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EXECUÇÃO ENTREGA DE COISA CERTA

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EXECUÇÃO EM ESPÉCIE: EXECUÇÃO PARA ENTREGA DE COISA 
II 
Serão tratados os procedimentos no caso de o devedor não entregar a coisa certa 
no prazo de 15 dias após a citação, conforme o art. 806 do CPC: 
Art. 806. O devedor de obrigação de entrega de coisa certa, constante de título executivo extraju- 
dicial, será citado para, em 15 (quinze) dias, satisfazer a obrigação. 
§ 1º Ao despachar a inicial, o juiz poderá fixar multa por dia de atraso no cumprimento da obriga- ção, 
ficando o respectivo valor sujeito a alteração, caso se revele insuficiente ou excessivo. 
§ 2º Do mandado de citação constará ordem para imissão na posse ou busca e apreensão, confor-me 
se tratar de bem imóvel ou móvel, cujo cumprimento se dará de imediato, se o executado nãosatisfizer 
a obrigação no prazo que lhe foi designado. 
 
A multa citada no § 1º é a astreinte, multa das tutelas específicas, estudadas 
anteriormente na parte das obrigações de fazer e não fazer, tendo por objetivo 
compelir a parte a cumprir a ordem judicial . 
Em títulos de execução extrajudicial admitem-se tanto medidas executivas 
típicas diretas (busca e apreensão e imissão da posse), como medidas 
executivas típicas indiretas, ou seja,a multa. Por indireta entende-se que o 
objeto da multa não é o objeto da execução, ou seja,o bem devido. Ela não 
visa compensar o credor, mas sim gerar pressão psicológica no devedor, que 
 passa a temer a perda do bem e outras consequências do processo. 
Além do art. 806, § 1º, há previsão legal para a multa no art. 537 do CPC. O 
credor da multa, ou seja, aquele que a recebe, não são os cofres públicos, 
mas o próprio exequente. Outro requisito necessário à aplicação da multa é o 
respeito aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. 
A multa pode ser majorada, reduzida e até excluída. Há debate sobre se 
apenas a multavincenda pode ser alterada, ou a multa já vencida também pode 
sê-lo. O art. 806 não é claroquanto a isso. 
As medidas executivas típicas diretas, que têm por objeto o próprio bem a ser 
excutido, são cumpridas de imediato, terminado o prazo de 15 dias. No caso 
 de bem imóvel, é feita a imissão de posse. No caso de bem móvel, é feita a 
 busca e apreensão. Vale lembrar que a multa continua a incidir enquanto o 
bem não é entregue. 
De acordo com art. 807, se o devedor entrega o bem dentro do prazo, o 
processo poderáprosseguir por quantia certa, sendo necessário, antes, um 
procedimento de liquidação para converter o bem em valor. Por fim, prolata- 
se a sentença. 
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A parte vencida precisa pagar honorários advocatícios, uma vez que se 
constata o princípio da causalidade: por ter se recusado a entregar o bem 
devido, levando à judiciali-zação da questão, o devedor dá causa à ação. O 
art. 85 especifica que os honorários devem ser pagos havendo ou não 
 resistência ao cumprimento da execução: 
 
 
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. 
§ 1º São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de sentença, 
provisó- 
rio ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente. 
 
No entanto, em relação à entrega de coisa, não há um dispositivo 
especificando o percentual de honorários advocatícios que devem ser pagos 
pelo devedor. Devido a essa omis-são jurídica, os juízes têm se apoiado no 
art. 827, que traz um percentual para execução dequantia certa: 
Art. 827. Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários advocatícios de dez por 
cen-to, a serem pagos pelo executado. 
§ 1º No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos honorários 
advocatíciosserá reduzido pela metade. 
§ 2º O valor dos honorários poderá ser elevado até 20% por cento, quando rejeitados os 
embargos à execução, podendo a majoração, caso não opostos aos embargos, ocorrer ao 
final do procedi- mento executivo, levando-se em conta o trabalho realizado pelo advogado 
do exequente. 
 
Ao adotar o percentual trazido pelo art. 827, o juiz deve adotar o restante das 
 medidas previstas pelo dispositivo. 
 
§ 1º, e outra é a majoração dos honorários até o teto de 20%, expressa no § 2º. 
Perceba que podem ser oferecidos embargos à execução. 
Estes devem seguir a regrageral do art. 914 ao art. 920. Desse modo, um prazo 
de 15 dias úteis para oferecer embar- gos à execução se inicia após a citação, 
simultaneamente ao prazo de 15 dias para entregada coisa. Tais embargos 
têm natureza jurídica de ação, o que significa dizer que, havendo litisconsorte, 
com diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, em autos 
físicos, o prazo não é elevado a 30 dias, pois não se aplica o disposto no art. 
229. 
Os embargos à execução dispensam o depósito do bem, conforme o art. 914, 
sendo independentes de garantia do juízo. Eles também possuem cognição 
plena (o devedor podeapresentar qualquer matéria de defesa), conforme art. 
917, VI, pois se trata da primeira defesa do devedor na ação. 
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No entanto, o oferecimento dos embargos não tem efeito suspensivo sobre 
a execução, incluindo possíveis medidas executivas típicas diretas. Para 
suspender a execução, o devedor deve conseguir um efeito suspensivo ope 
iudices, cujos requisitos são, conforme art. 919: risco de grave lesão ao 
devedor caso a execução prossiga; o devedor deposita o bem em juízo; e 
 fundamentos relevantes. 
 
 Como os embargos têm natureza jurídica de ação, a decisão que os julga é 
uma sentença. Portanto, caso não concorde com a sentença, o devedor 
poderá apresentar apelação. 
Os embargos serão estudados mais detalhadamente dentro do tópico 
execução por quantia certa. 
O art. 808 trata da alienação do bem quando este já está em litígio. Aqui, 
cabe obser var os efeitos da citação válida, ainda que expedida por juiz 
incompetente, conforme o art. 240: induz litispendência; constitui o devedor 
em mora; e torna o objeto litigioso. 
Art. 808. Alienada a coisa quando já litigiosa, será expedido mandado contra o terceiro 
adquirente,que somente será ouvido após depositá-la. 
 
 
 O art. 809 trata da conversão em perdas e danos: 
 
Art. 809. O exequente tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa, 
quandoessa se deteriorar, não for encontrada ou não for reclamada do poder de terceiro 
adquirente. 
§ 1º Não constando do título o valor da coisa e sendo impossível a sua avaliação, o 
exequenteapresentará estimativa, sujeitando-a ao arbitramento judicial. 
§ 2º Serão apurados em liquidação o valor da coisa e os prejuízos. 
 
A conversão em perdas e danos pode ser automática, quando o próprio 
contrato, incluídona petição inicial, já prevê o pagamento de um valor. Não 
havendo tal previsão, procede-se à liquidação e à conversão da execução 
para entrega de coisa em execução para entrega por quantia certa. 
Se o executado ou terceiro fizerem benfeitorias na coisa, a liquidação é 
 obrigatória, conforme art. 810: 
 
 
Art. 810. Havendo benfeitorias indenizáveis na coisa pelo executado ou por terceiros de cujo 
poder houver sido tirada, a liquidação prévia é obrigatória. 
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Parágrafo único. Havendo saldo: 
I – em favor do executado ou de terceiros, o exequente o depositará ao requerer a entrega da coisa; 
II – em favor do exequente, esse poderá cobrá-lo nos autos do mesmo processo. 
 
O art. 811 trata da entrega de coisa incerta: 
 
Art. 811. Quando a execução recair sobre coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, o 
executado será citado para entregá-la individualizada, se lhe couber a escolha. 
Parágrafo único. Se a escolher couber ao exequente, esse deverá indicá-la na petição inicial. 
 
A escolha é o ato que converte a obrigação de entrega de coisa incerta para 
entrega decoisa certa. 
 
O art. 812 trata da impugnação da escolha. Lembrando que o executado não 
é obrigadoa entregar a melhor coisa, dentrodo gênero em questão, mas 
também não pode entregar apior coisa. A decisão do juiz é interlocutória, 
recorríveis mediante agravo de instrumento.Esse tipo de recurso é cabível 
a qualquer decisão interlocutória em processo de execução (art. 1.015, 
parágrafo único). O mesmo não ocorre com os embargos à execução, que 
são ações de reconhecimento dentro do processo de execução, aplicando- 
 se o rol taxativo doart. 1.015. 
 
Art. 812. Qualquer das partes poderá, no prazo de 15 (quinze) dias, impugnar a escolha feita pela 
outra, e o juiz decidirá de plano ou, se necessário, ouvindo perito de sua nomeação. 
 
O último dispositivo sobre a entrega de coisa incerta é o art. 813: 
 
Art. 813. Aplicar-se-ão à execução para entrega de coisa incerta, no que couber, as 
disposiçõesda Seção I deste Capítulo.

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