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REDISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NO SOLO O PROCESSO DE REDISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NO SOLO Algum tempo após o término de uma chuva ou de uma irrigação, a infiltração, entendida como a passagem de água através da superfície, cessa. Parte da água infiltrada, que ocupava os macroporos, continua a movimentar-se até zonas mais profundas do perfil por um tempo variável. Este processo recebe o nome de redistribuição As figuras mostram a profundidade alcançada pela frente de molhamento após o término da infiltração. A água continuará a movimentar-se, deixando os poros maiores onde o efeito da retenção capilar não é tão intensa, continuando a redistribuir-se no perfil. UMIDADE DE CAPACIDADE DE CAMPO (CC) A redistribuição ocorre porque a gravidade e as forças capilares atuam. A água tende e movimentar-se de locais onde possui mais energia, os poros grandes, onde as forças de atração com a matriz sólida são fracas, para outros pontos do perfil onde possui menor energia, os poros capilares, onde fica retida pelos fenômenos capilares. Quanto maior a diferença na energia, da água entre dois pontos, mais intenso tende a ser esse movimento. Se colocarmos um papel de filtro ou um pano seco, que possuem poros capilares, em contato com a água, esta se movimenta em sua direção, mesmo contra a gravidade. RESUMO: A diferença na energia da água entre dois pontos do solo será determinada pela atração gravitacional e pela interação entre os poros e a água (forças de adesão e coesão - fenômenos da capilaridade). UMIDADE DE CAPACIDADE DE CAMPO (CC) Durante a redistribuição, alguns poros grandes serão completamente drenados e outros permanecerão preenchidos pela água. Naqueles poros em que os fenômenos capilares conseguem reter a água contra a atração gravitacional, o movimento será mais lento, podendo até cessar. Isto faz com que a energia da água em diferentes pontos do perfil do solo possa assumir valores muito próximos, com a atração gravitacional sendo equilibrada pela retenção da água nos poros capilares. UMIDADE DE CAPACIDADE DE CAMPO (CC) Se a diferença na energia da água ao longo do perfil for pequena, o movimento se torna cada vez mais lento, podendo tornar-se imperceptível de um dia para outro em algumas situações. A umidade na qual o movimento da água no perfil torna-se muito lento, é denominada: UMIDADE DE CAPACIDADE DE CAMPO UMIDADE DE CAPACIDADE DE CAMPO (CC) Os números próximos aos perfis referem-se ao tempo em minutos após o término da infiltração. (SOLIMAN, 1968). PERFIS DE UMIDADE DURANTE O PROCESSO DE REDISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA, APÓS A INFILTRAÇÃO, EM UM SOLO ARENOSO (a) E NUM SOLO CALCÁREO (b). UMIDADE DE CAPACIDADE DE CAMPO (CC) Observação: A umidade de capacidade de campo não é a umidade máxima que um solo pode apresentar, mas é a umidade máxima disponível para absorção pelas plantas, uma vez que permanece retida e disponível. PONTO DE MURCHA PERMANENTE (PMP) O termo “umidade de ponto de murcha permanente” é usado para representar a umidade abaixo da qual, a taxa de absorção de água pela planta não será suficiente para suprir a demanda evapotranspirativa; Em função desse descompasso entre a quantidade de água absorvida e quantidade de água transpirada, a planta sofrerá uma deficiência hídrica crescente, que resultará em murcha e morte por secamento. Procedimentos de determinação da umidade de capacidade de campo e da umidade do ponto de murcha permanente - Método de campo - Método de laboratório -(câmara de pressão) Umidade de capacidade de campo é aquela retida sob potencial de -0,33 bar (-3,3 mH2O). Umidade correspondente ao ponto de murcha permanente é aquela retida sob potencial de -15 bar (-150 mH2O). CAPACIDADE DE ÁGUA DISPONÍVEL: CONCEITO A água disponível no solo para utilização pelas plantas é aquela armazenada entre os graus de umidade correspondentes à CAPACIDADE DE CAMPO e ao PONTO DE MURCHAMENTO PERMANENTE. CAD = cc - pmp CAD = (Ucc – Upmp) . d CAPACIDADE TOTAL DE ÁGUA DISPONÍVEL (CTA) É a lâmina de água armazenada na profundidade de interesse para agricultura. CTA é dada em mm H2O Ucc é a umidade gravimétrica do solo na capacidade de campo (%); Upmp é a umidade gravimétrica do solo no ponto de murchamento (%); d é a densidade do solo (g.cm-3); Z é profundidade efetiva do sistema radicular - zona em que pelo menos 80% do sistema radicular está contido (cm). ZdUpmpUccCTA .).( VALORES MÉDIOS DE UMIDADE GRAVIMÉTRICA (U) NA CAPACIDADE DE CAMPO E NO PONTO DE MURCHAMENTO E VALORES DE DENSIDADE, PARA OITO CLASSES TEXTURAIS DE TERRAS ALTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. ARGILA + SILTE (%) UMIDADE NA CAPACIDADE DE CAMPO (%) UMIDADE NO PONTO DE MURCHA (%) DENSIDADE DO SOLO (g.cm3) UMIDADE VOLUMÉTRICA DISPONÍVEL (%) LÂMINA DE ÁGUA DISPONÍVEL ATÉ 60 CM (MM) < 20 11,6 4,2 1,37 7,4 60,8 20 – 30 15,4 7,9 1,32 7,5 59,4 30 – 40 20,4 10,3 1,34 10,1 81,2 40 – 50 24,8 12,5 1,28 12,3 94,5 50 – 60 27,6 16,8 1,26 10,8 81,6 60 – 70 29,6 20,0 1,23 9,6 70,8 70 – 80 30,2 20,8 1,18 9,4 66,5 80 - 90 32,2 23,0 1,13 9,2 62,4 Valores da profundidade efetiva do sistema radicular das principais culturas econômicas para as condições do Estado de São Paulo. CULTURA Profundidade Efetiva AUTOR (cm) (%) Abacaxi 20 95 Inforzato et al., 1968 Algodão 30 83-89 Cavalieri e Inforzato, 1956 Arroz 10 93 Inforzato et al., 1964 Arroz-várzea 15-20 80-90 Guimarães e Inforzato, 1973 Batata 15-20 90 Inforzato e Nobrega, 1962 Cacau 40 85 Zevallos e Coral, 1972 Café 50 85-90 Inforzato e Reis, 1963 e 1974 Valores da profundidade efetiva do sistema radicular das principais culturas econômicas para as condições do Estado de São Paulo (continuação). Cana 70 80 Inforzato e Alvarez, 1957 Citrus 50 >80 Montenegro, 1960 Feijão 20-30 81-98 Inforzato et al., 1964 e Inforzato e Miyasaka, 1968 Mamão 50 85 Inforzato e Carvalho, 1967 Milho 50 80 Espinoza, 1980 Morango 10 85-94 Inforzato e Camargo. 1973 Pessegueiro 50 87 . Inforzato et al., 1975 Pepino 30 88 Dematte et al., 1974 Quiabo 20 90 Inforzato c Bernardi, 1974 Soja 50 82 Inforzato e Mascarenhas, 1969 Tomate 50 68-81 Inforzato et al., 1970 Trigo 35 85 Espinoza et al., 1980 Hortaliças 10-15 80 Recomendação geral Cereais 15-35 80 Recomendação geral Fruteiras 50 80 Recomendação geral CAPACIDADE REAL DE ÁGUA DO SOLO (CRA) CRA = CTA * p É a porção da CTA que deve ser consumida, para que a espécie cultivada permaneça em condições de umidade ótimas. O fator p indica a percentagem da CTA que podemos deixar esgotar antes de irrigar novamente. Explicação: Se p = 1, permitimos que CTA se esgote completamente antes de fazer nova irrigação. Se p < 1, deixamos que apenas parte da CTA se esgote e fazemos nova irrigação. Observação: geralmente p < 1 FRAÇÃO DE DISPONIBILIDADE DA ÁGUA DO SOLO (p) Grupos de culturas, de acordo com a susceptibilidade à perda de água do solo. GRUPO CULTURAS 1 cebola, alho, arroz, folhosas 2 feijão, trigo, ervilha 3 milho, girassol, tomate, batata 4 Algodão, amendoim, sorgo, soja Grupos Etc (mm/dia) 2 3 4 5 6 > 7 1 0,50 0,425 0,35 0,30 0,25 0,225 2 0,675 0,575 0,475 0,40 0,35 0,325 3 0,80 0,70 0,60 0,50 0,45 0,425 4 0,875 0,80 0,70 0,60 0,55 0,50 Fração de esgotamento da água do solo (p) paragrupos de cultura e evapotranspiração máxima (ETc). Exemplo de cálculo Calcule o armazenamento total, CTA e CRA para o exemplo abaixo. Considerando um ha de área, apresente os valores em volume: Solo: teor de argila mais silte = 45% Ucc = 24,8% ; Upmp = 12,5% ; d = 1,28 g/cm3 = 0,248.1,28 = 0,3174 ou 31,74% Espécie cultivada: feijão em Florianópolis Grupo 2 ; Z = 30 cm ; p = 0,475 Umidade atual: U = 25% = 0,25 . 1,28 = 0,32 Exemplo de cálculo Armazenamento total (A): A = . Z A = 0,32 . 300 mm = 96 mm 96 mm = 96 l/m2 = 960 m3/ha CTA = 0,1.(Ucc – Upmp).d.Z CTA = 0,1.(24,8 – 12,5).1,28.30 = 47,23 mm 47,23 mm = 47 l/m2 = 470 m3/ha CRA = CTA.p CRA = 47,23 mm . 0,475 = 22,43 mm 22,43 mm = 22,43 l/m2 = 224,3 m3/ha. Em locais onde chove regularmente, a lâmina de irrigação real necessária é aquela que complementa a precipitação a fim de atender a demanda hídrica da espécie cultivada. Quando a precipitação não é regular a ponto de repor a água perdida por evapotranspiração, a irrigação deve complementar o que falta. Observação: IRN será igual a CRA quando não considerarmos a possibilidade de ocorrência de precipitações; IRN será menor que CRA quando computarmos as precipitações prováveis. LÂMINA DE IRRIGAÇÃO REAL NECESSÁRIA (IRN) LÂMINA DE IRRIGAÇÃO TOTAL NECESSÁRIA (ITN) Ei é a eficiência do método de irrigação (decimal): Aspersão - 65 a 85% Gotejamento - 80 a 90% Microaspersão - 75 a 85% Sulcos - 40 a 60% Inundação - 50 a 80% A Eficiência de irrigação reflete as perdas de água na captação, condução e distribuição da água. Ei IRN ITN INTERVALO ENTRE IRRIGAÇÕES (Ir) Para podermos dimensionar o equipamento de irrigação que irá distribuir a água no campo (projeto hidráulico), é importante estimar em quanto tempo o armazenamento de água no solo decrescerá até um valor limite (esgotamento de IRN). Esta estimativa será possível se soubermos qual o valor da evapotranspiração da cultura nos períodos de maior necessidade hídrica, durante seu ciclo de desenvolvimento. Exemplo para ETc = 3,5 mm/dia ETc IRNIr Ir = 22,43 mm / 3,5 mm/dia = 6,4 dias