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Professor Me. André Felipe Barion Alves Andrean HORTICULTURA REITORIA Prof. Me. Gilmar de Oliveira DIREÇÃO ADMINISTRATIVA Prof. Me. Renato Valença DIREÇÃO DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Me. Daniel de Lima DIREÇÃO DE ENSINO EAD Profa. Dra. Giani Andrea Linde Colauto DIREÇÃO FINANCEIRA Eduardo Luiz Campano Santini DIREÇÃO FINANCEIRA EAD Guilherme Esquivel COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Profa. Ma. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Profa. Ma. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Me. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DE PLANEJAMENTO E PROCESSOS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA EAD Profa. Ma. Sônia Maria Crivelli Mataruco COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Caroline da Silva Marques Eduardo Alves de Oliveira Jéssica Eugênio Azevedo Marcelino Fernando Rodrigues Santos PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Bruna de Lima Ramos Hugo Batalhoti Morangueira Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira Carlos Henrique Moraes dos Anjos Kauê Berto Pedro Vinícius de Lima Machado Thassiane da Silva Jacinto FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP A556h Andrean, André Felipe Barion Alves Horticultura / André Felipe Barion Alves Andrean. Paranavaí: EduFatecie, 2024. 112 p.: il. Color. 1. Horticultura. 2. Hortaliças – Cultivo. 3.Alface. 4. Fitotecnia I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23. ed. 635 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas do banco de imagens Shutterstock . 2023 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. https://www.shutterstock.com/pt/ 3 Professor Dr. André Felipe Barion Alves Andrean • Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Estadual de Maringá; • Mestre em agronomia pela Universidade Estadual de Maringá; • Especialista em agronegócios pela Unicesumar; • Doutor em agronomia com ênfase na irrigação em cultivo protegido de hortaliças pela Universidade Estadual de Maringá. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/1224192983709430 AUTOR http://lattes.cnpq.br/1224192983709430 4 Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o agronegócio brasileiro representa mais de 20% do PIB nacional, sendo considerado um importante pilar para a economia brasileira (IPEA, 2023). Dentro da cadeia produtiva agropecuária, o setor de “hortfrut” também desempenha um importante papel, tendo o Brasil como referência mundial. Assim, o estudo agronômico acerca do cultivo e manejo de hortaliças, é fundamental para que este setor continue crescendo através da implementação de novas tecnologias, gerando inúmeros empregos diretos e indiretos e fortalecendo a nossa economia. Baseado nestas diretrizes, ao longo de nossa disciplina iremos abordar os princípios fundamentais da horticultura, como é dividida, sua exploração e expansão no Brasil, formando o que hoje conhecemos como os “cinturões verdes”. Iremos conhecer as principais culturas hortícolas produzidas no Brasil, assim como as principais regiões produtoras. Todas essas informações serão discutidas na unidade I. Na unidade II aprenderemos os principais meios propagativos de frutas e hortaliças, bem como o sistema de produção das cucurbitáceas, representadas pela melancia e pepino; sistema de produção das solanáceas, como o tomate e a batata. Por fim, conheceremos o sistema de cultivo das brássicas, sendo representadas pelo couve-flor e repolho. Na unidade III abordaremos o sistema de produção da alface, assim como os diferentes meios de produção, podendo ser em ambientes protegidos, uso de canteiros ou sistema de produção sem solo. Analisaremos como as plantas são conduzidas nestes sistemas, assim como suas vantagens e desvantagens. Por fim, na unidade IV conheceremos as principais práticas que ocorrem “depois da porteira”, ou seja, as práticas necessárias em pós-colheita para a conservação e manutenção da qualidade de frutas e hortaliças. Para isto, aprenderemos os conceitos básicos de classificação desses produtos, bem como sua fisiologia em pós-colheita durante o seu armazenamento. Deste modo, espera-se que os conteúdos listados acima possam contribuir para a formação do aluno na área de produção de hortaliças, conhecendo os conceitos básicos do sistema de produção, como: propagação, modo de condução, tratos culturais e cuidados na operação de pós-colheita. APRESENTAÇÃO DO MATERIAL 5 UNIDADE 4 Pós-colheita Diferentes sistemas na produção de alface UNIDADE 3 Cultivo de hortaliças UNIDADE 2 Introdução à horticultura UNIDADE 1 SUMÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Exploração e Expansão da Horticultura como Atividade Socioeco- nômica; • Principais Culturas Hortícolas Produzidas no Mundo, Brasil e Es- tados; • Sistemas de Produção de Hortaliças. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar o aluno referente a produção mundial e nacional de hortaliças e sua importância para a economia. • Compreender que a exigência do mercado influencia grandemente na produção de hortaliças, assim como os diferentes sistemas de produção. • Estabelecer a importância da horticultura na sociedade, uma vez que além de proporcionar alimentos saudáveis, também é capaz de gerar emprego direto e indiretos. Professor Me. André Felipe Barion Alves Andrean INTRODUÇÃO À INTRODUÇÃO À HORTICULTURAHORTICULTURA1UNIDADEUNIDADE INTRODUÇÃO 7INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 A horticultura é considerada a ciência que englobaa olericultura, fruticultura, plantas medicinais, ornamentais e condimentares. A palavra hortaliças se refere ao grupo de plantas que possuem características específicas, como: consistência tenra, não lenhosa, ciclo biológico curto, tratos culturais intensivos e cultivados em pequenas áreas (FILGUEIRA, 2008). O cultivo de hortaliças já é muito antigo, desde os primórdios da civilização. Historiadores afirmam que a beterraba, por exemplo, já era cultivada há 800 anos antes de Cristo nos jardins suspensos da Babilônia (AQUINO; BORÉM, 2021). A subsistência de uma população sempre esteve atrelada à horticultura. As primeiras áreas hortícolas tiveram por objetivo atender a demanda da população local. Com o surgimento dos grandes centros urbanos, essas áreas acabaram por se expandir, dando origem ao que hoje compreendemos como cinturões verdes. No Brasil, por exemplo, o Cinturão Verde Paulista se destaca como um dos principais polos produtor nacional de hortaliças. Pesquisas voltadas para a adaptabilidade de plantas e sua aclimatação, foram fundamentais para o desenvolvimento desse setor. Desta forma, muitas regiões acabaram por se tornar referência na produção de determinada cultura hortícola. A preferência do mercado consumidor também contribui para setorizar determinadas culturas. Diante disso, nesta unidade abordaremos os preceitos básicos da horticultura, e como a sua exploração e expansão está fundamentada no desenvolvimento da sociedade. Conheceremos os principais países produtores de hortaliças, assim como as hortícolas de maior destaque nacional e seu valor econômico para os estados produtores. Por fim, estudaremos os principais sistemas de produção de hortaliças, abordando os conceitos básicos de manejo. Muito obrigado e bom estudo! EXPLORAÇÃO E EXPANSÃO DA HORTICULTURA COMO ATIVIDADE SOCIOECONÔMICA1 TÓPICO 8INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 Os primeiros cultivos de hortaliças tinham como objetivo suprir apenas a subsistência, não era visto como um meio produtivo gerador de renda. Estas hortas eram conduzidas por famílias ou pequenos grupos. Zárate e Vieira (2018), definem que o termo horta representa o local, geralmente de curta extensão, onde se cultiva hortaliças e poucas árvores frutíferas. Já o termo hortaliças se refere a plantas herbáceas de cultivo intensivo de ciclo curto, onde as partes comestíveis podem ser consumidas ao natural ou semi-processadas. Para cada necessidade de mercado, indústria, nível tecnológico e social, há um método específico de implantação e condução da horta. Hortas comerciais, por exemplo, objetivam a obtenção de lucro, sendo especializadas no cultivo de no máximo três espécies hortícolas e possuem mecanização. Já as hortas comerciais diversificadas, é cultivado no mínimo quatro espécies hortícolas, além de predominar a mão de obra nos tratos culturais. Este último tipo teve início com o aumento da demanda por alimentos devido ao crescimento populacional. As hortas, denominadas educativas, têm por objetivo não apenas ensinar técnicas de cultivo, mas garantir qualidade de vida aos que participam. As hortas comunitárias podem ser classificadas como métodos educativos e estão presentes em muitas cidades do Brasil, garantindo qualidade alimentar a inúmeras comunidades, propiciando o desenvolvimento da cidadania por meio do respeito ao meio ambiente, convívio social e terapia ocupacional. As hortas classificadas como experimentais são áreas destinadas à implantação de experimentos, objetivando a adaptação de espécies hortícolas inseridas na região ou na elaboração de novas técnicas de cultivo. Embora este método de adaptação e melhoramento genético seja utilizado com maior precisão nos tempos atuais, esta prática já era utilizada há muito tempo, porém de maneira empírica e rudimentar. 9INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 No período das grandes navegações mercantes, a disseminação de inúmeras espécies de hortaliças ocorreu de forma sistemática ao redor do mundo, sendo utilizada como moeda de troca por outras mercadorias ou na subsistência das novas áreas colonizadas. A alface, por exemplo, uma das principais hortaliças produzidas na atualidade no Brasil, especula-se que foi introduzida na América em 1494 por Cristóvão Colombo (SALA; COSTA, 2012) e no Brasil por intermédio dos colonizadores portugueses em 1650. A batata também foi incorporada na dieta dos brasileiros através dos imigrantes europeus, no final do século XIX, na região sul do país. As condições climáticas neste local eram favoráveis na época (EMATER/RS, 2008). Segundo Filgueira (2008), a olericultura evoluiu acentuadamente no Brasil a partir da década de 1940, onde o cultivo de hortaliças passaram de pequenas hortas à exploração comercial com características de agronegócio. Mais tarde, com a fundação da Sociedade de Olericultura do Brasil, a atividade passou a ganhar maior destaque e adeptos no país, principalmente com o apoio de instituições de pesquisa. Ao longo dos anos, diferentes regiões do Brasil passaram a selecionar cultivares que melhor se adaptassem ao clima e ao sistema de produção local. Assim, estas regiões tornaram-se referência na produção de determinada hortícola. Aliada a revolução verde, promovida pelo uso de agroquímicos e fertilizantes, a produção nessas regiões acabou por formar o que hoje compreendemos como cinturão verde. O termo cinturão verde é empregado para identificar faixas extensas de plantações de hortaliças próximas a aglomerações urbanas. Estas áreas são destinadas para a produção de alimentos voltados para o abastecimento da metrópole, uma vez que os produtos hortícolas exigem seu consumo ainda fresco. De acordo com a CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), o Cinturão Verde Paulista corresponde por 25% da produção nacional de verduras e 90% das verduras, e 40% dos legumes consumidos na capital paulista. O Cinturão Verde Paulista é composto por duas grandes áreas, sendo leste e oeste, onde a capital do estado está no centro. Os municípios que compõem a região leste são: Mogi das Cruzes, Santa Isabel e Suzano, com mais de 4 mil pequenos produtores rurais. Na região oeste, o Cinturão Verde é composto por cidades como Ibiúna, Itapetininga, Piedade do Sul e Sorocaba, que contam com aproximadamente 3 mil pequenas propriedades rurais (CEAGESP, 2018). 10INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 De modo semelhante, estas áreas agrícolas também são observadas próximos a grandes centros urbanos no estado do Paraná, tendo como destaque as regiões de Maringá – Londrina e Curitiba – Ponta Grossa. A Figura 1 identifica os principais polos produtores de frutas e legumes do país, responsáveis pelo abastecimento da CEAGESP. QUADRO 1: PRINCIPAIS PÓLOS PRODUTORES DE FRUTAS DE LEGUMES QUE ABASTECEM A CEAGESP. Fonte: CEAGESP (2018) Grande parte desses polos produtores são conduzidos por agricultores que possuem até 4 módulos fiscais, portanto, são classificados como agricultura familiar. Segundo o Censo Agropecuário de 2017, o IBGE contabilizou 3,9 milhões de estabelecimentos agrícolas no Brasil que se enquadram como agricultura familiar (IBGE, 2017). A pesquisa revelou que a agricultura familiar representa 76,8% dos estabelecimentos agropecuários, representando 23% da área total de agropecuária brasileira. Uma característica da agricultura familiar é a limitação ao acesso à tecnologia de produção. No setor da horticultura, inúmeros métodos podem ser empregados ao sistema produtivo que não necessariamente necessitam do uso de tecnologia, como a produção de mudas em bandejas, polinização de flores, raleamento de frutos em formação, desbaste de 11INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 plantas ou poda de condução e limpeza. Já a implantação de sistemas de produção com o uso de microirrigação, ambiente protegido ou cultivo sem solo, fazem uso de meios tecnológicos e quando empregados possibilitamo aumento de produção e oferta do produto o ano todo. Embora a tecnologia possibilite maiores produções, o uso da mão de obra ainda é de fundamental importância. Segundo Filgueira (2008), do ponto de vista social, o intensivo uso de mão de obra nesta atividade contribui para a redução do desemprego. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (ABRAFRUTAS) e o programa Hortifruti Saber & Saúde lançaram recentemente o relatório Cenário Hortifruti Brasil que traz, pela primeira vez, o panorama nacional dos cultivos de hortifruti. Entre os destaques, o material aponta que a produção de frutas e hortaliças no Brasil gera cerca de 13 milhões empregos diretos e indiretos, em uma área de pouco mais de 5 milhões de hectares, superando a cadeia de soja, que tem área superior a 34 milhões de hectares de norte a sul do País (Revista Rural, 2019). O uso de mão de obra qualificada no cultivo de hortaliças é capaz de proporcionar maiores índices de produtividade e qualidade nos produtos colhidos (EPAGRI, 2014). A qualidade do produto se torna um fator determinante para a obtenção de melhores preços, sendo muitas vezes um fator decisivo para o produtor optar por vender ou não. O fator produtividade é observado pelo alto valor econômico por unidade de área cultivada em comparação com outras culturas agrícolas. A Tabela 1 destaca os valores referente ao custo de produção e rendimento por hectare de algumas hortaliças em relação ao cultivo de cereais, no estado do Paraná. QUADRO 2: VALORES MÉDIOS DE PRODUTIVIDADE, PREÇO DE COMERCIALIZAÇÃO, CUSTO DE PRODUÇÃO E RENDIMENTO DAS PRINCIPAIS CULTURAS HORTÍCOLAS E DE CEREAIS. Fonte: Ceasa (2023); Aprosoja (2022) e Cepea (2023) 12INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 Com base na Tabela 1 podemos observar que embora o cultivo de hortaliças requer maiores investimentos para a sua condução e uso de mão de obra especializada, o retorno econômico, ou rendimento obtido, pode chegar a 30 vezes mais, como pode ser comparado entre o cultivo da alface com a cultura da soja. Dentre as hortaliças apresentadas na tabela, o tomate se destaca como a cultura que mais exige investimento, sendo em torno de R$ 76.089,00 por hectare. No entanto, sua capacidade produtiva é maior em relação às demais culturas citadas, além do seu valor de mercado ser atrativo, tornando-a uma das culturas mais rentáveis no Brasil. Para a cultura da batata, embora apresente menor rendimento por hectare em relação às outras hortícolas, ainda sim se torna uma cultura atrativa a sua produção, pois há grande aceitação do mercado consumidor desse tubérculo. Desta forma, compreendemos que a exploração de culturas hortícolas tem alavancado a economia de grandes centros urbanos, por meio de logísticas de produção, transporte e consumo. A geração de empregos formais e informais neste setor tem contribuído para o desenvolvimento regional, bem como a formação e consolidação de Cinturões Verdes que proporcionam a oferta de produtos frescos e de maior qualidade aos consumidores. PRINCIPAIS CULTURAS HORTÍCOLAS PRODUZIDAS NO MUNDO, BRASIL E ESTADOS2 TÓPICO 13INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 A produção mundial de hortaliças saltou de 682 milhões de toneladas em 2000 para cerca de 1.1 bilhão de toneladas em 2021 (STATISTIC, 2023). De acordo com a pesquisa, apenas em 2021 o mercado global de horticultura foi de US $20,77 bilhões e sua projeção sugere um aumento de US $40,24 bilhões para 2026. Atualmente a China se destaca como o maior produtor de vegetais frescos, seguida pela Índia e os Estados Unidos (FAOSTAT, 2023). O Brasil se encontra 8.º- posição, com uma produção de 1,12% da produção mundial. Embora possua alto valor comercial, a produção de vegetais frescos ainda se encontra em último lugar na cadeia de produção de alimentos. Conforme a pesquisa da FAO (Figura 3), a produção de açúcar, ovos, carnes e cereais são as principais commodities produzidas e comercializadas no mundo. QUADRO 3: PRINCIPAIS ALIMENTOS PRODUZIDOS NO MUNDO Fonte: FAO (2021) 14INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 Dentre as principais culturas hortícolas produzidas no mundo, a batata detém a maior produção e comercialização no mundo, seguida pelo tomate e cebola. De acordo com a pesquisa publicada pelo STATISTA, em 2021 as Solanáceas dividiram o primeiro e o segundo lugar como as hortaliças mais produzidas e comercializadas (Figura 4). QUADRO 4: PRINCIPAIS PRODUTOS HORTÍCOLAS PRODUZIDOS NO MUNDO EM 2021 EM MILHÕES DE TONELADAS. Fonte: Adaptado STATISTA (2021) Apesar da batata possuir lugar de destaque na produção mundial, seu consumo não é liderado em muitos países. O Brasil é um exemplo disso. Segundo o IBGE (2018), o tomate é a hortaliça mais consumida no país, sendo consumido em média 4,2 kg por habitante / ano. A batata inglesa se encontra na segunda posição com 4,04 kg por habitante e em terceiro lugar está a cebola. Em relação ao consumo de frutas, nesta mesma pesquisa foi observado que a banana é a fruta mais consumida, sendo 7,08 kg por pessoa / ano, seguida pela laranja (4,3 kg) e a melancia (2,65 kg). As demais posições das hortaliças e frutas podem ser observadas na Tabela 2. 15INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 QUADRO 5: PRINCIPAIS FRUTAS E HORTALIÇAS CONSUMIDAS PELOS BRASILEIROS Fonte: IBGE (2018) A produção nacional é moldada de acordo com a demanda do mercado. Como foi observado na Tabela 2, as principais fruteiras produzidas no Brasil são a banana, laranja e melancia, logo, estas frutas também se destacam na produção nacional. Para as hortaliças esta regra também é válida, onde o tomate, batata e cebola também possuem expressiva produção. O gráfico abaixo apresenta a produção nacional de frutas e hortaliças registrada pelo IBGE em 2021. QUADRO 6: PRODUÇÃO NACIONAL DE FRUTAS (A) E HORTALIÇAS (B) EM TONELADAS. A) 16INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 B) Fonte: IBGE (2021) O fator climático característico das regiões no Brasil, propiciam a concentração da produção específica de algumas hortaliças e frutas. Como já discutimos, a adaptação e o melhoramento genético fizeram com que estas plantas alcançassem melhor desempenho em determinados locais em virtude de temperatura adequada, umidade, radiação solar e índice de precipitação. Assim, a Tabela 3 apresenta os cinco primeiros estados com as maiores produções de determinadas hortaliças e frutos. QUADRO 7: PRINCIPAIS ESTADOS PRODUTORES DE FRUTAS E HORTALIÇAS. 17INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 t - toneladas Fonte: IBGE (2021) Com base na Tabela 3, os estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais estão entre os maiores produtores no setor de hortifrúti do país. Os três juntos somam mais de R$ 25 bilhões de reais em valor de produção de frutas e hortaliças (CNA, 2022; Emater-MG, 2020) e contribuem significativamente para o PIB do agronegócio brasileiro. Assim, compreendemos que o cultivo de hortaliças possui lugar de destaque na produção mundial. No Brasil, o comércio de hortifrúti geram valores bilionários ao agronegócio, onde a produção de determinada cultura hortícula é fortemente influenciada pela preferência do mercado consumidor. Fatores como adaptabilidade climática também é fundamental para o aumento produtivo, onde os estados de São Paulo, Paraná e Minas se destacam. SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS3 TÓPICO 18INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 A exigência na regularidade de produção e oferta de hortaliças foram um dos principais fatores que alavancaram o desenvolvimento de novas técnicas de cultivo e manejo. Entretanto, os fatores agroclimáticos ainda tornam limitante a oferta de hortaliças ao longo do ano. Deste modo, antes de discutirmos sobre os tipos de sistemas de cultivo, vamos compreender quais fatores deletérios podem atuar sobre as plantas e como estas limitações podem ser contornadas por meio da implementaçãode diferentes sistemas de cultivo. O ambiente, genótipo e fenótipo é um conjunto de fatores que exercem influência sobre o desenvolvimento vegetal. O fator ambiente representa as características abióticas que interferem na produção, podendo ser compreendido como o clima, solo, adubação, disponibilidade de água e fotoperíodo. O termo genótipo diz respeito à composição genética da planta e este ao interagir com o ambiente expressa-se o fenótipo. Segundo Filgueira (2008), o fenótipo é expresso nas características da planta cultivada, produtividade da cultura e na qualidade do produto obtido, portanto, é a expressão visível do genótipo. O controle sobre a temperatura e umidade torna-se um grande aliado ao horticultor, uma vez que hortaliças de clima quente podem ser conduzidas em ambiente protegido, evitando geadas ou grandes amplitudes térmicas que possam comprometer o desenvolvimento vegetativo. O controle da umidade e disponibilidade de água também contribui para a redução da incidência de patógenos que se beneficiam das condições de elevada umidade do ambiente ou em solos excessivamente encharcados. Assim, os diferentes métodos de cultivo visam o conforto da planta, refletindo em sanidade vegetal e produtividade. 19INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 3.1 Sistema convencional O sistema convencional pode ser subdividido em três tipos, sendo o sistema convencional no solo, ambiente protegido no solo e sistema sem uso do solo. No sistema convencional no solo, não há o uso de mecanismos que impeçam os efeitos abióticos no desenvolvimento da planta. No entanto, este sistema ainda é o mais utilizado no Brasil, principalmente pelo baixo custo de sua implantação. No sistema convencional as plantas ficam expostas às variações de temperatura, excesso de chuva, ventos e até mesmo geadas. Estes fatores contribuem para que o ciclo da cultura perdure por maior tempo, aumentando o risco de queda da produtividade. A temperatura quando alternada bruscamente pode comprometer o desenvolvimento vegetal. Fontes (2005), afirma que temperaturas muito abaixo ou acima do ideal em hortaliças, podem desencadear injúrias por congelamento, cessando o crescimento vegetativo, ou causando escaldadura em temperaturas elevadas. Casos de temperatura muito elevada também é observado o abortamento de flores. Chuvas frequentes possibilitam o aumento da incidência de doenças na parte aérea ou nas raízes das plantas, uma vez que a umidade no solo é recorrente. Solos com baixa capacidade de drenagem não são indicados para o cultivo de hortaliças, pois além de propiciar o surgimento de doenças, como já mencionado, também propicia a redução da porosidade do solo, causando hipóxia às raízes, levando à morte da planta. A principal característica do sistema convencional é a confecção de canteiros. O processo de encanteiramento, geralmente, é realizado por implementos agrícolas ou pequenas máquinas, denominadas motocultivadoras, cujo objetivo é realizar o revolvimento do solo e o seu encanteiramento. As dimensões dos canteiros variam de acordo com a cultura a ser implantada. Usualmente utiliza-se uma largura superficial em torno de 1 metro e profundidade que varia de 0,15 a 0,30 metros. No caso do plantio de cenoura, beterraba, alho e cebola, é recomendado um profundo revolvimento do solo para que não ocorra o impedimento do desenvolvimento vegetal. Outras ferramentas necessárias para a formação e condução no sistema convencional de cultivo de hortaliças é a grade aradora, grade niveladora, enxada rotativa com encanteirador (Figura 6) e em alguns casos o uso de subsoladores. 20INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 FIGURA 1: CONFECÇÃO DE CANTEIROS A; USO DE MULCHING NA CULTURA DA PIMENTA B Fonte: MADEIRA et al., (2022); MAROUELLI, W. A. SILVA, L.C. W. (2012) A utilização constante desses equipamentos, operando na mesma profundidade, podem provocar a compactação do solo logo abaixo da camada preparada. Assim, a compactação se torna um dos fatores limitantes neste sistema de cultivo, podendo desencadear erosão na área. Em relação à semeadura, esta poderá ser realizada manualmente ou mecanizada. Para algumas culturas utiliza-se o transplantio de mudas, principalmente quando é utilizado mulching (cobertura plástica) para cobrir os canteiros. Áreas com ausência de mulching, a capina se faz necessária, resultando em aumento de gastos com mão de obra, além da dependência no uso de herbicidas. Do ponto de vista ecológico este sistema não é equilibrado, uma vez que não há otimização dos recursos na produção, além de intensa interferência da estrutura do solo por meio do preparo com máquinas, deixando-o exposto a ações das chuvas. Deste modo, cada vez mais outros sistemas vêm ganhando espaço neste setor. Sistemas como uso de ambiente protegido e sistema sem uso de solo estão ganhando novos adeptos e será discutido na Unidade 3 referente ao cultivo da alface. 3.2 Sistema de plantio direto de hortaliças (SPDH) As primeiras experiências envolvendo o plantio direto de hortaliças no Brasil se deu na década de 1980 em Santa Catarina pela EPAGRI no plantio de cebola. A produção de hortaliças geralmente é uma atividade intensiva com frequente utilização de mecanização e insumos. Partindo disto, o SPDH tem como princípio três fatores básicos, sendo eles: o revolvimento localizado do solo, sendo restrito na área de plantio junto as covas, a diversificação das espécies pela rotação de cultura e a cobertura permanente do solo. 21INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 A ruptura do SPDH com o sistema convencional se deu, a partir do momento em que não mais ocorreu a dependência do uso de adubos solúveis e defensivos agrícolas para o controle do agroecossistema (EPAGRI, 2019). Assim, o SPDH visa proporcionar saúde à planta e o equilíbrio com o meio ambiente. Um dos princípios desta metodologia é a biodiversidade vegetal presente na área, através do planejamento para culturas de cobertura, cultura antecessora ou até mesmo consorciada. No entanto, há um processo de transição do sistema convencional para este método, podendo levar anos, uma vez que este novo sistema é complexo, porém promove melhorias nos atributos biológico, químicos e físicos do solo, além de aumentar a interação da cultura com o meio (OLIVEIRA, 2016). O SPDH contribui para incrementar os teores de M.O (matéria orgânica) e, consequentemente, para a melhoria da estrutura do solo. Essa melhora se dá principalmente pela formação de bioporos do crescimento e posterior decomposição das raízes das plantas, além da estabilização dos agregados. Este sistema permite maior resistência do solo a erosão, maior infiltração e retenção de água no solo, aumento nos teores de M.O, nutrientes e maior capacidade de troca de cátions. O nitrogênio (N) é o elemento mais exigido pelas plantas. Pensando nisso, o manejo neste sistema é voltado para garantir teores adequados de N orgânico no solo. Assim, utilizam-se plantas denominadas de adubos verdes, sendo responsáveis pela ciclagem de nutrientes e produção de palhada para a cobertura do solo. Os adubos verdes são divididos em dois grupos, sendo: gramíneas e leguminosas. Além de possuírem arquitetura vegetativa distintas, estas plantas também se distinguem em relação ao tempo de sua decomposição no solo. A alta relação C/N (carbono/nitrogênio), presente nas gramíneas, resulta em decomposição lenta, já a baixa relação C/N disponibiliza de maneira rápida o N para as plantas através da decomposição acelerada, característica atribuída às leguminosas. O conforto térmico proporcionado as plantas pelo uso da palhada, além de reduzir o estresse hídrico, através da redução da evaporação da água presente no solo, reduz a oscilação da disponibilidade hídrica. A presença de palhada também exerce efeito de supressão na germinação de plantas daninhas, reduzindo gastos com mão de obra. Para a implantação doSPDH inicialmente deve-se realizar uma amostragem química do solo. Observar se há presença de compactação e áreas que serão necessários a construção de terraço, curva de nível ou cordão vegetativo. Antes da implantação do adubo verde, é necessário realizar a correção do pH do solo. 22INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 Os adubos verdes deverão ser escolhidos, de acordo com o objetivo do produtor. As gramíneas, como sabemos, possuem elevada relação C/N e, portanto, permanecem por mais tempo na superfície do solo, além de possuírem sistema radicular agressivo e são eficientes para aumentar e manter a estabilidade dos agregados do solo. Exemplo de gramíneas utilizadas no SPDH são: aveia preta, milho, milheto e centeio. O milho e milheto são forrageiras de verão, já a aveia preta e o centeio, de inverno. As forrageiras leguminosas permitem a fixação biológica do nitrogênio através da captura do N atmosférico, adicionando-o no solo. Suas raízes são grossas e permite o aumento dos macroporos, beneficiando a aeração do solo. Como já foi mencionado, sua decomposição no solo é rápida, portanto, o tempo de cobertura do solo é reduzido. Exemplo de leguminosas são: tremoço, ervilhaca, nabo forrageiro, mucuna e crotalária. Assim como as gramíneas, as leguminosas também são classificadas em plantas de verão e inverno. A mucuna e crotalária são leguminosas de verão, já o tremoço, ervilhaca e nabo forrageiro, de inverno. A escolha do adubo verde dependerá da época do ano da sua implantação, mas também das condições físicas e químicas presentes no solo. Há a possibilidade de fazer um mix de sementes na área. Entretanto, deve-se ter conhecimento em relação ao hábito de crescimento e o momento adequado para o seu corte. De modo geral, seu corte é indicado quando os grãos emitidos pela planta apresentarem aspecto pastoso. Este fato indica que há uma relação hormonal na planta e ela não rebrotará mais, podendo realizar o seu tombamento. Com relação ao tombamento e corte do adubo verde, se faz necessário o uso de alguns implementos. O rolo faca é a principal ferramenta no SDPH (Figura 7). Sendo composto por um rolo e hastes afiadas, este implemento realiza o tombamento da planta e seu seccionamento. Alguns produtores utilizam ainda o disco de corte juntamente com rolo faca. Após o corte ou o tombamento, o revolvimento do solo ficará restrito apenas na linha de plantio. FIGURA 2: ROLO FACA UTILIZADO PARA O TOMBAMENTO E CORTE DA PLANTA. Fonte: EPAGRI (2019) 23INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 Há diversas espécies hortícolas que se adaptam facilmente ao sistema de plantio direto, como couve, repolho, couve-flor, brócolis, berinjela, jiló, abobrinha, abóboras, tomate, pimentão, entre outras. Basicamente, podem ser cultivadas nesse sistema todas as espécies plantadas em espaçamento relativamente aberto, o suficiente para permitir fáceis capinas depois do transplantio. Culturas como cebola, beterraba, alho, alface, entre outras, apresentam dificuldades em relação à manutenção da população de plantas espontâneas em níveis abaixo do competitivo com a cultura. Entretanto, para pequenas áreas e quando se dispõe de mão de obra, é possível seu plantio, desde que se tenha mais cuidado na fase de formação de palhada (Figura 8). FIGURA 3: PALHADA DE AVEIA PRETA NA CULTURA DA CEBOLA. Fonte: EPAGRI (2019) Algumas culturas apresentam verdadeira limitação ao cultivo em sistemas de plantio direto, como cenoura, mandioquinha-salsa, batata-doce e batata. A cenoura necessita de solo extremamente solto em virtude da frágil dominância apical de suas raízes, o que leva à formação de raízes tortuosas ou bifurcadas em caso de qualquer impedimento físico, por mínimo que seja. A mandioquinha-salsa e a batata-doce necessitam de leiras para a formação de raízes e para evitar o acúmulo de água no colo das plantas, no caso da mandioquinha-salsa. A batata necessita de amontoa para a formação dos tubérculos, e o aspargo, para a formação dos brotos. 3.3 Sistema orgânico A agricultura orgânica teve início através de movimentos contrários à adubação química, defendendo o uso de matéria orgânica e outras práticas que visam o equilíbrio com o meio ambiente. Através desse movimento, em 1924 surgiu na Europa o termo agricultura orgânica, iniciada por Rudolf Steriner (EHLERS,1994). 24INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 O sistema orgânico de produção tem por objetivo assegurar a preservação da biodiversidade na área de cultivo agrícola. Os preceitos deste sistema visam a adoção de rotação de culturas, incluindo o uso de adubos verdes, leguminosas para a ciclagem de nitrogênio, plantas de raízes profundas que realizem o rompimento de camadas compactadas do solo. Assim como vimos no sistema de plantio direto de hortaliças, no sistema orgânico também se prioriza o bem-estar da planta e seu equilíbrio com o meio. Para isto, utilizam-se ferramentas que possibilitem a produção de alimentos sem impactar o meio ambiente. A conversão do sistema de produção convencional para a orgânica requer conhecimentos técnicos e legais, uma vez que esta prática é pautada de acordo com a normativa n.° 64 publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Nela, é estabelecido diretrizes para a utilização da água para a irrigação, manipulação e armazenagem correta de estercos, além da proibição do uso de produtos químicos, fertilizantes solúveis, tratamento químico de sementes e o uso de organismos geneticamente modificados. Tendo como estratégia a diversificação ambiental, a agricultura orgânica realiza consorciação de culturas, como a de cenoura e alface, por exemplo (BEZERRA NETO et al., 2002). Esta prática busca a otimização da área cultivada, exploração e absorção de nutrientes em diferentes camadas do solo, controle de plantas daninhas e redução da disseminação de pragas e doenças. Existem inúmeras pesquisas a respeito da utilização do controle biológico na agricultura. Esta ferramenta é empregada neste sistema como medida preventiva e curativa no controle de pragas em hortaliças. Este controle pode ser classificado como conservativo, aumentativo e interativo (VENZON, et al. 2016). O controle biológico conservativo utiliza-se a cobertura vegetal no manejo de plantas espontâneas (plantas daninhas). Algumas plantas utilizadas como cobertura possuem características alelopáticas que auxiliam no controle de algumas pragas. A mucuna (Stizolobium sp), por exemplo, proporciona excelente cobertura do solo, reduzindo a população de nematoides (FONTES, et al. 2005). Algumas plantas de cobertura também são utilizadas para atrair inimigos naturais de pragas, servindo de alimento e abrigo a estes insetos. O controle biológico aumentativo é caracterizado pela liberação de predadores e parasitóides nas áreas agrícolas. Dentre os predadores, ocupam posição de destaque as joaninhas (Coccinellidade), percevejos do gênero Orius, Geocoris, Nabis, etc.; os lixeiros (Chrysoperla spp), tesourinhas, vespas, ácaros fitoseídeos e diversas espécies de aranhas (GALLO, et al. 2002). O uso de feromônios também é utilizado para atrair insetos pragas para armadilhas espalhadas em diversos pontos da área de produção (Figura 9). 25INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 FIGURA 4: ARMADILHAS COM FEROMÔNIO (A); JOANINHA PREDADORA (B); TESOURINHA (C). Fonte: CRUZ et al. (2012); EMBRAPA, (n.d) O método interativo utiliza-se em conjunto o controle biológico conservativo e aumentativo, além da utilização de fungos para o controle de insetos, como de ácaros fitófagos. O uso deste bioinsumo como controle biológico de insetos pragas já é uma prática realizada na agricultura e muitos deles já são registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. (Tabela 4). TABELA 1: INSETICIDAS BIOLÓGICOS REGISTRADOS NO MAPA. Fonte: MAPA (2016) Para o controle alternativo de doenças, a que tem maior destaque é a calda bordalesa, possuindocomprovada eficiência em doenças causadas por fungos (míldio, ferrugem, requeima, pinta preta, cercosporiose, antracnose, manchas foliares, podridões, entre outras) em diversas culturas, tendo efeito secundário contra bacterioses. 26INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 Indiretamente também exerce efeito repelente contra alguns insetos, tais como: cigarrinha-verde, cochonilhas, tripes e pulgões. Os ingredientes para seu preparo são relativamente simples, sendo apenas sulfato de cobre, cal virgem e água. Embora o cobre tenha efeito nocivo em doenças fúngicas, deve-se tomar cuidado em relação à quantidade a ser adicionada à calda, pois este micronutriente em alta quantidade pode causar fitotoxidez à planta. Assim, concluímos que o cultivo de hortaliças com base ecológica está pautado no respeito e na interação com o meio ambiente. Utilizando mecanismos naturais para o controle de pragas e doenças sem causar desequilíbrio biológico na área de produção. Apesar de possuir algumas limitações em termos de pesquisas e adeptos ao sistema, este se mostra vantajoso no aspecto da produção de alimentos saudáveis e isenção da contaminação por produtos químicos ao produtor. Quer saber mais sobre dados de produção de alguma hortaliça em específico? O IBGE disponibiliza uma ferramenta em sua página na internet, onde o usuário tem acesso a informações como: valor de produção, quantidade produzida, número de estabelecimentos que cultivam determinada hortaliça, além da cidade de maior destaque na produção. Acesse: https://www.ibge.gov.br/explica/producao-agropecuaria/abacate/br As hortaliças são consideradas alimentos funcionais e nutracêuticos, trazendo inúmeros benefícios ao organismo como a resistência imunológica e prevenção de doenças (MORAES, 2006). https://www.ibge.gov.br/explica/producao-agropecuaria/abacate/br 27INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 A horticultura representa um dos principais pilares da economia global, onde o aumento da produção é acompanhado pelo crescimento populacional. Exemplo disto é a China e a Índia, que como vimos, são os principais produtores de hortaliças, logo, também possuem os maiores índices populacionais. Desta forma, compreendemos que o mercado consumidor exerce grande influência na formação de cinturões verdes, bem como a preferência por determinada hortícola. Embora o mercado consumidor interfira na produção de hortaliças, a preocupação com o meio ambiente está cada vez mais difundida neste setor. Para isto, novos métodos de cultivo têm sido desenvolvidos e estimulados para que se obtenham alimentos saudáveis com baixo impacto no uso de recursos naturais. CONSIDERAÇÕES FINAIS 28INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 A HF BRASIL é um site coordenado pela Cepea, da Esalq, unidade da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba, que, além de outras atividades, publica digitalmente uma revista voltada para os principais interesses da horticultura nacional. Para ter acesso à revista acesse: https://www.hfbrasil.org.br/br/revista.aspx LEITURA COMPLEMENTAR https://www.hfbrasil.org.br/br/revista.aspx https://www.hfbrasil.org.br/br/revista.aspx MATERIAL COMPLEMENTAR 29INTRODUÇÃO À HORTICULTURAUNIDADE 1 FILME/VÍDEO • Título: Horticultura Sustentável: conceitos básicos • Ano: 2021. • Sinopse: A horticultura sustentável tem por objetivo a produção de alimentos mais saudáveis com baixo impacto ambiental, buscando o equilíbrio com o meio ambiente. Nesta palestra, será abordado os conceitos básicos que estruturam a agricultura orgânica, além dos desafios a serem superados. • Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=fJJhkqmZDnk LIVRO • Título: Cadeia produtiva da horticultura: situação atual. • Autor: SAUSEN, D., MAMBRIN, R. B., CASSANEGO, D. B., CARVALHO, I. R. (2019). • Editora: CRV. • Sinopse: A horticultura no Brasil é uma atividade extremamente importante no que se refere à produção de alimentos, e tem recebido destaque também como forma de lazer. Além de utilizar o solo, insumos e mão de obra intensivamente, a horticultura agrega diferentes áreas científicas e tecnológicas, produzindo um maior volume de produtos por área. Outra característica essencial da horticultura relaciona-se com os benefícios nutricionais das hortaliças e das frutas, o que é crucial para uma dieta saudável. A integração da teoria com os aspectos práticos é essencial para qualquer indivíduo interessado em desenvolver atividades no ramo da horticultura. Assim, esta obra foi escrita com o objetivo de tornar acessíveis os conhecimentos sobre toda a cadeia produtiva da horticultura e, de forma atualizada, servindo de embasamento aos estudantes de Graduação e Pós-Graduação de Agronomia, bem como profissionais com ímpeto de trabalhar na área. Escrevemos este livro como parte de uma modesta contribuição à formação intelectual e técnica daqueles que se dedicam à produção de alimentos e outros produtos hortícolas. https://www.youtube.com/watch?v=fJJhkqmZDnk . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Métodos propagativos de hortaliças. • Cultivo de hortaliças da família cucurbitaceae (melancia e pepino). • Cultivo de hortaliças da família solanaceae (tomate de mesa; batata). • Cultivo de hortaliças da família brassicaceae (couve-flor e repolho). Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e distinguir os diferentes métodos propagativos dos vegetais. • Compreender as necessidades e exigências de produção das principais cucurbitáceas, solanáceas e brássicas. • Estabelecer a importância de alguns tratos culturais durante a condução da cultura. Professor Me. André Felipe Barion Alves Andrean CULTIVO DE CULTIVO DE HORTALIÇASHORTALIÇAS UNIDADEUNIDADE2 INTRODUÇÃO 31CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 Para atender à crescente demanda no consumo de frutos e hortaliças, ao longo dos anos várias técnicas foram desenvolvidas e aprimoradas. O método de propagação vegetativo foi o principal deles. Através dessa técnica conseguimos obter materiais de maior resistência a veranicos, doenças ou maior qualidade de frutos. A enxertia é um exemplo disso, reunindo em apenas um material as principais características agronômicas de interesse. Os métodos de propagação vegetal podem ser classificados em propagação sexuada e assexuada. Para cada método, há vantagens e desvantagens em relação ao modo de cultivo e sua implantação na área. Fatores como ambiente e disponibilidade de tecnologias de produção são determinantes para a escolha do método. A maioria das cucurbitáceas são produzidas através da semeadura em bandejas e depois transplantadas no campo em definitivo. O método similar ocorre com a cultura do tomate (solanaceae), porém muitos produtores realizam a enxertia nessas mudas com o objetivo de aumentar seu vigor e resistência a determinadas doenças. Já a cultura da batata, embora seja uma solanácea, tem sua reprodução através do tubérculo denominado de batata-semente. Tão importante quanto a escolha do método propagativo é também as atividades a serem realizadas ao longo do ciclo da cultura, como o desbaste de plantas, desbaste de frutos malformados e podas de condução. Assim, nestaunidade, aprenderemos os conceitos básicos para a implantação e condução da cultura da melancia, pepino, tomate, batata, couve-flor e repolho. Obrigado e bom estudo! 32CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 MÉTODOS PROPAGATIVOS DE HORTALIÇAS1 TÓPICO O sucesso na produção de hortaliças se inicia desde a escolha do método propagativo adequado, sendo uma estratégia que pode garantir a sanidade da planta e seu pleno desenvolvimento. Assim, ao longo dos anos inúmeras técnicas acabaram se aprimorando e se destacando entre os horticultores. A propagação vegetativa pode ser classificada em dois tipos, sendo: propagação sexuada e assexuada. Ambos os métodos possuem vantagens e desvantagens, cabendo ao produtor ou o técnico a escolha do método mais adequado de acordo com as condições do ambiente, presença de patógenos ou dos recursos tecnológicos disponíveis na área de produção. O método de propagação assexuada é caracterizado pela reprodução de um material vegetativo sem que ocorra a fecundação. Este método se dá através da remoção de uma parte vegetativa da planta mãe. A denominação de planta mãe é dado apenas para identificar a origem do material vegetal propagado, pois, na verdade, o que se realiza neste método é a formação de um clone vegetal, ou seja, a mesma planta é replicada. Algumas espécies de hortícolas propagadas por esse meio, são: agrião, alcachofra, alho, aspargo, batata, batata-doce, cará, cebolinha, couve-manteiga, inhame, mandioquinha- salsa, morango e taioba (FILGUEIRA, 2008). No caso do alho, por exemplo, seu bulbo é composto por bulbilhos (Figura 1) que são materiais propagativos exclusivos, originado de gemas axilares de folhas férteis, as quais surgem após determinado crescimento da planta (FONTES, 2005). 33CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 Já o tubérculo, meio de propagação da batata e do inhame, é um tipo especial de estrutura de caule modificado. FIGURA 1: BULBILHO COM A FOLHA DE BROTAÇÃO PRONTA PARA GERMINAR (A); BROTAÇÕES EM BATATA (B). Fonte: RESENDE, F. V. et al. (2014) (A); CORRÊA, M. (2005) (B). Os rizomas são estruturas de caule que crescem horizontalmente abaixo da superfície do solo. Estas raízes apresentam nós e entrenós; em cada nó se insere uma bainha foliar envolvendo o caule e formando uma nova planta. Próximo destes nós, há o desenvolvimento de raízes adventícias. O aspargo, por exemplo, tem sua propagação por rizomas (Figura 2). FIGURA 2: RIZOMAS DA GRAMÍNEA QUICUIO. Fonte: FONTANELI et al. (2019) A propagação assexuada proporciona redução do ciclo da cultura, em comparação a materiais vegetativos oriundos de sementes. Dessa forma, poderão ser transplantadas em curto espaço de tempo, além de produzir frutos mais cedo. Outra vantagem é em relação à homogeneidade no tamanho e período de produção. 34CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 No entanto, este método requer atenção, uma vez que se trata de uma replicação de um único material vegetativo, logo, não há variabilidade genética na área, propiciando um ambiente favorável para o ataque de pragas e doenças. Para reduzir este risco é recomendado que na área tenha mais de um material vegetal matriz, além de práticas de enxertia, optando por porta-enxertos resistentes às principais doenças que acometem a cultura. 1.1 Propagação assexuada por estaquia Partes do caule, ramo, galho ou raiz que contém gemas, podem ser multiplicadas quando cortadas e estimuladas a formação de raízes. Esta técnica pode ser utilizada na cultura da acerola e goiaba. 1.2 Enxertia Esta técnica consiste na união de partes de duas plantas. Uma é o enxerto (também chamado de cavaleiro) que é a planta que se pretende multiplicar devido à boa qualidade dos frutos ou outra característica agronômica relevante. A outra parte é denominada porta- enxerto (cavalo) que geralmente é uma planta jovem com raízes bem formadas e resistentes às condições adversas. A enxertia denominada de garfagem em fenda consiste em cortar o porta-enxerto (cavalo) em fenda e o cavaleiro em forma de lança, facilitando o seu encaixe na fenda. A garfagem também pode ser realizada em fenda dupla, no qual realiza dois cortes no porta-enxerto, ou até mesmo em meia-fenda. Outro método bastante comum, que aumenta o contato entre o cavalo e o cavaleiro, é o método de garfagem inglês, onde é realizado um corte em bisel em ambos os materiais (Figura 3). FIGURA 3: PRINCIPAIS MÉTODOS DE ENXERTIA. Fonte: MATTOS, J. K. A (1976) A borbulhia é um tipo de enxertia que consiste na inserção de uma gema sobre um porta-enxerto que está enraizado. No caule ou tronco realiza-se um corte, podendo ser em formato de T ou em T invertido, onde se deposita a gema que se deseja desenvolver (Figura 4). 35CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 FIGURA 4: ENXERTIA POR BORBULHIA EM SERINGUEIRA. Fonte: Rocha et al. (2018) 1.3 Mergulhia Como o próprio nome diz, consiste em raspar uma parte do ramo da planta que se deseja enraizar e mergulhá-lo no solo até que o ramo esteja com raízes formadas. Posteriormente este ramo será cortado, formando uma nova planta. (Figura 5). FIGURA 5: DIFERENTES MÉTODOS DE FORMAÇÃO DE PLANTAS POR MERGULHIA. Fonte: MEDEIROS, G. G (2018) 1.4 Alporquia A técnica de alporquia é semelhante ao método de mergulhia, onde se estimula a formação de raízes no caule, porém o caule não é levado até o solo e sim um pouco de solo ou substrato é levado ao ramo previamente raspado.Após a formação das raízes, o caule é destacado da planta mãe. Esta técnica pode ser utilizada em jabuticaba, citros, limão dentre outras (Figura 6). 36CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 FIGURA 6: MÉTODO DE ALPORQUIA. ANELAMENTO (A); E COBERTURA DO RAMO COM SUBSTRATO (B). Fonte: Castro, L. A. S., Medeiros, A. R. M. (2007). 1.5 Propagação sexuada A maioria das espécies olerícolas é propagada por sementes, podendo ser semeadas em bandejas ou sementeiras para depois serem transplantadas na área, ou podem ser semeadas diretamente no campo. Normalmente o que definirá o uso dessas duas modalidades é a relação do custo da aquisição da semente ou histórico de pragas e doenças na área. Culturas que exigem sementes de alta qualidade, como a de tomate, por exemplo, geralmente sua semeadura é realizada em bandejas e depois transplantadas no campo. Dessa forma utiliza-se de forma racional as sementes. Outra vantagem é a possibilidade de selecionar as melhores mudas germinadas, dessa forma, aumenta a sua capacidade de resistência a fatores bióticos a abióticos, garantindo o estande de plantas planejado por hectare. Em contrapartida, o processo de produção e transplante de mudas resultam no aumento do ciclo da cultura, além do elevado custo com substratos e bandejas. Já a semeadura direta no campo é indicada para cultivo em que as sementes são relativamente mais baratas, havendo a opção do desbaste de plantas quando germinadas, adequando o estande na área de cultivo. Esta modalidade permite que o ciclo da cultura seja menor em relação ao transplantio, porém, a semente ficará sujeita a fatores adversos do ambiente que poderá comprometer a sua germinação e vigor (Figura 7). FIGURA 7: PLÂNTULAS DE MELÃO CANTALOUPE RECÉM GERMINADAS EM BANDEJA DE 50 CÉLULAS. Fonte: o autor CULTIVO DE HORTALIÇAS DA FAMÍLIA CUCURBITACEAE (MELANCIA E PEPINO)2 TÓPICO 37CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 Apreciada em inúmeros países, a melancia é considerada uma fruta símbolo no verão brasileiro, sendo bastante apreciada pelo seu sabor doce, além da sua refrescância, pois é constituída 90% em água. Já a cultura do pepino, embora pertença à mesma família, é muito apreciada em saladas e conservas, sendo cultivado em inúmeros países, tendo a maior produção na China. 2.1 Cultura da melancia A melancia (Citrullus lanatus) tem como possível centro de origem as regiões secas da África, no entanto, também foram observadas algumas espécies silvestres (Citrullus colocynthis) na Índia (FONTES, 2005). A fruta é caracterizada pela sua suculênciadevido à grande quantidade de água. Esta cultura é caracterizada por possuir caule rastejante, fino e com presença de gavinhas, que possibilita a sua fixação em outras plantas ou em objetos. Seu sistema radicular é extenso e profundo, podendo chegar a 60 cm. Uma característica importante das melancias é que a maioria das cultivares são monóicas, ou seja, possui uma flor feminina e uma flor masculina. Estas flores se abrem apenas uma vez, no período da manhã e se fecham ao final do dia, por isso a garantia da fecundação neste período é fundamental para garantir o sucesso na produção. O fruto é considerado uma baga indeiscente, apresentando de 5 a 25 kg, podendo ser de formato esférico, oval ou cilíndrico. 38CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 Já suas cores podem ser verde-claro, verde-escuro, com ou sem listras. Suas sementes podem ser cinza a preta, variando de 200 a 800 sementes por fruto. Se tratando de sementes, algumas melancias são comercializadas sem sementes. Este método de cultivo teve início no Japão em 1951 (CHENG et al. 2005), onde foi proposto o uso de melancia Triplóide (3 x = 33), obtida pelo cruzamento de progenitor feminino tetraplóide (4 x = 44) com progenitor masculino diplóide (2 x = 22) (Kihara, 1951). O distúrbio da melancia triplóide ocorre durante a meiose, que origina gametas inviáveis e provoca aborto de óvulos e pólens, resultando melancia macho estéril e sem sementes verdadeiras, com a presença de rudimentos brancos facilmente comestíveis. 2.2 Principais cultivares As principais cultivares de melancia produzidas no Brasil são: Top Gun, Karistan, Petite Perfection, Charleston Gray, Santa Amélia, Madera, Rubin AG-08, Tiffany, Mirage, Electra, Preciosa e Pérola. Outra cultivar que nos últimos anos está ganhando mercado é a mini melancia. A Figura 8 apresenta alguns cultivares e híbridos comercializados no Brasil. FIGURA 8: CULTIVAR CRIMSON SWEET (A); CULTIVAR CONGO (B); HÍBRIDO SMILE (C); HÍBRIDO RAPID FIRE (D). Fonte: Ferrari et al. (2013) 2.3 Sistema de cultivo A cultura da melancia exige temperatura relativamente alta. A maioria das cultivares tem ótima germinação entre 25 a 35 °C. 39CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 Já temperaturas muito acima ou abaixo dessa faixa podem desencadear distúrbios fisiológicos na planta, limitando o seu desenvolvimento e até na formação de flores. Regiões com maior luminosidade contribuem para a formação de melhores frutos e maior formação da área foliar. Já em relação à umidade, regiões muito úmidas ou solos com maior capacidade de retenção de água (argilosos) podem favorecer o surgimento de doenças, uma vez que o fruto se desenvolve em contato direto com o solo. Solos com boa drenagem e profundos são os mais adequados para o seu cultivo. O pH ideal deverá estar em torno de 6 – 6,5. Caso tenha necessidade de realizar calagem, é recomendado também uma aração de 25 – 30 cm. A calagem deve ser realizada cerca de 60 a 90 dias antes do plantio. Na maioria das áreas produtoras, a melancia é propagada por sementes, devendo considerar a cultivar, quantidade de semente por hectare. Geralmente se utiliza espaçamento de 3,0 x 2,0 m ou até 2,0 x 1,5 m, sendo duas plantas por cova. Dependendo do valor da semente, pode-se optar por fazer a semeadura indireta, utilizando bandejas de 128 células para a formação de mudas e depois transplantá-las. Entretanto, esta prática pode contribuir para a ocorrência de danos ao sistema radicular, fato que não ocorre em semeadura direta. Uma vez germinada, a prática do desbaste deve ser realizado por volta de 10 a 15 dias após a emergência, deixando apenas uma plântula por cova. Neste período, a disponibilidade de água é essencial para o bom desenvolvimento da cultura. De acordo com Fontes (2005) a melancieira necessita de 300 a 400 mm por ciclo. Entretanto, durante o amadurecimento dos frutos, a quantidade de água aplicada deverá ser reduzida para evitar que os frutos fiquem “aguados”, devido ao efeito de diluição dos sólidos solúveis. O penteamento e o raleamento dos frutos são dois tratos culturais de extrema importância para o cultivo. A prática do penteamento é necessária para evitar o contato direto das ramas e dos frutos com a água, direcionando as ramas para desenvolverem fora dessas áreas úmidas ou do trânsito de pessoas no carreador. Já a técnica do desbaste ou raleamento dos frutos é realizada com o intuito de eliminar frutos em malformação, ou atacados por pragas, assim a planta “investirá” nutrientes apenas para os melhores frutos. Este processo é realizado manualmente quando o fruto apresenta em média de 7 a 10 cm, deixando apenas 1 a 3 frutos por planta. A colheita é realizada cerca de 32 a 45 dias após a polinização das flores femininas, sendo 60 até 85 dias após a semeadura. Regiões com elevada temperatura, seu ciclo pode ser reduzido. 40CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 Um dos principais indicadores para o ponto de colheita é quando há o secamento natural da gavinha junto ao pedúnculo do fruto, som “oco” emitido pelo fruto ou através da mancha de encosto, alterando sua coloração de branco para creme amarelada. 2.4 Principais pragas e doenças As principais pragas que acometem a melancia são: broca das hastes e dos frutos (Diaphania nitidales e D. hyalinata); Mosca das frutas (Anastrepha grandis); Pulgões (Aphis gossypii); mosca-branca (Bemisia tabaci Genn); broca-das-cucurbitáceas (Diaphania nitidalis Cramer e D. hyalinata Linnaeus). Dentre as doenças bacterianas, podem ser citadas a mancha-angular (Pseudomonas syringae pv. Lachrymans), a podridão bacteriana nos frutos (Xanthomonas campestris pv. cucurbitae) e a murcha bacteriana (Erwnia tracheiphila). Para as doenças fúngicas, as principais são: mancha de alternaria (Alternaria cucumerina), antracnose (Colletotrichum lagenarium), a mancha de cercospora (Cercospora citrullina), entre outras. Dentre as viróticas, há diversas que se manifestam por mosaico, causando prejuízos à produção, pois as plantas atacadas produzem menos frutos e de qualidade inferior. Podem ser citados como os mais comuns: mosaico, agente causal, Papaya ringspot virus – tipo W (PRSV-W) e mosaico-amarelo da abobrinha-de-moita, agente causal Zucchini yellow mosaic virus (ZYMV). 2.5 Cultura do pepino O pepino (Cucumis sativus L.) é originário da Ásia, sendo uma planta herbácea, possui tricomas em suas folhas e caule, além de gavinhas. Seu crescimento é indeterminado, ou seja, produz frutos ao mesmo tempo, em que se desenvolve vegetativamente. Suas flores são formadas nos nós do caule, nas axilas foliares. Assim como na melancia, algumas cultivares podem ser monóicas, onde as flores femininas surgem dez dias após a formação das flores masculinas. Outras podem ser ginóicas (somente flores pistiladas) ou hermafroditas (flores completas). As espécies ginóicas são de maior preferência em cultivo protegido em razão de serem altamente produtivas, com a formação de pelo menos um fruto por nó. Em relação à temperatura, o pepino não se adapta a regiões de baixa temperatura, sendo seu cultivo favorável a regiões com temperaturas de 20 a 30 °C. Temperaturas muito baixo ou acima, podem comprometer o desenvolvimento vegetal, a formação de flores femininas e, consequentemente, reduz sua produção. 41CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 2.6 Principais cultivares As principais cultivares produzidas no Brasil são: caipira, aodai, de conserva, japonês e holandês. Os pertencentes ao grupo caipira, aodai e de conserva, geralmente são cultivados em campo aberto. Já os demais, em ambiente protegido. Vale ressaltar que a maioria dos materiais cultivados no Brasil são híbridos F1 (FONTES, 2005). A Figura 9 apresenta os principais grupos de pepinos produzidos no Brasil. FIGURA 9: PEPINO CAIPIRA (A); PEPINO AODAI (B); PEPINO PARA CONSERVA (C); PEPINO JAPONÊS (D); PEPINO HOLANDÊS (E). Fonte: Carvalho et al. (2013) 2.7Sistema de cultivo Sendo uma espécie de clima quente, seu cultivo é realizado na primavera-verão. Entretanto, pode ser cultivada no inverno em sistema de ambiente protegido. A temperatura elevada dentro das estufas favorece o desenvolvimento do vegetal. Filgueira (2008) afirma que a baixa luminosidade no período do inverno, pode favorecer a formação de maior número de flores femininas. Desta forma, possibilita o aumento de produção. Em relação ao solo, esta cultura tem melhor adaptação em solos de textura média e leves com pH que varia de 5,5 a 6,8. A realização da calagem deve ser realizada para que a saturação de base seja de 70%. Recomenda-se a adubação orgânica e de fosfatagem semanas antes da semeadura ou do transplante. A implantação da cultura no campo pode ser realizada de modo semelhante à cultura da melancia. Sua semeadura pode ser realizada diretamente no sulco, deixando cair de 2 a 3 sementes a uma profundidade de 2 cm. 42CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 Quando as plântulas apresentarem de 2 a 3 folhas definitivas realiza-se o desbaste. Outra opção de semeadura é realizá-las em bandejas de 128 células. Este método é utilizado principalmente com sementes híbridas, pois são de custo elevado. A condução da cultura dependerá para qual finalidade terá o fruto produzido. Pepinos cultivados para a indústria (em conserva), têm seu cultivo rasteiro. Este método reduz custos de produção em relação à poda e outros tratos culturais. Já as produções destinadas à mesa, o método tutorado é o mais utilizado, onde a planta é conduzida verticalmente presa ao fio de arame, fitilho e palanque. Seu espaçamento pode ser de 1,0 a 1,3 m entre fileiras e 0,3 a 0, 6 m entre plantas. Em cultivos destinados para o consumo em mesa, normalmente ocorre o raleamento de frutinhos malformados na planta, fazendo com que a planta destine seus fotoassimilados para os melhores frutos em formação. Embora a condução tutorada seja trabalhosa, sua vantagem é em relação ao maior controle fitossanitário, possibilitando podas de condução, além de produzir frutos de melhor aparência. Pepinos do grupo japonês e holandês são cultivados nesta modalidade, pois são mais delicados e de maior valor de mercado. A colheita dos frutos destinados à indústria ocorre quando os frutos apresentam tamanho de 5 a 9 cm de comprimento e 2 a 2,5 cm de diâmetro. Já para os frutos consumidos in natura, são colhidos por volta dos 40 aos 50 dias após a semeadura. Após a primeira colheita, as demais deverão ser sucessivas e devem ocorrer a cada dois dias. 2.8 Principais pragas e doenças Semelhante à cultura da melancia, as principais pragas que atacam a cultura do pepino ao longo do ciclo, são: lagarta-rosca (Agrotis ípsilon); pulgões (Macrosiphum euphorbiae, Mysus persicae e Aplhis gossypii); mosca branca (Bemisia argentifolii); vaquinhas (Diabrotica speciosa e Diabrótica bivitula); broca das hastes e frutos (Diaphania hyalina); larva minadora (Lyriomyza huidobrensis); ácaro rajado (Tetranychus urticae) e tripés (Thrips palmi). Em relação a doenças, as principais são: mancha zonada (Leandria momordicae); sarna (Cladosporium cucumerinum); mancha-angular (Pseudomonas syringae); oídio (Eryziphe cichoeacearum); antracnose (Colletotrichum orbiculare); míldio (Pseudoperonospora cubensis); crestamento gomoso (Didymella bryoniae) e vírus (CMV, SqMV, PRSV-W, WMV-2 e ZYMV). CULTIVO DE HORTALIÇAS DA FAMÍLIA SOLANACEAE (TOMATE DE MESA; BATATA)3 TÓPICO 43CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 O tomate e a batata são considerados os principais alimentos consumidos por qualquer população, fazendo com que seu cultivo seja, geralmente, em larga escala. Além da grande demanda gerada pelos consumidores, estas culturas permitem a obtenção de grandes rendimentos, desde que seja realizado o manejo de forma adequada. Assim, dedicaremos neste tópico para descrever as principais cultivares de tomate e batata plantada, assim como os principais tratos culturais que devem ser realizados para garantir elevada produção. 3.1 Cultura do tomate O tomateiro (Lycopersicum esculentum) tem seu centro de origem a região Andina, compreendendo os países Peru, Bolívia e Chile. Embora tenha se originado nas regiões vizinhas ao Brasil, este fruto só foi introduzido em nosso país através dos portugueses (BRANDÃO FILHO; DOMINGUES, 2014). A cultura do tomateiro pode ser dividida em dois tipos, sendo: tomate salada (consumo in natura) e o tomate para a industrialização (molhos). Esta classificação também pode ser observada através do hábito de crescimento da planta. Tomateiro com crescimento determinado, tem sua fase produtiva definida após seu crescimento vegetativo, sendo ideal para a indústria. Já o cultivo indeterminado, a planta produz frutos mesmo ainda se desenvolvendo e emitindo novos ramos.O tomateiro possui folhas compostas com 7 folíolos distribuídos de forma helicoidal ao longo do caule. As flores são pequenas de cor amarela, hermafroditas e autógamas. Geralmente a planta emite de 6 a 12 folhas antes do surgimento do primeiro rácemo e posteriormente a cada 3 folhas irá surgir um rácemo (Figura 10). 44CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 FIGURA 10: NÚMERO DE FOLHAS ANTES DO PRIMEIRO RÁCEMO EM TOMATE INDETERMINADO. Fonte: Brandão Filho; Domingues (2014). O desenvolvimento do tomateiro é favorecido a temperaturas entre 15 e 25°C. Temperaturas abaixo de 10°C ou acima de 30°C podem comprometer a germinação, crescimento vegetativo e inflorescência. Ressalta-se que a cultura necessita de amplitude térmica ao longo do seu ciclo, ou seja, seu desenvolvimento é favorecido através das diferenças de temperatura diurna e noturna. Embora possua sistema radicular bastante agressivo, chegando a 1,5 m de profundidade, o déficit hídrico prolongado pode desencadear abortamento de flores, frutos malformados, além de contribuir para o surgimento do fundo preto do tomate. O excesso de água também pode ser prejudicial ao desenvolvimento da planta, uma vez que a cultura é sensível a baixo índice de oxigênio no solo. 3.2 Principais cultivares Como já foi discutido, o tomate pode ser dividido em grupos de crescimento determinado (indústria) e crescimento indeterminado (mesa). Este último ainda pode ser dividido em cinco subgrupos, sendo: grupo Santa Cruz, Salada, Cereja, Italiano e Longa vida. Os tomates pertencentes ao grupo Santa Cruz apresentam dois ou três lóculos, sua polpa é espessa, o que contribui para sua resistência ao manuseio. Seus frutos pesam em média de 160 a 200 g e apresentam resistência à podridão apical causada pela deficiência de cálcio. 45CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 O grupo denominado salada é composto pelo tomate, maçã, caqui ou tomatão. De formato globular e pluriloculares (4-10 lóculos), estes tomates pesam em média de 200 a 400 g. Devido ao seu grande tamanho, seus frutos acabam sendo mais frágeis e de menor resistência ao transporte. Embora a maioria das cultivares desse grupo apresentam crescimento indeterminado, existem algumas que possuem o crescimento determinado, porém de altura mediana. Os tomates pertencentes ao grupo cereja são caracterizados por frutos pequenos que pesam de 15 a 25 g. Sua cor vermelha brilhante é o que torna seu fruto mais atrativo, lembrando de fato uma cereja. Cada rácemo pode gerar de 20 a 40 frutinhos. O grupo italiano é composto pelo tomate saladete. Uma característica inconfundível desse grupo é que seus frutos apresentam formas alongadas que variam 1,5 a 2,0 vezes superior ao seu diâmetro. A planta apresenta crescimento indeterminado e menor quantidade de folhagem, o que possibilita reduzir o espaçamento entre plantas na área de cultivo. Os tomates denominados de longa vida se dão justamente pelo seu retardo no processo de deterioração. Assim, estes frutos têm maior tempo de prateleira, o que facilita o seu transporte e comércio. Seus frutos não são saborosos em comparação ao tipo cereja ou saladete, porém, devidoao seu atributo de maior durabilidade, é um dos mais cultivados. A Figura 11 apresenta os principais grupos de tomates indeterminados cultivados no Brasil. FIGURA 11: TOMATE CEREJA (A); TOMATE ITALIANO (B); TOMATE SALADA (C); TOMATE SANTA CRUZ (D); TOMATE LONGA VIDA (E). Fonte: Ávila, A. C. et al. (2023) 3.3 Sistema de cultivo 46CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 A cultura do tomate é altamente exigente quanto a fertilidade do solo, não tolerando solos mal drenados, compactados ou muito argilosos. Solos de textura média são os mais favoráveis ao seu desenvolvimento, principalmente quando apresentam pH entre 5,5 a 6,5. A calagem, quando necessária, deve ser calculada utilizando a saturação de base em 70%. De acordo com Filgueira (2008), a ordem de exigência de extração dos macronutrientes do tomateiro é: potássio, nitrogênio, cálcio, enxofre, fósforo e magnésio. Ainda segundo o autor, a adubação via foliar é extremamente benéfica para cultura, principalmente com a aplicação de micronutrientes como zinco e boro. A ausência de boro, além de causar o abortamento das flores, também acarreta distúrbios fisiológicos no fruto, como o lóculo aberto (Figura 12). A carência de cálcio ou déficit hídrico também pode desencadear o fundo preto do tomateiro. FIGURA 12: FUNDO PRETO DO TOMATEIRO (A); LÓCULO ABERTO DO FRUTO (B). Fonte: Silva et al. (2006). O plantio do tomate ocorre na primavera-verão, no entanto, em localidades com altitude em torno de 700 m o tomateiro pode ser plantado em qualquer época do ano (FONTES, 2005). Sua semeadura pode ser realizada diretamente no campo ou ser transplantada a partir da sua germinação em bandejas. Geralmente as sementes de tomates são de elevado valor, fazendo com que o produtor opte pela semeadura em bandejas. Outra vantagem no uso de bandejas é a possibilidade da realização de enxertia, optando por materiais resistentes às principais doenças que acometem a cultura. Ressalta-se que o cultivo do tomate voltado para o consumo in natura deve ser conduzido de modo tutorado, ou seja, o crescimento da planta é direcionado verticalmente, sendo apoiado por fitilho, arame e palanques. Após germinadas, as mudas só serão transplantadas quando apresentarem de 4 a 6 folhas definitivas, normalmente este desenvolvimento é alcançado por volta dos 20 a 40 dias após a semeadura. Este critério garante que apenas as mudas sadias irão para o campo, aumentando as chances de sucesso na produção. 47CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 A densidade de plantio pode variar de 14.000 a 20.000 plantas por hectare, sendo de 1,0 a 2,0 m entre linha e 0,3 a 0,6 m entre plantas. O que determinará o estande de plantas é o material vegetal utilizado, além dos recursos tecnológicos que o produtor possua. Se tratando do grupo indeterminado, o tomateiro pode ser conduzido em uma ou duas hastes. Entretanto, a condução em duas hastes é recomendada apenas para produtores experientes e com maiores recursos, pois a planta exige maior nutrição e cuidados. Em relação à altura da planta, normalmente realiza-se a poda apical quando a mesma atinge 2 metros, pois desta forma facilita os tratos culturais ao longo do seu ciclo. Além da poda apical, a poda axilar também é de extrema importância para a cultura. Este manejo consiste na eliminação periódica da brotação que surge na axila de cada folha, sendo denominado de ramo ladrão, pois é uma fonte de dreno dos fotoassimilados. Assim, a planta irá direcionar seus fotoassimilados apenas para os frutos em formação. Embora seja classificada como uma planta perene, o cultivo do tomateiro tem em média 120 a 150 dias. Muitos produtores, que cultivam ao ar livre, optam por encerrar a produção em virtude da incidência de pragas e doenças já instaladas no local, sendo mais vantajoso o replantio de novas mudas. 3.4 Principais pragas e doenças As principais pragas que acometem a cultura são: broca-dos-frutos (Neuleucinodes elegantalis); traça-do-tomateiro (Tuta absoluta); broca-grande (Helicoverpa zea); pulgão (Aphis gossypii); mosca-branca (Bemisia tabaci); mosca-minadora (Liriomyza huidobrensis); tripes (Frankliniella spp); cigarrinha (Agallia albidula); ácaro (Tetranychus evansi) e nematóides (Meloidogyne incógnita). Com relação a doenças, as principais são: requeima (Phytophthora infestans); pinta-de-alternária (Alternaria solani); septoriose (Septoria lycopersici); mancha-de estenfílio (Stemphylium solani); murcha-fusariana (Fusarim oxyporum); podridão-de-esclerotínia (Sclerotinia sclerotiorum); cancro-bacteriano (Clavibacter michiganensis); murcha- bacteriana (Ralstonia solanacearum); pústula bacteriana (Xanthomonas campestres); pinta bacteriana (Pseudomonas syringae); talo oco (Erwinia carotovora). As viroses são: mosaico comum, vira cabeça, mosaico dourado e tombamento. 3.5 Cultura da batata A batata (Solanum tuberosum) é uma solanácea anual, tendo seu centro de origem a região do lago Titicaca, próximo à atual fronteira entre Peru e Bolívia (Filgueira, 2008). Esta cultura foi disseminada para a maioria das regiões do planeta, se tornando a base da alimentação de muitos povos. 48CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 A batateira é uma planta herbácea, dicotiledônea, possuindo raiz, caule aéreo, caule subterrâneo (tubérculo) e folhas. Seu sistema radicular é adventício e ramificando, atingindo até 40 cm de profundidade. As folhas são folíolos arredondados e suas flores são hermafroditas se localizando no topo da planta (Figura 13). FIGURA 13: PARTES PRINCIPAIS DE UMA BATATEIRA. Fonte: Filgueira, A. F. R. (2008) Filgueira (2008) descreve que a cultura da batata possui quatro estádios de desenvolvimento que podem ser observados no campo. O primeiro estádio é caracterizado pelo plantio da batata-semente brotada até a emergência de suas hastes, período que leva em torno de duas semanas. Já o segundo estádio é identificado pelo início da tuberização, onde a planta demanda maior quantidade de nutrientes. O terceiro estádio é identificado através do acelerado crescimento da parte aérea da planta. Por fim, o quarto estádio é considerado o mais longo, tendo início a partir do “pico de vegetação” se estendendo até a senescência natural da planta. 3.6 Principais cultivares Existem cerca de 60 cultivares de batatas registradas no SNPC (Serviço Nacional de Proteção de Cultivares), porém as principais cultivadas no Brasil são: Ágata, Asterix, Atlantic, Baraka, Bintje, Monalisa e Mondial (TAVARES; CASTRO; MELO, 2002). Dentre essas cultivares, a Ágata e Monalisa são consideradas precoces e a Baraka e Mondial como tardia. As demais são intermediárias. 49CULTIVO DE HORTALIÇASUNIDADE 2 Todas as cultivares apresentam susceptibilidade à requeima da batata (Phytophthora infestans), deste modo, a escolha da variedade irá depender da sua finalidade de consumo. As cultivares mais indicadas para o cozimento são: Ágata, Mondial e Monalisa. Já as indicadas para chips, fritas, palha são: Asterix, Atlantic, Baraka e Bintje (Figura 14). FIGURA 14: PRINCIPAIS BATATAS CULTIVADAS NO BRASIL – ÁGATA (A); ASTERIX (B); ATLANTIC (C); BARAKA (D); BINTJE (E); MONALISA (F); MONDIAL (G). Fonte: Tavares; Castro; Melo, (2002). 3.7 Sistema de cultivo Regiões que possuam altitude em torno de 700 metros, seu cultivo pode ser realizado em qualquer época do ano. Já em baixa altitude, seu plantio deve ser evitado no período de primavera-verão. Locais acima de 700 metros de altitude, não é recomendado seu plantio no outono-inverno. De modo geral, na região Sul e sudeste do Brasil, a principal safra é a das águas, sendo plantada de agosto a dezembro. O plantio de inverno é realizado de abril a julho. A cultura da batata tem melhor adaptação em solos profundos com textura média a arenosa. Solos argilosos devem ser evitados, uma vez que são mais úmidos, propiciando o surgimento de doenças ou deformação dos tubérculos. Com relação ao pH, esta cultura possui boa tolerância