Buscar

Seminário Brasileiro de Museologia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Anais
PORTO ALEGRE - RS
FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA 
E COMUNICAÇÃO - FABICOE COMUNICAÇÃO - FABICO 
7 a 10 dez. 2022
ANAIS
ORGANIZADORAS 
Profa. Ana Carolina Gelmini de Faria (UFRGS); 
Profa. Ana Celina Figueira da Silva (UFRGS); 
Lizandra Caon Bittencourt (discente do Curso de Museologia e 
PPGMusPa/UFRGS); 
Profa. Márcia Regina Bertotto (UFRGS)
Profa. Vanessa Barrozo Teixeira Aquino (UFRGS)
5º SEBRAMUS 
SEMINÁRIO BRASILEIRO 
DE MUSEOLOGIA 
Porto Alegre - RS 
Museologia em movimento: 
lutas e resistências 
7 a 10 de dezembro de 2022 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Criação da Identidade Visual: 
Sofia Martinez – Design de Produto/UFRGS – Museu da UFRGS 
Ana Porazzi – Design Visual/UFRGS – Museu da UFRGS 
Capa e Editoração eletrônica: 
Lizandra Caon Bittencourt
NÃO ILUSTRADO
Rede de Docentes e Cientistas do Campo da Museologia 
Coordenação - Gestão 2022-2024
Dr. Jezulino Braga – UFMG (coordenador) 
Dra. Vanessa Barrozo Teixeira Aquino – UFRGS (vice-coordenadora) 
Dra. Anna Paula Silva – UFBA 
Dra. Thainá Castro – UFSC 
5º Seminário Brasileiro de Museologia 
Coordenação Geral
Profa. Dra. Vanessa Barrozo Teixeira Aquino – UFRGS 
Profa. Dra. Márcia Regina Bertotto – UFRGS 
Comissão Organizadora 
Profa. Dra. Ana Carolina Gelmini de Faria – UFRGS 
Profa. Dra. Ana Celina Figueira da Silva – UFRGS 
Profa. Dra. Andréa Reis da Silveira – UNIASSELVI 
Ma. Claudia Porcellis Aristimunha – Museu da UFRGS
Ma. Daniela Amaral – Representante dos pesquisadores/profissionais de museus
Prof. Dr. Daniel Viana de Souza – UFPel 
Prof. Dr. Diego Ribeiro – UFPel 
Ma. Eliane Muratore – Museu da UFRGS 
Me. Elias Machado – UFRGS 
Prof. Me. Eráclito Pereira – UFRGS 
Profa. Dra. Fernanda Albuquerque – UFRGS 
Profa. Dra. Fernanda Rechenberg – UFRGS 
374
GT 12 - MUSEUS E CULTURA POLÍTICA
 
Coordenadores
Gleyce Kelly Heitor (Oficina Francisco Brennand - PE)
Glauber de Lima (UFG)
 
 
Resumo
 
O Objetivo deste GT reside nos usos que são dados à cultura e aos museus em meio à 
esfera das políticas culturais. Os trabalhos devem ter como referência os processos em 
que ambos assumem propósitos definidos sob uma retórica democratizante e inclusiva, 
mas que implicam em experiências dotadas de efeitos reguladores e hierarquizantes. 
Isto inclui tanto discussões sobre o que há de ser o horizonte epistemológico de um 
fazer dos museus, assim como de experiências concretas em que estes se tornam 
peças chave de políticas interessadas em imperativos de desenvolvimento e cidadania. 
Aqui se toma tal paradoxo (retórica inclusiva x estética hierarquizante) como algo 
constitutivo da própria experiência contemporânea de museu. Neste sentido, interessa 
aqui discutir os seus fazeres mais rotineiros (exposições, programas educativos, 
formação de acervos, políticas de gestão etc.) enquanto expedientes por meio dos 
quais esta contradição é instituída. O foco, portanto, é menos na eficiência das políticas 
culturais que se enunciam sob esta gramática multicultural (inclusão, participação, 
reconhecimento, empoderamento, comunidades etc.), e mais na utilidade que se busca 
dar aos museus e a cultura sob tais arranjos retóricos e seus respectivos efeitos materiais. 
375
REDUÇÃO DE DANOS E A MUSEOLOGIA DO CUIDADO
Ellen Nicolau
PPGMus/USP. Mestranda em Museologia
RESUMO
Como estratégia de Saúde Pública, a Redução de Danos (RD) pode ser compreendida como 
um mecanismo capaz de provocar mudanças nas formas do consumo de substâncias psicoativas. 
Dirigida às pessoas que não querem ou não conseguem deixar de usar essas substâncias, 
normalmente inseridas em circuitos de maior vulnerabilidade, a RD está destinada a esses contextos 
e alicerçada no postulado dos Direitos Humanos, pois impacta diretamente na diminuição dos 
riscos, danos sociais, econômicos e de saúde aos indivíduos e sua coletividade. Orientada pelo 
intuito de modificar o padrão de uso através de práticas socioculturais ligadas às condições de 
vida e seus determinantes, pressupostos da RD se relacionam à Museologia na medida em que 
podem operacionalizar transformações a partir dos repertórios de seus protagonistas, personalizar 
suas estratégias e serem necessariamente construídas em conjunto com usuários. Em contextos 
nacionais, marcados pela necropolítica e vulnerabilidade como lugar comum, com o objetivo de 
pensar a promoção do cuidado em museus e considerando a RD como um caminho a ser abraçado 
pelas instituições museológicas, observa-se sua realização nos museus como prática democrática 
de cultura e saúde. Desta forma, o presente trabalho busca traçar considerações da Museologia 
do cuidado como meio de elaboração de futuros democratizantes aos museus, orientados por 
práticas em saúde e conexões com questões do presente e dos territórios em que estão inseridos, 
apontando o fortalecimento de políticas públicas em saúde e cultura através dos museus como 
meio concreto de fomentar processos de cidadania, pertencimento e cuidado coletivo.
PALAVRAS-CHAVE
Museologia. Redução de Danos. Saúde Pública. 
Museologia do cuidado. Necropolítica.
ABSTRACT
As a Public Health strategy, Harm Reduction (HR) can be understood as a mechanism 
capable of causing changes in the ways people consume psychoactive substances. Aimed at 
people who do not want or are unable to stop using these substances, normally inserted in circuits 
of greater vulnerability, HR is aimed at these contexts and based on the postulate of Human Rights, 
as it directly impacts on the reduction of risks, social, economic damages and health to individuals 
and their community. Guided by modifying the pattern of use through sociocultural practices linked 
to living conditions and their determinants, HR assumptions are related to Museology insofar as 
they can operationalize transformations based on their repertoires, customize their strategies and 
necessarily be built together with users. In national contexts, marked by necropolitics and vulnerability 
as a commonplace, with the objective of thinking about the promotion of care in museums and 
considering HR as a path to be embraced by museological institutions, its realization in museums 
376
is observed as a democratic practice of culture and health. In this way, the present work seeks to 
outline considerations of the Museology of care as a means of elaborating democratizing futures for 
museums, guided by health practices and connections with issues of the present and the territories 
in which they are inserted, pointing to the strengthening of public health policies and culture through 
museums as a concrete means of promoting processes of citizenship, belonging and collective 
care.
KEYWORDS
Museology. Harm Reduction. Public health. Museology of care. Necropolitics.
Introdução
Este texto começa com um exercício. Fechamos os olhos por alguns segundos e imaginamos 
cenários de metrópoles brasileiras e os elementos que compõem sua paisagem em regiões centrais. 
Abrimos os olhos. Tem-se a certeza que dentre as descrições aparecem uma série de indicadores 
que colocam situações de vulnerabilidade à vida. Façamos o mesmo exercício imaginativo com os 
museus. Que elementos compõem sua paisagem? Quem é o corpo visitante que percorre seus 
corredores, faz a leitura de seus acervos e proposições? Será que imaginamos, de imediato, as 
mesmas corporalidades, fatores ou ações permeadas de públicos diversos? 
Considerações deste texto ligam-se a experiências de uma trajetória de trabalhadorade 
museus inseridos em territórios marcados pela intensidade de desigualdades. Pelo fortalecimento 
de práticas voltadas à conexão dos museus com seus territórios, a presente comunicação nasceu 
da realidade da região central de São Paulo, mais especificamente do bairro do Bom Retiro, 
Campos Elíseos e Luz e busca evocar a Museologia como força de contato entre o cuidado coletivo 
e a promoção da saúde em atenção aos determinantes sociais, agravados pelo acirramento das 
desigualdades econômicas dos últimos anos, pela manutenção de um modelo de desenvolvimento 
capitalista dependente e pelo neoliberalismo epidemiológico. Em resumo, pela própria estruturação 
da necropolítica, aplicada a corpos e territórios específicos, o presente texto, fruto de comunicação 
oral apresentada no 5º Seminário Brasileiro de Museologia (SEBRAMUS) e integrante do Grupo de 
Trabalho Museus e Cultura Política, é uma tentativa de refletir os museus como lugares fundamentais 
para a promoção da saúde ampla em seus territórios a partir da Redução de Danos (RD).
Pelo fortalecimento de uma ideia e de práticas voltadas à conexão dos museus com seus 
territórios, entendidos como o resultado da produção de diferentes forças capazes de compreender 
uma região como o espaço vivido, usado e habitado (SANTOS, 1993), a Museologia se apresenta 
como força de contato entre o cuidado coletivo advindo de instituições como os museus, ou melhor, 
de profissionais dessas instituições e a promoção da saúde a indivíduos cada vez mais afetados 
pelas assimetrias em aspectos socioeconômicos refletidos em situações de vulnerabilidade.
377
Na tentativa de articulação em busca de sociedades cada vez mais justas e da compreensão 
do papel da Museologia nessas lutas, a nova definição de museu, na qual “um museu é uma 
instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, 
conserva, interpreta e expõe patrimônio material e imaterial. Abertos ao público, acessíveis e 
inclusivos, os museus promovem a diversidade e a sustentabilidade. Atuam e se comunicam de 
forma ética, profissional e com a participação das comunidades, oferecendo experiências variadas 
de educação, entretenimento, reflexão e compartilhamento de conhecimento” (ICOM, 2022) pode 
auxiliar na garantia de participação de diferentes comunidades em sua atuação, o que em contextos 
abaixo da linha do equador, envolve radicalmente, seu comprometimento e engajamento ativo com 
questões sociais.
De museus que não se conformam com os desequilíbrios que permeiam seus arredores, 
fundamentalmente interdisciplinar em seus métodos de pesquisa, formação e ação (GUARNIERI, 
1981), a Museologia, aliada à questões concretas da realidade, permite não só refletir a 
intencionalidade da criação dos museus e seus modos de funcionamento, como transcender suas 
potencialidades de uso e fomentar recriações criativas de seus processos. Ao examinar o museu 
enquanto possível agente de transformação local com impacto em saúde, observam-se cenários 
inter-relacionais com Determinantes Sociais da Saúde (DSS) que perpassam as próprias relações 
estruturais responsáveis pela reprodução de desigualdades, também na esfera cultural.
Como desafio à Saúde Pública, entendida como o conjunto de medidas que focaliza problemas 
e políticas de saúde definidas em termos de mortes, doenças, agravos e riscos de ocorrência 
em coletividade mobilizadas por articulações entre sociedade e Estado, que definem, respostas 
sociais à essas necessidades (PAIM; FILHO, 2000), se inserem as condições de vulnerabilidade 
que englobam características objetivas e subjetivas, de complexa demanda de intervenção e 
acompanhamento que demonstram as exigências da utilização de um conceito ampliado de saúde, 
capaz de envolver aspectos da própria democracia cultural dada a multiplicidade de sua penetração 
e alcance em termos de mapeamento e práticas sociais. 
Na ampliação da discussão das temáticas de Saúde Pública e sua relação com a Museologia, 
sucessivos levantamentos de experiências residem em propostas de intervenção com programas 
e projetos específicos voltados a públicos em situações de vulnerabilidade. Porém, a questão 
recai muito mais em aspectos e dados quantitativos como números de visitas e público do que 
sobre transformações de média, longa duração e fortalecimento de vínculos. Neste sentido, o 
vínculo constitui aspecto central à formulação da Museologia do cuidado e de propostas de RD 
pois é justamente da quebra dessas relações que torna-se possível compreender a vulnerabilidade 
enquanto esfacelamento das redes sociais de suporte do indivíduo (CASTEL, 1997), formadas 
tanto pela família, amigos e vizinhos enquanto rede primária, como pelos serviços de atuação do 
Estado e de políticas públicas composto por instituições de assistência, saúde, cultura e educação 
numa rede secundária, que quando enfraquecidas em múltiplas dimensões e em diferentes 
378
relações afetivas, sociais e de trabalho abrem ainda mais caminhos para o crescimento de fatores 
de vulnerabilidade (SLUZKI, 1997).
Dessas redes, o entrelaçamento dos fios revela que o espaço entre os pontos, encontra-
se demasiado aberto e sua fixação, apesar de movimentos com mais intensidade por parte de 
coletivos e movimentos sociais, parece suscetível a rupturas devido aos regimes de necropolítica 
impostos como instrumentos de poder a determinados grupos sociais (MBEMBE, 2018) e em muitos 
casos, refletidos na trajetória de pessoas com redes primárias e/ou secundárias fragilizadas. Cabe 
destacar, que o próprio conceito de rede, usado em políticas públicas de saúde na esfera da gestão 
governamental, à informática com suas interações e conectividade, à administração com parcerias 
e colaboradores, à sociologia e psicologia com grupos sociais e a museologia, com a articulação 
local entre diferentes agentes e iniciativas de memória é força motriz para uma atuação voltada à 
RD.
Ao inserir o conceito de RD no cerne dos debates museológicos contemporâneos, ela 
pode ser compreendida como um mecanismo apto a provocar mudanças nas formas do consumo 
de drogas e substâncias psicoativas capaz de acompanhar, promover diferentes abordagens e 
reduzir eventuais problemas associados a seus usos. Dirigida às pessoas que não querem ou não 
conseguem deixar de usar substâncias psicoativas, normalmente inseridas em circuitos de maior 
vulnerabilidade, a RD está destinada a esses contextos e alicerçada no postulado dos Direitos 
Humanos e na própria defesa da dignidade da vida, sendo fundamental tanto na RD como na 
museologia, o fato de que essa é uma estratégia construída conjuntamente entre profissionais 
e usuários. Orientada pela intencionalidade em modificar o padrão de uso através de práticas 
socioculturais ligadas às condições de vida, pressupostos da RD se relacionam à Museologia na 
medida em que podem operacionalizar transformações a partir dos seus repertórios, personalizar 
suas estratégias e serem necessariamente construídas em conjunto. Em contextos nacionais 
e mais especificamente da cidade de São Paulo, marcados pela constância da necropolítica e 
da vulnerabilidade como lugar comum, a RD “restitui, na contemporaneidade, um cuidado de si 
subversivo às regras de conduta coercitivas. Reduzir danos é, portanto, ampliar as ofertas de 
cuidado dentro de um cenário democrático e participativo” (PASSOS; SOUZA, 2011, p.161) que 
também auxilia na promoção do cuidado em museus como prática na elaboração de futuros 
democratizantes, orientados por práticas em saúde e conexões com questões dos territórios em que 
estão inseridos, pois nesse jogo de poder e ausência de direitos, ações com caráter museológico 
comprometidas com movimentos sociais no enfrentamento às injustiças podem ser vistas, desde 
que inseridas na lógica da saúde como produção social e coletiva, como contribuintes diretas 
para a qualidade de vida das pessoas, dos territórios e combate à diferentes disparidades de 
populações por meio da diminuiçãode fatores de risco, danos sociais, econômicos e de saúde 
aos indivíduos e sua coletividade, potência no estímulo à participação social, gestão democrática 
e fomento a experiências educativas críticas e emancipatórias que podem interferir diretamente 
379
sobre realidades complexas e impactar os DSS.
Museologia do cuidado
Em torno de reflexões sobre as responsabilidades dos museus, instituições em sua maioria 
públicas e não diretamente lucrativas, inseridos nas sociedades capitalistas e expostos a diversos 
fatores de risco que exigem a operacionalização de estratégias em relação a seus públicos e 
modelos de financiamento, indagar as formas pelas quais os museus exercem relações de poder 
pelas dimensões simbólicas da linguagem, da cultura e das práticas performativas (GOUVEIA; 
SCHIAVONI, 2022) é indispensável a práticas museológicas comprometidas com o presente.
Nas urgências de atuação exigidas pelas situações de catástrofe a qual determinadas 
populações são colocadas, o cuidado se configura como forma transversal de atuar em prol do 
tempo presente e em sua concepção de integralidade, significa assumir o paradoxo de que esta 
lógica não cabe à sociedade capitalista vide o exemplo da saúde, no qual o trabalho em produção 
de cuidado é baseado no acolhimento, responsabilização e resolutividade (MERHY, 2013) e 
dificilmente consegue ser realizado, assim como com o exemplo da nova museologia, que se 
coloca como um segmento comprometido com transformações sociais em uma agenda popular, 
democrática e de desenvolvimento local (DUARTE, 2014) que na maioria das vezes, atua pela 
lógica das insistências, visto que apesar de uma série de discursos museológicos apoiados em 
projetos e ideais progressistas, por meio de uma operação de ressignificação dada por diferentes 
fatores, acabam ganhando um sentido instrumental e despolitizante (LIMA, 2014) configurando 
a Museologia do cuidado, tanto na saúde, como nos museus, como possibilidade dissonante ao 
modelo capitalista.
Ao pensar o museu como lugar de saúde e o cuidado como lugar de acolhimento e 
fortalecimento de vínculos, alinhamos suas estratégias à investigação da produção social das 
doenças e espaço auxiliar na realização de ações previstas no planejamento e na organização 
dos serviços de saúde pública de determinada região. Em sua dimensão cuidadora, a saúde nos 
museus e a Museologia do cuidado envolve tornar o público parte do processo museológico no 
qual a vida tenha centralidade em mobilizações da memória. 
Aliada a serviços de saúde, a historicidade das práticas museológicas brasileiras reside 
principalmente no campo da Saúde Mental, visto o histórico de movimentos como a Reforma 
Psiquiátrica Brasileira1 e a própria tradição dos ateliês em instituições psiquiátricas com profissionais 
1 Alguns outros casos, mais vinculados a projetos e programas estão no projeto revivendo memórias do Museu do 
Futebol, realizado em parceria com o Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas de 
São Paulo que convida portadores de Alzheimer para conversa sobre memória e futebol e na Pinacoteca do Estado de 
SP com programas inclusivos específicos voltados a pessoas em situação de sofrimento psíquico e redes de parceria 
com organizações sociais e CAPS. Outros exemplos são diversos e incluem até mesmo o uso dos museus por unida-
des básicas de saúde e políticas públicas, como o edital lançado pela Prefeitura de Niterói do Rio de Janeiro por meio 
da Secretaria Municipal de Saúde na busca de selecionar propostas culturais que dialoguem com temáticas de saúde. 
380
como Nise da Silveira e Osório César. Visto que estratégias crescentes como a prescrição social, 
que permite ligar pessoas que necessitam de cuidados de saúde, em termos principalmente 
da atenção primária, aos recursos de apoio existentes nessas instituições como uma resposta 
diferenciada que contribua para melhorar a saúde, aponta-se a formulação de redes intersetoriais 
a partir dos museus que construam o cuidado integral como mecanismo direto de atuação em seus 
territórios, processos museológicos e em suas narrativas, dado que o “o conhecimento museológico 
ocupa-se da realidade e da história” (GUARNIERI, 2010, p. 129). Como exemplo dessas ações, 
algumas exposições também têm abordado de maneira crescente a tônica da redução de danos 
não somente em suas temáticas, ações educativas, acessibilidade atitudinal, como na própria 
construção expográfica. A exemplo destas ações, destaca-se aqui duas exposições, uma no bairro 
da luz e outra nos campos elíseos, lugares circundados pela região conhecida como ‘Cracolândia’, 
marcada por cenas de uso e recorrente vítima da dispersão forçada, da violência policial e de projetos 
especulativos de urbanização e valorização imobiliária. A primeira é a exposição coletiva Birico – 
Poéticas autônomas em fluxo2 realizada no Sesc Bom Retiro em 2022 com trabalhos de artistas 
que formam parte desse coletivo e contou com obras produzidas coletivamente, interlocuções aos 
movimentos sociais, artistas da região e dispositivos de RD como se pode ver na imagem abaixo, 
com o fornecimento de suprimentos de higiene e piteiras de borracha para cachimbos dentro da 
própria exposição.
Figura 1 - Exposição Birico – Poéticas autônomas em fluxo. SP, Sesc Bom Retiro
Fonte: Ellen Nicolau, 2022.
2 O coletivo Birico é um projeto de solidariedade entre artistas criado para arrecadar fundos para ações sociais na 
região da ‘Cracolândia’. Mais informações sobre o coletivo podem ser obtidas em: https://www.instagram.com/birico.
arte/. Acesso em: 22 de jan. de 2023.
381
Outra exposição, no mesmo território marcado por diversas cenas de uso, foi intitulada O 
Colecionador: arte contemporânea e colecionismo no acervo da Pinacoteca com perspectivas 
da cultura do colecionismo em diversos suportes. Aqui, destaca-se a obra do artista e ativista 
Raphael Escobar, que trabalha em contextos de educação não formal e vulnerabilidade social, 
intitulada ‘Cachimbeiro’ de 2016 na qual ele apresenta uma coleção de 25 cachimbos de usuários3, 
construídos de maneiras diversas com folhas em A4 para distribuição com instruções ilustrativas 
de como construir um cachimbo de maneira segura.
Figura 2 - Exposição ‘O Colecionador: arte contemporânea e colecionismo no acervo da Pinacoteca’. Obra 
‘Cachimbeiro’ de Raphael Escobar, 2016. SP, Estação Pinacoteca
Fonte: Ellen Nicolau, 2022.
Nessas ações, apresentadas a princípio pela RD, se expandindo a diferentes frentes de saúde 
em museus, é possível identificar traços de atuação em comum que podem gerar repercussões na 
criação de redes colaborativas de saúde. Neste sentido, propõe-se a criação de redes articuladas a 
partir dos museus que devem oferecer um ambiente no território para a prática de um cotidiano de 
ocupação, entendida não como força produtiva, mas como força de sociabilidade com envolvimento 
social e potência de encontro, troca, reconhecimento de habilidades e dessa forma, que permitam 
atuar com perspectivas técnicas, a partir de diferentes instituições e políticas públicas em viés de 
práticas coletivas e comunitárias, em acolhimento ou encaminhamento à diferentes necessidades. 
3 Nessa obra, os cachimbos foram coletados na região da ‘Cracolândia’, na qual o artista inclusive coordena um mo-
vimento chamado a Craco Resiste, criado em 2016 sob lutas contra a violência policial na região, sendo seu trabalho 
artístico uma conexão com suas lutas e a região em que a Estação Pinacoteca está localizada. Mais informações sobre 
o coletivo, estão disponíveis em: https://www.instagram.com/cracoresiste/. Acesso em: 22 de jan. de 2023.
382
Dessas possibilidades, a Museologia do cuidado, que opera a partir de redes, se constitui como 
lugar cotidiano que pesquisa e mapeia problemas, potências e necessidades, realiza tramas em 
prol de parcerias em resoluções e gera um lugar seguro de proteção e pertencimento em relação 
a subjetividades e direitos sociais.
Neste sentidoe aliada a políticas públicas de 2010 como o ‘Plano Integrado de Enfrentamento 
ao Crack e outras Drogas’, ampliado em 2011 pelo programa ‘Crack, é Possível Vencer’ (BRASIL, 
2012), mesmo ano de implementação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), inserida como 
uma das quatro redes prioritárias de ampliação da área da saúde que reforça a interpretação do 
cuidado no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir do paradigma da rede social, essas 
se constituem fundamentais ao território das considerações deste texto e a aliança dos museus à 
estas iniciativas por meio dos serviços de atenção à saúde mental, álcool, crack e outras drogas 
com destaque à integração e articulação dos diferentes dispositivos de saúde e características 
impressas a programas como o ‘De Braços Abertos’ (São Paulo, 2014), implementado em esfera 
municipal com o objetivo de inserir a perspectiva de RD para a população em vulnerabilidade 
social da região central atuando com interdisciplinaridade e conexão entre diferentes esferas 
dos serviços públicos. Essas iniciativas podem auxiliar na formulação dessa rede, tecida entre 
considerações da museologia e da saúde pública, suas formas de vida e luta pela manutenção 
e investimento de políticas públicas, visto seus históricos de rupturas e fragilidades e permite 
criar um cotidiano de ações voltadas para o bem-estar de suas populações e colaboração com 
a superação sistêmica de desigualdades.
Considerações Finais
Assim, como consideração deste texto cabe refletir sobre as relações entre as questões 
de saúde da cidade, suas populações e a função dos museus nesses contextos. Diante do 
esfacelamento de políticas culturais e de assistência, parece ser importante questionarmos que 
responsabilidades cabem aos museus hoje, sobretudo em sua condição de lugar de memória e 
pela maneira como deve ser permeável à estrutura social, sendo parte de sua realidade enquanto 
instituição que ao mesmo tempo em que age na sociedade, reage às suas transformações e deve 
mudar seu modo de agir de acordo com elas.
Desta forma, as relações entre Museologia e Saúde podem se consolidar em estratégias de 
atuação conjunta, com indicadores interáreas, capazes de promover pertencimento, fortalecimento 
de vínculos e a dignidade da vida através do que entende-se como Museologia do cuidado, 
reunindo a saúde ampla, RD, criação de redes que incorporem metodologias próprias da saúde 
pública desenvolvidas através das necessidades em saúde, características de um território 
e o fortalecimento de vínculos afetivos nos museus e para além dos museus. Também cabe 
383
criar abordagens multidisciplinares com foco na inclusão cultural e de saúde e no trabalho com 
indicadores voltados a tecnologias do cuidado, no contexto de desigualdades sistêmicas do Sul 
Global e impulsionamento de ações de saúde pública ampla através da RD.
Ao considerar esses mecanismos em prol do fortalecimento de políticas públicas em saúde 
e cultura através dos museus, os mesmos passam a ser um meio concreto de fomentar processos 
de cidadania, pertencimento e cuidado coletivo com impacto na saúde ambiental, de indivíduos e 
seus grupos sociais.
Com caráter democratizante e inclusivo, que priorizam o bem-estar coletivo em vez do 
individual, a Museologia do cuidado, formulada a partir das estratégias da RD e de sua compreensão 
como força política vê na formação de redes possibilidades de cidadania que garantem engajamento 
e comprometimento institucional em diferentes instâncias de políticas públicas com o objetivo que 
os museus sejam cada vez mais vistos como lugares de promoção de justiça e saúde pública.
Ao apresentar paralelos entre as possibilidade de atuação dos museus e abordagens da RD, 
o texto, fruto da comunicação e discussões do evento, concentrou suas forças na explanação de que 
diante situações de agravamento das desigualdades é responsabilidade direta de instituições como 
os museus, produzirem conjuntamente a outras entidades e instâncias políticas, condições de vida 
e fatores de saúde em cotidianos sociais dos seus territórios pois o foco está no empoderamento 
dos protagonistas e suas histórias e a estratégia está na convivência e no mapeamento coletivo de 
questões e formas de enfrentamento.
Com a diversidade de práticas e possibilidades de vida, a RD como prática transversal 
na utilização de serviços e equipamentos intersetoriais, como os museus e as políticas públicas 
de cultura, pode auxiliar nos processos democráticos de sua ocupação, significação cidadã e 
transformação social de cunho coletivo e solidário.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Crack, é possível vencer. Brasília, 2012. Disponível em: http://ww w2.brasil.gov.br/
crackepossivelvencer/home. Acesso em: 22 de jan. de 2023.
CASTEL, Robert. A dinâmica dos processos de marginalização: Da vulnerabilidade à 
“desfiliação”. Salvador: Cadernos CRH, n 26/27, pp. 19-40, 1997.
DUARTE, A. Nova museologia: os pontapés de saída de uma abordagem ainda inovadora. 
Revista Museologia e Patrimônio, 6 (2), pp. 99-117, 2014.
GOUVEIA, INÊS; SCHIAVONI, J. L. . Museus e performances de poder. REVISTA MUSEU, v. 1, 
p. 1-5, 2022.
GUARNIERI, Waldisa Rússio C. A interdisciplinaridade em Museologia (1981). In: BRUNO, M. C. 
O. (Coord.). Waldisa Rússio Camargo Guarnieri: textos e contextos de uma trajetória. São 
Paulo: Pinacoteca do Estado: Secretaria de Estado da Cultura: Comitê Brasileiro do Conselho 
Internacional de Museus, v.1, 2010.
ICOM (Conselho Internacional de Museus). Nova definição de museu. Disponível em: http://
384
www.icom.org.br/?p=2756. Acesso em: 29 de dez. de 2022. 
LIMA, Glauber Guedes Ferreira. Museus, Desenvolvimento e Emancipação: O Paradoxo do 
Discurso Emancipatório e Desenvolvimentista na (Nova) Museologia. Museologia e Patrimônio - 
Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio - Unirio | 
MAST – vol.7, no 2, 2014.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. 3. ed. São Paulo: n-1 edições, 2018. 
MERHY, EE. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo em ato, em saúde. In: 
FRANCO TE, MERHY EE. Trabalho, produção do cuidado e subjetividade em saúde. São 
Paulo: Hucitec, pp. 19-67, 2013.
PAIM J; ALMEIDA Filho N. A Crise da Saúde Pública e a utopia da Saúde Coletiva. Salvador: 
Casa da Saúde, 2000.
PASSOS, E. H; SOUZA, T. P. Redução de danos e saúde pública: construções alternativas à 
política global de “guerra às drogas”. Psicologia & Sociedade; 23 (1): pp. 154-162, 2011.
SANTOS, Milton. O retorno do território. In: SANTOS, Milton; SOUZA, Maria A. A.; SILVEIRA, 
Maria L., Território: Globalização e fragmentação. São Paulo: Hucitec/Anpur, 1993.
SÃO PAULO (Município). Decreto nº 55.067, de 28 de abril de 2014.
SLUZKI, C. A rede social na prática sistêmica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.

Mais conteúdos dessa disciplina