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1 Trilha - Histórico do atendimento à pessoa com deficiência

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Histórico do atendimento à pessoa com deficiência
	Segundo a pesquisadora Maria Salete Aranha (2001) os relatos históricos de pessoas com deficiência existem desde a antiguidade.
	Na Bíblia existem muitas citações que relatam pessoas com deficiência, como exemplo: cego, paralítico, leproso. Importante ressaltar que chama atenção por um detalhe: a pessoa com deficiência se encontra sempre em lugar de marginalidade, abandonado, inválido, pedinte. Evidencia a forma como pessoas com deficiência viviam naquela época – socialmente excluídos, em situação de abandono e vulnerabilidade.
	Nos relatos da Civilização Espartana, uma sociedade guerreira, fundamentada em governança militar que instituía regimes de guerra constantemente, encontramos evidentes conflitos com as pessoas com deficiência. Por conta dessa cultura bélica, agressiva, as pessoas com deficiência eram encaradas como um peso social, um empecilho. Diante disso, praticavam eugenia, que nada mais é que o assassinato das pessoas nascidas com deficiência sob a justificativa de que, para exercer função social nessa civilização, as pessoas não podem possuir deficiências.
	Em Roma, encontramos relatos de crianças nascidas com deficiência usando nomenclaturas que caracterizavam sua deficiência. Eram desvalidas e, frequentemente, abandonadas em esgotos para morrerem.
	Quando estudamos a Idade Média, descobrimos que as pessoas com deficiência eram abandonadas à própria sorte, buscando sobreviver da caridade humana. Não existia qualquer sistema de acolhimento ou cuidados para esses cidadãos.
	Já na Idade Moderna, o conhecimento científico começa a ser desenvolvido, e auxilia pensadores a desenvolverem uma nova interpretação sobre a condição da pessoa com deficiência. As condições passam a ser enxergadas como biológicas e, em muitos casos, passíveis de intervenções que podem proporcionar considerável melhora.
	Kanner (1964) também realizou uma pesquisa sobre o histórico do atendimento à pessoa com deficiência, e diz: “A única ocupação para os retardados mentais, encontrada na literatura antiga, é a de bobo ou palhaço para diversão de senhores e seus hóspedes”.
	Aranha (2001) aponta que os campos como a medicina, fisiologia, bioquímica, filosofia e o campo da educação já desenvolveram novas interpretações sobre o atendimento e acolhimento da sociedade em relação à pessoa com deficiência.
	No campo da educação, especificamente, autores como Pestalozzi, Rosseau, já defendem, em seus escritos, que a pessoa com deficiência é digna de atendimento, acolhimento e que a sociedade não pode abandoná-la. Então, os progressos nos campos científicos auxiliaram bastante para que, paulatinamente, começasse a mudar seu olhar, sua forma de perceber o atendimento prestado à pessoa com deficiência.
	Aranha (2001), cita o paradigma da institucionalização, onde começam a ser construídos espaços para o acolhimento de PCDs, esses espaços. Seriam espaços de pesquisa, mas também de educação e profissionalização dentro dos limites de cada cidadão.
	Algumas das características da institucionalização é a retirada das PCDs de suas comunidades, famílias, escolas, isolando-a do resto da sociedade à justificativa de proteção, tratamento ou processo educacional.
	Goffman (1962) descreve os locais para institucionalização de PCDs como “um lugar de residência e de trabalho, onde um grande número de pessoas, excluídos da sociedade mais ampla por um período de tempo, levam juntos uma vida formalmente encerrada e enclausurada”.
	Pauline Morris (1969) descreve sobre o atendimento nesses locais explicando que não deram certo, as condições dos prédios eram precárias, havia uso de roupas coletivas, havia pouquíssimas coisas para estimulação e tratamento, o que levava os institucionalizados a uma dependência infantilizada. O processo de institucionalização não cumpriu o papel a que se propunha inicialmente – de acolhimento, tratamento, pesquisa e atendimento.
	Outra característica desses espaços, segundo a autora, era o tratamento que era realizado somente em massa, não havia tratamento especializado para lidar com as demandas de cada um. Além do isolamento, estavam confinadas em um espaço de exclusão assistida, com regras e regulamentações vindas de cima para baixo, nenhum tipo de democratização em tomadas de decisões. Como a mentalidade das famílias, muitas vezes, ainda seguiam o estigma do abandono, ninguém procurava os internos para saber a condição em que se encontravam.
	No Brasil foi criado o Instituto de Meninos Cegos, hoje nomeado Instituto Benjamin Constant, sediado no Rio de Janeiro, e em 1957 foi fundado o Instituto dos Surdos-mudos, hoje Instituto Nacional da Educação de Surdos, também no RJ. São espaços muito importantes para o acolhimento, atendimento e novas pesquisas para melhor entendimento da situação da pessoa cega e surda. Continua em atividade até hoje, acolhendo e acompanhando pessoas cegas, com baixa visão e surdas.
	Contudo, com o passar do tempo e aprofundamento no assunto, a sociedade percebeu que a institucionalização não apresentava grandes resultados, começando, diante disso, a pedirem pela desinstitucionalização – a retirada das PCDs das instituições.
	A Desinstitucionalização surge como um novo paradigma, trazendo um novo tipo de assistência à PCD, onde a comunidade em que estas pessoas estão inseridas passam a ser preparadas para acolhê-las. Os recursos e serviços da sociedade serão adaptados para acolher à PCD e seus familiares.
	Aranha (2001) explica que ao introduzir a PCD na sociedade, permitimos que a mesma adquira condições e padrões de vida mais próximos do comum. É nessa lógica que surge o próximo paradigma – a integração – onde a PCD deve fazer parte da vida social, sendo acompanhada, tratada e cuidada para que alcance esse padrão de vida mencionado.

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