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ENGENHARIA ECONÔMICA Aline Alves Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 A474e Alves, Aline. Engenharia econômica / Aline Alves, João Guterres de Mattos, Iraneide S. S. Azevedo. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 237 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-056-6 1. Engenharia econômica. 2. Administração financeira. I. Mattos, João Guterres de. II, Azevedo, Iraneide S. S. III. Título. CDU 658.15 Engenharia_economica_Iniciais_Impressa.indd 2 14/03/2017 16:12:24 Diferença entre juros e lucro Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: n Organizar o conceito de juros. n Sintetizar o conceito de lucro. n Construir a diferença entre juros e lucro. Introdução Neste texto, você vai aprender a diferenciar o conceito de juros e lucro. Os dois elementos apresentam um montante maior no final da operação, contudo, são oriundos de operações diferentes e possuem conceitos diferentes. Nas economias capitalistas, a condição de uso do dinheiro (capital) tem possibilitado a produção de bens e, consequente- mente, a formação de mais dinheiro por meio do lucro. Portanto, o uso do dinheiro, e não necessariamente a sua propriedade, gera dinheiro. Por essa razão, o empréstimo tem valor, e seu preço (aluguel do dinheiro) é denominado juro. Você vai entender melhor esses conceitos a seguir. Conceito de juros A maioria das pessoas, em termos de consumo, dá preferência temporal para o consumo imediato, mesmo sem dispor da totalidade de recursos para adquirir o bem ou serviço que desejam. Em contrapartida, há aqueles que possuem recursos de sobra, ou seja, que são sufi cientes para cobrir as suas necessidades de consumo e, ainda, dispõe de saldos disponíveis para outras aquisições. Com essa situação, vemos o surgimento da oportunidade, pois estão confi gurados dois importantes conceitos da economia: a oferta e a demanda. Em determinado momento, as variáveis oferta e demanda conectaram-se e os menos necessitados, hoje chamados superavitários, passaram a ver no desequilíbrio uma oportunidade de investir seus recursos ociosos e, com isso, lucrar com a movimentação de seus recursos, aumentando ainda mais suas Engenharia_economica_U1_C08.indd 73 14/03/2017 14:15:51 riquezas. Por outro lado, o demandado, atualmente conhecidos como deficitá- rios, passaram a suprir suas necessidades imediatas a partir do financiamento dos superavitários. Muitos fatos marcaram o desenvolvimento da sociedade, porém, quantos aos fatores de desenvolvimento econômico, certamente a criação e a consoli- dação das moedas foi um dos principais momentos da história, contribuindo significativamente para alavancar o desenvolvimento dos povos. Além disso, esse marco histórico facilitou as aplicações e o controle dos empréstimos realizados por superavitários a deficitários, bem como facilitou o cálculo do valor a ser pago pelo demandado ao ofertante, pelo aluguel desses recursos. Contudo, antes de chegar ao ponto principal, vamos voltar mais um pouco no tempo. Antes mesmo da formação da moeda, essa estrutura de mercado já existia, porém, em vez de utilizar a moeda física como fator de compensação, outros itens eram utilizados para pagamento de empréstimos, como sementes, animais e até serviços. Portanto, pode-se afirmar que, embora venha sendo significativamente aprimorado ao longo dos anos, os conceitos de juros estão presentes em nossa sociedade há muito tempo e, por consequência, enraizados na educação financeira de nossas famílias. Sendo assim, os juros podem ser definidos como uma recompensa (prêmio) pela abstinência de determinados poupadores, que postergam seu consumo e emprestam seus recursos para os que necessitam de empréstimo. Os juros advêm da interação entre a oferta e a demanda de fundos emprestáveis. Seu equilíbrio, acrescido da determinação de risco, determina a taxa de juros de mercado. Atualmente, os juros trazem equilíbrio ao mercado financeiro e passa impreterivelmente por ele a geração de lucro dos bancos de todo o mundo. Cabe salientar que o mercado financeiro, nas mais variadas frentes, é um dos principais responsáveis pelo crescimento de um estado. A saúde do sis- tema financeiro é fundamental para o equilíbrio econômico. Neste contexto, vamos ainda destacar que, assim como o desenvolvimento social, o sistema financeiro e o sistema de capitalização de juros também foram aprimorado ao longo dos anos. Existem diversas formas de calcular juros, salvo suas semelhanças em termos de conceito, a aritmética de cada uma delas traz reflexos distintos em termos financeiros, tanto para o tomador dos recursos como para o superavi- tário. Nesse ponto, cabe citar a existência do intermediário, ou seja, o banco. Essas instituições foram criadas e desenvolvidas ao longo dos anos para equilibrar a relação entre oferta e demanda de recurso, sendo, hoje em dia, peças chave na economia de qualquer pais, além de também serem empresas extremamente lucrativas. Engenharia econômica74 Engenharia_economica_U1_C08.indd 74 14/03/2017 14:15:51 Entre as inúmeras formas de calcular os juros em uma operação, duas delas se destacam, os juros simples e os juros compostos: n Juros simples: tem como base o capital principal e o tempo decorrido da referida operação, não considera acréscimos de encargos temporais pelo “aluguel do dinheiro”, ou seja, não soma os juros a base mensal para recalcular o saldo devedor tempestivamente. A fórmula dos juros simples é: Onde: J = juros P = principal (capital) i = taxa de juros n = número de períodos n Juros compostos: ao contrário dos juros simples, os juros compostos têm como base o montante acumulado da operação, ou seja, parte do princípio de que a cada mês o valor do empréstimo precisa ser atualizado e os valores recalculados, mesmo nos casos de acordo de parcela fixa. Essa modalidade é conhecida no mercado pela incidência de juros sobre juros. A fórmula dos juros compostos é: Onde: J = juros P = principal (capital) i = taxa de juros n = número de períodos Os juros, via de regra, são apresentados em percentuais. Atualmente, os bancos determinam os percentuais a serem aplicados em cada operação, com base em um sistema de precificação, que prevê diversos fatores, entre eles o lucro dos próprios bancos. A seguir, você entenderá um pouco mais sobre o lucro. Conceito de lucro No âmbito da sociedade capitalista, caracterizada pela propriedade privada de recursos econômicos, o lucro é a remuneração pelo uso do fator de 75Diferença entre juros e lucro Engenharia_economica_U1_C08.indd 75 14/03/2017 14:15:51 produção e da capacidade empresarial, considerando a combinação dos demais fatores de produção (terra, capital e trabalho). Cada fator recebe uma recompensa pela sua participação no processo de produção, sendo as remunerações pelo uso da terra, capital e trabalho, respectivamente, renda de terra, juro e salário. O lucro é, portanto, a recompensa e a motivação para a instalação e con- tinuidade de um empreendimento na sociedade capitalista. Na ciência eco- nômica, há preocupação com os recursos limitados da economia, e busca-se a alocação ótima dos recursos escassos e das alternativas disponíveis para a maximização da utilidade e da riqueza dos agentes econômicos. O conceito de lucro, nesse contexto, é um importante referencial para orientar as decisões econômicas dos agentes. O conceito de lucro, no âmbito das atividades empresariais – caracterizadas pela busca da maximização da riqueza dos proprietários e dos stakeholders –, é um importante indicador de sucesso das empresas. Cabe, então, à ciência contábil a tarefa de quantificar os eventos econômicos de maneira lógica, objetiva e sistemática, ou seja, identificar, reconhecer, mensurar e registrar as transações em termos físicos e monetários, com informações voltadas aos usuários. Resumindo, o elemento lucro é importante tantopara a ciência eco- nômica como para a ciência contábil que, apesar de terem enfoques diferentes, são áreas correlacionadas e, até certo ponto, complementares, uma vez que há contribuições relevantes de ambas as ciências. Na prática, dentro de um contexto empresarial, independentemente do tamanho da empresa, os lucros gerados irão determinar a vida útil da referida instituição, principalmente sob o ponto de vista do lucro financeiro. Contudo, considerando apenas um contexto de ausência de lucro contábil, pode-se notar que algo está errado na condução dos negócios e, com isso, verificar as con- sequências como reflexos operacionais e de caixa para a referida instituição. Essa afirmativa pode ser ilustrada se considerarmos os critérios de avaliação de crédito, tanto de fornecedores como de instituições financeiras, e mesmo os critérios utilizados por investidores no momento de aportar capital para subsidiar a estrutura de capital próprio das empresas, situação corriqueira em empresas que operam no mercado de capitais. Portanto, um dos principais fatores utilizados pelos stakeholders para avaliar a gestão operacional da empresa é a sua geração de lucro. A tendência é que a vida operacional de uma empresa seja mais difícil quando seu lucro não atinge patamares esperados pelo mercado e pelos próprios empresários, pois os juros podem ficar mais caros, em função do fator risco, incluído na formação do spread bancário, e em decorrência da desconfiança de fornecedores na Engenharia econômica76 Engenharia_economica_U1_C08.indd 76 14/03/2017 14:15:51 concessão de créditos para pagamentos a prazo, o que afeta diretamente o capital de giro das empresas, entre outros fatores. Dada a importância do lucro nas empresas, o que fazer para garantir resul- tados em patamares aceitáveis, de forma a não gerar problemas operacionais as empresas? Essa é a pergunta que todos os empresários, dos mais diferentes portes fazem todas as manhãs, e é o objetivo central de uma entidade de pessoa jurídica. A resposta para essa questão não é simples, alguns conceitos são recomendados para que se obtenha uma boa performance e consequentemente um bom lucro, porém, há inúmeras variáveis que afetam a cadeia e podem interferir no aproveitamento desses conceitos. Em geral, para que se tenha lucro, é necessário que a empresa obtenha receitas e que os gastos para geração dessas receitas não excedam o valor da primeira variável, ou seja, você tem que ter mais receita do que custos e despesas para obter lucro. Parece simples, mas a manutenção da máquina é cara. Por exemplo, para que você possa vender algo, seja um produto ou um serviço, você precisa investir, e esses investimentos devem ser dosados e realizados em linha com suas vendas, caso ao contrário haverá descompasso financeiro e você irá precisar buscar recursos em bancos para pagar seus credores. Assim, chegamos a um segundo ponto importante na caminhada para a formação do lucro, no qual você verá que o fator juros, visto na seção anterior, irá contribuir para a deterioração dos lucros. Quanto maior for o descompasso entre os pagamentos de credores e o recebimento de clientes, maior será a necessidade de obter crédito com outras instituições, portanto, maior será o montante de juros que serão pagos a essas instituições, mini- mizando o lucro. Cabe salientar que existem inúmeros fatores que contribuem para a geração e deterioração do lucro das empresas, porém, nem todos são objetos de estudo neste texto, mas, mesmo assim, você pode entender que a gestão financeira é primordial para a geração de lucro, e os juros de operações de créditos tem papel representativo nessa questão, tanto negativamente, como vimos anteriormente, como de forma positiva. Se um empresário, em suas vendas e na cobrança de seus clientes devedores, operar com taxas de juros superiores as que paga a seus credores, seu resultado financeiro será positivo, portanto, o fator juros poderá contribuir para o aumento dos lucros. Cabe salientar, ainda, que este conceito se aplica também a pessoas físicas. Imagine o seguinte cenário: 77Diferença entre juros e lucro Engenharia_economica_U1_C08.indd 77 14/03/2017 14:15:52 Você quer comprar um carro e o financiamento em um grande banco de varejo do mercado nacional oferece uma taxa de juros de 30% ao ano (a.a.). Você recebeu seu décimo terceiro salário e, como não planejou nenhuma viagem e não deseja obter nenhum outro bem de consumo, tem duas al- ternativas para esse dinheiro: você aplica o recurso em alguma instituição financeira ou amortiza do valor a financiar. Nesse momento, a menos que haja outras variáveis de cunho pessoal, você deve avaliar qual a operação mais lucrativa. Nesse caso, se a taxa de retorno da aplicação for superior a 30% a.a, você obterá vantagem em aplicar os recursos e financiar seu carro com o banco, caso ao contrário, se você aplicar o dinheiro com taxa inferior ao financia- mento, você estará perdendo dinheiro, ou seja, além de eliminar as margens da aplicação, você irá, ao longo do tempo, ter que dispensar de outros recursos para cobrir a despesa com juros no financiamento. Diferença ente juros e lucro Juros e lucro, embora sejam variáveis distintas, se conectam em determinado momento. Você viu, na seção anterior, que os juros podem infl uenciar na formação do lucro de uma empresa, bem como o lucro pode infl uenciar no percentual de juros que uma empresa irá pagar aos superavitários, pois, quanto menor for o lucro, a tendência será pagar mais juros e, quanto maior forem os juros, menor será o lucro. No entanto, esta relação não é direta na maioria dos casos, porém, em alguns seguimentos de mercado, os juros e os lucros estão diretamente vin- culados. É o caso de operações empresarias em instituições financeiras, em que o lucro dos bancos depende diretamente do percentual de juros cobrado de seus clientes. Dessa forma, se não cobrar juros, não terá lucro, e, quanto maior forem os juros, maior será o lucro. Veja, na Figura 1, a estrutura ilustrativa do processo, para fixar os conceitos e entender as diferenças. Engenharia econômica78 Engenharia_economica_U1_C08.indd 78 14/03/2017 14:15:52 Figura 1. Relação entre juros e lucros. Para investir e crescer grande parte das empresas solicita crédito no mercado (empréstimo) e aplica esse dinheiro em novas tecnologias e expansão. Esse dinheiro (crédito) é captado nos bancos tradicionais ou instituições de fomento à economia. Essas instituições cobram juros para efetuar as transações, em razão da escassez de crédito no mercado. Com esse dinheiro, as empresas investem em melhorias (melhoram sua produtividade e reduzem custos com máquinas e equipamentos sofisticados), gerando um lucro maior. Uma parte do lucro da empresa serve para pagamento de acionistas e reinvestimento na própria empresa. Outra parte serve para o pagamento do empréstimo solicitado e os devidos juros contratados. 79Diferença entre juros e lucro Engenharia_economica_U1_C08.indd 79 14/03/2017 14:15:53 Por fim, pode-se dizer que juros e lucro são variáveis distintas, porém complementares. O lucro é o prêmio por uma boa gestão empresarial, ou até mesmo de finanças pessoais. Já o juro é o prêmio ao superavitário pelo aluguel do dinheiro ao agente deficitário. Além disso, o juro podem ser visto como um dos fatores que compõe a formação do lucro, seja ele em proporções menores, por exemplo em uma indústria, ou em grandes proporções, como em um banco. Engenharia econômica80 Engenharia_economica_U1_C08.indd 80 14/03/2017 14:15:53 KEYNES, J. M. The general theory of employment, interest and money. London: Mac- millan, 1936. Leituras recomendadas ANDRADE, L. O que é um agente superavitário? [S.l.]: Conhecimentos Bancários, 2013. Disponível em: <https://conhecimentosbancarios.wordpress.com/2013/05/21/o-que- -e-um-agente-superavitario/>. Acesso em: 22 fev. 2017. CONCEITO.DE. Conceito de juro composto.[S.l.], 2012. Disponível em: <http://conceito. de/juro-composto>. Acesso em: 22 fev. 2017. NOÉ, M. Conceitos básicos sobre juros. São Paulo: Canal do Educador, c2017. Disponível em: <http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/conceitos-basicos- -sobre-juros.htm>. Acesso em: 22 fev. 2017. Referência
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