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02 Marxismos

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DEFINIÇÃO
Marx e Engels e a formulação do Materialismo Histórico; a herança marxista a partir de pensadores
que desdobraram seu pensamento; as novas fases do marxismo a partir das influências da Escola
de Frankfurt.
PROPÓSITO
Explicar, de forma fundamentada, as bases e a permanência do pensamento de Marx e os
continuadores de suas teorias – marxianos e marxistas. Trata-se de uma das principais influências
para o pensamento filosófico da contemporaneidade.
OBJETIVOS
 
MÓDULO 1
Compreender o desenvolvimento do marxismo e o surgimento do Materialismo Histórico
 
MÓDULO 2
Identificar aspectos do pensamento marxiano e sua apropriação pelos marxistas clássicos
 
MÓDULO 3
Relacionar a Escola de Frankfurt e o marxismo
INTRODUÇÃO
Depois de proclamada por tantas vezes a morte de Marx e iguais vezes evocada a sua ressurreição
na história do pensamento contemporâneo, a pergunta que fica se refere à tentativa de
compreender a importância do legado desse autor, que é amado por uns e odiado por outros
tantos.
Para responder a essa questão, antes de discutir
quem o aprecia e quem são aqueles que se
reivindicam como marxistas ou marxianos, é
preciso partir do pressuposto de um dos seus
críticos (um adversário?), Jacques Derrida, que
um dia proclamou que não há futuro sem Marx e
afirmou que é possível estar “para, contra, com,
mas não sem Marx” (BENSAÏD, 2013, p. 168).
 
Fonte: Escritas.org
JACQUES DERRIDA (1930-2004)
Filósofo franco-argelino, um dos mais influentes autores das correntes chamadas do “pós-
modernismo”. Derrida critica a tradição estruturalista proposta por Marx, mas entende que as
ciências humanas precisam passar pelas teorias do autor.
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CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
CONHECENDO MARX
Nascido em Trier, capital da província alemã do
Reno, no alvorecer do século XIX, momento em
que a humanidade atravessava sua primeira
Revolução Industrial, que começava pela
Inglaterra, mas levaria algumas décadas para
atingir o restante da Europa, Karl Heinrich Marx
(1818-1883) teve origem em uma ampla família
judaica de classe média. Desde muito jovem,
esteve envolvido com movimentos intelectuais,
mas foi a partir de sua transferência para a
Universidade de Berlim e do encontro com jovens
intelectuais e discípulos do professor e filósofo
Georg Wilhelm Friedrich Hegel que o jovem
Marx descobriu sua paixão pela Filosofia e
encontrou o que parecia ser sua vocação.
 
Fonte: Wikipédia
A partir do encontro com os chamados jovens hegelianos (também conhecidos como hegelianos de
esquerda), Marx deu os primeiros passos no desenvolvimento do que viria a ser uma das mais
profícuas e controversas obras da humanidade. Estamos nos referindo ao conjunto dos estudos que
acabou por influenciar a Política, Sociologia, História, Economia e Filosofia. Apesar de ser
teoricamente uma obra vital, cai em segundo plano ou em negação muitas vezes em virtude das
controvérsias políticas que ensejou, e isso, às vezes, impede uma apreciação correta da sua
dimensão.
MOVIMENTOS INTELECTUAIS
Marx envolveu-se com o movimento literário romântico, sonhou ser poeta, rabiscou alguns
versos e frequentou o Clube de Poetas, quando passou a frequentar o curso de Direito na
Universidade de Bonn.
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GEORG WILHELM
FRIEDRICH HEGEL
(1770-1831)
É considerado por muitos o pai do
Materialismo Histórico, em especial no que
tange a seu modelo de uma sociedade em
um equilíbrio instável entre Síntese, Antítese
e Tese em forma de um constante ciclo.
Porém, para Hegel – isto é uma tremenda
simplificação –, o sentido era a
estabilização, a busca do homem de manter
o equilíbrio. Daí a ideia de que o
pensamento hegeliano era conservador em
certo sentido, ainda que um grupo de alunos
o reinterpretassem como uma maneira da
sociedade ser transformada, gerando a
alcunha de hegelianos de esquerda.
Hegel. Fonte: Wikipédia
TRABALHOS INICIAIS DE MARX: RELAÇÕES DE
PROPRIEDADE
RELAÇÕES DE PROPRIEDADE
Inicialmente, os trabalhos de Marx estudaram as
relações de propriedade pela ótica da
transformação do direito público e as formas
assumidas na História pela propriedade privada.
Fonte: Shutterstock
 
Fonte: Shutterstock
Marx começou pelas disputas pela lenha, um
produto essencial para aquecer as casas durante
o inverno em regiões temperadas. Tais disputas
foram percebidas a partir de sua conversão em
crime, já que buscar a lenha em florestas que
tinham se tornado propriedade privada passou a
ser considerado roubo.
Como futuro pensador e militante socialista, Marx
percebeu que o resultado da transfiguração do
simples ato de recolher lenha na floresta em roubo
provinha das transformações da sociedade que
impunham às populações acostumadas a recolher
a lenha a condição de párias e criminosas.
Fonte: Shutterstock
 
Fonte: Shutterstock
Estava aberto o caminho para uma primeira crítica
da sociedade de classes e transformar Marx,
digamos, num marxista. Não obstante, essa crítica
ainda se dava no terreno das ideias e da filosofia,
porque foi feita muito antes de Marx descobrir as
classes, a luta de classes e a sociedade burguesa
(ou o modo de produção capitalista).
MARX E AS BASES DA FILOSOFIA MARXISTA
OS FILÓSOFOS SÓ INTERPRETARAM O MUNDO DE
DIFERENTES MANEIRAS; DO QUE TRATA É DE
TRANSFORMÁ-LO”.
(MARX; ENGELS, 1989, p. 97)
Muito antes de formular essa famosa décima primeira tese sobre Feuerbach, que escreveu a partir
do contato com seu grande amigo, parceiro e colaborador intelectual Friedrich Engels, Marx procurou
construir uma carreira acadêmica discutindo a filosofia clássica e também o pensamento do seu
mestre (e mestre de quase todos os jovens filósofos alemães da época), Hegel.
LUDWIG FEUERBACH (1804-1872)
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Discípulo de Hegel e famoso pela crítica ao pensamento religioso, ou à proposição de uma
Teologia Humanista.
 
São dessa época as obras A diferença entre as
filosofias de Demócrito e Epicuro (1841), que se
originou de uma tese de doutorado defendida em
Jena, quando tinha apenas 23 anos, e seus
primeiros textos, que sugerem uma preocupação
incipiente com os temas da política e da
transformação do mundo – isso o acompanharia
por toda a vida –, além dos efeitos de uma intensa
atividade jornalística desenvolvida em veículos de
imprensa de jovens hegelianos.
Como produtos literários dessa primeira fase de
atividade intelectual, temos:
Introdução à crítica da filosofia do Direito de
Hegel;
A questão judaica;
Os manuscritos econômico-filosóficos.
Todas essas obras foram escritas em 1844.
Algumas delas, sem terem sido publicados,
ficaram inéditas até o século XX.
Após se encontrar com Engels – que havia ido a Londres para administrar as indústrias do pai, mas
passou a frequentar os ambientes da classe trabalhadora, o que o fez produzir A situação das
classes trabalhadora na Inglaterra (1845) –, Marx extrai algumas das ideias para compor sua
primeira obra escrita em parceria com o jovem Friedrich Engels.
O resultado dessa colaboração é o esboço de uma concepção de mundo que, posteriormente,
constituiria as bases filosóficas de tudo aquilo que se chama filosofia marxista.
 IMPORTANTE
A obra A sagrada família ou A crítica da Crítica crítica: contra Bruno Bauer e consortes (1845)
assinala o início da ruptura com os jovens hegelianos e a primeira formulação de uma concepção
que se poderia dizer efetivamente “marxista” da História, chamada também de Materialismo
Histórico.
RUPTURA COM OS JOVENS HEGELIANOS
É controverso se há efetivamente ou não uma ruptura do pensamento de Marx a partir do
encontro com Engels. De forma pragmática, essa é uma leitura de que ele deixa de ser um
defensor das ideias de Hegel para tornar-se um teórico, criando lentamente uma nova dinâmica
do Materialismo Histórico, em que o caminho da História, o motor da História, é o conflito, e não
a síntese – como sugerido por Hegel.
MATERIALISMO HISTÓRICO
Concepção de que a história setransforma pelas ações dos homens, em especial suas lutas
contra aqueles que dominam.
RUPTURA COM HEGELIANOS
O encontro dos jovens intelectuais, que deu início a uma parceria que duraria por toda a vida, foi
marcado pela ruptura com os jovens hegelianos, os quais eram percebidos como imersos no interior
da filosofia metafísica de Hegel.
O QUE MARX E ENGELS PRETENDIAM?
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Para Marx e Engels, a tarefa a ser cumprida não era superar Hegel no terreno da filosofia e do
idealismo através da crítica à religião e ao cristianismo, mas presumir que, para que a crítica fosse
eficaz, seria preciso transformar o mundo no qual os homens eram levados a acreditar em Deus e
a construir religiões. Portanto, se havia um lugar onde essa luta se daria, não era no plano da crítica
da religião ou da ideia de Deus, mas dentro da História real.
COMO?
Superar a visão hegeliana através de um embate exclusivamente no plano metafísico ou das ideias.
Leia uma passagem escrita por Engels para A sagrada família:
Capa original de A sagrada família. Fonte:
Wikipédia
Uma vez reconhecido o homem como essência,
como a base de todas as atividades e dos estados
humanos, apenas a “Crítica” pode inventar novas
categorias e transformar de novo o próprio
homem, conforme o faz agora, numa categoria e
no princípio de toda uma série de categorias,
atitude com a qual a humanidade teológica
atemorizada e perseguida abraça, por certo, o
último caminho de salvação que ainda lhe restava
livre. A História não faz nada, “não possui
nenhuma riqueza imensa”, “não luta nenhum tipo
de luta”! Quem faz tudo isso, quem possui e luta
é, muito antes, o homem, o homem real, que vive;
não é, por certo, a “História” que utiliza o homem
como meio para alcançar seus fins – como se se
tratasse de uma pessoa à parte –, pois a História
não é senão a atividade do homem que persegue
seus objetivos. (MARX & ENGELS: 2003, p. 111)
DIZER QUE A “HISTÓRIA NÃO FAZ NADA”
SIGNIFICA QUE, DIFERENTEMENTE DO QUE
PRETENDIA HEGEL E SEUS DISCÍPULOS – QUE
ACREDITAVAM NA HISTÓRIA COMO UMA
ABSTRAÇÃO, NA QUAL AS VONTADES DO TEMPO
OU DE DEUS ERAM REALIZADAS A PARTIR DA
EVOLUÇÃO DAS IDEIAS (DO ESPÍRITO) – SÃO OS
HOMENS REAIS QUE IMPORTAM, SÃO ELES QUE
CONTAM PORQUE LUTAM E PERSEGUEM SEUS
OBJETIVOS, DANDO FORMA AO MUNDO REAL.
O objetivo dessa crítica, que ilustra bem o espírito que move os dois amigos ao colaborarem pela
primeira vez, é superar a Filosofia da História de Hegel e dos jovens hegelianos. Essa visão
pressupunha que havia um sentido inscrito na transformação do mundo e no caminho da realização
da razão universal e do espírito absoluto que passava por fora da existência real dos homens.
A IDEOLOGIA ALEMÃ
A tentativa de se opor no campo das ideias ao
pensamento hegeliano não foi muito bem-aceita
no meio acadêmico. Assim, outro trabalho de
Marx e Engels tentou definir o conceito de
Materialismo Histórico.
A obra A ideologia alemã (1845) estabelece uma
concepção original da História que põe o homem,
em sua relação com a natureza e com os outros
homens, no centro de toda a trama histórica. Por
conseguinte, não por acaso, em passagem
riscada do manuscrito, que sobreviveu para
ilustrar em grande medida a concepção filosófica
de Marx e Engels, eles declaram que conhecem
“uma única ciência, a ciência da História” (MARX;
ENGELS, 2007, p. 40)
O significado disso é:
Fonte: Ad Substantiam
PARA O MARXISMO, É NO MUNDO REAL, FORMADO POR
HOMENS REAIS, QUE SE DÃO AS LUTAS E SE ESTABELECEM AS
RELAÇÕES SOCIAIS, OU SEJA, QUE SE DESENVOLVE A
HISTÓRIA.
HISTÓRIA
A História nada mais é do que o suceder-se de gerações distintas, em que cada uma delas
explora os materiais, os capitais e as forças de produção a ela transmitidas pelas gerações
anteriores; portanto, por um lado, ela continua a atividade anterior sob condições totalmente
alteradas e, por outro, modifica, com uma atividade completamente diferente, as antigas
condições, o que então pode ser especulativamente distorcido, ao converter-se a história
posterior na finalidade anterior, como, por exemplo, quando se atribui à descoberta da América
a finalidade de facilitar a irrupção da Revolução Francesa, com o que a história ganha
finalidades à parte e torna-se uma “pessoa ao lado de outras pessoas”. (MARX; ENGELS,
2007, p. 86)
IDEOLOGIA ALEMÃ
O conceito de ideologia é um problema aplicado na Língua Alemã com debates sobre Gestiche
e Kultur – conhecimento e cultura –, que não são palavras destituídas de sentido intenso do
que representam para este novo conjunto recém-criado e conhecido como alemão. Lembre que
a unificação da Alemanha só aconteceu em 1871, embora a identidade que os aproximava
fosse remetida à Antiguidade. Então, não devemos entender ideologia como um conjunto de
ideias, mas como um conceito complexo de autoconhecimento das dinâmicas que compõem a
complexa identidade do grupo.
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LOUIS ALTHUSSER
Na teoria de Althusser, o pensamento de Marx deveria ser dividido em Jovem Marx, com
questões pouco relacionadas à base do seu pensamento, com bons arcabouços, mas distantes
da análise de sua teoria, inaugurada com a Ideologia Alemã, e a fase chamada de Velho Marx,
o Marx que usa a teoria para fortalecer e refletir sobre a prática.
A importância desse trabalho é tão grande que os estudiosos atribuem à obra A ideologia alemã um
ponto de inflexão na formulação do pensamento marxista, saindo de um ponto de vista ainda
demasiadamente influenciado pelo idealismo para uma perspectiva essencialmente materialista. O
filósofo francês Louis Althusser (1918-1990), um dos mais importantes autores marxistas da
corrente do estruturalismo, considera que Marx teria se tornado “ele mesmo” apenas depois de 1845
(ALTHUSSER, 2015, p. 61).
O resultado dessa transformação ensejou a seguinte conversão:
Por conta disso, Marx e Engels ingressaram na Liga dos Justos, uma organização política prestes a
assumir sua condição de comunista, para encontrar os homens de carne e osso que falavam em
desvelar o proletariado como sujeito da revolução. Desse encontro com militantes empenhados em
lutar pela transformação do mundo, foi delegada a eles a tarefa de redação de um manifesto que
anunciaria a Liga dos Comunistas.
 
MANIFESTO COMUNISTA
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Depois de postergarem o compromisso que assumiram até o limite do tolerável, sem que Engels
obtivesse uma resposta do seu companheiro, ele entregou a Marx um material que havia redigido e
poderia servir como ponto de partida para a redação do manifesto: Princípios do comunismo (1847).
A redação dessa obra e o trabalho em dupla para a elaboração do texto do manifesto da Liga dos
Comunistas contribuíram para o surgimento de um dos mais significativos livros do marxismo e da
História: o Manifesto do Partido Comunista (1848).
 
Uma das frases da abertura do libelo que se tornou uma das obras mais editadas e traduzidas em
todo o mundo, representa uma perfeita síntese da concepção de História surgida da transformação
da filosofia idealista em filosofia marxista, melhor dizendo, em Materialismo Histórico:
 
“A HISTÓRIA DE TODAS AS SOCIEDADES ATÉ HOJE
EXISTENTES É A HISTÓRIA DA LUTA DE CLASSES”.
(MARX; ENGELS, 1998)
LIBELO
Peça acusatória. Na justiça, é o material produzido com o objetivo de apontar a fundamentação
legal.
Publicado em fevereiro de 1848, quando eclodia na França a primeira revolução que inauguraria a
Primavera dos Povos na Europa, o Manifesto do Partido Comunista é a melhor e mais acabada
síntese do marxismo. Há no texto uma linguagem que exalta as realizações da burguesia, aponta
suas limitações e localiza a sociedade burguesa e a produção capitalista como ponto de passagem
da História, e não como sua chegada.
Da antecipação das crises cíclicas do capitalismo, causadas pela ascensão da sociedade burguesa,
à exaltação do proletariado, o Manifesto conjuga um estilo preciso e sofisticado com uma
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competentesíntese do desenvolvimento histórico.
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO
Trecho do Manifesto comunista como comprovação do que a atividade humana é capaz de
realizar: A burguesia não pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de
produção e, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais. A
conservação inalterada do antigo modo de produção era, pelo contrário, a primeira condição de
existência de todas as classes industriais anteriores. Essa subversão contínua da produção,
esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitação permanente e essa falta de
segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as
relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e ideias secularmente
veneradas; as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes de se consolidarem.
Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e os
homens são obrigados finalmente a encarar sem ilusões a sua posição social e as suas
relações com os outros homens. (MARX; ENGELS, 1998, p. 43)
 SAIBA MAIS
Para o filósofo estadunidense Marshal Berman (1940-2013), que vê em Marx um dos arautos da
modernidade, os paradoxos presentes na linguagem dialética do Manifesto dão a impressão de que
Marx, em vez de pretender enterrar a burguesia de uma vez, parece empenhado em exaltá-la (1992,
p. 91). Segundo este autor, isso ocorre porque, pela ótica do livro, a sociedade burguesa, quanto
mais exorta os homens a crescer, mais faz com que estes se voltem violentamente contra ela “como
uma draga impetuosa (...) em nome de uma nova vida que ela própria os forçou a buscar” (1992, p.
95).
Não podem restar dúvidas de que o Manifesto comunista (ou Manifesto do Partido Comunista) ocupa
um lugar importante no conjunto da obra de Marx e Engels pelo vigor estilístico, pela abordagem
clara e pelo seu formato simples, direto e acessível aos trabalhadores. Em vista disso, não é possível
se aventurar pela descoberta do marxismo sem conhecer esse texto, quando não, sem iniciar o
percurso por ele.
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É COM O MANIFESTO COMUNISTA QUE MARX EXPLICITA A LUTA
NECESSÁRIA EM RELAÇÃO AO CONTROLE DOS MEIOS DE
PRODUÇÃO.
Fonte: Ad Substantiam
MARX E
ENGELS:
A
HISTÓRIA
O pensamento
marxiano e
engelsiano, pela sua
complexidade, é
composto de muitas
outras obras. Marx
analisa a história em
processo, como nos
escritos que deram
origem às obras A
luta de classes na
França (1850), O 18
de Brumário de Luís
Bonaparte (1852) e,
posteriormente, A
guerra civil na
França (1871). A
aplicação do
Materialismo
Histórico se mostra
mais eficaz para fins
de compreensão da
realidade da luta de
classes nos
Nesses escritos, a análise
marxista mostrou-se
bastante eficaz, pois
sobreviveu ao julgamento do
tempo, guardando a
importância para muito além
do que se atribui aos
clássicos, posto ser capaz
de articular, como nenhum
outro autor, as dimensões da
estrutura e do processo na
transformação histórica,
como podemos ver em
passagem do 18 de
Brumário de Luís Bonaparte:
tumultuados
contextos das
revoluções de 1848
e do golpe de Luís
Bonaparte, em 1851,
e, muito depois, com
a experiência da
Comuna de Paris,
em 1871.
OS HOMENS FAZEM SUA PRÓPRIA HISTÓRIA, MAS NÃO
A FAZEM COMO QUEREM; NÃO A FAZEM SOB
CIRCUNSTÂNCIAS DE SUA ESCOLHA, E SIM SOB
AQUELAS COM QUE SE DEFRONTAM DIRETAMENTE,
LEGADAS E TRANSMITIDAS PELO PASSADO”.
(MARX: 1997, p. 21)
Desenvolvimento industrial no século XIX. Fonte:
Wikipedia
No século XIX, a burguesia de muitos países
ainda não tinha varrido da cena histórica o que
Marx considerava como os resquícios da
sociedade feudal (aristocracias, reis, súditos,
relações de suserania, servidão e vassalagem).
Então, por entender que a moderna classe
burguesa ainda cumpria um papel progressista na
História, Marx e Engels admitiam que o mundo,
antes de reunir todas as condições para a
transição para o socialismo e o comunismo,
precisaria passar pelo desenvolvimento pleno
do capitalismo, de suas forças produtivas e de
suas principais classes antagônicas: burguesia e
proletariado.
 
Porém, o que eram exatamente essas duas classes?
 
Como estabeleciam a relação entre elas nessa fase de desenvolvimento histórico?
 
 Como se daria a relação de exploração?
 
De onde vinha a riqueza que permitia a transformação de países de território restrito e pouca
presença colonial em grandes potências?
A partir de questões como essas e de muitas outras que inquietavam Marx e Engels, principalmente
Marx, eles partiram para estudar as relações econômicas e o desenvolvimento do capitalismo em
bases históricas assentadas.
Engels, que vivera na Inglaterra, berço da Revolução Industrial e bastante mais desenvolvido
industrialmente que o restante da Europa, deu informações a Marx sobre os economistas clássicos
que analisavam as transformações na sociedade e na economia engendradas pela industrialização.
 ATENÇÃO
Precisamos lembrar que estamos em um campo filosófico de compreensão, pelo qual os autores se
influenciavam. Assim, os estudos de Economia Política geravam fundamentações para o trabalho
argumentativo e pragmático proposto por Marx e Engels.

1844
Marx inaugurou um novo momento de sua teoria no terreno econômico a partir dos Manuscritos
econômico-filosóficos (1844), quando ainda estava sob influência direta de Hegel.
1847
Em Miséria da filosofia (1847) e com o texto Trabalho assalariado e capital (1847), partiu para
defenestrar a obra de Joseph Proudhon (1809-1865), sem, no entanto, possuir as ferramentas
conceituais que lhe permitiram em seguida analisar o capitalismo.

Além disso, o encontro com o socialismo francês já havia proporcionado o substrato fundamental
para compreender a luta de classes em perspectiva histórica. Sob o aspecto econômico, a reflexão
marxiana apenas engatinhava, mas ainda faltava a obra definitiva em relação a esse prisma, faltava
O capital.
O CAPITAL
A partir dos anos 1850, Marx intensificou seus
estudos sobre economia. Em 1859, elaborou sua
primeira obra mais diretamente empenhada em
discutir a economia burguesa e seus
fundamentos, Contribuição à crítica da economia
política. Nessa obra, ele apresenta temas que
deram base à obra que representa a maturidade
de Marx, O capital (1867).
Capa original da 1ª edição de O capital,
1867.�Fonte: Wikipédia
Vejamos alguns pontos que permeiam autor e obra:
TEMAS DO MUNDO REAL TRANSFORMADOS EM
CONCEITOS
Mercadoria, capital, circulação, produção e dinheiro são temas tomados do mundo real e
transformados em conceitos, num procedimento investigativo que pressupunha a passagem do
concreto ao abstrato e, depois, um novo retorno ao concreto. No famoso prefácio dessa obra, Marx
sintetiza uma concepção que vinha amadurecendo ao longo dos anos, mas que foi tomada muitas
vezes fora de contexto e desconectada do conjunto da obra marxiana, como se fosse a última
explicação da compreensão de Marx sobre a transformação histórica. Com O capital, Marx forneceu
as bases para que muitos críticos lhe imputassem a pecha de economicista.
ASPECTO FILOSÓFICO E HISTÓRICO
Como apontam alguns dos melhores estudiosos da obra marxiana, por ser filho do seu tempo e
sofrer influências de correntes que se desenvolveram em pleno século XIX, como o cientificismo, o
evolucionismo e a própria economia política, um olhar sobre o conjunto da obra de Marx não
recomenda que o identifiquemos como economicista. Isso porque, para muito além dessas tensões
que aparecem aqui e ali –, que por vezes eram utilizadas com ênfase para redarguir um contraditor
visível ou oculto –, a compreensão que Marx (e também Engels) tem da História, que se conforma no
que pode ser chamado de filosofia marxista ou Materialismo Histórico, é muito distinta do que nos faz
crer a leitura de certos fragmentos que precisam ser vistos nos seus contextos e dentro de certos
enquadramentos mais amplos.DEDICAÇÃO AOS ESTUDOS SOBRE RELAÇÕES
ECONÔMICAS E CAPITALISMO
Tendo elaborado um vasto projeto de estudos sobre a economia política, passando muitas horas de
sua vida na biblioteca do Museu Britânico, Marx sobrevive elaborando pequenos artigos para
periódicos da Europa e dos Estados Unidos, além de contar com a valiosa contribuição financeira
que Engels lhe oferecia.
 
Os vários esboços para a redação de O capital, como a própria Contribuição à crítica da economia
política (também traduzido como Para uma crítica da economia política) e as centenas de páginas
que deram origem aos Grundrisse, representam uma dimensão do grandioso projeto para redação
de sua obra máxima. Além disso, acrescentam elementos para compreensão de sua concepção de
História e do método desenvolvido, incluindo-se aqui o estudo das formas que precederam a
produção capitalista.
MÉTODO DE ESTUDO
No que tange ao método – uma das preocupações centrais de Marx, que sempre elaborava diversos
planos de estudos antes de se enfurnar em investigações exaustivas –, vale acompanhar a
passagem em que o autor faz questão de explicitá-lo:
O CONCRETO É O CONCRETO PORQUE É A SÍNTESE DE
MÚLTIPLAS DETERMINAÇÕES, PORTANTO, UNIDADE NA
DIVERSIDADE. POR ESSA RAZÃO, O CONCRETO
APARECE NO PENSAMENTO COMO PROCESSO DE
SÍNTESE, COMO RESULTADO, NÃO COMO PONTO DE
PARTIDA, NÃO OBSTANTE SEJA O PONTO DE PARTIDA
EFETIVO E, EM CONSEQUÊNCIA, TAMBÉM O PONTO DE
PARTIDA DA INTUIÇÃO E DA REPRESENTAÇÃO”.
(MARX, 2011, p. 54)
LUTA PELA ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES E
PELO DESENVOLVIMENTO DO CAPITAL
Dedicado por vários anos aos estudos da economia política, Marx jamais negligenciou a organização
dos trabalhadores e o desenvolvimento do capital no mundo, inclusive nos Estados Unidos. Ele
nunca deixou de lado as polêmicas, algumas das quais aparecem hoje como mesquinharias, e em
tempo algum abdicou de contribuir para que a tarefa de transformar o mundo fosse o mote de todo
seu esforço intelectual. Em vista disso, em 1864, com Engels e várias correntes que atuavam no
nascente movimento operário de vários países, ajudou a fundar a Associação Internacional dos
Trabalhadores (AIT), posteriormente chamada de Primeira Internacional.
ENTENDENDO QUE CABERIA AOS TRABALHADORES DE
TODO O MUNDO (“PROLETÁRIOS DE TODOS OS PAÍSES,
UNI-VOS”) ORGANIZAR A LUTA PARA A
TRANSFORMAÇÃO REVOLUCIONÁRIA DA SOCIEDADE,
MARX DEDICOU IMENSO ESFORÇO PARA DOTAR A
OBRA QUE ELABORAVA DE UMA LINGUAGEM QUE
FOSSE ACESSÍVEL PARA OS TRABALHADORES.
APESAR DESSE ESFORÇO E CONSCIENTE DAS
DIFICULDADES ATINENTES AOS QUE SE
AVENTURASSEM EM UM PERCURSO DEMASIADAMENTE
LONGO, TORTUOSO E REPLETO DE CONCEITOS
COMPLEXOS E INÚMERAS ABSTRAÇÕES, NO PREFÁCIO
À EDIÇÃO FRANCESA DE O CAPITAL, PUBLICADA EM
1872, MARX ADVERTIU OS LEITORES PARA O FATO DE
QUE O MÉTODO QUE HAVIA EMPREGADO PARA A
ANÁLISE DE ASSUNTOS ECONÔMICOS PODIA TORNAR A
LEITURA ÁRDUA PARA O PÚBLICO FRANCÊS, “SEMPRE
IMPACIENTE POR CHEGAR A UMA CONCLUSÃO”.
TODAVIA, MARX DECLARA QUE NÃO EXISTE “ESTRADA
REAL PARA A CIÊNCIA, E SOMENTE AQUELES QUE NÃO
TEMEM A FADIGA DE GALGAR SUAS TRILHAS
ESCARPADAS TÊM A CHANCE DE ATINGIR SEUS CUMES
LUMINOSOS”.
(MARX, 2013, p. 93)
O CAPITAL VEM A SER, PORTANTO, A PRINCIPAL
OBRA DE MARX, O TEXTO PELO QUAL O AUTOR
FICOU CONHECIDO NO MUNDO, PARA MUITO
ALÉM DO QUE SUGERIA A LEITURA DO
MANIFESTO, UM TEXTO MAIS DIRETAMENTE
POLÍTICO, UM APELO PARA A REVOLUÇÃO E A
LUTA, E PARA MUITO ALÉM DO QUE MUITOS
IMAGINAM SER UMA PROPOSTA DE PARAÍSO
CONSUMADO NUM FUTURO SUPOSTAMENTE
COMUNISTA.
O QUE MAIS DEVEMOS SABER SOBRE MARX E O
CAPITAL?
EXPLICA OS MECANISMOS DE FUNCIONAMENTO DA SOCIEDADE
CAPITALISTA
Assim, mesmo diversos estudiosos e economistas insuspeitos de qualquer simpatia pelo marxismo
são reconhecedores dos méritos de sua obra, pois O capital é considerado seu texto de maturidade
pela profundidade de sua abordagem e pelos elementos que são explicativos dos mecanismos de
funcionamento da sociedade capitalista.
INVESTIGA O MODO DE PRODUÇÃO E A CIRCULAÇÃO DE CAPITAL
A obra contém uma investigação profunda do modo de produção capitalista, cujo centro de
observação, muito embora quase não mencionado, é a Inglaterra, país mais desenvolvido do ponto
de vista da produção capitalista. No percurso da investigação, Marx procurou entender as relações
de produção e circulação de capital. Ele partiu do estudo da mercadoria até alcançar as formas
aprofundadas dos mecanismos intrínsecos ao funcionamento da sociedade burguesa, indo muito
além do que sugerem as aparências.
DESVELA OS VALORES DE TROCA E USO
Marx desvelou o funcionamento da sociedade capitalista com a descoberta da distinção das formas
assumidas pelo valor (valor de troca e valor de uso) e pela decifração dos mecanismos de produção
e realização do lucro instaurados na apropriação da mais-valia, como o tempo de trabalho não pago
pelo proprietário dos meios de produção ao trabalhador, que lhe vende a sua força de trabalho.
Eis, portanto, a essência do que pode ser chamado de marxismo, uma filosofia que surge de base
metafísica hegeliana; logo, transformada em movimento do mundo real e inserida na luta política a
partir do socialismo francês. Em seguida, Marx buscou desvelar os mecanismos mais profundos de
funcionamento das sociedades em geral e da sociedade burguesa do capital, pela crítica da
economia política e pelo desenvolvimento histórico e da luta de classes, com vistas à sua
transformação.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO NÃO É UM FATO, MAS UM PROCESSO.
DA MESMA FORMA, CONSEGUIMOS PERCEBER A FORMULAÇÃO DO
PENSAMENTO DE MARX EM TERMOS FILOSÓFICOS. A RELAÇÃO CORRETA
ENTRE AS INFLUÊNCIAS E A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO DE MARX E
ENGELS ESTÁ PRESENTE NA SEGUINTE ALTERNATIVA:
A) Pode-se dizer que, tendo se beneficiado do conhecimento produzido por Hegel, Marx e Engels,
permaneceram no campo da filosofia hegeliana, confirmando a superioridade do idealismo sobre
todas as outras correntes.
B) Os jovens hegelianos eram filósofos discípulos de Hegel, contra os quais Marx e Engels se
associaram desde o início das duas carreiras e permaneceram com eles até o fim.
C) O Materialismo Histórico surge a partir do momento em que Marx e Engels acertam as contas
com a filosofia hegeliana ao escreverem os manuscritos de A ideologia alemã.
D) O Materialismo Histórico é uma deturpação da filosofia marxista, pois pretendia subverter toda a
lógica metafísica do conhecimento.
2. UMA TEORIA É FORMULADA A PARTIR DE TROCAS E CONSTRUÇÕES.
OBSERVANDO AS OBRAS DE MARX E SEU PAPEL PARA A FORMULAÇÃO
DE TEORIAS, PODEMOS AFIRMAR QUE A EXPLICAÇÃO CORRETA É:
A) A Sagrada família foi o primeiro livro escrito por Marx e Engels, constituindo-se numa importante
crítica aos jovens hegelianos.
B) Publicada em 1845, A ideologia alemã provocou um furor no mundo acadêmico e intelectual por
sua pujança
C) O Manifesto do Partido Comunista é um libelo que propõe o paraíso comunista em substituição ao
capitalismo perverso.
D) Contribuição à crítica da economia política foi a obra escrita por Engels que introduziu Marx no
conhecimento da economia clássica inglesa.
GABARITO
1. A construção do pensamento não é um fato, mas um processo. Da mesma forma,
conseguimos perceber a formulação do pensamento de Marx em termos filosóficos. A relação
correta entre as influências e a construção do pensamento de Marx e Engels está presente na
seguinte alternativa:
A alternativa "C " está correta.
 
Apesar de não ser um dos textos que, num primeiro momento, geram maior impacto, a obra A
ideologia alemã é considerada um ponto de maturação de Marx em sua relação com Engels na
construção do pensamento e entendimento da dinâmica da sociedade burguesa.
2. Uma teoria é formulada a partir de trocas e construções. Observando as obras de Marx e
seu papel para a formulação de teorias, podemos afirmar que a explicação correta é:
A alternativa "C " está correta.
 
O pensamento de Marx e Engels deve ser fortemente considerado dentro da perspectiva do
pensamentohegeliano. O manifesto comunista e O capital são importantes, mas devem ser
entendidos como desdobramentos de um processo de construção de uma relevante teoria.
INTRODUÇÃO
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA: DISPUTA DO
PENSAMENTO
MARXISTAS E MARXIANOS
 
 
MARXISTAS
Chamamos de marxistas os autores, militantes, movimentos, intelectuais e outros sujeitos que
reivindicam o legado – teórico, prático, político – de Marx e Engels.
 
MARXIANOS
Os marxianos, um termo menos comum, são aqueles que, pretendendo evitar o compromisso com
pensamentos, práticas e regimes que consideram como algum tipo de corrupção do pensamento
original, preferem se vincular diretamente ao que foi produzido por Marx e Engels, negando todas as
mediações.
 
MARXÓLOGOS
Um terceiro grupo pode ser adicionado aos dois primeiros, que são os marxólogos, estudiosos da
obra marxiana, engelsiana e, eventualmente, de alguns marxistas, que não estabelecem nenhum
vínculo de compromisso com nenhum dos dois grupos, pois se preocupam em estudar e conhecer as
contribuições dos autores ao pensamento humano.
 
O legado de Marx e Engels, pela sua dimensão teórica e pelo engajamento político-prático que
propuseram, nunca foi de aceitação unânime, como se deve saber. Mesmo entre muitos que
consideram impossível pensar o presente e o futuro sem Marx – lembremos as palavras de Derrida
–, nem todos pretendiam fazê-lo na perspectiva política sugerida pela obra marxiana e engelsiana
em seu conjunto, ou seja, muitos não se empenharam na luta pela superação do capitalismo e
pela implantação do socialismo como caminho até a sociedade comunista.
Considerando o próprio raciocínio de Marx, que articulava as forças da necessidade histórica, ou
seja, os impulsos do passado que não são dominados pelos agentes humanos, podemos dizer que
nem sempre as condições da transformação estiveram dadas. Portanto, trata-se de forças objetivas,
combinadas com as forças da vontade, as quais vêm a ser o impulso subjetivo, que, em certas
condições, fazem a diferença e interferem nos rumos tomados pelos acontecimentos históricos.
 
A HISTÓRIA NÃO ANDA SOZINHA. QUEM FAZ A
HISTÓRIA SÃO AS PESSOAS. ESSES INDIVÍDUOS
POSSUEM NECESSIDADES – CONSCIENTES OU
DISFARÇADAS PELA ALIENAÇÃO. ENTÃO, EM
TODA SOCIEDADE, HÁ GENTE QUERENDO QUE
ELA FIQUE COMO ESTÁ E OUTROS QUE QUEREM
LUTAR. A FORÇA DOS PRIMEIROS É DE
CONTENÇÃO; A FORÇA DOS SEGUNDOS, DE
MOVIMENTAÇÃO. A LUTA DE CLASSES É O
MOTOR DA HISTÓRIA. TUDO O QUE SERÁ FEITO
DEPENDE DAS INTENÇÕES COLETIVAS DE QUEM
PROMOVE A LUTA.
 
 
Então, de forma fácil, podemos afirmar que Marx e Engels sempre estiveram atentos, pois, da
mesma maneira que se empenharam em construir organizações para incidir sobre a luta de classes,
eram sujeitos ativos, em movimentos políticos mundo afora. Esse ponto é vital. Temos, de um lado, o
pragmatismo – que é uma forte característica do Engels, ajudando a exaltar Marx como um grande
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teórico – defendido pelos autores, o qual mostra que sua teoria é prática, tem sentido, tem execução
prática, embora também fosse fácil dizer que não fora feita como deveria, ou que não rompia
efetivamente a luta de classes como ele almejava.
O fato é que, durante a vida de Marx, parte substancial das condições para o desenvolvimento eficaz
do marxismo no seio do proletariado europeu ainda não havia sido dada.
Depois da morte de Marx, em 1883, coube a Engels difundir seu legado. Marx possuía imensa
dificuldade de popularizar suas ideias entre os membros do movimento operário, que seguiam
orientações das mais diversas, e, muitas vezes, chegou a recusar o epíteto de “marxista” que seus
adversários lhe imputavam. Por não concordar com muitos dos seus seguidores, foi apenas em fins
do século XIX que tais ideias começaram a se popularizar.
SOCIALISMO
Antes de atingir uma sociedade comunista, seria necessário entender que uma luta contra a
burguesia precisava ser liderada. Esses líderes formariam um conjunto, ou um partido, que
exerceria uma ditadura do proletariado para implementar um socialismo – todas as classes
sociais com a mesma condição de desenvolvimento e acesso aos meios de produção – para, a
partir daí, chegar ao comunismo.
ALIENAÇÃO
Toda e qualquer sociedade é marcada pela ação de dominantes em relação aos dominados.
Dominantes desejam manter seus privilégios e bens e, para tal, utilizam a alienação. Alienação,
portanto, é o conjunto de ações práticas – culturais, sociais, econômicas – utilizadas pelos
dominantes para tirar a condição de luta dos dominados.
MARXISTA
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Seguidor de Marx, marcado pela luta que ele representa.
 
Em 1889, Engels foi um dos principais participantes da fundação da Segunda Internacional,
organização política que tinha por objetivo congregar partidos operários, muitos deles cada vez mais
identificados com o marxismo. No interior da nova internacional, o Partido Social Democrata Alemão
(Sozialdemokratische Partei Deutschlands) era o mais importante.
Em seguida, houve também o chamado marxismo vulgar, que reduziu o escopo do Materialismo
Histórico a um empobrecido esquema de sucessão linear da História por meio de etapas que
partiriam do comunismo primitivo, passariam pelo modo de produção escravista e depois feudal, até
alcançarem o capitalismo, que aparecia, nessa explicação reducionista, como último momento da
sociedade de classes anterior ao comunismo. Obviamente, nem o pensamento marxiano nem o
marxismo, pela sua amplitude e diversidade, podem ser reduzidos a isso.
Em vida, Marx publicou apenas o primeiro livro de O capital, mas seu projeto era mais ambicioso.
Seus escritos permitiram a Engels publicar os Livros II e III, em 1885 e 1894, respectivamente, e a
Karl Kautsky (1854-1938), discípulo de Marx e um dos membros mais importantes do SPD, coube
publicar os escritos marxianos sobre as doutrinas econômicas, que comporiam o Livro IV de O
capital, somente editado entre 1905 e 1910, sob o título de Teorias da mais-valia.
É, portanto, como e pelo compromisso militante que o marxismo tem uma primeira onda de
expansão, encontrando as circunstâncias históricas necessárias que não existiam no tempo de Marx.
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Alcançando as organizações operárias e disputando com outras correntes, o marxismo se expandiu
como doutrina política, penetrando em diversos países, inclusive na Rússia.
SOZIALDEMOKRATISCHE PARTEI
DEUTSCHLANDS
Surgido em 1875, a partir de uma fusão da corrente liderada pelo militante socialista e brilhante
orador Ferdinand de Lassalle (1825-1864) com a corrente marxista dirigida por August Bebel
(1840-1913) e Wilhelm Liebknecht (1826-1900), o SPD alcançaria, em fins do século XIX e
início do século XX, um grande prestígio, elegendo diversos deputados ao parlamento da
Alemanha e projetando intelectuais destacados, o que garantiu ao marxismo uma base sólida
para sua difusão em solo europeu, local onde eram travadas partes importantes das lutas da
classe operária no mundo.
RÚSSIA
A Rússia foi o segundo país do mundo a ter O capital traduzido, em 1872, a partir das
controvérsias desencadeadas sobre as condições de desenvolvimento russo. A Rússia havia
se libertado da servidão apenas em 1861 e possuía um dos sistemas políticos mais brutais da
face da Terra: a autocracia czarista. As reais possibilidades de uma transição ao socialismo
surgiram com os chamados narodniks (também conhecidos como “populistas”), com as
primeiras organizações marxistas no país.
REVOLUÇÃO RUSSA
Levante da burguesia urbana e de pequenos proprietários, que lutaram contra as tradições
czaristas. A continuidade das disputas que levaram à Guerra Civil entre Mencheviques
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(identificados com a burguesia) e Bolcheviques (identificados com o proletário) sinalizariam um
laboratório mais intenso na Rússia.
REVOLUÇÃO RUSSA E O PENSAMENTO DE
MARX
 
Revolução Russa. Fonte: Wikipédia
Entender um pouco dessa discussão em solo russo é fundamental para compreendero salto dado
pelo pensamento marxiano até o marxismo russo, pois foi com a Revolução Russa, de 1917, que o
marxismo se popularizou no mundo.
Vamos nos ater ao percurso histórico da Rússia que se relaciona com as ideias de Marx.
INTERESSE DE MARX E ENGELS
POR QUESTÕES TRABALHISTAS
NA RÚSSIA
Até o início do século XX, ninguém diria que seria
a Rússia a primeira nação a abrigar uma
revolução inspirada nas ideias de Marx e Engels,
já que este país era um dos mais atrasados da
Europa. Por conta disso, os fundadores do
Materialismo Histórico tinham muitas reservas em
relação ao papel desempenhado pela Rússia no
que diz respeito à expansão das revoluções
burguesas. A partir dos anos 1870, Marx e Engels
passam a se interessar pelas questões russas,
inicialmente em função dos debates com o
anarquista Bakunin, um membro russo que
militava na Associação Internacional dos
Trabalhadores e, em seguida, pelo contato que
vinham travando com vários revolucionários
emigrados.
Fonte: Shutterstock
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Fonte: Shutterstock
INFLUÊNCIAS DE O CAPITAL
Foi, entretanto, a partir das questões
apresentadas a Marx e Engels por narodiniks, os
quais haviam tido contato com a obra O capital,
que as relações começaram a se estreitar. O que
muitos queriam saber era em que medida a frase
contida no prefácio à primeira edição de O capital,
que dizia que o “país industrialmente mais
desenvolvido não faz mais do que mostrar ao
menos desenvolvido a imagem do seu próprio
futuro” (MARX, 2013, p. 78), podia ser entendida
pelo movimento revolucionário de país atrasado,
que pretendia superar a autocracia czarista, sem
necessariamente criar as condições para a
exploração capitalista, como uma determinação
absoluta. Seria possível pular a etapa capitalista
e passar diretamente ao socialismo na Rússia?
As respostas, como se supõe, não eram fáceis,
mas, ao tentar oferecê-las – provocados pelas
informações sobre a movimentação política que
vinha da Rússia e, em seguida, do primeiro
agrupamento de militantes que neste país
reivindicou o marxismo –, podemos, mais uma
vez, entender o método marxiano de análise da
História.
ANÁLISE DE MARX DA
REALIDADE RUSSA E DO
APONTAMENTO PARA A
NECESSIDADE DE UMA
REVOLUÇÃO
Depois de receber, em 1881, uma carta da
militante Vera Zasulitch, que pertencia a um grupo
narodnik chamado Partilha Negra, Marx esboçou
uma importante análise da realidade russa,
pressupondo que a História avançava nos termos
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da “Lei do desenvolvimento desigual e
combinado”. Isso significava que a Rússia poderia
se beneficiar do fato de que as formas de
propriedade até então existentes permitiriam
“assim se aproveitar dos frutos sem se sujeitar ao
seu modus operandi”. Marx dizia que a comuna
rural russa (mir) podia “tornar-se o ponto de
partida direto do sistema econômico para o qual
tende a sociedade moderna e trocar de pele sem
ter de cometer suicídio”. Porém, para que isso se
tornasse possível, seria necessária uma revolução
na Rússia e evitar que a comuna fosse destruída
pelas formas de produção capitalista que
inexoravelmente avançavam (MARX; ENGELS,
2013, p. 100).
Fonte: Shutterstock
 
Fonte: Shutterstock
POPULARIZAÇÃO DO
MARXISMO PELOS GRUPOS
REVOLUCIONÁRIOS E POR
LÊNIN
Em todo caso, foi a partir do desenvolvimento dos
grupos revolucionários russos que o marxismo se
popularizou para além das formas reformistas que
tinha adquirido a partir do sucesso parlamentar do
SPD alemão. Com efeito, o mais importante
discípulo de Marx na Rússia foi Vladmir Ilych
Ulianov, mais conhecido como Lênin (1870-1924).
Foi Lênin quem adicionou pedras fundamentais no
edifício teórico do marxismo. Foram tantas as
suas contribuições que, não raro, alguns
confundem o marxismo de Lênin com o
pensamento marxiano ou o marxismo como um
todo.
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NARODINIKS
Membros da Naródnaia Volia (A Vontade do Povo), organização política secreta de populistas
terroristas, surgida em agosto de 1879.
COMUNA RURAL RUSSA (MIR)
Durante a Revolução Russa, o levante oriundo do campo, formado por pequenos proprietários
ou pessoas ainda sobre uma relação feudal, ao se unirem em uma “marcha”, foram chamados
de mir.
LÊNIN (1870-1924)
Político revolucionário, principal líder da Revolução Russa de 1917 e primeiro presidente da
Rússia socialista.
Lênin
Lênin não foi só um militante revolucionário,
organizador da corrente bolchevique do Partido
Operário Socialdemocrata Russo (POSDR), que
pavimentou o caminho da tomada do poder em
1917. Foi também um vigoroso intelectual e
teórico que formulou a teoria do partido, expressa
na obra Que fazer? (1902) e também a teoria do
imperialismo, que aparece no livro Imperialismo,
fase superior do capitalismo (1916).
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Fonte: Shutterstock
Lênin não se limitou a escrever textos diretamente políticos. Seus escritos permanecem inspirando
gerações de militantes ou, no mínimo, servindo como material de estudo para se pensar as
condições de transformação do capitalismo e também os debates que permearam a crise e
dissolução da Segunda Internacional e os impasses da revolução mundial.
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Trótski
Da Rússia, além de Lênin, Trótski, cujo nome
verdadeiro era Lev Davidovich Bronstein,
também é fundamental para se compreender os
caminhos tomados pelo marxismo. Ele foi
considerado o arquiteto da revolução. De
Trótski, o marxismo conheceu a Teoria da
Revolução Permanente, elaborada em 1906, na
obra Balanços e perspectivas, depois retomada
pelo seu autor, que partiu de uma formulação
marxiana para criar uma das mais importantes
intepretações do marxismo aplicadas às
sociedades atrasadas a partir do uso da “Lei do
desenvolvimento desigual e combinado”.
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A vigorosa crítica sociológica ao estamento burocrático, que teria posto fim ao sonho do
socialismo na União Soviética sob o stalinismo, inspiração do livro A revolução traída (1937),
constitui-se como uma das mais importantes contribuições de Trótski ao marxismo.
Além das obras citadas, a História da Revolução Russa, publicada em 1930, sobre seu exílio nas
ilhas de Prinkipo (ilhas do Príncipe), na Turquia, pode ser apontada como uma contribuição
fundamental de Trótski ao pensamento marxista, pois nenhum autor se igualou em precisão, estilo e
vigor ao escrever sobre a saga dos revolucionários que tomaram o poder na Rússia, em 1917.
LEV DAVIDOVICH BRONSTEIN
Um dos principais líderes da Revolução Russa, mas rompe a partir da ascensão e do modelo
empreendido por Stalin. Foi assassinado no México, provavelmente por ordem de seu
adversário político.
TEORIA DA REVOLUÇÃO PERMANENTE
A Revolução não tem fim, não tem uma forma única, pela proeminência de um Partido único, é
local, com as relações locais e deve ser constantemente cuidada para que não voltem a existir
dominantes e dominados. Assim, para ele, líderes como Stalin eram deturpações do princípio
da Revolução Socialista.
VIGOROSO INTELECTUAL
Ele deixou uma importante contribuição no campo da análise econômica da história russa
com o livro O desenvolvimento do capitalismo na Rússia (1899), além de reflexões filosóficas
que articulam preocupações reportadas à dialética como fundamento da transformação
social, algo que aparece nas obras Materialismo e empiriocriticismo (1909) e na publicação
póstuma Cadernos filosóficos (1929).
 SAIBA MAIS
Saiba mais sobre a relevância de Trótski para o pensamento marxista por intermédio do
historiador Isaac Deutscher (1907-1967), autor da mais importante biografia de Trótski.
SAIBA MAIS SOBRE A RELEVÂNCIA DE
TRÓTSKI PARA O PENSAMENTO MARXISTA
“Sua obra histórica é dialética, a um ponto não atingido por nenhum outro trabalho semelhante
produzido pela escola marxista desde Marx, em cujo método e estilo se baseou. A História, de
Trotsky, guarda, para com os trabalhos históricos de Marx (A luta de classes na França, O
Dezoito de Brumário de Luís Bonapartee A guerra civil na França) a mesma relação que há
entre as grandes pinturas murais e as miniaturas. Enquanto Marx se sobrepõe ao discípulo no
poder do pensamento abstrato e da imaginação gótica, o discípulo é superior como artista
épico, especialmente como mestre da representação gráfica das massas e dos homens em
ação. Sua análise sociopolítica e sua visão artística estão em tal acordo que não há vestígios
de nenhuma divergência. Seu pensamento e sua imaginação voam juntos. Expõe sua teoria da
revolução com a tensão e o entusiasmo da narrativa e esta ganha profundidade com suas
ideias. Suas cenas, seus retratos e diálogos, diretos em sua realidade, são interiormente
iluminados pela sua concepção do processo histórico. Muitos críticos não marxistas
impressionaram-se com essa característica de sua obra. (1984, p. 229)
 COMENTÁRIO
A obra de Trótski, que viveu bem mais que Lênin e passou importante parte da vida perseguido pelo
stalinismo, terminou por se abrir a diversas outras fronteiras, pois o revolucionário russo, que aderiu
ao bolchevismo tardiamente (em agosto de 1917), enfrentou desafios inimagináveis para muitos dos
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seus companheiros, que sucumbiram no período da Guerra Civil na Rússia (1918-1921) ou nos
primeiros anos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
ANTONIO GRAMSCI: UM MARXISTA BEM
MARXIANO
Outro intelectual de grande importância no século
XX, que desperta até hoje a curiosidade de
simpatizantes e adversários do marxismo, o
italiano Antonio Gramsci (1891-1937) é detentor
de vasta obra, parte substancial dela publicada
depois de sua morte.
Como militante do Partido Socialista Italiano,
Gramsci escreveu diversos artigos para periódicos
numa conjuntura extremamente conturbada. Era o
momento da ascensão do movimento operário no
Norte do país, que conformou o chamado biennio
rosso (biênio vermelho) entre 1919 e 1921, com
círculos operários que sugeriam que uma
revolução poderia estar a caminho. Esse
movimento foi derrotado em 1922, mesmo ano da
ascensão de Benito Mussolini. Dessa atividade
jornalística, um importante conjunto de escritos
permite entrever um marxismo rico, inspirado no
que havia de melhor da tradição socialista italiana,
muito embora ainda bastante vinculado à tradição
idealista.
Eleito deputado em 1924 pelo Partido Comunista
italiano, que havia sido fundado em 1921, Gramsci
foi preso em 1926. Do cárcere, escreveu um
projeto que pretendia ser um estudo aprofundado
de diversos temas da história italiana,
diferentemente dos escritos jornalísticos, os quais
considerava que estavam destinados a morrer ao
fim do dia.
 
Gramsci. Fonte: Wikipédia.
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 do d a
ANTONIO GRAMSCI
Nascido em Ales, na região da Sardenha, Sul da Itália, Gramsci se ocupou desde muito cedo
em refletir sobre a pobreza meridional italiana, o que criaria um país desigual para camponeses
do Sul, essencialmente rural, e operários do Norte, industrializado.
Da consecução de seu projeto, que Gramsci chamou de für ewig (do alemão “para sempre”), surgiu
um conjunto de 33 cadernos que, depois de publicados, revelaram uma análise marxista original e
bastante competente de um intelectual e militante pouco ortodoxo, mas comprometido com a
revolução.
A partir da obra gramsciana podemos identificar estudos sobre temas como hegemonia, revolução
passiva, bloco histórico, guerra de movimento/guerra de posição, americanismo e fordismo
entre muitos outros assuntos, formando um imenso mosaico que enriqueceu ainda mais o marxismo.
 SAIBA MAIS
Apesar do esforço dos marxistas que dedicaram a vida à revolução, o advento do stalinismo, que
dominou a União Soviética desde a derrota da Oposição de Esquerda, em fins dos anos 1920,
provocou profundos abalos, cisões e incertezas. Sob a influência dessa corrente, de onde derivou
uma doutrina chamada de marxismo-leninismo, adotada oficialmente na URSS e importada por
quase todos os partidos comunistas organizados em diversos países do mundo, outra espécie de
marxismo emergiu. Com efeito, três anos depois da morte de Josef Stalin (1878-1953), a revelação
dos seus crimes através dos famosos relatórios secretos de Nikita Krushev (1894-1971) provocou
uma profunda crise no movimento comunista internacional e nos meios marxistas de todo o planeta,
determinando a ruptura de militantes, intelectuais e personalidades públicas, muitos dos quais se
tornaram, em seguida, adversários ferozes do marxismo.
 
Para muito além dos personagens relacionados acima, o marxismo da geração que se seguiu a Marx
e Engels ainda contaria com nomes de vulto, que deram importantes contribuições teóricas ao
pensamento marxista, como Antonio Labriola (1843-1904), Franz Mehring (1846-1919), Plekhanov
(1856-1918), Rosa Luxemburgo (1871-1919), Görgy Lukács (1885-1971), entre muitos outros. A
característica essencial dessa geração de marxistas é a de que todos, à maneira dos seus mestres,
foram, além de importantes intelectuais, militantes engajados, alguns dos quais dirigiram partidos
políticos e morreram lutando pela revolução.
O PENSAMENTO GRAMSCINIANO É UM DIÁLOGO
ENTRE A TRADIÇÃO DO QUE ACONTECIA NA
RÚSSIA E SUAS INFLUÊNCIAS OCIDENTAIS.
GRAMSCI DIZ QUE O PENSAMENTO DEVE SER
TRABALHADO E ADAPTADO ÀS CONCEPÇÕES
PRESENTES – POR ISSO, MARXISTA –, UMA VEZ
QUE DEFENDIA QUE OS INTELECTUAIS
ORGÂNICOS, AQUELES QUE PERMITIAM E
ESTRUTURAVAM O PENSAMENTO REPRODUZIDO
PELO COLETIVO, SURGIAM NOS PARTIDOS
POLÍTICOS.
 
Uma vez conscientes, seria possível o rompimento, pois ambos os lados possuíam seus intelectuais
orgânicos, e a luta geraria uma manutenção das estruturas sociais, o que era de interesse dos
dominantes. A transformação pode ser feita por uma educação integral, rompendo fundamentos
moralistas e religiosos, para a ruptura da alienação com sua vinculação ao todo e ao governo.
MARXISTA OU MARXIANO?
Gramsci representa os aspectos políticos e argumentativos marxistas, mas, ao adaptar essas
discussões, retoma conceitos e adaptações que o aproximam de uma perspectiva marxiana.
 
 
MARXISMO PARA ALÉM DO MOVIMENTO
MILITANTE
O marxismo não se resumiu apenas ao universo de militantes que animaram partidos e travaram
intensos debates por todo o século XX. Como corrente de pensamento, mesmo tendo sido
popularizado por partidários de uma causa que era, acima de tudo, político-prática, principalmente
revolucionária, mas também reformista, o marxismo atravessou as fronteiras do que era
essencialmente a luta por interpretar e transformar o mundo, alcançando com vigor a
intelectualidade universitária.
Portanto, é impossível compreender o século XX negligenciando a força dos debates e das
controvérsias que moveram a Filosofia e as Ciências Humanas, influenciadas pelo marxismo, por
correntes teóricas que lhe eram hostis, ou também por propostas que promoveram a simbiose da
filosofia marxiana com outras filosofias, variadas sociologias e, até mesmo, com a Psicologia e a
Psicanálise.
A propósito do assunto, é impossível ignorar as vastas polêmicas que atravessaram o marxismo do
século XX, algo que se deu para muito além dos espaços partidários e diretamente vinculados à luta
política. O inquestionável predomínio de certa leitura do marxismo feita pela corrente estruturalista
no pós-Segunda Guerra Mundial, muito especialmente pelo filósofo Louis Althusser, só foi
confrontada quando o estruturalismo perdeu força e estudiosos, como o historiador Edward Palmer
Thompson (1924-1996), defenestraram abordagens que lhe pareciam empobrecedoras e
dogmáticas, como as que, segundo este autor, estariam presentes em obras como Ler o capital
(1965) e Por Marx, de Althusser (1965).
Com efeito, A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma crítica ao pensamento de Althusser
(1978), obra de Thompson, foi avassaladora no que diz respeito à abordagem estruturalista e
althusseriana do marxismo, como alguns anos antes foram as denúncias de Krushev sobre os crimes
de Stalin. Essas denúncias levaramThompson a romper com o Partido Comunista da Grã-Bretanha
(PCGB), em 1956, sem necessariamente abandonar o marxismo, junto a outros grandes intelectuais
que formavam a corrente de historiadores marxistas britânicos.
Da polêmica que surgiu com a obra de Thompson, que nunca teve uma resposta de Althusser, o
também historiador britânico Perry Anderson, na direção de uma das mais importantes revistas
marxistas de nosso tempo, a New Left Review, publicou Teoria, política e história: um debate com E.
P. Thompson (título da edição brasileira para Arguments within English marxism), em 1980. Anos
depois, Ellen Meiksins Wood (1942-2016) dedicou um capítulo do seu livro Democracia contra
capitalismo (1995) para apontar o mal-entendido da polêmica e os exageros da recepção da obra de
Thompson, que terminaram obscurecendo o lugar de Althusser no interior do marxismo (WOOD,
2011).
O resultado desse debate e de tantos outros que foram travados contra o marxismo ou no interior
desta corrente é prova definitiva de que o Materialismo Histórico continua vivo e influente nos meios
intelectuais de todo o mundo.
POR TUDO ISSO, SEM QUE SE DIGA QUE AS
UNIVERSIDADES SÃO “ANTROS DE MARXISTAS”,
ALGO QUE ESTÁ LONGE DE CORRESPONDER À
VERDADE, É IMPOSSÍVEL NÃO ENXERGAR COMO
ESSA CORRENTE INTELECTUAL INFLUENCIOU E
SEGUE INFLUENCIANDO OS DEBATES E O
DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO DE FILÓSOFOS,
HISTORIADORES, SOCIÓLOGOS,
ANTROPÓLOGOS, POLITÓLOGOS, PSICÓLOGOS E
ESTUDIOSOS DE MUITAS OUTRAS ÁREAS PELO
MUNDO AFORA.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. POR CONTA DA AÇÃO PRAGMÁTICA DA TEORIA MARXISTA, BOA PARTE
DOS CONTINUADORES DE SUA PESQUISA ESTEVE TAMBÉM ENVOLVIDA EM
UMA FORTE ATUAÇÃO POLÍTICA E, MESMO ENTRE SEUS SEGUIDORES,
HOUVE CONFLITOS. NO ENTANTO, ISSO NÃO RETIROU A PERSPECTIVA DE
SEUS DESENVOLVIMENTOS POR ESSES AUTORES. PARA RECONHECER A
CONTINUIDADE DA TEORIA, INDIQUE A ALTERNATIVA EM QUE A CORRETA
RELAÇÃO É FEITA:
A) Todo marxismo implica em um compromisso de quem quer que seja em aderir a um partido
comunista.
B) A diferença fundamental entre marxistas e marxianos é a de que, enquanto estes preferem
prescindir das mediações, aqueles admitem as contribuições de variados seguidores de Marx.
C) Como eram apenas filósofos, nunca militantes, Marx e Engels nem sequer poderiam ser
chamados de marxistas.
D) Muito antes de morrer, Marx já era o teórico mais influente no movimento operário europeu.
2. SOBRE A CONTINUIDADE DOS ESTUDOS DE MARX,
REDIRECIONAMENTOS E DEBATES DE SUA TEORIA, PODEMOS AFIRMAR
QUE:
A) Coube a Engels popularizar a obra de Marx após a morte do amigo, algo que foi facilitado pela
transformação do SPD (Partido Socialdemocrata Alemão) em uma organização influente e com
presença parlamentar.
B) Pela sua trajetória de vida, podemos dizer que o objetivo principal de Marx era tornar-se um
intelectual conhecido no mundo, pouco importando se sua obra seria lida pelos trabalhadores.
C) Os movimentos narodinik permaneceram desprezando o marxismo durante todo o século XIX, na
medida em que nenhuma obra de Marx ou Engels foi publicada na Rússia antes do alvorecer do
século XX.
D) Para se tornar o “arquiteto” da Revolução Russa, Lênin precisou romper com Marx e se aliar a
Stalin, que era o principal teórico do país.
GABARITO
1. Por conta da ação pragmática da teoria marxista, boa parte dos continuadores de sua
pesquisa esteve também envolvida em uma forte atuação política e, mesmo entre seus
seguidores, houve conflitos. No entanto, isso não retirou a perspectiva de seus
desenvolvimentos por esses autores. Para reconhecer a continuidade da teoria, indique a
alternativa em que a correta relação é feita:
A alternativa "B " está correta.
 
A perspectiva básica entre os autores é um legado em que pensam a tese de Marx como um campo
único teórico. Isso é algo impensável, o discurso é livre, construído e reconstruído, o que não é
diferente com as teorias do autor. Acontece que essas teorias, na negativa dos seus
desenvolvimentos políticos, geraram a defesa de um retorno a uma versão menos impregnada, o
que essa dicotomia acaba reforçando.
2. Sobre a continuidade dos estudos de Marx, redirecionamentos e debates de sua teoria,
podemos afirmar que:
A alternativa "A " está correta.
 
A atuação política e viva foi a base da continuidade das análises marxistas, passando a ser
entendida como aquela que fundamentou os conceitos primordiais, mas as práticas e pragmáticas
foram se reassentando em novos campos políticos desenhados a partir de então.
ESCOLA DE FRANKFURT
Entre as correntes intelectuais mais importantes relacionadas ao marxismo no mundo, a Escola de
Frankfurt se destaca por ter oferecido uma crítica consistente da sociedade de consumo, da
indústria cultural e das formas assumidas pela modernidade, que ensejaram os mecanismos de
dominação social, política e ideológica.
A Escola de Frankfurt, que teve como berço o Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt, dirigido
inicialmente por Carl Grümberg (1861-1940), onde se editava a Revista de Pesquisa Social, cujos
colaboradores eram os filósofos Theodor Adorno (1903-1969), Max Horkheimer (1895-1973) e
Hebert Marcuse (1898-1979) não chega a ser uma “escola” no sentido literal do termo. Mesmo
assim, ela logo se tornou um centro de convergência de intelectuais e teóricos críticos, que usavam o
marxismo como um instrumento de intepretação do mundo, de interpretação da cultura e de
compreensão.
 
Adorno. Fonte: Toda Matéria / Horkheimer. Fonte: Citações e frases famosas / Marcuse. Fonte:
Arquivo Marxista na Internet / Instituto. Fonte: Toda Matéria
Em seu contexto, a Escola de Frankfurt, que data de 1924, pode ser entendida como um amplo
empreendimento intelectual que, baseado do marxismo, pressupunha uma leitura do mundo sob a
ótica da Filosofia, da Sociologia e da Psicanálise, livre das amarras, das ortodoxias e dos
compromissos políticos estreitos com os fundadores do Materialismo Histórico e com os
personagens políticos, regimes de Estado e partidos que dominavam o movimento comunista
internacional.
O MOVIMENTO INTELECTUAL DOS FRANKFURTINIANOS
Os intelectuais frankfurtinianos despontaram para o universo intelectual no momento de derrota da
Revolução Alemã (1919, 1921, 1923), da emergência e consolidação do stalinismo na URSS, da
ascensão do fascismo na Itália (1922) e do nazismo na Alemanha (1933). Em sua relação com o
marxismo, tais fatos foram determinantes para os caminhos que foram seguidos e que implicaram
numa adesão repleta de incongruências e idiossincrasias.
O INSTITUTO E SEU PAPEL
Tendo surgido na Alemanha sob a influência dos tumultuados anos seguintes à Primeira Guerra, com
a ascensão de Hitler, o Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt teve de se transferir para
Genebra, depois para Paris e, finalmente, para Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde a revista
original passou a ser publicada com o nome de Estudos de Filosofia e Ciências Sociais. Tal percurso
não deixou de influenciar os pensadores a ela vinculados. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, o
Instituto de Pesquisa Social retornou a Frankfurt, com boa parte dos membros da revista que
prosseguiram nos seus trabalhos de investigação da Filosofia, da Estética, da cultura e da ideologia,
temas que eram pensados a partir da ótica marxiana em diálogo com muitas outras correntes.
ENGAJAMENTO X ACADEMICISMO
Alguns traços presentes nas tradições das correntes marxistas, particularmente importantes para a
disseminação e popularização dessa teoria pelo mundo – muito especialmente sob o aspecto do
engajamento político de intelectuais em partidos e, a certa altura, da defesa quase que irrestrita da
doutrina exarada da União Soviética stalinista entre os membros identificados com a Escola de
Frankfurt –, não são observados nessa mesma medida e intensidade. Pelo fato de ter havido entre
os frankfurtinianos uma relação de aberta recusa de tais compromissos políticos, esses autores eram
frequentemente acusados pelos comunistas de não seremmarxistas ou de serem intelectuais
pequeno-burgueses interessados em suas carreiras acadêmicas.
A seguir, vamos assistir ao vídeo sobre a Escola de Frankfurt e a ideologia de Marx, abordando
principalmente os teóricos: Theodor Adorno, Max Horkheimer e Herbert Marcuse.
MARXISMO OCIDENTAL
De acordo com o historiador Perry Anderson, que compreende a teoria crítica dos frankfurtinianos
como parte do que chama de “marxismo ocidental”, “a perda de qualquer contato dinâmico com a
prática da classe operária” teria aproximado esses marxistas “de sistemas de pensamentos não
marxistas e idealistas contemporâneos, com os quais aquela [teoria] agora evoluía em estreita, ainda
que contraditória, simbiose”.
Segundo este autor, a concentração de intelectuais no campo da filosofia profissional, combinada à
descoberta e à edição de escritos marxianos até então desconhecidos – parte deles dos primeiros
anos de formação do jovem Marx, estreitamente vinculados ao pensamento hegeliano –, teriam
contribuído para uma reinterpretação do Materialismo Histórico com “acentuada predominância do
trabalho epistemológico”.
Tal reinterpretação tinha como foco essencial os problemas do método, vinculados a um “campo
substantivo” de aplicação do método voltado para a análise da estética e, finalmente, constatando a
introdução de novos temas, até então ausentes do marxismo clássico, que revelavam “um constante
pessimismo”, ou seja, o “método como impotência, a arte como consolação, o pessimismo como
imobilidade” (1989, p. 127-128).
A predominância entre os frankfurtinianos de uma separação entre teoria e prática contribuiu para
que esses teóricos fossem vistos com desconfiança por militantes dos partidos comunistas e por
intelectuais vinculados a essas organizações.
Esse fato tornou a Escola de Frankfurt impermeável à influência do dogmatismo e do marxismo
vulgar. Sob o impacto da experiência traumática da Segunda Guerra Mundial e do holocausto – num
contexto de emergência da Guerra Fria e das teorias críticas do totalitarismo, que igualavam as
experiências do nazismo e do stalinismo, muito a propósito dos interesses do Departamento de
Estado norte-americano –, a alternativa oferecida pelos teóricos de Frankfurt, com sua crítica visceral
do capitalismo, da modernidade, do cientificismo, do poder, das ideologias e da indústria cultural,
ainda nos marcos de um marxismo que se poderia dizer heterodoxo, correspondeu a um ponto de
fuga de doutrinas herméticas que tinham sido testadas por longas décadas e pareciam naufragar
sem oferecer alternativas ao capitalismo e às ditaduras da URSS e dos países do Leste Europeu.
 
WALTER BENJAMIN
Nesse contexto, a obra de Walter Benjamin (1892-1940), filósofo considerado o membro externo da
Escola de Frankfurt, é ilustrativa desse movimento de relação instável e tumultuada com a política,
posto que pelo estético, pela cultura e pela crítica da ortodoxia, o autor compôs uma obra rica de
nuances e imensas possibilidades. Ao estabelecer seu contato com o marxismo, que era assumido
de uma perspectiva judaico-messiânica e também melancólica, Benjamin, que teve um destino
trágico ao tentar fugir dos nazistas em 1940, vai ao encontro de uma rica concepção de história, em
que o passado não é nunca um dado morto, mas algo que sobrevive nas reminiscências e num
permanente refazer-se da memória através de um constante combate dos vencidos pelo direito à
voz.
A obra benjaminiana forma um rico mosaico de temas e escritos que, pela característica
fragmentária, depois de se coligir peça a peça, permite entrever quão rica era a sua abordagem,
colada a um tempo que viu ascender o nazismo e o stalinismo, mas um tempo que permaneceu
prenhe de futuro, como seu anjo descrito no célebre artigo Sobre o conceito de história (1940).
 
ADORNO E HORKHEIMER: DIALÉTICA DO
ESCLARECIMENTO
Em A dialética do Esclarecimento (1947) (também traduzida como Dialética do Iluminismo),
Adorno e Horkheimer ratificam os anseios inscritos nos primeiros estudos do Instituto de Pesquisas
Sociais, na década de 1930, mas, ao mesmo tempo, ajustam o programa a uma temporalidade pós-
traumática, na qual a ingênua ideia de progresso – subsumida a “um absoluto do resultado sabido do
processo total da negação”, o que implicava saber de antemão a “totalidade no sistema e na História”
– não seria mais possível (2006, p. 32).
Foi justamente em relação a essa compreensão
de processo e da História que Marx e Engels se
desvincularam quando acertaram as contas com
a herança hegeliana cem anos antes. Adorno e
Horkheimer esperavam reinstituir a crítica radical
do culto do progressismo, presente na filosofia
hegeliana e no que chamavam de Esclarecimento,
que nada mais era do que as formas de
iluminismo e racionalismo da ciência, que, de
alguma forma, eram parte de um mundo que
sucumbiu a uma guerra que quase destruiu a
humanidade.
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Adorno e Horkheimer. Fonte: Wikipedia
A DIALÉTICA DO ESCLARECIMENTO
Uma das mais importantes obras da Escola de Frankfurt, que poderia ser tomada como uma
espécie de manifesto, em que podemos encontrar o espírito do pensamento frankfurtiano.
Para Adorno e Horkheimer, contudo, isso não teria ocorrido apenas com sua filosofia como apoteose
do pensamento em progresso, mas com o próprio Esclarecimento, entendido como a sobriedade
pela qual este acredita distinguir-se de Hegel e da metafísica em geral. O Esclarecimento é totalitário
como qualquer outro sistema. Sua inverdade não está naquilo que seus inimigos românticos sempre
censuraram: o método analítico, o retorno aos elementos, a decomposição pela reflexão, mas no fato
de que, para ele, o processo está decidido de antemão. (2006, p. 32)
A dialética do esclarecimento não chega a ser uma obra fácil de atravessar. Sua leitura, entretanto,
oferece um texto que é essencialmente filosófico e cheio de referências ocultas, o que representa a
exata medida de parte do programa que seria incorporado como marcas fundamentais das teorias
dos frankfurtinianos, muito especialmente a discussão sobre a indústria cultural, em alternativa
crítica ao termo “cultura de massa”, que dava a entender que alguma forma de cultura poderia ser
produzida autonomamente pelas massas, e também a crítica ao antissemitismo.
No que tange aos desdobramentos desses estudos, enquanto Horkheimer permaneceu empenhado
em deslindar de um ponto de vista filosófico em o Eclipse da razão (1947), Adorno enveredou pela
teoria psicanalítica, muito especialmente por Freud, para entender as razões do antissemitismo e do
fascismo que, inclusive, teriam sobrevivido à Segunda Guerra, reaparecendo em sociedades
democráticas. Dos estudos desenvolvidos através de um programa coletivo de investigações que
tomava o comportamento de cidadãos estadunidenses como foco da análise, surgiu Estudos sobre a
personalidade autoritária (1950), obra em que é desenvolvida a “Escala F” (F de Fascismo), que
tinha por objetivo “mensurar a personalidade potencialmente antidemocrática” em países tidos por
democráticos e modelos civilizacionais. (ADORNO, 2019, p. 135)
HERBERT MARCUSE
Marcuse. Fonte: Wikipedia
Ao lado dos estudos desenvolvidos por Adorno e
Horkheimer, Eros e civilização (1955) e O homem
unidimensional (1964), de Herbert Marcuse, além
dos trabalhos de Erich Fromm, muito
especialmente o Conceito marxista de homem
(1961), foram particularmente influentes num
contexto em que os movimentos de juventude,
que inflexionaram as formas de se perceber e
atuar na política, tendo como ponto fulcral o Maio
de 1968 francês, buscaram alternativas no
interior do pensamento crítico, permanecendo no
campo do marxismo.
Dessa forma, buscando recolocar o homem
novamente em contato com sua plenitude
existencial – que incluía um resgate do erotismo e
uma reconciliação do indivíduo com a sua
personalidade narcisista na busca pelo prazer,
além de aspectos vinculados à libertação sexual,
à contracultura e ao humanismo –os teóricos daEscola de Frankfurt estiveram entre os mais
influentes dos movimentos que explodiram nas
décadas de 1960 e 1970 pelo mundo.
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MAIO DE 1968
Levante dos estudantes franceses nas ruas de Paris contra as fórmulas tradicionais de
educação.
Por tudo isso, a teoria crítica de Frankfurt tornou-se referência importante para os jovens que
sonhavam transformar o mundo, mas que não pretendiam fazê-lo no mesmo sentido do que estava
estabelecido na URSS e no Leste Europeu, onde burocracias comandadas por partidos, na maioria
das vezes gerontocráticos, eram incapazes de ouvir as vozes da juventude.
 
Fonte: Shutterstock
No lastro desses movimentos, teve início, por reivindicações pontuais em diversas partes do mundo,
um profundo questionamento do poder político, das instituições, das formas de controle da
sexualidade e da cultura. Portanto, o que se apresentava nas lutas era algo daquilo que, em parte,
os teóricos da Escola de Frankfurt já vinham tratando.
 
Che Guevara. Fonte: Wikipédia
O caráter de rebeldia e de amplo questionamento do que estava posto influenciou levantes em
países do Leste Europeu, como Hungria, em 1956, e da antiga Tchecoslováquia (Primavera de
Praga), em 1968. Por causa desses movimentos esmagados pelas burocracias, surgiram alternativas
apresentadas pelas ruas, que reivindicavam a Revolução Chinesa e o maoísmo, o marxismo
antiburocrático de Leon Trotsky, assassinado no México por um agente stalinista em 1940, além da
experiência da Revolução Cubana, da guerrilha e do foquismo.
Um dos principais símbolos desses movimentos foi a figura do guerrilheiro Che Guevara (1928-
1967), morto nas selvas bolivianas pelas forças de repressão daquele país, com o apoio dos Estados
Unidos, que até hoje tem sua face estampada como símbolo de protesto.
DIFERENTEMENTE DOS MUITOS MARXISMOS QUE,
PETRIFICADOS NAS SUAS ORTODOXIAS E
CERTEZAS, FORAM PRATICAMENTE ESQUECIDOS
POR UM MUNDO EM PERMANENTE
TRANSFORMAÇÃO, O MARXISMO DA ESCOLA DE
FRANKFURT, COMO ALGUNS OUTROS,
PERMANECEU OFERECENDO UM IMPORTANTE
REFERENCIAL TEÓRICO PARA QUEM ESTIVESSE
DISPOSTO A PENSAR (E TRANSFORMAR) O
MUNDO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. MARQUE A ALTERNATIVA QUE FAZ A CORRETA RELAÇÃO ENTRE O
MARXISMO E A ESCOLA DE FRANKFURT.
A) De todas as correntes teóricas alinhadas ao marxismo, a mais ortodoxa é a Escola de Frankfurt.
B) A Escola de Frankfurt, por ter permanecido nos limites da Alemanha, só foi conhecida do grande
público na década de 1970.
C) A maior parte dos autores frankfurtianos era filiado ao SPD, o mais importante partido comunista
da Alemanha.
D) Uma das características principais da Escola de Frankfurt é sua abertura para temas até então
pouco trabalhados pelos marxistas.
2. AS AFIRMATIVAS ABAIXO EXPLICAM AS CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS
MEMBROS DO MOVIMENTO DE FRANKFURT. A CORRETA EXPLICAÇÃO É:
A) A dialética do Esclarecimento (1947), obra de T. Adorno e M. Horkheimer, corresponde a uma
espécie de manifesto dos frankfurtianos no período pós-Segunda Guerra.
B) Walter Benjamin foi o mais otimista e longevo filósofo de Frankfurt, conhecido por defender a
cultura como a principal forma de reprodução antimarxista.
C) A Escola de Frankfurt foi um centro de ensino encarregado em formar filósofos marxista-leninistas
para lutar pela URSS no campo intelectual.
D) Antonio Gramsci foi o mais importante marxista da Escola de Frankfurt; político radicado, formulou
com Marcuse a proposta de entender o Homem marxista.
GABARITO
1. Marque a alternativa que faz a correta relação entre o marxismo e a Escola de Frankfurt.
A alternativa "D " está correta.
 
A atualização do marxismo foi um dos termos equivocadamente trabalhados para afirmar a Escola
de Frankfurt. Em um momento propício de vários debates teóricos sendo estruturados e
reformulados, autores revisitaram as bases do pensamento marxista, trazendo perspectivas que
foram deixadas de lado diante do foco no debate político empreendido até então.
2. As afirmativas abaixo explicam as características de alguns membros do movimento de
Frankfurt. A correta explicação é:
A alternativa "A " está correta.
 
Todos são autores, e é normal se confundir um pouco, mas algumas chaves são fundamentais. Por
exemplo, a percepção sobre A dialética do Esclarecimento como crítica aos marxistas e a forma
como interpretaram as teorias de Marx. Assim, negavam interpretadores e recuperavam a teoria
marxista em outro sentido.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho de Marx e Engels é tão importante em seu conjunto, que existe um projeto transnacional
de publicação de suas obras completas chamado Marx-Engels-Gesamtausgabe (MEGA), com
diversas edições no Brasil, inclusive de livros que permaneciam inéditos ou que haviam sido
publicados apenas parcialmente.
No entanto, não é apenas da obra marxiana e engelsiana que vive o marxismo. Desde o fim da
Ditadura Militar no Brasil – mas, principalmente, a partir do século XXI, quando os efeitos da queda
do Muro de Berlim já não eram mais capazes de produzir maiores abalos no lastro teórico marxiano
e marxista –, diversos autores desse campo vêm sendo valorizados e publicados entre nós.
Destacamos o renovado interesse pela obra de Antonio Gramsci, que propiciou a publicação dos
Cadernos do cárcere, além dos escritos pré-carcerários e de suas cartas da prisão, numa solução
editorial inédita no país, além das edições de Lukács, Lênin, Trotsky, Rosa Luxemburgo e dos
teóricos da Escola de Frankfurt, entre outros importantes marxistas do século XX.
Revisitamos a construção da teoria, como ela se disseminou de forma partidária e política, mas
também como ela foi revista e revisada por autores que, entre outros aspectos, visavam mostrar que
era preciso ter cuidado ao negar uma teoria simplesmente pela discordância política, e que, por isso,
é fundamental estudar a Escola de Frankfurt.
Considerando as palavras de Derrida, o presente, como o passado, e quem sabe o futuro,
permanecerá sendo “para, contra, com, mas não ‘sem’” Marx. Então, fica aqui o convite para que
possamos conhecer Marx e o marxismo e nos aprofundar neste assunto.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. A dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
ADORNO, T. W. Estudos sobre a personalidade autoritária. São Paulo: Unesp, 2019.
ALTHUSSER, L. Por Marx. Campinas: Unicamp, 2015.
ALTHUSSER, L. Ler o capital. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979.
ANDERSON, P. Teoria, política e história: um debate com E. P. Thompson. Campinas: Unicamp,
2018.
ANDERSON, P. Considerações sobre o marxismo ocidental. 2. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 1989.
BENSAÏD, D. Marx, manual de instruções. São Paulo: Boitempo, 2013.
BERMAN, M. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo:
Companhia das Letras, 1992.
DERRIDA, J. Espectros de Marx: o estado da dívida, o trabalho do luto e a nova Internacional. Rio
de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
DEUTSCHER, I. Trotski: o profeta banido. 1929-1940. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1984.
DEUTSCHER, I; DEUTSCHER, T. Marxism, wars, and revolutions: essays from four decades.
Verso, 1984.
LÊNIN, V. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia: o processo de formação do mercado
interno para a grande indústria. São Paulo: Nova Cultural, 1985.
LÊNIN, V; GRUPPI, L. Materialismo ed empiriocriticismo. Ed. Riuniti, 1970.
MARCUSE, H. The essential Marcuse: Selected writings of philosopher and social critic Herbert
Marcuse. Beacon Press, 2007.
MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Martins Fontes, 1983.
MARX, K. O capital. Livro I: o processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.
MARX, K. O 18 Brumário e Cartas a Kugelmann. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
MARX, K. Grundrisse. São Paulo: Boitempo, Rio de Janeiro: UFRJ, 2011.
MARX, K; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
MARX, K; ENGELS, F. A sagrada família. A crítica da Crítica crítica contra

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