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BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS AULA 3 Prof. Antonio Siemsen Munhoz e Prof. Daniel Weigert Cavagnari 2 CONVERSA INICIAL Agora que temos a real noção de como as moedas funcionam, para que servem e como se dinamizam, conforme a teoria tradicional da moeda, vejamos como seria se tudo isso estivesse para mudar. Mas calma, quando exageradamente dizemos que moedas digitais vão mudar tudo o que se entende por moeda, isso não diz respeito exatamente a um contexto geral, mas apenas em grande parte estrutural. Nesta aula, iniciaremos os estudos acerca das criptomoedas, do seu surgimento e da sua dinâmica de funcionamento. Fique atento, há muitas novidades aqui e que abrem uma visão que com certeza vai nos orientar a estarmos preparados para o futuro e, quem sabe, possamos mudá-lo também. CONTEXTUALIZANDO Lembro-me quando criança da primeira vez em que descobri o princípio do conceito de moeda e acredito que isso tenha me inspirado a simpatizar tanto com finanças muito antes dos computadores se popularizarem. Era um fim de semana inteiro de festa junina, não diferente das atuais. Quentão, pinhão, pipoca, entre outras delícias da minha infância. O mais interessante é que não dá para esquecer dos tão conhecidos e práticos vales. Vale pipoca, refrigerante, quentão. Vale para tudo que precisasse comprar. Os pais se dirigiam ao caixa e compravam os vales necessários para alegria dos seus filhos. Crédito: Diogo PPR/Shutterstock. 3 Veio à tona essa lembrança porque a relação das criptomoedas com esses vales é muito próxima. Note que a criação de moeda também era possível, pois a impressão desses papeis, com valor, mesmo que em mimeógrafos, ocorria apenas para quem tivesse a possibilidade de acesso a equipamentos, à tecnologia da época. O mais notável é que, em algumas festas, alguns produtos acabavam mais cedo do que se esperava e a quantidade de vales coletados não batia com os registros nos caixas. Obviamente, alguns que tinham acesso copiavam e imprimiam vales, corrompendo e estragando a festa para levar vantagem, causando um desfalque tamanho. Pela experiência de muitos anos, lembro-me de uma comissão de professores que ficavam nas bancas e que tinham sido treinados para observar uma particularidade que não era reproduzida facilmente, como uma marca ou assinatura feita com suco de limão se não me engano. A partir daquele momento, a moeda vale consumo estaria garantida contra fraudes e a festa estaria garantida. Note que a segurança desses vales não estava somente nas marcas, mas nas pessoas que auditavam em tempo real o recebimento desses vales. Agora imagine se, na época, se é que realmente não o fizeram, numerassem os vales na ordem em que fossem separados e em que cada um tivesse um registro dessa operação. Assim, eu numero um vale com um algoritmo que cria um dígito verificador, como no CPF. Exemplo 12330 ([1 + 2 + 3] / 2 = 3,0). No vale seguinte, 12435 ([1 + 2 + 4] / 2 = 3,5) e, em letra menor, logo abaixo, escreveria o número do vale que o antecedeu (12330) e o número do próximo vale (12540). Ainda, registraria em uma folha a sequência de vales emitidos com seus respectivos números e a ordem de impressão. Entregaria uma cópia dessa folha a cada professor, que receberia os vales nas bancas. O professor apanharia o vale, resolveria o algoritmo para conferir e observaria a sequência na lista. O prêmio para isso seria a garantia antifraude. Podemos até chamar esse processo e registro de blockchain (cadeia de blocos). Então, assim como essa segurança seria maior para os vales, para as criptomoedas ocorre o mesmo. A segurança em si não está totalmente na criptografia, mas no processo. Para cada operação de compra e venda e até mesmo de criação da criptomoeda, ocorre uma validação em tempo real no blockchain, que é é a folha que contém o registro dos vales. Bem, sobre esse processo e o blockchain veremos mais adiante. 4 TEMA 1 – CRIPTOMOEDAS – CONCEITO E ORIGEM Figura 1 – Criptomoedas Crédito: Wit Olszewski/Shutterstock. São raras as pessoas que não ouviram falar ainda das criptomoedas, ainda mais a mais famosa de todas, o bitcoin. Isso mesmo, há várias moedas em processo de surgimento e ascensão e conheceremos aqui algumas delas. Mas, afinal, o que é uma criptomoeda? O conceito é simples, mas ela possui algumas características próprias. Criptomoeda é toda e qualquer moeda que existe apenas digitalmente (isso mesmo, ela não é impressa), suportada por uma tecnologia denominada blockchain e descentralizada, ou seja, ela não é controlada como ocorre com as moedas fiduciárias, como o Real, Dólar, Euro, entre outras. As criptomoedas têm a mesma função de qualquer outra moeda comum, desde comprar até sua especulação no mercado, dado seu preço, mas claramente com um maior dinamismo, em todos os sentidos. 1.1 Origem das criptomoedas e a crise financeira de 2008 A primeira criptomoeda, com seu conceito de moeda eletrônica, descentralizada e segura, foi o bitcoin. Criada em 2009, logo após a crise financeira global de 2008 pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto (isso mesmo, não se sabe até hoje se Nakamoto era o pseudônimo de um programador ou um grupo de programadores), mas de qualquer forma ela manteve-se pela sua clareza e certeza de que não haveria alguém a controlando, assim como os bancos centrais, bancos e casas da moeda. 5 Sabemos que o dinheiro fiduciário é controlado pelo Banco Central, que determina e controla a quantidade de dinheiro em circulação. Os bancos também criam moeda a todo momento, apenas com seus empréstimos baseados em uma fração do depósito à vista. Já nas criptomoedas isso não ocorre. Elas só são criadas a partir de um trabalho, no caso do bitcoin, a mineração, como é chamada. Tampouco há controle do bitcoin – mas apenas criação e registro. Então você se pergunta: alguém, em algum lugar no mundo, conseguirá desligar o bitcoin? A resposta está na pergunta que surgiu já no início dos anos 1990: onde desligamos a internet? Assim como a própria rede mundial, o bitcoin, assim como as altcoins (as outras criptomoedas não bitcoin), é um “acidente” descontrolado, porque ele pertence a todos e a ninguém ao mesmo tempo. Cada computador da rede que opera o blockchain (livro de registro das operações do bitcoin) possui uma cópia de todas as transações da moeda desde que foi criada, através da rede P2P (peer-to-peer). P2P significa que não há um acesso a determinado site ou um agente que disponibilize o acesso. Ele é dividido e compartilhado por todos os computadores que operam simultaneamente. Eu explico: imagine que você faz a compra de uma música na rede do iTunes. Paga pela música e faz o download. Quem lhe disponibiliza esse download é o iTunes e se ele não quiser mais vender aquele álbum ou música, simplesmente retira do ar e ninguém mais baixa. Pelo P2P (ponto-a-ponto), isso não ocorre, porque não há um local específico onde a música está instalada, pois ela está em todo ou em partes espalhada por diversos usuários. Se apagar o arquivo de um, existirão outros milhares com uma cópia. O P2P surgiu no berçário da internet, ainda nos anos 80, e ficou famoso na distribuição de músicas piratas pelo sistema Napster de 1999 a 2002. Se, por exemplo, o lançamento do iPod em 2001, juntamente com o iTunes da Apple, mudou toda a indústria da música, o motivo pelo aceite dessa mudança foi definitivamente o Napster. Assim, em 3 de janeiro de 2009, às 18h15 UTC, Satoshi Nakamoto registra o primeiro bloco (bloco gênesis), pagando a recompensa de 50 bitcoins. Como desde o primeiro registro permanece em milhares de computadores, juntamente com todas as operações, é possível vislumbrá-lo na Blockchain. 6 Figura 2 – Ilustração do primeiro registro do bitcoin em 2009 Fonte: Blockchain, 2019. Quadro 1 – Livrode registro (blockchain) Altura Hora Hash (chave pública) Tamanho (em kB) 1 (Sequência Principal) 2009-01-09 02:54:25 00000000839a8e6886ab5951d76f4114754 28afc90947ee320161bbf18eb6048 0.21 2 (Sequência Principal) 2009-01-09 02:55:44 000000006a625f06636b8bb6ac7b960a8d0 3705d1ace08b1a19da3fdcc99ddbd 0.21 3 (Sequência Principal) 2009-01-09 03:02:53 0000000082b5015589a3fdf2d4baff403e6f0 be035a5d9742c1cae6295464449 0.21 4 (Sequência Principal) 2009-01-09 03:16:28 000000004ebadb55ee9096c9a2f8880e09d a59c0d68b1c228da88e48844a1485 0.21 5 (Sequência Principal) 2009-01-09 03:23:48 000000009b7262315dbf071787ad3656097 b892abffd1f95a1a022f896f533fc 0.21 6 (Sequência Principal) 2009-01-09 03:29:49 000000003031a0e73735690c5a1ff2a4be8 2553b2a12b776fbd3a215dc8f778d 0.21 7 (Sequência Principal) 2009-01-09 03:39:29 0000000071966c2b1d065fd446b1e485b2c 9d9594acd2007ccbd5441cfc89444 0.21 8 (Sequência Principal) 2009-01-09 03:45:43 00000000408c48f847aa786c2268fc3e6ec2 af68e8468a34a28c61b7f1de0dc6 0.21 9 (Sequência Principal) 2009-01-09 03:54:39 000000008d9dc510f23c2657fc4f67bea300 78cc05a90eb89e84cc475c080805 0.21 10 (Sequência Principal) 2009-01-09 04:05:52 000000002c05cc2e78923c34df87fd108b22 221ac6076c18f3ade378a4d915e9 0.21 11 (Sequência Principal) 2009-01-09 04:12:40 0000000097be56d606cdd9c54b04d4747e 957d3608abe69198c661f2add73073 0.21 12 (Sequência Principal) 2009-01-09 04:21:28 0000000027c2488e2510d1acf4369787784 fa20ee084c258b58d9fbd43802b5e 0.21 13 (Sequência Principal) 2009-01-09 04:23:40 000000005c51de2031a895adc145ee2242 e919a01c6d61fb222a54a54b4d3089 0.21 14 (Sequência Principal) 2009-01-09 04:33:09 0000000080f17a0c5a67f663a9bc9969eb3 7e81666d9321125f0e293656f8a37 0.21 Fonte: Blockchain, 2017. Quadro 2 – Bloco 0 – Primeiro registro do bitcoin na blockchain Hash: 000000000019d6689c085ae165831e934ff763ae46a2a6c172b3f1b60a8ce26f Número de Transações 1 Total de Saída 50 BTC Volume Estimado de Transações 0 BTC Taxas de Transação 0 BTC Altura 0 (Sequência Principal) Timestamp 2009-01-03 18:15:05 Hora de Recepção 2009-01-03 18:15:05 Transmitido Por Unknown Dificuldade 1 Bits 486604799 Tamanho 0.285 kB Peso 0.896 kWU Versão 1 Nonce 2083236893 Fonte: Blockchain, 2009. 7 1.2 O fenômeno criptomoeda Lansit e Lakhani (2017), a convite da HBR – Harvard Business Review, uma das mais conceituadas revistas existentes no mercado administrativo, tratam do tema em seu nascedouro, como área da ciência mais ampla e que trata o tema em sua devida medida, como um fenômeno econômico, investigando mais a fundo a conceituação blockchain. Esses autores consideram que contratos, transações de negócios e o registro dessas situações estão entre as estruturas que exigem uma definição clara, de modo a facilitar a compreensão dos sistemas políticos, econômicos e legais, vigentes no tecido social. É preciso evitar que ele seja apresentado aos olhos dos leitores como um inconsútil véu, que impede que a realidade seja vista como ela realmente é. Em suas considerações mais aprofundadas sobre o fenômeno, cuja ponta do iceberg é a criptomoeda, esses pesquisadores consideram como de maior importância social, devido aos devastadores efeitos que uma economia digital mal dirigida poderia trazer a bordo de um neoliberalismo galopante e cada vez mais voraz em seu propósito de deslocar interesses sociais (que deveriam existir em todas as relações humanas) em benefício do particular e de capitais investidos. A transformação digital está por trás de muitos fenômenos socialmente indesejáveis e tal fato também ocorre com a transformação da economia digital. Alguns pesquisadores mais céticos não se esquecem do fato de que muitos administradores utilizam a falácia oculta pela ironia e consideram ser a transformação digital uma Ferrari dirigida por Schumacher (ainda uma lembrança presente), enquanto o pensamento econômico ainda parece transitar em um fusquinha, considerado um dos fenômenos da indústria automobilística, mas que, de forma inegável, representa um passado que, por mais glorioso que possa ter sido, não mais move as pás dos moinhos digitais. Com tal pensamento em destaque, é possível encontrar diversos níveis de receio ao se tentar localizar um enunciado definitivo para o que vem a ser uma criptomoeda. É possível se apoiar em uma colocação de Pires (2017), que define esse novo elemento econômico como resultado da expansão da presença e frequência das empresas no mundo digital, cuja importância ganha destaque quando se observa que o tema foi tratado nas três últimas edições (2014, 2015 e 2016) do fórum das Nações Unidas sobre a governança da internet (IGF, 2019). 8 Nesses encontros, a criptomoeda foi tratada como um fenômeno não muito bem compreendido e, talvez por isso mesmo, ainda tratado como um assunto sujeito a histórias fantásticas, como aquelas contadas pelos antigos pajés (os naturais administradores dos negócios indígenas em épocas pretéritas). A atenção que ele chama justifica os estudos e envolve pesquisadores que representam tanto a sociedade civil (com preocupações sociais necessárias) e empresários (defendendo interesses nem sempre éticos das empresas, esquecendo-se dos pequenos segmentos sociais, que são quem realmente movimenta a economia). Sem consumidores não existem negócios, e não dar o respeito necessário pode parecer uma situação similar que favorece a busca da metáfora do sacrifício da galinha dos ovos de ouro, como justificativa última, na defesa do social. Com o pé mais no chão, é possível considerar que a crise financeira que atinge os mercados mundiais, já um pouco cansados do fenômeno da globalização, mas que ainda suporta reflexões, está na origem do surgimento das criptomoedas. Como muitos administradores o fazem, podemos nos apoiar nas colocações desenvolvidas nos editoriais da revista on-line Finance One (2018) e aceitar seu posicionamento como um órgão formador de opinião na área, que considera que ela é bastante similar às moedas físicas tradicionais e possui os mesmos elementos identificadores, tais como números de série, marca d´água e outros dispositivos de segurança (ainda que estejam sob o foco da desconfiança) apoiada em códigos criados por hackers e crackers, que emprestam sua capacidade de agir pelo mal, em benefício de outros que desejam garantir a segurança de uma nova moeda. Depois de muitas conjeturas, seus editores relutam, mas acabam por definir uma criptomoeda como um meio de pagamento digital, citando como exemplo o velho bitcoin, que na atualidade está acompanhado por outras colegas denominadas litecoin; ethereum; ripple; monero, dash. Todas ainda seguem a mesma definição e apresentam maior ou menor grau de atração, o que depende da forma de desenvolvimento do marketing digital que está por trás dos negócios digitais, desenvolvidos com essas moedas. Veja no Quadro 3 de definições que é possível montar com base na transcrição do texto colocado pela FinanceOne (2018). 9 Quadro 3 – Criptomoeda segundo a FinanceOne Moeda Significado Litecoin Conhecido como irmão mais novo do bitcoin, tem as mesmas características, porém com menor tempo de transação, devido a uma taxa menor de bloqueio e mais acessibilidade. A tendência é de um maior crescimento graças à familiaridade com o bitcoin. Ethereum A mais nova e recente moeda apresentada em 2014 por Vitalik Buterin, financiado como um projeto crowdfunding, o terceiro maior já financiado dessa forma. Hoje é a segunda maior criptomoeda do mundo com uma capitalização de mercado de mais de 40 bilhões e valorização de mais de 5.000% desde o início do ano. Em novembro esta moeda atingiu uma taxa de conversão de US$ 425,55, considerada como uma máxima histórica. Ripple Também conhecido como XRP, é um pouco diferente das outras criptomoedas, pois traduz tanto uma moeda digital quantouma rede de pagamento aberta, com menores taxas e atrasos de processamento. Atualmente, opera em baixa. Monero Usa o código aberto CrytoNote, codificado a partir do zero. Entre suas características estão os pagamentos e transações ocultos. A diferença básica entre ela e o bitcoin é que ela cria um endereço único para cada transação, adotando uma senha privada que possibilita que as informações completas do processo sejam vistas apenas pela pessoa que recebeu o depósito ou por quem possuir a senha. Dash Operações com essa moeda têm confirmação praticamente instantânea, pela rede Masternodes (diferente do bitcoin). E é essa rede que permite que as transações sejam anônimas, caracterizando a dash pela privacidade dos seus usuários. Fonte: FinanceOne, 2018. TEMA 2 – CRIPTOMOEDAS EM ATIVIDADE Quadro 4 – Criptomoedas ativas desde 2009 Lança- mento Moeda Símbolo Fundador Algoritmo Hash Moeda 2009 Bitcoin BTC Satoshi Nakamoto SHA-256d Primeira moeda de livro razão descentralizado. 2011 Namecoin NMC Vincent Durham SHA-256d Também atua como uma alternativa descentralizada de DNS. 2011 Litecoin LTC Charles Lee Scrypt Primeira moeda utilizando scrypt a ser bem- sucedida. 2012 Peercoin PPC Sunny King SHA-256d Primeira a usar PDT e PDP de maneira híbrida. 2013 Dogecoin DOGE Jackson Palmer & Billy Markus Scrypt Criptomoeda descentralizada baseada num meme de internet. 2013 Mastercoin MSC J. R. Willett SHA-256d Mastercoin é um protocolo de moeda digital e comunicação construído em cima do block chain utilizado pelo bitcoin. 2013 Emercoin EMC EvgenijM86 SHA-256 Armazenamento confiável para qualquer informação de pequeno porte: funciona como alternativa para DNS descentralizado, armazenamento de ICP, infraestrutura de SSL e outros. 2013 Nxt NXT BCNext (pseudônimo)[ SHA-256d Nxt é especificamente projetada como uma plataforma flexível para a construção de aplicações e serviços financeiros em torno do seu protocolo. 2014 Nano NANO Colin LeMahieu Blake2b Nano (anteriormente Raiblocks) é uma criptomoeda com transações instantâneas, sem taxas e baixo consumo de energia, permitindo-a ser uma prática e decentralizada criptomoeda para o uso cotidiano. 2014 CloakCoin CLOAK CloakCoin Team X13 Transações privadas usando o protocolo ENIGMA. Serviço de mistura de moedas usando outras carteiras da rede como mixers. (continua) 10 (continuação do Quadro 4) 2014 Auroracoin AUR Baldur Odinsson Scrypt Criada na Islândia como alternativa para moedas fiduciárias. 2014 BlackCoin BC, BLK Rat4 (pseudônimo) Scrypt BlackCoin assegura sua rede através de um processo chamado minting. 2014 DigitalNote XDN XDN-dev team, dNote CryptoNight DigitalNote (XDN) é uma nova criptomoeda com mensagens instantâneas não rastreáveis, usa o protocolo CryptoNote. 2014 MazaCoin MZC BTC Oyate Initiative SHA-256d O software por baixo do MazaCoin é derivado de outra criptomoeda, a ZetaCoin. 2014 Monero XMR Monero Core Team CryptoNight Monero (XMR) é uma nova criptomoeda centrada em privacidade usando o protocolo CryptoNote. 2014 PotCoin POT - Scrypt Desenvolvida para servir à indústria legalizada de Maconha. 2014 Dash DASH Evan Duffield & Kyle Hagan X11 Adiciona privacidade às transações através de uma mistura de moedas descentralizada chamada Darksend. 2015 Ethereum ETH Vitalik Buterin Dagger Hashimoto Ethereum é uma criptomoeda descentralizada que executa contratos inteligentes. 2015 E-Coins ECS QuiproQuo Scrypt Primeira criptomoeda Suíça 2016 Zcash ZEC Zooko Wilcox- O'Hearn Equihash Zcash é uma criptomoeda que pretende prover uma melhoria em privacidade usando criptografia. 2017 Niobio Cash NBR Marconi Soldate CryptoNight É uma criptomoeda que tem objetivo de ser uma forma de pagamento rápida, segura e eficiente. Além disso, incentiva pesquisas sobre as riquezas minerais brasileiras. Fonte: Criptomoeda, 2019. Neste tópico, vamos detalhar, com mais vagar, cada uma das moedas que foram relacionadas pela FinanceOne como aquelas que estão presentes na atualidade. O estudo elenca as seis moedas em destaque: bitcoin; litecoin; ethereum; ripple; monero e; dash. Vamos colocar em destaque cada uma delas: Figura 3 – Bitcoin Crédito: Annagarmatiy/Shutterstock. Foi a primeira das moedas criadas e funciona como uma rede de pagamento descentralizada que é gerenciada pelos próprios usuários, descartando a necessidade de um “banco central”, a exemplo do organismo que controla a nossa moeda real. A grosso modo, a definição mais utilizada pelos 11 internautas é simples: ela funciona como o dinheiro para a internet. Ela representa a primeira iniciativa no campo das criptomoedas. Podem ser utilizadas como considerações complementares: sua criação data do ano de 1998; não tem controle centralizado, podendo ser o controle considerado “propriedade” dos seus usuários; para o comum dos mortais (os usuários defenestrados ou não), ela nada mais é que um programa aplicativo, que roda em computadores móveis; é o aplicativo mais utilizado na conceituação blockchain. Sua sigla é conhecida como BTC, sendo representada pela letra B, como é possível observar em seu logotipo. Figura 4 – Litecoin Crédito: Visual Generation/Shutterstock. Como seria de se esperar do MIT – Massachussets Institute of Technology, seus pesquisadores não poderiam ficar por trás de mais um dos muitos fenômenos com os quais a IOT – Internet of Things (quem esperar verá do que ela será capaz) está premiando seus usuários. Dessa forma, eles lançam em 2011, por meio de seu pesquisador Charlie Lee, uma nova moeda que promete maior velocidade de processamento e maior eficácia, o que somente quem já utilizou pode comprovar. Ainda é prematuro qualquer comparativo, quando a tecnologia ainda está engatinhando, mas, para os especialistas, ela representa um avanço. 12 Figura 5 – Ethereum Crédito: Visual Generation/Shutterstock. O nome ethereum representa uma plataforma que reúne pessoas que efetuam negociações com sua moeda digital, que recebe o nome Ether. Sua criação remonta ao ano de 2014, quando a plataforma surgiu com o objetivo de criação de qualquer aplicativo armazenado com utilização de outra tecnologia de ponta: a computação em nuvem. Dessa forma, além da programação se apresentar cada dia mais facilitada, agora a contratação de programas atinge um nível de barateamento, que deve levar a que tenhamos todas as empresas informatizadas, em um curso espaço de tempo, se mantida a perspectiva de sua evolução. O suporte administrativo que está por trás, como acontece com todas as outras moedas, é o blockchain. Ele supera o bitcoin, considerada a moeda digital por excelência devido ao fato de que não há limites para a criação de moedas e seu objetivo, mais restrito, é voltado para atender transações desenvolvidas na plataforma. Figura 6 – Ripple Crédito: Larina Marina/Shutterstock. 13 Ela também surge nos idos dos anos 2014 e tem alguns aspectos diferenciadores, em relação às outras moedas digitais que estão sendo aqui consideradas. Ela é considerada como um sistema de liquidação bruta em tempo real (RTGS, 2012), definido como um sistema de transferência de fundos que ocorre de forma on-line, não sendo como o bitcoin, que representa uma moeda que tem pretensões universais, como moeda digital. A sua pretensão, menor em abrangência, é permitir o desenvolvimento de transações financeiras globais seguras, instantâneas e quase gratuitas, de qualquer tamanho e sem quaisquer restrições (sic). A existência de um banco que lhe dá garantia a transformou em pouco tempo na terceira maior criptografia por capitalização de mercado. Figura 7 – Monero Crédito: Aleksey Ivanov/Shutterstock. O monero (Penny, 2018), conhecido por sua sigla XMR, é utilizada para comprar e vender coisas e, também,trocar por outras moedas digitais ou não. Encriptação que dá forte nível de segurança e a capacidade de isolamento da transação, sendo um sistema particular, lhe deram consistência e nível de utilização que pode crescer, caso o volume de negociações seja liberado pelos bancos que lhe dão respaldo financeiro. O uso de inovações em cadeia blockchain é outro apelo que essa moeda digital oferece. Parece que o ano 2014 foi rico para o campo das criptomoedas, pois esta também, a exemplo das duas anteriores, foi lançada nessa ocasião. Para pessoas que “têm algo a esconder” essa parece ser a plataforma mais indicada, pois sua caracterização é dificultar o rastreamento das transações que são efetivadas com sua participação. A utilização de um novo protocolo, posterior ao bitcoin (denominado CriptoNote), é outra razão para o esperado crescimento desta moeda digital. 14 Figura 8 – Dash Fonte: Wit Olszewsk/Shutterstock. O site Aprender sobre bitcoin (2019), que congrega especialistas em moedas digitais, considera que, já a partir de seu lançamento (também criada em 2014), ela já entrou diretamente no rol das moedas digitais bilionárias. Seu nome deriva da junção das componentes da expressão digital cash, dando origem ao nome dash. Em termos históricos, é válido registrar que ela já foi denominada xcoin e darkcoin, com significado explícito como algo voltado para transações ocultas. É quem sabe a de acesso mais facilitado, devido a buscar colocar seu significado em uma linguagem mais humana e que exige um menor grau de abstração para sua compreensão. É uma moeda que, a exemplo de todas as outras, também está atrelada a um sistema blockchain, que utiliza um algoritmo em cadeia. Considera-se que se compreende melhor o seu significado ao se explicar o significado do termo dash, que, no jargão da área de sistemas de informação, é conhecido como “tabela de dispersão ou espelhamento”, que encontra valores desejados a partir de uma chave de pesquisa (a exemplo das queries efetivadas sobre registros armazenados em grandes bases de dados). Saiba mais O campo das criptomoedas (criptocurrency) ainda tem muito a ser explorado e é interessante, como forma didática e pedagógica, a leitura de artigos questionadores, como aquele apresentado na Revista Galileu, que toma uma experiência desenvolvida por repórteres da Revista Wired, vivenciando a utilização da moeda. Criptomoedas: Um guia para dar os primeiros passos com as moedas digitais. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/guias/criptomoedas/>. Acesso em: 22/11/2021. 15 TEMA 3 – ALTA VOLATILIDADE E ESPECULAÇÃO Há um sentimento comum que pode ser observado nas atitudes das pessoas que se mostram interessadas em conhecer mais e, na sequência, utilizar o bitcoin em suas andanças pela grande rede: o medo de perder dinheiro arduamente conquistado frente a uma possível alta volatilidade e especulação, a qual estariam sujeitas as moedas digitais. Crédito: Kues/Shutterstock. Há perguntas que circundam os redutos daqueles que confiaram e obtiveram bons resultados com uma recuperação de capital, em números percentuais que chegam a impressionar, quando podem ser observadas cifras de retorno que rondam o elevado valor de 500% do valor invertido. Tais questionamentos acabam centrados em duas perguntas essenciais possíveis de observar: 1. Será que posso confiar em que o “dinheiro digital” não é algo que irá evaporar frente aos meus olhos, deixando-me a ver navios, como navegante solitário, “sem lenço e nem documento”? 2. Será que esse dinheiro que não é palpável, representado por números e criado com base em algo que exige elevado nível de abstração, realmente será meu? Hackers e crackers não irar tomar conta do meu dinheiro digital, transferindo para suas contas reais? Outros questionamentos poderiam ser colocados, mas eles acabam recaindo em um dos questionamentos acima assinalados. Especialistas tais como Antonopoulos (2017) consideram que essas dúvidas estão centradas nas 16 questões de volatilidade e especulação, dessa forma estabelecidos como tema de estudo e orientações para que cuidados sejam tomados. 3.1 Volatilidade A palavra volatilidade no mundo das moedas digitais está diretamente associada a fatores de risco. Muitas pessoas não jogam quando está em risco a perda de capitais investidos. Mas nem sempre o risco é algo ruim. É possível conviver com tal condição e, além disso, acabar sendo remunerado satisfatoriamente ou de forma superior àquela esperada. É possível obter melhores resultados quando se tem conhecimento de um pequeno roteiro montado por Gomes (S.d.) em postagem recentemente publicada no Guia do Bitcoin, considerado como orientação segura. O autor da postagem pontua como orientações e dicas a serem seguidas: Antes de pensar em investir, é preciso levar em consideração que a volatilidade apresentada pelas moedas digitais indica que elas precisam de tempo para amadurecer; Essa volatilidade indica que o mercado necessita de maior liquidez, devendo ser efetivada uma análise mais completa sobre o assunto; Apesar de haver interesse institucional, ele ainda não foi transformado em ação; É preciso que, para se tornar um investimento mais seguro, seja melhorada a infraestrutura geral das criptomoedas. Esses fatores ainda são pontuados e justificam as dúvidas de muitas pessoas que chegaram a considerar a possibilidade de efetuar investimentos na área e que recolheram suas iniciativas, na espera de que os fatores assinalados pelo autor se tornem menos agravantes em termos de se apresentarem como situações de risco. O novo fenômeno, denominado Economia 2.0, baseado e apoiado em moedas digitais, ainda está para acontecer e, quem sabe, os próximos anos venham a ser aqueles previstos para amadurecimento das iniciativas. 3.2 Especulação Em decorrência direta da existência de uma situação de alto risco, nos investimentos a serem efetuados no tocante a moedas digitais, entram em cena 17 elementos que são indesejados, não importa em qual mercado estejam atuando os especuladores. A razão para que o mercado assim considere tais elementos está no fato de que eles fazem apostas na valorização de um ativo com o objetivo de obter lucros muito acima da média do mercado em um curto espaço de tempo, assumindo, para isso, riscos maiores que os investidores comuns (Dicionário Financeiro, S.d.). O maior medo dos investidores está no fato de que tal atividade não é considerada como crime, ainda que possa trazer prejuízos a um grande número de pessoas. Ela é considerada mais como um jogo, no qual sobrevivem os mais fortes e que conseguem direcionar o mercado a seu favor. A menos que se consiga provar alguma intenção manifesta de fraudes na apresentação de resultados ou algum outro tipo de má-fé, não há nenhum tipo de punição para esses atos. A simples repulsa do mercado não parece ser uma restrição que é necessária, pois não é suficiente para que resultados sejam obtidos. Quando são divulgados resultados, muitos deles são acusados de apresentarem cifras manipuladas. Há ainda o desencontro entre os órgãos informativos, que apresentam resultados desencontrados. Em publicação recente, o site CanalTech (Saturno, 2018), apoiado em resultados publicados pela Markets Businness Insider, aponta para cifras desalentadoras que apresentam uma realidade na qual se considera que os bitcoins (a moeda digital mais conhecida) atingiram o fundo do poço. 18 Figura 9 – Apresentação de resultados negativos de evolução da moeda digital bitcoin em 2018 Fonte: Saturno, 2018. No mesmo site, em publicação seguinte, esses resultados são contestados, o que deixa os investidores sem saber exatamente em qual notícia acreditar. Aqui se considera que esse mercado está sujeito à circulação de um número muitoelevado de fake news e que muitas delas são contraditórias. Apesar de o relatório citado apontar diretamente para a moeda digital bitcoin, considera-se que a mesma situação atinge outras moedas digitais. Esses dados apresentam resultados que, ao invés de oferecerem aos interessados garantias de segurança nos investimentos, os levam a uma direção contrária, na qual os investimentos são efetuados em mercados mais seguros e não tão sujeitos a uma condição de riscos, identificada na volatilidade do mercado, existência de especulações e notícias desencontradas. 19 TEMA 4 – FUTURO E VALORIZAÇÃO DAS CRIPTOMOEDAS O que esperar do mercado frente aos dados apresentados nos capítulos anteriores? Há razões para superar um clima de perda de otimismo com a possibilidade de criação de uma moeda internacional, não sujeita a injunções políticas e a desvios proporcionados por atividades de corrupção em todos os níveis? A cada dia que passa, novos questionamentos são colocados na ponta da língua dos céticos e daqueles que, desde seu surgimento, atuam como seus detratores. Figura 10 – Criptomoedas (2) Crédito: Galas Studio/Shutterstock. O periódico on-line Idgnow! (Borini, 2018), que trabalha com o propósito de dar ao mercado informações fidedignas sobre as melhores condições para investimento, procura superar o clima de perda de otimismo e coloca algumas considerações que podem trazer um alento para os investidores e dar confiança para que as empresas saiam do parapeito das janelas, que hoje ocupam como observadoras de uma situação de incerteza e coragem para bancar riscos possíveis e injetar recursos financeiros e ânimo em um mercado em transição. Ao ser eleita como tecnologia disruptiva e, em certo sentido, que diz respeito às mudanças que provoca nas atitudes e comportamentos do mercado, ser também considerada como tecnologia exponencial, é possível considerar que ela recupera o brilho que perdeu durante o transcorrer do ano de 2018, nas 20 proximidades da aurora de um ano de 2019, no qual devem acontecer mudanças no sentido da recuperação de um ano negativo para muitos países. Um relatório produzido pelo SATI Group, um dos que trabalha com afinco no sentido de valorizar as moedas digitais, foi publicado no site Crypto Watch. Se o referido relatório não tinha propósito de dar alento a um mercado que alguns consideravam em queda, o resultado produzido foi esse quando se efetivou um anúncio no qual se considera que o valor da moeda bitcoin deve atingir um valor de US$ 143 mil daqui a 10 anos. O apoio a modelos preditivos, baseados em um grande volume de dados provenientes do Big Data, com pitadas da IA – Inteligência Artificial, traz um nível de alta credibilidade aos resultados do estudo. Com o Machine Learning, o grupo considera ter atingido avaliações preciosas, com base em dados obtidos diretamente no mundo real. O resultado foi apresentado na forma de uma tabela na qual estão avaliadas as 10 principais criptomoedas, identificadas por suas siglas (BTC – Bitcoins; ETH – Ether; XRP – Ripple; BCH – Bitcoin Cash; EOS – EOS; XLM – Stellar Lumens; LTC – LiteCoin; ADA – Cardano; SMR – SMR; DASH – Digital Hash). Veja o resultado do estudo na tabela a seguir. Saiba mais Os resultados apresentados são detalhados e explicados no artigo indicado e cuja leitura se recomenda para aqueles mais interessados no estudo de indicativos sobre a evolução das criptomoedas, nos próximos anos. O relatório pode ser obtido acessando: MELLO, L. F. Relatório do Satis Group prevê Bitcoin à US$143 mil daqui a 10 anos. Crypto Watch, 4 set. 2018. Disponível em: <https://cryptowatch.com.br/relatorio-do-satis-group-preve-bitcoin-a-us143-mil- daqui-a-10-anos/>. Acesso em: 11 fev. 2019. Tabela 1 – Pesquisa prospectiva sobre evolução das criptomoedas nos próximos 10 anos Cripto- moe- da Valor Atual Ano 1 Ano 3 Ano 5 Ano 10 Esti- mativa Valori- zação Esti- mativa Valori- zação Esti- mativa Valori- zação Esti- mativa Valori- zação BTC 7.050,00 32.914,00 367% 71.746,00 918% 96.378,00 1267% 143.900,0 0 1941% ETH 292,00 882,00 202% 788,00 170% 686,00 135% 588,00 101% XRP 0,30 0,00 -90% 0,04 -88% 0,01 -97% 0,004 -99% 21 BCH 558,00 258,00 -54% 312,00 -44% 268,00 -52% 180,00 -68% EOS 6,00 0,05 -99% 3,60 -42% 4,50 -29% 4,80 -24% XLM 0,20 0,01 -96% 0,01 -95% 0,02 -91% 0,02 -90% LTC 62,00 65,00 4% 146,00 135% 134,00 115% 225,00 262% ADA 0,10 0,00 -99% 0,001 -99% 0,001 -99% 0,001 -99% XMR 103,00 1.476,00 1336% 6.497,00 6218% 18.498,00 17887% 39.584,00 38391% DASH 188,00 291,00 55% 905,00 382% 1.896,00 910% 2.927,00 1459% Nota: Valores expressos em dólar e percentuais Fonte: Mello, 2018. O estudo confirmou o que se esperava em termos de sucesso relativo obtido por outras moedas digitais. Algumas dessas moedas, desenvolvidas com propósitos específicos, não tinham em seus planos a obtenção de indicativos muito grandes em seu processo de evolução. Na contramão desse fato, outras foram lançadas com o objetivo precípuo de competir com o BTC, tendo perdido por larga margem, como essa pesquisa demonstrou. Essas projeções permitem antever como uma realidade factível o fato de que o dinheiro de papel não durará para sempre e que as cryptomoedas são a fotografia da situação futura do que é denominado no mercado como economia 2.0, à qual nos referimos em ponto anterior. Aqueles que sempre tiveram um desprezo (falso na maioria dos casos) pelo dinheiro moeda e papel finalmente veem realizadas as suas previsões de um final inglório para essas figuras monetárias, já quase sendo vistas como parte do passado. O dinheiro finalmente será enxergado sem a existência “real e palpável”, apenas como um meio de troca, destinado a ser extinto em sua imagem atual. O que se deseja é que, finalmente, o dinheiro possa ser, como considerado nos editoriais da CryptoWatch (Mello, 2018), como “uma construção intelectual centrada na confiança da humanidade na governança”, mas que tem o desejo e a capacidade de se recuperar de uma condição de baixa histórica. Em nosso país, na atualidade, a corrupção colocada a descoberto, não dá margem a que essas esperanças tenham um apoio e fundamentação sólida, mas nada impede que elas permaneçam como desejo. 22 TEMA 5 – CRIPTOMOEDAS – SISTEMAS BANCÁRIOS 5.1 As criptomoedas e os bancos Para os bancos, de maneira geral, o surgimento das criptomoedas representa a ameaça mais real da perda da hegemonia de um ditatorialismo que sempre desenvolveram. As criptomoedas representam sistemas financeiros descentralizados, com prejuízo das casas da moeda, que perdem o controle para os próprios investidores no interior de redes e plataformas orientadas pela tecnologia blockchain. Figura 11 – Blockchain Crédito: Starline/Shutterstock. Os pesquisadores que são defensores de sua evolução consideram que as criptomoedas BTC e Ether já demonstraram para os analistas essa realidade. Ainda que tal fato precise ser mantido, até agora as plataformas de moedas digitais passaram incólumes pelos hackers e crackers que tentaram burlar a vigilância. A menos que esse fato tenha sido oculto, até o momento é possível considerar esse processo como seguro. Os sistemas de moedas digitais não correm o risco de serem colocados em xeque, caso haja sobrecargas. Isso se deve ao fato de que esses elementos utilizam uma proposta de liquidação P2P, conseguindo processar valores elevados com capacidade de tráfego que já permitiu o processamento de um volume de transações que superaram o valor de $ 7 bilhões de transações. A negociação pode ocorrer de forma livre, com utilização de carteiras abertas, sem 23 que haja um limite ainda não atingido. Ele representa um sistema que não apresentou queda até o presente. Max Keiser, um dos analistas do bitcoin e que preveem sua evoluçãoconstante, considera que um dos principais destaques e que dá vantagem às plataformas de moedas digitais sobre os bancos está exatamente na liberdade financeira e na independência que pode ser fornecida, principalmente pelas duas moedas citadas, BTC e Ether, não havendo registros de nota, com relação às outras moedas, mas que, por extensão, devem apresentar as mesmas características. Esse analista considera que esses fatos são altamente benéficos tanto para indivíduos quanto para empresas que desenvolvem as suas atividades em regiões em que é alto e prejudicial o controle que as entidades governamentais desenvolvem sobre bancos e instituições financeiras. Saiba mais Acesse o link a seguir e leia o relatório de Max Keiser: SÁ, V. Bitcoin está a caminho dos US$ 10 mil; US$ 100 mil no longo prazo, diz Max Keiser. Portal do Bitcoin, 4 nov. 2017. Disponível em: <https://portaldobitcoin.com/bitcoin-esta-caminho-dos-us-10-mil-us-100-mil-no- longo-prazo-diz-max-keiser/>. Acesso em: 11 fev. 2019. É a economia 2.0 caracterizada pela ultrapassagem de barreiras do trabalho (via homework) da nação e do dinheiro, que se mostra presente, ainda que não existam estudos mais completos desenvolvidos em nossas instituições de ensino, deixando o segmento pobre em referenciais bibliográficos sobre o assunto. Não são poucas as pessoas que ainda não compreenderam os benefícios da liberdade financeira. Suas maiores vantagens são não haver interferência do governo central e de nenhum banco central e não ser colocado como negativo por aqueles que apresentam elevado fator resistência contra a utilização e propostas de inovação para alavancar essa nova economia, Providências governamentais de congelamento de contas bancárias privadas e de contas empresariais não seriam possíveis se a riqueza (obtida por meios legais ou não) dessas pessoas estivessem armazenadas em um mercado de valores descentralizados, como aquele representado nas plataformas que trabalham com moedas digitais. Uma das principais sobrecargas para o sistema financeiro tradicional são as operações bancárias denominadas offshore, que são representadas por 24 contas bancárias ou empresas abertas em outros países, preferencialmente aqueles colocados como paraísos fiscais, com isenção de impostos e manutenção de sigilo fiscal. A Revista Exame, por meio de sua colunista Vanessa Barbosa (2016), apresenta os estudos desenvolvidos no projeto Financial Secrecy Index (2019). Os países considerados como os dez principais paraísos fiscais estão apresentados na lista seguinte: 1. Suíça; 2. Hong Kong; 3. Estados Unidos; 4. Singapura; 5. Ilhas Cayman; 6. Luxemburgo; 7. Líbano; 8. Alemanha; 9. Bahrein; 10. Emirados Árabes. Nos recentes escândalos financeiros em nosso país, o mais comum dos mortais tomou conhecimento de inúmeras falcatruas e de elevados valores transferidos para contas de políticos e partidos, que utilizaram “laranjas” para efetuarem a lavagem do dinheiro da corrupção, que correu solta em nosso país. É importante, então, destacar que o mercado preferido pelos usuários das criptomoedas são o setor bancário offshore, nos países constantes da lista divulgada acima. A liquidação de transações nestas condições é desenvolvida em inteira liberdade financeira, em plataformas que oferecem os serviços bancários a baixo custo, mas sujeitos a uma infraestrutura robusta, que dá sustentação a grandes volumes de movimentação, de acordo com altos valores, já anteriormente citados. A conclusão parece óbvia, não obstante trabalhe em plataformas altamente complexas: as criptomoedas possuem vantagens de grande significância, principalmente para quem trabalha com elevados ativos financeiros, em um grande número de áreas e que pode envolver questões de segurança, liquidação de transações internacionais (com grande economia e segurança). A liquidação é desenvolvida sem nenhuma dependência de provedores ou entidades de serviços descentralizados. É assim que as criptomoedas podem ganhar condições de competição com os bancos. 25 5.2. Criptocurrency Bank Embora estejamos quase na terceira década do século XXI, e as criptomoedas já funcionam há pelo menos dez anos, ainda não temos, pelo menos em nosso país, uma regulamentação específica, como as moedas tradicionais. Se há o desejo de poupar, guardar ou operar dinheiro, não há um banco brasileiro específico para fazermos essas operações com as criptomoedas, embora alguns bancos tradicionais já apresentem algumas propostas relacionadas. Porém, existem sim algumas propostas surgindo no mundo, como o Wibcoin (WBB), localizado na Suíça e com operação na União Europeia. Este, um banco real, foi intitulado como o primeiro banco de criptomoedas do mundo, que trata as criptomoedas realmente como moedas, com operação com cartões de crédito com as bandeiras conhecidas, Visa e Mastercard. Países como a Alemanha, por exemplo, já reconhecem as criptomoedas como moedas. Apesar desse reconhecimento mundial, países como o Brasil, Estados Unidos e demais só reconhecem as criptomoedas como um bem simplesmente. Algo que, apesar de virtual, possui um valor e, portanto, devem ser declarados conforme suas exigências legais. Como um terreno ou uma joia adquiridos. No Brasil, por exemplo, quem possui criptomoedas deve declarar em seu imposto de renda, conforme as exigências da própria legislação. Se compro por um valor e ao final do exercício obtiver lucros, devem ser devidamente apontados. Existem ainda outros tipos de bancos de criptomoedas, inclusive no Brasil, mas não exatamente bancos, tal como conhecemos no seu conceito tradicional, o de local de depósito de moeda corrente do país, regularizado pelo Banco Central e tudo mais. A exemplo disso, o BTC, Bitcoin Banco de Cryptocurrency (<https://www.btc-banco.com>), com sede em Curitiba-PR, no Brasil, é um banco de criptomoedas sim, mas, como o próprio grupo intitula, é um Banco de Dados. Isso mesmo, não é um banco reconhecido pelo Banco Central para operações financeiras, mas uma plataforma que oferece ao seu cliente uma segurança a mais, como por exemplo, possuir uma chave privada de criptomoedas e esta ser guardada sem o acesso de hackers ou a possibilidade de ser perdida em HDs perdidos em computadores. Enfim, esse banco armazena 26 dados acima de tudo, mas oferece operações específicas dessas recentes moedas digitais. Estamos no início de tudo e nossa legislação ainda procura representatividade para reconhecimento ou não das criptomoedas, pelo menos como reais moedas digitais. Mas não se trata de uma corrida contra o tempo em que aqueles que chegarem primeiro recebem um prêmio, apenas uma tendência que exige cautela acima de tudo. Se estamos prontos para as criptomoedas? Saberemos em breve. TROCANDO IDEIAS Embora as criptomoedas tenham uma característica típica de commodities do mercado de capitais, a sua virtualidade e falta de controle não deixam claro o que realmente faz ter seu preço alterado. De início, é até compreensível, dada a novidade, o que explica um pouco a demanda e oferta da moeda. De qualquer forma, alguma criptomoeda sempre sofrerá mudanças particulares e sem uma relação direta com seu suporto câmbio. Assim, escolha uma criptomoeda, diferente do bitcoin, e descubra quais pontos podem tê-la feito cair ou subir o preço. NA PRÁTICA Saiba mais A dúvida ainda paira: como adquirir uma criptomoeda? Veja que essa condição prática não possui uma simulação para que possamos testar o mercado de exchanges de criptomoedas. Sendo assim, acesse o link a seguir e conheça o site Brasiliex ou procure qualquer outro que direcione a compra e venda de criptomoedas. BRASILIEX. Disponível em: <https://braziliex.com/?lang=pt-br>. Acesso em: 11 fev. 2019. Atente para o preço exposto em reais dessas moedas. Escolha uma em particulare proceda seguinte forma: Anote a data e hora do apontamento; Uma hora depois, veja o preço da moeda e registre (valor, data e hora); Seis horas depois desse segundo apontamento, veja novamente o preço e registre; 27 No dia seguinte, mesmo horário ao apontamento inicial, registre o preço, data e hora; Depois de uma semana, com base no primeiro registro, anote mais uma vez o preço, data e hora; Apresente suas conclusões. FINALIZANDO Desde o lançamento do iPhone em 2007, ficou interessante acompanhar os avanços que a tecnologia proporciona, e, mais ainda, tornou-se cada dia mais difícil de se prever o que acontecerá no futuro. O bitcoin e as altcoins reinventaram um mercado que há séculos não tinha perspectiva de mudanças. É como se tivessem acabado de inventar uma nova forma de caminharmos com as pernas sem ao menos usá-las. Isso mesmo, o que sempre pareceu natural para a economia, principalmente em relação à monetária, passou a ser uma nova economia. Assim, o que teremos além no futuro? Vamos descobrir e tão rápido quanto nossos cérebros conseguirem acompanhar. Ou não. 28 REFERÊNCIAS ANDRICH, E. G.; CRUZ, J. A. W. Gestão financeira moderna: uma abordagem prática. Curitiba: InterSaberes, 2013. ANTONOPOULOS, A. M. Mastering Bitcoin: unlocking digital cryptocurrencies. N. Y: O´Reilly, 2017. APRENDER SOBRE BITCOIN. Disponível em: <https://www.aprendersobrebitcoin.com/>. Acesso em: 11 fev. 2019. BARBOSA, V. Os 10 principais “paraísos fiscais” do mundo. Revista Exame, 13 set. 2016. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/economia/os-10- principais-paraisos-fiscais-do-mundo/>. Acesso em: 11 fev. 2019. BLOCKCHAIN. Disponível em: <https://www.blockchain.com/btc/tree/14849>. Acesso em: 11 fev. 2019. BLOCOS minerados em 9 jan. 2009. Blockchain, 2017. Disponível em: <https://www.blockchain.com/btc/blocks/1231474157300>. Acesso em: 11 fev. 2019. BLOCO # 0. Blockchain, 3 jan. 2009. Disponível em: <https://www.blockchain.com/btc/block/000000000019d6689c085ae165831e93 4ff763ae46a2a6c172b3f1b60a8ce26f>. Acesso em: 11 fev. 2019. BORINI, G. O que esperar do bitcoin no futuro? ItMídia, 26 jul. 2018. Disponível em: <https://itmidia.com/o-que-esperar-do-bitcoin-no-futuro/>. Acesso em: 11 fev. 2019. CAVAGNARI, D.W. O comércio eletrônico no Brasil e a segurança digital. Curitiba: UTP, 2003. CRIPTOMOEDA. Wikipedia, 28 jan. 2019. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Criptomoeda>. Acesso em 11 fev. 2019. DICIONÁRIO FINANCEIRO. O que é especulação financeira? Dicionário Financeiro. Disponível em: <https://www.dicionariofinanceiro.com/especulacao- financeira/>. Acesso em: 11 fev. 2019. FINANCIAL SECRECY INDEX. Disponível em: <https://www.financialsecrecyindex.com/>. Acesso em: 11 fev. 2019. 29 GOMES, E. Sobre a volatilidade do Bitcoin. Guia do Bitcoin. Disponível em: <https://guiadobitcoin.com.br/sobre-a-volatilidade-do-bitcoin/>. Acesso em: 11 fev. 2019. IGF – INTERNET GOVERNANCE FORUM. Disponível em: <https://www.intgovforum.org/multilingual/>. Acesso em: 11 fev. 2019. LANSIT, M.; LAKHANI, K. R. The truth about blockchain. Harvard Business Review, jan.-fev. 2017. Disponível em: <https://hbr.org/2017/01/the-truth-about- blockchain>. Acesso em: 11 fev. 2019. MELLO, L. F. Relatório do Satis Group prevê Bitcoin a US$143 mil daqui a 10 anos. Crypto Watch, 4 set. 2018. Disponível em: <https://cryptowatch.com.br/relatorio-do-satis-group-preve-bitcoin-a-us143-mil- daqui-a-10-anos/>. Acesso em: 11 fev. 2019 O QUE É criptomoeda, para o que serve e como investir. FinanceOne, 20 jul. 2018. Disponível em: <https://financeone.com.br/o-que-e-criptomoeda-e-como- investir/>. Acesso em: 11 fev. 2019. PENNY, B. What is monero? Crypto Briefing, 7 nov. 2018. 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