Buscar

Imunologia 6

Prévia do material em texto

IMUNOLOGIA 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Stephanie Von Stein Cubas 
 
 
 
 
 
CONVERSA INICIAL 
Imunoprofilaxia, imunoterapia e alterações imunológicas 
O sistema imunológico é constituído por uma intrincada rede de órgãos, 
células, tecidos e moléculas, com o objetivo de manter a homeostase do 
organismo, combatendo as agressões em geral. A imunidade inata atua em 
conjunto com a imunidade adaptativa. Ela é caracterizada pela rápida resposta 
à agressão, independentemente de estímulo prévio, sendo a primeira linha de 
defesa do organismo. Os mecanismos incluem barreiras físicas, químicas e 
biológicas, componentes celulares e moléculas solúveis. A primeira defesa do 
organismo a um dano tecidual envolve diversas etapas intimamente integradas 
e constituídas pelos diferentes componentes do sistema. Alterações no 
funcionamento do sistema imune acarretam diferentes impactos no organismo. 
Existem também diversas formas de proporcionar mecanismos de defesa, 
melhor tratamento e até cura de várias doenças. 
TEMA 1 – IMUNOPROFILAXIA 
A imunoprofilaxia é um conjunto de processos de profilaxia, ou seja, 
prevenção, que utilizam ativações do sistema imunológico. Esse processo é 
conhecido por imunização. 
A imunização pode ser classificada como passiva ou ativa. O modo 
passivo compreende transferir células e compostos da resposta imune, como 
anticorpos, realizando a passagem de um indivíduo produtor para um receptor. 
Exemplos da imunização passiva: anticorpos passados da mãe para o bebê e 
mecanismo com soros. Diferentemente do modo passivo, o modo ativo necessita 
ser provocado para o desenvolvimento da resposta imune. O principal exemplo 
de imunização ativa são as vacinas. 
Os dois mecanismos, tanto o passivo como o ativo, se baseiam no 
princípio de vacinação de Edward Jenner, segundo o qual o sistema imunológico 
necessita ser exposto a um antígeno para que a resposta imune se desenvolva. 
Na imunoprofilaxia passiva, os soros são utilizados quando existe a 
necessidade de resposta imunológica rápida contra um antígeno. A utilização de 
soros antiofídicos é muito comum. Esse tipo de soro contém anticorpos 
 
 
protetores contra veneno de cobras. Normalmente, esses soros são produzidos 
por outros animais de grande porte, principalmente cavalos, pelo fato de esses 
animais produzirem grande quantidade de anticorpos, o que possibilita formar 
um estoque do soro. Além dos antiofídicos, existem outros tipos de soros que 
combatem outros tipos de venenos e peçonhas, como escorpião e aranhas, 
soros antiproteínas bacterianas e soros antitimocitário, utilizados em pacientes 
que passam por transplante de órgãos sólidos, com o intuito de evitar a rejeição. 
Em suma, os soros são utilizados quando precisamos de uma resposta 
rápida e eficaz a uma exposição recente a um antígeno, pelo fato de que a 
resposta imune, sem a utilização do soro, seria lenta, considerando a urgência 
da situação. É importante ressaltar que o soro provoca a reposta imunológica; 
entretanto, não gera células de memória para o antígeno combatido. 
Na imunoprofilaxia ativa, como nas vacinas, na maioria dos casos os 
antígenos são utilizados de forma fragmentada, em que apenas uma parte do 
material genético do microrganismo é utilizada para desencadear a resposta 
imune. Após o contato com o antígeno, o organismo inicia a produção de várias 
células, que reconhecem diferentes partes do antígeno, possibilitando melhor 
resposta imune a um agressor e, como consequência, maior defesa. É onde tem 
início a produção dos anticorpos que se ligam aos antígenos para neutralizá-los. 
As vacinas atuam como instruturas do sistema imune, ensinando, de 
maneira autônoma, a formar uma resposta contra o antígeno. No momento em 
que o sistema imune é capaz de reconhecer este antígeno, automaticamente 
têm início processos que os produzem e os enviam às células responsáveis, 
para combater e neutralizar os antígenos. Devido à complexidade da 
imunoprofilaxia ativa, além da resposta imune, ocorre também o 
desenvolvimento de células de memória, capacitando o reconhecimento e o 
combate mais rapidamente. 
O uso das vacinas é um processo seguro, que atua de forma preventiva 
com uma infinidade de doenças. Já os soros compõem um método passivo e de 
tratamento, e, portanto, não atuam como processo preventivo. 
 
 
 
TEMA 2 – IMUNOTERAPIA 
A imunoterapia é baseada na administração de doses mínimas e 
progressivas de extrato alergênico específico, promovendo tolerância periférica 
por baixas doses repetitivas de antígeno, por meio de vários mecanismos de 
ação, como ilustra o Quadro 1. Na prática, a imunoterapia trata do uso de 
“componentes” do sistema imune (como células, anticorpos monoclonais, 
citocinas recombinantes), com o objetivo de potencializar o sistema imunológico, 
para que seja capaz de combater infecções e outras doenças, como o câncer. 
Quadro 1 – Mecanismos da imunoterapia 
 
 Aumenta a população de T reguladores 
 Diminui em longo prazo IgE sérica específica 
Mecanismos de Ação Mudança do perfil Th2 para Th1 
 Diminui número de receptores para IgE 
 Aumento da IgG4 bloqueadora 
 Impedimento do acúmulo de eosinófilos 
Fonte: elaborado com base em Forte, 2015. 
Nas últimas décadas, a imunoterapia tornou-se uma parte importante do 
tratamento de alguns tipos de câncer. Novos tipos de tratamentos 
imunoterápicos têm sido pesquisados, com grande potencial para o tratamento 
de câncer. A imunoterapia inclui tratamentos que agem de maneiras distintas. 
Alguns estimulam o sistema imunológico do corpo de uma forma muito geral, 
enquanto outros ajudam o sistema imunológico a atacar as células cancerígenas 
de modo específico. 
Existem basicamente dois tipos de imunoterapia: a ativadora (tratamento 
de doenças pela indução da resposta imune) e a supressora (tratamento de 
doenças pela supressão da resposta imune). De acordo com as substâncias 
utilizadas e os seus respectivos mecanismos de ação, pode ser classificada em 
imunoterapia ativa ou passiva. A Imunoterapia ativa trabalha com substâncias 
estimulantes da função imunológica (imunoterapia inespecífica). As vacinas 
 
 
“celulares” (imunoterapia específica) são administradas com a finalidade de 
estimular/intensificar a resposta imune (Quadro 2). 
Quadro 2 – Imunoterapia ativa inespecífica e específica e suas representações 
práticas 
 
Imunoterapia 
inespecífica 
BCG e derivados 
 Levamisole. 
Corynebacterium parvum 
Citocinas recombinantes (como IL-2) 
Imunoterapia 
específica 
Vacinas “celulares” com antígenos tumorais ou virais 
Vacinas celulares gênicas 
Vacinação convencional para doenças infecciosas 
A imunoterapia passiva, também chamada de adotiva, trata da 
administração de imunobiológicos/imunoterapêuticos (anticorpos monoclonais, 
receptores solúveis, antagonistas de receptores, Imunoglobulinas totais 
purificadas) ou células exógenas (Quadro 3), com o objetivo de 
estimular/intensificar a capacidade imunológica de combate imediato à doença. 
Quadro 3 – Imunoterapia passiva humoral e celular e representações práticas 
 
 
Imunoterapia humoral 
Imunobiológicos/imunoterapêuticos 
(substâncias solúveis tais como proteínas 
recombinantes, anticorpos monoclonais, 
Igs totais purificadas, soros) 
 
Imunoterapia celular 
As células são transferidas para o paciente 
(transferência adotiva); células modificadas 
geneticamente 
A imunoterapia é indicada nos seguintes casos: 
• A doença provoca sintoma graves que interferem na qualidade de vida 
cotidiana do paciente; 
• A doença põe em risco a vida do paciente; 
• Outros tratamentos disponíveis não são eficazes contra a doença. 
• Casos em que outros tratamentos disponíveis provocam efeitos colaterais 
intensos ou graves, que podem colocar em risco a vida do paciente. 
 
 
A imunoterapia apresenta menos efeitos colaterais ao paciente em 
comparação a outras terapias,sendo um processo mais controlável e menos 
intenso. Não há queda de cabelo ou fraqueza provocada pela droga. Porém, 
podem ocorrer reações imunes relacionadas a pele, pulmão, tireoide e fígado. 
TEMA 3 – REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE 
A hipersensibilidade se refere a reações excessivas e indesejáveis 
(danosas, desconfortáveis e às vezes fatais) produzidas pelo sistema imune 
normal. Reações de hipersensibilidade requerem um estado pré-sensibilizado 
(imune) do hospedeiro. Em outras palavras, quando um indivíduo sofre uma 
estimulação imunológica anterior, o contato adicional com o antígeno leva a um 
reforço secundário da resposta imunitária. Entretanto, a reação pode ser 
excessiva e acarretar danos profundos nos tecidos (hipersensibilidades), 
podendo ocorrer se o antígeno estiver presente em quantidades relativamente 
altas ou se o estado imunológico humoral ou celular apresentar um nível 
intensificado. As reações de hipersensibilidade podem ser divididas em quatro 
tipos: tipo I, tipo II, tipo III e tipo IV, com base nos mecanismos envolvidos e no 
tempo de reação. Frequentemente, uma condição clínica particular (doença) 
pode envolver mais de um tipo de reação. 
3.1 Hipersensibilidade tipo I 
Reações de hipersensibilidade humoral tipo I, ou atopias, são estados 
inflamatórios da pele e/ou mucosas. O mecanismo da reação envolve produção 
preferencial de IgE, em resposta a certos antígenos (alergenos). IgE apresenta 
afinidade pelo seu receptor em mastócitos e basófilos. Uma exposição 
subsequente ao mesmo alergeno faz reação cruzada com o IgE ligado a células, 
liberando várias substâncias farmacologicamente ativas. A ligação cruzada do 
receptor Fc de IgE é importante para a estimulação de mastócitos. A 
degranulação de mastócitos é precedida pelo aumento do influxo de íons de 
cálcio, que é um processo crucia. 
A reação pode envolver pele (urticária e eczema), olhos (conjuntivite), 
nasofaringe (rinorreia, rinite), tecidos broncopulmonares (asma) e trato 
gastrointestinal (gastroenterite). As reações inicialmente localizadas podem se 
 
 
tornar repetitivas ou generalizadas, o que aumenta a chance de morbidade e 
mortalidade desses pacientes. 
3.2 Hipersensibilidade tipo II 
Conhecida como hipersensibilidade citotóxica, pode afetar uma variedade 
de órgãos e tecidos, por levar à lise da célula-alvo, o que gera distúrbios nos 
tecidos e órgãos correspondentes. Os antígenos normalmente são endógenos, 
embora agentes químicos exógenos (haptenos), que podem se ligar a 
membranas celulares, também acarretem esse tipo de hipersensibilidade. 
Anemia hemolítica induzida por drogas, granulocitopenia e trombocitopenia são 
exemplos dessa reação tipo II. O tempo de reação é de minutos a horas, sendo 
primariamente mediada por anticorpos das classes IgM ou IgG e complemento. 
Também há a participação de fagócitos e células K. 
Entre os quadros clínicos mais comuns, podemos incluir: 
ceratoconjuntivite tóxica, enteropatia perdedora de proteínas, reações por 
drogas, incompatibilidade ABO (sangue) e eritroblastose fetal. 
3.3 Hipersensibilidade tipo III 
Conhecida como hipersensibilidade imune complexa. Os complexos 
formados por antígeno-anticorpo-complemento são responsáveis pela lesão 
tecidual. Foram descritas inicialmente como doença do soro, como uma reação 
generalizada. Entretanto pode envolver ainda outros órgãos, como pele (lupus 
eritematoso sistêmico, reação de Arthus), rins (nefrite do lupus), pulmões 
(aspergilose), vasos sanguíneos (poliarterite) e articulações (artrite reumatóide). 
Essa reação pode ser um mecanismo patogênico de doenças causadas por 
diferentes microrganismos. 
Os isotipos de imunoglobulinas mais envolvidos nesse tipo de 
hipersensibilidade são IgG, IgM e, com menor frequência, IgA. Também pode 
acontecer de os três tipos de Igs estarem presentes em imunocomplexos de um 
mesmo paciente. Durante a reação, nota-se uma ativação de granulócitos, 
macrófagos e da cascata do complemento, no local da inflamação. A magnitude 
dessa reação dependente da quantidade de imunocomplexos e da sua 
distribuição corporal. 
 
 
3.4 Hipersensibilidade tipo IV 
As reações de hipersensibilidade tipo IV ou hipersensibilidade celular, ou 
ainda reação tardia, são mediadas por linfócitos timo-dependentes. A reação é 
realizada pelos mecanismos habituais da resposta imunológica específica 
celular. Ocorre estimulação dos linfócitos T com diferenciação final para T 
citotóxicos, auxiliares, T com função supressora, células T memória e T 
produtoras de citocinas. São estimulados pelo contato com o Ag, ligado ao 
macrófago, liberando linfocinas. As reações inflamatórias ocorrem em um 
período de 24 a 72 horas. 
Alguns exemplos de hipersensibilidade tipo IV: teste de Mantoux para a 
sensibilidade à tuberculina; infecções por bactérias intracelulares; infecções 
fúngicas e virais; rejeição crônica a transplantes; e fotodermatites. 
É importante ressaltar que a hipersensibilidade tipo IV está envolvida 
também na patogênese de inúmeras doenças autoimunes e infecciosas 
(tuberculose, lepra, blastomicose, histoplasmose, toxoplasmose, leishmaniose 
etc.) e granulomas, por conta de infecções e Ag estranhos. Uma outra forma de 
hipersensibilidade tardia é a dermatite de contato (hera venenosa), agentes 
químicos e metais pesados, em que as lesões são mais papulares. 
No Quadro 4, é possível observar os tipos de hipersensibilidade, bem 
como os principais distúrbios relacionados. 
Quadro 4 – Tipos de hipersensibilidade e seus distúrbios 
Hipersensibilidade Tipo Distúrbios 
 
 
Hipersensibilidade I 
 
 
Anafilático 
 
Anafilaxia, rinite alérgica, eczema 
atópico, estomatite de contato, reações 
a toxinas de insetos, alergias a drogas e 
alimentos 
 
 
 
Hipersensibilidade II 
 
 
 
Citotóxico 
 
Anemia hemolítica autoimune, reações 
pós-transfusão, miastenia grave, 
púrpura trombocitopenia, eritroblastose 
fetal 
 
 
 
 
Hipersensibilidade III 
 
Imunocomplexos 
Lúpus eritematoso sistêmico, artrite 
reumatoide, doenças séricas 
 
 
Hipersensibilidade IV 
 
 
Mediada por células 
 
Lepra, tuberculose, Sarcoidose, 
granulomatose linfocitoide, processos 
de rejeição de transplantes de órgãos 
TEMA 4 – IMUNOLOGIA DOS TRANSPLANTES 
O transplante consiste em um procedimento cirúrgico caracterizado pela 
transferência de células, tecidos e órgãos vivos, com o objetivo de restabelecer 
a função perdida de algum órgão que não tem mais a capacidade de exercer as 
suas atividades. Mesmo que seja amplamente realizado, em grande parte das 
vezes com sucesso, os processos relacionados aos mecanismos de aceitação 
ou rejeição dos transplantes ainda não estão completamente esclarecidos. As 
bases imunobiológicas desses processos começaram a ser descritas no século 
passado. Os primeiros relatos tratavam de tumores. 
A classificação dos transplantes está representada no quadro a seguir. 
Quadro 5 – Classificação dos transplantes 
Autólogo Doador = recepto 
Heterólogo Doador ≠ receptor 
Singênico Indivíduos da mesma espécie, geneticamente idênticos 
Alogênico Indivíduos da mesma espécie, geneticamente semelhantes 
Xenogênicos Indivíduos de espécie diferentes 
Ortotópico Mesma localização anatômica 
Heterotópico Localização anatômica diferente da normal 
Além da classificação, existem quatro tipos de enxertos, descritos no 
Quadro 6. 
Quadro 6 – Tipos de enxerto 
 
Auto – Enxerto 
Transplante de órgãos ou tecidos procedentes do próprio indivíduo. 
Não se desenvolve reações 
 
 
Autólogo 
 
Isoenxerto 
Transplante de órgãos ou tecidos entre indivíduos geneticamente 
idênticos (gêmeos) Singênico 
Não há desenvolvimento de resposta 
 
Aloenxerto 
Transplantes entre indivíduos da mesma espécie 
Heterólogo 
Enxerto é rejeitado 
Grande maioria dos enxertos 
 
 
Xenoenxerto 
Transplantes entre indivíduos de espécies diferentes 
Enxerto fortementerejeitado 
Suprimento de órgãos é muito menor que a demanda 
Interesse em transplantar órgãos de outros mamíferos em seres 
humanos 
A imunologia dos transplantes tem sido cada vez mais estudada, de modo 
que é cada mais bem compreendida. Constatou-se, nesses estudos, que o 
sistema imune é o protagonista da prática de transplantes. As moléculas do 
sistema HLA (Human Leukocyte Antigen), moléculas polimórficas presentes nas 
superfícies celulares, são reconhecidas pelo sistema imunológico do receptor do 
enxerto, gerando o início do processo da resposta imunológica da rejeição dos 
transplantes. 
O processo de rejeição de um enxerto depende do reconhecimento do 
tecido enxertado como estranho pelo hospedeiro. Os antígenos responsáveis 
pela rejeição em seres humanos provêm do sistema de antígenos do complexo 
histocompatibilidade principal (CPH). Existem dois tipos mecanismos 
responsáveis pela rejeição de um enxerto: o mediado por linfócitos T e o através 
de anticorpos. 
4.1 Mediada por linfócitos T 
Se os linfócitos T do receptor entrarem em contato com as células 
dendríticas do doador no próprio tecido, ou com linfonodos de drenagem, ocorre 
rejeição, ou pelo linfócito T citotóxico (CD8+) ou pelo linfócito T auxiliar (CD4+). 
As reações mediadas pelo linfócito T apresentam duas vias distintas: a 
direta e a indireta. Na via direta, as células T do hospedeiro reconhecem 
moléculas do CPH de classe I e classe II alogênicas, na superfície das células 
dendríticas, dentro do órgão enxertado, ou ainda as células migram para os 
 
 
linfonodos que drenam a região. As células T CD4+ (LTH) são induzidas a 
proliferarem por reconhecimento das especificidades da classe II alogênicas, 
enquanto as células T CD8+ (LTC) reconhecem a especificidade de classe I, 
sendo capazes de se diferenciar em células maduras. Embora a diferenciação 
do LTC não seja ainda totalmente compreendida, sabemos que ocorre 
dependência de liberação de interleucinas pelo LTH. Quando amadurecidos, os 
LTC destroem células do enxerto que ostentam antígenos. A lesão das células-
alvo pode ocorrer por destruição dependente de perfiirina-granzima, que são 
mediadores solúveis contidos em grânulos semelhantes aos lisossomas dos 
LTC. Esses mediadores perfuram a membrana plasmática das células-alvo, que 
estão sob ataque por LTC, e introduzem proteínas, o que resulta na indução de 
apoptose celular. Na via indireta, os linfócitos T do receptor reconhecem 
antígenos do doador do enxerto, após eles serem mostrados pelas células 
apresentadoras de antígenos do próprio receptor. Esse processo envolve 
captação e processamento das moléculas do MHC, desprendidas do órgão 
enxertado, por células apresentadoras de antígenos do hospedeiro. Os 
peptídeos derivados do tecido do doador são apresentados no sulco de ligação 
a antígenos das moléculas do CPH do hospedeiro. 
4.2 Reações mediadas através dos anticorpos 
Nestas reações, pode haver rejeição do enxerto por uma pré-
sensibilização do paciente que produz anticorpos anti-HLA do doador, resultado 
de algum contato prévio. Esse contato pode ocorrer em transfusões de sangue 
(leucócitos e plaquetas expressam muitas moléculas HLA na superfície). A 
produção de anticorpos pode acontecer devido ao contato de linfócitos CD4+ do 
receptor com os antígenos HLA-II presentes no enxerto. Nessa situação, a 
rejeição acontece assim que ocorre o transplante, pois os anticorpos circulantes 
reagem com os antígenos e se depositam sobre o endotélio vascular do órgão 
enxertado, com fixação do complemento. Nos casos de receptores não 
previamente sensibilizados a antígenos do transplante, a exposição a antígenos 
HLA das classes I e II do doador pode gerar anticorpos. Esses anticorpos podem 
causar lesão por diversos mecanismos, incluindo citotoxicidade dependente do 
complemento e depósito de complexos antígeno-anticorpo. Independentemente 
 
 
do processo, os anticorpos agem inicialmente na vasculatura do enxerto, 
provocando trombose. 
TEMA 5 – DOENÇAS DO SISTEMA IMUNOLÓGICO 
As doenças do sistema imunológico são um grupo de doenças diferentes, 
tendo como origem o fato de o sistema imunológico passar a produzir anticorpos 
contra componentes do nosso próprio organismo. Por motivos diversos, e muitas 
vezes não completamente compreendidos, o corpo começa a confundir as suas 
próprias proteínas com agentes invasores, passando a atacá-las. Dessa forma, 
qualquer doença que seja resultado deste tipo de resposta é chamada de doença 
autoimune. 
Nas doenças autoimunes órgão-específicas (localizada) e sistêmicas 
(generalizada), observa-se perda da capacidade de autotolerância, em que o 
sistema imunológico diferencia o que é próprio (self) e o que não é próprio 
(non-self). Essa capacidade é mantida nas células imunocompetentes B e T, 
tanto por mecanismos centrais quanto por periféricos. 
A perda da autotolerância pode ser provocada por causas intrínsecas ou 
extrínsecas. Causas intrínsecas, isso é, relacionadas a características do 
próprio indivíduo, geralmente estão associadas a polimorfismos de moléculas 
de histocompatibilidade; componentes da imunidade inata, como o sistema 
complemento e receptores toll-like; componentes da imunidade adquirida, 
como linfócitos com atividade regulatória e citocinas, além de fatores 
hormonais, que estão sob controle genético. As causas extrínsecas estão 
vinculadas principalmente a fatores ambientais, como infecções bacterianas e 
virais e exposição a agentes físicos e químicos, como raios UV, pesticidas e 
drogas. 
De modo geral, as doenças autoimunes acontecem quando esses 
anticorpos passam a atacar as células do próprio organismo, órgãos e tecidos. 
Entretanto, não se sabe ao certo o motivo que desencadeia uma reação ou 
doença autoimune em uma pessoa e não em outra. Algumas pessoas têm 
genes que as tornam um pouco mais suscetíveis a desenvolver uma doença 
autoimune. Essa suscetibilidade ligeiramente aumentada é herdada, e não 
propriamente a doença. Nas pessoas propensas a apresentar uma doença 
 
 
autoimune, um fator desencadeante, como infecção viral ou lesão tecidual, 
pode dar origem a doenças. Há evidências científicas que afirmam que as 
doenças autoimunes são mais prevalentes em mulheres. As principais causas 
descritas que podem levar a desencadear reações e doenças autoimunes estão 
resumidas na figura a seguir. 
Figura 1 – Causas de reações e doenças autoimunes 
Há mais de 50 doenças autoimunes descritas, muitas das quais estão 
listadas a seguir, e as principais estão listadas no Quadro 7. 
• Doença de Graves-HIPERTIREOIDISMO 
• Púrpura trombocitopênica idiopática-(PTI)) 
• Hepatite autoimune 
• Síndrome de Guillain-Barré 
• Granulomatose de Wegener 
• Vasculites 
• Miastenia gravis 
• Esclerodermia 
• Doença de Behçet 
• Anemia hemolítica autoimune 
• Cirrose biliar primária 
• Espondilite anquilosante 
• Doença de Addison 
• Síndrome antifosfolipídica autoimune 
• Dermatite herpetiforme 
• Febre familiar do Mediterrâneo 
BACTÉRIAS HORMÔNIOS 
 
VÍRUS MEDICAMENTOS 
 
TOXINAS ESTRESSE 
 
 
• Glomerulonefrite por IGA 
• Glomerulonefrite membranosa 
• Síndrome de Goodpasture 
• Síndrome miastênica de Lambert-Eaton 
• Oftalmia simpática 
• Penfigóide bolhoso poliendocrinopatias 
• Púrpura autoimune 
• Doença de Reiter tireoidite autoimune 
• Síndrome antifosfolipídica 
• Espondilite anquilosante 
• Retocolite ulcerativa 
• Síndrome de Churg-Strauss 
• Sarcoidose 
• Síndrome de Vog-Koyanagi-Harada 
• Alopecia Areata 
 
 
Quadro 7 – Principais doenças autoimunes
Doença Autoimune Descrição 
Lúpus Doença inflamatória causada quando o sistema imunológico 
ataca seus próprios tecidos 
Artrite Reumatoide Uma doença inflamatória crônica que afeta muitas 
articulações, principalmente das mãos e dos pés 
 
 
Doença de Crohn 
Trata-se basicamente de uma infecçãoviral ou bacteriana, 
que leva o sistema imunológico a atacar o trato digestivo, 
provocando mau funcionamento e desencadeando uma 
inflamação crônica dos intestinos 
 
Vitiligo 
Leva à produção inapropriada de anticorpos e linfócitos T 
(um tipo de glóbulo branco) contra os melanócitos, as 
células responsáveis pela produção de pigmento de nossa 
pele 
 
Doença Celíaca 
Reação imunológica à ingestão de glúten, uma proteína 
encontrada no trigo, na cevada e no centeio 
Diabetes tipo I Doença crônica em que o pâncreas produz pouca ou 
nenhuma insulina 
 
Psoríase 
Doença crônica e, ainda sem cura, que surge devido a 
acelerada reprodução das células da pele; a proliferação das 
células epidérmicas causa espessamento, inflamação e 
descamação na pele 
Tireoidite de Hashimoto A doença ataca a glândula tireoide, responsável pelo 
metabolismo 
Esclerose Múltipla Doença em que o sistema imunológico destrói a cobertura 
protetora de nervos 
 
Síndrome de Sjögren 
Distúrbio do sistema imunológico caracterizado pela 
diminuição de secreção de fluídos, gerando principalmente 
olhos secos e boca seca 
 
 
NA PRÁTICA 
Os corticoides fazem parte de um grupo de drogas medicamentosa 
amplamente utilizadas para casos de alergias e doenças autoimunes. 
Entretanto, deve ser usado com cuidado, devido aos efeitos do medicamento. 
Essa classe de medicamento influencia a resposta imune, pelo fato de ter 
atividade anti-inflamatória, o que impacta os efeitos das reações. O uso 
indiscriminado e sem acompanhamento pode desencadear uma série de 
sintomas, caracterizando a chamada síndrome de Cushing. Nesse caso, não só 
a alergia se torna resistente, como pode haver desencadeamento de efeitos mais 
graves, como a diabetes. 
Entre as importantes ações dos corticoides nos tecidos do organismo, 
muitas estão relacionadas ao sistema imune, o que os torna uma arma 
terapêutica importante nas doenças autoimunes. A lista de doenças combatidas 
pelo corticoide é extensa — hepatite autoimune, lúpus eritematoso sistêmico e 
dermatite atópica são alguns exemplos. Em todas elas, o corticoide é usado para 
diminuir a resposta imunológica e, consequentemente, a inflamação. Mas é 
importante ressaltar que o uso desse remédio só é uma opção quando os anti-
inflamatórios não hormonais não surtirem efeito, pois seu uso indiscriminado 
pode fazer com que o paciente fique mais suscetível a infecções. 
Corticoides regulam uma grande variedade de funções de células imunes, 
com a expressão de moléculas imunes através de seus mecanismos 
moleculares. Desse modo, modulam a expressão de citocinas e de moléculas de 
adesão; o tráfico, a maturação e a diferenciação de células imunológicas; a 
expressão de substâncias de adesão molecular e a migração das células; assim 
como a produção de mediadores inflamatórios e outras moléculas inflamatórias. 
Atuam, preferencialmente, sobre certos subgrupos de linfócitos T, suprimindo a 
função do linfócito T helper tipo I e estimulando a apoptose de eosinófilos. Ao 
diminuírem o fator de transcrição apolipoproteína-1, promovem o bloqueio da 
produção da proteína, que dissolve a enzima colagenase, que por sua vez é a 
enzima número um para a desestruturação do tecido conectivo na artrite 
reumatoide. Ao inibir o NF-kappaB, são provocadas alterações na produção de 
citocinas importantes no processo inflamatório. As ações antiproliferativas e 
apoptóticas do medicamento atuam como moderadoras dos efeitos terapêuticos 
nas várias doenças autoimunes e linfoproliferativas. 
 
 
17 
Uma grande problemática dessas drogas é que o seu uso pode acarretar 
diversos efeitos colaterais: 
• Estrias 
• Hipertricose 
• Fácies cushingoide 
• Obesidade 
• Convulsões 
• Pseudotumor cerebral 
• Hipertensão arterial 
• Maior propensão a infecções 
• Tromboembolismo 
• Pancreatite 
• Osteocondrite 
• Necrose avascular 
• Osteoporose 
• Alterações do crescimento 
• Insuficiência adrenal 
Esses efeitos estão relacionados com o tipo de preparação, horário, dose, 
duração, via e esquema de administração, idade e sexo, doença de base, 
associação com medicamentos que interferem na sua ação e perfil individual de 
sensibilidade. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, estudamos algumas técnicas que atuam no sistema imune, e 
como esse sistema responde ao transplante e a doenças autoimunes. 
A imunoprofilaxia é um conjunto de processos que visa garantir a 
prevenção, chamada de imunização, que pode ser classificada como passiva ou 
ativa. O modo passivo compreende a transferência de células e compostos da 
resposta imune, enquanto o modo ativo necessita ser provocado para o 
desenvolvimento da resposta imune. Os principais exemplos dessas 
imunizações são os soros antiofídicos e as vacinas, respectivamente. 
A imunoterapia é baseada no uso de “componentes” do sistema imune, 
como células, anticorpos monoclonais e citocinas recombinantes, com o objetivo 
de potencializar o sistema imunológico de maneira que possa combater 
 
 
18 
infecções e outras doenças, como o câncer. A imunoterapia inclui tratamentos 
que agem de maneiras distintas. Alguns estimulam o sistema imunológico do 
corpo de uma forma muito geral, enquanto outros ajudam o sistema imunológico 
a atacar as células alvo de modo específico. 
A hipersensibilidade refere-se às reações excessivas que geralmente 
são danosas e desconfortáveis, podendo às vezes ser fatais. Essa reação é 
produzida pelo sistema imune normal, e requer um estado pré-sensibilizado do 
hospedeiro, que já sofre estimulação imunológica anterior. O contato adicional 
com o antígeno leva a um reforço secundário da resposta, porém a reação pode 
ser excessiva, acarretando grandes danos nos tecidos (hipersensibilidades). As 
reações de hipersensibilidade podem ser divididas em quatro tipos: tipo I, tipo II, 
tipo III e tipo IV, com base nos mecanismos envolvidos e no tempo para a reação. 
O transplante é um procedimento cirúrgico caracterizado pela 
transferência de células, tecidos e órgãos vivos, com o objetivo de restabelecer 
a função perdida de algum órgão que não tem a capacidade de exercer as suas 
atividades. Com a imunologia dos transplantes, constatou-se que o sistema 
imune é o protagonista na prática dos transplantes. As moléculas do sistema 
HLA, moléculas polimórficas presentes nas superfícies celulares, são 
reconhecidas pelo sistema imunológico do receptor do enxerto, dando início ao 
processo de resposta imunológica da rejeição dos transplantes. O processo de 
rejeição de um enxerto depende do reconhecimento do tecido enxertado como 
não sendo próprio pelo hospedeiro. 
A categoria das doenças autoimunes reúne doenças diferentes, em que 
o sistema imunológico passa a produzir anticorpos contra componentes do 
nosso próprio organismo. Por motivos diversos, muitas vezes não 
completamente compreendidos, o corpo começa a confundir as suas próprias 
proteínas com agentes invasores, passando a atacá-las. Nessa categoria de 
doenças, observa-se a perda da capacidade de autotolerância, em que o sistema 
imunológico diferencia o que é próprio (self) e o que não é próprio (non-self). 
Essa capacidade é mantida nas células imunocompetentes B e T, tanto por 
mecanismos centrais quanto por periféricos. 
 
 
 
 
 
19 
REFERÊNCIAS 
FORTE, W. C. N. Imunologia: do básico ao aplicado. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 
2015.

Continue navegando

Outros materiais