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Curso: Psicanálise Clínica 
Professor: João Luiz Matéria: Psicose 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOSE 
 
 
 
 
 
 
 
 
Abril 2021 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO.........................................................................................3 
PERSECTIVA HISTÓRICA......................................................................3 
CONCEITOS DE PINEL...........................................................................4 
CONCEITO DE SAUDE MENTAL............................................................5 
LOUCURA E DOENÇAS MENTAL...........................................................5 
CONCEITO GERAL DE PSICOSE...........................................................5 
CONCEPÇÃO REUDIANA DO PSICOSE................................................6 
DESTINÇÃO ENTRE NEUROSE E PSICOSE.........................................7 
A DINÂMICA DA PSICOSE NO APARELHO PSÍQUICO.........................8 
PSICOSE, ÉDIPO E CASTRAÇÃO..........................................................8 
TIPOS DE PSICOSE- PARANOIA............................................................9 
ESQUIZOFRENIA..................................................................................11 
ORIGEM-TEORIAS................................................................................12 
VISÃO PSICANALÍTICA.........................................................................12 
SINTOMATOLOGIA...............................................................................13 
SUBTIPOS.............................................................................................13 
TRATAMENTOS....................................................................................14 
O DIÁGNOSTICO PSICANALÍTICO......................................................15 
A TRANSFERÊNCIA NA PSICOSE.......................................................16 
BIBLIOGRAFIA......................................................................................18 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 INTRODUÇÃO 
 
A Perspectiva Histórica 
 
“Aos loucos, todas as indulgências. 
A nau dos insensatos é uma alegoria persistente no imaginário. Aqui aparece segundo 
a versão de Bosch, um dos mais instigantes mestres da pintura. A insensatez como 
sinônimo de loucura, alienação, coisas que, no cenário medieval, eram associadas ao 
pecado e, por isso, demonizadas. O louco medieval não pertencia ainda à categoria 
dos doentes, mas integrava a sociedade como uma espécie de pária, muitas vezes 
profeta, outras vezes, possesso. Era preciso normalizá-lo, adequando-o à linha de 
conduta vigente. Não existe loucura, apenas loucos, e neste amplo quadro cabiam e 
cabem ainda as mais vastas concepções de desajuste, desde os extáticos, passando 
pelos mansos e indo até os furiosos. A loucura tem uma história, e ela não é, de modo 
algum, a história dos loucos. Loucos não tem voz. São fundo, não forma. Bodes 
expiatórios que carregam em suas sacolas todas as negações que afligem aos 
normais, purificando-os de suas culpas. Loucos e criminosos devidamente isolados, 
seja pelo hospício, pelo cárcere ou pela medicação silenciam a inconsciênica de todos 
nós”. 
 
Grécia antiga: os loucos eram vistos como pessoas com poderes divinos. 
As frases enigmáticas dos loucos aproximam os homens das ordens dos deuses. 
Neste período não eram controlados ou excluídos, foram transformados em 
mensageiros dos deuses. 
Idade Média na Europa: marcada pela peste negra e pela lepra. 
A loucura era vista como expressão da força da natureza, como algo não humano. A 
fala incompreensível significava contato com o divino ou com o mágico. 
Com a presença da Igreja como dominante dos processos sociais a loucura ganha 
caráter moral e deixa de ser instrumento das forças da natureza. A loucura era vista 
como resultante do pecado e possessão demoníaca. 
Passa a ser entendida como o contrário da razão e vista como um conjunto de vícios 
dos homens, como a preguiça. 
Século XVII: surge o mercantilismo 
 
 
Período onde domina o pensamento que a população é o maior bem que um país 
pode ter. 
Inicia-se o encarceramento de todos aqueles que não podem contribuir para o 
movimento de produção, de comércio e de consumo de mercadorias. Nesta classe 
incluem os miseráveis, os mendigos e os loucos. 
Esta exclusão se dá devido a mudança na relação do homem com o trabalho. 
Necessidade de disciplina e um novo controle social. 
Começam a ser criados em toda a Europa estabelecimentos de internação: velhos, 
crianças abandonadas, aleijados, mendigos, portadores de doenças venéreas e os 
loucos. 
Estes lugares eram verdadeiros depósitos humanos, sem intenção de tratamento. 
Os encarcerados eram obrigados a trabalhos forçados, servindo como punição. 
Essa limpeza acontece até a Revolução Francesa em 1789, cujo lema era: Liberdade, 
Igualdade e Fraternidade. 
Os loucos permanecem encarcerados: considerados perigosos para o convívio social. 
 
Antes do final do século XVIII, a medicina não se interessava em saber “o quê” e o 
“por quê”sobre a loucura. 
Final do séc. XVIII: Philippe Pinel difunde uma nova concepção de loucura. 
Pinel fundamenta a alienação mental como distúrbios das funções intelectuais do 
sistema nervoso. 
Cérebro: sede da mente e na mente se manifesta a loucura. 
Divide os sintomas em classes: mania, melancolia, demência e idiotismo. 
 
Conceitos de Pinel 
Loucura: desarranjo das faculdades cerebrais. 
Causas físicas e causas morais 
Causas Físicas: De origem cerebral como pancadas na cabeça, formação defeituosas 
do cérebro e hereditariedade. 
Causas morais: consideradas as mais importantes. Provocadas por paixões intensas 
e excessos de todos os tipos. 
A loucura adquire estatuto de doença mental que requer saber médico e técnicas 
específicas. 
Fica constituída a psiquiatria como saber médico. 
 
 
Principais representantes: Pinel na França, Tuke na Inglaterra e Esquirol como o 
principal representante do Alienismo. 
Alienismo: entendimento da loucura enquanto desrazão, ou seja, alienação mental. 
O tratamento deve ser baseado no espaço asilar e na disciplina rígida. 
O tratamento consiste em confrontar a confusão, a desrazão. 
La Salpetrière foi o primeiro hospital onde se aplicou o tratamento a loucura. 
Inicialmente era um depósito humano 
 
Conceito de Saúde Mental 
É um aspecto da saúde em geral que, a partir de uma concepção integral como 
entidade biopsicossocial, não podendo ser vista em separado. 
É um estado relativamente duradouro na qual a pessoa está bem ajustada, tem 
alegria de viver e consegue auto realização. 
É um estado positivo e não apenas ausência de perturbação mental. 
 
Loucura e Doença Mental 
Loucura é sinônimo de: excêntrico, insensato e contestador. 
Doença Mental: Estado de sofrimento mental, perda da capacidade de comunicação 
e perda da capacidade normativa (patologia da liberdade). 
 
Conceito geral de Psicose 
Psicose significa condição anormal da mente, e é um termo genérico psiquiátricos 
para um estado mental muitas vezes descrita como envolvendo uma "perda de contato 
com a realidade". Pessoas que sofrem de psicose são chamados de psicótico''. 
Etimologicamente vem do grego ''ψύχωσις'' (''psychosis'‘- um dar alma ou vida, 
animando, vivificando); ''ψυχή'' (''psyche'‘ – alma) e o sufixo ωσις'' (''-osis'') neste caso 
significa “condição anormal”. 
Pessoas vítimas de psicose podem relatar alucinações ou crenças delirantes, e 
podem apresentar alterações de personalidade e transtorno do pensamento. 
Dependendo de sua gravidade, este pode ser acompanhada por um comportamento 
incomum ou bizarro, bem como dificuldade de interação social e comprometimento na 
realização das atividades de vida diária 
O termo psicose apareceu no séc. XIX, criado em 1845 por Ernst Von Feuchtersleben, 
um filósofo austríaco que utilizava esta terminologia paradenominar, de uma maneira 
 
 
geral, as doenças do espírito. Assim, essa terminologia transformou-se sinônimo de 
alienação mental. 
A psicose, desde o início do século XX, refere-se a todas as patologias, 
independentes de sua etiologia, que associam a perda da realidade e a criação de 
uma pseudo-realidade. Dentro desse quadro, verifica-se um processo deteriorativo 
das funções do eu, em graus variáveis, e um sério prejuízo do contato com a 
realidade. Uma expressão utilizada no meio psicanalítico ao se referir à psicose é a 
exposição de um testemunho aberto do inconsciente. 
Uma grande variedade de doenças do sistema nervoso central, de ambos os venenos 
externas e doenças fisiológicas internas, pode produzir sintomas de psicose. No 
entanto, muitas pessoas incomuns e não compartilhados (distintos) experiências do 
que eles percebem ser diferentes realidades sem conexão a definição clínica da 
psicose. Por exemplo, muitas pessoas na população em geral sofreram alucinações 
relacionadas com a experiência religiosa ou paranormal. Como resultado, tem-se 
argumentado que a psicose é simplesmente um estado extremo de consciência que 
cai além das normas vivida pela maioria. Nesta visão, as pessoas que são 
clinicamente considerados psicóticos podem ser simplesmente ter experiências 
particularmente intensa ou perturbadora. 
 
Concepção freudiana da psicose 
A psicanálise vai ter como referência a posição do sujeito frente à castração e, 
consequentemente, ao Complexo de Édipo. Não se trata de classificar o tipo da 
doença e buscar uma cura pela remissão dos sintomas. O tratar leva em 
consideração a função que o sintoma tem para o sujeito. 
Analisando o caso “Schereber” em 1911, Freud afirma que o delírio não é um 
sintoma da psicose e sim uma tentativa de cura; movimento de estabilização. 
 
Os primeiros escritos da obra freudiana categorizavam os transtornos 
emocionais em três grupos e Freud os denominava de psiconeuroses . 
1. As neuroses atuais: transtornos emocionais resultantes da ausência ou 
inadequação da satisfação sexual; seus sintomas não eram de natureza simbólica. 
Para tal transtorno a investigação deveria ser direcionada para as desordens 
sexuais atuais e não em acontecimentos importantes da vida passada. Sua 
etiologia, neste sentido, é somática e não psíquica. 
 
 
2. As neuroses de transferência ou psiconeuroses de defesa. Engloba as histerias, 
fobias e as neuroses obsessivas. Segundo Freud, apenas estas poderiam produzir 
a transferência, pois para isso seria necessário dirigir catexias libidinais às pessoas 
(FREUD, 1916-17). 
3. Neuroses narcísicas, ou seja, as psicoses. De acordo com Freud, a psicanálise 
não reunia condições para tratar esta “doença”, pois tais pacientes não conseguiam 
a revivescência do conflito patogênico e a superação da resistência devido à 
regressão. Freud supunha que essas pessoas abandonavam as catexias objetais e 
que sua libido objetal se transformava em libido do ego (FREUD, 1916-17). 
Psicose: Trata-se de uma disposição patológica de alto grau, onde o ego escapa da 
ideia incompatível, ligada inseparavelmente a um fragmento da realidade. O 
afastamento da ideia incompatível proporciona, consequentemente, um 
afastamento da realidade. Os efeitos desse afastamento podem ser percebidos a 
partir do surgimento de alucinações e confusão mental. “Portanto, é justificável dizer 
que o ego se defendeu da ideia incompatível através de uma fuga para a psicose”. 
(Freud,1894, pág 72) 
 
DISTINÇÃO ENTRE NEUROSE E PSICOSE 
 
Neuroses: os conflitos interiores do indivíduo, cujo significado inicial lhe escapa, 
remetendo para os conflitos infantis recalcados que serão acessíveis pela 
transferência. 
Psicoses: conflitos entre o indivíduo e o mundo, pouco ou dificilmente acessíveis pela 
transferência, mesmo com revelações diretas do inconsciente . No Rascunho H, a 
paranoia, Freud (1895) classifica então como psicoses: a confusão alucinatória, a 
paranoia e a psicose histérica. 
No texto “Neurose e Psicose” (1923-1925), Freud aponta uma diferença básica entre 
neurose e psicose: “a neurose é o resultado de um conflito entre o ego e o id, ao 
passo que a psicose é o desfecho análogo de um distúrbio semelhante nas relações 
entre o ego e o mundo externo”. (Freud,1923/1925, pág 189) 
 
Freud afirma que a neurose se caracteriza por uma recusa do ego em aceitar a 
poderosa pulsão do id, recusando a posição de mediador da satisfação pulsional. Ele 
opera a serviço do superego e da realidade (princípios morais), a partir do mecanismo 
do recalcamento. O material “recalcado” insiste em se fazer conhecido, logo, ele 
 
 
escolhe vias substitutas. O sintoma aparece, então, como sendo uma representação 
substitutiva. Tudo isso promove o quadro da neurose. 
 
Na psicose existe um conflito entre o ego e o mundo externo. O sujeito cria uma nova 
realidade e certamente essa nova realidade é construída de acordo com os impulsos 
desejosos do id. Freud menciona que a origem da neurose e da psicose é a frustração. 
A condição posterior à frustração é que vai determinar a estrutura. 
“O efeito patogênico depende do ego, numa tensão conflitual desse tipo, permanecer 
fiel à sua dependência do mundo externo e tentar silenciar o id, ou se ele se deixar 
derrotar pelo id e, portanto, ser arrancado da realidade.” 
 
A dinâmica da Psicose no Aparelho Psíquico 
Nesse tipo de mecanismo originário de defesa, o eu desestima / recusa a 
representação Incompatível / insuportável juntamente com seu afeto e se 
comporta como se a representação jamais tivesse existido. Assim, o rompimento 
efetuado pelo Eu com a representação incompatível, faz com que “esta fique 
inseparavelmente ligada a um fragmento de realidade, de modo que, à medida 
que o eu obtém esse resultado, também se desliga, total e parcialmente, da 
realidade” (FREUD, 1894, p. 65). Esse desligamento é a condição para que as 
representações recebam a vividez das alucinações e este estado é denominado 
de confusão alucinatória. 
Segundo Freud, o mecanismo que caracteriza as psicoses é verwerfung que pode ser 
traduzida por descartar, não aceitar, considerar inadequado levando em consideração 
as conotações de foco no descarte e na eliminação. Verwerfung vem do verbo 
verwerfen que significa rejeitar e forcluir. Freud utilizou essa terminologia referindo-se 
a um tipo de recusa arcaica no sentido de expulsão, de eliminação da ideia de 
castração. A Verwerfung “consistiria em rejeitar ao nível do processo primário algo 
que deveria ser simbolizado”. Freud verificou que o mecanismo fundamental que 
advinha na psicose não se referia a uma sensação recalcada no interior que era 
projetada para o externo, mas que o que foi abolido no interior volta do exterior. Ou 
seja, o que é cancelado dentro vem de fora pela alucinação ou pelo delírio. 
 
Psicose, Édipo e Castração: 
A psicose decorre de uma recusa da castração e caracteriza-se por um retorno ao 
estágio narcísico. 
 
 
A principal instancia psíquica reguladora do desejo é o superego que é herdado ao 
final do Édipo. O psicótico é excluído de uma parte essencial desta herança. Privado 
da alternativa desse intermediário, o sujeito psicótico se confronta imediatamente com 
a realidade. 
A negação/rejeição da realidade se dá originariamente na negação da realidade da 
castração, gerando assim um movimento que determinará as relações do sujeito 
psicótico com o mundo externo. 
 
Tipos de Psicose - Paranoia 
O significado literal da palavra paranoia vem do grego para=ao lado de, fora; e 
noia=de si, ou seja, ’’fora de si’’. Hipócrates usou o termo para se referir delírio com 
febre alta e outros autores a usaram como sinônimo de demências e loucura. Por 
seu significado não ser claro o suficiente, o termo caiu em desuso até o século XIX, 
quando é recuperado pela ciência psiquiátrica. 
 
A paranoia dentroda perspectiva psicanalítica 
Freud define a paranoia crônica como um modo patológico de defesa, como a 
histeria e neurose obsessiva, por exemplo. Atribui o termo defesa a resistência em 
recordar, e o mecanismo psíquico que a embasa, a repressão. Diante de uma 
realidade (incluise idéias ou sentimentos) que por algum motivo é insuportável, 
inaceitável ao sujeito ocorre à rejeição desta realidade. Esse seria um mecanismo 
de projeção defensivo, de rejeição. O sujeito projeta no exterior, geralmente, algum 
sentimento causado por um acontecimento recalcado e que lhe é insuportável para 
ser atribuído ao seu próprio eu. 
 
O mecanismo de projeção é uma defesa comum na nossa vida cotidiana, uma vez 
que, ao produzirmos uma modificação interna podemos atribuí-la a uma causa 
externa. Freud considera o delírio de projeção normal quando estamos conscientes 
de nossas modificações internas. Quando nos desligamos de nossas próprias 
modificações internas e atribuímos a causa de tudo ao exterior teremos a paranoia 
O delírio está relacionado com mecanismos de projeção, onde o conteúdo projetado 
no objeto externo faz este tornarse ameaçador e perseguidor. Através do delírio o 
sujeito tenta reconstituir a parte da realidade perdida, rejeitada, que na paranoia é 
sempre atribuída a um objeto externo. 
 
 
Por isso, uma pessoa que antes foi amada, mas cujo sentimento por ela foi 
recalcado, pode se tornar um perseguidor que tenta nos fazer mal ou mesmo que 
seja ele quem nos ama na verdade. No exemplo do caso Schreber, o sentimento de 
ser perseguido por seu médico Flechsig recalcava, na verdade, um sentimento de 
amor pelo mesmo, que por ser de cunho homoerótico foi recalcado e projetado, 
constituindo um delírio. Freud, em investigações junto a Jung e Ferenczi, descobriu 
que o ponto central da patologia de vários paranóicos é a defesa contra o desejo 
homossexual. O delírio descobre a relações entre vida social e erotismo, trazendo a 
tona o desejo sexual. Bell (2005) diz que ‘’Freud defende a tese -ainda válida -de 
que o delírio não é a doença em si, mas representa uma tentativa de recuperação. 
A catástrofe principal é a perda de contato com o mundo que faça sentido. ’’ 
Divide o delírio em quatro tipos, conforme a especificidade dele, mas todos com 
base na fantasia homossexual, segundo Freud. São elas: 
a) Delírio persecutório é a negação do sentimento de amor por outro ‘’eu não o 
amo, eu o odeio’’, que ainda sofre a transformação em ‘’ele me odeia, pois me 
persegue, então tenho direito de odiá-lo’’. Projeta-se no objeto de desejo o ódio pela 
própria existência deste desejo, tornando-o persecutório, e assim, justifica-se o ódio 
que ele nos causa. 
B ) Erotomania, onde o objeto é trocado ‘’não amo ele, amo ela’’, com o intuito de 
negar o desejo homoerótico. E a projeção transforma o ‘’eu a amo ‘’ em ‘’percebo 
que ela me ama’’. 
c) Ciúme delirante é quando se desconfia do parceiro (a) imaginando que ele (a) 
ama outros (as) pessoas, as quais o próprio sujeito é que está tentado a amar. 
D) Delírio de grandeza ou megalomania é uma rejeição do desejo como um 
todo’’eu não amo ninguém’’, centrando o desejo em si mesmo. 
Jaques Lacan ao se deparar com o caso da paciente Aimée, em 1931, passou a 
estudar a paranóia. A concepção do sujeito para ele era de que esse é a soma das 
representações conscientes e inconscientes empregadas em uma relação com o 
outro, logo, com a sociedade. Entendia o delírio como fenômeno elementar no 
sentido de estrutural, pois acredita que a paranóia é uma manifestação patológica 
da estrutura psicótica, por isso é elementar. Na estrutura psicótica, o Nome-do-Pai 
é foracluído, ou seja, não houve a inscrição da função significante primordial, pois 
foi foracluída do campo Simbólico e retorna no Real. Contardo Calligaris (1989) fala 
que não ocorre uma amarragem deste significante tornando-o o pólo central da 
organização da estrutura, como ocorreria na neurose. O que acontece é uma 
 
 
 
‘’captonage’’ - ligação ou ponto de capton em outros autores - que liga significante 
e significado sem produzir uma amarragem definitiva que se constitua como pólo 
central deste saber. Isso permite pensar que existe algo que funciona, pode 
funcionar como metáfora, dar significação, mas não é uma amarragem em um lugar 
central e organizador do modo de ver o mundo. 
 
Os fenômenos elementares descritos na psiquiatria, delírio e alucinação, são 
sintomas da estrutura psicótica e essa não faz laço social por meio da linguagem, 
que pertenceria ao simbólico. A formação de um delírio está marcada pela certeza 
irredutível na ideia delirante, e esta ideia exclui o sujeito do vínculo social 
estabelecido pela linguagem porque o paranóico não demanda um saber do outro 
(Cromberg, 2000). Quando há uma situação em que o sujeito é chamado a referir-
se ao nome-do-pai, a sustentar esse nome, a função foracluída responde no Real 
com a volta dos significantes que deveriam ter sido simbolizados. Este conjunto de 
significantes paternos, de repente, se impõe como referência paterna obrigatória, 
sem deixar de ser no Real, sem vínculo com o saber do sujeito. O delírio produziria 
uma metáfora que opera uma nova organização do saber do sujeito ao redor deste 
pólo central que permanecerá no Real (Calligaris, 1989). Por isso, o delírio paranóico 
é marcado pela certeza, é uma tentativa de organizar-se em torno de um saber, de 
substituir a metáfora neurótica. 
 
Esquizofrenia 
Esquizofrenia (do grego antigoσχιζοφρενία: formado por σχίζειν, skízein, 'separar, 
dividir', e φρήν, phrēn, phrenós, 'diafragma', a parte do corpo identificada com a 
ligação entre o corpo e a alma.O termo significa mais propriamente "cisão das 
funções mentais", considerando-se a sintomatologia da doença. 
A esquizofrenia é uma doença mental crônica que se manifesta na adolescência ou 
início da idade adulta. Sua frequência na população em geral é da ordem de 1 para 
cada 100 pessoas, havendo cerca de 40 casos novos para cada 100.000 habitantes 
por ano. No Brasil estima-se que há cerca de 1,6 milhão de esquizofrênicos; a cada 
ano cerca de 50.000 pessoas manifestam a doença pela primeira vez. Ela atinge em 
igual proporção homens e mulheres, em geral inicia-se mais cedo no homem, por 
volta dos 20-25 anos de idade, e na mulher, por volta dos 25-30 anos. 
 
 
 
Origens – teorias 
 
A teoria genética admite que genes podem estar envolvidos, contribuindo 
juntamente com os fatores ambientais para o desencadear do transtorno. "No caso 
de um dos pais sofrer de esquizofrenia, a prevalência da doença nos descendentes 
diretos é de 12%. Na situação em que ambos os pais se encontram atingidos pela 
doença, esse valor sobe para 40%". No entanto, mesmo na ausência de história 
familiar, a doença pode ainda ocorrer, sabe-se que cerca de 81% dos doentes de 
esquizofrenia não têm qualquer familiar em primeiro grau atingido pela doença e 
cerca de 91% não têm sequer um familiar afetado. Portanto, a causalidade genética 
ainda não é comprovada. 
 
Teoria Neurobiológica: defendem que a esquizofrenia é essencialmente causada 
por alterações bioquímicas e estruturais do cérebro, em especial com uma disfunção 
dopaminérgica, embora alterações em outros neurotransmissores estejam também 
envolvidas. A maioria dos neurolépticos (antipsicóticos) atua precisamente nos 
receptores da dopamina no cérebro, reduzindo a produção endógena deste 
neurotransmissor. 
 
Visão Psicanalítica 
Normalmente se remete a fase oral do desenvolvimento psicológico, na qual "a 
ausência de gratificação verbal ou da relação inicial entre mãe e bebê conduz 
igualmente a personalidades "frias" ou desinteressadas (ou indiferentes) no 
estabelecimento das relações". A ausência de relações interpessoais satisfatórias 
estaria assim na origem da esquizofrenia. 
A esquizofrenia implica em um retorno até o autoerotismo infantil.(p.162e 163). 
Caracteríza-se por uma perturbação do vinculo ego/objeto. 
Na esquizofrenia o desmoronar da realidade seria correlativo ao desmoronar da 
própria estrutura egóica. P. 166. 
 
 
 
 
 
 
Sintomatologia 
1. delírios: são idéias falsas, das quais o paciente tem convicção absoluta. Por 
exemplo, ele se acha perseguido ou observado por câmeras escondidas, acredita 
que os vizinhos ou as pessoas que passam na rua querem lhe fazer mal. 
2. alucinações: são percepções falsas dos órgãos dos sentidos. As alucinações mais 
comuns na esquizofrenia são as auditivas, em forma de vozes. O paciente ouve 
vozes que falam sobre ele, ou que acompanham suas atividades com comentários. 
Muitas vezes essas vozes dão ordens de como agir em determinada circunstancia. 
Outras formas de alucinação, como visuais, táteis ou olfativas podem ocorrer 
também na esquizofrenia. 
3. alterações do pensamento: as idéias podem se tornar confusas, desorganizadas 
ou desconexas, tornando o discurso do paciente difícil de compreender. Muitas 
vezes o paciente tem a convicção de que seus pensamentos podem ser lidos por 
outras pessoas, ou que pensamentos são roubados de sua mente ou inseridos nela. 
4. alterações da afetividade: muitos pacientes tem uma perda da capacidade de 
reagir emocionalmente às circunstancias, ficando indiferente e sem expressão 
afetiva. Outras vezes o paciente apresenta reações afetivas que são incongruentes, 
inadequadas em relação ao contexto em que se encontra. Torna-se pueril e se 
comporta de modo excêntrico ou indiferente ao ambiente que o cerca. 
5. diminuição da motivação: o paciente perde a vontade, fica desanimado e apático, 
não sendo mais capaz de enfrentar as tarefas do dia a dia. Quase não conversa, fica 
isolado e retraído socialmente. 
 
Subtipos 
Atualmente, segundo o DSM IV, existem cinco tipos: 
Paranoide, é a forma que mais facilmente é identificada com a doença e na qual 
predominam os sintomas positivos. O quadro clínico é dominado por um delírio 
paranóide relativamente bem organizado. Os doentes de esquizofrenia paranóide 
são desconfiados, reservados, podendo ter comportamentos agressivos. 
Desorganizado, em que os sintomas afetivos e as alterações do pensamento são 
predominantes. As ideias delirantes, embora presentes, não são organizadas. Em 
alguns doentes pode ocorrer uma irritabilidade associada a comportamentos 
agressivos. Existe um contacto muito pobre com a realidade. 
Catatônico, caracterizado pelo predomínio de sintomas motores e por alterações da 
atividade, que podem variar desde um estado de cansaço e acinesia até a excitação. 
 
 
Indiferenciado, que apresenta habitualmente um desenvolvimento insidioso com 
um isolamento social marcado e uma diminuição no desempenho laboral e 
intelectual. Observa-se nestes doentes uma certa apatia e indiferença relativamente 
ao mundo exterior. 
Residual, em que existe um predomínio de sintomas negativos: os doentes 
apresentam um isolamento social marcado por um embotamento afetivo e uma 
pobreza ao nível do conteúdo do pensamento. 
Existe também a denominada esquizofrenia hebefrênica, que incide desde a 
adolescência, com o pior dos prognósticos em relação às demais variações da 
doença e com grandes probabilidades de prejuízos cognitivos e socio-
comportamentais. 
 
Tratamento 
O tratamento da esquizofrenia visa ao controle dos sintomas e a reintegração do 
paciente. O tratamento da esquizofrenia requer duas abordagens: medicamentosa e 
psicossocial. O tratamento medicamentoso é feito com remédios chamados 
antipsicóticos ou neurolépticos. Eles são utilizados na fase aguda da doença para 
aliviar os sintomas psicóticos, e também nos períodos entre as crises, para prevenir 
novas recaídas. As abordagens psicossociais são necessárias para promover a 
reintegração do paciente à família e à sociedade. 
A experiência clínica indica que o melhor momento para iniciar o tratamento da 
esquizofrenia é logo após o aparecimento dos primeiros sintomas. Se a sintomatologia 
psicótica permanecer sem tratamento por longos períodos, o prognóstico do 
tratamento é menos favorável. Assim, é vital o reconhecimento precoce dos sinais da 
esquizofrenia para que se possa procurar uma ajuda rápida 
 
Os principais objetivos da psicoterapia na esquizofrenia são: 
Interromper a perda da capacidade mental, preservando o contato com a realidade; 
Restaurar a capacidade de cuidar de si e de administrar sua vida, e manter o máximo 
de autonomia para promover o melhor ajustamento pessoal, psicológico e social 
possível; 
Diminuir o isolamento; 
Reconhecer e reduzir a natureza ameaçadora dos eventos da vida, para os quais 
existe uma sensibilidade particular; 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia
 
 
Conscientizar o portador sobre a realidade de seus recursos e limitações, tanto 
ajudando a descobrir e realizar seu potencial, quanto ajudando na aceitação de suas 
limitações; 
Aumentar suas defesas diante de situações estressantes, liberando recursos que, 
eventualmente, estejam obstruídos pela psicose e desenvolver fontes alternativas 
para a solução de seus problemas; 
Recuperar e promover a auto-estima, a auto-imagem e a autoconfiança, 
proporcionando contínuo progresso; 
Estimular a independência, os cuidados consigo mesmo em questões de higiene e 
capacitar o paciente para as atividades da vida diária 
 
O diagnóstico psicanalítico 
A palavra diagnosticar tem origem francesa, na palavra diagnostic, que vem do grego 
diagnostkóns, que quer dizer “capaz de ser discernível”. Discernir consiste na 
utilização de conceitos para estabelecer distinções e semelhanças entre coisas. 
A Psicanálise diferentemente da Psiquiatria não tem como primazia os sintomas como 
sinais, mas privilegia a escuta do inconsciente. Pode-se afirmar que a psicanálise, 
com sua ética, denominada por Lacan como a ética do bem dizer, tem relação com a 
linguagem e o sujeito. 
“Dando primazia ao discurso do paciente, Freud descobre que o inconsciente tem leis 
próprias, e que estas estão referidas a uma maneira própria a cada pessoa de dar 
conta do sexual. Ele passa do trauma para as fantasias, apontando para o seu núcleo: 
a castração. O Édipo é a sustentação simbólica do temor à castração. É a entrada do 
sujeito na cultura pela via da interdição operada pelo pai enquanto no lugar de lei”. 
(Psicanálise – Pesquisa e Clínica, “O diagnóstico na psicanálise: da clínica dos 
fenômenos à clínica da estrutura”. Ondina Maria Machado,200 , pág 40) a psicanálise 
vai ter como referência a posição do sujeito frente à castração e, consequentemente, 
ao Complexo de Édipo. Não se trata de classificar o tipo da doença e buscar uma 
cura pela remissão dos sintomas. O tratar leva em consideração a função que o 
sintoma tem para o sujeito. 
A psicanálise faz uso do diagnóstico estrutural e não do diagnóstico descritivo de 
sinais e sintomas. Sempre parte-se da relação estabelecida pelo sujeito com a 
linguagem, para que seja possível pensar num diagnóstico. 
“Ao apólogo médico “diagnosticar para tratar”, Freud contrapõe o “diagnosticar 
tratando”, mostrando que o diagnóstico em psicanálise é uma construção, e não uma 
 
 
classificação. Não basta circunscrever um nome e dá-lo ao sujeito, pois este, na sua 
eterna excentricidade,nunca vai estar lá onde é esperado. O diagnóstico psicanalítico 
visa a causa mas não a doença e sim o sujeito”. 
Ao se pensar no diagnóstico em psicanálise, deve-se inicialmente observar a 
transferência. 
 
A transferência na psicose 
A transferência designa-se pelo processo onde os desejos inconscientes se 
atualizam sobre determinados objetos e num certo tipo de relação, como a 
experiência analítica, que consiste numa relação de protótipos infantis atualizados 
no presente. 
Lacan apresenta um conceito fundamental para falar da transferência, conceito 
denominado de “Sujeito SupostoSaber”, que fala de uma posição suposta do 
analisando para com seu analista. Suposição de que o analista sabe da verdade do 
inconsciente de seu analisando. 
Ao estudar a psicose, Lacan percebe uma especificidade no que se refere ao 
“Sujeito Suposto Saber”, percebendo que, na posição de analista, é fundamental 
fazer um agenciamento do paciente com o mundo externo, ou seja, acompanhá-lo 
de uma maneira particular. A este conceito, Lacan o nomeou de “Secretário do 
Alienado”. 
Um tratamento possível para as psicoses, segundo Lacan, consiste na premissa de 
que parte-se de um mal-entendido fundamental, com o qual os analistas se 
deparam e visam tomá-lo “ao pé da letra”, ou seja, considerá-lo como inerente ao 
funcionamento psicótico. 
 
Ao considerar que o registro da fala explicita toda a riqueza da fenomenologia da 
psicose em sua tentativa de burlar a lei simbólica, a proposta da psicanálise é 
escutá-la como qualquer discurso, sendo o delírio um campo de significação que 
organiza um significante para o psicótico. 
O psicótico parece fixado, imobilizado numa posição que o coloca sem condições 
de restaurar autenticamente o sentido do que ele testemunha. Está aí um lugar 
possível ao analista, como “secretário do alienado”, fazer circular sua produção e 
procurar com ele um significante que possa reorientar sua posição subjetiva. 
Lacan afirma que “secretário do alienado” é a posição que o analista deve ocupar. 
Não é uma posição de contestar a certeza do alienado, mas sim de acompanhar o 
 
 
seu percurso, de ouvir o que o sujeito tem a nos dizer. Na realidade, o trabalho do 
“secretário do alienado” visa tornar a relação com o outro menos ameaçadora, 
funcionando o laço analítico como um modo de sustentação para o sujeito psicótico. 
 
Em relação à paranóia, o sujeito tem a certeza do saber, que é comunicado ao 
analista. Já na esquizofrenia, onde a mediação simbólica é mais precária do que 
na paranóia, o outro não é percebido como semelhante, mas sim como invasor, 
como ameaça absoluta. A função do analista é servir de mediação e oferecer-se 
como semelhante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Bibliografia recomendada 
 GUERRA, Andreia M.C. A Psicose, Rio de Janeiro: Zahar, 2010. 
 SIMANKE, Richard Theisen. A formação da teoria freudiana das psicosesSão 
Paulo: Edições Loyola,2009. 
 FOUCAULT, Michel. História da Loucura, São Paulo: Perspectiva, 1999. 
 JULIEN, Philippe. Psicose, perversão, neurose:a leitura de Jacques Lacan. 
Rio de Janeiro: Companhia de Freud,2002. 
 PORTER, Roy. Uma História Social da Loucura. Rio de Janeiro: Zahar, 1991. 
 
Textos das Obras de Freud e Lacan 
 
FREUD, Sigmund(1894). As neuropsicoses de defesa. 
-----(1896) “Novas Observações sobre as neuro-psicoses de defesa” . 
----(1911 a). Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia 
autobiograficamente descritivo. 
___(1924 a). Neurose e Psicose. 
___(1924 b). A perda da realidade na neurose e na psicose. 
___(1924 c). O sepultamento do Complexo de Édipo. 
LACAN, J. “De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose” 
[1966]. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1998. 
LACAN, J. O Seminário. Livro 3: As psicoses. Trad. Aluisio Menezes. Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985. 
 
 
 
	Conceitos de Pinel
	Conceito de Saúde Mental
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