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1 1 Sumário Considerações Iniciais ......................................................................................................................................... 4 Lei n. 13.445/2017 (Lei de Migração) .............................................................................................................. 4 1. Disposições Preliminares ............................................................................................................................. 4 1.1. Disposições Gerais ............................................................................................................................... 4 1.2. Dos Princípios e das Garantias ............................................................................................................ 5 2. Da Situação Documental do Migrante e do Visitante ................................................................................. 7 2.1. Dos Documentos de Viagem ................................................................................................................. 7 2.2. Dos Vistos ............................................................................................................................................. 8 2.3. Do Registro de Identificação Civil do Imigrante e dos Detentores de Vistos Diplomático, Oficial e de Cortesia ..................................................................................................................................................... 14 3. Da Condição Jurídica do Migrante e do Visitante ................................................................................... 14 3.1. Do Residente Fronteiriço .................................................................................................................... 14 3.2. Da Proteção do Apátrida e da Redução da Apatridia .................................................................... 15 3.3. Do Asilado ......................................................................................................................................... 16 3.4. Da Autorização da Residência .......................................................................................................... 16 3.5. Da Reunião Familiar ........................................................................................................................... 19 4. Da Entrada e da Saída do Território Nacional ........................................................................................ 19 4.1. Da Fiscalização Marítima, Aeroportuária e de Fronteira .................................................................. 19 4.2. Do Impedimento de Ingresso .............................................................................................................. 20 5. Das Medidas de Retirada Compulsória .................................................................................................... 21 6. Da Opção de Nacionalidade e da Naturalização .................................................................................. 25 6.1. Da Opção de Nacionalidade ............................................................................................................ 25 6.2. Das Condições da Naturalização ...................................................................................................... 25 2 1 6.3. Dos Efeitos da Naturalização ............................................................................................................ 27 6.4. Da Perda da Nacionalidade ............................................................................................................. 27 6.5. Da Reaquisição da Nacionalidade .................................................................................................... 27 7. Do Emigrante ............................................................................................................................................ 27 7.1. Das Políticas Públicas para os Emigrantes ......................................................................................... 27 7.2. Dos Direitos do Emigrante .................................................................................................................. 28 8. Das Medidas de Cooperação .................................................................................................................. 28 8.1. Da Extradição .................................................................................................................................... 28 8.2. Da Transferência de Execução da Pena ............................................................................................ 37 8.3. Da Transferência de Pessoa Condenada .......................................................................................... 37 9. Das Infrações e das Penalidades Administrativas .................................................................................... 39 10. Disposições Finais e Transitórias ............................................................................................................. 40 Questões Comentadas ...................................................................................................................................... 42 Lista de Questões .............................................................................................................................................. 59 Gabarito ........................................................................................................................................................... 68 Resumo .............................................................................................................................................................. 69 4 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Olá, caro amigo! Hoje estudaremos a Lei nº 13.445 de 2017 (Lei de Migração). Vamos lá!? Força! Bons estudos! LEI N. 13.445/2017 (LEI DE MIGRAÇÃO) 1. Disposições Preliminares 1.1. Disposições Gerais Art. 1º Esta Lei dispõe sobre os direitos e os deveres do migrante e do visitante, regula a sua entrada e estada no País e estabelece princípios e diretrizes para as políticas públicas para o emigrante. A Lei n. 13.445/2017 trata basicamente das relações do Estado brasileiro com os estrangeiros. É nesta lei que encontraremos as regras sobre a entrada e saída de estrangeiros no Brasil, suas visitas e o procedimento para migração. Lembre-se de que a Lei de Migração substituiu o antigo Estatuto do Estrangeiro, que foi por ela inteiramente revogado. Além disso, é importante saber também que a Lei de Migração não prejudica a aplicação de normas internas e internacionais específicas sobre refugiados, asilados, agentes e pessoal diplomático ou consular, funcionários de organização internacional e seus familiares. Logo no início, a lei estabelece alguns conceitos básicos, que serão muito importantes para a nossa compreensão posterior dos dispositivos legais. LEI DE MIGRAÇÃO – CONCEITOS BÁSICOS IMIGRANTE Pessoa nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside e se estabelece temporária ou definitivamente no Brasil. EMIGRANTE Brasileiro que se estabelece temporária ou definitivamente no exterior. RESIDENTE FRONTEIRIÇO Pessoa nacional de país limítrofe ou apátrida que conserva a sua residência habitual em município fronteiriço de país vizinho. VISITANTE Pessoa nacional de outro país ou apátrida que vem ao Brasil para estadas de curta duração, sem pretensão de se estabelecer temporária ou definitivamente no território nacional. APÁTRIDA Pessoa que não seja considerada como nacional por nenhum Estado, segundo a sua legislação, nos termos da Convenção karin Destacar karin Retângulo 5 sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002, ou assim reconhecida pelo Estado brasileiro. 1.2. Dos Princípios e das GarantiasNesta seção a Lei de Migração estabelece os princípios e diretrizes que devem ser observados na execução da política migratória brasileira, bem como os direitos garantidos ao migrante. O único detalhe que vale a pena mencionar aqui é que os direitos e garantias previstos na lei são exercidos independentemente da situação migratória. Isso significa que os direitos aqui mencionados devem ser assegurados mesmo a migrantes que estejam em situação irregular. Art. 3º A política migratória brasileira rege-se pelos seguintes princípios e diretrizes: I - universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos; II - repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação; III - não criminalização da migração; IV - não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos quais a pessoa foi admitida em território nacional; V - promoção de entrada regular e de regularização documental; VI - acolhida humanitária; VII - desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural, esportivo, científico e tecnológico do Brasil; VIII - garantia do direito à reunião familiar; IX - igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares; X - inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas; XI - acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios sociais, bens públicos, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade social; XII - promoção e difusão de direitos, liberdades, garantias e obrigações do migrante; XIII - diálogo social na formulação, na execução e na avaliação de políticas migratórias e promoção da participação cidadã do migrante; XIV - fortalecimento da integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, mediante constituição de espaços de cidadania e de livre circulação de pessoas; XV - cooperação internacional com Estados de origem, de trânsito e de destino de movimentos migratórios, a fim de garantir efetiva proteção aos direitos humanos do migrante; XVI - integração e desenvolvimento das regiões de fronteira e articulação de políticas públicas regionais capazes de garantir efetividade aos direitos do residente fronteiriço; XVII - proteção integral e atenção ao superior interesse da criança e do adolescente migrante; XVIII - observância ao disposto em tratado; XIX - proteção ao brasileiro no exterior; XX - migração e desenvolvimento humano no local de origem, como direitos inalienáveis de todas as pessoas; karin Retângulo karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 6 XXI - promoção do reconhecimento acadêmico e do exercício profissional no Brasil, nos termos da lei; e XXII - repúdio a práticas de expulsão ou de deportação coletivas. Art. 4º Ao migrante é garantida no território nacional, em condição de igualdade com os nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, bem como são assegurados: I - direitos e liberdades civis, sociais, culturais e econômicos; II - direito à liberdade de circulação em território nacional; III - direito à reunião familiar do migrante com seu cônjuge ou companheiro e seus filhos, familiares e dependentes; IV - medidas de proteção a vítimas e testemunhas de crimes e de violações de direitos; V - direito de transferir recursos decorrentes de sua renda e economias pessoais a outro país, observada a legislação aplicável; VI - direito de reunião para fins pacíficos; VII - direito de associação, inclusive sindical, para fins lícitos; VIII - acesso a serviços públicos de saúde e de assistência social e à previdência social, nos termos da lei, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; IX - amplo acesso à justiça e à assistência jurídica integral gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; X - direito à educação pública, vedada a discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; XI - garantia de cumprimento de obrigações legais e contratuais trabalhistas e de aplicação das normas de proteção ao trabalhador, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; XII - isenção das taxas de que trata esta Lei, mediante declaração de hipossuficiência econômica, na forma de regulamento; XIII - direito de acesso à informação e garantia de confidencialidade quanto aos dados pessoais do migrante, nos termos da Lei no 12.527, de 18 de novembro de 2011; XIV - direito a abertura de conta bancária; XV - direito de sair, de permanecer e de reingressar em território nacional, mesmo enquanto pendente pedido de autorização de residência, de prorrogação de estada ou de transformação de visto em autorização de residência; e XVI - direito do imigrante de ser informado sobre as garantias que lhe são asseguradas para fins de regularização migratória. Os direitos e as garantias previstos na Lei de Migração serão exercidos em observância ao disposto na Constituição Federal, independentemente da situação migratória, e não excluem outros decorrentes de tratado de que o Brasil seja parte. karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 7 2. Da Situação Documental do Migrante e do Visitante 2.1. Dos Documentos de Viagem Art. 5º São documentos de viagem: I - passaporte; II - laissez-passer; III - autorização de retorno; IV - salvo-conduto; V - carteira de identidade de marítimo; VI - carteira de matrícula consular; VII - documento de identidade civil ou documento estrangeiro equivalente, quando admitidos em tratado; VIII - certificado de membro de tripulação de transporte aéreo; e IX - outros que vierem a ser reconhecidos pelo Estado brasileiro em regulamento. O documento de viagem mais conhecido certamente é o passaporte, mas existem vários outros. Se você já viajou a algum país com laços mais próximos do Brasil, como os países do Mercosul, por exemplo, sabe que é possível aos brasileiros visitar esses países apresentando apenas a carteira de identidade. Da mesma forma, em razão do princípio da reciprocidade, os nacionais desses países podem entrar no Brasil apresentando os mesmos documentos. Os documentos que estão marcados em azul, quando emitidos pelo Estado brasileiro, são de propriedade da União, cabendo a seu titular a posse direta e o uso regular. karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 8 2.2. Dos Vistos Art. 6º O visto é o documento que dá a seu titular expectativa de ingresso em território nacional. O visto é basicamente o documento que autoriza a entrada de um estrangeiro no país. Em regra, esses vistos são concedidos no exterior (por pressuposto lógico, já que o estrangeiro precisa dele para entrar!), mas os vistos diplomático, oficial e de cortesia podem ser excepcionalmente concedidos no Brasil. Em regra, os órgãos competentes para conceder vistos são as embaixadas, os consulados-gerais, consulados, vice-consulados e, quando habilitados pelo órgão competente do Poder Executivo, os escritórios comerciais e de representação do Brasil no exterior. Documentos de viagem são de propriedade da União, cabendo a seu titular a posse direta e o uso regular passaporte laissez-passer autorização de retorno salvo-conduto carteira de identidade de marítimo carteira de matrícula consular outros que vierem a ser reconhecidos pelo Estado brasileiro em regulamento não são de propriedade da União documento de identidade civil ou documento estrangeiro equivalente, quando admitidos em tratado certificado de membro de tripulação de transporte aéreo karin Destacar 9 A lei prevê expressamente também a possibilidade da cobrança de taxas e emolumentos consularespelo processamento do visto. Os vistos diplomático, oficial e de cortesia podem ser excepcionalmente concedidos no Brasil. Art. 10. Não se concederá visto: I - a quem não preencher os requisitos para o tipo de visto pleiteado; II - a quem comprovadamente ocultar condição impeditiva de concessão de visto ou de ingresso no País; ou III - a menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado ou sem autorização de viagem por escrito dos responsáveis legais ou de autoridade competente. Art. 11. Poderá ser denegado visto a quem se enquadrar em pelo menos um dos casos de impedimento definidos nos incisos I, II, III, IV e IX do art. 45. Parágrafo único. A pessoa que tiver visto brasileiro denegado será impedida de ingressar no País enquanto permanecerem as condições que ensejaram a denegação. Nas situações descritas no art. 10 não poderá ser concedido o visto. A primeira hipótese é o não preenchimento dos requisitos, que dependem da modalidade de visto a ser concedido. Temos ainda a proibição de concessão de visto a quem ocupar condição impeditiva de concessão de visto ou de ingresso no país. Aqui devemos mencionar o art. 45. Art. 45. Poderá ser impedida de ingressar no País, após entrevista individual e mediante ato fundamentado, a pessoa: I - anteriormente expulsa do País, enquanto os efeitos da expulsão vigorarem; II - condenada ou respondendo a processo por ato de terrorismo ou por crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002; III - condenada ou respondendo a processo em outro país por crime doloso passível de extradição segundo a lei brasileira; IV - que tenha o nome incluído em lista de restrições por ordem judicial ou por compromisso assumido pelo Brasil perante organismo internacional; V - que apresente documento de viagem que: a) não seja válido para o Brasil; b) esteja com o prazo de validade vencido; ou c) esteja com rasura ou indício de falsificação; VI - que não apresente documento de viagem ou documento de identidade, quando admitido; karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 10 VII - cuja razão da viagem não seja condizente com o visto ou com o motivo alegado para a isenção de visto; VIII - que tenha, comprovadamente, fraudado documentação ou prestado informação falsa por ocasião da solicitação de visto; ou IX - que tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal. Parágrafo único. Ninguém será impedido de ingressar no País por motivo de raça, religião, nacionalidade, pertinência a grupo social ou opinião política. Em terceiro lugar temos a proibição da concessão de visto para menor de 18 anos desacompanhado ou sem autorização de viagem por escrito dos responsáveis legais ou de autoridade competente. A lei prevê em seu art. 12 cinco modalidades diferentes de vistos. É preciso saber os detalhes sobre cada um deles? SIM! Acredito que este seja um dos principais pontos da nossa aula de hoje. Na tabela a seguir temos todas as informações que você precisa conhecer sobre cada modalidade. Por favor leia isso várias vezes, ok!? TIPOS DE VISTO Visto de visita - O visto de visita poderá ser concedido ao visitante que venha ao Brasil para estada de curta duração, sem intenção de estabelecer residência, nos seguintes casos: I - turismo; II - negócios; III - trânsito; IV - atividades artísticas ou desportivas; e Vistos de visita temporário diplomático oficial de cortesia karin Retângulo karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 11 V - outras hipóteses definidas em regulamento. - É vedado ao beneficiário de visto de visita exercer atividade remunerada no Brasil. - O beneficiário de visto de visita poderá receber pagamento do governo, de empregador brasileiro ou de entidade privada a título de diária, ajuda de custo, cachê, pró-labore ou outras despesas com a viagem, bem como concorrer a prêmios, inclusive em dinheiro, em competições desportivas ou em concursos artísticos ou culturais. - O visto de visita não será exigido em caso de escala ou conexão em território nacional, desde que o visitante não deixe a área de trânsito internacional. Visto temporário - O visto temporário poderá ser concedido ao imigrante que venha ao Brasil com o intuito de estabelecer residência por tempo determinado e que se enquadre em pelo menos uma das seguintes hipóteses: I - o visto temporário tenha como finalidade: a) pesquisa, ensino ou extensão acadêmica; b) tratamento de saúde; c) acolhida humanitária; d) estudo; e) trabalho; f) férias-trabalho; g) prática de atividade religiosa ou serviço voluntário; h) realização de investimento ou de atividade com relevância econômica, social, científica, tecnológica ou cultural; i) reunião familiar; j) atividades artísticas ou desportivas com contrato por prazo determinado; karin Destacar karin Destacar 12 II - o imigrante seja beneficiário de tratado em matéria de vistos; III - outras hipóteses definidas em regulamento. - O visto temporário para pesquisa, ensino ou extensão acadêmica poderá ser concedido ao imigrante com ou sem vínculo empregatício com a instituição de pesquisa ou de ensino brasileira, exigida, na hipótese de vínculo, a comprovação de formação superior compatível ou equivalente reconhecimento científico. - O visto temporário para tratamento de saúde poderá ser concedido ao imigrante e a seu acompanhante, desde que o imigrante comprove possuir meios de subsistência suficientes. - O visto temporário para acolhida humanitária poderá ser concedido ao apátrida ou ao nacional de qualquer país em situação de grave ou iminente instabilidade institucional, de conflito armado, de calamidade de grande proporção, de desastre ambiental ou de grave violação de direitos humanos ou de direito internacional humanitário, ou em outras hipóteses, na forma de regulamento. - O visto temporário para estudo poderá ser concedido ao imigrante que pretenda vir ao Brasil para frequentar curso regular ou realizar estágio ou intercâmbio de estudo ou de pesquisa. - Observadas as hipóteses previstas em regulamento, o visto temporário para trabalho poderá ser concedido ao imigrante que venha exercer atividade laboral, com ou sem vínculo empregatício no Brasil, desde que comprove oferta de trabalho formalizada por pessoa jurídica em atividade no País, dispensada esta exigência se o imigrante comprovar titulação em curso de ensino superior ou equivalente. - O visto temporário para férias-trabalho poderá ser concedido ao imigrante maior de 16 (dezesseis) anos que seja nacional de país que conceda idêntico benefício ao nacional brasileiro, em termos definidos por comunicação diplomática. - Não se exigirá do marítimo que ingressar no Brasil em viagem de longo curso ou em cruzeiros marítimos pela costa brasileira o visto temporário para trabalho, bastando a apresentação da carteira internacional de marítimo, nos termos de regulamento. karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 13 - É reconhecida ao imigrante a quem se tenha concedido visto temporário para trabalho a possibilidade de modificação do local de exercício de sua atividade laboral. - O visto para realização de investimento poderá ser concedido ao imigrante que aporte recursos em projeto com potencial para geração de empregos ou de renda no País. Visto diplomático - Os vistos diplomático e oficial poderão ser transformados em autorização de residência, o que importará cessação de todas as prerrogativas, privilégios e imunidades decorrentes do respectivo visto. - Os vistos diplomático e oficial poderão ser concedidos a autoridades e funcionários estrangeirosque viajem ao Brasil em missão oficial de caráter transitório ou permanente, representando Estado estrangeiro ou organismo internacional reconhecido. - Não se aplica ao titular desses vistos o disposto na legislação trabalhista brasileira. - Os vistos diplomático e oficial poderão ser estendidos aos dependentes das autoridades beneficiadas pelo visto. - O titular de visto diplomático ou oficial somente poderá ser remunerado por Estado estrangeiro ou organismo internacional, ressalvado o disposto em tratado que contenha cláusula específica sobre o assunto. - O dependente de titular de visto diplomático ou oficial poderá exercer atividade remunerada no Brasil, sob o amparo da legislação trabalhista brasileira, desde que seja nacional de país que assegure reciprocidade de tratamento ao nacional brasileiro, por comunicação diplomática. Visto oficial Visto de cortesia - O empregado particular titular de visto de cortesia somente poderá exercer atividade remunerada para o titular de visto diplomático, oficial ou de cortesia ao qual esteja vinculado, sob o amparo da legislação trabalhista brasileira. - O titular de visto diplomático, oficial ou de cortesia será responsável pela saída de seu empregado do território nacional. karin Destacar karin Destacar karin Destacar 14 2.3. Do Registro de Identificação Civil do Imigrante e dos Detentores de Vistos Diplomático, Oficial e de Cortesia Art. 19. O registro consiste na identificação civil por dados biográficos e biométricos, e é obrigatório a todo imigrante detentor de visto temporário ou de autorização de residência. Todo imigrante que entre no país sob com visto temporário ou autorização de residência deverá ser registrado. Esse procedimento é de competência da Polícia Federal. O registro gerará número único de identificação que garantirá o pleno exercício dos atos da vida civil. O documento de identidade do imigrante então será expedido com base nesse número único de identificação. O problema é que esse documento de identificação frequentemente demora meses para ficar pronto. Enquanto não for expedida a identificação civil, o documento comprobatório de que o imigrante a solicitou à autoridade competente garantirá ao titular o acesso aos direitos disciplinados nesta Lei. A lei traz ainda disposições específicas acerca de situações excepcionais, como as de refúgio, asilo, apatridia e acolhimento humanitário. Nesses casos é importante flexibilizar alguns requisitos, já que essas pessoas estão em situação bastante vulnerável. Art. 20. A identificação civil de solicitante de refúgio, de asilo, de reconhecimento de apatridia e de acolhimento humanitário poderá ser realizada com a apresentação dos documentos de que o imigrante dispuser. 3. Da Condição Jurídica do Migrante e do Visitante 3.1. Do Residente Fronteiriço Art. 23. A fim de facilitar a sua livre circulação, poderá ser concedida ao residente fronteiriço, mediante requerimento, autorização para a realização de atos da vida civil. Parágrafo único. Condições específicas poderão ser estabelecidas em regulamento ou tratado. Você lembra quem é o residente fronteiriço? É a pessoa nacional de país limítrofe ou apátrida que conserva a sua residência habitual em município fronteiriço de país vizinho. Há alguns anos eu tive a oportunidade de morar em uma região de fronteira (Santana do Livramento-RS, fronteira com o Uruguai). Lá conheci vários fronteiriços. Eram brasileiros ou uruguaios que viviam entre os dois países. Nesses lugares é comum, por exemplo, que uma família tenha um cônjuge de uma nacionalidade, outro de outra, que morem de um lado da fronteira e os filhos vão para a escola no outro país, e por aí vai... A autorização para o fronteiriço, mencionada pelo art. 23, deverá indicar o município de fronteira no qual o residente estará autorizado a exercer os direitos a ele atribuídos pela lei. O espaço geográfico de abrangência e de validade da autorização será especificado no documento de residente fronteiriço. Por fim, o documento de residente fronteiriço será cancelado se o titular tiver feito algo descrito pelo art. 25: karin Destacar karin Destacar 15 a) tiver fraudado documento ou utilizado documento falso para obtê-lo; b) obtiver outra condição migratória; c) sofrer condenação penal; ou d) exercer direito fora dos limites previstos na autorização. 3.2. Da Proteção do Apátrida e da Redução da Apatridia Art. 26. Regulamento disporá sobre instituto protetivo especial do apátrida, consolidado em processo simplificado de naturalização. A lei concede proteção especial ao apátrida, prevendo que o regulamento trará um procedimento simplificado de naturalização. Lembro a você que o apátrida é a pessoa que não seja considerada como nacional por nenhum Estado. Aplicam-se ao apátrida residente todos os direitos atribuídos ao migrante. O processo de reconhecimento da condição de apátrida tem como objetivo verificar se o solicitante é considerado nacional pela legislação de algum Estado e, além disso, esse procedimento poderá considerar informações, documentos e declarações prestadas pelo próprio solicitante e por órgãos e organismos nacionais e internacionais. Uma vez reconhecida a condição de apátrida, o solicitante será consultado sobre o desejo de adquirir a nacionalidade brasileira. Caso ele opte pela naturalização, a decisão sobre o reconhecimento será encaminhada ao órgão competente do Poder Executivo para publicação dos atos necessários à naturalização no prazo de 30 dias. Por outro lado, o apátrida reconhecido que não opte pela naturalização imediata terá a autorização de residência outorgada em caráter definitivo. Se a condição de apátrida for negada, caberá recursos administrativo. Subsistindo a decisão negativa, a lei proíbe a devolução do indivíduo para algum país onde sua vida, integridade pessoal ou liberdade estejam em risco. Por fim, temos a previsão do § 12 do art. 26, que trata das situações que o beneficiado perderá a proteção conferida pela lei ao apátrida. § 12. Implica perda da proteção conferida por esta Lei: I - a renúncia; II - a prova da falsidade dos fundamentos invocados para o reconhecimento da condição de apátrida; ou III - a existência de fatos que, se fossem conhecidos por ocasião do reconhecimento, teriam ensejado decisão negativa. karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 16 O apátrida, quando essa condição for reconhecida pelo Estado brasileiro, poderá optar por processo simplificado de naturalização (atos de naturalização publicados no prazo máximo de 30 dias) ou pela residência permanente. 3.3. Do Asilado Art. 27. O asilo político, que constitui ato discricionário do Estado, poderá ser diplomático ou territorial e será outorgado como instrumento de proteção à pessoa. O asilo político é um instituto bastante complexo e estudado com muita profundidade pelo Direito Internacional. Nossa intenção aqui não é nos aprofundar nessa explicação, mas você deve saber que o asilo político é um ato discricionário do Estado, e que serve para proteger pessoas que estão em perigo. Os detalhes sobre a concessão e a manutenção de asilo pelo Brasil devem ser objeto de regulamento. Além disso, a lei determina que não se concederá asilo a quem tenha cometido crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão. Por fim, se o asilado sair do País sem prévia comunicação, isso implicará em renúncia ao asilo. A lei determina que não se concederá asilo político a quem tenha cometido crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão. Além disso, se o asilado sair do País sem prévia comunicação, isso implicará em renúncia ao asilo. 3.4. Da Autorização da Residência A residência de imigrante no Brasil poderá ser autorizada, mediante registro(inclusive com o pagamento de taxas), em alguns casos específicos, descritos no art. 30. É muito importante que você leia esse dispositivo com muita atenção, ok!? Art. 30. A residência poderá ser autorizada, mediante registro, ao imigrante, ao residente fronteiriço ou ao visitante que se enquadre em uma das seguintes hipóteses: I - a residência tenha como finalidade: a) pesquisa, ensino ou extensão acadêmica; b) tratamento de saúde; c) acolhida humanitária; d) estudo; e) trabalho; f) férias-trabalho; karin Destacar karin Destacar karin Destacar 17 g) prática de atividade religiosa ou serviço voluntário; h) realização de investimento ou de atividade com relevância econômica, social, científica, tecnológica ou cultural; i) reunião familiar; II - a pessoa: a) seja beneficiária de tratado em matéria de residência e livre circulação; b) seja detentora de oferta de trabalho; c) já tenha possuído a nacionalidade brasileira e não deseje ou não reúna os requisitos para readquiri-la; d) (VETADO); e) seja beneficiária de refúgio, de asilo ou de proteção ao apátrida; f) seja menor nacional de outro país ou apátrida, desacompanhado ou abandonado, que se encontre nas fronteiras brasileiras ou em território nacional; g) tenha sido vítima de tráfico de pessoas, de trabalho escravo ou de violação de direito agravada por sua condição migratória; h) esteja em liberdade provisória ou em cumprimento de pena no Brasil; III - outras hipóteses definidas em regulamento. § 1º Não se concederá a autorização de residência a pessoa condenada criminalmente no Brasil ou no exterior por sentença transitada em julgado, desde que a conduta esteja tipificada na legislação penal brasileira, ressalvados os casos em que: I - a conduta caracterize infração de menor potencial ofensivo; II - (VETADO); ou III - a pessoa se enquadre nas hipóteses previstas nas alíneas “b”, “c” e “i” do inciso I e na alínea “a” do inciso II do caput deste artigo. § 2º O disposto no § 1o não obsta progressão de regime de cumprimento de pena, nos termos da Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984, ficando a pessoa autorizada a trabalhar quando assim exigido pelo novo regime de cumprimento de pena. § 3º Nos procedimentos conducentes ao cancelamento de autorização de residência e no recurso contra a negativa de concessão de autorização de residência devem ser respeitados o contraditório e a ampla defesa. Perceba que temos requisitos relacionados ao que a pessoa pretende fazer no Brasil, e outros relacionados às condições do pretendente à autorização de residência. Além disso, temos situações em que a autorização não poderá ser concedida, relacionadas principalmente à pessoa condenada criminalmente no Brasil ou no exterior, mas com algumas ponderações. Essa vedação não será aplicada quando a conduta pela qual ele foi condenado caracterizar infração de menor potencial ofensivo (contravenção ou penal ou crime cuja pena máxima seja de até 2 anos), bem como nos casos de tratamento de saúde, acolhida humanitária, e reunião familiar. 18 A Lei de Migração prevê situações em que a autorização de residência não poderá ser concedida, relacionadas principalmente à pessoa condenada criminalmente no Brasil ou no exterior, mas com algumas ponderações. Essa vedação não será aplicada quando a conduta pela qual ele foi condenado caracterizar infração de menor potencial ofensivo (contravenção ou penal ou crime cuja pena máxima seja de até 2 anos), bem como nos casos de tratamento de saúde, acolhida humanitária, e reunião familiar. Art. 35. A posse ou a propriedade de bem no Brasil não confere o direito de obter visto ou autorização de residência em território nacional, sem prejuízo do disposto sobre visto para realização de investimento. Art. 36. O visto de visita ou de cortesia poderá ser transformado em autorização de residência, mediante requerimento e registro, desde que satisfeitos os requisitos previstos em regulamento. O fato de o migrante ter bens no Brasil não lhe facilita a obtenção de visto ou autorização de residência no Brasil. Esse é um ponto importante, e acredito que poderá ser cobrado em provas. Por fim, devemos falar sobre a negativa da autorização, conforme previsão do art. 34. Como o dispositivo faz menção ao art. 45, vamos relembrar esse dispositivo também. Art. 34. Poderá ser negada autorização de residência com fundamento nas hipóteses previstas nos incisos I, II, III, IV e IX do art. 45. [...] Art. 45. Poderá ser impedida de ingressar no País, após entrevista individual e mediante ato fundamentado, a pessoa: I - anteriormente expulsa do País, enquanto os efeitos da expulsão vigorarem; II - condenada ou respondendo a processo por ato de terrorismo ou por crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002; III - condenada ou respondendo a processo em outro país por crime doloso passível de extradição segundo a lei brasileira; IV - que tenha o nome incluído em lista de restrições por ordem judicial ou por compromisso assumido pelo Brasil perante organismo internacional; V - que apresente documento de viagem que: a) não seja válido para o Brasil; b) esteja com o prazo de validade vencido; ou c) esteja com rasura ou indício de falsificação; VI - que não apresente documento de viagem ou documento de identidade, quando admitido; karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 19 VII - cuja razão da viagem não seja condizente com o visto ou com o motivo alegado para a isenção de visto; VIII - que tenha, comprovadamente, fraudado documentação ou prestado informação falsa por ocasião da solicitação de visto; ou IX - que tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal. Parágrafo único. Ninguém será impedido de ingressar no País por motivo de raça, religião, nacionalidade, pertinência a grupo social ou opinião política. 3.5. Da Reunião Familiar Art. 37. O visto ou a autorização de residência para fins de reunião familiar será concedido ao imigrante: I - cônjuge ou companheiro, sem discriminação alguma; II - filho de imigrante beneficiário de autorização de residência, ou que tenha filho brasileiro ou imigrante beneficiário de autorização de residência; III - ascendente, descendente até o segundo grau ou irmão de brasileiro ou de imigrante beneficiário de autorização de residência; ou IV - que tenha brasileiro sob sua tutela ou guarda. O visto ou autorização de residência para reunião familiar basicamente serve para que uma família que, em parte, é formada por migrantes, fique reunida. A lei estabelece quais são os vínculos de parentesco que justificam a concessão do visto ou a autorização de residência nesses casos. 4. Da Entrada e da Saída do Território Nacional 4.1. Da Fiscalização Marítima, Aeroportuária e de Fronteira Art. 38. As funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteira serão realizadas pela Polícia Federal nos pontos de entrada e de saída do território nacional. Parágrafo único. É dispensável a fiscalização de passageiro, tripulante e estafe de navio em passagem inocente, exceto quando houver necessidade de descida de pessoa a terra ou de subida a bordo do navio. Se você já saiu do país, sabe que sempre precisamos passar pela Polícia Federal para um procedimento de registro. Isso acontece porque a Polícia Federal é competente para exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteira no Brasil. A lei estabelece ainda uma exceção a essa necessidade de fiscalização, dispensando o procedimento quanto ao passageiro, tripulante e estafe de navio em passagem inocente, não ser que essas pessoas precisem descer a terra ou subir a bordo. Até que seu documentode viagem tenha sido verificado, o viajante deverá permanecer na área de fiscalização, salvo nos casos especificamente previstos em lei. A lei também prevê a possibilidade de admissão excepcional no País de quem esteja em certas condições, conforme art. 40. karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 20 Art. 40. Poderá ser autorizada a admissão excepcional no País de pessoa que se encontre em uma das seguintes condições, desde que esteja de posse de documento de viagem válido: I - não possua visto; II - seja titular de visto emitido com erro ou omissão; III - tenha perdido a condição de residente por ter permanecido ausente do País na forma especificada em regulamento e detenha as condições objetivas para a concessão de nova autorização de residência; IV - (VETADO); ou V - seja criança ou adolescente desacompanhado de responsável legal e sem autorização expressa para viajar desacompanhado, independentemente do documento de viagem que portar, hipótese em que haverá imediato encaminhamento ao Conselho Tutelar ou, em caso de necessidade, a instituição indicada pela autoridade competente. Parágrafo único. Regulamento poderá dispor sobre outras hipóteses excepcionais de admissão, observados os princípios e as diretrizes desta Lei. Além das hipóteses do art. 40, temos a previsão de admissão no território nacional do tripulante ou passageiro que for obrigado a interromper a viagem. Art. 42. O tripulante ou o passageiro que, por motivo de força maior, for obrigado a interromper a viagem em território nacional poderá ter seu desembarque permitido mediante termo de responsabilidade pelas despesas decorrentes do transbordo. 4.2. Do Impedimento de Ingresso Nesta seção temos o art. 45, que já mencionei nesta aula, e que prevê as situações em que a pessoa poderá ser impedida de entrar no país. Art. 45. Poderá ser impedida de ingressar no País, após entrevista individual e mediante ato fundamentado, a pessoa: I - anteriormente expulsa do País, enquanto os efeitos da expulsão vigorarem; II - condenada ou respondendo a processo por ato de terrorismo ou por crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002; III - condenada ou respondendo a processo em outro país por crime doloso passível de extradição segundo a lei brasileira; IV - que tenha o nome incluído em lista de restrições por ordem judicial ou por compromisso assumido pelo Brasil perante organismo internacional; V - que apresente documento de viagem que: a) não seja válido para o Brasil; b) esteja com o prazo de validade vencido; ou c) esteja com rasura ou indício de falsificação; VI - que não apresente documento de viagem ou documento de identidade, quando admitido; karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 21 VII - cuja razão da viagem não seja condizente com o visto ou com o motivo alegado para a isenção de visto; VIII - que tenha, comprovadamente, fraudado documentação ou prestado informação falsa por ocasião da solicitação de visto; ou IX - que tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal. Parágrafo único. Ninguém será impedido de ingressar no País por motivo de raça, religião, nacionalidade, pertinência a grupo social ou opinião política. 5. Das Medidas de Retirada Compulsória Art. 47. A repatriação, a deportação e a expulsão serão feitas para o país de nacionalidade ou de procedência do migrante ou do visitante, ou para outro que o aceite, em observância aos tratados dos quais o Brasil seja parte. A repatriação, a deportação e a expulsão são modalidades de retirada compulsória, que sempre levarão o migrante ou visitante ao seu país de nacionalidade ou de procedência ou, ainda, para outro que o aceite. No quadro a seguir temos os detalhes sobre cada uma dessas modalidades de retirada compulsória. RETIRADA COMPULSÓRIA REPATRIAÇÃO - A repatriação consiste em medida administrativa de devolução de pessoa em situação de impedimento ao país de procedência ou de nacionalidade. - Será feita imediata comunicação do ato fundamentado de repatriação à empresa transportadora e à autoridade consular do país de procedência ou de nacionalidade do migrante ou do visitante, ou a quem o representa. - Condições específicas de repatriação podem ser definidas por regulamento ou tratado, observados os princípios e as garantias previstos nesta Lei. Retirada compulsória Repatriação Deportação Expulsão karin Destacar karin Destacar karin Retângulo karin Retângulo 22 - Não será aplicada medida de repatriação à pessoa em situação de refúgio ou de apatridia, de fato ou de direito, ao menor de 18 anos desacompanhado ou separado de sua família, exceto nos casos em que se demonstrar favorável para a garantia de seus direitos ou para a reintegração a sua família de origem, ou a quem necessite de acolhimento humanitário, nem, em qualquer caso, medida de devolução para país ou região que possa apresentar risco à vida, à integridade pessoal ou à liberdade da pessoa. DEPORTAÇÃO - A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em território nacional. - A deportação será precedida de notificação pessoal ao deportando, da qual constem, expressamente, as irregularidades verificadas e prazo para a regularização não inferior a 60 dias, podendo ser prorrogado, por igual período, por despacho fundamentado e mediante compromisso de a pessoa manter atualizadas suas informações domiciliares. - A notificação prevista não impede a livre circulação em território nacional, devendo o deportando informar seu domicílio e suas atividades. Vencido esse prazo sem que se regularize a situação migratória, a deportação poderá ser executada. - A deportação não exclui eventuais direitos adquiridos em relações contratuais ou decorrentes da lei brasileira. - A saída voluntária de pessoa notificada para deixar o País equivale ao cumprimento da notificação de deportação para todos os fins. - O prazo previsto de 60 dias poderá ser reduzido nos casos em que a pessoa tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal. - Os procedimentos de deportação devem respeitar o contraditório e a ampla defesa e a garantia de recurso com efeito suspensivo. - A Defensoria Pública da União deverá ser notificada, preferencialmente por meio eletrônico, para prestação de assistência ao deportando em todos os procedimentos administrativos de deportação. - A ausência de manifestação da Defensoria Pública da União, desde que prévia e devidamente notificada, não impedirá a efetivação da medida de deportação. karin Retângulo 23 - Em se tratando de apátrida, o procedimento de deportação dependerá de prévia autorização da autoridade competente. - Não se procederá à deportação se a medida configurar extradição não admitida pela legislação brasileira. EXPULSÃO - A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado. - Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa à prática de: I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002; ou II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território nacional. - Caberá à autoridade competenteresolver sobre a expulsão, a duração do impedimento de reingresso e a suspensão ou a revogação dos efeitos da expulsão. - O processamento da expulsão em caso de crime comum não prejudicará a progressão de regime, o cumprimento da pena, a suspensão condicional do processo, a comutação da pena ou a concessão de pena alternativa, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de quaisquer benefícios concedidos em igualdade de condições ao nacional brasileiro. - O prazo de vigência da medida de impedimento vinculada aos efeitos da expulsão será proporcional ao prazo total da pena aplicada e nunca será superior ao dobro de seu tempo. - Não se procederá à expulsão quando: I - a medida configurar extradição inadmitida pela legislação brasileira; II - o expulsando: a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela; karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 24 b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma, reconhecido judicial ou legalmente; c) tiver ingressado no Brasil até os 12 anos de idade, residindo desde então no País; d) for pessoa com mais de 70 anos que resida no País há mais de 10 anos, considerados a gravidade e o fundamento da expulsão; ou - Regulamento definirá procedimentos para apresentação e processamento de pedidos de suspensão e de revogação dos efeitos das medidas de expulsão e de impedimento de ingresso e permanência em território nacional. - Regulamento disporá sobre condições especiais de autorização de residência para viabilizar medidas de ressocialização a migrante e a visitante em cumprimento de penas aplicadas ou executadas em território nacional. - No processo de expulsão serão garantidos o contraditório e a ampla defesa. - A Defensoria Pública da União será notificada da instauração de processo de expulsão, se não houver defensor constituído. - Caberá pedido de reconsideração da decisão sobre a expulsão no prazo de 10 dias, a contar da notificação pessoal do expulsando. - Será considerada regular a situação migratória do expulsando cujo processo esteja pendente de decisão. - A existência de processo de expulsão não impede a saída voluntária do expulsando do País. Art. 61. Não se procederá à repatriação, à deportação ou à expulsão coletivas. Nos termos da Lei de Migração, devemos entender por repatriação, deportação ou expulsão coletiva aquela que não individualiza a situação migratória irregular de cada pessoa. Além disso, a lei proíbe ainda a repatriação, deportação ou expulsão de nenhum indivíduo quando subsistirem razões para acreditar que a medida poderá colocar em risco a vida ou a integridade pessoal. karin Retângulo karin Destacar 25 6. Da Opção de Nacionalidade e da Naturalização 6.1. Da Opção de Nacionalidade Art. 63. O filho de pai ou de mãe brasileiro nascido no exterior e que não tenha sido registrado em repartição consular poderá, a qualquer tempo, promover ação de opção de nacionalidade. Essa opção de nacionalidade do filho de pai ou mãe brasileiro encontra previsão no art. 12, I, “c” da Constituição Federal. Art. 12. São brasileiros: I - natos: [...] c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; 6.2. Das Condições da Naturalização A naturalização nada mais é do que a aquisição derivada da nacionalidade brasileira. Essa naturalização pode ocorrer em quatro modalidades diferentes. NATURALIZAÇÃO ORDINÁRIA - Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as seguintes condições: I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira; II - ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de 4 anos; Naturalização Ordinária Extraordinária Especial Provisória karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Retângulo karin Destacar karin Destacar 26 III - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e IV - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei. - O prazo mínimo de residência de 4 anos será reduzido para, no mínimo, 1 ano se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições: I - ter filho brasileiro; II - ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não estar dele separado legalmente ou de fato no momento de concessão da naturalização; III - haver prestado ou poder prestar serviço relevante ao Brasil; ou IV - recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou artística. EXTRAORDINÁRIA - A naturalização extraordinária será concedida a pessoa de qualquer nacionalidade fixada no Brasil há mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeira a nacionalidade brasileira. ESPECIAL - A naturalização especial poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em uma das seguintes situações: I - seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 anos, de integrante do Serviço Exterior Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasileiro no exterior; ou II - seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição consular do Brasil por mais de 10 anos ininterruptos. - São requisitos para a concessão da naturalização especial: I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira; II - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e III - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei. PROVISÓRIA - A naturalização provisória poderá ser concedida ao migrante criança ou adolescente que tenha fixado residência em território nacional antes de completar 10 anos de idade e deverá ser requerida por intermédio de seu representante legal. karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 27 - A naturalização provisória será convertida em definitiva se o naturalizando expressamente assim o requerer no prazo de 2 anos após atingir a maioridade. 6.3. Dos Efeitos da Naturalização Art. 73. A naturalização produz efeitos após a publicação no Diário Oficial do ato de naturalização. Aqui temos um dispositivo de natureza puramente burocrática, determinando que a naturalização só produz efeitos com a publicação do ato pela imprensa oficial. 6.4. Da Perda da Nacionalidade Art. 75. O naturalizado perderá a nacionalidade em razão de condenação transitada em julgado por atividade nociva ao interesse nacional, nos termos do inciso I do § 4o do art. 12 da Constituição Federal. A perda da nacionalidade do naturalizado pode dar-se por decisão judicial condenatória transitada em julgado, em razão de atividade nociva ao interesse nacional. Além disso, a lei determina ainda que seja levada em consideração eventual situação de apatridia que possa ser gerada pela perda da nacionalidade. 6.5. Da Reaquisição da Nacionalidade Art. 76. O brasileiro que, em razão do previsto no inciso II do § 4º do art. 12 da Constituição Federal, houver perdido a nacionalidade, uma vez cessada a causa, poderá readquiri-la ou ter o ato que declarou a perda revogado, na forma definida pelo órgão competente do Poder Executivo. 7. Do Emigrante 7.1. Das Políticas Públicas para os Emigrantes Em primeiro lugar temos os princípios e diretrizes que devem orientar as políticas públicas para os emigrantes. Caso você não esteja familiarizado com o termo, lembre-se de que emigrante é o brasileiro que vai morar em outro país...! Art. 77. As políticas públicas para os emigrantes observarão os seguintes princípios e diretrizes: I - proteção e prestação de assistência consularpor meio das representações do Brasil no exterior; II - promoção de condições de vida digna, por meio, entre outros, da facilitação do registro consular e da prestação de serviços consulares relativos às áreas de educação, saúde, trabalho, previdência social e cultura; III - promoção de estudos e pesquisas sobre os emigrantes e as comunidades de brasileiros no exterior, a fim de subsidiar a formulação de políticas públicas; IV - atuação diplomática, nos âmbitos bilateral, regional e multilateral, em defesa dos direitos do emigrante brasileiro, conforme o direito internacional karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 28 V - ação governamental integrada, com a participação de órgãos do governo com atuação nas áreas temáticas mencionadas nos incisos I, II, III e IV, visando a assistir as comunidades brasileiras no exterior; e VI - esforço permanente de desburocratização, atualização e modernização do sistema de atendimento, com o objetivo de aprimorar a assistência ao emigrante. Esses princípios e diretrizes estão relacionados principalmente à proteção do brasileiro que mora no exterior. Esses nacionais precisam ter assistência especial, notadamente em situações que envolvam algum tipo de risco ou outras dificuldades. 7.2. Dos Direitos do Emigrante Art. 78. Todo emigrante que decida retornar ao Brasil com ânimo de residência poderá introduzir no País, com isenção de direitos de importação e de taxas aduaneiras, os bens novos ou usados que um viajante, em compatibilidade com as circunstâncias de sua viagem, puder destinar para seu uso ou consumo pessoal e profissional, sempre que, por sua quantidade, natureza ou variedade, não permitam presumir importação ou exportação com fins comerciais ou industriais. Quando um brasileiro decide viver no exterior e depois retorna ao Brasil, ele poderá entrar no país com seus bens (a mudança), desde que não fique caracterizada a finalidade comercial ou industrial desses bens. Em outras palavras, a pessoa precisa ter bens em quantidade razoável para uso pessoal, e não pode trazer mercadorias para fins comerciais. Temos ainda a obrigação estabelecida para as representações brasileiras no exterior de prestar assistência ao emigrante em caso de ameaça à paz social e à ordem pública por grave ou iminente instabilidade institucional ou de calamidade natural de grande proporção. 8. Das Medidas de Cooperação 8.1. Da Extradição Atenção! Este é um dos temas mais importantes da Lei de Migração. A extradição frequentemente é cobrada em provas de concursos, principalmente na área de Direito Constitucional, e, além disso, é um tema que aparece na mídia com bastante frequência. Art. 81. A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de processo penal em curso. A extradição é uma medida por meio da qual o Brasil entrega a outro país um indivíduo que cometeu um crime que é punido segundo as leis daquele país (e também do Brasil) a fim de que lá ele seja processado ou cumpra a pena por esse ilícito. Normalmente os países celebram tratados de extradição, que contêm todos os detalhes e trâmites, além de uma previsão mais específica das situações nas quais um indivíduo será extraditado. karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 29 “Professor, quer dizer então que se não houver tratado, não haverá extradição?” Não, caro aluno. É possível que a extradição ocorra mesmo sem um tratado prévio, e nesse caso o Brasil poderá entregar um estrangeiro a outro país se este lhe prometer que agirá da mesma forma quando o Brasil requerer a extradição de brasileiro que tenha cometido crime. A apreciação do caráter da infração caberá à autoridade judiciária, apesar de o processo ser conduzido pelo Poder Executivo. Art. 82. Não se concederá a extradição quando: I - o indivíduo cuja extradição é solicitada ao Brasil for brasileiro nato; II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente; III - o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando; IV - a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2 (dois) anos; V - o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido; VI - a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente; VII - o fato constituir crime político ou de opinião; VIII - o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de exceção; ou IX - o extraditando for beneficiário de refúgio, nos termos da Lei no 9.474, de 22 de julho de 1997, ou de asilo territorial. As hipóteses de vedação à extradição mudaram um pouco com a edição da Lei de Migração, e por isso você precisa ficar atento a esse dispositivo. Para facilitar as coisas, coloquei as informações num quadro esquemático. A seguir você tem os dispositivos do lado direito, e alguns comentários na coluna da esquerda. 30 Art. 82. Não se concederá a extradição quando: I - o indivíduo cuja extradição é solicitada ao Brasil for brasileiro nato; Na lei anterior havia vedação à extradição também de brasileiro naturalizado, salvo se a aquisição dessa nacionalidade tivesse ocorrido após o fato que motivar o pedido. Hoje a Lei de Migração diz que a extradição de brasileiro naturalizado é admitida nas hipóteses da Constituição Federal. II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente O fato precisa ser considerado crime não só pelo país que requer a extradição, mas também pelo Brasil. III - o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando; Algumas vezes crimes cometidos no exterior podem ser julgados no Brasil. Nesses casos não haverá extradição. IV - a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2 (dois) anos; Nesses crimes mais leves geralmente a pena de privação de liberdade é comutada em penas alternativas, como a prestação de serviços comunitários, por exemplo. Na lei anterior o limite da pena era de apenas 1 ano. V - o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido; Extraditar o estrangeiro nessa situação significaria permitir que ele fosse punido duas vezes pelo mesmo crime. VI - a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente; A lei dá um prazo para o Estado promover a punição do criminoso. Se o prazo previsto na lei brasileira já se tiver esgotado, não haverá extradição. VII - o fato constituir crime político ou de opinião; Crime político ou de opinião, no regime brasileiro, não é crime. Em países de regime totalitário essas condutas podem ser consideradas crimes. Essa previsão não impedirá a extradição quando o fato constituir, principalmente, infração à lei penal comum ou quando o crime comum, conexo ao delito político, constituir o fato principal. A Lei de Migração determina ainda que o Supremo Tribunal Federal poderá deixar de considerar crime político o atentado contra chefe de Estado ou quaisquer autoridades, bem como crime contra a humanidade, crime de guerra, crime de genocídio e terrorismo. karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 31 VIII - o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de exceção; ou O tribunal ou juízo de exceção é aquele constituído apenas para aquele julgamento específico, e por isso não se podegarantir sua imparcialidade. IX - o extraditando for beneficiário de refúgio, nos termos da Lei no 9.474, de 22 de julho de 1997, ou de asilo territorial. Art. 83. São condições para concessão da extradição: I - ter sido o crime cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis penais desse Estado; e II - estar o extraditando respondendo a processo investigatório ou a processo penal ou ter sido condenado pelas autoridades judiciárias do Estado requerente a pena privativa de liberdade. Para ser extraditado, o estrangeiro precisa ter cometido um crime. Perceba que esse é um fator que diferencia claramente a extradição da expulsão e da deportação, já que o deportado apenas entrou ou está no Brasil irregularmente, e o expulso cometeu algum ato que tornou sua presença inconveniente ou nociva, mas esse ato não é necessariamente um crime. Quer dizer então que se um estrangeiro cometer um crime no Brasil, ele será extraditado para o seu país de origem? Não necessariamente. Na realidade, a extradição serve para que um país que, na maioria das vezes, não tem nada a ver com o crime, entregue a outro país o estrangeiro para que lá seja julgado ou cumpra pena. Na maioria das vezes a extradição serve para corrigir a seguinte situação: o sujeito cometeu um crime em um país e fugiu para outro. Nada mais justo do que o país onde o crime foi cometido peça ao país que está abrigando o fugitivo que o entregue, não é mesmo No Brasil, tivemos um caso de pedido de extradição que se tornou histórico. Estou falando do britânico Ronald Biggs, que participou do famosíssimo assalto ao trem pagador, em 1963. Os ladrões, inclusive Biggs, foram presos em janeiro de 1964. Processado e condenado a 30 anos de prisão, Biggs foi para a penitenciária de Wandsworth (Londres), de onde conseguiu fugir 15 meses depois. Ele passou por cirurgias estéticas e viveu como foragido na Espanha, na Austrália e, principalmente, no Brasil, onde chegou na década de 1970. Ele teve até um filho com sua namorada Raimunda, Michael Biggs, que foi cantor do grupo infantil brasileiro Balão Mágico e hoje é empresário. Ao descobrir que o "ladrão do século" estava em solo brasileiro, o governo britânico iniciou uma batalha judicial para sua extradição. A questão, contudo, é que a legislação britânica não admite a formulação de pedido oficial de extradição a país com o qual não tenha tratado de extradição. O acordo entre o Brasil e o governo britânico só entrou em vigor em outubro de 1997 – 25 anos depois do assalto ao trem pagador. Você já pode imaginar o que aconteceu, não é mesmo? O julgamento do pedido de extradição pelo STF ocorreu 25 anos depois do crime, e, de acordo com as normas brasileiras relacionadas à prescrição, o audacioso assalto ao trem pagador havia prescrito há 5 anos. karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 32 Após meses de uma batalha judicial entre o governo britânico e a Justiça do Brasil, o STF arquivou oficialmente o pedido de extradição de Biggs em novembro de 1997. A prescrição do crime impediu o recebimento do pedido formulado pelo governo britânico, nos termos do inciso VI do art. 82. Art. 84. Em caso de urgência, o Estado interessado na extradição poderá, previamente ou conjuntamente com a formalização do pedido extradicional, requerer, por via diplomática ou por meio de autoridade central do Poder Executivo, prisão cautelar com o objetivo de assegurar a executoriedade da medida de extradição que, após exame da presença dos pressupostos formais de admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, deverá representar à autoridade judicial competente, ouvido previamente o Ministério Público Federal. Em caso de urgência, o Estado interessado poderá requerer, juntamente com o pedido de extradição ou antes, a prisão cautelar do extraditando, de forma a assegurar o cumprimento da extradição. O pedido de prisão cautelar deverá conter informação sobre o crime cometido e deverá ser fundamentado, podendo ser apresentado por correio, fax, mensagem eletrônica ou qualquer outro meio que assegure a comunicação por escrito. Esse pedido poderá ser transmitido à autoridade competente para extradição no Brasil por meio de canal estabelecido com o ponto focal da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) no País, juntamente com a documentação que comprove a existência de ordem de prisão proferida por Estado estrangeiro, e, em caso de ausência de tratado, com a promessa de reciprocidade recebida por via diplomática. A reciprocidade significa que o Estado estrangeiro se compromete a, num caso semelhante em que o Brasil requeira a medida, atuará da mesma forma. Uma vez efetivada a prisão do extraditando, o pedido de extradição será encaminhado à autoridade judiciária competente. Na ausência de regra específica em tratado, o Estado estrangeiro deverá formalizar o pedido de extradição no prazo de 60 dias, contado da data em que tiver sido cientificado da prisão do extraditando. A prisão cautelar poderá ser prorrogada até o julgamento final da autoridade judiciária competente quanto à legalidade do pedido de extradição. Caso o pedido de extradição não seja apresentado no prazo previsto, o extraditando deverá ser posto em liberdade, não se admitindo novo pedido de prisão cautelar pelo mesmo fato sem que a extradição tenha sido devidamente requerida. Em caso de urgência, o Estado interessado poderá requerer, juntamente com o pedido de extradição ou antes, a prisão cautelar do extraditando, de forma a assegurar o cumprimento da extradição. karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 33 Uma vez efetivada a prisão do extraditando, o pedido de extradição será encaminhado à autoridade judiciária competente. Na ausência de regra específica em tratado, o Estado estrangeiro deverá formalizar o pedido de extradição no prazo de 60 dias, contado da data em que tiver sido cientificado da prisão do extraditando. A prisão cautelar poderá ser prorrogada até o julgamento final da autoridade judiciária competente quanto à legalidade do pedido de extradição. Ainda a respeito da prisão, é importante que você conheça os arts. 86 e 87, que trata da possibilidade de concessão de prisão domiciliar ou de liberdade ao extraditando. Art. 86. O Supremo Tribunal Federal, ouvido o Ministério Público, poderá autorizar prisão albergue ou domiciliar ou determinar que o extraditando responda ao processo de extradição em liberdade, com retenção do documento de viagem ou outras medidas cautelares necessárias, até o julgamento da extradição ou a entrega do extraditando, se pertinente, considerando a situação administrativa migratória, os antecedentes do extraditando e as circunstâncias do caso. Art. 87. O extraditando poderá entregar-se voluntariamente ao Estado requerente, desde que o declare expressamente, esteja assistido por advogado e seja advertido de que tem direito ao processo judicial de extradição e à proteção que tal direito encerra, caso em que o pedido será decidido pelo Supremo Tribunal Federal. Art. 85. Quando mais de um Estado requerer a extradição da mesma pessoa, pelo mesmo fato, terá preferência o pedido daquele em cujo território a infração foi cometida. § 1º Em caso de crimes diversos, terá preferência, sucessivamente: I - o Estado requerente em cujo território tenha sido cometido o crime mais grave, segundo a lei brasileira; II - o Estado que em primeiro lugar tenha pedido a entrega do extraditando, se a gravidade dos crimes for idêntica; III - o Estado de origem, ou, em sua falta, o domiciliar do extraditando, se os pedidos forem simultâneos. § 2º Nos casos não previstos nesta Lei, o órgão competente do Poder Executivo decidirá sobre a preferência do pedido, priorizando o Estado requerente que mantiver tratado de extradição com o Brasil. § 3º Havendo tratado com algum dos Estadosrequerentes, prevalecerão suas normas no que diz respeito à preferência de que trata este artigo. Preste bastante atenção para compreender bem qual é a situação descrita no art. 85: dois ou mais países requerem a extradição de uma mesma pessoa, em razão do mesmo crime. Você pode estar se perguntando como mais de um país pode requerer a extradição da mesma pessoa se ela cometeu apenas um crime, não é mesmo? Ou o crime foi cometido em um país, ou foi em outro, não é verdade? Na realidade, isso tudo dependerá das leis penais de cada país. Algumas vezes, as leis penais podem estabelecer a competência para julgar crimes que ocorrem em território estrangeiro. No Direito Penal brasileiro, por exemplo, o crime ocorrido a bordo de uma aeronave ou navio a serviço do governo brasileiro deve ser julgado pelo Poder Judiciário brasileiro, ainda que a embarcação ou aeronave esteja em território estrangeiro. karin Destacar karin Destacar 34 É perfeitamente possível que um outro país tenha regra estabelecendo como sua competência apurar crimes cometidos em seu território, ainda que a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras. Agora imagine comigo: um sujeito comete crime a bordo de uma embarcação brasileira que está em território espanhol, e em seguida foge para o Japão. Numa situação como essa, tanto Espanha quanto Brasil poderia requerer a extradição do criminoso, não é mesmo? Se essa situação ocorrer num requerimento de extradição dirigido ao Brasil feito por mais de um país, terá preferência aquele em cujo território ocorreu o crime. A regra fica um pouco mais complexa quando o estrangeiro cometeu dois ou mais crimes, em países diferentes. Nesse caso, primeiramente será avaliada a gravidade dos crimes, tendo preferência aquele país onde foi cometido o crime mais grave. Se todos os crimes forem de gravidade idêntica, terá preferência o país que primeiramente requereu a extradição. Se os pedidos tiverem sido feitos simultaneamente, terá preferência o país de origem do extraditando. Se nenhum dos países requerentes for o de origem, a preferência será do país de domicílio do extraditando. Art. 88. Todo pedido que possa originar processo de extradição em face de Estado estrangeiro deverá ser encaminhado ao órgão competente do Poder Executivo diretamente pelo órgão do Poder Judiciário responsável pela decisão ou pelo processo penal que a fundamenta. Na redação do antigo Estatuto do Estrangeiro, havia a necessidade de o Estado estrangeiro apresentar cópia da decisão do Poder Judiciário, mas a atual redação da Lei de Migração determina que o pedido seja transmitido ao órgão competente do Poder Executivo diretamente pelo Poder Judiciário. Compete ao órgão do Poder Executivo o papel de orientação, de informação e de avaliação dos elementos formais de admissibilidade dos processos preparatórios para encaminhamento ao Estado requerido. Além disso, compete aos órgãos do sistema de Justiça vinculados ao processo penal gerador de pedido de extradição a apresentação de todos os documentos, manifestações e demais elementos necessários para o processamento do pedido, inclusive suas traduções oficiais. O pedido deverá ser instruído com cópia autêntica ou com o original da sentença condenatória ou da decisão penal proferida, conterá indicações precisas sobre o local, a data, a natureza e as circunstâncias do fato criminoso e a identidade do extraditando e será acompanhado de cópia dos textos legais sobre o crime, a competência, a pena e a prescrição. Art. 89. O pedido de extradição originado de Estado estrangeiro será recebido pelo órgão competente do Poder Executivo e, após exame da presença dos pressupostos formais de admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, encaminhado à autoridade judiciária competente. Primeiramente o pedido é encaminhado ao órgão competente do Poder Executivo, que será responsável por analisar os requisitos formais de admissibilidade. Se esses requisitos não forem preenchidos, o pedido será karin Destacar karin Destacar karin Destacar 35 arquivado mediante decisão fundamentada, sem prejuízo da possibilidade de renovação do pedido, devidamente instruído, uma vez superado o óbice apontado. Art. 90. Nenhuma extradição será concedida sem prévio pronunciamento do Supremo Tribunal Federal sobre sua legalidade e procedência, não cabendo recurso da decisão. Posteriormente cabe ao Supremo Tribunal Federal apreciar a legalidade e a procedência do pedido de extradição. Perceba ainda que não há recurso previsto para essa decisão. Ao receber o pedido, o Relator (um dos Ministros do STF) designará dia e hora para o interrogatório do extraditando e, conforme o caso, nomeará curador ou advogado, se não o tiver. A partir do interrogatório, a defesa deverá ser apresentada no prazo de 10 dias. Se, após a apresentação da defesa, o processo ainda não estiver devidamente instruído, o STF poderá, a requerimento do Ministério Público Federal, ordenar diligência para suprir a falta no prazo improrrogável de 60 dias, decorridos os quais o pedido será julgado independentemente do resultado. Art. 92. Julgada procedente a extradição e autorizada a entrega pelo órgão competente do Poder Executivo, será o ato comunicado por via diplomática ao Estado requerente, que, no prazo de 60 (sessenta) dias da comunicação, deverá retirar o extraditando do território nacional. Aqui temos um aspecto importante a respeito da extradição. Pela leitura do art. 92, poderíamos entender que, uma vez concedida a extradição pelo STF, o estrangeiro deverá ser enviado ao país que a requereu, não é mesmo? A redação do Estatuto do Estrangeiro era ainda pior nesse sentido, pois sequer mencionava a atuação do Poder Executivo. O STF entendeu de forma diferente, no famoso julgamento do pedido de extradição do italiano Cesare Battisti, ocorrido em 2009. Em resumo, o STF entendeu que seu papel era apenas apreciar a legalidade da extradição, enquanto a decisão de efetivá-la seria competência discricionária do Presidente da República. Esse entendimento, à época, chegou a ser questionado pela Itália, mas em 2011 o STF confirmou seu posicionamento. O fim da história foi o seguinte: Battisti recebeu o status de asilado político no Brasil, e já lançou até um livro com suas memórias... Em 2017 a Lei de Migração foi aprovada, e agora o art. 92 prevê expressamente a intervenção do Poder Executivo, que será o responsável pela palavra final no processo de extradição. Se o Estado interessado não retirar o estrangeiro do Brasil no prazo de 60 dias, o extraditando será posto em liberdade, sem prejuízo de outras medidas aplicáveis. É possível, por exemplo, aplicar a ele a medida de expulsão, se cabível. karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 36 O pedido de extradição feito por Estado estrangeiro é examinado pelo STF. Autorizado o pleito pelo STF, cabe ao Poder Executivo decidir, de forma discricionária, sobre a entrega, ou não, do extraditando ao governo requerente. Por outro lado, se o STF negar a extradição, não se admitirá novo pedido baseado no mesmo fato. Art. 95. Quando o extraditando estiver sendo processado ou tiver sido condenado, no Brasil, por crime punível com pena privativa de liberdade, a extradição será executada somente depois da conclusão do processo ou do cumprimento da pena, ressalvadas as hipóteses de liberação antecipada pelo Poder Judiciário e de determinação da transferência da pessoa condenada. Nesse caso, estamos falando de um estrangeiro que cometeu um crime no Brasil, foi julgado e condenado, e está cumprindo pena privativa de liberdade. Posteriormente, outro país pede que ele seja extraditado em razão de um outro crime. Nesse caso, o estrangeiro somente poderá ser extraditado depois de cumprir a pena no Brasil. Para efetivação da extradição, é necessário ainda que o Estado requerente assuma alguns compromissos: a) não submeter o extraditando