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Aconselhamento Genético



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Seção 8.2
Aconselhamento genético 
Diversas doenças humanas são hereditárias. O estudo dos genótipos 
de um casal e de seus parentes permite, em certos casos, estimar a 
chance de uma criança ser afetada por uma doença já manifestada por 
algum membro da família. Pelo estudo dos heredogramas, especialistas no 
campo da Genética Humana podem orientar um casal sobre os riscos de 
seus filhos virem a ter alguma doença hereditária. Esse tipo de orientação 
constitui o aconselhamento genético.
Um casal só deve se preocupar em procurar aconselhamento genético 
se já teve alguma criança com problemas ou se tiver parentes próximos 
afetados por doenças genéticas. Mulheres com mais de 35 anos que dese-
jam engravidar devem procurar um serviço de aconselhamento genético, 
pois o risco de gerar filhos com número anormal de cromossomos aumenta 
significativamente depois dessa idade.
1 Identificação de portadores 
de alelos deletérios
Alelos que causam doenças, ou que diminuem a taxa de sobrevivência ou 
de reprodução de um organismo, são genericamente chamados de alelos 
deletérios. Muitos alelos deletérios presentes nas populações humanas sur-
gem por mutações de alelos normais, comportando-se como recessivos.
Para calcular o risco de uma doença genética recessiva se manifestar 
numa pessoa, os geneticistas tentam descobrir se seus pais são ou não 
portadores do alelo recessivo causador da doença. A maioria das crianças 
com problemas causados por alelos recessivos tem pais normais. Todas as 
pessoas têm alguns alelos deletérios em seu genoma, que só não se mani-
festam porque estão em dose simples, isto é, na condição heterozigótica.
Atualmente é possível descobrir se uma pessoa é portadora ou não de 
alelos deletérios recessivos para algumas doenças genéticas. Por exemplo, 
um teste bioquímico relativamente simples permite descobrir se uma pessoa 
normal é portadora do alelo recessivo que condiciona a doença de Tay-Sachs, 
uma enfermidade fatal. Pessoas heterozigóticas para anemia falciforme tam-
bém podem ser identificadas em um exame de sangue simples e barato, o que 
ajuda a evitar o nascimento de crianças afetadas por essa enfermidade.
É cada vez maior o número de genes deletérios que podem ser identifi-
cados pelas novas técnicas de análise do DNA, o que vem se tornando uma 
poderosa ferramenta de auxílio ao aconselhamento genético. Em muitos 
casos, a partir de uma única célula de um embrião, pode-se determinar se 
ele terá ou não uma doença genética grave.
Nos casos de fertilização in vitro, em que se sabe que existe chance de 
os filhos terem herdado determinado alelo deletério, costuma-se realizar 
exame de DNA de uma célula dos embriões antes da implantação no úte-
ro da mãe. Dentre os embriões analisados, o especialista pode escolher 
apenas os geneticamente saudáveis para serem implantados, o que tem 
levantado questões éticas.
Casamentos consanguíneos
Casamentos entre parentes próximos, tais como primos em primeiro 
grau, são denominados casamentos consanguíneos. Nestes, é maior a 
probabilidade de alelos deletérios recessivos se encontrarem, originando 
um indivíduo homozigótico recessivo. Isso porque, por terem herdado 
seus genes de ancestrais comuns próximos, pessoas aparentadas têm 
maior chance de possuir um mesmo tipo de alelo deletério “familiar” que 
pessoas não aparentadas.
Objetivos❱❱❱❱
Conceituar CCCCCCC
aconselhamento 
genético e explicar 
sua importância no 
diagnóstico e 
na prevenção de 
doenças hereditárias.
Conhecer o princípio CCCCCCC
dos principais métodos 
de diagnóstico pré-natal 
— amniocentese 
e amostragem 
vilo-coriônica.
Termos e conceitos❱❱❱❱
aconselhamento •	
genético
alelo deletério•	
casamento •	
consanguíneo
amniocentese•	
amostragem •	
vilo-coriônica
Figura 8.8 
Representação 
esquemática de duas 
técnicas utilizadas em 
exames pré-natais. 
Acima, técnica de 
amniocentese. Abaixo, 
técnica da amostragem 
vilo-coriônica. (Imagens 
sem escala, cores-
-fantasia.)
Ultrassom
Centrifugação
Análise bioquímica
Análise bioquímicaCentrifugação
Cultivo das
células
Células
fetais
Embrião
Feto
Útero
Análise do cariótipo
Análise do cariótipo
Cultivo das
células
Células
fetais
Útero
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Diversas culturas têm leis que proíbem ou desaconselham o casamento entre parentes 
próximos. Essas leis surgiram, possivelmente, da observação empírica de que o nascimento de 
crianças com anomalias são mais comuns nos casamentos entre parentes. Problemas causados 
por casamentos consanguíneos também podem ser observados nos animais domésticos e em 
zoológicos, em que animais aparentados são frequentemente cruzados entre si.
2 Diagnóstico pré-natal
Atualmente é possível diagnosticar certas doenças genéticas graves ainda durante a vida 
intrauterina. Nesses casos, o casal pode optar pelo aborto terapêutico (permitido em certos paí-
ses, mas não no Brasil), ou se preparar para criar um filho portador da anomalia. Há dois métodos 
básicos para diagnosticar possíveis defeitos genéticos de um embrião em desenvolvimento: a 
amniocentese e a amostragem vilo-coriônica.
A amniocentese é uma técnica rápida, precisa e de pouco risco, empregada para análise 
de fetos entre a 15a
 e a 18a
 semanas de gravidez. Uma agulha longa é introduzida na barriga até 
atingir a bolsa amniótica. Esse procedimento é monitorado por um aparelho de ultrassonografia. 
Bastam cerca de 20 mililitros de líquido amniótico para realizar diversos tipos de exame.
Certas doenças podem ser detectadas pela presença de determinadas substâncias eliminadas pelo 
feto no líquido amniótico. Outra possibilidade é cultivar células fetais presentes no líquido amniótico, 
induzindo-as a se multiplicar em laboratório, o que permite estudar os cromossomos e o DNA fetal.
A amostragem vilo-coriônica permite diagnosticar doenças hereditárias entre a 8a e a 11a se-
manas de gravidez, antes, portanto, que a amniocentese. Com o auxílio de um longo instrumento de 
punção introduzido pela vagina até o interior do útero, retira-se uma pequena porção do envoltório 
embrionário, o chamado cório. As células embrionárias coletadas podem ser cultivadas em meio 
nutritivo ou ser analisadas imediatamente, dependendo do tipo de estudo que se queira realizar.
A operação de retirada de amostras de vilosidades coriônicas causa aborto do embrião em cerca de 
1% dos casos. Por isso, esse tipo de diagnóstico é empregado apenas quando há alto risco de doença ge-
nética, o que pode justificar sua identificação precoce para um eventual aborto terapêutico. (Fig. 8.8)
Essas técnicas diagnósticas, que possibilitam a identificação de portadores de doenças graves 
ainda durante a vida intrauterina, colocam em discussão a questão do aborto terapêutico e levam 
a questionamentos éticos e morais. O aborto terapêutico é permitido em certos países. No Brasil, 
o aborto é ilegal; os únicos casos em que é permitido é quando a gravidez resulta de estupro ou 
se há risco à vida da mãe. Os novos caminhos apontados pela Genética exigem que a sociedade 
discuta novas atitudes, normas e valores, coerentes com o conhecimento científico atual.
Retirada
de líquido 
amniótico
Retirada de
vilosidades
coriônicas
Fragmento
de restrição
Ponto de corte
Ponto de corte
Enzima de restrição
Eco RI
Fragmento
de restrição
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Seção 8.3
A genética moleculare suas aplicações
1 Enzimas de restrição
No início dos anos 1970, descobriu-se que certas enzimas bacterianas, 
denominadas endonucleases de restrição, podiam cortar moléculas de DNA 
em pontos específicos, gerando fragmentos de tamanhos definidos. Isso 
permitiu análises detalhadas do DNA até então impossíveis, dado o grande 
tamanho e a heterogeneidade das moléculas. 
As endonucleases de restrição são enzimas bacterianas que atuam 
como “tesouras moleculares”, reconhecendo sequências de pares de bases 
específicas em moléculas de DNA e cortando-as nesses pontos. Elas são 
altamente específicas: cada tipo de enzima reconhece e corta apenas uma 
determinada sequência de nucleotídios, em geral constituída por 4 ou 6 
pares de bases nitrogenadas. Endonucleases de restrição são comparáveis 
a ferramentas que permitem cortar moléculas de DNA de forma controlada 
e previsível (Fig. 8.9)
Figura 8.9 Representação 
esquemática do modo de ação da 
endonuclease de restrição Eco RI 
(lê-se “eco r um”). A tabela mostra, na 
coluna da direita, os pontos de corte 
e as sequências de reconhecimento 
de algumas endonucleases de 
restrição e, na coluna do meio, 
a linhagem de bactéria que 
produz cada enzima. O nome das 
endonucleases de restrição 
compõe-se das iniciais do nome 
da espécie e, às vezes, da sigla da 
linhagem da bactéria que a produz.
Objetivos❱❱❱❱
Conhecer os princípios CCCCCCC
básicos da manipulação 
genética e duas de 
suas aplicações: 
identificação de 
pessoas pelo DNA e 
clonagem molecular.
Conhecer e CCCCCCC
compreender o que 
são organismos 
transgênicos. Aplicar 
esses conhecimentos 
na formação de 
opinião a respeito 
de temas polêmicos, 
como os possíveis 
benefícios e prejuízos 
das manipulações 
genéticas.
Termos e conceitos❱❱❱❱
endonuclease de •	
restrição
eletroforese•	
clonagem molecular•	
organismo transgênico•	
Nome da enzima Bactéria de origem Sítio de ação
Aha III
Aphanothece
halophytica
Bam HI
Bacillus
amyloliquefaciens H
Eco RI
Escherichia
coli RY 13
Hind III
Haemophilus
influenzae Rd
Taq I
Thermus
aquaticus YTI
5' – TTT AAA – 3'
3' – AAA TTT – 5'
5' – GGATCC – 3'
3' – CCTAGG – 5'
5' – GAATTC – 3'
3' – CTTAAG – 5'
5' – AAGCTT – 3'
3' – TTCGAA – 5'
5' – TCGA – 3'
3' – AGCT – 5'
Sítios de corte da enzima
5' – TTT AAA – 3'
3' – AAA TTT – 5'
5' – GGATCC – 3'
3' – CCTAGG – 5'
5' – GAATTC – 3'
3' – CTTAAG – 5'
5' – AAGCTT – 3'
3' – TTCGAA – 5'
5' – TCGA – 3'
3' – AGCT – 5'
Sítios de corte da enzima
5' – TTT AAA – 3'
3' – AAA TTT – 5'
5' – GGATCC – 3'
3' – CCTAGG – 5'
5' – GAATTC – 3'
3' – CTTAAG – 5'
5' – AAGCTT – 3'
3' – TTCGAA – 5'
5' – TCGA – 3'
3' – AGCT – 5'
Sítios de corte da enzima
5' – TTT AAA – 3'
3' – AAA TTT – 5'
5' – GGATCC – 3'
3' – CCTAGG – 5'
5' – GAATTC – 3'
3' – CTTAAG – 5'
5' – AAGCTT – 3'
3' – TTCGAA – 5'
5' – TCGA – 3'
3' – AGCT – 5'
Sítios de corte da enzima
5' – TTT AAA – 3'
3' – AAA TTT – 5'
5' – GGATCC – 3'
3' – CCTAGG – 5'
5' – GAATTC – 3'
3' – CTTAAG – 5'
5' – AAGCTT – 3'
3' – TTCGAA – 5'
5' – TCGA – 3'
3' – AGCT – 5'
Sítios de corte da enzima
5' – TTT AAA – 3'
3' – AAA TTT – 5'
5' – GGATCC – 3'
3' – CCTAGG – 5'
5' – GAATTC – 3'
3' – CTTAAG – 5'
5' – AAGCTT – 3'
3' – TTCGAA – 5'
5' – TCGA – 3'
3' – AGCT – 5'
Sítios de corte da enzima