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PSICOLOGIA SOCIAL Profª Anna Amélia Freitas HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL T1 - EPISTEMOLOGIA E PESQUISA EM PSICOLOGIA SOCIAL PSICOLOGIA SOCIAL - estuda a relação entre o indivíduo e seu meio social, sendo este agente ativo e sofrendo os impactos que o meio pode causar em seus comportamentos, sendo o sujeito produtor e produto da história. Tem como proposta o estudo da avaliação a da interdependência entre cada indivíduo e como os estímulos externos interferem em seu comportamento (emoções e cognições). Propõe diversos assuntos a serem estudados e analisados, com diferentes tipos de abordagens metodológicas, avaliando o objeto de estudo para orientar a melhor metodologia. CIÊNCIA - até o século XVIII, entendia-se que a ciência detinha o poder de construir uma verdade sobre a “vida real”. Concepção que se impôsàs Ciências Sociais nas primeiras décadas do século XX. Traz a ideia de que existia um método único científico, ao qual todas as ciências deveriam se ajustar e que os processos psicológicos eram passíveis de experimentação, objetivação e generalização. EUA - a base foi a Psicologia norte-americana, com forte experimentação na concepção do objeto e nas estratégias metodológicas dosprocessos sociais. Objetivava entender de forma lógica a influência recíproca entre os objetos estudados e os comportamentos. CRÍTICA AO MODELO DE CIÊNCIA PREDOMINANTE - definindo a pesquisa como algo maior do que o senso comum, um recurso que possui vários métodos de produzir conhecimento e história de suas legitimações. EUROPA - final dos anos 1960, críticas incisivas à Psicologia Social norte-americana (caráter ideológico). PAÍSES DA AMÉRICA LATINA - tinham sua base inserida nos ensinamentos da Psicologia Social norte-americana, a crítica estava associada àdistância dos estudos à realidade social. CRISE EM PSICOLOGIA SOCIAL - após a década de 1970, dada justamente pelo questionamento da hegemonia da forma de conceber a ciência,tanto no objeto quanto nos objetivos e estratégias metodológicas. Revela uma Psicologia Social básica e outra aplicada (utilidade social). INEXISTÊNCIA DE NEUTRALIDADE NO EXPERIMENTALISMO - o sujeito é um agente ativo de conhecimento. Visão de mundo e de homem comoproduto e produtor da história vai de encontro à ideia de gerar um conhecimento neutro. OBJETO DE ESTUDO - cenários históricos, sociais, econômicos e culturais dos sujeitos examinados. PRECURSORES DA PSICOLOGIA SOCIAL T1 - EPISTEMOLOGIA E PESQUISA EM PSICOLOGIA SOCIAL PSICOLOGIA SOCIAL é uma nova área em 1908 (McDougall – bases instintivas, eugenia e Ross – imitação, sugestão, simpatia): Charles Darwin (1859) – teoria da evolução Herbert Spencer (1870) – nações e grupos étnicos classificados pelos graus de desenvolvimento: poder, organização e capacidade de adaptação. Wilhelm Wundt – psicologia dos povos - associa a mente a um fenômeno histórico, um produto da cultura e da linguagem de um povo. Traz a Psicologia científica, com o método experimental (das ciências naturais). Tempos depois, percebe limitações e divide a Psicologia em Experimental (comportamento observável) e Volkerpsychologie (psicologia dos povos - processos mentais superiores), o desenvolvimento individual depende do contexto mental (constituído por linguagem, costumes e crenças). Para ele, Psicologia dos Povos não poderia ser estudada em laboratório uma vez que a cultura, base dos estudos da Psicologia dos Povos, era inatingível do ponto de vista experimental (ambiente artificial) necessitando de outra abordagem como a observação. Émile Durkheim (1898) – sentimentos privados se tornam sociais quando ultrapassam o indivíduo e se associam em representação da sociedade (espécie de determinismo do social sobre o indivíduo). Gabriel Tarde (1890) – leis da imitação, a vida social tem como estrutura básica a imitação. Comportamento individual é decorrente das influências recíprocas entre as consciências em um contexto de interações espontâneas. Gustav Le Bon (1895) – o indivíduo que se junta à uma massa, perde suas características pessoais e autonomia, e passa a ser regido por características do grupo (associação psíquica independente de seus membros que perdem a identidade e passam a compartilhar um caráter grupal). Morton Prince (1921) - lança a jornal que publica experimentos da Psicologia Social até 1965. Floyd Allport (1924) – behaviorista – grupo como aglomerado de indivíduos. Thurstone (1927) – a Psicologia Social passa a ser considerada ciência (mensuração das atitudes e método experimental. AUTORES DE DESTAQUE NACIONAL (crise de 1970) – Martin Baró, Aroldo Rodrigues, Silvia Lane. PRECURSORES DA PSICOLOGIA SOCIAL T1 - EPISTEMOLOGIA E PESQUISA EM PSICOLOGIA SOCIAL 1930 e 1940 – positivismo lógico, todo conhecimento precisa ser verificado e deveria se submeter à aplicação do método hipotético-dedutivo da física. Teoria da frustração-agressão – agressividade decorre de frustração e frustração leva a agressividade Miller e Dollard - Teoria da aprendizagem por imitação p aprendizagem ocorre quando a imitação do comportamento é reforçada 1939 a 1945 - 2ª guerra (Século XIX - Alemanha) – mudança de concepção do behaviorismo (comportamento) para gestalt (percepção): Muzar Sheriff – fatores que determinam a formação e a permanência das normas sociais. Kurt Lewin – pesquisas sobre clima grupal, acreditava que o grupo tem dinâmica própria. Teoria do campo (fatores ambientais e cognitivos determinam o comportamento – relações de interdependência), experimento de campo, pesquisa-ação. Fritz Heider – teorias de atribuição e teoria de consistência cognitiva. Solomon Arch – percepção e impressão de pessoas, construção de um todo sobre elas. 1950, 1960, 1970 – processos cognitivos e percepção social ganham força nas pesquisas de Leon Festinger com a TEORIA DA DISSONÂNCIA COGNITIVA – estado moticional em que as pessoas percebem a existência de uma contradição entre dois elementos da cognição e tendem a procurar uma coerência em suas crençase percepções. Ex.: duas crenças sobre o mesmo objeto ou situação não são coincidentes (contraditórias). A dissonância tem um efeito psicológico negativo e a pessoa tenderá a eliminá-la para restabelecer a congruência. 1970 – queda do positivismo lógico acelerou a crise do Behaviorismo, ganham espaço as TEORIAS DA ATRIBUIÇÃO (Cognição Social. Curiosidade - 1971 – Zimbardo, pesquisador nos EUA realizou um experimento polêmico no qual simulou numlaboratório (ambiente artificial) as condições de uma prisão (com estudantes atuando como cárceres e prisioneiros). Tal experimento inspirou o filme nacional ”O Experimento”. Necessidades sociais se tornaram críticas a um modelo tradicional, conhecido como PSICOLOGIA SOCIAL PSICOLÓGICA (processos intraindividuais), a crise na Psicologia Social, questionando aspectos da tradição, como bases conceituais e metodológica. Abordagens surgiram para compreender o processo de construção da subjetividade, utilizando a interdisciplinaridade com outras ciências que tratam do ser humano em diferentes contextos sociais. Assim, a Psicologia Social sofre influência da Sociologia, da Antropologia, da Filosofia e do contexto históricos. O modelo experimental das ciências naturais era a metodologia de confiabilidade cientifica. A Psicologia e sua ramificação social tentaram se enquadrar nesse modelo positivista, porém correntes teóricas da Psicologia Social, o criticavam por não levar em consideração a ação do homem em seu grupo social, nem o contexto sócio-histórico. Com isso, na década de 1970, enfrentamos uma crise. A nova vertente de pensamento, foi dado o nome de PSICOLOGIA SOCIAL SOCIOLÓGICA (processos interindividuais), que tem como o cerne o estudo das experiências sociais que cada um de nós adquire, a partir de nossas participações nos mais diferentes grupos sociais com que nos relacionamos. PSICOLOGIA SOCIAL SOCIOLÓGICA E PSICOLÓGICA T2 – ABORDAGENSEM PSICOLOGIA SOCIAL A PSICOLOGIA SOCIAL PSICOLÓGICA, assume princípios metodológicos da Psicologia (neobehavioristas e gestaltistas) América Latina - desenvolvimento da Psicologia Social, maior compromisso com a realidade social de seus países, propostas mais voltadas ao trabalho com comunidades e com a mudança social. Aportes da Psicologia Social da liberação e da Psicologia Social comunitária (maior contribuidor Ignácio Martín-Baró). A obra de Baró foi orientada para os problemas sociais existentes na américa latina (temas: aglomeração, machismo, fatalismo, saúde mental, violência e guerra), voltada para a construção crítica da realidade social, abandonando o método hipotético- dedutivo da epistemologia para um realismo crítico. Propõe substituir a concepção universalista por um modelo contextual, histórico e sociológico, compromissado com as classes marginalizadas, a partir de uma Psicologia Social crítica e libertadora, o conhecimento da realidade não pode ser nem universal nem atemporal. Psicologia Social comunitária acredita que os problemas têm sua origem na estrutura social em que se situam, e o seu enfoque está em intervir psicossocialmente para promover uma mudança na situação desses grupos. Na PSICOLOGIA SOCIAL SOCIOLÓGICA, estuda como os fenômenos que surgem nos diferentes grupos, interagem com as pessoas com estes grupos. Ross define a Psicologia Social como parte da Sociologia, deveria ignorar as uniformidades no comportamento determinadas por fatores biológicos e se concentrar somente nas uniformidades, com explicações em causas sociais. Autores formados pela Escola de Chicago, núcleo de ciências sociais dos EUA (ausência de orientação predominante, diversidade teórica e metodológica). Thomas contribuiu com metodologia com diversas fontes de dados e caráter empírico do conceito de atitude. Mead, crítico do individualismo (enfoque característico da Psicologia na época), propôs que a experiência individual fosse tratada do ponto de vista da sociedade. Indivíduo como agente ativo diante das influências do meio. INTERACIONISMO SIMBÓLICO - visa à compreensão de como os indivíduos interpretam os objetos e as pessoas com as quais interagem e como tal processo conduz o comportamento individual em situações específicas. 1960 - estudos dos processos microssociológicos, originaram as correntes psicossociológicas (teoria do intercâmbio de George Homans, Sociologia fenomenológica de Schutz, enfoque dramaturgo de Goffman e a etnometodologia de Garfinkel). PSICOLOGIA SOCIAL NO BRASIL T2 – ABORDAGENS EM PSICOLOGIA SOCIAL Até os anos 1970, o Brasil, assim como a maioria do mundo, sofria influências da Psicologia Social Psicológica norte-americana, que tinha o brasileiro Aroldo Rodrigues como maior representante. Rodrigues se opunha às novas vertentes que estavam surgindo na Psicologia Social brasileira dos anos 1970/80, por terem intenções políticas e não teóricas ou metodológicas. Em contrapartida a esse grupo (visão tradicionalista da Psicologia Social Psicológica - vertente única), em 1970 outro grupo de psicólogos sociais voltava-se ativamente ao movimento de ruptura com o modelo tradicional. Silvia Lane (1933 – 2006) estava à frente deste movimento contra o modelo norte-americano, acreditava que a Psicologia Social deveria transformar a realidade social, e envolver aspectos críticos e políticos da disciplina. Um marco importante foi a fundação da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), preocupa-se com a redefinição do campo da Psicologia Social, acreditava que o ser humano é um produto histórico-social, agente sobre a sociedade em que vive e incentivava o viés voltado à realidade social brasileira. Na década de 1980 surgem os cursos de pós-graduação em Psicologia Social, com diversas linhas de pesquisa, uma multiplicidade de paradigmas e tendências, e um aumento na produção científica brasileira em Psicologia Social. A história não é estática, nem imutável, o que leva a sociedade a transformações fundamentalmente qualitativas. A Psicologia Social procura inserir o ser humano nesse processo, como um produto histórico-social e na direção dos movimentos críticos e políticos (a partir de 1970, em franco regime militar), surgem três abordagens: PSICOLOGIA SOCIO-HISTÓRICA - Propõe ênfase no contexto sócio- histórico e cultural, preconizada por Vygotsky, concebendo o ser humano como produto histórico e social de seu tempo, e a sociedade como resultado da produção histórica por meio do seutrabalho, transmitindo uma visão crítica e metodológica. PSICOLOGIA SOCIAL CRÍTICA - Preocupa-se, problematiza e renova os problemas sociais, desenvolvendo um saber autônomo, crítico (sobre si e sobre a realidade social) através da expressão e debate, contrapondo ideias utilitaristas e dicotômicas. A atuação do psicólogo deve ser capaz de produzir novos olhares conceituais e compreender os fenômenos sociais, afastando pressupostos teóricos adaptacionistas e formas de intervenção baseadas em posições de poder. PSICOLOGIA SOCIOCOGNITIVA - Estuda o conteúdo das representações mentais e os mecanismos implícitos ao processamento de informações sociais, dando ênfase em como asimpressões, as crenças e as cognições são formadas em relação aos estímulos sociais e como estas afetam o comportamento. PSICOLOGIA COGNITIVA T2 – ABORDAGENS EM PSICOLOGIA SOCIAL Estuda a forma pela qual as pessoas percebem, aprendem, lembram e pensam sobre informações. Seu objeto de estudo implica em entender a relação entre o que as pessoas pensam, o que sentem e como se comportam. ORIGEM: 1ª metade do Século XX, época em que prevaleciam duas correntes de pensamentos na Psicologia: Psicanálise, voltada para o estudo do inconsciente e o Behaviorismo, destaca-se o estudo de Skinner (1904-1990), voltado a descrever (e não em explicar) o comportamento. Não se preocupava com o que ocorria dentro do organismo (organismo vazio). Bandura (1925-2021) e Rotter, em princípio behavioristas, diferentes de Skinner, questionaram a negação dos processos mentais ou cognitivos. Preconizavam uma aprendizagem social ou uma abordagem sociobehaviorista, apoiando-se em um pensamento mais amplo em direção a um movimento cognitivo. A PSICOLOGIA COGNITIVA se diferencia do BEHAVIORISMO: a. Estuda o comportamento via processos mentais; b. Tolman (1886-1959), pioneiro da psicologia cognitiva, afirma que todo o comportamento era dirigido a algum objetivo (propósito). c. Miller (1920-2012) e Neisser (1928-2012) acrescentaram um centro de pesquisa, marco da psicologia cognitiva. Fatores cognitivos são observados, analisados por psicólogos pesquisadores: teoria da atribuição, teoria da dissonância cognitiva, motivação, emoção, personalidade, aprendizagem, memória, percepção. No processamento da informação na tomada de decisões, na solução de problemas (psicologia clínica, comunitária, educacional e organizacional), há ênfase nos fatores cognitivos. O processo de socialização do ser humano é composto por uma constante coleta e troca de informações realizadas por meio de diferentes estímulos sociais (pessoas, classe, família, escola, instituições), os quais, quando processados, levam a julgamentos. Três tópicos podem ser considerados centrais para a psicologia social: cognição social, atitudes e processos grupais. Cognição social (estudo de como as pessoas fazem inferências sobre informações obtidas no meio social, como percebem, interpretam, representam e se lembram de informações sobre elas mesmas e os demais e como tais inferências são formadas e afetam o comportamento). Fundamentada no processamento da informação e em processos cognitivos (atenção, percepção, memória e o julgamento), influenciados por tendenciosidades, esquemas sociais (estímulos transformados em informações, representadas em forma de estrutura mental, organizadas e armazenadas em classes na memória. Ex.: profecias autorrealizadoras), heurísticas(atalhos para o conhecimento da realidade social) e automatismos (comportamento exibido inconscientemente). ESQUEMAS SOCIAIS, CRENÇA E ATITUDE T3 - COGNIÇÃO SOCIAL Os esquemas sociais são postos em prática ou ativados por meio de processos conhecidos como primazia e priming: PRIMAZIA (informações recentes que são capazes de ativar um esquema, refere-se ao fenômeno em que prestamos mais atenção às informações que nos sãos apresentadas em primeiro lugar. Ex.: esse fenômeno pode ser associado ao impacto que sofremos com as primeiras impressões). PRIMING - maneira como um primeiro estímulo afeta as respostas que um indivíduo apresenta a estímulos subsequentes, de modo inconsciente e automático, podendo alterar nosso julgamento e nossas avaliações). Outros elementos são as HEURÍSTICAS (atalhos mentais) e a CONSTRUÇÃO DE CATEGORIAS. A heurística pode ser de representatividade (considera a semelhança entre os objetos), ponto de referência (usa como parâmetro de referência, si próprio), de falso consenso (acredita que um posicionamento seu é compartilhado com os demais). A crença é uma afirmação qualquer feita por um indivíduo, tendo como origem a própria experiência e sendo esta afirmação aceita por pelo menos um indivíduo. O indivíduo resiste mais fortemente a mudar crenças relevantes (centrais) do que as superficiais (construídas a partir da interação social), como, as opiniões. Crenças são produtos da experiência direta do homem com o meio. Podem ser primitivas, derivadas, (consenso 100% e 0), de autoridade e inconsequentes. As crenças e atitudes têm como alicerce 4 processos: cognitivos (pensar), emocionais (sentir), comportamentais e sociais. As comportamentais e as sociais implicam interagir com as outras pessoas. A atitude é uma ideia carregada de emoção que predispõe um conjunto de ações para um grupo específico de situações sociais e pode ser definida como avaliações gerais e duradouras que oscilam de um extremo positivo a um negativo dos objetos presentes no mundo social, o que compreende pessoas, grupos e comportamentos (composta de cognições e afetos). A década de 1930 foi marcada pelo desenvolvimento das escalas de medida de atitude, os psicólogos sociais se preocuparam em determinantes das atitudes. Em 1940, os resultados dessas investigações foram publicados. Conhecer as atitudes de uma pessoa permite fazer suposições a respeito de seu comportamento. Para cada um de nós, as atitudes exercem funções específicas, ajudam a formarmos uma ideia mais estável da realidade. Componentes Atitudinais - A atitude é composta por um componente cognitivo (crenças e outros componentes, é necessário que se tenha alguma representação cognitiva do objeto antes que se tenha uma atitude em relação ele), afetivo (sentimento pró ou contra determinado objeto social. Somente a atitude tem esse componente, crenças e opiniões não o têm), comportamental (o papel das atitudes sociais na determinação do comportamento é criar um estado de predisposição à ação e derivar em um comportamento). VALORES E A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS T3 - COGNIÇÃO SOCIAL VALORES são categorias gerais portadoras de componentes cognitivos, afetivos e predisponentes de comportamento, diferenciando-se das atitudes pela generalidade. Um valor pode conter uma infinidade de atitudes. O valor religião envolve atitudes em relação a Deus, à igreja, aos dogmas, aos modos dos encarregados dos deveres da igreja, etc. A Teoria de Valores e Tipos Motivacionais originou-se em uma vasta pesquisa transcultural. Os valores são objetivos ou metas trans situacionais, variam em relevância, convicções morais e orientam a vida das pessoas. Os tipos motivacionais de valores são listados e organizados em uma hierarquia, de acordo com a relevância de sua função e de seus efeitos práticos, psicológicos, sociais para os sujeitos: benevolência, universalismo, autodeterminação, segurança, conformidade, realização, hedonismo, estimulação, tradição e poder. Representações Sociais (processo que intercambiava a percepção e o conceito) – Serge Moscovici (1925-2014) pensou tal teoria sem ter tido contato com a Psicologia Social Cognitiva. Dialoga com a Antropologia, Sociologia e História. Tal teoria tem como função dar sentido ao desconhecido, convertendo o não familiar em algo familiar. Os processos de ancoragem (inserção do fenômeno não familiar em um conjunto de categorias e imagens familiares, de forma que possa ser interpretado, colocando-as em um contexto comum) e objetivação (transformar o que é abstrato em algo concreto e, com isso, possa ser tocado) são usados como apoio. No tocante às Representações Sociais, temos dois tipos de universos de pensamento: universo reificado (lado científico do pensamento, no qual são definidos o certo e o errado, verdadeiro e falso, o nível de participação é determinado pelo nível de qualificação da fonte. Existe uma objetividade, uma lógica e uma metodologia) e universo consensual (atividades intelectuais da interação social cotidiana, encontra-se em constante movimento e é composto pelas representações sociais). ABRIC e colaboradores propuseram a Teoria do Núcleo Central (a representação social se dispõe em torno de um núcleo central e de elementos periféricos. O núcleo central é o elemento principal da representação, com o objetivo de organizar e dar sentido a ela. Os componentes periféricos (são mais flexíveis e móveis, aceitam as contradições e a diversidade grupal, possibilita se ajustar à realidade concreta e à diferença de conteúdo. Os componentes periféricos têm as funções de possibilitar o ajuste de grupos e indivíduos a certas situações e proteger a estabilidade do núcleo central). Os estereótipos se destacam pela sua importância na compreensão das relações de dominação, exploração e segregação. São bons preditores do comportamento social, permitindo inferir a probabilidade de ocorrência de comportamentos em grupos sociais. Base do preconceito, de crenças feitas sobre grupos ou pessoas, consistem em esquemas ou representações mentais sobre grupos sociais. Interferem ativamente no processo de formação de impressões e percepção, responsáveis pela integração de informações, avaliação e pelas formas com que o percebedor interpreta os indivíduos que o rodeiam. Observamos diferenças entre estereótipo (agrupamento e categorização das pessoas que consideramos semelhantes em algum aspecto), preconceito (revela-se por meio de comportamentos hostis contra indivíduos pelo fato de os mesmos fazerem parte de um grupo socialmente desvalorizado) e discriminação (com base no preconceito, discriminamos). É importante para os pesquisadores da cognição social a observação e o estudo da interação social. Para que haja interação, é necessário que as pessoas se percebam mutuamente. Somos guiados por processos psicossociais, princípios gerais, responsáveis por administrar nossa percepção dos indivíduos que nos cercam: com base em um número de informações, as pessoas geram impressões das outras; as impressões são embasadas em aspectos considerados relevantes; tendemos a catalogar estímulos e incluir as pessoas em grupos com características conhecidas, nossas necessidades e objetivos afetam a forma pela qual percebemos os outros. As principais fontes de informação que utilizamos ao formar uma impressão são: aparência física (traços físicos, forma de vestir, tendemos a atribuir particularidades positivas a pessoas atraentes, e negativas a pessoas menos atraentes); comportamento não verbal (gestos, posturas, olhares, posição corporal no espaço, tom de voz, ritmo e inflexões. Quanto maior o nosso interesse em alguém, mais competentes somos na interpretação); categorização (atribuição de características do grupo ao qual a pessoa pertence - sexo, raça, faixa etária, tipo de profissão). Os estereótipos mantidos por nós acerca dos vários grupos sociais proporcionam uma visão das pessoas a eles pertencentes como confirmadoresdeles. Ao processarmos as informações recebidas dos indivíduos, somos influenciados por esquemas sociais. Bruner e Tagiuri (1954), afirmam que formulamos, em relação a outras pessoas, uma Teoria Implícita de Personalidade (associamos traços e esperamos correspondência entre eles e essas pessoas. Características positivas são normalmente atribuídas às pessoas de quem gostamos e negativas são atribuídas a quem não gostamos. Organizamos um esquema social, ao sermos apresentados a alguém, de forma imediata, ativamos os esquemas associados à profissão, ao gênero, ao grupo étnico, na impressão que formamos dessa pessoa). ESTEREÓTIPO, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO T3 - COGNIÇÃO SOCIAL INDIVÍDUO, FENÔMENO SOCIAL T4 – IDENTIDADE E RELAÇÕES SOCIAIS Um indivíduo pode incluir aspectos: estruturais biológicos, genéticos e fenotípicos; comportamentais públicos (atividades fisiológicas, expressões faciais e corporais, ações motoras e verbais); privados (sensações, necessidades, emoções, pensamentos. Esses traços nos ajudam a enxergar e gostar (ou não) dos nossos aspectos físicos e comportamentais. Cada indivíduo é único, singular, possui um conjunto de características, reunindo-as e concentrando-as de um jeito único. Conceito de subjetividade (indivíduo singular, único, peculiar na reunião de atributos físicos e comportamentais). Fenômenos sociais abrangem percepções, crenças, valores, ideologias expressas nos discursos e práticas, mantidos por gerações entre os membros de um grupo. Isso diferencia o indivíduo do coletivo e o transforma (tempo e gerações). A identidade é um conjunto de conceitos identificatórios das características e atributos de um indivíduo, tanto idiossincráticos (incomuns), peculiares, singulares e exclusivos, enquanto outros compartilhados com os grupos dos quais o indivíduo participa e esteve em interação histórica. À medida que a comunidade verbal modela termos classificatórios dos comportamentos humanos (como carinho, agressão...), formamos nosso autoconceito, ao sermos rotulados por eles ou nos autorrotulamos, observando nossas próprias atitudes (sou carinhoso, sou agressivo). A formação da identidade é mediada socialmente, precisamos de uma comunidade que ensine e fale sobre nós mesmos, apreciativa ou depreciativamente, justa ou injustamente (socialização – processo dinâmico e contínuo com início na infância e sem fim). Identidade é um conceito em movimento, não é fixa, pode passar por mudanças ao longo dos contextos sócio-históricos. À medida que novas experiências e circunstâncias transformam nossos comportamentos, nosso autoconceito é modificado. O ser humano é social e só existe em plenitude devido à sua habilidade e necessidade de se estabelecer em um grupo social e construir, junto ao grupo, um conjunto de regras, símbolos e práticas que o caracterizam. Esse conjunto de normas é necessário para que se identifiquem, criem e estabeleçam a Identidade Social. Um dos grandes fatores que determinam esse processo é a interação social, ação social, mutuamente orientada, de dois ou mais indivíduos em contato. Os membros de um grupo compartilham tradições culturais, precisam se adaptar às regras, para sobreviver ou ser aceito. Muitos aspectos influenciam: costumes, ideologias, tradições, símbolos e significados. Esses e outros aspectos influenciam nossa personalidade, (trans)formando nossa identidade. A cada interação social, IDEOLOGIA E SEXO T4 – IDENTIDADE E RELAÇÕES SOCIAIS assumimos um papel diferenciado, como se fosse uma configuração do nosso perfil, caráter e personalidade. Esses papéis são assumidos por aquilo que sabemos sobre as pessoas com as quais iremos interagir. Papéis Sociais são respostas tipificadas a expectativas tipificadas, nos preparamos para esperar do outro aquilo que seu papel deveria cumprir. Como reagimos com base na expectativa sobre quem é aquela pessoa, o que ela representa e o que deveria fazer, ficamos próximos das idealizações e preconceitos. Ideologia é um conjunto de ideias, elemento essencial para a compreensão das relações sociais, modo como cada grupo ou classe social atribui significado e sentido à sua experiência no mundo e na relação com os demais. É o conjunto de crenças e valores de um coletivo que lhes diz o que é certo ou errado, bem e mal, justo ou injusto, necessário e objetivo, é a nossa visão de mundo, está vinculada às práticas culturais. Hegemonia é quando uma ideologia de um agrupamento mais poderoso, por seus recursos, instrução, influência ou força coercitiva em sociedade, se torna majoritária e se sobrepõe às de outros agrupamentos minoritários, menos poderosos. Alienação é quando um grupo menor ou menos poderoso tem suas crenças, valores e visão de mundo destituídos e substituídos pelo outro grupo. O alcance de uma hegemonia pressupõe uma alternância alienante por meio da coerção ou convencimento. Coerção é quando autoridades oprimem, ameaçam, obrigam as pessoas a pensar e agir de determinado modo. Convencimento refere-se a situações quando sistemas de comunicação e incentivo induzem tais opiniões e práticas. Quando algo é feito coercitivamente, indivíduos tendem a reagir com estratégia de fuga-esquiva, boicote, debate, enfrentamento, passeata, ativismo e revolta; quando por convencimento, (o acesso a outros grupos de influência com concepções diferentes, educação e instrução, que aumentem a capacidade reflexiva dos indivíduos) pode libertá-los da persuasão doutrinária, processo chamado de contracontrole ou contra-hegemonia (tentativas de derrubar uma ideologia que está prevalecendo e lhes afetando negativamente). A discussão sobre sexo, sexualidade, orientação sexual e identidade de gênero é bastante controversa e polêmica. Sexo, é o conceito mais básico, descrição anatômica (identificação do masculino e feminino daqueles que possuem genitais e estruturas corporais biológicos de macho ou fêmea). Classificação binária, não admite fluidez, vigorou durante a história da humanidade até meados de 1950, com a revolução sexual. Ainda biologicamente, devemos considerar os intersexuais, hermafroditas (mutação genética que lhes confere os dois órgãos sexuais). GÊNERO, SEXUALIDADE E FAMÍLIA T4 – IDENTIDADE E RELAÇÕES SOCIAIS A 1ª diferenciação é a de sexualidade (modo como indivíduos vivenciam e lidam com seus desejos e práticas sexuais). Gênero (construção social dos papéis, gostos, interesses, valores, modos de falar e vestir atribuíveis ao masculino e ao feminino, quando convivemos e nos identificamos com pessoas detentoras de tais características. Independentemente do sexo biológico, experiências positivas que nutriram amor e admiração por um dos papéis, e negativas nutriram ressentimento e desprezo pelo outro papel, podem resultar no interesse, aproximação, convivência e identificação ou afastamento e dissociação identitária. Todos passamos masculinização ou feminilização ao aprendermos o que é ser homem ou mulher. A identidade de gênero (como o indivíduo se percebe, se enxerga, reconhece, identifica, se sente e se aceita quanto aos atributos cognitivos e comportamentais, tipicamente masculinos ou femininos, que desenvolveu, de maneira independente do sexo anatômico). Uma pessoa pode se ver das seguintes formas: homem cisgênero (masculino, congruência entre o sexo biológico e identidade); homem transgênero (incongruência, sexo biológico masculino e identidade feminina); mulher cisgênero (feminina, congruência entre sexo biológico e identidade), mulher transgênero (incongruência, sexo biológico feminino e identidade masculina); intergêneros ou andrógenos (possuem atributos masculinos e femininos) e agênero (não reúne atributos de nenhuma categoria). Orientação sexual é a evolução do antigo termo escolha sexual, que sugere uma deliberação. O desejo sexual é a excitação reflexa responsiva a estímulos, as propriedades corporais e comportamentais masculinas e/ou femininas,as formas que os indivíduos respondem excitatoriamente a outras pessoas: homossexual (mesmo sexo), heterossexual (sexo oposto), bissexual (os dois sexos) e assexuado (nenhum dos sexos). A palavra família significa conjunto das posses de alguém, o que inclui escravos e parentes. O conceito originalmente não é como usamos hoje e ia além dos laços consanguíneos, passando por todos aqueles que viviam sob o domínio de um senhor. É a instituição social mais antiga entre os humanos e está presente em todas as organizações culturais. Uma instituição social é aquele conjunto de normas interrelacionadas que tem valores compartilhados e que lhes garante segurança e estabilidade. Toda sociedade tem instituições sociais, responsáveis pela manutenção e transmissão da ordem social vigente por meio dos seus códigos e tradições. Tradicional é aquilo que, repetido, deu certo e sobreviveu ao teste do tempo, o modelo mais eficaz nos contextos históricos em que se desenvolveu e foi experimentado comparativamente com outros arranjos. A Constituição Federal de 1988 promoveu profundas mudanças na concepção do conceito família. O matrimônio deixa de ser a única forma aceita de constituição familiar. As funções básicas de uma família, qualquer que seja sua composição, dependem da criação de um ambiente de cuidados, proteção, afeição, regras e valores civilizatórios da cultura vigente, transmitindo-os durante o processo de socialização de novos membros. Uma comunidade formada por indivíduos unidos por laços naturais, afinidades e afetividade, ou por vontade expressa, que vivem em uma unidade doméstica. Diferentes concepções de família emergiram, como: Nuclear, Matrimonial Ou Tradicional (decorre do casamento como ato formal, litúrgico e é composta por pai, mãe e filho (s). Surgiu no Concílio de Trento em 1563, por meio da contrarreforma da Igreja Católica). Informal (formada pela união estável, quando duas pessoas decidem viver juntas sem formalidades, civil e religiosa). Monoparental (formada com um dos pais que arca com cuidados e responsabilidades). Reconstruída (os parceiros unidos vieram de divórcios e trouxeram seus descendentes). Ampliada (àquela em que pais, avós e outros parentes ou afetos vivem juntos). Homoafetiva (união de pessoas do mesmo sexo para a constituição de vínculo familiar, reconhecida pelo Estado brasileiro). Eudemonista (convivência de pessoas por laços afetivos e solidariedade mútua. Amigos que vivem juntos, rateando despesas, dividindo tarefas, como se fossem irmãos). Unitária (mesmo morando sozinho, o indivíduo vive em um entorno com indivíduos com quem socializa, compartilha e sente-se unido). Identidade Social não se limita ao registro social, depende do grupo social ao qual pertencemos. Dentro do grupo familiar, podemos ser identificados como o filho, o irmão, o pai, ou a mãe. Dentro da sociedade, você pode ser o médico, o professor. Depende das relações sociais que mantemos com as demais pessoas, ou seja, nossa comunidade, incluindo nisso as funções que exercemos. Podemos passar de uma identidade social para outra, de acordo com os grupos a que pertencemos e funções que exercemos neles e até escolher nossa identidade social, como quando escolhemos a profissão e o que vamos entregar de valor para a sociedade com as competências que iremos desenvolver. Cada grupo social irá contribuir de uma forma mais intensa ou não para a construção da nossa identidade. Nosso comportamento, gostos, valores, objetivos de vida são influenciados por pessoas e grupos. Isso mostra a formação da nossa identidade social a partir FAMÍLIA E IDENTIDADE SOCIAL T4 – IDENTIDADE E RELAÇÕES SOCIAIS dos relacionamentos. Torna-se muito importante, portanto, escolher bem o grupo social ao qual iremos pertencer. Movimentos sociais são ações coletivas de um grupo social organizado, que busca alguma (s) transformação (ões) ou manutenção da sociedade, agrupamento de indivíduos que demanda, defende, luta por alguma causa ou objetivo. Grupos de transformação - voltados para modificar algum aspecto social. Grupos de conservação - Ativistas pela manutenção de um aspecto social. Por exemplo, as manifestações sobre o aborto, que encontram os dois tipos de movimento: os que lutam pela descriminalização, ou seja, alterar a lei que torna o aborto crime e, assim mudar a sociedade; e um outro grupo que luta pela manutenção dessa lei. Movimento Social Estrutural reivindica objetivos que exigem mudanças na estrutura da sociedade, sendo organizado, com liderança clara, reuniões, sede para encontros e demandas que não são resolvidas de uma hora para a outra, requerendo planejamento de atividades e objetivos de longo prazo, como os movimentos: feminista, negro e trabalhista. Movimento Social Conjuntural relacionado ao contexto ou conjuntura da sociedade num dado momento, surgindo espontaneamente sem muita organização e de curto prazo, tentando alcançar seu objetivo de forma imediata, como as manifestações populares pelos aumentos tarifários dos ônibus. A cidadania pode ter vínculo direto com os movimentos sociais. A função dos movimentos sociais seria justamente garantir os direitos civis e políticos. Significa a participação política. Na democracia, quanto maior a cidadania, maior a participação política. O movimento social é uma forma de participar ativamente da sociedade por meio de uma ação política que vai além do voto. Em um contexto de cidadania representativa, elegemos um representante que desenvolve projetos de leis e vota por nós. A participação política não pode se resumir ao voto, precisando se estender em movimentos sociais que realizam esse papel. A cidadania é base para uma democracia, que não sobrevive sem ela. E uma democracia é caracterizada pelo conflito: justamente a possibilidade de haver uma oposição de interesses e ideias e a abertura para a luta por esses interesses e idéias. BONS ESTUDOS! ÓTIMAS FÉRIAS! MOVIMENTOS SOCIAIS E RELAÇÃO INTERGRUPAL T4 – IDENTIDADE E RELAÇÕES SOCIAIS