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Curso: Psicanálise Clínica Professor: João Luiz Matéria: Psicose PSICOSE Abril 2021 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.........................................................................................3 PERSECTIVA HISTÓRICA......................................................................3 CONCEITOS DE PINEL...........................................................................4 CONCEITO DE SAUDE MENTAL............................................................5 LOUCURA E DOENÇAS MENTAL...........................................................5 CONCEITO GERAL DE PSICOSE...........................................................5 CONCEPÇÃO REUDIANA DO PSICOSE................................................6 DESTINÇÃO ENTRE NEUROSE E PSICOSE.........................................7 A DINÂMICA DA PSICOSE NO APARELHO PSÍQUICO.........................8 PSICOSE, ÉDIPO E CASTRAÇÃO..........................................................8 TIPOS DE PSICOSE- PARANOIA............................................................9 ESQUIZOFRENIA..................................................................................11 ORIGEM-TEORIAS................................................................................12 VISÃO PSICANALÍTICA.........................................................................12 SINTOMATOLOGIA...............................................................................13 SUBTIPOS.............................................................................................13 TRATAMENTOS....................................................................................14 O DIÁGNOSTICO PSICANALÍTICO......................................................15 A TRANSFERÊNCIA NA PSICOSE.......................................................16 BIBLIOGRAFIA......................................................................................18 INTRODUÇÃO A Perspectiva Histórica “Aos loucos, todas as indulgências. A nau dos insensatos é uma alegoria persistente no imaginário. Aqui aparece segundo a versão de Bosch, um dos mais instigantes mestres da pintura. A insensatez como sinônimo de loucura, alienação, coisas que, no cenário medieval, eram associadas ao pecado e, por isso, demonizadas. O louco medieval não pertencia ainda à categoria dos doentes, mas integrava a sociedade como uma espécie de pária, muitas vezes profeta, outras vezes, possesso. Era preciso normalizá-lo, adequando-o à linha de conduta vigente. Não existe loucura, apenas loucos, e neste amplo quadro cabiam e cabem ainda as mais vastas concepções de desajuste, desde os extáticos, passando pelos mansos e indo até os furiosos. A loucura tem uma história, e ela não é, de modo algum, a história dos loucos. Loucos não tem voz. São fundo, não forma. Bodes expiatórios que carregam em suas sacolas todas as negações que afligem aos normais, purificando-os de suas culpas. Loucos e criminosos devidamente isolados, seja pelo hospício, pelo cárcere ou pela medicação silenciam a inconsciênica de todos nós”. Grécia antiga: os loucos eram vistos como pessoas com poderes divinos. As frases enigmáticas dos loucos aproximam os homens das ordens dos deuses. Neste período não eram controlados ou excluídos, foram transformados em mensageiros dos deuses. Idade Média na Europa: marcada pela peste negra e pela lepra. A loucura era vista como expressão da força da natureza, como algo não humano. A fala incompreensível significava contato com o divino ou com o mágico. Com a presença da Igreja como dominante dos processos sociais a loucura ganha caráter moral e deixa de ser instrumento das forças da natureza. A loucura era vista como resultante do pecado e possessão demoníaca. Passa a ser entendida como o contrário da razão e vista como um conjunto de vícios dos homens, como a preguiça. Século XVII: surge o mercantilismo Período onde domina o pensamento que a população é o maior bem que um país pode ter. Inicia-se o encarceramento de todos aqueles que não podem contribuir para o movimento de produção, de comércio e de consumo de mercadorias. Nesta classe incluem os miseráveis, os mendigos e os loucos. Esta exclusão se dá devido a mudança na relação do homem com o trabalho. Necessidade de disciplina e um novo controle social. Começam a ser criados em toda a Europa estabelecimentos de internação: velhos, crianças abandonadas, aleijados, mendigos, portadores de doenças venéreas e os loucos. Estes lugares eram verdadeiros depósitos humanos, sem intenção de tratamento. Os encarcerados eram obrigados a trabalhos forçados, servindo como punição. Essa limpeza acontece até a Revolução Francesa em 1789, cujo lema era: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Os loucos permanecem encarcerados: considerados perigosos para o convívio social. Antes do final do século XVIII, a medicina não se interessava em saber “o quê” e o “por quê”sobre a loucura. Final do séc. XVIII: Philippe Pinel difunde uma nova concepção de loucura. Pinel fundamenta a alienação mental como distúrbios das funções intelectuais do sistema nervoso. Cérebro: sede da mente e na mente se manifesta a loucura. Divide os sintomas em classes: mania, melancolia, demência e idiotismo. Conceitos de Pinel Loucura: desarranjo das faculdades cerebrais. Causas físicas e causas morais Causas Físicas: De origem cerebral como pancadas na cabeça, formação defeituosas do cérebro e hereditariedade. Causas morais: consideradas as mais importantes. Provocadas por paixões intensas e excessos de todos os tipos. A loucura adquire estatuto de doença mental que requer saber médico e técnicas específicas. Fica constituída a psiquiatria como saber médico. Principais representantes: Pinel na França, Tuke na Inglaterra e Esquirol como o principal representante do Alienismo. Alienismo: entendimento da loucura enquanto desrazão, ou seja, alienação mental. O tratamento deve ser baseado no espaço asilar e na disciplina rígida. O tratamento consiste em confrontar a confusão, a desrazão. La Salpetrière foi o primeiro hospital onde se aplicou o tratamento a loucura. Inicialmente era um depósito humano Conceito de Saúde Mental É um aspecto da saúde em geral que, a partir de uma concepção integral como entidade biopsicossocial, não podendo ser vista em separado. É um estado relativamente duradouro na qual a pessoa está bem ajustada, tem alegria de viver e consegue auto realização. É um estado positivo e não apenas ausência de perturbação mental. Loucura e Doença Mental Loucura é sinônimo de: excêntrico, insensato e contestador. Doença Mental: Estado de sofrimento mental, perda da capacidade de comunicação e perda da capacidade normativa (patologia da liberdade). Conceito geral de Psicose Psicose significa condição anormal da mente, e é um termo genérico psiquiátricos para um estado mental muitas vezes descrita como envolvendo uma "perda de contato com a realidade". Pessoas que sofrem de psicose são chamados de psicótico''. Etimologicamente vem do grego ''ψύχωσις'' (''psychosis'‘- um dar alma ou vida, animando, vivificando); ''ψυχή'' (''psyche'‘ – alma) e o sufixo ωσις'' (''-osis'') neste caso significa “condição anormal”. Pessoas vítimas de psicose podem relatar alucinações ou crenças delirantes, e podem apresentar alterações de personalidade e transtorno do pensamento. Dependendo de sua gravidade, este pode ser acompanhada por um comportamento incomum ou bizarro, bem como dificuldade de interação social e comprometimento na realização das atividades de vida diária O termo psicose apareceu no séc. XIX, criado em 1845 por Ernst Von Feuchtersleben, um filósofo austríaco que utilizava esta terminologia paradenominar, de uma maneira geral, as doenças do espírito. Assim, essa terminologia transformou-se sinônimo de alienação mental. A psicose, desde o início do século XX, refere-se a todas as patologias, independentes de sua etiologia, que associam a perda da realidade e a criação de uma pseudo-realidade. Dentro desse quadro, verifica-se um processo deteriorativo das funções do eu, em graus variáveis, e um sério prejuízo do contato com a realidade. Uma expressão utilizada no meio psicanalítico ao se referir à psicose é a exposição de um testemunho aberto do inconsciente. Uma grande variedade de doenças do sistema nervoso central, de ambos os venenos externas e doenças fisiológicas internas, pode produzir sintomas de psicose. No entanto, muitas pessoas incomuns e não compartilhados (distintos) experiências do que eles percebem ser diferentes realidades sem conexão a definição clínica da psicose. Por exemplo, muitas pessoas na população em geral sofreram alucinações relacionadas com a experiência religiosa ou paranormal. Como resultado, tem-se argumentado que a psicose é simplesmente um estado extremo de consciência que cai além das normas vivida pela maioria. Nesta visão, as pessoas que são clinicamente considerados psicóticos podem ser simplesmente ter experiências particularmente intensa ou perturbadora. Concepção freudiana da psicose A psicanálise vai ter como referência a posição do sujeito frente à castração e, consequentemente, ao Complexo de Édipo. Não se trata de classificar o tipo da doença e buscar uma cura pela remissão dos sintomas. O tratar leva em consideração a função que o sintoma tem para o sujeito. Analisando o caso “Schereber” em 1911, Freud afirma que o delírio não é um sintoma da psicose e sim uma tentativa de cura; movimento de estabilização. Os primeiros escritos da obra freudiana categorizavam os transtornos emocionais em três grupos e Freud os denominava de psiconeuroses . 1. As neuroses atuais: transtornos emocionais resultantes da ausência ou inadequação da satisfação sexual; seus sintomas não eram de natureza simbólica. Para tal transtorno a investigação deveria ser direcionada para as desordens sexuais atuais e não em acontecimentos importantes da vida passada. Sua etiologia, neste sentido, é somática e não psíquica. 2. As neuroses de transferência ou psiconeuroses de defesa. Engloba as histerias, fobias e as neuroses obsessivas. Segundo Freud, apenas estas poderiam produzir a transferência, pois para isso seria necessário dirigir catexias libidinais às pessoas (FREUD, 1916-17). 3. Neuroses narcísicas, ou seja, as psicoses. De acordo com Freud, a psicanálise não reunia condições para tratar esta “doença”, pois tais pacientes não conseguiam a revivescência do conflito patogênico e a superação da resistência devido à regressão. Freud supunha que essas pessoas abandonavam as catexias objetais e que sua libido objetal se transformava em libido do ego (FREUD, 1916-17). Psicose: Trata-se de uma disposição patológica de alto grau, onde o ego escapa da ideia incompatível, ligada inseparavelmente a um fragmento da realidade. O afastamento da ideia incompatível proporciona, consequentemente, um afastamento da realidade. Os efeitos desse afastamento podem ser percebidos a partir do surgimento de alucinações e confusão mental. “Portanto, é justificável dizer que o ego se defendeu da ideia incompatível através de uma fuga para a psicose”. (Freud,1894, pág 72) DISTINÇÃO ENTRE NEUROSE E PSICOSE Neuroses: os conflitos interiores do indivíduo, cujo significado inicial lhe escapa, remetendo para os conflitos infantis recalcados que serão acessíveis pela transferência. Psicoses: conflitos entre o indivíduo e o mundo, pouco ou dificilmente acessíveis pela transferência, mesmo com revelações diretas do inconsciente . No Rascunho H, a paranoia, Freud (1895) classifica então como psicoses: a confusão alucinatória, a paranoia e a psicose histérica. No texto “Neurose e Psicose” (1923-1925), Freud aponta uma diferença básica entre neurose e psicose: “a neurose é o resultado de um conflito entre o ego e o id, ao passo que a psicose é o desfecho análogo de um distúrbio semelhante nas relações entre o ego e o mundo externo”. (Freud,1923/1925, pág 189) Freud afirma que a neurose se caracteriza por uma recusa do ego em aceitar a poderosa pulsão do id, recusando a posição de mediador da satisfação pulsional. Ele opera a serviço do superego e da realidade (princípios morais), a partir do mecanismo do recalcamento. O material “recalcado” insiste em se fazer conhecido, logo, ele escolhe vias substitutas. O sintoma aparece, então, como sendo uma representação substitutiva. Tudo isso promove o quadro da neurose. Na psicose existe um conflito entre o ego e o mundo externo. O sujeito cria uma nova realidade e certamente essa nova realidade é construída de acordo com os impulsos desejosos do id. Freud menciona que a origem da neurose e da psicose é a frustração. A condição posterior à frustração é que vai determinar a estrutura. “O efeito patogênico depende do ego, numa tensão conflitual desse tipo, permanecer fiel à sua dependência do mundo externo e tentar silenciar o id, ou se ele se deixar derrotar pelo id e, portanto, ser arrancado da realidade.” A dinâmica da Psicose no Aparelho Psíquico Nesse tipo de mecanismo originário de defesa, o eu desestima / recusa a representação Incompatível / insuportável juntamente com seu afeto e se comporta como se a representação jamais tivesse existido. Assim, o rompimento efetuado pelo Eu com a representação incompatível, faz com que “esta fique inseparavelmente ligada a um fragmento de realidade, de modo que, à medida que o eu obtém esse resultado, também se desliga, total e parcialmente, da realidade” (FREUD, 1894, p. 65). Esse desligamento é a condição para que as representações recebam a vividez das alucinações e este estado é denominado de confusão alucinatória. Segundo Freud, o mecanismo que caracteriza as psicoses é verwerfung que pode ser traduzida por descartar, não aceitar, considerar inadequado levando em consideração as conotações de foco no descarte e na eliminação. Verwerfung vem do verbo verwerfen que significa rejeitar e forcluir. Freud utilizou essa terminologia referindo-se a um tipo de recusa arcaica no sentido de expulsão, de eliminação da ideia de castração. A Verwerfung “consistiria em rejeitar ao nível do processo primário algo que deveria ser simbolizado”. Freud verificou que o mecanismo fundamental que advinha na psicose não se referia a uma sensação recalcada no interior que era projetada para o externo, mas que o que foi abolido no interior volta do exterior. Ou seja, o que é cancelado dentro vem de fora pela alucinação ou pelo delírio. Psicose, Édipo e Castração: A psicose decorre de uma recusa da castração e caracteriza-se por um retorno ao estágio narcísico. A principal instancia psíquica reguladora do desejo é o superego que é herdado ao final do Édipo. O psicótico é excluído de uma parte essencial desta herança. Privado da alternativa desse intermediário, o sujeito psicótico se confronta imediatamente com a realidade. A negação/rejeição da realidade se dá originariamente na negação da realidade da castração, gerando assim um movimento que determinará as relações do sujeito psicótico com o mundo externo. Tipos de Psicose - Paranoia O significado literal da palavra paranoia vem do grego para=ao lado de, fora; e noia=de si, ou seja, ’’fora de si’’. Hipócrates usou o termo para se referir delírio com febre alta e outros autores a usaram como sinônimo de demências e loucura. Por seu significado não ser claro o suficiente, o termo caiu em desuso até o século XIX, quando é recuperado pela ciência psiquiátrica. A paranoia dentroda perspectiva psicanalítica Freud define a paranoia crônica como um modo patológico de defesa, como a histeria e neurose obsessiva, por exemplo. Atribui o termo defesa a resistência em recordar, e o mecanismo psíquico que a embasa, a repressão. Diante de uma realidade (incluise idéias ou sentimentos) que por algum motivo é insuportável, inaceitável ao sujeito ocorre à rejeição desta realidade. Esse seria um mecanismo de projeção defensivo, de rejeição. O sujeito projeta no exterior, geralmente, algum sentimento causado por um acontecimento recalcado e que lhe é insuportável para ser atribuído ao seu próprio eu. O mecanismo de projeção é uma defesa comum na nossa vida cotidiana, uma vez que, ao produzirmos uma modificação interna podemos atribuí-la a uma causa externa. Freud considera o delírio de projeção normal quando estamos conscientes de nossas modificações internas. Quando nos desligamos de nossas próprias modificações internas e atribuímos a causa de tudo ao exterior teremos a paranoia O delírio está relacionado com mecanismos de projeção, onde o conteúdo projetado no objeto externo faz este tornarse ameaçador e perseguidor. Através do delírio o sujeito tenta reconstituir a parte da realidade perdida, rejeitada, que na paranoia é sempre atribuída a um objeto externo. Por isso, uma pessoa que antes foi amada, mas cujo sentimento por ela foi recalcado, pode se tornar um perseguidor que tenta nos fazer mal ou mesmo que seja ele quem nos ama na verdade. No exemplo do caso Schreber, o sentimento de ser perseguido por seu médico Flechsig recalcava, na verdade, um sentimento de amor pelo mesmo, que por ser de cunho homoerótico foi recalcado e projetado, constituindo um delírio. Freud, em investigações junto a Jung e Ferenczi, descobriu que o ponto central da patologia de vários paranóicos é a defesa contra o desejo homossexual. O delírio descobre a relações entre vida social e erotismo, trazendo a tona o desejo sexual. Bell (2005) diz que ‘’Freud defende a tese -ainda válida -de que o delírio não é a doença em si, mas representa uma tentativa de recuperação. A catástrofe principal é a perda de contato com o mundo que faça sentido. ’’ Divide o delírio em quatro tipos, conforme a especificidade dele, mas todos com base na fantasia homossexual, segundo Freud. São elas: a) Delírio persecutório é a negação do sentimento de amor por outro ‘’eu não o amo, eu o odeio’’, que ainda sofre a transformação em ‘’ele me odeia, pois me persegue, então tenho direito de odiá-lo’’. Projeta-se no objeto de desejo o ódio pela própria existência deste desejo, tornando-o persecutório, e assim, justifica-se o ódio que ele nos causa. B ) Erotomania, onde o objeto é trocado ‘’não amo ele, amo ela’’, com o intuito de negar o desejo homoerótico. E a projeção transforma o ‘’eu a amo ‘’ em ‘’percebo que ela me ama’’. c) Ciúme delirante é quando se desconfia do parceiro (a) imaginando que ele (a) ama outros (as) pessoas, as quais o próprio sujeito é que está tentado a amar. D) Delírio de grandeza ou megalomania é uma rejeição do desejo como um todo’’eu não amo ninguém’’, centrando o desejo em si mesmo. Jaques Lacan ao se deparar com o caso da paciente Aimée, em 1931, passou a estudar a paranóia. A concepção do sujeito para ele era de que esse é a soma das representações conscientes e inconscientes empregadas em uma relação com o outro, logo, com a sociedade. Entendia o delírio como fenômeno elementar no sentido de estrutural, pois acredita que a paranóia é uma manifestação patológica da estrutura psicótica, por isso é elementar. Na estrutura psicótica, o Nome-do-Pai é foracluído, ou seja, não houve a inscrição da função significante primordial, pois foi foracluída do campo Simbólico e retorna no Real. Contardo Calligaris (1989) fala que não ocorre uma amarragem deste significante tornando-o o pólo central da organização da estrutura, como ocorreria na neurose. O que acontece é uma ‘’captonage’’ - ligação ou ponto de capton em outros autores - que liga significante e significado sem produzir uma amarragem definitiva que se constitua como pólo central deste saber. Isso permite pensar que existe algo que funciona, pode funcionar como metáfora, dar significação, mas não é uma amarragem em um lugar central e organizador do modo de ver o mundo. Os fenômenos elementares descritos na psiquiatria, delírio e alucinação, são sintomas da estrutura psicótica e essa não faz laço social por meio da linguagem, que pertenceria ao simbólico. A formação de um delírio está marcada pela certeza irredutível na ideia delirante, e esta ideia exclui o sujeito do vínculo social estabelecido pela linguagem porque o paranóico não demanda um saber do outro (Cromberg, 2000). Quando há uma situação em que o sujeito é chamado a referir- se ao nome-do-pai, a sustentar esse nome, a função foracluída responde no Real com a volta dos significantes que deveriam ter sido simbolizados. Este conjunto de significantes paternos, de repente, se impõe como referência paterna obrigatória, sem deixar de ser no Real, sem vínculo com o saber do sujeito. O delírio produziria uma metáfora que opera uma nova organização do saber do sujeito ao redor deste pólo central que permanecerá no Real (Calligaris, 1989). Por isso, o delírio paranóico é marcado pela certeza, é uma tentativa de organizar-se em torno de um saber, de substituir a metáfora neurótica. Esquizofrenia Esquizofrenia (do grego antigoσχιζοφρενία: formado por σχίζειν, skízein, 'separar, dividir', e φρήν, phrēn, phrenós, 'diafragma', a parte do corpo identificada com a ligação entre o corpo e a alma.O termo significa mais propriamente "cisão das funções mentais", considerando-se a sintomatologia da doença. A esquizofrenia é uma doença mental crônica que se manifesta na adolescência ou início da idade adulta. Sua frequência na população em geral é da ordem de 1 para cada 100 pessoas, havendo cerca de 40 casos novos para cada 100.000 habitantes por ano. No Brasil estima-se que há cerca de 1,6 milhão de esquizofrênicos; a cada ano cerca de 50.000 pessoas manifestam a doença pela primeira vez. Ela atinge em igual proporção homens e mulheres, em geral inicia-se mais cedo no homem, por volta dos 20-25 anos de idade, e na mulher, por volta dos 25-30 anos. Origens – teorias A teoria genética admite que genes podem estar envolvidos, contribuindo juntamente com os fatores ambientais para o desencadear do transtorno. "No caso de um dos pais sofrer de esquizofrenia, a prevalência da doença nos descendentes diretos é de 12%. Na situação em que ambos os pais se encontram atingidos pela doença, esse valor sobe para 40%". No entanto, mesmo na ausência de história familiar, a doença pode ainda ocorrer, sabe-se que cerca de 81% dos doentes de esquizofrenia não têm qualquer familiar em primeiro grau atingido pela doença e cerca de 91% não têm sequer um familiar afetado. Portanto, a causalidade genética ainda não é comprovada. Teoria Neurobiológica: defendem que a esquizofrenia é essencialmente causada por alterações bioquímicas e estruturais do cérebro, em especial com uma disfunção dopaminérgica, embora alterações em outros neurotransmissores estejam também envolvidas. A maioria dos neurolépticos (antipsicóticos) atua precisamente nos receptores da dopamina no cérebro, reduzindo a produção endógena deste neurotransmissor. Visão Psicanalítica Normalmente se remete a fase oral do desenvolvimento psicológico, na qual "a ausência de gratificação verbal ou da relação inicial entre mãe e bebê conduz igualmente a personalidades "frias" ou desinteressadas (ou indiferentes) no estabelecimento das relações". A ausência de relações interpessoais satisfatórias estaria assim na origem da esquizofrenia. A esquizofrenia implica em um retorno até o autoerotismo infantil.(p.162e 163). Caracteríza-se por uma perturbação do vinculo ego/objeto. Na esquizofrenia o desmoronar da realidade seria correlativo ao desmoronar da própria estrutura egóica. P. 166. Sintomatologia 1. delírios: são idéias falsas, das quais o paciente tem convicção absoluta. Por exemplo, ele se acha perseguido ou observado por câmeras escondidas, acredita que os vizinhos ou as pessoas que passam na rua querem lhe fazer mal. 2. alucinações: são percepções falsas dos órgãos dos sentidos. As alucinações mais comuns na esquizofrenia são as auditivas, em forma de vozes. O paciente ouve vozes que falam sobre ele, ou que acompanham suas atividades com comentários. Muitas vezes essas vozes dão ordens de como agir em determinada circunstancia. Outras formas de alucinação, como visuais, táteis ou olfativas podem ocorrer também na esquizofrenia. 3. alterações do pensamento: as idéias podem se tornar confusas, desorganizadas ou desconexas, tornando o discurso do paciente difícil de compreender. Muitas vezes o paciente tem a convicção de que seus pensamentos podem ser lidos por outras pessoas, ou que pensamentos são roubados de sua mente ou inseridos nela. 4. alterações da afetividade: muitos pacientes tem uma perda da capacidade de reagir emocionalmente às circunstancias, ficando indiferente e sem expressão afetiva. Outras vezes o paciente apresenta reações afetivas que são incongruentes, inadequadas em relação ao contexto em que se encontra. Torna-se pueril e se comporta de modo excêntrico ou indiferente ao ambiente que o cerca. 5. diminuição da motivação: o paciente perde a vontade, fica desanimado e apático, não sendo mais capaz de enfrentar as tarefas do dia a dia. Quase não conversa, fica isolado e retraído socialmente. Subtipos Atualmente, segundo o DSM IV, existem cinco tipos: Paranoide, é a forma que mais facilmente é identificada com a doença e na qual predominam os sintomas positivos. O quadro clínico é dominado por um delírio paranóide relativamente bem organizado. Os doentes de esquizofrenia paranóide são desconfiados, reservados, podendo ter comportamentos agressivos. Desorganizado, em que os sintomas afetivos e as alterações do pensamento são predominantes. As ideias delirantes, embora presentes, não são organizadas. Em alguns doentes pode ocorrer uma irritabilidade associada a comportamentos agressivos. Existe um contacto muito pobre com a realidade. Catatônico, caracterizado pelo predomínio de sintomas motores e por alterações da atividade, que podem variar desde um estado de cansaço e acinesia até a excitação. Indiferenciado, que apresenta habitualmente um desenvolvimento insidioso com um isolamento social marcado e uma diminuição no desempenho laboral e intelectual. Observa-se nestes doentes uma certa apatia e indiferença relativamente ao mundo exterior. Residual, em que existe um predomínio de sintomas negativos: os doentes apresentam um isolamento social marcado por um embotamento afetivo e uma pobreza ao nível do conteúdo do pensamento. Existe também a denominada esquizofrenia hebefrênica, que incide desde a adolescência, com o pior dos prognósticos em relação às demais variações da doença e com grandes probabilidades de prejuízos cognitivos e socio- comportamentais. Tratamento O tratamento da esquizofrenia visa ao controle dos sintomas e a reintegração do paciente. O tratamento da esquizofrenia requer duas abordagens: medicamentosa e psicossocial. O tratamento medicamentoso é feito com remédios chamados antipsicóticos ou neurolépticos. Eles são utilizados na fase aguda da doença para aliviar os sintomas psicóticos, e também nos períodos entre as crises, para prevenir novas recaídas. As abordagens psicossociais são necessárias para promover a reintegração do paciente à família e à sociedade. A experiência clínica indica que o melhor momento para iniciar o tratamento da esquizofrenia é logo após o aparecimento dos primeiros sintomas. Se a sintomatologia psicótica permanecer sem tratamento por longos períodos, o prognóstico do tratamento é menos favorável. Assim, é vital o reconhecimento precoce dos sinais da esquizofrenia para que se possa procurar uma ajuda rápida Os principais objetivos da psicoterapia na esquizofrenia são: Interromper a perda da capacidade mental, preservando o contato com a realidade; Restaurar a capacidade de cuidar de si e de administrar sua vida, e manter o máximo de autonomia para promover o melhor ajustamento pessoal, psicológico e social possível; Diminuir o isolamento; Reconhecer e reduzir a natureza ameaçadora dos eventos da vida, para os quais existe uma sensibilidade particular; http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofrenia Conscientizar o portador sobre a realidade de seus recursos e limitações, tanto ajudando a descobrir e realizar seu potencial, quanto ajudando na aceitação de suas limitações; Aumentar suas defesas diante de situações estressantes, liberando recursos que, eventualmente, estejam obstruídos pela psicose e desenvolver fontes alternativas para a solução de seus problemas; Recuperar e promover a auto-estima, a auto-imagem e a autoconfiança, proporcionando contínuo progresso; Estimular a independência, os cuidados consigo mesmo em questões de higiene e capacitar o paciente para as atividades da vida diária O diagnóstico psicanalítico A palavra diagnosticar tem origem francesa, na palavra diagnostic, que vem do grego diagnostkóns, que quer dizer “capaz de ser discernível”. Discernir consiste na utilização de conceitos para estabelecer distinções e semelhanças entre coisas. A Psicanálise diferentemente da Psiquiatria não tem como primazia os sintomas como sinais, mas privilegia a escuta do inconsciente. Pode-se afirmar que a psicanálise, com sua ética, denominada por Lacan como a ética do bem dizer, tem relação com a linguagem e o sujeito. “Dando primazia ao discurso do paciente, Freud descobre que o inconsciente tem leis próprias, e que estas estão referidas a uma maneira própria a cada pessoa de dar conta do sexual. Ele passa do trauma para as fantasias, apontando para o seu núcleo: a castração. O Édipo é a sustentação simbólica do temor à castração. É a entrada do sujeito na cultura pela via da interdição operada pelo pai enquanto no lugar de lei”. (Psicanálise – Pesquisa e Clínica, “O diagnóstico na psicanálise: da clínica dos fenômenos à clínica da estrutura”. Ondina Maria Machado,200 , pág 40) a psicanálise vai ter como referência a posição do sujeito frente à castração e, consequentemente, ao Complexo de Édipo. Não se trata de classificar o tipo da doença e buscar uma cura pela remissão dos sintomas. O tratar leva em consideração a função que o sintoma tem para o sujeito. A psicanálise faz uso do diagnóstico estrutural e não do diagnóstico descritivo de sinais e sintomas. Sempre parte-se da relação estabelecida pelo sujeito com a linguagem, para que seja possível pensar num diagnóstico. “Ao apólogo médico “diagnosticar para tratar”, Freud contrapõe o “diagnosticar tratando”, mostrando que o diagnóstico em psicanálise é uma construção, e não uma classificação. Não basta circunscrever um nome e dá-lo ao sujeito, pois este, na sua eterna excentricidade,nunca vai estar lá onde é esperado. O diagnóstico psicanalítico visa a causa mas não a doença e sim o sujeito”. Ao se pensar no diagnóstico em psicanálise, deve-se inicialmente observar a transferência. A transferência na psicose A transferência designa-se pelo processo onde os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos e num certo tipo de relação, como a experiência analítica, que consiste numa relação de protótipos infantis atualizados no presente. Lacan apresenta um conceito fundamental para falar da transferência, conceito denominado de “Sujeito SupostoSaber”, que fala de uma posição suposta do analisando para com seu analista. Suposição de que o analista sabe da verdade do inconsciente de seu analisando. Ao estudar a psicose, Lacan percebe uma especificidade no que se refere ao “Sujeito Suposto Saber”, percebendo que, na posição de analista, é fundamental fazer um agenciamento do paciente com o mundo externo, ou seja, acompanhá-lo de uma maneira particular. A este conceito, Lacan o nomeou de “Secretário do Alienado”. Um tratamento possível para as psicoses, segundo Lacan, consiste na premissa de que parte-se de um mal-entendido fundamental, com o qual os analistas se deparam e visam tomá-lo “ao pé da letra”, ou seja, considerá-lo como inerente ao funcionamento psicótico. Ao considerar que o registro da fala explicita toda a riqueza da fenomenologia da psicose em sua tentativa de burlar a lei simbólica, a proposta da psicanálise é escutá-la como qualquer discurso, sendo o delírio um campo de significação que organiza um significante para o psicótico. O psicótico parece fixado, imobilizado numa posição que o coloca sem condições de restaurar autenticamente o sentido do que ele testemunha. Está aí um lugar possível ao analista, como “secretário do alienado”, fazer circular sua produção e procurar com ele um significante que possa reorientar sua posição subjetiva. Lacan afirma que “secretário do alienado” é a posição que o analista deve ocupar. Não é uma posição de contestar a certeza do alienado, mas sim de acompanhar o seu percurso, de ouvir o que o sujeito tem a nos dizer. Na realidade, o trabalho do “secretário do alienado” visa tornar a relação com o outro menos ameaçadora, funcionando o laço analítico como um modo de sustentação para o sujeito psicótico. Em relação à paranóia, o sujeito tem a certeza do saber, que é comunicado ao analista. Já na esquizofrenia, onde a mediação simbólica é mais precária do que na paranóia, o outro não é percebido como semelhante, mas sim como invasor, como ameaça absoluta. A função do analista é servir de mediação e oferecer-se como semelhante. Bibliografia recomendada GUERRA, Andreia M.C. A Psicose, Rio de Janeiro: Zahar, 2010. SIMANKE, Richard Theisen. A formação da teoria freudiana das psicosesSão Paulo: Edições Loyola,2009. FOUCAULT, Michel. História da Loucura, São Paulo: Perspectiva, 1999. JULIEN, Philippe. Psicose, perversão, neurose:a leitura de Jacques Lacan. Rio de Janeiro: Companhia de Freud,2002. PORTER, Roy. Uma História Social da Loucura. Rio de Janeiro: Zahar, 1991. Textos das Obras de Freud e Lacan FREUD, Sigmund(1894). As neuropsicoses de defesa. -----(1896) “Novas Observações sobre as neuro-psicoses de defesa” . ----(1911 a). Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia autobiograficamente descritivo. ___(1924 a). Neurose e Psicose. ___(1924 b). A perda da realidade na neurose e na psicose. ___(1924 c). O sepultamento do Complexo de Édipo. LACAN, J. “De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose” [1966]. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1998. LACAN, J. O Seminário. Livro 3: As psicoses. Trad. Aluisio Menezes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985. Conceitos de Pinel Conceito de Saúde Mental Loucura e Doença Mental Conceito geral de Psicose Concepção freudiana da psicose Tipos de Psicose - Paranoia A paranoia dentro da perspectiva psicanalítica Esquizofrenia Origens – teorias A teoria genética admite que genes podem estar envolvidos, contribuindo juntamente com os fatores ambientais para o desencadear do transtorno. "No caso de um dos pais sofrer de esquizofrenia, a prevalência da doença nos descendentes diretos é de 12%. ... familiar, a doença pode ainda ocorrer, sabe-se que cerca de 81% dos doentes de esquizofrenia não têm qualquer familiar em primeiro grau atingido pela doença e cerca de 91% não têm sequer um familiar afetado. Portanto, a causalidade genética ainda não ... Visão Psicanalítica Subtipos Tratamento O diagnóstico psicanalítico A transferência na psicose Bibliografia recomendada