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A moça agitou então a fronte com uma vibração altiva:
— Mas o senhor não me abandonou pelo amor de 
Adelaide e sim pelo seu dote, um mesquinho dote de 
trinta contos! Eis o que não tinha o direito de fazer, 
e que jamais lhe podia perdoar! Desprezasse- 
-me embora, mas não descesse da altura em 
que o havia colocado dentro de minha alma. 
Eu tinha um ídolo; o senhor abateu-o de seu 
pedestal, e atirou-o no pó. Essa degradação do 
homem a quem eu adorava, eis o seu crime; a 
sociedade não tem leis para puni-lo, mas há um re-
morso para ele. Não se assassina assim um coração que 
Deus criou para amar, incutindo-lhe a descrença e o ódio.
Seixas, que tinha curvado a fronte, ergueu-a de novo, e 
fitou os olhos na moça. Conservava ainda as feições contraídas 
e gotas de suor borbulhavam na raiz dos seus belos cabelos 
negros. 
— A riqueza que Deus me concedeu chegou tarde; nem ao me-
nos permitiu-me o prazer da ilusão, que têm as mulheres enganadas. 
Quando a recebi, já conhecia o mundo e suas misérias; já sabia que a moça 
rica é um arranjo e não uma esposa; pois bem, disse eu, essa riqueza servirá 
para dar-me a única satisfação que ainda posso ter neste mundo. Mostrar a 
esse homem que não soube me compreender, que mulher o amava, e que 
alma perdeu. Entretanto, ainda eu afagava uma esperança. Se ele recusa 
nobremente a proposta aviltante, eu irei lançar-me a seus pés. Suplicar-lhe-ei 
que aceite a minha riqueza, que a dissipe se quiser; mas consinta-me que eu 
o ame. Esta última consolação, o senhor a arrebatou. [...]
ALENCAR, José de. Senhora. 23. ed. São Paulo: 
Ática, 1992. p. 109-110. (Fragmento).
 1. Na sua primeira fala, Aurélia descreve o sentimento que nutria por 
Fernando. Que tipo de amor a moça declara ter sentido por ele?
a) Que efeito tem sobre ela sua decepção em relação a esse amor?
b) De que maneira essa decepção explica a decisão de Aurélia de 
“comprar” Fernando? 
 2. O fato de Fernando tê-la abandonado por outra mulher não é o que 
motiva a vingança de Aurélia. Explique por quê. 
a) Qual foi, segundo Aurélia, o crime cometido por Fernando?
b) A explicação de Aurélia sobre esse crime revela uma imagem idea-
lizada do amado. Explique.
 3. Releia.
“— A riqueza que Deus me concedeu chegou tarde; 
nem ao menos permitiu-me o prazer da ilusão, que têm 
as mulheres enganadas. Quando a recebi, já conhecia o 
mundo e suas misérias; já sabia que a moça rica é um 
arranjo e não uma esposa [...]”
a) Qual é a dura crítica feita por Aurélia a um comportamento da 
sociedade em que vive?
b) Explique de que maneira essa fala sugere a expectativa romântica 
que Aurélia tem em relação ao casamento. 
 4. Por que Aurélia diz a Fernando que ainda tinha uma esperança em 
relação a ele: que sua proposta de casamento fosse recusada? 
Material complementar 
Moderna PLUS 
http://www.modernaplus.com.br
Exercícios adicionais.
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Manuel Antônio de Almeida: 
a estética da malandragem
Um cenário um pouco diferente dos romances 
de Macedo e Alencar surgirá das mãos de Manuel 
Antônio de Almeida. O Rio de Janeiro que aparece 
nas páginas de Memórias de um sargento de milí-
cias não é o da elite burguesa, mas o das camadas 
mais baixas da população.
Entremeado de episódios engraçados, Memó-
rias de um sargento de milí cias conta as aventuras 
de um certo Leonardo, filho de Leonardo Pataca 
e de Maria da Hortaliça. 
Criado pelos padrinhos, um barbeiro e uma 
parteira, Leonardinho mete-se em mil peripécias, 
comportando-se como um verdadeiro anti-herói, 
que aprecia a malandragem e envolve-se com 
várias mulheres.
Toda aquela idealização dos protagonistas 
que marca as obras de Macedo e de Alencar desaparece no caso de 
Memórias de um sargento de milícias. As personagens dessa história 
são homens e mulheres pressionados pela necessidade. Na tentativa 
de driblar o destino, recorrem a pequenos golpes, exploram relações de 
influência e proteção e se divertem em festas populares.
Todas essas características fazem com que esse romance ocupe uma 
posição diferente dentro do quadro do Romantismo brasileiro. Quase uma 
comédia de costumes, Memórias de um sargento de milícias ganha contornos 
realistas quando apresenta o avesso de instituições sociais que se imagi-
navam sérias e respeitadas. Compare, por exemplo, dois trechos em que o 
major Vidigal aparece em cena.
 Aqueduto de Santa Teresa e 
casario da Lapa. c. 1859.
Como o povo se divertia
Uma das festas mais populares no Rio de Janeiro do século XIX, a Folia do 
Divino, ou festa do Espírito Santo, é descrita de maneira minuciosa em um dos 
capítulos de Memórias de um sargento de milícias.
[...] um rancho de meninos, todos de nove a onze 
anos, [...] sapatos de cor-de-rosa, meias brancas, calção 
da cor do sapato, faixas à cintura, camisa branca de lon-
gos e caídos colarinhos, chapéus de palha de abas largas, 
[...]. Cada um desses meninos levava um instrumento 
pastoril em que tocavam, pandeiro, machete e tamboril. 
Caminhavam formando um quadrado, no meio do qual 
ia o chamado Imperador do Divino, acompanhados 
por uma música de barbeiros, e precedidos e cercados por 
uma chusma de irmãos de opa levando bandeiras en-
carnadas e outros emblemas, os quais tiravam esmolas 
enquanto eles cantavam e tocavam. [...]
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de 
milícias. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p. 178. (Fragmento).
 DEBRET, J. Folia do Divino. 
Século XIX. Litogravura.
Opa: folia, farra.
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O Vidigal
O som daquela voz que dissera “abra a porta” lançara 
entre eles, como dissemos, o espanto e o medo. E não foi 
sem razão; era ela o anúncio de um grande aperto, de que 
por certo não poderiam escapar. Naquele tempo ainda não 
estava organizada a polícia da cidade, ou antes estava-o de 
um modo em harmonia com as tendências e ideias da época. 
O major Vidigal era o rei absoluto, o árbitro supremo de tudo 
que dizia respeito a esse ramo de administração; era o juiz que 
julgava e distribuía a pena, e ao mesmo tempo o guarda 
que dava caça aos criminosos; [...] a sua justiça era infalível; 
não havia apelação das sentenças que dava, fazia o que queria, 
e ninguém lhe tomava contas. [...]
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. 
São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p. 91. (Fragmento).
Na próxima cena, a madrinha de Leonardinho e duas amigas vão procu-
rar o major Vidigal para pedir que ele mande soltar o rapaz, preso por uma 
ordem sua. O que está em questão, mais uma vez, é o poder de Vidigal. Veja 
como o narrador o descreve.
As três em comissão
[...] O major recebeu-as de rodaque de chita e tamancos, não 
tendo a princípio suposto o quilate da visita; apenas porém reco-
nheceu as três, correu apressado à camarinha vizinha, e envergou 
o mais depressa que pôde a farda; como o tempo urgia, e era uma 
incivilidade deixar sós as senhoras, não completou o uniforme, e 
voltou de novo à sala de farda, calças de enfiar, tamancos, e um 
lenço de Alcobaça sobre o ombro, segundo seu uso. A comadre, ao 
vê-lo assim, apesar da aflição em que se achava, mal pôde conter 
uma risada que lhe veio aos lábios. [...]
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. 
São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p. 321. (Fragmento).
Homem temido pela autoridade 
que tinha, Vidigal é surpreendido 
em trajes menores pelas mulheres 
que vão à sua casa pedir um favor. O 
espanto e o medo que sua presença 
desencadeava na primeira cena são 
substituídos pelo riso mal contido 
da comadre.Por meio de situações 
como essa, Manuel Antônio de Almeida 
privilegia o humor como um recurso 
narrativo capaz de emprestar maior 
realismo às personagens e aconteci-
mentos de sua história.
Esse olhar irreverente para as 
instituições sociais será recriado, 
alguns anos mais tarde, por Machado 
de Assis, o mestre da narrativa realista 
no Brasil.
 O sargento, água-forte de Darel 
para a obra Memórias de um 
sargento de milícias, edição 
de 1953.
Rodaque: casaco masculino.
Camarinha: quarto.
DEBRET, J. Juízes chegam ao 
palácio da justiça. Século XIX. 
Litogravura. Juízes descem de 
carruagem à frente do Palácio 
da Justiça, no Rio de Janeiro, no 
início do século XIX. As foices 
ladeando a porta principal 
indicam que um criminoso está 
sendo julgado. 
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