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109 C om en tá ri os e r es po st as d as a ti vi da de s R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . sem documento). O Brasil sugerido na letra da música é um país cheio de contrastes: as celebridades da época (Cláudia Cardinale, famosa atriz de cinema) dividem espaço nas bancas de jornais com as notícias de crimes e da resistência política (guerrilha). As várias imagens apresentadas revelam a agitação cultural e política do momento em que a música foi composta. Texto para análise 709 1 Possibilidades: “Pronome pessoal”, “intransferível”, “agora/presente”, “desferrolhado indecente”, “vidente”. > Podemos dizer que elas indicam que o eu lírico se define como alguém único (pronome pessoal e in- transferível), que vive o agora (“agora / presente”), é livre (“desferrolhado”) e tem consciência do seu caminho (“vidente”). 2 Como uma constatação do eu lírico sobre si mesmo e também uma aceitação de quem ele é. Não há expli- cações “metafísicas” sobre o indivíduo: ele é quem é, resultado do momento presente, das suas vivências e de suas escolhas. Não é o que gostariam que ele fosse, ou o que poderia ser, mas o que é. a) Com essa repetição, o eu lírico enfatiza a própria identidade e as características que o definem, sem que seja necessário explicá-las ou entendê-las: ele é como é, sem máscaras, sem segredos, alguém que tem consciência de si mesmo e se aceita assim. b) Pela associação dos termos “agora” e “nesta hora”, que enfatizam a definição do eu lírico no presente, aos versos “sem grandes segredos dantes / sem novos secretos dentes”. Nesses versos, o eu lírico reforça a ideia de um homem que é construído pelo momento em que vive e não por fatos secretos do passado ou do futuro. 3 O termo “vidente”, normalmente, indica alguém capaz de “ver” o passado, profetizar o futuro, isto é, saber com antecedência aquilo que ainda não se realizou ou não aconteceu. a) Poderíamos dizer que, no poema, o termo tem o mesmo significado. O eu lírico afirma, com essa expressão, sua capacidade de prever seu caminho, sua trajetória de vida. b) A relação entre a palavra “vidente” e esses versos é a “visão” ou a consciência que o eu lírico tem de seu destino. Ao definir-se como “vidente” no momento presente, o eu lírico reforça o seu “conhecimento” sobre a fatalidade que marca a sua existência, a sua certeza sobre o seu fim. Poderíamos dizer, também, que ele aceita esse “destino” como consequência de suas opções de vida. Por isso, vive “tranquilamente todas as horas do fim”. 4 Possibilidade: a escolha de Torquato Neto pode indi- car o desejo de contestar a tentativa de explicar ou comprovar racionalmente a vida, a existência, ou as pessoas. > Ao declarar que “é como é” repetidas vezes, o eu lírico afirma a sua existência sem apresentar razões lógicas ou coerentes para isso. Ele não é, nesse sen- tido, fruto de uma reflexão sobre si mesmo ou não é definido pela sua capacidade de pensar. O que o define é a sua existência: “eu sou, logo existo”. O eu lírico tem consciência absoluta da própria exis- tência e de que ela é determinada não pelo fato de “pensar”, mas de “vivenciar” o mundo à sua volta e “viver” o presente, com a certeza do seu fim. 5 O poema, ao tratar da definição do eu lírico como único e intransferível, revela o desejo de não se ater a moldes preconcebidos, de não aceitar rótulos sociais ou culturais. Nesse sentido, reflete a postura “revolu- cionária” dessa geração, que queria a liberdade acima de tudo, a experimentação em todos os níveis, que buscava a ruptura com tudo aquilo que representasse o comum, o tradicional, e até mesmo as “heranças” do passado. Além disso, o verso final revela a ideia de que a existência deve ser vivida com a consciência de seus limites e também em seus limites, como fez o próprio Torquato. Texto para análise 713 1 No plano da alucinação, Alaíde encontra-se com Madame Clessi e relata a ela como ficou sabendo da história da prostituta e como conseguiu o diário em que foram registrados os acontecimentos da vida dessa mulher. No plano da memória, lembra-se da conversa dos pais sobre Madame Clessi quando a família se mudou para a casa que pertencia a ela. 2 Madame Clessi é apresentada como uma mulher elegante do início do século (“elegância antiquada de 1905”), espartilhada, usando chapéu de plumas. Foi assassinada e o crime foi muito noticiado na época. A referência aos objetos pertencentes a ela e encon- trados pelos pais de Alaíde (as ligas e o espartilho cor-de-rosa) sugere que ela era uma prostituta. A fala dessa personagem indica que ela teve fama e dinheiro. a) Espera-se que o aluno perceba que a atitude da Mãe é de preconceito. Quer queimar os pertences de Madame Clessi. Seu comentário é de leve indig- nação, como se dissesse “Minhas filhas morando na casa de uma prostituta!”. b) Alaíde fica sabendo da história de Madame Clessi quando se muda, com seus pais, para a casa que fora dela. No sótão são encontrados os objetos que lhe pertenciam. Antes que os pais os queimem, a jovem resgata o diário de Madame Clessi e fica conhecendo detalhes de sua vida, que comple- menta com os recortes de jornais da época lidos na Biblioteca. c) O fato de Madame Clessi ter sido assassinada antes que Alaíde soubesse de sua existência. d) O primeiro é denominado plano da alucinação, porque corresponde a fatos que não ocorreram na realidade: são projeções da mente de Alaíde em que ela se encontra com a prostituta do início do século que já está morta. O plano da memória refere-se às lembranças da vida de Alaíde, fragmentos de Sup_P3_(075-112)_c.indd 109 11/12/10 12:04 PM 110 C om en tá ri os e r es po st as d as a ti vi da de s R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . conversas que ela presenciou (como o diálogo entre os pais sobre Madame Clessi) antes do acidente que a deixou em coma. 3 O trecho começa no plano da alucinação, com o encon- tro entre Alaíde e Madame Clessi. Então, esse plano de- saparece para dar lugar ao plano da memória, quando a jovem relembra a conversa dos pais; depois, o plano da alucinação retorna, com a retomada da conversa entre Alaíde e a prostituta. > A última fala de Alaíde, no primeiro momento em que o plano da alucinação é apresentado, sugere a mudança de plano (“Deixe eu me recordar como foi... Já sei!”). Associada a essa fala, ocorre a alteração da luz, indicada pelo trecho entre parênteses (as mar- cações de cena): o plano da alucinação se apaga e o da memória se acende. Além disso, os pais entram em cena e a conversa entre eles indica que se trata de um momento passado. O mesmo ocorre depois de Alaíde se lembrar da conversa dos pais: nesse instante, apaga-se o plano da memória, a luz volta ao plano da alucinação. 4 a) Pelo questionamento de Alaíde sobre o motivo de estar ali, conversando com Madame Clessi, e pela afirmação da moça de que algo que tinha acontecido em sua vida a levara até ali. b) Ficamos sabendo como ela soube da existência de Madame Clessi e que é casada com um rapaz cha- mado Pedro. Também tomamos conhecimento de uma moça chamada Lúcia, de quem a protagonista não se lembra, e da sensação de Alaíde de estar sendo ameaçada. c) O fato de Madame Clessi ser uma personagem do plano da alucinação já é um dos elementos que permitem perceber o caráter psicológico da peça. Além disso, esse plano e o da memória se passam no subconsciente de Alaíde, o que também revela esse caráter. 5 “Clessi (forte) — Quer ser como eu, quer? / Alaíde (veemen- te) — Quero, sim. Quero. / Clessi (exaltada, gritando) — Ter a fama que eu tive. A vida. O dinheiro. E morrer assassina- da?”. A figura de Madame Clessi, além de servir de apoiopara que Alaíde reconstrua seu passado no plano da me- mória, também revela os desejos inconscientes da moça, que quer muito ser como a prostituta, viver uma vida como a dela, como se percebe pelo trecho. A própria “evocação” de Madame Clessi, no plano da alucinação, já revela esse desejo da moça, além da explicitação feita por ela. Conexões 715 Até a data do fechamento deste livro, o DVD do docu- mentário Só dez por cento é mentira: a desbiografia oficial de Manoel Bandeira não havia saído. No filme Zuzu Angel, há algumas cenas que poderão cons- tranger os alunos. Recomendamos assistir ao filme antes de exibi-lo à classe. No filme A vida como ela é, há cenas de sexo e violência. A poesia africana de língua portuguesa 722 Texto para análise 741 1 Sim. O eu lírico, por meio desse vocativo, refere-se à sua pátria (mais especificamente, a Angola) para tratar do sofrimento dos filhos dessa “mãe”, isto é, discutir os efeitos negativos da colonização para o seu povo. Isso pode ser depreendido, no contexto do poema, por diversos elementos. Em primeiro lugar, o fato de a interlocutora ter a sua presença caracterizada como “o drama vivo de uma Raça”. Tal caracterização permite afirmar que o eu lírico se refere ao povo de um país, já que essa “Mãe” com que ele dialoga é o retrato do sofrimento de uma raça inteira. Além disso, ao fazer referência aos descendentes escravizados de sua in- terlocutora e também aos filhos de “outras gentes” que foram embalados e “ninados” por essa “Mamã negra”, o leitor é levado a concluir que essa expressão é uma metáfora para um país africano cujo povo sofreu a dor e a crueldade da escravidão. > Sim. Além da informação apresentada no olho, fazen- do referência ao sofrimento do povo de Angola, há, tam- bém, a identificação da nacionalidade do autor, apre- sentada na referência sobre o poema. Ao sabermos que se trata de um autor angolano, podemos identificar mais especificamente a quem se dirige o eu lírico e constatar que ele “dialoga” com um país africano em especial, a quem chama de “minha Mãe”: a Angola. 2 O eu lírico afirma que são os filhos de “outras gentes” e não os filhos dessa pátria. Pelo contexto apresenta- do no poema, pode-se concluir que se trata de uma referência aos colonizadores portugueses e seus des- cendentes, que foram alimentados e embalados por essa mãe, que representa, metaforicamente, o próprio país, vítima da exploração de seus “senhores”, que extraíram suas riquezas e foram “alimentados” por ela, e, também, todas as mulheres angolanas que, pela condição de inferioridade a que estavam submetidas no contexto da colonização, foram responsáveis por cuidar e alimentar os filhos de seus conquistadores. > A referência a esses filhos revela a herança colonial de Angola e os efeitos dela para o povo desse país: a pátria foi explorada pela máquina colonial portu- guesa e os filhos dela foram escravizados, durante muito tempo, por esses conquistadores. Por isso, o eu lírico afirma que essa “mãe” com quem ele dialoga embalou em seu colo e alimentou com seu leite os filhos de “outras gentes”. A Angola e seu povo, de fato, serviram de “alimento” para saciar o “apetite” voraz de seus colonizadores. Enquanto essa mãe ninava “santos poetas e sábios” de “outras gentes”, seus filhos sofriam com a crueldade da exploração gerada pelo processo de dominação. 3 O eu lírico utiliza os seguintes termos para caracteri- zar os filhos de Angola: alimárias, semoventes, filhos da desgraça. > Ao caracterizar os filhos de Angola como “alimárias” e “filhos da desgraça” em razão da submissão que Seção especial Literatura africana 721 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Sup_P3_(075-112)_c.indd 110 11/12/10 12:05 PM 111 C om en tá ri os e r es po st as d as a ti vi da de s R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . lhes foi imposta pelo conquistador português, o eu lírico, mais uma vez, sugere o sofrimento desse povo durante os séculos de colonização e a exploração de que foi vítima durante esse processo. Enquanto os dominadores desfrutavam das riquezas do país, os filhos dessa pátria eram vistos como animais de carga que deveriam servir aos propósitos de seus senhores, trabalhando como escravos. Por isso, o eu lírico sugere que sua pátria é o retrato do “drama vivo de uma Raça/ drama de carne e sangue”, já que a trajetória desse povo foi marcada pela dominação portuguesa e pela luta (sangrenta) para conquistar sua independência. 4 Embora os quatro primeiros versos da última estrofe ainda tratem do sofrimento vivido pelo povo angola- no em razão do processo de colonização, a partir do quinto verso há uma mudança de tom: vislumbra-se a esperança para essa terra tão devastada pelos efeitos da exploração que sofreu. O eu lírico, por meio de uma metáfora (“mas vejo também que a luz roubada aos teus olhos, ora esplende”), diz perceber que um futuro melhor se anuncia nos “olhos” dessa “Mamã negra”. Apesar de ver, nos olhos dela, o passado de sofrimento, o eu lírico vê também que, pelas mãos dos filhos de Angola no presente (“em nós outros teus filhos”), surge a possibilidade de que essa nação possa novamente ser livre e independente, retomando, dessa forma, a “humanidade” de seu povo (“gerando, formando, anunciando/ — o dia da humanidade”), antes visto como alimária. É essa a mudança que se verifica no poema: após a descrição do passado de sofrimento e de desolação de Angola e de seu povo, o poema termina com um tom de esperança que revela a certeza de que esse país será novamente uma nação autônoma e livre. > O poema transcrito reflete a necessidade dos poetas angolanos (apresentada na teoria referente a essa se- ção), a partir de 1951, de fazer uma poesia que fizesse a denúncia do passado de sofrimento desse povo e combatesse, dessa forma, a alienação social. Além dis- so, o tom do final do poema reforça uma característica importante da poesia africana e da poesia angolana, em especial: a necessidade, também, de despertar a consciência de seu povo e levá-lo a lutar, com esperan- ça, para concretizar o sonho de reconquistar a própria identidade e, dessa forma, consolidar-se como uma nação livre, autônoma e independente. 5 O interlocutor desse poema, um crioulo, é, segundo o eu lírico, o resultado dos aspectos e elementos que ca- racterizam sua terra natal: a inquietação, a coragem e a resignação desse indivíduo são heranças da terra em que ele nasceu. A fome que ele tem foi-lhe dada pelas “estiagens dolorosas” de seu país; o passado de sofri- mento e exploração deram ao interlocutor a dor que ele carrega e a “humildade que nasce do desengano”. Essa mesma terra deu também ao crioulo uma esperança desenganada e uma alegria contida pela espera de um novo tempo que não virá. Dessa forma, o interlocutor é apresentado como o retrato da própria pátria, na qual o sofrimento, a fome e a resignação com o próprio destino são as características mais marcantes. 6 O tom dessa estrofe revela que, além das outras carac- terísticas que definem o interlocutor, a terra em que ele nasceu deu-lhe, também, a crença esperançosa em um futuro melhor, distante da dor e do sofrimento que o caracterizam no presente. Mas, nesses versos, o eu lírico sugere que essa esperança é falsa (desenganada), já que os dias que virão não serão diferentes dos atuais e que não adianta o “crioulo” guardar sua alegria para um novo tempo, pois ele não chegará. > Possibilidades: “esperança desenganada”; “alegria guardada”; (“manhã esperada”) “em vão...” 7 Enquanto a última estrofe desse poema revela um tom de desesperança, de imutabilidade do destino do interlocutor, a do anterior tem um tom completamente oposto: o eu lírico sugere, de forma esperançosa,que os atuais descendentes da pátria mãe representam a possibilidade de que o futuro seja diferente do passado de dor e sofrimento da nação angolana e de seu povo. Conexões 741 Os filmes indicados na seção não têm uma relação direta com a poesia africana de língua portuguesa. Foram selecio- nados porque permitem que os alunos formem uma imagem mais atual sobre a vida nos países africanos lusófonos, ou porque abordam, de modo lírico, a dura realidade da vida na maior parte dos países africanos. No filme Infância roubada, há cenas de violência e sexo que podem causar algum desconforto ou constrangimento. O DVD Língua: vidas em português está esgotado, mas é possível encontrá-lo em locadoras. A narrativa africana de língua portuguesa 744 Texto para análise 759 1 Há vários elementos que revelam a origem africana do protagonista. Em primeiro lugar, o próprio título do texto refere-se ao local de nascimento de Julio: a Fenda da Tundavala, localizada na província de Huíla, no sul da Angola, indicando que o protagonista é angolano. Além disso, o uso de termos africanos (cubata, chitaca, chifuta) contribui para que o leitor perceba que os fatos narrados ocorrem na África. Também a diferença racial entre o pro- tagonista e seus amigos de infância e o fato de os últimos não frequentarem a escola é, considerando o contexto apresentado no trecho transcrito, um forte indício de que a ação do romance se passa no continente africano. > O protagonista parece lembrar de sua infância com saudade, alegria e carinho. Dos fatos que rememo- ra, fica a sensação de leveza das brincadeiras de infância, da amizade sincera que ele e seus amigos tinham uns pelos outros, da inocência da meninice. Mesmo o trabalho de cuidar do gado e a responsabi- lidade imposta pelos estudos não são descritos por Julio como momentos desagradáveis. 2 A diferença mais marcante é, sem dúvida alguma, o fato de Julio ser branco e seus amigos serem negros. Dela decorre o fato de eles não estudarem, diferentemente do protagonista. Isso fica sugerido, também, quando ele destaca não ter memória de garotos negros terem frequentado a escola com ele. Além disso, Julio revela que os pais de seus amigos trabalhavam como criados nas casas dos brancos ou “em chibatas maiores, tam- bém dos brancos”. R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Sup_P3_(075-112)_c.indd 111 11/11/10 11:21 AM