arts. 6º, V, e 12, caput, das IG). Além da notificação prévia, ao sindicado devem ser feitas notificações referentes a todos os atos de instrução da sindicância; essas notificações devem ser feitas com antecedência mínima de três dias úteis (art. 26, § 2º, da Lei nº 9.784/99, e art. 12, caput, das IG).
Devem ser objeto de notificação ao sindicado e a outros interessados os atos da sindicância que resultem ou possam resultar em imposição de deveres, ônus, sanções ou restrições ao exercício de direitos e atividades, assim como os atos de outra natureza que sejam de seu interesse (art. 28 da Lei nº 9.784/99).
O desatendimento da notificação prévia ou de outras notificações não importa o reconhecimento da verdade dos fatos nem a renúncia de direitos, pelo sindicado (art. 27, caput, da Lei nº 9.784/99, e art. 22, § 1º, das IG). Neste caso, ao sindicado deverá ser garantido o contraditório e ampla defesa a partir do momento em que comparecer (art. 27, parágrafo único, da Lei nº 9, 784/99, e art. 22, § 2º, das IG), sem necessidade de refazer atos que já tiverem sido regularmente realizados, salvo se a notificação anterior tiver sido considerada nula.
Havendo mais de um sindicado, todos devem ser igualmente notificados.
Nos casos em que sindicante e sindicado servem na mesma organização militar, a realização da notificação prévia deve ser comunicada, pelo sindicante, ao comandante ou chefe imediato do sindicado (art. 12, § 1º). Essa comunicação aplica-se somente em relação à notificação prévia do sindicado; as demais notificações feitas ao sindicado, assim como as notificações feitas ao denunciante, ao ofendido e às testemunhas não precisam ser comunicadas ao respectivo comandante ou chefe imediato (art. 12, § 1º, parte final).
Nos casos em que sindicante e sindicado não servem na mesma organização militar a notificação prévia, assim como todas as demais notificações do sindicado devem ser feitas, pelo sindicante, por intermédio do comandante, chefe ou diretor da organização militar em que o sindicado serve, ou do chefe de repartição pública em que ele está lotado (art. 12, § 2º). Neste caso, não há que se falar em comunicar as notificações ao comandante ou chefe imediato do sindicado, pois elas (as notificações) já terão sido feitas por intermédio dessas autoridades.
Se o sindicado não é militar nem servidor público civil suas notificações, inclusive a notificação prévia, são feitas pessoalmente, sem necessidade de comunicá-las a outras autoridades ou pessoas.
As testemunhas são notificadas por intermédio de seus comandantes, chefes de seção ou chefes derepartição (art. 23, § 1º), o mesmo aplicando-se para o denunciante e para o ofendido. Portanto, o sindicante não notifica diretamente o denunciante, o ofendido e as testemunhas, mas solicita que os respectivos comandantes ou chefes os apresente para serem inquiridos, nos locais, datas e horários que forem marcados.
As notificações em geral, inclusive do sindicado, devem conter: identificação do notificado e o nome da organização militar em que tramita a sindicância; finalidade da notificação; data, hora e local em que o notificado deve comparecer; se o notificado deve comparecer pessoalmente ou pode fazer-se representar; se for o caso, informação quanto à continuidade da sindicância independentemente do comparecimento do notificado; se for o caso, indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes (art. 26, § 1º, I a VI, da Lei nº 9.784/99).
Com exceção da notificação prévia do sindicado, todas as demais notificações podem ser feitas mediante ciência nos autos da sindicância, por via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou por outro meio que assegure a certeza da ciência do interessado, e, no caso de interessados indeterminados, desconhecidos ou com domicílio indefinido, devem ser feitas por meio de publicação oficial (art. 26, §§ 3º e 4º, da Lei nº 9.784/99). 
As notificações são nulas se tiverem sido feitas sem observância das prescrições legais ou regulamentares, mas o comparecimento do interessado supre a falta ou a irregularidade da notificação (art. 26, § 5º, da Lei nº 9.784/99).
11. PRAZOS DA SINDICÂNCIA DO EXÉRCITO
11.1. Regras gerais para a contagem dos prazos
Como regra, os prazos da sindicância não se suspendem, não iniciam em dia sem expediente na organização militar (art. 9º, § 1º) e correm a partir da data da cientificação oficial.
Na contagem dos prazos se exclui o dia do início e inclui o do vencimento (art. 9º, caput). O vencimento fica prorrogado para o primeiro dia útil subsequente sempre que cair em dia sem expediente na organização militar (art. 9º, § 1º).
Salvo quando fixados em dias úteis, os prazos expressos em dias contam-se de modo contínuo (respeitada a regra de que só iniciam e terminam em dia útil). Todos os prazos fixados em dias são contados a partir da zero hora do dia do início e encerram-se às 24 horas do último dia.
Todos os prazos conferidos ao sindicado devem ser fielmente observados, podendo ser prorrogados ou renovados em caso de necessidade, mediante despacho do sindicante, ex officio ou a pedido do sindicado (art. 9º, § 2º).[6]
11.2. Prazos da sindicância previstos na EB10-IG-09.001
Para concluir a sindicância, o sindicante dispõe de 30 dias corridos (art. 10, caput), contados da data de recebimento da portaria (art. 10, parágrafo único), prorrogáveis por mais 20 dias quantas vezes forem necessárias, mediante pedido fundamentado do sindicante (arts. 10, caput, e 11, caput).
O pedido de prorrogação de prazo deve ser feito pelo sindicante, no mínimo 48 horas antes de encerrar o prazo original (art. 11, § 1º).[7]
Entre as notificações ao sindicado e a realização dos atos respectivos, deve ser observado o prazo mínimo de 3 dias úteis (art. 12, caput).[8] 
O prazo para o sindicado apresentar defesa prévia é de 3 dias úteis, contados da data da notificação respectiva; essa notificação pode ser feita no próprio termo de inquirição do sindicado, caso em que o prazo correrá a partir da data da inquirição (art. 13, caput).
Para apresentar alegações finais o sindicado dispõe do prazo de 5 dias corridos, contados da data da notificação respectiva (art. 13, § 2º).
Para a autoridade nomeante determinar a realização de diligências complementares, o prazo é de 10 dias úteis, contados da data do recebimento dos autos (art. 14, caput).
O prazo para o sindicante realizar diligências complementares é de 20 dias corridos, contados da data do recebimento do encargo, prorrogáveis pelo tempo que se fizer necessário (art. 14, caput).
Havendo diligências complementares, o sindicado poderá apresentar alegações finais no prazo de 5 dias corridos, contados da data da notificação respectiva (art. 14, § 2º).
Para a autoridade nomeante solucionar a sindicância, o prazo é de 10 dias úteis, contados da data do recebimento dos autos (art. 14, caput e § 3º).
O relatório e o parecer do sindicante devem ser elaborados dentro do prazo de trinta dias fixados para a sindicância como um todo, ou, se for o caso, dentro dos prazos prorrogados (art. 13, § 3º).[9]
11.3. Prazo não previsto na EB10-IG-09.001
Os atos processuais para os quais não há previsão expressa de prazo nas EB10-IG-09.001 devem ser praticados no prazo de 5 dias, salvo motivo de força maior (art. 24, caput, da Lei nº 9.784/99), podendo esse prazo ser dilatado até o dobro, mediante comprovada justificação (art. 24, parágrafo único, da Lei nº 9.784/99).
Embora a EB10-IG-09.001 não o estabeleça de modo expresso, convém que, depois de ouvir a última testemunha, juntar o último documento recebido ou realizar ou juntar a última perícia produzida, o que vier por último, e antes de declarar encerrada a instrução da sindicância, o sindicante notifique o sindicado para que ele tome ciência dos elementos constantes nos autos e requeira o que entender necessário ou útil para a comprovação ou esclarecimento de suas teses de defesa, concedendo-lhe, para isso, o prazo de 5 dias corridos, contados da data da notificação (art. 24, parágrafo único, da Lei nº 9.784/99).[10]
12. CAUSAS DE IMPEDIMENTO E DE SUSPEIÇÃO
12.1. Causas de impedimento
São impedidos de atuar como sindicante os sargentos não aperfeiçoados (art. 20, caput, das IG) e os oficiais, subtenentes e sargentos aperfeiçoados hierarquicamente subordinados ao sindicado (arts. 20, caput, e 35, das IG).
Quanto à instauração da sindicância, são a tanto impedidos os militares que não figuram no rol do art. 4º das IG.
Também constituem causas impeditivas, para a autoridade e para o sindicante, os seguintes fatos e circunstâncias (art. 18, I a III, da Lei nº 9.784/99):[11] a) interesse direto no objeto da sindicância; b) participação (do militar, seu cônjuge ou companheiro ou seus parentes consanguíneos ou por afinidade até o terceiro grau), na mesma sindicância, na condição de perito, testemunha, representante, procurador; c) litígio judicial ou administrativo com o sindicado ou com algum interessado que atua na sindicância ou com seus cônjuges ou companheiros.
Aquele que está impedido, deve assim se declarar expressamente, abstendo-se de atuar e comunicando o fato à autoridade competente. A omissão do dever de comunicar impedimento constitui falta grave, para efeitos disciplinares (art. 19, caput e parágrafo único, da Lei nº 9.784/99). Não sendo declarado o impedimento, pode a parte interessada argui-lo. Indeferida a arguição, cabe pedido de reconsideração de ato e, uma vez que o pedido de reconsideração de ato seja indeferido, cabe recurso à superior instância (art. 38 das IG c/c arts. 52 a 57 do RDE). O recurso contra o indeferimento de alegação de impedimento não tem efeito suspensivo (art 21 da Lei nº 9.784/99, por analogia).
12.2. Causas de suspeição
Na sindicância deve ser observada, pela autoridade nomeante e pelo sindicante, a causa de suspeição (fatos ou circunstâncias que geram suspeita contra a necessária imparcialidade), que pode ser arguida pela parte interessada ou declarada de ofício pelo suspeito, consistente na amizade íntima ou na inimizade notória com o sindicado ou com algum dos interessados que atuam na sindicância, ou com os respectivos cônjuges ou companheiros ou com seus parentes consanguíneos ou afins até o terceiro grau (art. 20 da Lei nº 9.784/99).
O suspeito deve assim se declarar expressamente. Não sendo declarada a suspeição, pode a parte interessada argui-la. Indeferida a arguição, cabe pedido de reconsideração de ato e, uma vez que o pedido de reconsideração de ato seja indeferido, cabe recurso à superior instância (art. 21 da Lei nº 9.784/99, art. 38 das IG c/c arts. 52 a 57 do RDE). O recurso contra o indeferimento de alegação de suspeição não temefeito suspensivo (art 21 da Lei nº 9.784/99).
13. INVALIDAÇÃO E CONVALIDAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS
13.1. Invalidação
Os atos administrativos e os processos dessa natureza (inclusive a sindicância no âmbito do Exército) devem respeitar os pressupostos de legitimidade e legalidade. Um ato que desatenda esse paradigma deve ser invalidado pela administração (art. 53 da Lei nº 9.748/99). Se o ato que se fez sem respeito à legalidade e à legitimidade (de tal sorte a ser invalidado) é um dos que integram a sindicância, em muitos casos segue-se que a sindicância também deva ser invalidada, total ou parcialmente, de acordo com a amplitude dos efeitos do vício.
A invalidação dos atos administrativos (assim como dos atos processuais administrativos, nesse conceito incluída a sindicância) pode dar-se através da anulação (quando ilegais ou ilegítimos) ou da revogação (por motivo de conveniência ou oportunidade), respeitados os direitos adquiridos (art. 53 da Lei nº 9.748/99). A revogação pode ser feita somente pela administração pública; a anulação, pode ser feita tanto pela administração pública quanto pelo poder judiciário.
O direito de anular seus atos, dos quais decorram efeitos favoráveis aos destinatários decai, para a administração pública, em cinco anos contados, em geral, da data em que foram praticados (art. 54, caput, da Lei nº 9.748/99), e, no caso de efeitos patrimoniais contínuos, da data da percepção do primeiro pagamento (art. 54, § 1º, da Lei nº 9.748/99). Se, para a realização do ato, concorreu o destinatário com comprovada má-fé, não decai, para a administração pública, o direito de anular (art. 54, caput, in fine, da Lei nº 9.748/99).
Considera-se exercício do direito de anular, qualquer medida tomada por autoridade administrativa que importe em impugnação à validade do ato ou do processo administrativo, aí incluída a sindicância (art. 54, § 2º, da Lei nº 9.748/99).
13.2. Convalidação
Convalidar um ato administrativo (assim como um ato processual administrativo e o próprio processo administrativo, aí incluída a sindicância) significa tornar válido aquilo que era inválido.
A administração pública, em decisão fundamentada onde evidencie não acarretar lesão ao interesse público nem prejuízos a terceiros, pode convalidar atos que apresentem defeitos sanáveis (art. 55 da Lei nº 9.748/99), sanando-os antes, obviamente.
14. DESISTÊNCIA DO PEDIDO E RENÚNCIA DE DIREITOS
O interessado pode, mediante manifestação escrita e assinada, desistir total ou parcialmente do pedido formulado ou, ainda, renunciar a direitos, desde que tais direitos sejam disponíveis, isto é, desde que sejam direitos que possam ser validamente renunciados pela parte interessada (art. 51, caput, da Lei nº 9.748/99).
No caso da sindicância, a manifestação de desistência de pedido ou de renúncia de direitos, pelo interessado, deve ser encaminhada ao sindicante ou à autoridade que instaurou a sindicância.
Tratando-se de desistência de pedido ou renúncia de direito capaz de ocasionar a perda de objeto da sindicância, o sindicante deve encaminhá-lo à autoridade nomeante, que mandará encerrar o processo no estado em que se encontra, salvo se, em nome do interesse público, motivadamente, optar por levá-lo até o seu fim (art. 51, § 2º, da Lei nº 9.748/99).
Havendo vários interessados, a desistência de pedido ou a renúncia de direitos apresentado por um deles não atinge aos demais (art. 51, § 1º, da Lei nº 9.748/99). Isso aplica-se, inclusive, aos sindicados, nas sindicância em que mais de um há.
15. DEVER DE DECIDIR MOTIVADAMENTE
A autoridade nomeante tem o dever de decidir explicita e motivadamente, com clareza, congruência e coerência, nas sindicâncias que instaura (art. 50, caput e § 1º, da Lei nº 9.748/99 e art. 7º das IG).
Motivar uma decisão significa expor expressa e objetivamente suas razões de fato e de direito, com clareza e coerência (art. 50, caput, da Lei nº 9.748/99).
A motivação da decisão é especialmente necessária nos casos em que ela negue, limite ou afete direitos ou interesses; imponha ou agrave deveres, encargos e sanções; decida recursos administrativos; deixe de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepe de pareceres, laudos, propostas ou relatórios oficiais; importe anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato ou de processo administrativo (art. 50, I, II, V, VII e VIII, da Lei nº 9.748/99).
Por força dos dispositivos supracitados, aplicados subsidiariamente na sindicância, não apenas a solução, mas também todo e qualquer ato da sindicância, inclusive os do sindicante, que causem ou possam causar modificações nos direitos do sindicado ou de qualquer interessado, também devem ser motivados.
De acordo com o art. 50, § 1º, da Lei nº 9.748/99, a motivação da decisão pode consistir em “declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato. Por força desse dispositivo, aplicado subsidiariamente na sindicância, nos casos em que o relatório e o parecer do sindicante estão devidamente fundamentados, a motivação da solução pode consistir em simples declaração expressa de concordância com aquelas fundamentações, caso em que o relatório e o parecer passam a integrá-la.
16. SINDICÂNCIA E OUTROS INSTITUTOS
16.1. Sindicância e inquérito policial militar (IPM)
A diferença básica entre a sindicância no âmbito do Exército e o IPM reside em que a primeira, se for do tipo processual, se faz com observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa, enquanto o segundo segue o sistema inquisitorial (onde não há contraditório nem ampla defesa). A finalidade também constitui ponto de aparte entre a sindicância e o IPM: a primeira serve para apurar fatos de interesse da administração militar (que não configurem crime) e situações que envolvem direitos; o segundo, para apurar infrações penais e sua autoria (fatos que interessam ao Estado, à sociedade, como um todo).
Deve-se evitar a instauração de sindicância como procedimento preliminar do IPM, salvo naqueles casos em que o conhecimento dos fatos e de suas circunstância ainda está de tal forma nebuloso que nem mesmo se tem certeza da existência de indícios da ocorrência de infração penal. Se já existem inícios conhecidos suficientes da materialidade (de que ocorreu um fato tipificado como crime), deve a autoridade instaurar, desde logo, o IPM.
16.2. Sindicância e processo administrativo disciplinar (PAD)
No Exército, as ocorrências contrárias à disciplina militar são processadas (investigadas) e resolvidas (punidas ou não) mediante processo administrativo disciplinar (PAD).
Como regra, o PAD faz-se de acordo com o rito estabelecido no RDE. Mas casos podem haver em que a autoridade militar competente opte por instaurar uma sindicância, para investigar os fatos e suas circunstâncias, em tese contrários à disciplina militar. Nestes casos, a apuração dos fatos e suas circunstâncias é feita de acordo com as EB10-IG-09.001 (obviamente com observância do contraditório e da ampla defesa), conforme determina o art. 12, § 8º, do RDE. Entretanto, ainda que os fatos e suas circunstâncias fiquem perfeitamente esclarecidos com a sindicância, será necessário instaurar, depois, o PAD, com base nas normas do RDE, de acordo com o que dispõe a alínea e do nº 6 do anexo IV do RDE.[12]
O relatório e a solução da sindicância, assim como termos de inquirições e outras peças instrutórias julgadas necessárias ou úteis, servirão de base ao PAD. Porém, a autoridade militar competente deverá repetir tantas provas quantas se tornarem necessárias, para uma adequada apreciação dos fatos e para um justo e adequado julgamento.[13]
De tudo isso se conclui que a sindicância, em verdade, não se presta a processar e julgar a transgressão disciplinar, mas sim e tão somente para investigar os fatos e circunstâncias que constituem a transgressão disciplinar.
16.3. Sindicância e ato de improbidade administrativa
Os militares, assim como todos os agentes públicos, estão sujeitos às sanções previstas

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