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Materialismo Histórico e Marxismo

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DEFINIÇÃO
Marx e Engels e a formulação do Materialismo Histórico; a herança marxista a partir de
pensadores que desdobraram seu pensamento; as novas fases do marxismo a partir das
influências da Escola de Frankfurt.
PROPÓSITO
Explicar, de forma fundamentada, as bases e a permanência do pensamento de Marx e os
continuadores de suas teorias – marxianos e marxistas. Trata-se de uma das principais
influências para o pensamento filosófico da contemporaneidade.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Compreender o desenvolvimento do marxismo e o surgimento do Materialismo Histórico
MÓDULO 2
Identificar aspectos do pensamento marxiano e sua apropriação pelos marxistas clássicos
MÓDULO 3
Relacionar a Escola de Frankfurt e o marxismo
INTRODUÇÃO
Depois de proclamada por tantas vezes a morte de Marx e iguais vezes evocada a sua
ressurreição na história do pensamento contemporâneo, a pergunta que fica se refere à
tentativa de compreender a importância do legado desse autor, que é amado por uns e
odiado por outros tantos.
Para responder a essa questão, antes de
discutir quem o aprecia e quem são aqueles
que se reivindicam como marxistas ou
marxianos, é preciso partir do pressuposto de
um dos seus críticos (um adversário?),
Jacques Derrida, que um dia proclamou que
não há futuro sem Marx e afirmou que é
possível estar “para, contra, com, mas não sem
Marx” (BENSAÏD, 2013, p. 168).
JACQUES DERRIDA (1930-2004)
Filósofo franco-argelino, um dos mais influentes autores das correntes chamadas do “pós-
modernismo”. Derrida critica a tradição estruturalista proposta por Marx, mas entende que as
ciências humanas precisam passar pelas teorias do autor.
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
CONHECENDO MARX
Nascido em Trier, capital da província alemã do
Reno, no alvorecer do século XIX, momento
em que a humanidade atravessava sua
primeira Revolução Industrial, que começava
pela Inglaterra, mas levaria algumas décadas
para atingir o restante da Europa, Karl Heinrich
Marx (1818-1883) teve origem em uma ampla
família judaica de classe média. Desde muito
jovem, esteve envolvido com movimentos
intelectuais, mas foi a partir de sua
transferência para a Universidade de Berlim e
do encontro com jovens intelectuais e
discípulos do professor e filósofo Georg
Wilhelm Friedrich Hegel que o jovem Marx
descobriu sua paixão pela Filosofia e encontrou
o que parecia ser sua vocação.
A partir do encontro com os chamados jovens hegelianos (também conhecidos como
hegelianos de esquerda), Marx deu os primeiros passos no desenvolvimento do que viria a ser
uma das mais profícuas e controversas obras da humanidade. Estamos nos referindo ao
conjunto dos estudos que acabou por influenciar a Política, Sociologia, História, Economia e
Filosofia. Apesar de ser teoricamente uma obra vital, cai em segundo plano ou em negação
muitas vezes em virtude das controvérsias políticas que ensejou, e isso, às vezes, impede uma
apreciação correta da sua dimensão.
MOVIMENTOS INTELECTUAIS
Marx envolveu-se com o movimento literário romântico, sonhou ser poeta, rabiscou alguns
versos e frequentou o Clube de Poetas, quando passou a frequentar o curso de Direito na
Universidade de Bonn.
GEORG WILHELM
FRIEDRICH HEGEL
(1770-1831)
É considerado por muitos o pai do Materialismo
Histórico, em especial no que tange a seu
modelo de uma sociedade em um equilíbrio
instável entre Síntese, Antítese e Tese em
forma de um constante ciclo. Porém, para
Hegel – isto é uma tremenda simplificação –, o
sentido era a estabilização, a busca do homem
de manter o equilíbrio. Daí a ideia de que o
pensamento hegeliano era conservador em
certo sentido, ainda que um grupo de alunos o
reinterpretassem como uma maneira da
sociedade ser transformada, gerando a alcunha
de hegelianos de esquerda.
TRABALHOS INICIAIS DE MARX: RELAÇÕES DE
PROPRIEDADE
RELAÇÕES DE PROPRIEDADE
Inicialmente, os trabalhos de Marx estudaram
as relações de propriedade pela ótica da
transformação do direito público e as formas
assumidas na História pela propriedade
privada.
Marx começou pelas disputas pela lenha, um
produto essencial para aquecer as casas
durante o inverno em regiões temperadas. Tais
disputas foram percebidas a partir de sua
conversão em crime, já que buscar a lenha em
florestas que tinham se tornado propriedade
privada passou a ser considerado roubo.
Como futuro pensador e militante socialista,
Marx percebeu que o resultado da
transfiguração do simples ato de recolher lenha
na floresta em roubo provinha das
transformações da sociedade que impunham
às populações acostumadas a recolher a lenha
a condição de párias e criminosas.
Estava aberto o caminho para uma primeira
crítica da sociedade de classes e transformar
Marx, digamos, num marxista. Não obstante,
essa crítica ainda se dava no terreno das ideias
e da filosofia, porque foi feita muito antes de
Marx descobrir as classes, a luta de classes e a
sociedade burguesa (ou o modo de produção
capitalista).
MARX E AS BASES DA FILOSOFIA
MARXISTA
OS FILÓSOFOS SÓ INTERPRETARAM O MUNDO DE
DIFERENTES MANEIRAS; DO QUE TRATA É DE
TRANSFORMÁ-LO”.
(MARX; ENGELS, 1989, p. 97)
Muito antes de formular essa famosa décima primeira tese sobre Feuerbach, que escreveu a
partir do contato com seu grande amigo, parceiro e colaborador intelectual Friedrich Engels,
Marx procurou construir uma carreira acadêmica discutindo a filosofia clássica e também o
pensamento do seu mestre (e mestre de quase todos os jovens filósofos alemães da época),
Hegel.
LUDWIG FEUERBACH (1804-1872)
Discípulo de Hegel e famoso pela crítica ao pensamento religioso, ou à proposição de uma
Teologia Humanista.
São dessa época as obras A diferença entre as
filosofias de Demócrito e Epicuro (1841), que
se originou de uma tese de doutorado
defendida em Jena, quando tinha apenas 23
anos, e seus primeiros textos, que sugerem
uma preocupação incipiente com os temas da
política e da transformação do mundo – isso
o acompanharia por toda a vida –, além dos
efeitos de uma intensa atividade jornalística
desenvolvida em veículos de imprensa de
jovens hegelianos.
Como produtos literários dessa primeira fase
de atividade intelectual, temos:
Introdução à crítica da filosofia do Direito
de Hegel;
A questão judaica;
Os manuscritos econômico-filosóficos.
Todas essas obras foram escritas em 1844.
Algumas delas, sem terem sido publicados,
ficaram inéditas até o século XX.
Após se encontrar com Engels – que havia ido a Londres para administrar as indústrias do pai,
mas passou a frequentar os ambientes da classe trabalhadora, o que o fez produzir A situação
das classes trabalhadora na Inglaterra (1845) –, Marx extrai algumas das ideias para compor
sua primeira obra escrita em parceria com o jovem Friedrich Engels.
O resultado dessa colaboração é o esboço de uma concepção de mundo que, posteriormente,
constituiria as bases filosóficas de tudo aquilo que se chama filosofia marxista.
 IMPORTANTE
A obra A sagrada família ou A crítica da Crítica crítica: contra Bruno Bauer e consortes (1845)
assinala o início da ruptura com os jovens hegelianos e a primeira formulação de uma
concepção que se poderia dizer efetivamente “marxista” da História, chamada também de
Materialismo Histórico.
RUPTURA COM OS JOVENS HEGELIANOS
É controverso se há efetivamente ou não uma ruptura do pensamento de Marx a partir do
encontro com Engels. De forma pragmática, essa é uma leitura de que ele deixa de ser um
defensor das ideias de Hegel para tornar-se um teórico, criando lentamente uma nova dinâmica
do Materialismo Histórico, em que o caminho da História, o motor da História, é o conflito, e não
a síntese – como sugerido por Hegel.
MATERIALISMO HISTÓRICO
Concepção de que a história se transforma pelas ações dos homens, em especial suas lutas
contra aqueles que dominam.
RUPTURA COM HEGELIANOS
O encontro dos jovens intelectuais, que deu início a uma parceria que duraria por toda a vida,
foi marcado pela ruptura com os jovens hegelianos,os quais eram percebidos como imersos no
interior da filosofia metafísica de Hegel.
O QUE MARX E ENGELS PRETENDIAM?
Para Marx e Engels, a tarefa a ser cumprida não era superar Hegel no terreno da filosofia e do
idealismo através da crítica à religião e ao cristianismo, mas presumir que, para que a crítica
fosse eficaz, seria preciso transformar o mundo no qual os homens eram levados a acreditar
em Deus e a construir religiões. Portanto, se havia um lugar onde essa luta se daria, não era no
plano da crítica da religião ou da ideia de Deus, mas dentro da História real.
COMO?
Superar a visão hegeliana através de um embate exclusivamente no plano metafísico ou das
ideias.
Leia uma passagem escrita por Engels para A sagrada família:
Uma vez reconhecido o homem como
essência, como a base de todas as atividades
e dos estados humanos, apenas a “Crítica”
pode inventar novas categorias e transformar
de novo o próprio homem, conforme o faz
agora, numa categoria e no princípio de toda
uma série de categorias, atitude com a qual a
humanidade teológica atemorizada e
perseguida abraça, por certo, o último caminho
de salvação que ainda lhe restava livre. A
História não faz nada, “não possui nenhuma
riqueza imensa”, “não luta nenhum tipo de luta”!
Quem faz tudo isso, quem possui e luta é,
muito antes, o homem, o homem real, que vive;
não é, por certo, a “História” que utiliza o
homem como meio para alcançar seus fins –
como se se tratasse de uma pessoa à parte –,
pois a História não é senão a atividade do
homem que persegue seus objetivos. (MARX &
ENGELS: 2003, p. 111)
DIZER QUE A “HISTÓRIA NÃO FAZ NADA”
SIGNIFICA QUE, DIFERENTEMENTE DO QUE
PRETENDIA HEGEL E SEUS DISCÍPULOS – QUE
ACREDITAVAM NA HISTÓRIA COMO UMA
ABSTRAÇÃO, NA QUAL AS VONTADES DO
TEMPO OU DE DEUS ERAM REALIZADAS A
PARTIR DA EVOLUÇÃO DAS IDEIAS (DO
ESPÍRITO) – SÃO OS HOMENS REAIS QUE
IMPORTAM, SÃO ELES QUE CONTAM PORQUE
LUTAM E PERSEGUEM SEUS OBJETIVOS,
DANDO FORMA AO MUNDO REAL.
O objetivo dessa crítica, que ilustra bem o espírito que move os dois amigos ao colaborarem
pela primeira vez, é superar a Filosofia da História de Hegel e dos jovens hegelianos. Essa
visão pressupunha que havia um sentido inscrito na transformação do mundo e no caminho da
realização da razão universal e do espírito absoluto que passava por fora da existência real dos
homens.
A IDEOLOGIA ALEMÃ
A tentativa de se opor no campo das ideias ao
pensamento hegeliano não foi muito bem-
aceita no meio acadêmico. Assim, outro
trabalho de Marx e Engels tentou definir o
conceito de Materialismo Histórico.
A obra A ideologia alemã (1845) estabelece
uma concepção original da História que põe o
homem, em sua relação com a natureza e com
os outros homens, no centro de toda a trama
histórica. Por conseguinte, não por acaso, em
passagem riscada do manuscrito, que
sobreviveu para ilustrar em grande medida a
concepção filosófica de Marx e Engels, eles
declaram que conhecem “uma única ciência, a
ciência da História” (MARX; ENGELS, 2007, p.
40)
O significado disso é:
PARA O MARXISMO, É NO MUNDO REAL, FORMADO POR
HOMENS REAIS, QUE SE DÃO AS LUTAS E SE ESTABELECEM
AS RELAÇÕES SOCIAIS, OU SEJA, QUE SE DESENVOLVE A
HISTÓRIA.
HISTÓRIA
A História nada mais é do que o suceder-se de gerações distintas, em que cada uma delas
explora os materiais, os capitais e as forças de produção a ela transmitidas pelas gerações
anteriores; portanto, por um lado, ela continua a atividade anterior sob condições totalmente
alteradas e, por outro, modifica, com uma atividade completamente diferente, as antigas
condições, o que então pode ser especulativamente distorcido, ao converter-se a história
posterior na finalidade anterior, como, por exemplo, quando se atribui à descoberta da América
a finalidade de facilitar a irrupção da Revolução Francesa, com o que a história ganha
finalidades à parte e torna-se uma “pessoa ao lado de outras pessoas”. (MARX; ENGELS,
2007, p. 86)
IDEOLOGIA ALEMÃ
O conceito de ideologia é um problema aplicado na Língua Alemã com debates sobre Gestiche
e Kultur – conhecimento e cultura –, que não são palavras destituídas de sentido intenso do
que representam para este novo conjunto recém-criado e conhecido como alemão. Lembre que
a unificação da Alemanha só aconteceu em 1871, embora a identidade que os aproximava
fosse remetida à Antiguidade. Então, não devemos entender ideologia como um conjunto de
ideias, mas como um conceito complexo de autoconhecimento das dinâmicas que compõem a
complexa identidade do grupo.
LOUIS ALTHUSSER
Na teoria de Althusser, o pensamento de Marx deveria ser dividido em Jovem Marx, com
questões pouco relacionadas à base do seu pensamento, com bons arcabouços, mas distantes
da análise de sua teoria, inaugurada com a Ideologia Alemã, e a fase chamada de Velho Marx,
o Marx que usa a teoria para fortalecer e refletir sobre a prática.
A importância desse trabalho é tão grande que os estudiosos atribuem à obra A ideologia
alemã um ponto de inflexão na formulação do pensamento marxista, saindo de um ponto de
vista ainda demasiadamente influenciado pelo idealismo para uma perspectiva essencialmente
materialista. O filósofo francês Louis Althusser (1918-1990), um dos mais importantes autores
marxistas da corrente do estruturalismo, considera que Marx teria se tornado “ele mesmo”
apenas depois de 1845 (ALTHUSSER, 2015, p. 61).
O resultado dessa transformação ensejou a seguinte conversão:
Por conta disso, Marx e Engels ingressaram na Liga dos Justos, uma organização política
prestes a assumir sua condição de comunista, para encontrar os homens de carne e osso que
falavam em desvelar o proletariado como sujeito da revolução. Desse encontro com militantes
empenhados em lutar pela transformação do mundo, foi delegada a eles a tarefa de redação de
um manifesto que anunciaria a Liga dos Comunistas.
MANIFESTO COMUNISTA
Depois de postergarem o compromisso que assumiram até o limite do tolerável, sem que
Engels obtivesse uma resposta do seu companheiro, ele entregou a Marx um material que
havia redigido e poderia servir como ponto de partida para a redação do manifesto: Princípios
do comunismo (1847). A redação dessa obra e o trabalho em dupla para a elaboração do texto
do manifesto da Liga dos Comunistas contribuíram para o surgimento de um dos mais
significativos livros do marxismo e da História: o Manifesto do Partido Comunista (1848).
Uma das frases da abertura do libelo que se tornou uma das obras mais editadas e traduzidas
em todo o mundo, representa uma perfeita síntese da concepção de História surgida da
transformação da filosofia idealista em filosofia marxista, melhor dizendo, em Materialismo
Histórico:
“A HISTÓRIA DE TODAS AS SOCIEDADES ATÉ HOJE
EXISTENTES É A HISTÓRIA DA LUTA DE CLASSES”.
(MARX; ENGELS, 1998)
LIBELO
Peça acusatória. Na justiça, é o material produzido com o objetivo de apontar a fundamentação
legal.
Publicado em fevereiro de 1848, quando eclodia na França a primeira revolução que
inauguraria a Primavera dos Povos na Europa, o Manifesto do Partido Comunista é a melhor e
mais acabada síntese do marxismo. Há no texto uma linguagem que exalta as realizações da
burguesia, aponta suas limitações e localiza a sociedade burguesa e a produção capitalista
como ponto de passagem da História, e não como sua chegada.
Da antecipação das crises cíclicas do capitalismo, causadas pela ascensão da sociedade
burguesa, à exaltação do proletariado, o Manifesto conjuga um estilo preciso e sofisticado com
uma competente síntese do desenvolvimento histórico.
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO
Trecho do Manifesto comunista como comprovação do que a atividade humana é capaz de
realizar: A burguesia não pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de
produção e, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais. A
conservação inalterada do antigo modo de produção era, pelo contrário, a primeira condição de
existência de todasas classes industriais anteriores. Essa subversão contínua da produção,
esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitação permanente e essa falta de
segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as
relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e ideias secularmente
veneradas; as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes de se consolidarem.
Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e os
homens são obrigados finalmente a encarar sem ilusões a sua posição social e as suas
relações com os outros homens. (MARX; ENGELS, 1998, p. 43)
 SAIBA MAIS
Para o filósofo estadunidense Marshal Berman (1940-2013), que vê em Marx um dos arautos
da modernidade, os paradoxos presentes na linguagem dialética do Manifesto dão a impressão
de que Marx, em vez de pretender enterrar a burguesia de uma vez, parece empenhado em
exaltá-la (1992, p. 91). Segundo este autor, isso ocorre porque, pela ótica do livro, a sociedade
burguesa, quanto mais exorta os homens a crescer, mais faz com que estes se voltem
violentamente contra ela “como uma draga impetuosa (...) em nome de uma nova vida que ela
própria os forçou a buscar” (1992, p. 95).
Não podem restar dúvidas de que o Manifesto comunista (ou Manifesto do Partido Comunista)
ocupa um lugar importante no conjunto da obra de Marx e Engels pelo vigor estilístico, pela
abordagem clara e pelo seu formato simples, direto e acessível aos trabalhadores. Em vista
disso, não é possível se aventurar pela descoberta do marxismo sem conhecer esse texto,
quando não, sem iniciar o percurso por ele.
É COM O MANIFESTO COMUNISTA QUE MARX EXPLICITA A
LUTA NECESSÁRIA EM RELAÇÃO AO CONTROLE DOS MEIOS
DE PRODUÇÃO.
MARX E
ENGELS:
A
HISTÓRIA
O pensamento
marxiano e
engelsiano, pela sua
complexidade, é
composto de muitas
outras obras. Marx
analisa a história em
processo, como nos
escritos que deram
origem às obras A
luta de classes na
França (1850), O 18
de Brumário de Luís
Bonaparte (1852) e,
posteriormente, A
guerra civil na
França (1871). A
aplicação do
Materialismo
Histórico se mostra
Nesses escritos, a análise
marxista mostrou-se
bastante eficaz, pois
sobreviveu ao julgamento
do tempo, guardando a
importância para muito
além do que se atribui
aos clássicos, posto ser
capaz de articular, como
nenhum outro autor, as
dimensões da estrutura e
do processo na
transformação histórica,
como podemos ver em
passagem do 18 de
Brumário de Luís
Bonaparte:
mais eficaz para fins
de compreensão da
realidade da luta de
classes nos
tumultuados
contextos das
revoluções de 1848
e do golpe de Luís
Bonaparte, em 1851,
e, muito depois, com
a experiência da
Comuna de Paris,
em 1871.
OS HOMENS FAZEM SUA PRÓPRIA HISTÓRIA, MAS
NÃO A FAZEM COMO QUEREM; NÃO A FAZEM SOB
CIRCUNSTÂNCIAS DE SUA ESCOLHA, E SIM SOB
AQUELAS COM QUE SE DEFRONTAM DIRETAMENTE,
LEGADAS E TRANSMITIDAS PELO PASSADO”.
(MARX: 1997, p. 21)
No século XIX, a burguesia de muitos países
ainda não tinha varrido da cena histórica o que
Marx considerava como os resquícios da
sociedade feudal (aristocracias, reis, súditos,
relações de suserania, servidão e vassalagem).
Então, por entender que a moderna classe
burguesa ainda cumpria um papel progressista
na História, Marx e Engels admitiam que o
mundo, antes de reunir todas as condições
para a transição para o socialismo e o
comunismo, precisaria passar pelo
desenvolvimento pleno do capitalismo, de
suas forças produtivas e de suas principais
classes antagônicas: burguesia e
proletariado.
Porém, o que eram exatamente essas duas classes?
Como estabeleciam a relação entre elas nessa fase de desenvolvimento histórico?
 Como se daria a relação de exploração?
De onde vinha a riqueza que permitia a transformação de países de território restrito e pouca
presença colonial em grandes potências?
A partir de questões como essas e de muitas outras que inquietavam Marx e Engels,
principalmente Marx, eles partiram para estudar as relações econômicas e o desenvolvimento
do capitalismo em bases históricas assentadas.
Engels, que vivera na Inglaterra, berço da Revolução Industrial e bastante mais desenvolvido
industrialmente que o restante da Europa, deu informações a Marx sobre os economistas
clássicos que analisavam as transformações na sociedade e na economia engendradas pela
industrialização.
 ATENÇÃO
Precisamos lembrar que estamos em um campo filosófico de compreensão, pelo qual os
autores se influenciavam. Assim, os estudos de Economia Política geravam fundamentações
para o trabalho argumentativo e pragmático proposto por Marx e Engels.

1844
Marx inaugurou um novo momento de sua teoria no terreno econômico a partir dos Manuscritos
econômico-filosóficos (1844), quando ainda estava sob influência direta de Hegel.
1847
Em Miséria da filosofia (1847) e com o texto Trabalho assalariado e capital (1847), partiu para
defenestrar a obra de Joseph Proudhon (1809-1865), sem, no entanto, possuir as ferramentas
conceituais que lhe permitiram em seguida analisar o capitalismo.

Além disso, o encontro com o socialismo francês já havia proporcionado o substrato
fundamental para compreender a luta de classes em perspectiva histórica. Sob o aspecto
econômico, a reflexão marxiana apenas engatinhava, mas ainda faltava a obra definitiva em
relação a esse prisma, faltava O capital.
O CAPITAL
A partir dos anos 1850, Marx intensificou seus
estudos sobre economia. Em 1859, elaborou
sua primeira obra mais diretamente
empenhada em discutir a economia burguesa e
seus fundamentos, Contribuição à crítica da
economia política. Nessa obra, ele apresenta
temas que deram base à obra que representa a
maturidade de Marx, O capital (1867).
Vejamos alguns pontos que permeiam autor e obra:
TEMAS DO MUNDO REAL TRANSFORMADOS EM
CONCEITOS
Mercadoria, capital, circulação, produção e dinheiro são temas tomados do mundo real e
transformados em conceitos, num procedimento investigativo que pressupunha a passagem do
concreto ao abstrato e, depois, um novo retorno ao concreto. No famoso prefácio dessa obra,
Marx sintetiza uma concepção que vinha amadurecendo ao longo dos anos, mas que foi
tomada muitas vezes fora de contexto e desconectada do conjunto da obra marxiana, como se
fosse a última explicação da compreensão de Marx sobre a transformação histórica. Com O
capital, Marx forneceu as bases para que muitos críticos lhe imputassem a pecha de
economicista.
ASPECTO FILOSÓFICO E HISTÓRICO
Como apontam alguns dos melhores estudiosos da obra marxiana, por ser filho do seu tempo e
sofrer influências de correntes que se desenvolveram em pleno século XIX, como o
cientificismo, o evolucionismo e a própria economia política, um olhar sobre o conjunto da obra
de Marx não recomenda que o identifiquemos como economicista. Isso porque, para muito
além dessas tensões que aparecem aqui e ali –, que por vezes eram utilizadas com ênfase
para redarguir um contraditor visível ou oculto –, a compreensão que Marx (e também Engels)
tem da História, que se conforma no que pode ser chamado de filosofia marxista ou
Materialismo Histórico, é muito distinta do que nos faz crer a leitura de certos fragmentos que
precisam ser vistos nos seus contextos e dentro de certos enquadramentos mais amplos.
DEDICAÇÃO AOS ESTUDOS SOBRE RELAÇÕES
ECONÔMICAS E CAPITALISMO
Tendo elaborado um vasto projeto de estudos sobre a economia política, passando muitas
horas de sua vida na biblioteca do Museu Britânico, Marx sobrevive elaborando pequenos
artigos para periódicos da Europa e dos Estados Unidos, além de contar com a valiosa
contribuição financeira que Engels lhe oferecia.
Os vários esboços para a redação de O capital, como a própria Contribuição à crítica da
economia política (também traduzido como Para uma crítica da economia política) e as
centenas de páginas que deram origem aos Grundrisse, representam uma dimensão dograndioso projeto para redação de sua obra máxima. Além disso, acrescentam elementos para
compreensão de sua concepção de História e do método desenvolvido, incluindo-se aqui o
estudo das formas que precederam a produção capitalista.
MÉTODO DE ESTUDO
No que tange ao método – uma das preocupações centrais de Marx, que sempre elaborava
diversos planos de estudos antes de se enfurnar em investigações exaustivas –, vale
acompanhar a passagem em que o autor faz questão de explicitá-lo:
O CONCRETO É O CONCRETO PORQUE É A SÍNTESE
DE MÚLTIPLAS DETERMINAÇÕES, PORTANTO,
UNIDADE NA DIVERSIDADE. POR ESSA RAZÃO, O
CONCRETO APARECE NO PENSAMENTO COMO
PROCESSO DE SÍNTESE, COMO RESULTADO, NÃO
COMO PONTO DE PARTIDA, NÃO OBSTANTE SEJA O
PONTO DE PARTIDA EFETIVO E, EM CONSEQUÊNCIA,
TAMBÉM O PONTO DE PARTIDA DA INTUIÇÃO E DA
REPRESENTAÇÃO”.
(MARX, 2011, p. 54)
LUTA PELA ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES E
PELO DESENVOLVIMENTO DO CAPITAL
Dedicado por vários anos aos estudos da economia política, Marx jamais negligenciou a
organização dos trabalhadores e o desenvolvimento do capital no mundo, inclusive nos
Estados Unidos. Ele nunca deixou de lado as polêmicas, algumas das quais aparecem hoje
como mesquinharias, e em tempo algum abdicou de contribuir para que a tarefa de transformar
o mundo fosse o mote de todo seu esforço intelectual. Em vista disso, em 1864, com Engels e
várias correntes que atuavam no nascente movimento operário de vários países, ajudou a
fundar a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), posteriormente chamada de
Primeira Internacional.
ENTENDENDO QUE CABERIA AOS TRABALHADORES
DE TODO O MUNDO (“PROLETÁRIOS DE TODOS OS
PAÍSES, UNI-VOS”) ORGANIZAR A LUTA PARA A
TRANSFORMAÇÃO REVOLUCIONÁRIA DA
SOCIEDADE, MARX DEDICOU IMENSO ESFORÇO
PARA DOTAR A OBRA QUE ELABORAVA DE UMA
LINGUAGEM QUE FOSSE ACESSÍVEL PARA OS
TRABALHADORES. APESAR DESSE ESFORÇO E
CONSCIENTE DAS DIFICULDADES ATINENTES AOS
QUE SE AVENTURASSEM EM UM PERCURSO
DEMASIADAMENTE LONGO, TORTUOSO E REPLETO
DE CONCEITOS COMPLEXOS E INÚMERAS
ABSTRAÇÕES, NO PREFÁCIO À EDIÇÃO FRANCESA
DE O CAPITAL, PUBLICADA EM 1872, MARX ADVERTIU
OS LEITORES PARA O FATO DE QUE O MÉTODO QUE
HAVIA EMPREGADO PARA A ANÁLISE DE ASSUNTOS
ECONÔMICOS PODIA TORNAR A LEITURA ÁRDUA
PARA O PÚBLICO FRANCÊS, “SEMPRE IMPACIENTE
POR CHEGAR A UMA CONCLUSÃO”. TODAVIA, MARX
DECLARA QUE NÃO EXISTE “ESTRADA REAL PARA A
CIÊNCIA, E SOMENTE AQUELES QUE NÃO TEMEM A
FADIGA DE GALGAR SUAS TRILHAS ESCARPADAS
TÊM A CHANCE DE ATINGIR SEUS CUMES
LUMINOSOS”.
(MARX, 2013, p. 93)
O CAPITAL VEM A SER, PORTANTO, A
PRINCIPAL OBRA DE MARX, O TEXTO PELO
QUAL O AUTOR FICOU CONHECIDO NO MUNDO,
PARA MUITO ALÉM DO QUE SUGERIA A
LEITURA DO MANIFESTO, UM TEXTO MAIS
DIRETAMENTE POLÍTICO, UM APELO PARA A
REVOLUÇÃO E A LUTA, E PARA MUITO ALÉM
DO QUE MUITOS IMAGINAM SER UMA
PROPOSTA DE PARAÍSO CONSUMADO NUM
FUTURO SUPOSTAMENTE COMUNISTA.
O QUE MAIS DEVEMOS SABER SOBRE MARX E
O CAPITAL?
EXPLICA OS MECANISMOS DE FUNCIONAMENTO DA SOCIEDADE
CAPITALISTA
Assim, mesmo diversos estudiosos e economistas insuspeitos de qualquer simpatia pelo
marxismo são reconhecedores dos méritos de sua obra, pois O capital é considerado seu texto
de maturidade pela profundidade de sua abordagem e pelos elementos que são explicativos
dos mecanismos de funcionamento da sociedade capitalista.
INVESTIGA O MODO DE PRODUÇÃO E A CIRCULAÇÃO DE CAPITAL
A obra contém uma investigação profunda do modo de produção capitalista, cujo centro de
observação, muito embora quase não mencionado, é a Inglaterra, país mais desenvolvido do
ponto de vista da produção capitalista. No percurso da investigação, Marx procurou entender
as relações de produção e circulação de capital. Ele partiu do estudo da mercadoria até
alcançar as formas aprofundadas dos mecanismos intrínsecos ao funcionamento da sociedade
burguesa, indo muito além do que sugerem as aparências.
DESVELA OS VALORES DE TROCA E USO
Marx desvelou o funcionamento da sociedade capitalista com a descoberta da distinção das
formas assumidas pelo valor (valor de troca e valor de uso) e pela decifração dos mecanismos
de produção e realização do lucro instaurados na apropriação da mais-valia, como o tempo de
trabalho não pago pelo proprietário dos meios de produção ao trabalhador, que lhe vende a sua
força de trabalho.
Eis, portanto, a essência do que pode ser chamado de marxismo, uma filosofia que surge de
base metafísica hegeliana; logo, transformada em movimento do mundo real e inserida na luta
política a partir do socialismo francês. Em seguida, Marx buscou desvelar os mecanismos mais
profundos de funcionamento das sociedades em geral e da sociedade burguesa do capital,
pela crítica da economia política e pelo desenvolvimento histórico e da luta de classes, com
vistas à sua transformação.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
INTRODUÇÃO
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA: DISPUTA DO
PENSAMENTO
MARXISTAS E MARXIANOS
MARXISTAS
Chamamos de marxistas os autores, militantes, movimentos, intelectuais e outros sujeitos que
reivindicam o legado – teórico, prático, político – de Marx e Engels.
MARXIANOS
Os marxianos, um termo menos comum, são aqueles que, pretendendo evitar o compromisso
com pensamentos, práticas e regimes que consideram como algum tipo de corrupção do
pensamento original, preferem se vincular diretamente ao que foi produzido por Marx e Engels,
negando todas as mediações.
MARXÓLOGOS
Um terceiro grupo pode ser adicionado aos dois primeiros, que são os marxólogos, estudiosos
da obra marxiana, engelsiana e, eventualmente, de alguns marxistas, que não estabelecem
nenhum vínculo de compromisso com nenhum dos dois grupos, pois se preocupam em estudar
e conhecer as contribuições dos autores ao pensamento humano.
O legado de Marx e Engels, pela sua dimensão teórica e pelo engajamento político-prático que
propuseram, nunca foi de aceitação unânime, como se deve saber. Mesmo entre muitos que
consideram impossível pensar o presente e o futuro sem Marx – lembremos as palavras de
Derrida –, nem todos pretendiam fazê-lo na perspectiva política sugerida pela obra marxiana e
engelsiana em seu conjunto, ou seja, muitos não se empenharam na luta pela superação do
capitalismo e pela implantação do socialismo como caminho até a sociedade comunista.
Considerando o próprio raciocínio de Marx, que articulava as forças da necessidade histórica,
ou seja, os impulsos do passado que não são dominados pelos agentes humanos, podemos
dizer que nem sempre as condições da transformação estiveram dadas. Portanto, trata-se de
forças objetivas, combinadas com as forças da vontade, as quais vêm a ser o impulso
subjetivo, que, em certas condições, fazem a diferença e interferem nos rumos tomados pelos
acontecimentos históricos.
A HISTÓRIA NÃO ANDA SOZINHA. QUEM FAZ A
HISTÓRIA SÃO AS PESSOAS. ESSES
INDIVÍDUOS POSSUEM NECESSIDADES –
CONSCIENTES OU DISFARÇADAS PELA
ALIENAÇÃO. ENTÃO, EM TODA SOCIEDADE, HÁ
GENTE QUERENDO QUE ELA FIQUE COMO
ESTÁ E OUTROS QUE QUEREM LUTAR. A
FORÇA DOS PRIMEIROS É DE CONTENÇÃO; A
FORÇA DOS SEGUNDOS, DE MOVIMENTAÇÃO.
A LUTA DE CLASSES É O MOTOR DA HISTÓRIA.
TUDO O QUE SERÁ FEITO DEPENDE DAS
INTENÇÕES COLETIVAS DE QUEM PROMOVE A
LUTA.
Então, de forma fácil, podemos afirmar que Marx e Engels sempre estiveram atentos, pois, da
mesma maneira que se empenharam em construir organizações para incidir sobre a luta de
classes, eram sujeitos ativos, em movimentos políticos mundo afora. Esse ponto é vital. Temos,
de um lado, o pragmatismo – que é uma forte característica do Engels, ajudando a exaltar
Marx como um grande teórico – defendido pelos autores, o qual mostra que sua teoria é
prática, tem sentido, tem execução prática, embora também fosse fácil dizer que não fora feita
como deveria, ou que não rompia efetivamente a luta de classes como ele almejava.
O fato é que, durante a vida de Marx, parte substancial das condições para o desenvolvimento
eficaz do marxismo no seio do proletariado europeu ainda não havia sido dada.
Depois da morte deMarx, em 1883, coube a Engels difundir seu legado. Marx possuía imensa
dificuldade de popularizar suas ideias entre os membros do movimento operário, que seguiam
orientações das mais diversas, e, muitas vezes, chegou a recusar o epíteto de “marxista” que
seus adversários lhe imputavam. Por não concordar com muitos dos seus seguidores, foi
apenas em fins do século XIX que tais ideias começaram a se popularizar.
SOCIALISMO
Antes de atingir uma sociedade comunista, seria necessário entender que uma luta contra a
burguesia precisava ser liderada. Esses líderes formariam um conjunto, ou um partido, que
exerceria uma ditadura do proletariado para implementar um socialismo – todas as classes
sociais com a mesma condição de desenvolvimento e acesso aos meios de produção – para, a
partir daí, chegar ao comunismo.
ALIENAÇÃO
Toda e qualquer sociedade é marcada pela ação de dominantes em relação aos dominados.
Dominantes desejam manter seus privilégios e bens e, para tal, utilizam a alienação. Alienação,
portanto, é o conjunto de ações práticas – culturais, sociais, econômicas – utilizadas pelos
dominantes para tirar a condição de luta dos dominados.
MARXISTA
Seguidor de Marx, marcado pela luta que ele representa.
Em 1889, Engels foi um dos principais participantes da fundação da Segunda Internacional,
organização política que tinha por objetivo congregar partidos operários, muitos deles cada vez
mais identificados com o marxismo. No interior da nova internacional, o Partido Social
Democrata Alemão (Sozialdemokratische Partei Deutschlands) era o mais importante.
Em seguida, houve também o chamado marxismo vulgar, que reduziu o escopo do
Materialismo Histórico a um empobrecido esquema de sucessão linear da História por meio de
etapas que partiriam do comunismo primitivo, passariam pelo modo de produção escravista e
depois feudal, até alcançarem o capitalismo, que aparecia, nessa explicação reducionista,
como último momento da sociedade de classes anterior ao comunismo. Obviamente, nem o
pensamento marxiano nem o marxismo, pela sua amplitude e diversidade, podem ser
reduzidos a isso.
Em vida, Marx publicou apenas o primeiro livro de O capital, mas seu projeto era mais
ambicioso. Seus escritos permitiram a Engels publicar os Livros II e III, em 1885 e 1894,
respectivamente, e a Karl Kautsky (1854-1938), discípulo de Marx e um dos membros mais
importantes do SPD, coube publicar os escritos marxianos sobre as doutrinas econômicas,
que comporiam o Livro IV de O capital, somente editado entre 1905 e 1910, sob o título de
Teorias da mais-valia.
É, portanto, como e pelo compromisso militante que o marxismo tem uma primeira onda de
expansão, encontrando as circunstâncias históricas necessárias que não existiam no tempo de
Marx. Alcançando as organizações operárias e disputando com outras correntes, o marxismo
se expandiu como doutrina política, penetrando em diversos países, inclusive na Rússia.
SOZIALDEMOKRATISCHE PARTEI
DEUTSCHLANDS
Surgido em 1875, a partir de uma fusão da corrente liderada pelo militante socialista e brilhante
orador Ferdinand de Lassalle (1825-1864) com a corrente marxista dirigida por August Bebel
(1840-1913) e Wilhelm Liebknecht (1826-1900), o SPD alcançaria, em fins do século XIX e
início do século XX, um grande prestígio, elegendo diversos deputados ao parlamento da
Alemanha e projetando intelectuais destacados, o que garantiu ao marxismo uma base sólida
para sua difusão em solo europeu, local onde eram travadas partes importantes das lutas da
classe operária no mundo.
RÚSSIA
A Rússia foi o segundo país do mundo a ter O capital traduzido, em 1872, a partir das
controvérsias desencadeadas sobre as condições de desenvolvimento russo. A Rússia havia se
libertado da servidão apenas em 1861 e possuía um dos sistemas políticos mais brutais da
face da Terra: a autocracia czarista. As reais possibilidades de uma transição ao socialismo
surgiram com os chamados narodniks (também conhecidos como “populistas”), com as
primeiras organizações marxistas no país.
REVOLUÇÃO RUSSA
Levante da burguesia urbana e de pequenos proprietários, que lutaram contra as tradições
czaristas. A continuidade das disputas que levaram à Guerra Civil entre Mencheviques
(identificados com a burguesia) e Bolcheviques (identificados com o proletário) sinalizariam um
laboratório mais intenso na Rússia.
REVOLUÇÃO RUSSA E O PENSAMENTO DE
MARX
Entender um pouco dessa discussão em solo russo é fundamental para compreender o salto
dado pelo pensamento marxiano até o marxismo russo, pois foi com a Revolução Russa, de
1917, que o marxismo se popularizou no mundo.
Vamos nos ater ao percurso histórico da Rússia que se relaciona com as ideias de Marx.
INTERESSE DE MARX E
ENGELS POR QUESTÕES
TRABALHISTAS NA RÚSSIA
Até o início do século XX, ninguém diria que
seria a Rússia a primeira nação a abrigar uma
revolução inspirada nas ideias de Marx e
Engels, já que este país era um dos mais
atrasados da Europa. Por conta disso, os
fundadores do Materialismo Histórico tinham
muitas reservas em relação ao papel
desempenhado pela Rússia no que diz respeito
à expansão das revoluções burguesas. A partir
dos anos 1870, Marx e Engels passam a se
interessar pelas questões russas, inicialmente
em função dos debates com o anarquista
Bakunin, um membro russo que militava na
Associação Internacional dos Trabalhadores e,
em seguida, pelo contato que vinham travando
com vários revolucionários emigrados.
INFLUÊNCIAS DE O CAPITAL
Foi, entretanto, a partir das questões
apresentadas a Marx e Engels por narodiniks,
os quais haviam tido contato com a obra O
capital, que as relações começaram a se
estreitar. O que muitos queriam saber era em
que medida a frase contida no prefácio à
primeira edição de O capital, que dizia que o
“país industrialmente mais desenvolvido não
faz mais do que mostrar ao menos
desenvolvido a imagem do seu próprio futuro”
(MARX, 2013, p. 78), podia ser entendida pelo
movimento revolucionário de país atrasado,
que pretendia superar a autocracia czarista,
sem necessariamente criar as condições para a
exploração capitalista, como uma
determinação absoluta. Seria possível pular a
etapa capitalista e passar diretamente ao
socialismo na Rússia?
As respostas, como se supõe, não eram fáceis,
mas, ao tentar oferecê-las – provocados pelas
informações sobre a movimentação política que
vinha da Rússia e, em seguida, do primeiro
agrupamento de militantes que neste país
reivindicou o marxismo –, podemos, mais uma
vez, entender o método marxiano de análise da
História.
ANÁLISE DE MARX DA
REALIDADE RUSSA E DO
APONTAMENTO PARA A
NECESSIDADE DE UMA
REVOLUÇÃO
Depois de receber, em 1881, uma carta da
militante Vera Zasulitch, que pertencia a um
grupo narodnik chamado Partilha Negra, Marx
esboçou uma importante análise da realidade
russa, pressupondo que a História avançava
nos termos da “Lei do desenvolvimento
desigual e combinado”. Isso significava que a
Rússia poderia se beneficiar do fato de que as
formas de propriedade até então existentes
permitiriam “assim se aproveitar dos frutos sem
se sujeitar ao seu modus operandi”. Marx dizia
que a comuna rural russa (mir) podia “tornar-
se o ponto de partida direto do sistema
econômico para o qual tende a sociedade
moderna e trocar de pele sem ter de cometer
suicídio”. Porém, para que isso se tornasse
possível, seria necessária uma revolução na
Rússia e evitar que a comuna fosse destruída
pelas formas de produção capitalista que
inexoravelmente avançavam (MARX; ENGELS,
2013, p. 100).
POPULARIZAÇÃO DO
MARXISMO PELOS GRUPOS
REVOLUCIONÁRIOS E POR
LÊNIN
Em todo caso, foi a partir do desenvolvimento
dos grupos revolucionários russos que o
marxismo se popularizou para além das formas
reformistas que tinha adquirido a partir do
sucesso parlamentar do SPD alemão. Com
efeito, o mais importante discípulo de Marx na
Rússia foi Vladmir Ilych Ulianov, mais
conhecido como Lênin (1870-1924). FoiLênin
quem adicionou pedras fundamentais no
edifício teórico do marxismo. Foram tantas as
suas contribuições que, não raro, alguns
confundem o marxismo de Lênin com o
pensamento marxiano ou o marxismo como um
todo.
NARODINIKS
Membros da Naródnaia Volia (A Vontade do Povo), organização política secreta de populistas
terroristas, surgida em agosto de 1879.
COMUNA RURAL RUSSA (MIR)
Durante a Revolução Russa, o levante oriundo do campo, formado por pequenos proprietários
ou pessoas ainda sobre uma relação feudal, ao se unirem em uma “marcha”, foram chamados
de mir.
LÊNIN (1870-1924)
Político revolucionário, principal líder da Revolução Russa de 1917 e primeiro presidente da
Rússia socialista.
Lênin
Lênin não foi só um militante revolucionário,
organizador da corrente bolchevique do Partido
Operário Socialdemocrata Russo (POSDR),
que pavimentou o caminho da tomada do poder
em 1917. Foi também um vigoroso intelectual
e teórico que formulou a teoria do partido,
expressa na obra Que fazer? (1902) e também
a teoria do imperialismo, que aparece no livro
Imperialismo, fase superior do capitalismo
(1916).
Lênin não se limitou a escrever textos diretamente políticos. Seus escritos permanecem
inspirando gerações de militantes ou, no mínimo, servindo como material de estudo para se
pensar as condições de transformação do capitalismo e também os debates que
permearam a crise e dissolução da Segunda Internacional e os impasses da revolução
mundial.
Trótski
Da Rússia, além de Lênin, Trótski, cujo nome
verdadeiro era Lev Davidovich Bronstein,
também é fundamental para se compreender
os caminhos tomados pelo marxismo. Ele foi
considerado o arquiteto da revolução. De
Trótski, o marxismo conheceu a Teoria da
Revolução Permanente, elaborada em 1906,
na obra Balanços e perspectivas, depois
retomada pelo seu autor, que partiu de uma
formulação marxiana para criar uma das mais
importantes intepretações do marxismo
aplicadas às sociedades atrasadas a partir do
uso da “Lei do desenvolvimento desigual e
combinado”.
A vigorosa crítica sociológica ao estamento burocrático, que teria posto fim ao sonho do
socialismo na União Soviética sob o stalinismo, inspiração do livro A revolução traída (1937),
constitui-se como uma das mais importantes contribuições de Trótski ao marxismo.
Além das obras citadas, a História da Revolução Russa, publicada em 1930, sobre seu exílio
nas ilhas de Prinkipo (ilhas do Príncipe), na Turquia, pode ser apontada como uma contribuição
fundamental de Trótski ao pensamento marxista, pois nenhum autor se igualou em precisão,
estilo e vigor ao escrever sobre a saga dos revolucionários que tomaram o poder na Rússia,
em 1917.
LEV DAVIDOVICH BRONSTEIN
Um dos principais líderes da Revolução Russa, mas rompe a partir da ascensão e do modelo
empreendido por Stalin. Foi assassinado no México, provavelmente por ordem de seu
adversário político.
TEORIA DA REVOLUÇÃO PERMANENTE
A Revolução não tem fim, não tem uma forma única, pela proeminência de um Partido único, é
local, com as relações locais e deve ser constantemente cuidada para que não voltem a existir
dominantes e dominados. Assim, para ele, líderes como Stalin eram deturpações do princípio
da Revolução Socialista.
VIGOROSO INTELECTUAL
Ele deixou uma importante contribuição no campo da análise econômica da história russa
com o livro O desenvolvimento do capitalismo na Rússia (1899), além de reflexões filosóficas
que articulam preocupações reportadas à dialética como fundamento da transformação
social, algo que aparece nas obras Materialismo e empiriocriticismo (1909) e na publicação
póstuma Cadernos filosóficos (1929).
 SAIBA MAIS
Saiba mais sobre a relevância de Trótski para o pensamento marxista por intermédio do
historiador Isaac Deutscher (1907-1967), autor da mais importante biografia de Trótski.
SAIBA MAIS SOBRE A RELEVÂNCIA DE
TRÓTSKI PARA O PENSAMENTO MARXISTA
“Sua obra histórica é dialética, a um ponto não atingido por nenhum outro trabalho semelhante
produzido pela escola marxista desde Marx, em cujo método e estilo se baseou. A História, de
Trotsky, guarda, para com os trabalhos históricos de Marx (A luta de classes na França, O
Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte e A guerra civil na França) a mesma relação que há
entre as grandes pinturas murais e as miniaturas. Enquanto Marx se sobrepõe ao discípulo no
poder do pensamento abstrato e da imaginação gótica, o discípulo é superior como artista
épico, especialmente como mestre da representação gráfica das massas e dos homens em
ação. Sua análise sociopolítica e sua visão artística estão em tal acordo que não há vestígios
de nenhuma divergência. Seu pensamento e sua imaginação voam juntos. Expõe sua teoria da
revolução com a tensão e o entusiasmo da narrativa e esta ganha profundidade com suas
ideias. Suas cenas, seus retratos e diálogos, diretos em sua realidade, são interiormente
iluminados pela sua concepção do processo histórico. Muitos críticos não marxistas
impressionaram-se com essa característica de sua obra. (1984, p. 229)
 COMENTÁRIO
A obra de Trótski, que viveu bem mais que Lênin e passou importante parte da vida perseguido
pelo stalinismo, terminou por se abrir a diversas outras fronteiras, pois o revolucionário russo,
que aderiu ao bolchevismo tardiamente (em agosto de 1917), enfrentou desafios inimagináveis
para muitos dos seus companheiros, que sucumbiram no período da Guerra Civil na Rússia
(1918-1921) ou nos primeiros anos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
ANTONIO GRAMSCI: UM MARXISTA BEM
MARXIANO
Outro intelectual de grande importância no
século XX, que desperta até hoje a curiosidade
de simpatizantes e adversários do marxismo, o
italiano Antonio Gramsci (1891-1937) é
detentor de vasta obra, parte substancial dela
publicada depois de sua morte.
Como militante do Partido Socialista Italiano,
Gramsci escreveu diversos artigos para
periódicos numa conjuntura extremamente
conturbada. Era o momento da ascensão do
movimento operário no Norte do país, que
conformou o chamado biennio rosso (biênio
vermelho) entre 1919 e 1921, com círculos
operários que sugeriam que uma revolução
poderia estar a caminho. Esse movimento foi
derrotado em 1922, mesmo ano da ascensão
de Benito Mussolini. Dessa atividade
jornalística, um importante conjunto de escritos
permite entrever um marxismo rico, inspirado
no que havia de melhor da tradição socialista
italiana, muito embora ainda bastante vinculado
à tradição idealista.
Eleito deputado em 1924 pelo Partido
Comunista italiano, que havia sido fundado em
1921, Gramsci foi preso em 1926. Do cárcere,
escreveu um projeto que pretendia ser um
estudo aprofundado de diversos temas da
história italiana, diferentemente dos escritos
jornalísticos, os quais considerava que estavam
destinados a morrer ao fim do dia.
ANTONIO GRAMSCI
Nascido em Ales, na região da Sardenha, Sul da Itália, Gramsci se ocupou desde muito cedo
em refletir sobre a pobreza meridional italiana, o que criaria um país desigual para camponeses
do Sul, essencialmente rural, e operários do Norte, industrializado.
Da consecução de seu projeto, que Gramsci chamou de für ewig (do alemão “para sempre”),
surgiu um conjunto de 33 cadernos que, depois de publicados, revelaram uma análise marxista
original e bastante competente de um intelectual e militante pouco ortodoxo, mas
comprometido com a revolução.
A partir da obra gramsciana podemos identificar estudos sobre temas como hegemonia,
revolução passiva, bloco histórico, guerra de movimento/guerra de posição,
americanismo e fordismo entre muitos outros assuntos, formando um imenso mosaico que
enriqueceu ainda mais o marxismo.
 SAIBA MAIS
Apesar do esforço dos marxistas que dedicaram a vida à revolução, o advento do stalinismo,
que dominou a União Soviética desde a derrota da Oposição de Esquerda, em fins dos anos
1920, provocou profundos abalos, cisões e incertezas. Sob a influência dessa corrente,de
onde derivou uma doutrina chamada de marxismo-leninismo, adotada oficialmente na URSS e
importada por quase todos os partidos comunistas organizados em diversos países do mundo,
outra espécie de marxismo emergiu. Com efeito, três anos depois da morte de Josef Stalin
(1878-1953), a revelação dos seus crimes através dos famosos relatórios secretos de Nikita
Krushev (1894-1971) provocou uma profunda crise no movimento comunista internacional e
nos meios marxistas de todo o planeta, determinando a ruptura de militantes, intelectuais e
personalidades públicas, muitos dos quais se tornaram, em seguida, adversários ferozes do
marxismo.
Para muito além dos personagens relacionados acima, o marxismo da geração que se seguiu a
Marx e Engels ainda contaria com nomes de vulto, que deram importantes contribuições
teóricas ao pensamento marxista, como Antonio Labriola (1843-1904), Franz Mehring (1846-
1919), Plekhanov (1856-1918), Rosa Luxemburgo (1871-1919), Görgy Lukács (1885-1971),
entre muitos outros. A característica essencial dessa geração de marxistas é a de que todos, à
maneira dos seus mestres, foram, além de importantes intelectuais, militantes engajados,
alguns dos quais dirigiram partidos políticos e morreram lutando pela revolução.
O PENSAMENTO GRAMSCINIANO É UM
DIÁLOGO ENTRE A TRADIÇÃO DO QUE
ACONTECIA NA RÚSSIA E SUAS INFLUÊNCIAS
OCIDENTAIS. GRAMSCI DIZ QUE O
PENSAMENTO DEVE SER TRABALHADO E
ADAPTADO ÀS CONCEPÇÕES PRESENTES –
POR ISSO, MARXISTA –, UMA VEZ QUE
DEFENDIA QUE OS INTELECTUAIS ORGÂNICOS,
AQUELES QUE PERMITIAM E ESTRUTURAVAM
O PENSAMENTO REPRODUZIDO PELO
COLETIVO, SURGIAM NOS PARTIDOS
POLÍTICOS.
Uma vez conscientes, seria possível o rompimento, pois ambos os lados possuíam seus
intelectuais orgânicos, e a luta geraria uma manutenção das estruturas sociais, o que era de
interesse dos dominantes. A transformação pode ser feita por uma educação integral,
rompendo fundamentos moralistas e religiosos, para a ruptura da alienação com sua
vinculação ao todo e ao governo.
MARXISTA OU MARXIANO?
Gramsci representa os aspectos políticos e argumentativos marxistas, mas, ao adaptar essas
discussões, retoma conceitos e adaptações que o aproximam de uma perspectiva marxiana.
MARXISMO PARA ALÉM DO MOVIMENTO
MILITANTE
O marxismo não se resumiu apenas ao universo de militantes que animaram partidos e
travaram intensos debates por todo o século XX. Como corrente de pensamento, mesmo tendo
sido popularizado por partidários de uma causa que era, acima de tudo, político-prática,
principalmente revolucionária, mas também reformista, o marxismo atravessou as fronteiras do
que era essencialmente a luta por interpretar e transformar o mundo, alcançando com vigor a
intelectualidade universitária.
Portanto, é impossível compreender o século XX negligenciando a força dos debates e das
controvérsias que moveram a Filosofia e as Ciências Humanas, influenciadas pelo marxismo,
por correntes teóricas que lhe eram hostis, ou também por propostas que promoveram a
simbiose da filosofia marxiana com outras filosofias, variadas sociologias e, até mesmo, com a
Psicologia e a Psicanálise.
A propósito do assunto, é impossível ignorar as vastas polêmicas que atravessaram o
marxismo do século XX, algo que se deu para muito além dos espaços partidários e
diretamente vinculados à luta política. O inquestionável predomínio de certa leitura do
marxismo feita pela corrente estruturalista no pós-Segunda Guerra Mundial, muito
especialmente pelo filósofo Louis Althusser, só foi confrontada quando o estruturalismo perdeu
força e estudiosos, como o historiador Edward Palmer Thompson (1924-1996), defenestraram
abordagens que lhe pareciam empobrecedoras e dogmáticas, como as que, segundo este
autor, estariam presentes em obras como Ler o capital (1965) e Por Marx, de Althusser (1965).
Com efeito, A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma crítica ao pensamento de
Althusser (1978), obra de Thompson, foi avassaladora no que diz respeito à abordagem
estruturalista e althusseriana do marxismo, como alguns anos antes foram as denúncias de
Krushev sobre os crimes de Stalin. Essas denúncias levaram Thompson a romper com o
Partido Comunista da Grã-Bretanha (PCGB), em 1956, sem necessariamente abandonar o
marxismo, junto a outros grandes intelectuais que formavam a corrente de historiadores
marxistas britânicos.
Da polêmica que surgiu com a obra de Thompson, que nunca teve uma resposta de Althusser,
o também historiador britânico Perry Anderson, na direção de uma das mais importantes
revistas marxistas de nosso tempo, a New Left Review, publicou Teoria, política e história: um
debate com E. P. Thompson (título da edição brasileira para Arguments within English
marxism), em 1980. Anos depois, Ellen Meiksins Wood (1942-2016) dedicou um capítulo do
seu livro Democracia contra capitalismo (1995) para apontar o mal-entendido da polêmica e os
exageros da recepção da obra de Thompson, que terminaram obscurecendo o lugar de
Althusser no interior do marxismo (WOOD, 2011).
O resultado desse debate e de tantos outros que foram travados contra o marxismo ou no
interior desta corrente é prova definitiva de que o Materialismo Histórico continua vivo e
influente nos meios intelectuais de todo o mundo.
POR TUDO ISSO, SEM QUE SE DIGA QUE AS
UNIVERSIDADES SÃO “ANTROS DE
MARXISTAS”, ALGO QUE ESTÁ LONGE DE
CORRESPONDER À VERDADE, É IMPOSSÍVEL
NÃO ENXERGAR COMO ESSA CORRENTE
INTELECTUAL INFLUENCIOU E SEGUE
INFLUENCIANDO OS DEBATES E O
DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO DE
FILÓSOFOS, HISTORIADORES, SOCIÓLOGOS,
ANTROPÓLOGOS, POLITÓLOGOS,
PSICÓLOGOS E ESTUDIOSOS DE MUITAS
OUTRAS ÁREAS PELO MUNDO AFORA.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
ESCOLA DE FRANKFURT
Entre as correntes intelectuais mais importantes relacionadas ao marxismo no mundo, a Escola
de Frankfurt se destaca por ter oferecido uma crítica consistente da sociedade de consumo,
da indústria cultural e das formas assumidas pela modernidade, que ensejaram os
mecanismos de dominação social, política e ideológica.
A Escola de Frankfurt, que teve como berço o Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt,
dirigido inicialmente por Carl Grümberg (1861-1940), onde se editava a Revista de Pesquisa
Social, cujos colaboradores eram os filósofos Theodor Adorno (1903-1969), Max Horkheimer
(1895-1973) e Hebert Marcuse (1898-1979) não chega a ser uma “escola” no sentido literal do
termo. Mesmo assim, ela logo se tornou um centro de convergência de intelectuais e teóricos
críticos, que usavam o marxismo como um instrumento de intepretação do mundo, de
interpretação da cultura e de compreensão.
Em seu contexto, a Escola de Frankfurt, que data de 1924, pode ser entendida como um amplo
empreendimento intelectual que, baseado do marxismo, pressupunha uma leitura do mundo
sob a ótica da Filosofia, da Sociologia e da Psicanálise, livre das amarras, das ortodoxias e dos
compromissos políticos estreitos com os fundadores do Materialismo Histórico e com os
personagens políticos, regimes de Estado e partidos que dominavam o movimento comunista
internacional.
O MOVIMENTO INTELECTUAL DOS
FRANKFURTINIANOS
Os intelectuais frankfurtinianos despontaram para o universo intelectual no momento de derrota
da Revolução Alemã (1919, 1921, 1923), da emergência e consolidação do stalinismo na
URSS, da ascensão do fascismo na Itália (1922) e do nazismo na Alemanha (1933). Em sua
relação com o marxismo, tais fatos foram determinantes para os caminhos que foram seguidos
e que implicaram numa adesão repleta de incongruências e idiossincrasias.
O INSTITUTO E SEU PAPEL
Tendo surgido na Alemanha sob a influência dos tumultuados anos seguintes à Primeira
Guerra, com a ascensão de Hitler, o Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt teve de se
transferir para Genebra, depois para Paris e, finalmente, para Nova Iorque, nos Estados
Unidos, onde a revista original passou a ser publicada com o nome de Estudos de Filosofia e
Ciências Sociais. Tal percurso não deixou de influenciaros pensadores a ela vinculados. Ao fim
da Segunda Guerra Mundial, o Instituto de Pesquisa Social retornou a Frankfurt, com boa parte
dos membros da revista que prosseguiram nos seus trabalhos de investigação da Filosofia, da
Estética, da cultura e da ideologia, temas que eram pensados a partir da ótica marxiana em
diálogo com muitas outras correntes.
ENGAJAMENTO X ACADEMICISMO
Alguns traços presentes nas tradições das correntes marxistas, particularmente importantes
para a disseminação e popularização dessa teoria pelo mundo – muito especialmente sob o
aspecto do engajamento político de intelectuais em partidos e, a certa altura, da defesa quase
que irrestrita da doutrina exarada da União Soviética stalinista entre os membros identificados
com a Escola de Frankfurt –, não são observados nessa mesma medida e intensidade. Pelo
fato de ter havido entre os frankfurtinianos uma relação de aberta recusa de tais compromissos
políticos, esses autores eram frequentemente acusados pelos comunistas de não serem
marxistas ou de serem intelectuais pequeno-burgueses interessados em suas carreiras
acadêmicas.
A seguir, vamos assistir ao vídeo sobre a Escola de Frankfurt e a ideologia de Marx, abordando
principalmente os teóricos: Theodor Adorno, Max Horkheimer e Herbert Marcuse.
MARXISMO OCIDENTAL
De acordo com o historiador Perry Anderson, que compreende a teoria crítica dos
frankfurtinianos como parte do que chama de “marxismo ocidental”, “a perda de qualquer
contato dinâmico com a prática da classe operária” teria aproximado esses marxistas “de
sistemas de pensamentos não marxistas e idealistas contemporâneos, com os quais aquela
[teoria] agora evoluía em estreita, ainda que contraditória, simbiose”.
Segundo este autor, a concentração de intelectuais no campo da filosofia profissional,
combinada à descoberta e à edição de escritos marxianos até então desconhecidos – parte
deles dos primeiros anos de formação do jovem Marx, estreitamente vinculados ao
pensamento hegeliano –, teriam contribuído para uma reinterpretação do Materialismo
Histórico com “acentuada predominância do trabalho epistemológico”.
Tal reinterpretação tinha como foco essencial os problemas do método, vinculados a um
“campo substantivo” de aplicação do método voltado para a análise da estética e, finalmente,
constatando a introdução de novos temas, até então ausentes do marxismo clássico, que
revelavam “um constante pessimismo”, ou seja, o “método como impotência, a arte como
consolação, o pessimismo como imobilidade” (1989, p. 127-128).
A predominância entre os frankfurtinianos de uma separação entre teoria e prática contribuiu
para que esses teóricos fossem vistos com desconfiança por militantes dos partidos
comunistas e por intelectuais vinculados a essas organizações.
Esse fato tornou a Escola de Frankfurt impermeável à influência do dogmatismo e do marxismo
vulgar. Sob o impacto da experiência traumática da Segunda Guerra Mundial e do holocausto –
num contexto de emergência da Guerra Fria e das teorias críticas do totalitarismo, que
igualavam as experiências do nazismo e do stalinismo, muito a propósito dos interesses do
Departamento de Estado norte-americano –, a alternativa oferecida pelos teóricos de Frankfurt,
com sua crítica visceral do capitalismo, da modernidade, do cientificismo, do poder, das
ideologias e da indústria cultural, ainda nos marcos de um marxismo que se poderia dizer
heterodoxo, correspondeu a um ponto de fuga de doutrinas herméticas que tinham sido
testadas por longas décadas e pareciam naufragar sem oferecer alternativas ao capitalismo e
às ditaduras da URSS e dos países do Leste Europeu.
WALTER BENJAMIN
Nesse contexto, a obra de Walter Benjamin (1892-1940), filósofo considerado o membro
externo da Escola de Frankfurt, é ilustrativa desse movimento de relação instável e tumultuada
com a política, posto que pelo estético, pela cultura e pela crítica da ortodoxia, o autor compôs
uma obra rica de nuances e imensas possibilidades. Ao estabelecer seu contato com o
marxismo, que era assumido de uma perspectiva judaico-messiânica e também melancólica,
Benjamin, que teve um destino trágico ao tentar fugir dos nazistas em 1940, vai ao encontro de
uma rica concepção de história, em que o passado não é nunca um dado morto, mas algo que
sobrevive nas reminiscências e num permanente refazer-se da memória através de um
constante combate dos vencidos pelo direito à voz.
A obra benjaminiana forma um rico mosaico de temas e escritos que, pela característica
fragmentária, depois de se coligir peça a peça, permite entrever quão rica era a sua
abordagem, colada a um tempo que viu ascender o nazismo e o stalinismo, mas um tempo que
permaneceu prenhe de futuro, como seu anjo descrito no célebre artigo Sobre o conceito de
história (1940).
ADORNO E HORKHEIMER: DIALÉTICA DO
ESCLARECIMENTO
Em A dialética do Esclarecimento (1947) (também traduzida como Dialética do Iluminismo),
Adorno e Horkheimer ratificam os anseios inscritos nos primeiros estudos do Instituto de
Pesquisas Sociais, na década de 1930, mas, ao mesmo tempo, ajustam o programa a uma
temporalidade pós-traumática, na qual a ingênua ideia de progresso – subsumida a “um
absoluto do resultado sabido do processo total da negação”, o que implicava saber de antemão
a “totalidade no sistema e na História” – não seria mais possível (2006, p. 32).
Foi justamente em relação a essa
compreensão de processo e da História que
Marx e Engels se desvincularam quando
acertaram as contas com a herança hegeliana
cem anos antes. Adorno e Horkheimer
esperavam reinstituir a crítica radical do culto
do progressismo, presente na filosofia
hegeliana e no que chamavam de
Esclarecimento, que nada mais era do que as
formas de iluminismo e racionalismo da ciência,
que, de alguma forma, eram parte de um
mundo que sucumbiu a uma guerra que quase
destruiu a humanidade.
A DIALÉTICA DO ESCLARECIMENTO
Uma das mais importantes obras da Escola de Frankfurt, que poderia ser tomada como uma
espécie de manifesto, em que podemos encontrar o espírito do pensamento frankfurtiano.
Para Adorno e Horkheimer, contudo, isso não teria ocorrido apenas com sua filosofia como
apoteose do pensamento em progresso, mas com o próprio Esclarecimento, entendido como a
sobriedade pela qual este acredita distinguir-se de Hegel e da metafísica em geral. O
Esclarecimento é totalitário como qualquer outro sistema. Sua inverdade não está naquilo que
seus inimigos românticos sempre censuraram: o método analítico, o retorno aos elementos, a
decomposição pela reflexão, mas no fato de que, para ele, o processo está decidido de
antemão. (2006, p. 32)
A dialética do esclarecimento não chega a ser uma obra fácil de atravessar. Sua leitura,
entretanto, oferece um texto que é essencialmente filosófico e cheio de referências ocultas, o
que representa a exata medida de parte do programa que seria incorporado como marcas
fundamentais das teorias dos frankfurtinianos, muito especialmente a discussão sobre a
indústria cultural, em alternativa crítica ao termo “cultura de massa”, que dava a entender que
alguma forma de cultura poderia ser produzida autonomamente pelas massas, e também a
crítica ao antissemitismo.
No que tange aos desdobramentos desses estudos, enquanto Horkheimer permaneceu
empenhado em deslindar de um ponto de vista filosófico em o Eclipse da razão (1947), Adorno
enveredou pela teoria psicanalítica, muito especialmente por Freud, para entender as razões
do antissemitismo e do fascismo que, inclusive, teriam sobrevivido à Segunda Guerra,
reaparecendo em sociedades democráticas. Dos estudos desenvolvidos através de um
programa coletivo de investigações que tomava o comportamento de cidadãos estadunidenses
como foco da análise, surgiu Estudos sobre a personalidade autoritária (1950), obra em que é
desenvolvida a “Escala F” (F de Fascismo), que tinha por objetivo “mensurar a personalidade
potencialmente antidemocrática” em paísestidos por democráticos e modelos civilizacionais.
(ADORNO, 2019, p. 135)
HERBERT MARCUSE
Ao lado dos estudos desenvolvidos por Adorno
e Horkheimer, Eros e civilização (1955) e O
homem unidimensional (1964), de Herbert
Marcuse, além dos trabalhos de Erich Fromm,
muito especialmente o Conceito marxista de
homem (1961), foram particularmente
influentes num contexto em que os movimentos
de juventude, que inflexionaram as formas de
se perceber e atuar na política, tendo como
ponto fulcral o Maio de 1968 francês,
buscaram alternativas no interior do
pensamento crítico, permanecendo no campo
do marxismo.
Dessa forma, buscando recolocar o homem
novamente em contato com sua plenitude
existencial – que incluía um resgate do
erotismo e uma reconciliação do indivíduo com
a sua personalidade narcisista na busca pelo
prazer, além de aspectos vinculados à
libertação sexual, à contracultura e ao
humanismo –os teóricos da Escola de Frankfurt
estiveram entre os mais influentes dos
movimentos que explodiram nas décadas de
1960 e 1970 pelo mundo.
MAIO DE 1968
Levante dos estudantes franceses nas ruas de Paris contra as fórmulas tradicionais de
educação.
Por tudo isso, a teoria crítica de Frankfurt tornou-se referência importante para os jovens que
sonhavam transformar o mundo, mas que não pretendiam fazê-lo no mesmo sentido do que
estava estabelecido na URSS e no Leste Europeu, onde burocracias comandadas por partidos,
na maioria das vezes gerontocráticos, eram incapazes de ouvir as vozes da juventude.
No lastro desses movimentos, teve início, por reivindicações pontuais em diversas partes do
mundo, um profundo questionamento do poder político, das instituições, das formas de controle
da sexualidade e da cultura. Portanto, o que se apresentava nas lutas era algo daquilo que, em
parte, os teóricos da Escola de Frankfurt já vinham tratando.
O caráter de rebeldia e de amplo questionamento do que estava posto influenciou levantes em
países do Leste Europeu, como Hungria, em 1956, e da antiga Tchecoslováquia (Primavera de
Praga), em 1968. Por causa desses movimentos esmagados pelas burocracias, surgiram
alternativas apresentadas pelas ruas, que reivindicavam a Revolução Chinesa e o maoísmo, o
marxismo antiburocrático de Leon Trotsky, assassinado no México por um agente stalinista em
1940, além da experiência da Revolução Cubana, da guerrilha e do foquismo.
Um dos principais símbolos desses movimentos foi a figura do guerrilheiro Che Guevara (1928-
1967), morto nas selvas bolivianas pelas forças de repressão daquele país, com o apoio dos
Estados Unidos, que até hoje tem sua face estampada como símbolo de protesto.
DIFERENTEMENTE DOS MUITOS MARXISMOS
QUE, PETRIFICADOS NAS SUAS ORTODOXIAS E
CERTEZAS, FORAM PRATICAMENTE
ESQUECIDOS POR UM MUNDO EM
PERMANENTE TRANSFORMAÇÃO, O
MARXISMO DA ESCOLA DE FRANKFURT, COMO
ALGUNS OUTROS, PERMANECEU
OFERECENDO UM IMPORTANTE REFERENCIAL
TEÓRICO PARA QUEM ESTIVESSE DISPOSTO A
PENSAR (E TRANSFORMAR) O MUNDO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho de Marx e Engels é tão importante em seu conjunto, que existe um projeto
transnacional de publicação de suas obras completas chamado Marx-Engels-Gesamtausgabe
(MEGA), com diversas edições no Brasil, inclusive de livros que permaneciam inéditos ou que
haviam sido publicados apenas parcialmente.
No entanto, não é apenas da obra marxiana e engelsiana que vive o marxismo. Desde o fim da
Ditadura Militar no Brasil – mas, principalmente, a partir do século XXI, quando os efeitos da
queda do Muro de Berlim já não eram mais capazes de produzir maiores abalos no lastro
teórico marxiano e marxista –, diversos autores desse campo vêm sendo valorizados e
publicados entre nós. Destacamos o renovado interesse pela obra de Antonio Gramsci, que
propiciou a publicação dos Cadernos do cárcere, além dos escritos pré-carcerários e de suas
cartas da prisão, numa solução editorial inédita no país, além das edições de Lukács, Lênin,
Trotsky, Rosa Luxemburgo e dos teóricos da Escola de Frankfurt, entre outros importantes
marxistas do século XX.
Revisitamos a construção da teoria, como ela se disseminou de forma partidária e política, mas
também como ela foi revista e revisada por autores que, entre outros aspectos, visavam
mostrar que era preciso ter cuidado ao negar uma teoria simplesmente pela discordância
política, e que, por isso, é fundamental estudar a Escola de Frankfurt.
Considerando as palavras de Derrida, o presente, como o passado, e quem sabe o futuro,
permanecerá sendo “para, contra, com, mas não ‘sem’” Marx. Então, fica aqui o convite para
que possamos conhecer Marx e o marxismo e nos aprofundar neste assunto.
 PODCAST
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
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2006.
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ALTHUSSER, L. Ler o capital. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979.
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Unicamp, 2018.
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das Letras, 1989.
BENSAÏD, D. Marx, manual de instruções. São Paulo: Boitempo, 2013.
BERMAN, M. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo:
Companhia das Letras, 1992.
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Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
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Brasileira, 1984.
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LÊNIN, V. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia: o processo de formação do
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Herbert Marcuse. Beacon Press, 2007.
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MARX, K. O capital. Livro I: o processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.
MARX, K. O 18 Brumário e Cartas a Kugelmann. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
MARX, K. Grundrisse. São Paulo: Boitempo, Rio de Janeiro: UFRJ, 2011.
MARX, K; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
MARX, K; ENGELS, F. A sagrada família. A crítica da Crítica crítica contra Bruno Bauer e
consortes. São Paulo: Boitempo, 2003.
MARX, K; ENGELS, F. A ideologia alemã. Crítica mais recente da filosofia alemã em seus
representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner e do socialismo alemão em seus diferentes
profetas. 1845-1846. São Paulo: Boitempo, 2007.
MARX, K; ENGELS, F. Manifesto comunista. São Paulo: Boitempo, 2007.
MARX, K; ENGELS, F. Lutas de classe na Rússia. São Paulo: Boitempo, 2013.
THOMPSON, E. P. A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma crítica ao
pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
WOOD, E. M. Democracia contra capitalismo. A renovação do materialismo histórico. São
Paulo: Boitempo, 2011.
EXPLORE+
Leia os seguintes livros:
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A ideologia alemã
O 18 de Brumário de Luís Bonaparte
Pesquise sobre a obra póstuma de Lênin: Cadernos filosóficos (1929).
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