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MEDIAÇÃO FAMILIAR 6

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AULA 6 
MEDIAÇÃO FAMILIAR 
Profª Larissa Ribeiro Tomazoni 
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INTRODUÇÃO 
O objetivo desta aula é estudar, com base na obra de Lisa Parkinson, de 
que forma o gênero influencia a mediação familiar, trazendo desequilíbrios entre 
as partes. Além desse aspecto, outros fatores apontados pela autora podem 
desequilibrar o processo de mediação, razão por que são necessárias habilidades 
para gerir tal questão, as quais configuram um bom mediador. Por fim, trataremos 
do papel do advogado na mediação familiar, que deve ser colaborativa e 
esclarecer dúvidas jurídicas. 
TEMA 1 – QUESTÕES DE GÊNERO NA MEDIAÇÃO 
As preocupações com os desequilíbrios de poder na mediação familiar são 
frequentemente associadas às questões de gênero. Os homens tendem a ter uma 
posição mais forte financeiramente, geralmente ganham mais do que as mulheres, 
possuem aposentadorias maiores e por vezes detêm mais informações sobre a 
vida financeira do casal. As mulheres, por outro lado, ficam em casa ou trabalham 
em tempo parcial para cuidar das crianças (Parkinson, 2016, p. 298). 
Os mediadores devem estar atentos para identificar aqueles que vieram à 
mediação com o objetivo de intimidar o parceiro desprevenido, fazendo com que 
concorde com um acordo rápido ou que dite as regras sobre a convivência com 
os filhos. Além disso, precisam tomar cuidado para não fazer suposições, 
assumindo, por exemplo, que as crianças vivem ou deveriam viver com a mãe. 
Uma suposição dessa natureza provoca o risco de destruir a confiança na 
imparcialidade do mediador, até porque as crianças podem estar vivendo com o 
pai porque a mãe trabalha (Parkinson, 2016). 
É bastante comum, nos conflitos entre casais, questões relacionadas 
com a diferença das situações econômicas do homem e da mulher e 
com as expectativas dos papéis e das responsabilidades das mães e 
dos pais, antes e depois do divórcio. Estas questões fundamentais criam 
contracorrentes poderosas na mediação. Podemos verificar 
disparidades significativas de renda e de poder aquisitivo quando um dos 
progenitores fica em casa para cuidar dos filhos enquanto o outro 
construía uma carreira de sucesso (Parkinson, 2016, p. 298-299). 
Os desequilíbrios na mediação podem ser acentuados pelo descobrimento 
da situação financeira por uma das partes, pois se apenas um dos parceiros 
controla as finanças, o outro não será capaz de julgar se o acordo proposto é 
razoável (Parkinson, 2016, p. 299). 
 
 
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Na mediação, as partes podem se aproveitar da boa vontade do parceiro 
para chegar a um acordo que os beneficie. É importante que o mediador não tire 
conclusões precipitadas sobre quem tem mais poder e quem o detém, pois trata-
se de algo fluido e não sólido. Podemos observar, durante a mediação, o 
deslocamento e a flutuação do poder de uma parte a outra, e isso ocorre porque 
as relações de poder mudam durante a ruptura do casamento e divórcio 
(Parkinson, 2016, p. 299-300). 
TEMA 2 – DESEQUILÍBRIOS DE PODER NA MEDIAÇÃO FAMILIAR 
Segundo Lisa Parkinson (2016, p. 302), há diferentes tipos de 
desequilíbrios de poder que afetam a dinâmica da mediação. Vejamos a seguir: 
 Poder para terminar o casamento ou relacionamento; 
 Poder de resistir ou bloquear mudanças; 
 Força emocional ou resiliência; 
 Residência da criança, padrão infantil de cuidado da criança; 
 Lealdade emocional das crianças a um dos pais, a aliança com um 
dos pais; 
 Controle de ativos financeiros, renda, poder aquisitivo; 
 Personalidade, confiança, assertividade; 
 Físico, saúde e força, aparência física; 
 Habilidades verbais, o uso da linguagem; 
 Conhecimento; 
 Inteligência, educação ou do poder intelectual; 
 Sexo; 
 Potência sexual, capacidade de sedução; 
 Habilidade para manipular outras pessoas, especialmente crianças; 
 Idade; 
 Poder moral – valores e religião, o apoio de líderes religiosos; 
 Status social, influência social; 
 Ter um(a) novo(a) parceiro(a); 
 Apoio da família; 
 Apoio de amigos e colegas de trabalho; 
 Acesso a serviços jurídicos, a elegibilidade para assistência jurídica; 
 Abuso físico e emocional. 
Sobre o poder de resistir ou bloquear um acordo, é importante estar ciente 
de que um parceiro aparentemente impotente e passivo pode ser capaz de 
exercer seu poder por meio de bloqueio e resistência, utilizando manobras 
dilatórias para adiar sessões e acordos. Um parceiro resistente pode concordar 
com a mediação para prolongar envolvimentos emocionais com a outra parte, 
mantendo-a por perto. Os mediadores precisam ter cuidado para não ser levados 
por esse tipo de manobra, acreditando que a atuação deles está facilitando o 
acordo, quando, na verdade, está ajudando uma das partes a evitá-lo (Parkinson, 
2016, p. 303-304). 
 
 
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A dor pode ser inteiramente genuína, mas também ser utilizada para 
manipular o parceiro. O choro, durante a sessão de mediação, é comum e pode 
funcionar para aliviar o sofrimento dos participantes; no entanto, se ele persiste 
por parte de um parceiro, pode tornar impossível a discussão sobre qualquer 
assunto. Ameaças de suicídio são por vezes utilizadas como forma de chantagem 
emocional e colocam uma enorme pressão naquele que deixou a família para que 
volte ou não saia de casa. As conversas sobre suicídio, por outro lado, podem ser 
legítimas, e os mediadores não devem subestimar seus riscos, pois a experiência 
de perda de um parceiro, seja por morte, seja por divórcio, é conhecida por ser 
um fator que motiva essa decisão mais radical. Quando uma das partes se refere 
a tal possibilidade, os medidores devem levar isso a sério e, se verificar 
necessidade ou urgência, encaminhar para atendimento médico ou outro serviço 
adequado (Parkinson, 2016, p. 304-305). 
O comportamento dominante de um parceiro e a submissão da outra parte 
pode ser um padrão estabelecido muito antes da mediação. Mediadores precisam 
combinar calor pessoal e sensibilidade com firmeza, a fim de assegurar que um 
parceiro incentive o outro a seguir em frente. Nesses casos, o apoio pessoal de 
um consultor jurídico pode ser necessário, além de ajuda terapêutica (Parkinson, 
2016, p. 305). 
O conhecimento é uma fonte de poder, e a falta de informação financeira e 
bancária representa grande desvantagem nas negociações financeiras que 
podem ocorrer durante a mediação. Dividir o conhecimento reduz o sentimento de 
impotência, e uma das tarefas do mediador é identificar e reunir as informações 
que precisam ser compartilhadas (Parkinson, 2016, p. 307). 
TEMA 3 – GERINDO OS DESEQUILÍBRIOS DE PODER NA MEDIAÇÃO 
FAMILIAR 
A formação dos mediadores deve promover o conhecimento a fim de 
identificar desequilíbrios e gerir tais problemas. Lisa Parkinson aponta 16 passos 
para gerir problemas na mediação. Vejamos a seguir: 
1. Encontro inicial: avaliar se a mediação é adequada e aceita por 
ambas as partes; 
2. Finalizar a mediação, se a situação se mostrar inadequada para o 
seu prosseguimento. Os mediadores devem verificar se há extrema 
submissão pela outra parte, finalizando a mediação o quanto antes 
se esta for a melhor solução possível; 
3. Os mediadores devem mostrar eles próprios respeito e exigir respeito 
e civilidade entre os participantes. O mediador deve controlar a 
 
 
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linguagem abusiva ou os comportamentos ameaçadores durante a 
mediação; 
4. A mediação supõe igualdade de participação. Os mediadores devem 
intervir para controlar interrupções e evitar intimidações entre as 
partes. O mediador não pode permitir que um dos participantes tente 
dominar e tomar controle do processo; 
5. O mediador desempenha um papel ativo, criando um espaço 
favorável para que ambos os participantes possam falar e ser 
ouvidos. Nesse ambiente seguro, criado pelo mediador, talvez um 
parceiro que esteja se sentindo oprimido ou deprimido consiga falar 
alto pela primeira vez; 
6. O mediador deve controlar os documentos que são trazidos para a 
mediação,explicando que os únicos documentos que podem ser 
aceitos são aqueles considerados relevantes por ambas as partes e 
pelo mediador; 
7. Partilha de informações. Obter informações e partilhar tais 
informações são elementos fundamentais da mediação. Que podem 
reduzir substancialmente o desequilíbrio de poder (caso sejam 
visíveis); 
8. Identificar e compreender as necessidades, tanto presentes quanto 
futuras. O processo de identificação e de aprofundamento das 
necessidades de cada uma das partes e dos filhos deve ser feito 
sistematicamente de modo exaustivo. Isso ajuda a equilibrar as 
posições nas negociações; 
9. A informação fornecida pelo mediador pode afetar as expectativas e 
as posições das partes. Os mediadores não devem deixar de dar às 
partes informações imprescindíveis a elas. A informação tem de ser 
factual, dada de forma neutra e capaz de ser objeto de verificação 
cruzada; 
10. Aconselhamento jurídico. De acordo com um dos princípios básicos 
da mediação, as partes devem procurar aconselhamento jurídico 
independente antes de assinar um acordo que, do ponto de vista 
jurídico, possa ter força executiva. Um aconselhamento 
independente para cada uma das partes fornece controle e equilíbrio; 
11. Todas as opções disponíveis devem ser examinadas – para ambas 
partes. Os mediadores podem impedir que uma das partes force a 
outra para dar “a resposta que ela quer ouvir”, fazendo com que 
outras opções possíveis sejam identificadas e consideradas; 
12. Parte-se do princípio que os mediadores são imparciais e não 
partidários. Contudo, a imparcialidade não deve ser traduzida como 
imobilidade. Os pequenos avanços que os mediadores fazem no 
decurso de uma sessão de mediação devem ser feitos mantendo a 
comunicação e o equilíbrio com ambas as partes; 
13. Prestar atenção naqueles que podem estar exercendo o poder fora 
das sessões de mediação. Os filhos, os novos parceiros, os avós, 
podem influenciar a decisão das partes. Os mediadores devem ajudar 
os pais a considerar com quem eles devem compartilhar o poder de 
tomar decisões. Os mediadores também devem mostrar que a 
colaboração é fundamental, se as decisões são tomadas para que 
sejam aplicadas na prática; 
14. Resumos escritos da mediação. Resumos devem explicar as 
propostas de acordo escolhidas ao modo pelo qual outras propostas 
foram consideradas. Chamar a atenção para as questões que 
necessitam de aconselhamento jurídico; 
15. Controle de qualidade da mediação. Normas nacionais para a 
seleção e formação de mediadores, supervisão, acreditação e 
acompanhamento da prática da mediação ajudam a proteger tanto os 
clientes da mediação quanto os mediadores; 
16. Estudos de casos práticos são importantes para reunir as 
experiências da mediação, melhorar a prática do mediador e 
desenvolver suas aptidões e habilidades (Parkinson, 2016, p. 311-
314). 
 
 
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Os passos apontados por Lisa Parkinson podem ser utilizados para gerir 
conflitos ocorridos durante o processo de mediação, mas também para evitar que 
problemas ocorram. 
TEMA 4 – A EFICÁCIA DOS MEDIADORES 
O que torna um mediador mais eficaz do que outro? O nível de experiência 
é um dos fatores mais importantes. Mediadores proativos alcançam mais acordos 
do que os passivos, pois intervêm ativamente, estruturando o processo e 
explorando as opções possíveis sem pressa. É importante reconhecer, entretanto, 
que ser proativo não é sinônimo de diretivo (Parkinson, 2016, p. 373-374). 
Os mediadores que se concentram mais na coleta de dados e fatos 
conseguem garantir mais eficácia à tarefa, especialmente quando os participantes 
têm dificuldades para se comunicar. Aqueles que intervêm ativamente durante a 
sessão podem alcançar melhores resultados do que os que apenas facilitam o 
intercâmbio entre as partes (Parkinson, 2016, p. 374). Três intervenções 
específicas podem facilitar a mediação: “1. Estabelecimento e aplicação de 
normas processuais; 2. Estruturação do processo para obter informações 
relevantes; 3. Reformulação das declarações dos participantes para identificar 
problemas e propostas importantes” (Parkinson, 2016, p. 374). 
Os mediadores, segundo Lisa Parkinson (2016, p. 374), tendem a ser 
“fazedores de acordos ou solucionadores de problemas”, que costumam ser mais 
flexíveis na forma de manter o equilíbrio entre os participantes e encorajam 
ativamente trocas produtivas, desencorajando as destrutivas, proporcionando 
acordos duradouros e com maior satisfação às partes. A criatividade e a 
flexibilidade são dois atributos encontrados em um bom mediador e indicam 
grande capacidade de se adaptar ao processo de mediação e gerenciar diferentes 
níveis de conflito e desequilíbrio de poder, sem perder a integridade do processo 
(Parkinson, 2016, p. 374-375). 
TEMA 5 – ADVOGADOS E MEDIAÇÃO 
A mediação pertence às partes, são elas as protagonistas. O mediador é 
apenas um facilitador: “por essa natureza, a participação dos advogados no 
processo de mediação, apesar de ter um potencial bastante positivo, não deve ser 
descuidada. O advogado inserido em um processo de mediação deve 
 
 
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compreender muito bem o que é a mediação. Em especial, o protagonismo das 
partes” (Ruggiero, 2017). 
O advogado é formado para falar pelas partes, defender, representar, 
persuadir, argumentar, mas precisará, em um processo de mediação, desconstruir 
e se reconstruir como profissional (Ruggiero, 2017). 
Os papéis de advogados e mediadores são diferentes e complementares. 
Alguns advogados se opõem à mediação, pois acreditam que os mediadores 
podem “roubar” seus clientes. Embora a mediação reduza litígios, não exclui o 
aconselhamento jurídico e financeiro às partes, que pode ser fundamental para a 
elaboração de propostas visando ao acordo (Parkinson, 2016, p. 156). 
O advogado preparado para a sessão de mediação tem uma função tão 
relevante quanto aquele que atua de forma tradicional nos processos 
judiciais. Entretanto, a performance deve ser diferente. Mas, na prática, 
alguns advogados ainda precisam passar por esta mudança cultural 
quando se trata de mediação, conciliação ou advocacia colaborativa 
(Pinho, 2015). 
Na mediação familiar, as partes podem vir acompanhadas de advogados, 
entretanto a logística desse processo é mais complexa, pois pode durar um dia 
inteiro e haver ou não um acordo ao final. Advogados que participam da mediação 
familiar sem entender seu funcionamento podem tentar assumir o controle, 
inibindo a comunicação entre os clientes ou, ainda, utilizar a mediação como uma 
oportunidade para a defesa. A maioria dos advogados acredita que a presença 
deles facilita a tomada de decisões, bem como entendem que sua participação é 
fundamental para proteger seu cliente. A isso se soma o fato de que a presença 
de um advogado pode dar suporte a um cliente ansioso e vulnerável (Parkinson, 
2016, p. 156-157). 
Uma das vantagens da presença de advogados na mediação é a 
possibilidade de se fazer pausa durante a sessão na qual poderão aconselhar seu 
cliente, explicando, por exemplo, que a posição dele não é útil ou realista. 
Mediadores, por sua vez, não podem dizer isso às partes, e a participação de um 
advogado pode ser uma poderosa ferramenta para ajudar as negociações e 
finalizar acordos (Parkinson, 2016, p. 157). 
O papel do advogado é extremamente importante na mediação, pois é ele 
que tem o contato prévio com o cliente e pode prestar as orientações necessárias 
a respeito dessa forma de resolução de conflitos, comentar as suas vantagens e 
prestar orientações jurídicas acerca do assunto antes e durante a sessão. Vale 
lembrar, também, que as orientações jurídicas somente poderão ser prestadas 
 
 
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por advogados, já que os mediadores, ainda que sejam advogados ou tenham 
formação em Direito, não podem fazer quaisquer esclarecimentos legais durante 
a sessão de mediação (Pinho, 2015). 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
PARKINSON, L. Mediação familiar. Belo Horizonte:Del Rey, 2016. 
PINHO, D. Papel do advogado é extremamente importante na mediação. 
Consultor Jurídico, 29 jun. 2015. Disponível em: 
<https://www.conjur.com.br/2015-jun-29/debora-pinho-papel-advogado-
fundamental-mediacao>. Acesso em: 17 jan. 2020. 
RUGGIERO, I. O papel do advogado na mediação. JusBrasil, 12 abr. 2017. 
Disponível em: <https://ianeruggiero.jusbrasil.com.br/artigos/448863895/o-papel-
do-advogado-na-mediacao>. Acesso em: 17 jan. 2020.

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