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1 NOTA DE AULA 03: BACIA HIDROGRÁFICA – PARÂMETROS CA RACTERÍSTICOS Características Físicas e Morfológicas de uma Bacia Hidrográfica São elementos de grande importância em seu comportamento hidrológico. Existe uma estreita correspondência entre o regime hidrológico e estes elementos. Permitem conhecer a variação no espaço do regime hidrológico. Área de Drenagem - A A área de drenagem A de uma bacia é a área plana em projeção horizontal, inclusa entre os seus divisores topográficos. A área é o elemento básico de cálculo das outras características físicas da bacia. Unidade; km² 1 km² = 1000 m × 1000 m = 1.000.000 m² ou 106 m² 1 ha = 100 m × 100 m = 10.000 m² ou 104 m² Logo, 1 km² = 100 ha Forma da Bacia A forma superficial é importante devido ao tempo de concentração tc que é definido como o tempo contado desde o início da chuva, para que toda a bacia esteja contribuindo para a vazão no exutório da mesma. Existem índices que são utilizados para determinar a forma da bacia e procura relacioná-la com formas geométricas conhecidas. Coeficiente de Compacidade Kc ou Índice de Gravelius Kc É a relação entre o perímetro da bacia e a circunferência de um círculo de área igual à da bacia. Sendo A = π r² (área do círculo) logo: π A r = mas r P K baciac π2 = substituindo r : A P K baciac 28,0= UNIVERSIDADE DE FORTALEZA CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DISCIPLINA DE HIDROLOGIA APLICADA 2 Quanto mais irregular for a bacia, maior será o valor de Kc . Quanto mais próximo de 1,0 for o valor de Kc maior será a propensão para enchentes rápidas terá a bacia. Exemplo: Ambas bacias abaixo tem área de 30 Km². A primeira, bacia 1 tem um perímetro de 20,1 Km e a segunda, bacia 2, tem um perímetro de 28,1 Km. Qual será a mais propensa a enchentes rápidas ? Kc1 = 0,28 P/A 0,5 = 0,28 × 20,1/ 5,47 = 1,02 Kc2 = 0,28 × 28,1/5,47 = 1,43 Logo a bacia 1 tem mais propensão a enchentes rápidas do que a bacia 2. Fator de Forma – K f É a relação entre a largura média e o comprimento axial da bacia. Mede-se o comprimento axial L quando se segue o curso d`água mais longo desde a foz até a cabeceira (nascente mais distante) da bacia. A Largura média L é definida por: L A L = e L L K f = logo 2L A K f = Quanto maior for Kf maior será a propensão a enchentes. Significa que o L é menor e a forma da bacia é mais compacta. Bacia 1 A = 30 km² P = 20,1 km Bacia 2 A = 30 km² P = 28,1 km 3 Um baixo valor de Kf significa que a bacia é mais estreita e alongada, havendo menor possibilidade de ocorrência de chuvas intensas cobrindo simultaneamente toda a sua extensão. Sistema de Drenagem Constitui o sistema de talvegues formado pelo rio principal e seus tributários ou afluentes. serve para indicar a maior ou menor velocidade com que a água deixa a bacia (chega no exutório). Ordem dos Cursos D`água A ordem dos rios é uma classificação que reflete o grau de ramificação ou bifurcação da bacia hidrográfica. Classificação de Horton-Strahler Ordem 1: São as correntes formadoras ou primeiros canais sem nenhum tributário Ordem 2: Quando se unem 2 canais de Ordem 1 Ordem 3: Quando se unem 2 canais de Ordem 2 Ordem 4: Quando se unem 2 canais de Ordem 3 etc... Densidade de Drenagem Dd É a relação entre o comprimento total dos cursos d`água (sejam eles efêmeros, intermitentes ou perenes) dividido pela área da bacia. 4 A L Dd ∑= A densidade de drenagem varia inversamente com a extensão do escoamento superficial, fornecendo uma indicação da eficiência de drenagem da bacia. Quanto maior for o valor da Dd maior será a rapidez com que a água chega ao exutório da bacia. Varia de 0,5 km / km² para bacias com drenagem pobre até 3,5 km/km² para bacias excepcionalmente bem drenadas. Extensão Média do Escoamento É definido como a distância média em que a água da chuva teria de escoar sobre os terrenos da bacia ( overland flow ), caso o escoamento se desse em linha reta desde onde a chuva caiu até o ponto mais próximo no leito de um curso d`água qualquer da bacia. Considerando que uma bacia de área A possa ser representada por uma área de drenagem retangular, tendo um curso d`água de extensão L passando em seu centro, a extensão média do escoamento superficial será: A = 4× L× l Logo d d D l A L Dmas L A l 4 1 4 === ∑ Sinuosidade do Curso d`água É a relação entre o comprimento do rio principal Ld e o comprimento de uma linha reta sobre o talvegue principal ligando a nascente à foz, Lt. Logo t d L L Sin = 5 Razão de Bifurcação – Rb Este índice é expresso como sendo o anti-logaritmo da declividade da reta traçada em papel mono-log, representando a relação entre a ordem dos cursos d`água e a quantidade respectiva destes. )(log 1 α−=Rb α = declividade da reta (ver exemplo adiante) Características do Relevo de uma Bacia O relevo de uma bacia tem grande influência sobre os fatores meteorológicos e hidrológicos. A velocidade do escoamento superficial é determinada pela declividade do terreno, enquanto que a temperatura, precipitação e evaporação são funções da altitude da bacia. Para melhor entendimento das características físicas e morfológicas de uma bacia hidrográfica, apresentaremos o exemplo de uma bacia hidrográfica real de um riacho afluente ao Rio Carás em Juazeiro do Norte-CE, denominado Riacho Maroto, cujo mapa é mostrado na Figura 1 seguinte. 6 Figura 1: Bacia Hidrográfica do Riacho Maroto em Ju azeiro do Norte-CE. A Figura 2 mostra a composição da malha quadriculada empregada para determinação dos parâmetros morfológicos da bacia. 7 Figura 2: Malha Quadriculada para determinação dos parâmetros da bacia. A Figura 3 apresenta detalhes da bacia. Figura 3: Detalhes da Bacia Hidrográfica (colorido entre as curvas de nível) A Tabela 1 apresenta os parâmetros gerais da bacia hidrográfica. Tabela 1: Parâmetros Físicos da Bacia 8 Parâmetro Físico Medido Unidade Valor Área da bacia km2 3,07 Comprimento axial da bacia km 3,15 Perímetro da bacia km 7,7 Somatório dos comprimentos dos talvegues km 8,75 Comprimento da linha reta sobre o rio principal km 3,13 Comprimento desenvolvido do rio principal km 3,5 A Tabela 2 apresenta o estudo de declividade e orientação dos vetores de declividade da bacia, que serão empregados na Prática 02 de laboratório. Tabela 2: Declividade e Orientação dos Vetores da B acia Vetor Comprimento (m) Diferença de Nível (m) Declividade (m/m) Azimute Verdadeiro ( °°°°) 1b 105 16 0,152 55 1c 140 20 0,143 144 1d 175 30 0,171 71 2b 245 15 0,061 159 2c 105 20 0,190 180 2d 175 20 0,114 38 2e 35 05 0,143 146 3c 210 20 0,095 180 3d 70 05 0,071 52 3e 140 10 0,071 233 4b 105 10 0,095 332 4c 35 10 0,286 90 4d 770 15 0,019 226 5a 805 18 0,022 79 5b 420 16 0,038 79 5c 420 18 0,043 149 5d 700 18 0,026 125 6a 350 10 0,029 19 6b 140 8 0,057 221 6c 175 16 0,091 70 6d 140 10 0,071 159 7b 700 16 0,023 145 7c 420 16 0,038 211 8b 210 10 0,048 338 8c 245 10 0,041 228 O cálculo da declividade média da bacia é feito com o emprego de uma planilha semelhante à mostrada na Tabela 3. Tabela 3: Distribuição de Declividade 9 Coluna 1 Coluna 2 Coluna 3 Coluna 4 Coluna 5 Coluna 6 Coluna 7 Coluna 8 Classe Declividade Inferior (m/m) Declividade Superior (m/m) Declividade Média do Intervalo (m/m) Freqüência Absoluta Frequência Relativa Coluna 4 ×××× Coluna 6 ( 1 −−−− acumulada de Fr) 1 0,000 ≤ 0,029 0,015 4 0,16 0,002 0,84 2 0,029 0,058 Etc 3 0,058 0,087 4 0,087 0,116 50,116 0,145 6 0,145 0,174 7 0,174 0,203 8 0,203 0,232 9 0,232 0,261 10 0,261 0,290 Somatório ---------- ----------- --------- 25 1,00 ??? --------- A curva de declividade resultante é apresentada na Figura 4. A declividade é importante porque controla a velocidade com que se dá o escoamento superficial. 10 11 A curva hipsométrica é a representação gráfica do relevo médio de uma bacia hidrográfica. Representa a variação da elevação dos vários terrenos da bacia em relação ao nível médio do mar. Essa variação é indicada num gráfico que mostra a porcentagem da área de drenagem que existe acima ou abaixo das várias elevações, planimetrando-se as áreas entre as curvas de nível da bacia. A Tabela 4 mostra os dados para determinação da curva hipsométrica da bacia, enquanto que a Figura 5 mostra a curva hipsométrica. Tabela 4 : Dados para Curva Hipsométrica Coluna 1 Coluna 2 Coluna 3 Coluna 4 Coluna 5 Coluna 6 Coluna 7 Intervalo de Cotas (m) Ponto Médio (m) Área Medida (km 2) Área Acumulada (km 2) % do Total % Acumulada Coluna 2 ×××× Coluna 3 540 –520 530 0,01 0,01 0,33 0,33 5,30 520 – 500 510 0,07 500 – 480 490 0,12 480 – 460 470 0,17 460 – 440 450 0,18 440 – 420 430 0,33 420 – 400 410 0,86 400 – 380 390 1,33 3,07 100,00 Somatório 3,07 100 ---------- ??? 12 Figura 5: Curva Hipsométrica da bacia. A declividade de álveo é a declividade do curso d’água da qual depende a velocidade dos canais fluviais. Quanto maior for a declividade de álveo, maior será a velocidade da água nos rios e os hidrogramas de enchentes serão mais estreitos e pronunciados (maior pico). Há três declividades a considerar: S1 , S2 e S3 a saber: S1: É a declividade entre a foz e a nascente S2: É a declividade tal que a área entre S2 e a abscissa seja igual à compreendida entre a curva do perfil e a abscissa. S3: É a declividade equivalente constante. Dá uma idéia do tempo de percurso da água ao longo da extensão do perfil longitudinal. A Tabela 5 apresenta os dados para cálculo das declividades. Tabela 5: Declividade do Curso d`Água Principal Coluna 1 Coluna 2 Coluna 3 Coluna 4 Coluna 5 Coluna 6 Coluna 7 Trecho Cotas (m) Diferença de Nível ∆∆∆∆H (m) Comprimento (m) Declividade Di (m/m) Si = ( √√√√Di ) L i/Si 1 470 – 460 10 35 0,2857 0,5345 65,48 2 460 – 440 20 140 3 440 – 420 20 175 4 420 – 400 20 1050 5 400 – 380 20 2100 Somatório --------- -------- 3500 ??? A declividade S1 é calculada pela equação: total total L H S ∆ =1 A declividade S3 é calculada por: 2 3 ∑ ∑ = i i i D L L S lembrando que Si = √Di Para cálculo do Retângulo Equivalente é apresentada a Tabela 6 com os dados necessários para sua composição. Tabela 6: Dados para Construção do Retângulo Equiva lente 13 Coluna 1 Coluna 2 Coluna 3 Cotas (m) Fração de Área Acumulada (%) Comprimentos Acumulados (km) 540 - 520 0,33 ? 520 - 500 2,61 ? 500 - 480 6,52 ? 480 - 460 12,06 ? 460 - 440 17,92 ? 440 - 420 28,67 ? 420 - 400 56,68 ? 400 - 380 100,00 ? Os valores de L ( comprimento) e l (largura) são dados por: −+= 2 128,1 11 128,1 c c K AK L −−= 2 128,1 11 128,1 c c K AK l O retângulo equivalente deve ser desenhado como mostrado abaixo: L l COTAS 540 380 A declividade de álveo é mostrada na Figura 6, e a razão de bifurcação na Figura 7. 14 Figura 6: Declividade de Álveo 15 Figura 7: Razão de Bifurcação Tempo de Concentração - tc Chama-se tempo de concentração ao tempo que leva para que a chuva caída no ponto mais distante da seção exutória da bacia, percorra sua trajetória até atingir esta seção exutória. Assim, iniciando-se a contagem dos tempos no início da chuva, considerando que esta cubra toda a bacia hidrográfica, o tempo de concentração medirá o tempo que levará para que toda a bacia hidrográfica esteja contribuindo para a vazão no exutório da mesma. Fórmulas Usuais 16 1) Para grandes bacias (predominantemente rurais) Fórmula do Califórnia Highways and Public Roads 385,03 57 ∆ ⋅= H L tc onde: tc = tempo de concentração em minutos; L = comprimento do maior talvegue em km; ∆H = diferença máxima de nível no talvegue (Cota maior – cota menor) em m. 2) Para superfícies planas (zonas urbanas) Fórmula de McCuen (adapatada para unidades métricas) ( ) 4,0 2 8,0 4732,5 SP Ln tc ⋅ ⋅⋅= onde: tc = tempo de concentração em minutos L = comprimento máximo do fluxo à seção de controle (m); S = declividade da superfície do terreno (m/m) P2 = precipitação de 1 dia para um período de retorno de 2 anos (mm); n = coeficiente de Manning da superfície O coeficiente de Manning pode ser determinado através de tabelas específicas nos livros de hidrologia, sendo que na Tabela 7se apresentam valores usuais. Tabela 7: Coeficientes Usuais de Manning para Superfícies Planas Superfície n Concreto liso 0,012 Concreto rugoso 0,014 Calçamento de pedra tosca 0,018 Calçamento em paralelepípedo 0,016 Tijolos cimentados (rebocados) 0,014 Grama baixa 0,015 Grama densa 0,024 Capim 0,041 Mata com gravetos esparsos 0,400 Mata com gravetos adensados 0,800
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