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Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Grá�co TIAGO DA ROCHA Autoria CAMILA COELHO MOREIRA AUTORIA Camila Coelho Moreira Sou formada, pós-graduada e mestre em Direito, com experiência técnico-pro昀椀ssional na área. Atualmente sou diretora da área de contencioso civil de um escritório de advocacia no qual eu sou sócia na cidade de Vitória/ES. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas pro昀椀ssões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográ昀椀cas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser re昀氀etido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO A Constituição: Conceitos, classi�cações e histórico .................10 Constitucionalismo .......................................................................................................................10 Conceito e classi昀椀cações ......................................................................................................... 13 A Constituição de 1988 ...............................................................................................................16 Princípios constitucionais, direitos e garantias fundamentais . 19 Princípios Constitucionais ........................................................................................................ 19 Direitos e garantias fundamentais ...................................................................................... 21 Organização do Estado: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ............................................................................................... 28 União ...................................................................................................................................................... 30 Estados-membros ..........................................................................................................................32 Municípios .............................................................................................................................................33 Distrito Federal .................................................................................................................................35 A organização e a separação dos poderes na Constituição de 1988 ....................................................................................................................37 Poder Legislativo ............................................................................................................................ 38 Poder Executivo ............................................................................................................................. 40 Poder Judiciário ................................................................................................................................42 7 UNIDADE 02 Noções de Direito 8 INTRODUÇÃO O direito é uma área do conhecimento de extrema relevância, a qual todos estamos sujeitos até o 昀椀m de nossas vidas. Além de sua importância no mercado de trabalho, atos cotidianos, como atravessar a rua, pegar um ônibus ou fazer um lanche, estão sujeitos a normas jurídicas que devem ser observadas e respeitadas, sob pena de sanções. Meu objetivo nessa unidade é proporcionar conhecimentos jurídicos básicos para que você possa se destacar como pro昀椀ssional e enfrentar situações do dia a dia que envolvam essa temática. Isso signi昀椀ca que, ao longo desta unidade letiva, você vai mergulhar neste universo de leis, doutrinas, jurisprudências... vamos nessa comigo? Noções de Direito 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Explicar o que é o direito e sua relação com a moral e com a justiça. 2. Explicar sobre as áreas, os ramos e as fontes do direito. 3. Identi昀椀car as espécies normativas e a diferença entre processo e procedimento 4. Interpretar a teoria geral do Estado e os regimes políticos. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Noções de Direito 10 A Constituição: Conceitos, classi昀椀cações e histórico OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender de que modo se encontra estruturada a nossa atual Constituição, fundamentada na evolução histórica do constitucionalismo e das classi昀椀cações das constituições ao longo dos tempos. Isto será fundamental para que você possa aprender os próximos conteúdos, considerando ser a Constituição a lei suprema de um Estado. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Constitucionalismo Antes de iniciarmos o estudo do Direito Constitucional e seus desdobramentos, é interessante que você saiba sobre o Constitucionalismo. De昀椀nido por alguns como um movimento social, por outros como uma técnica de limitação de poder, trata-se de um meio de limitar poder do Estado e assegurar os direitos fundamentais do povo por meio do texto Constitucional. O constitucionalismo, ao longo da história, é fruto da luta do povo contra regimes autoritários que vigoraram desde a Idade Antiga. Destacamos aqui que na Antiguidade (século V até a tomada do império Romano pelos bárbaros) surge o marco do Constitucionalismo, por meio dos hebreus e da limitação imposta aos estados teocráticos da época. Já na Idade Média (Século V – Século XV) um grande marco do Constitucionalismo foi a Magna Carta de 1215, redigida pelos nobres ingleses da época que estabelecia, mesmo diante dos regimes monarquistas da época, a proteção de alguns direitos do povo (SILVA, 2019). A Magna Carta exigia ao Rei João sem Terra os direitos dos barões, como eram conhecidos os nobres da época, bem como concedeu à Noções de Direito 11 mulheres e crianças o direito de herdar propriedades. Além disso, o referido documento conferiu aos barões o direito de declarar guerra ao Rei caso ele não cumprisse as disposições presentes no documento. Figura 1 – Rei João sem Terra assinando a Magna Carta Fonte: Wikimedia É na Idade Moderna (1453- 1789) que o movimento ganha forças no que diz respeito à proteção de direitos individuais da população. Foram destaques nessa época o Petition of Rights (1628), o Habeas Corpus Act (1679), o Bill of Rights (1689) e o Act of Settlement (1701) (LENZA, 2018). ACESSE: O Bill of Rights foi um grande marco para os direitos humanos, a partir da Revolução Gloriosa. Para relembrar alguns conceitos históricos, sugerimos a leitura do texto a seguir, da historiadora Camila Caldas Petroni, disponível aqui. Ainda sobrea evolução do constitucionalismo na história, o constitucionalismo norte-americano possui grande relevância ao ter estabelecido os contratos de colonização, criados pelos peregrinos que, Noções de Direito 12 ao chegarem nas terras norte-americanas e não encontrarem nenhum poder, 昀椀rmaram contratos de mútuo consenso quanto às regras que prevaleceriam naquelas regiões, que mais tarde seriam incorporadas pelos chefes de Estado da época, surgindo daí um dos pilares da constituição, que consiste em estabelecer e organizar o governo pelos próprios governados (SILVA, 2019). Por 昀椀m, o constitucionalismo contemporâneo (1789 até os dias atuais) é marcado pelas constituições escritas como forma soberana de limitação do poder e com o povo como titular desse poder legítimo. Os textos constitucionais dessa era marcam um conjunto de direito sociais traduzidos em palavras, o que se vê presente na Constituição de 1988, período em que prevalece a soberania constitucional, cujo constitucionalismo é globalizado, estando presente em quase todos os Estados do mundo. Ainda sob a perspectiva evolutiva, doutrinadores e estudiosos da ciência do Direito desenvolveram uma nova relação com o constitucionalismo, o denominado neoconstitucionalismo. Estudiosos integrantes desse movimento acreditam que o constitucionalismo não está relacionado somente à limitação do poder pela constituição de um Estado, mas sim com a concretização de direitos fundamentais, de modo a acreditar em um caráter mais efetivo do texto constitucional e não meramente retórico. São pontos marcantes do neoconstitucionalismo: a. Estado Constitucional de Direito – a constituição não é considerada somente o conjunto das leis de um Estado, mas sim o centro do sistema estatal cujos valores encontram-se ali reunidos, de modo que a lei deve ser aplicada e interpretada conforme esses valores. b. Contexto axiológico – necessidade de se fazer uma leitura moral do direito com base nos direitos fundamentais e na dignidade humana e de diferenciar as normas a partir da moral. Noções de Direito 13 ACESSE: Para aprender um pouco mais sobre o neoconstitucionalismo, sugerimos que você assista esse vídeo: AGU Explica – Neoconstitucionalismo, disponível clicando aqui. Agora que você já sabe o que é o Constitucionalismo, vamos aprender um pouco mais sobre a Constituição? Vem comigo! Conceito e classi昀椀cações Acho que você já percebeu como que estabelecer um conceito no que diz respeito às questões jurídicas é algo delicado e com a Constituição isso não seria diferente. Isso se dá, pois o direito como um todo não é uma ciência exata. Trata-se de um fenômeno multifacetado e cada face desse fenômeno contribui para uma classi昀椀cação. Feitas essas considerações, traremos algumas de昀椀nições do direito sob as perspectivas sociológica, política, jurídica e cultural, para que você possa entender bem no que consiste esse termo. Sob a perspectiva social, a Constituição, para ser considerada legítima, deve traduzir o poder de um povo. Segundo Lassale apud Lenza, a Constituição seria “a somatória dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade” (LENZA, 2018, p. 93). No sentido político, a constituição difere-se de lei constitucional, de modo que a Constituição consiste em uma decisão política fundamental, na qual se estabelecem a estrutura e órgãos do Estado, os direitos individuais de cada um, o regime democrático e as leis constitucionais seriam derivadas dessa decisão. Quanto à de昀椀nição jurídica da Constituição, pode-se dizer que é um dever-ser, uma norma de conduta a ser seguida por todos. A Constituição ocupa posição de destaque na soberania das normas, pois sua criação não foi sujeita à uma edição do Estado, mas sim como tradução de uma vontade popular. Noções de Direito 14 No sentido cultural, a constituição é de昀椀nida como o produto dos aspectos econômicos, sociológicos, jurídicos e 昀椀losó昀椀cos de um povo, que regulam a existência deste e estrutura o Estado. Agora que você já aprendeu o que é a constituição, partiremos para a classi昀椀cação constitucional sob os seguintes aspectos: origem, forma, extensão, elaboração, alterabilidade, sistemática e função. Vamos comigo nessa? A primeira classi昀椀cação que vamos fazer será em relação à origem da Constituição, que se divide em outorgada e promulgada. A constituição outorgada é autoritária, imposta por um agente revolucionário que não é legitimado pelo povo para atuar. Já a constituição promulgada é democrática, votada e possui a iniciativa popular, através da Assembleia Constituinte, que é eleita pelo povo e em nome dele deve atuar. Quanto à forma, a constituição pode ser escrita ou costumeira (consuetudinária). Escrita é a constituição formada por um conjunto de regras que estão organizadas em um documento único, cujo conteúdo estabelece as normas de conduta e organização de um Estado. Já a constituição costumeira é aquela contrária à constituição escrita em um único texto. Suas previsões encontram-se em textos esparsos que são baseados no uso, costumes, jurisprudências e convenções. Ex.: constituição da Inglaterra. Quanto à extensão, a Constituição pode ser sintética ou analítica. Sintética é a constituição que carrega somente os princípios fundamentais de um Estado. Esse modelo constitucional tende a ser mais duradouro, pois abriga normas mais genéricas que devem nortear as demais normas. Além de tenderem a ser mais duradouras, essas constituições também costumam ser mais estáveis, uma vez que, por não estabelecer minúcias, seu poder de 昀氀exibilização e adaptação a casos concretos. EXEMPLO: Um exemplo de constituição sintética é a dos Estados Unidos da América, com sete artigos e vinte e sete emendas constitucionais. A constituição original possui, ao todo, cinco páginas. Noções de Direito 15 Já as constituições analíticas são aquelas que abordam de forma mais completa os assuntos que os constituintes entendem por fundamentais, estabelecendo detalhes, procedimentos e buscam englobar em si a maior quantidade de situações possíveis. Quanto à forma de elaboração, as constituições dividem-se em dogmáticas ou históricas. Dogmáticas são aquelas que são sempre escritas e re昀氀etem os dogmas estruturais do Estado, elaboradas de uma só vez, através da Assembleia Constituinte. Já as históricas são aquelas que são formadas de forma lenta e contínua, ao longo do passar do tempo, considerando as histórias e as tradições de um povo. As constituições quanto à alterabilidade classi昀椀cam-se em rígidas, 昀氀exíveis ou semi昀氀exíveis. A alterabilidade consiste na possibilidade de alteração de seu texto, de seu conteúdo. As constituições classi昀椀cadas como rígidas são aquelas que exigem um processo legislativo mais complexo e solene em relação à alteração das demais normas. Já as 昀氀exíveis são aquelas que ao contrário das rígidas, não possuem um processo legislativo rigoroso para sua alteração em relação às normas infraconstitucionais. É considerada semi昀氀exível a constituição que une as características das duas classi昀椀cações anteriores, pois sua rigidez varia de acordo com o tema a ser abordado. Além dessas classi昀椀cações, também existem as constituições que são imutáveis, ou seja, que pretendem ser eternas. VOCÊ SABIA? A nossa atual Constituição é considerada rígida. Tal determinação encontra-se em seu artigo 60, que estabelece um quórum especí昀椀co para sua votação, 3/5 de cada casa do Congresso, além de exigir dois turnos de votação para aprovação de qualquer Emenda Constitucional. Quanto à sistemática, as constituições podem ser reduzidas ou variadas. Reduzidas são aquelas que se materializam em um só código, enquanto as variadas estão espalhadas em vários textos e documentos. Noções de Direito 16 Em relação à função, ela pode se dividir em provisórias ou de昀椀nitivas. Provisórias dizem respeitoao período em que a constituição está sendo elaborada e encontra-se sujeita a modi昀椀cações, enquanto a constituição de昀椀nitiva é de昀椀nida como aquela que possui uma duração inde昀椀nida. Agora que você já aprendeu que existem diversas formas de constituição, que tal aprendermos um pouco mais sobre a nossa querida Constituição que se encontra em vigor no Brasil? A Constituição de 1988 A partir da classi昀椀cação que acabamos de aprender, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88) pode ser classi昀椀cada como promulgada, escrita, analítica, dogmática, rígida, reduzida, eclética e de昀椀nitiva. A CRFB/88 é fruto da evolução histórica do Brasil, sendo a sétima Constituição da história do país. Denominada por Ulysses Guimarães como constituição cidadã, um ponto marcante foi a grande participação popular durante sua elaboração. A Assembleia Constituinte, que deu origem à nossa querida Constituição, foi integrada por 559 pessoas, teve duração de dezenove meses e foi promulgada com 245 artigos, sendo considerada uma das Constituições mais extensas da história. ACESSE: Para entender um pouco mais sobre o que foi a assembleia constituinte, acesse este link. Uma das principais inovações trazidas foi o sistema presidencialista, com eleição direta em dois turnos, a assistência social, a viabilização das Medidas Provisórias, o direito de voto universal, internacionalismo estatal e nacionalismo econômico e a ampla gama de garantias e direitos fundamentais (PAULO; ALEXANDRINO, 2018). Como um todo, uma das características da Constituição de 1988 são seus aspectos democráticos e liberais, que se destacaram principalmente Noções de Direito 17 pelo fato de que a Constituição fora promulgada após um período marcante da história do Brasil, o Golpe Militar de 1964, em que vários dos direitos e deveres dos cidadãos foram suprimidos pela força do Estado. Tais características estão presentes na forma de governo escolhida, que é a república e no sistema presidencialista e a forma de Federação do Estado, na instituição da capital Brasília, da inexistência de religião o昀椀cial, na organização dos poderes e na declaração dos direitos. Atualmente a Constituição conta com nove títulos: princípios fundamentais, direitos e garantias fundamentais, organização do Estado, organização dos poderes, defesa do Estado e instituições democráticas, tributação e orçamento, da ordem econômica e 昀椀nanceira, da ordem social e das disposições constitucionais gerais. Ao todo, integram a Constituição 250 (duzentos e cinquenta) artigos. Figura 2 – Constituição de 1988 Fonte: Wikipedia. Até o mês de dezembro de 2019 foram acrescentadas 112 (cento e doze) emendas, sendo que 104 (cento e quatro) foram emendas constitucionais ordinárias, 6 (seis) emendas constitucionais de revisão e 2 (dois) tratados internacionais. Noções de Direito 18 SAIBA MAIS: Que tal se aprofundar nesse tema? Acesse a Constituição e veja tudo o que comentamos neste capítulo. O conteúdo encontra-se disponível clicando aqui. RESUMINDO: E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você iniciou esse capítulo aprendendo o que o constitucionalismo é porque ele é classi昀椀cado por uns como um momento social e por outros como uma técnica de limitação de poder. Aprendemos sobre a origem do Constitucionalismo, como fruto da luta do povo contra as desigualdades que se iniciou desde a Idade Média, passando pela Idade Moderna, o exemplo do Constitucionalismo Norte-americano até chegarmos no Constitucionalismo Contemporâneo e o Neoconstitucionalismo. Aprendemos também o conceito de constituição sob as perspectivas social, política, jurídica e cultural, além das classi昀椀cações quanto à origem, forma, extensão, elaboração, alterabilidade, sistemática e função. Por 昀椀m, você pode conhecer um pouco mais sobre a nossa atual (e querida) Constituição de 1988 e um pouco do seu conteúdo dissolvido em seus nove títulos e duzentos e cinquenta artigos, que aprenderemos um pouco mais sobre eles a seguir. Vamos continuar nessa jornada incrível em busca do conhecimento junto comigo? Noções de Direito 19 Princípios constitucionais, direitos e garantias fundamentais OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você conhecerá os direitos e garantias fundamentais presentes na Constituição. Isto será fundamental para o seu aprendizado nessa disciplina. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Princípios Constitucionais Os princípios consistem em uma espécie de norma jurídica e servem como apoio ao operador do direito no sentido de nortear a interpretação da regra, bem como de limite para o poder do jurista. Os princípios constitucionais encontram-se elencados nos artigos 1º ao 4º da Constituição. Os princípios fundamentais são aqueles que estão presentes no artigo 1º da CRFB/88, que consistem nos fundamentos da República Federativa do Brasil. São eles a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Entre os princípios acima elencados, destacamos o da dignidade da pessoa humana, muito utilizado para a argumentação, implementação e efetivação de políticas públicas que visem a salvaguarda dos direitos humanos. O princípio da dignidade da pessoa humana consiste em resguardar de forma intrínseca a cada ser o humano seu respeito e a consideração do Estado e da sociedade em relação à personalidade de cada indivíduo, no 昀椀m de reconhecer cada indivíduo como sujeito de direitos e deveres fundamentais atribuídos pelo Estado, sem distinção de qualquer natureza. Noções de Direito 20 Além disso, o mesmo artigo elenca, em seu parágrafo único, o seu caráter democrático, o que chamamos de Estado Democrático de Direito, ao aduzir que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (BRASIL, 1988). Seguindo o texto Constitucional, no artigo 2º da Carta Magna encontra-se a tripartição dos poderes “são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário” (BRASIL, 1988). Integrando os princípios constitucionais, o artigo 3º da Carta Magna elenca os objetivos da República Federativa do Brasil, que são eles: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988). Por 昀椀m, sob a ótica principiológica, o artigo 4º da Carta Magna elenca os princípios que regem as relações internacionais do Brasil, sendo elas: independência nacional; prevalência dos direitos humanos; autodeterminação dos povos; não intervenção; igualdade entre os Estados; defesa da paz; solução pací昀椀ca dos con昀氀itos; repúdio ao terrorismo e ao racismo; cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo político. Vale ressaltar que muitos desses princípios são fruto de tratados e convenções coletivas assinados pelo Brasil. Noções de Direito 21 Figura 3 – Princípios básicos das relações internacionais do Brasil Fonte: Freepik VOCÊ SABIA? Que existem temas que jamais poderão ser alterados na Constituição? Dispostos no art. 60 §4 e denominados de cláusulas pétreas, são eles: a forma federativa de Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais. Direitos e garantias fundamentais Os direitos e garantias fundamentais do indivíduo são classi昀椀cados pela doutrina conforme sua geração ou dimensão. A primeira ideia de direitos e garantias fundamentaissurgiram na Europa, no século XVIII, com a passagem do estado autoritário para o estado de direito. Marcada pela Revolução Industrial e Independência dos Estados Unidos, a primeira dimensão de direitos a ser protegida foi a liberdade do indivíduo voltada para proteção de direitos políticos e civis. Esses direitos só puderam ser conquistados a partir de uma abstenção do Estado, no sentido de não mais exercer um controle sobre os indivíduos e permitir Noções de Direito 22 que, através da liberdade de expressão, questionassem ou discordassem da forma de governo (ALEXY, 2008). EXEMPLOS: São marcos dessa geração a Magna Carta de 1215 assinada pelo Rei João Sem Terra, a Paz de Westfalia, o Habeas Corpus Act, o Bill of Rights e as Declarações de Direito Americana (1776) e Francesa (1789). Figura 4 – Revolução Industrial e os direitos da primeira dimensão Fonte: Pixabay A segunda dimensão dos direitos humanos é marcada pela igualdade, por meio da 昀椀xação dos direitos sociais, culturais, econômicos e coletivos. Essa fase surge após a Primeira Guerra Mundial, quando ocorre uma concepção mundial de Estado de Bem-Estar Social. Essa segunda dimensão de direitos impõe ao Estado obrigações que devem ser materializadas por meio das normas constitucionais no sentido de assegurar aos indivíduos, sob a tutela do Estado, apoio econômico por meio dos setores públicos. Noções de Direito 23 VOCÊ SABIA? No Brasil, os direitos sociais característicos da segunda dimensão aparecem no artigo 6º da Constituição e são eles: “a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 1988, art. 6). A terceira dimensão dos direitos fundamentais é marcada pela alteração da sociedade internacional, pelo desenvolvimento da tecnologia e da ciência e pela mudança das relações econômico-sociais, marcadas pela desigualdade, consumo, mudanças climáticas e aquecimento global. A terceira fase é marcada pelas novas preocupações e problemas que surgiram a partir do crescimento das cidades e da globalização, como, por exemplo, a preservação ambiental e a proteção do direito do consumidor. Nesse sentido, essa fase diz respeito à fraternidade e se traduz por meio dos direitos ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, a propriedade (na ideia de patrimônio comum da humanidade) e na comunicação (LENZA, 2018; ALEXY 2008). Figura 5 – Terceira dimensão dos direitos humanos: fraternidade Fonte: Pixabay Noções de Direito 24 Há ainda quem acredite que existem direitos de quarta geração, mas isso ainda não representa a grande maioria da doutrina. Para quem acredita nos direitos fundamentais da quarta geração, eles seriam direitos relacionados à bioética e informática, visando proteger assuntos relacionados a suicídio, aborto, eutanásia, transexualidade, reprodução arti昀椀cial e manipulação de DNA – no campo da bioética – e a proteção de dados, direitos relacionado à comunicação, privacidade, propriedade intelectual e industrial – no campo da informática. Os direitos fundamentais não se confundem com as garantias fundamentais. Apesar de ambos os conceitos estarem relacionados, os direitos fundamentais consistem em bens e vantagens presentes nas normas constitucionais na medida que as garantias fundamentais dizem respeito à proteção desses direitos ou formas de reparação quando da violação de um direito (LENZA, 2018). Não há o que se confundir, porém, garantias fundamentais com remédios constitucionais. Os remédios constitucionais consistem em uma espécie do gênero garantias, mas, para além dos remédios, as garantias podem estar presentes na mesma norma que assegura o direito (LENZA, 2018). Os remédios constitucionais são os mecanismos garantidos pela própria Constituição para serem utilizados nos casos em que o Estado não cumpre na sua função de salvaguardar os direitos fundamentais do cidadão. São espécies de remédios constitucionais o Habeas corpus, Habeas data, o Mandado de Segurança, o Mandado de Injunção e a Ação Popular. O Habeas corpus, apesar do nome em latim, possui origem na Inglaterra e pode ser utilizado por qualquer pessoa para garantir seu direito de liberdade e locomoção, com o 昀椀m de evitar qualquer tipo de prisão ilegal ou arbitrária e abuso de poder. Noções de Direito 25 Figura 6 – Habeas corpus e o direito de liberdade Fonte: Pixabay O Habeas data, por sua vez, consiste em um remédio constitucional que garante ao cidadão o direito de acesso a informações pessoas, bem como a reti昀椀cação, ou seja, a alteração de seus dados. O Habeas corpus tem base no direito constitucional à inviolabilidade do sigilo de dados, presente no artigo 5º inciso XII da Constituição Federal. O Mandado de Segurança consiste em uma espécie de remédio constitucional que visa resguardar direito líquido e certo de alguém, violado pelo Estado. Um exemplo de aplicação do Mandado de Segurança é nos casos de concurso público, no qual são previstas cinco vagas e o ocupante de quarta vaga não é chamado, por razão única e arbitrária do Estado. Nesse sentido, considerando o direito líquido e certo do cidadão de ser nomeado, caberá apelar para o remédio constitucional do Mandado de Segurança. O Mandado de Injunção consiste no remédio constitucional utilizado nos casos em que há necessidade de que o Poder Judiciário leve ao Poder Legislativo a ciência sobre a ausência de norma regulamentadora sobre determinado tema capaz de inviabilizar o exercício dos direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição. Por 昀椀m, a Ação Popular consiste em uma espécie de remédio constitucional que garante ao cidadão o poder de 昀椀scalização de um bem comum do povo. Noções de Direito 26 Além dos direitos fundamentais, é importante que você saiba que existem deveres fundamentais, pois muitas vezes o direito de alguém depende do dever do outro e, nessa estrutura, os deveres fundamentais são oponíveis ao Estado e aos indivíduos. Entre esses deveres, destacam- se o dever de realizar os direitos pelo Estado, do Estado indenizar o indivíduo por erro do judiciário, o serviço militar obrigatório, entre outros. Nesse momento é comum que você esteja se perguntando: quem faz jus a esses direitos e garantias fundamentais? Qualquer pessoa? Mesmo quem cometeu um crime? E quem não mora no Brasil? Para responder sua pergunta, usaremos o que se encontra tipi昀椀cado no artigo 5º caput da Constituição, que diz que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Desse modo, independente de classe social, religião, sexo ou do comportamento moral, todos devem ter seus direitos e suas garantias asseguradas (BRASIL, 1988). Ainda no artigo 5º, o legislador vai além e no próprio texto constitucional elenca espécies de direitos invioláveis “garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL, 1988). Em síntese, com base na CRFB/88, podemos classi昀椀car os direitos fundamentais em cinco grupos: direitos individuais (art. 5º); direitos coletivos (art. 5º); direitos sociais (arts. 6º e 193 e ss.); direitos à nacionalidade (art. 12) e direitos políticos (arts. 14 a 17). Ainda sobre o artigo 5º da Constituição, ele divide-se em setenta e oito incisos, o que não nos permite aqui citar um por um, mas destacam- se a igualdade entre homens e mulheres; a vedação da tortura; a livre manifestação do pensamento e expressão; a liberdade religiosa; o acesso à informação; a função social da propriedade; a defesa do consumidor; o acesso à justiça; a irretroatividade das decisões; a presunção de inocência; a proibição de penas cruéis e penas de morte; a integridade física e moraldos presos; a assistência social do Estado; a gratuidade da justiça para os pobres na forma da lei (BRASIL, 1988). Noções de Direito 27 SAIBA MAIS: Para aprender um pouco mais sobre a dignidade da pessoa humana, sugerimos o vídeo que traz a fala do Ministro Luiz Fux, durante uma sessão, disponível aqui. Caso deseje aprender um pouco mais sobre os remédios constitucionais, sugerimos que você assista um vídeo sobre esse tema, disponibilizado pelo portal da Advocacia Geral da União, disponível aqui. Após o acesso desses materiais, caso você se interesse muito sobre esses assuntos, sugiro que você leia um pouco mais sobre o ativismo judicial, você sabe o que é? Acesse o artigo a seguir para entender um pouco mais. BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática, disponível aqui. RESUMINDO: E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você iniciou esse capítulo aprendendo que os princípios constitucionais são normas jurídicas e servem como apoio na interpretação das leis. Além disso, vimos que os princípios da Constituição de 1988 encontram-se tipi昀椀cados no artigo 1º e são eles a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Aprendemos também que o Brasil é um Estado Democrático de Direito pois o poder emana do povo. Além disso, vimos que os objetivos da república se encontram tipi昀椀cados no artigo 3o e no artigo 4o aprendemos sobre os princípios que regem as relações internacionais do Brasil. Juntos, vimos nesse capítulo o que são os direitos e garantias fundamentais, bem como acompanhamos o desenvolvimento dos direitos de primeira, segunda e terceira geração, além de comentarmos sobre uma quarta dimensão dos direitos humanos citada por alguns doutrinadores. Tivemos ainda a possibilidade de conhecer o artigo 5o da Constituição, um dos artigos mais importantes em vigor hoje no Brasil. Noções de Direito 28 Organização do Estado: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você entenderá como o Estado se organiza, bem como terá a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre os entes federativos que compõem a República Federativa do Brasil. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! São componentes constitutivos de um Estado a soberania, o povo e o território, sendo que a soberania consiste em um poder único concentrado, o povo, que representa sua politicidade, e o território, que consiste na área limitada de atuação desse Estado. No Brasil, tais requisitos encontram-se presentes na própria Constituição, além da organização e estrutura da forma de Estado, que analisaremos a partir de três perspectivas, a forma de Governo, o sistema de Governo e a forma de Estado. A forma de Governo que vigora no Brasil é a república, o sistema de governo é o presidencialismo e a forma de Estado é a Federação. A previsão da forma federativa de Estado pela CRFB/88 encontra- se prevista no artigo 1º, “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui- se em Estado Democrático de Direito” (BRASIL, 1988). Nesse sentido, podemos concluir que são componentes da República Federativa do Brasil a União, os Estados e o Distrito Federal e Territórios. Além de determinar os componentes do Estado, o artigo 1º da Carta Magna traz, em seus incisos, os fundamentos da República, que são eles: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político (BRASIL, 1988). O texto constitucional, de forma muito acertada, ocupou-se de estabelecer objetivos fundamentais a serem perseguidos pela República Noções de Direito 29 Federativa do Brasil. Tais objetivos não devem ser confundidos com os fundamentos, pois os fundamentos fazem parte do Estado, enquanto os objetivos consistem um algo a ser perseguido, alcançado. São objetivos da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1998). A Constituição prevê ainda que o idioma o昀椀cial do Brasil é a Língua Portuguesa, mas permite a utilização de línguas maternas indígenas no processo de aprendizagem dessas comunidades (art. 13, caput, c/c art. 210 CRFB/88). Os símbolos da república são a bandeira, o hino, as armas e os selos nacionais e há previsão constitucional para que os estados, distrito e municípios tenham seus próprios símbolos. VOCÊ SABIA? Os símbolos brasileiros são tão importantes que existe uma contravenção penal para quem violá-los, bem como constitui infração aos militares que o 昀椀zerem, por força do artigo 161 do Código Penal Militar. O artigo 18 §1º da CRFB/88 estabelece que Brasília é a capital federal do Brasil e o artigo 19 também da Constituição estabelece vedações, ou seja, proibições aos integrantes da República. Segundo esse artigo, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná- los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; II – recusar fé aos documentos públicos; III – criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si (BRASIL, 1988). Noções de Direito 30 É importante destacarmos que a Constituição não estabelece qualquer hierarquia entre os entes federativos, de modo que todos são autônomos e regidos pela Carta Magna. A repartição da competência de cada ente encontra-se tipi昀椀cada no capítulo II da Constituição, entre os artigos 22 e 24. A seguir, trataremos de forma mais individualizada sobre cada integrante da República bem como suas funções. União Os estados-membros reunidos compõem a Federação. Esse conjunto é denominado de União Federal. A União, portanto, consiste na união federativa de partes do Estado (os estados-membros), por meio do pacto federativo. Tal conceito não deve ser confundido com o conceito de República Federativa do Brasil, que é formada pelo conjunto da União, Estados-membros, Distritos e Municípios. IMPORTANTE: A República Federativa do Brasil possui soberania no plano internacional, conforme previsão do art. 1º, I da Constituição, porém os entes federativos são autônomos entre si, respeitada a competência de cada um determinada pela Carta Magna. A União possui dupla personalidade, uma vez que suas funções internas e externas se distinguem. Internamente podemos classi昀椀car a União como pessoa jurídica de direito público interno autônoma, capaz de se auto organizar, autogovernar, auto legislar e auto administrar, de modo que a União internamente possui autonomia 昀椀nanceira, jurídica e administrativa (LENZA, 2018). Já externamente, ou seja, internacionalmente, a União representa a República Federativa perante os outros Estados do mundo, representado o Brasil como um todo. Dessa forma, a União pode, ao mesmo tempo, agir para si em prol de si mesma e em nome de toda a República. Noções de Direito 31 A Constituição estabelece, em seu conteúdo, a competência legislativa e não legislativa de cada ente federativo ao longo de seus artigos. Quanto à União, as competências extralegislativas estão relacionadas com as funções governamentais, que podem ser exclusivas ou compartilhadas com outros entes federativos, que é o que chamamos de competências concorrentes. As competênciasexclusivas da União encontram-se tipi昀椀cadas no artigo 21 da CRFB/88 e as competências concorrentes encontram-se tipi昀椀cadas no artigo 23 também do texto constitucional. Sobre a competência concorrente, ressaltamos que se a Federação é a união dos entes federativos, cabe a eles colaborarem e agirem entre si para alcançar os objetivos da República. Quanto às competências concorrentes, ressaltamos algumas delas como a proteção das paisagens naturais, proteção do meio ambiente, combate à poluição e preservação das 昀氀orestas, fauna e 昀氀ora. ACESSE: Para conhecer os assuntos de competência privativa da União, acesse o conteúdo do artigo 21 por meio deste link. Quanto à competência legislativa da União, ela também se divide em privativa e concorrente. As competências privativas estão descritas no artigo 22 da Constituição. O parágrafo primeiro do mesmo dispositivo legal permite que a União, por meio de Lei Complementar, autorize os Estados-membros legislarem sobre questões especí昀椀cas. Já em relação à competência legislativa concorrente, encontra- se especi昀椀cada no artigo 24 da Constituição Federal. É importante ressaltarmos que, nesse caso, cabe à União estabelecer normas gerais e a cada estado-membro legislar de acordo com suas particularidades. Noções de Direito 32 IMPORTANTE: Caso a União seja inerte e não dite normas gerais sobre determinado assunto de sua competência, poderá o estado fazê-la. Se, porém, a União crie essas normas gerais, a lei elaborada pelo Estado terá sua e昀椀cácia suspensa no que for contrária à Lei Federal. Estados-membros Os Estados-membros federados constituem pessoa jurídica de direito público autônoma, com capacidade de autogestão, autogoverno e autoadministração interna. Os estados-membros deverão se organizar e serem regidos pelas leis e constituições que adotarem, dentro da permissão constitucional. Atualmente o Brasil possui 26 (vinte e seis) estados. De um modo geral, os estados contarão com um poder legislativo, por meio das Assembleias Legislativas, um poder executivo, por meio do Governador do estado e com um poder Judiciário, por meio dos Tribunais e juízes. Assim como a União, os estados possuem competências legislativas e não legislativas. As competências não legislativas podem ser comuns aos quatro entes ou residuais, ou seja, de competência somente dos estados-membro. Já a competência legislativa dos estados divide-se em expressa, residual, delegada pela União, concorrente e suplementar. Expressa é a competência legislativa que a Constituição estabelece que seja do estado, sendo as constantes do artigo 25 da Constituição. A competência legislativa residual é aquela que não é de competência nem da União e nem dos Municípios, de modo que resta aos estados-membros legislar sobre elas. Quanto à competência legislativa concorrente ocorre nos casos em que cabe à União legislar sobre as normas gerais e aos estados redigirem normas especí昀椀cas. A competência suplementar, por sua vez, ocorre nos Noções de Direito 33 casos em que cabe à União legislar sobre determinado assunto e ela se mostra inerte, cabendo aos estados suplementarem a lacuna deixada pela União. Ainda sobre a competência legislativa dos estados-membros, é importante mencionar as regiões metropolitanas. As regiões metropolitanas consistem em um conjunto de municípios distintos que possuem uma continuidade urbana em torno de um município polo. A Constituição determina ser de competência dos Estados a instituição das regiões metropolitanas, por meio de lei complementar que deve ser aprovada pela Assembleia Legislativa (art. 25§3º da CRFB/88). VOCÊ SABIA? Vitória, capital do Espírito Santo, é um município polo integrante da Região Metropolitana da Grande Vitória, juntamente com os municípios de Cariacica, Serra, Vila Velha, Fundão, Guarapari e Viana. Municípios Os municípios constituem entes federativos classi昀椀cados como pessoas jurídicas de direito público, com autonomia interna. Antes da promulgação da Constituição de 1988, muito se questionava se os municípios poderiam ser considerados ou não entes federados, mas tal controvérsia restou esclarecida pelo conteúdo dos artigos constitucionais que garantem a autonomia desses entes. Os municípios, ao contrário da União e dos Estados-membros, não possuem Constituição própria, mas organizam-se por meio de suas Leis-orgânicas, que exercem basicamente a mesma função. Tal lei deve ser aprovada em dois turnos por dois terços da Câmara Municipal e devem seguir as regras estabelecidas no artigo 29 da Constituição, especi昀椀camente dos incisos I a XIV. O município é administrado pelos Prefeitos e Vice-Prefeitos e Vereadores. Noções de Direito 34 Atualmente no Brasil existem 5.470 (cinco mil quatrocentos e setenta) municípios, divididos nos 26 estados. A competência legislativa dos municípios segue a mesma ordem dos demais entes federativos, dividindo-se em não legislativas e legislativas. As competências não legislativas dividem-se em comum e privativa. As competências não legislativas comuns são aquelas que são concorrentes, compartilhadas com os demais entes federativos e encontram-se previstas no artigo 23 da Constituição Federal. Já as competências não legislativas privativas estão previstas no artigo 30 do Texto Constitucional e são elas: I – legislar sobre assuntos de interesse local; II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; III – instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos 昀椀xados em lei; IV – criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; V – organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI – manter, com a cooperação técnica e 昀椀nanceira da União e do Estado, programas de educação pré-escolar e de ensino fundamental; VI – manter, com a cooperação técnica e 昀椀nanceira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VII – prestar, com a cooperação técnica e 昀椀nanceira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; Noções de Direito 35 IX – promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação 昀椀scalizadora federal e estadual. (BRASIL, 1988) Distrito Federal O Distrito Federal, antes de receber essa classi昀椀cação, era denominado de Município Neutro, capital da União, cuja sede 昀椀cava localizada no Rio de Janeiro. Com a entrada em vigor da Constituição de 1988, o Distrito Federal passou a ser em Brasília, deixando de ser uma autarquia do governo e tornando-se um ente federativo com personalidade jurídica de direito público. O Distrito Federal foi construído no Centro-Oeste brasileiro com a 昀椀nalidade de ocupar as terras despovoadas daquela região. Brasília foi construída em 41 meses, durante o governo de Juscelino Kubitsheck. A capital federal foi inaugurada no dia 21 de abril de 1960. Atualmente o Distrito Federal é uma unidade federativa autônoma, com capacidade de auto-organização, autogoverno, autoadministração e auto legislação, assim como os demais entes federativos. O artigo 32, caput da Constituição, veda a divisão do Distrito Federal em municípios, ao contrário do que acontece com os Estados-membros e territórios, de modo que o Distrito Federal é dividido em 31 (trinta e uma) microrregiões administrativas. O mesmo dispositivo constitucional, em seu parágrafo 4º, declara não existir polícia civil, militare corpo de bombeiros pertencentes ao Distrito Federal, pois tais instituições, embora subordinadas ao Governador Distrital, são organizadas e mantidas pela União. O mesmo se aplica ao Poder Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública. A competência do Distrito Federal divide-se em não legislativa e legislativa. Na categoria não legislativa, ao contrário dos demais entes, o Distrito Federal possui somente a competência comum, ou seja, compartilhada com os demais entes federativos. Já em relação às competências legislativas, essas se dividem em expressa, residual, delegada, concorrente e suplementar, assim como as dos municípios e estados. Noções de Direito 36 Um dos símbolos de Brasília é a praça dos três poderes, sendo esse inclusive o assunto do nosso próximo capítulo! Continua aqui comigo! SAIBA MAIS: Que tal se aprofundar nesse tema? Acesse o vídeo a seguir e con昀椀ra uma explicação sobre o assunto abordado nesse capítulo. O conteúdo encontra-se disponível aqui. RESUMINDO: E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você iniciou esse capítulo aprendendo conhecendo os entes federativos que compõem a República Federativa do Brasil. Começamos entendendo em que consiste o pacto federativo e os objetivos da República Federativa do Brasil, que são construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Além disso, aprendemos sobre a língua o昀椀cial, os símbolos, bandeira e armas do Brasil previstos no texto constitucional. Conhecemos também os três entes federativos mais a fundo, a União, os Estados e o Distrito Federal, suas competências legislativas e não legislativas e sua autonomia perante os demais entes. Noções de Direito 37 A organização e a separação dos poderes na Constituição de 1988 OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você aprenderá sobre a organização e separação dos poderes, incluindo a organização e 昀椀nalidade dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário dentro da estrutura do Estado. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Proposta por Montesquieu, a denominada teoria da tripartição dos poderes, ou como utilizada por alguns autores como tripartição de órgãos, consiste na separação das funções executivas, legislativas e judiciárias de um Estado. Essa separação tem o objetivo de impor uma colaboração e bom senso entre os órgãos na tomada de decisões, estabelecendo mecanismos de 昀椀scalização e responsabilidade recíprocas, de uns para com os outros, a partir do sistema de freios e contrapesos. De forma ilustrada, funcionaria como se todos os poderes estivessem sob uma balança e devessem juntos buscar o equilíbrio. As funções exercidas pelos órgãos, via de regra, funcionam da seguinte forma: a. Função legislativa – está relacionada com a edição de leis. b. Função executiva – está relacionada com a execução das leis editadas pelo legislativo. c. Função jurisdicional – relacionada à aplicação das leis ao caso concreto. Nesse sentido, quero que você tenha em mente que ao mesmo tempo que esses três poderes possuem funções típicas, eles possuem funções atípicas. As funções típicas são aquelas que são inerentes a própria função, de modo que cabe ao legislativo, legislar; ao executivo, Noções de Direito 38 executar; e ao judiciário, julgar. Já as funções atípicas são aquelas que não são inerentes a sua função, mas que são exercidas dentro de suas atribuições. EXPLICANDO MELHOR: É atividade típica do judiciário a função jurisdicional, ou seja, julgar. Ocorre que cabe ao judiciário, como atividade atípica, legislar sobre o regimento interno dos tribunais (art. 96, I, “a” da CRFB/88). Apesar desse sistema ser chamado de tripartição dos poderes, é importante que você tenha em mente que tais poderes são indivisíveis, indelegáveis e unos. Portanto, mesmo que no exercício de suas funções atípicas, um poder jamais poderá interferir ou substituir o outro sem que haja uma determinação constitucional que permita, sob pena de inconstitucionalidade. EXEMPLO: O Presidente da República não pode criar uma lei ordinária (que é atribuição do legislativo), pois a única função atípica que lhe é permitida é a criação de Medidas Provisórias (art. 62 da CRFB/88). Bom, agora que você já sabe em que consiste a tripartição dos poderes, que tal conhecer cada um deles mais de perto? Vamos nessa? Poder Legislativo Até esse ponto, você aprendeu que o Poder Legislativo é o responsável pela elaboração das leis, mas a partir de agora veremos que não somente por isso. A primeira coisa que é importante que você saiba é que o Legislativo está presente em todas as esferas, ou seja, no âmbito federal, estadual, municipal e distrital. Noções de Direito 39 No Brasil, atualmente, vigora o bicameralismo federativo somente no âmbito federal, ou seja, nessa esfera federativa existem duas casas, a Câmara e o Senado, de modo que a primeira é formada pelos representantes eleitos pelo povo (deputados) e a segunda pelos representantes dos estados-membros e Distrito Federal (senadores), de modo que juntas integram o Congresso Nacional. Já no âmbito estadual, municipal e distrital vigora o unicameralismo, ou seja, o Poder Legislativo é composto por uma única casa. O poder legislativo estadual é composto pela Assembleia Legislativa, integrada pelos Deputados Estaduais. O mandato dos Deputados Estaduais é de 4 (quatro) anos e a quantidade de deputados corresponderá ao triplo da representação de Deputados Estaduais na Câmara. O poder legislativo municipal, por sua vez, é composto pela Câmara Municipal, integrada pelos Vereadores. A quantidade de vereadores é proporcional ao quantitativo populacional do estado e o mandato dos vereadores é de 4 (quatro) anos. A competência legislativa dos vereadores municipais é residual, ou seja, via de regra cabe à Câmara Municipal legislar sobre o que não é de competência federal ou estadual. Já o Poder Legislativo Federal é dividido em Senado e Câmara dos Deputados, que juntas integram o Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados é composta pelo povo, por meio dos seus representantes, os Deputados Federais, eleitos para defenderem os interesses dos cidadãos. O número de Deputados Federais é proporcional ao quantitativo populacional de cada estado, de modo que não pode haver na Câmara menos de sete e mais de setenta Deputados representando um mesmo estado (BRASIL, 1988). O mandato dos Deputados Federais é de 4 (quatro) anos, permitida a reeleição. A competência da Câmara dos Deputados encontra-se no artigo 51 da CRFB/88, que além de estarem relacionadas com a criação de leis, envolvem a instauração de processo contra o Presidente, seu Vice ou Ministros de Estados, além de 昀椀scalizar suas contas. Noções de Direito 40 O Senado Federal é composto por representantes dos estados e do Distrito Federal. Ao contrário dos Deputados, o quantitativo de Senadores não está proporcionalmente relacionado com a quantitativo populacional de cada estado e a regra para todos os estados brasileiros é a mesma: devem ser eleitos três senadores 昀椀xos e dois senadores suplentes. O mandato de um Senador tem duração de oito anos e as eleições para renovação serão feitas sempre de quatro em quatro anos. A competência do Senado encontra-se prevista no art. 52 da CRFB. VOCÊ SABIA? A renovação dos Senadores é sempre dada na proporção de 1/3 e 2/3. Por exemplo: existem três cargos no Senado, A, B e C. Digamos que houveram eleições no ano 2000, essas eleições serão para substituir os ocupantes dos cargosA e B e na eleição seguinte, ou seja, em 2004, será apenas para o cargo C, de modo que sempre há três senadores e eleições de quatro em quatro anos. Tanto Deputados Federais quanto Senadores, para se elegerem, não precisam necessariamente serem brasileiros natos, ou seja, terem nascido no Brasil, sendo tal condição indispensável para ocupar a presidência de uma das casas (Câmara ou Senado). A idade mínima para ser Deputado Federal é de 21 (vinte e um) anos, sendo que só poderá assumir a presidência da casa aquele que for maior de 35 (trinta e cinco anos). Já em relação aos Senadores, existe previsão constitucional que determina que para serem eleitos, precisam contar com mais de 35 (trinta e cinco) anos. Poder Executivo Em suas funções típicas, o Poder Executivo é o responsável pelos atos de che昀椀a do Estado, do governo e atos da administração. O sistema legislativo adotado pelo Brasil é o presidencialista e por esse motivo as funções de Chefe de Estado e Chefe de Governo. A Constituição Noções de Direito 41 estabelece, em seu artigo 76, que o Poder Executivo no Brasil é exercido pelo Presidente da República auxiliado pelos Ministros de Estado. O Poder Executivo em âmbito estadual é exercido pelo Governador de Estado e Vice-Governador e auxiliado pelos Secretários de Estado. O Governador é escolhido por meio de eleições diretas e o mandato do governador é de quatro anos. A mesma regra vale para o Governador Distrital. No âmbito municipal, o Poder Executivo é exercido por meio dos Prefeitos e Vice-Prefeitos. Os Prefeitos são escolhidos por meio de eleições diretas e o mandato dos prefeitos também é de quatro anos. Sobre o Executivo Federal, o art. 84 da CRFB/88 estabelece as competências privativas do Presidente da República, tanto as de natureza de Chefe de Estado (representação nas relações internacionais) quanto as de natureza de Chefe de Governo (atos de administração e política interna). O rol de atribuições do art. 84 é meramente exempli昀椀cativo e é possível que o Presidente da República delegue algumas de suas funções para os Ministros de Estado, o Procurador Geral ou ao Advogado-Geral da União. Para ser eleito presidente hoje no Brasil, é necessário que o candidato reúna as seguintes características: ser brasileiro nato, estar no pleno exercício de seus direitos políticos, alistamento eleitoral, domicílio eleitoral no Brasil, 昀椀liação partidária, idade mínima de 35 anos, não ser analfabeto e não ser inelegível. Como Chefe de Governo e Estado, é possível que em determinadas situações haja impedimentos do Presidente e do Vice na hipótese de se ausentarem do país. Neste caso, conforme do art. 80 da CRFB/88, caberá a representação na seguinte ordem: Presidente da Câmara dos Deputados, seguido do Presidente do Senado Federal e, em último caso, o Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). EXEMPLO: Em setembro de 2018, o Presidente do Brasil à época Michel Temer precisou viajar para Nova York, para a abertura da 73ª Assembleia Geral das Nações Unidas e os Presidentes da Câmara e Senado Noções de Direito 42 estavam concorrendo às eleições da época, de modo que o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias To昀昀oli, assumiu, de forma provisória, a Presidência do Brasil. Em âmbito estadual e municipal, na ausência do Governador e Vice, deve assumir o Presidente da Assembleia Legislativa e o Presidente do Tribunal de Justiça. Já no âmbito municipal, na ausência do Prefeito, deverá assumir o Presidente da câmara municipal. Os Ministros do Estado, que integram o Poder Executivo, possuem função de auxiliar o Presidente no exercício do Poder Executivo, por meio da direção dos ministérios. Os Ministros do Estado são escolhidos pelo Presidente da República que os nomeia e pode os exonerar, não havendo qualquer tipo de estabilidade. Para ser um Ministro de Estado é necessário apenas ser brasileiro nato ou naturalizado (o cargo de Ministro da Defesa exige somente brasileiros natos), ser maior de 21 (vinte e um anos) e estar no exercício dos direitos políticos. Poder Judiciário O Poder Judiciário tem como função típica o exercício da atividade jurisdicional do Estado. Já a função atípica desse poder (ou órgão) está relacionada com as atividades executivas e legislativas internas, dentro das atribuições estabelecidas pela própria Constituição Federal, como a elaboração do regimento interno dos tribunais (legislativo) ou até mesmo a organização das secretarias, concessão de licenças e férias a seus servidores (executivo). A Emenda Constitucional 45/2004 (EC 45/2004) é um importante marco na história do Judiciário, pois se trata da aprovação de uma importante Reforma. Algumas signi昀椀cativas alterações foram trazidas pela Reforma através da EC 45/2004, abaixo elencaremos algumas: a. Razoável duração do processo e meios que garantam a celeridade de tramitação. b. Cumprimento do acesso à justiça, com a justiça itinerante e autonomia da Defensoria Pública. Noções de Direito 43 c. A constitucionalização dos Tratados sobre Direitos Humanos. d. A criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). e. Ampliação da garantia de imparcialidade dos magistrados e promotores de justiça. f. Extinção dos Tribunais de Alçada. g. Criação da Súmula Vinculante. ACESSE: A partir da entrada em vigor da Emenda Constitucional 45/2004, os órgãos do Poder Judiciário passaram a catalogar o quantitativo de processos que tramitam no poder judiciário brasileiro. Ficou curioso? Acesse aqui por esse link. O Poder Judiciário possui garantias que asseguram sua independência, de modo que permite a seus operadores agirem de forma imparcial, sem sofrer pressões ou serem coagidos por outros poderes. Essas garantias são classi昀椀cadas como institucionais e funcionais. As garantias institucionais são aquelas relacionadas à autonomia orçamentária e administrativa do órgão e as garantias funcionais estão relacionadas com a independência e imparcialidade dos membros do Poder Judiciário. As garantias de independência dos órgãos do Poder Judiciário estão relacionadas com os membros e os magistrados e dividem-se em três: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade salarial. Prevista no art. 95, I da CRFB/88, a vitaliciedade garante ao magistrado a permanência contínua no cargo, que será perdido somente com sentença judicial transitada em julgado, ou seja, se o magistrado nunca cometer alguma infração grave, passível de uma ação judicial, ele permanecerá no cargo até o 昀椀m de sua vida. Aos demais servidores do Poder Judiciário não se aplica essa regra e seus cargos são estáveis, Noções de Direito 44 mas não vitalícios, de modo que é possível que percam seus cargos por processo administrativo. Já a inamovibilidade consiste na garantia constitucional prevista pelo art. 95, II que garante aos magistrados a impossibilidade de remoção de um local para o outro sem o seu consentimento. Essa garantia não é absoluta, pois a própria constituição prevê a possibilidade de remoção por conta do interesse público (art. 93, VIII) (BRASIL, 1988). Quanto à irredutibilidade de subsídios consiste em uma garantia que impede que a remuneração dos magistrados seja reduzida. Tal garantia não impede que os magistrados e membros do Poder Judiciário sofram com questões in昀氀acionárias (PAULO; ALEXANDRINO, 2018). As garantias de imparcialidade dos órgãos judiciários estão relacionadas com as vedações presentes no art. 95 da CRFB/1988, ou seja, atos que os membros do judiciário estão impedidos de praticarem, entre elas: a. Exercer outro cargo ou função, exceto de magistério. b. Receber a qualquer título custas ou participação em processo. c. Dedicar-se à vida político-partidária. d. Receber auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadasexceções. e. Exercer advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou antes de decorridos três anos no cargo, por aposentadoria ou exoneração. O artigo 94 da CRFB/1988 estabelece que 1/5 (20%) dos lugares nos Tribunais Regionais Federais, Tribunais dos Estados e do Distrito Federal, deve ser composto de membros do Ministério Público e Advogados, além dos magistrados. Os membros do Ministério Público e da Advocacia devem ter mais dez anos de atuação e em especial os advogados devem possuir efetividade pro昀椀ssional e notório saber jurídico, além de reputação ilibada. Essa destinação é denominada de quinto constitucional (BRASIL, 1988). Em sede de estrutura, poderemos observar na 昀椀gura a seguir a organização do Poder Judiciário. Noções de Direito 45 Figura 7 – Organização do Poder Judiciário SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL STJ TJ Juízes de direito TRF Juízes federais TST TRT Juízes do trabalho Juízes eleitorais TSE TRE STM Juízes militares Fonte: Elaborada pela autora (2021). Buscando viabilizar a atividade jurisdicional do Estado, a Constituição institucionalizou atividades consideradas essenciais ao exercício da justiça, que são elas: o Ministério Público, a Advocacia Pública, a Advocacia e a Defensoria Pública, estabelecendo suas regras nos artigos 127 a 135 da CRFB/88. O Ministério Público é o órgão que não faz parte de nenhum dos três poderes (legislativo, executivo e judiciário), mas está relacionado com todos eles. O Ministério Público consiste em uma instituição do Estado cujo 昀椀m é manter a ordem jurídica e 昀椀scalizar o poder público, a partir de todas as suas esferas. A Constituição possui um importante papel na história do Ministério Público ao consolidar a atuação de controle dos atos do Estado. Uma das características do Ministério Público é sua independência. O Ministério Público divide-se em: Noções de Direito 46 a. Ministério Público Federal. b. Ministério Público do Trabalho. c. Ministério Público Militar. d. Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. A Advocacia Geral da União consiste no órgão responsável por representar, 昀椀scalizar e controlar os atos da União, bem como por zelar pelos bens da União em relação a terceiros. Além de ter essas funções internas, cabe à advocacia geral a função de representar o Brasil internacionalmente, perante a justiça de outros países, na atuação da jurisdição internacional. A instituição é che昀椀ada pelo Advogado Geral da União, nomeado pelo Presidente da República, e seu ocupante possui o mesmo status que um ministro de Estado. A advocacia por sua vez, regulamentada pelo artigo 133 da Constituição, estipula que “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da pro昀椀ssão, nos limites da lei”. Nesse sentido, cabe ao advogado defender o interesse de uma das partes e sua ausência acarreta em nulidade processual. A Defensoria Pública, por sua vez, visa garantir o acesso à justiça as pessoas que não possuem condições de arcar com o custo de um advogado. Para que você possa entender a função da Defensoria Pública, basta pensar: se o advogado é essencial ao acesso à justiça, conforme tratamos no parágrafo anterior, como que devem proceder as pessoas que não possuem condições 昀椀nanceiras de arcar com os honorários de um advogado? Deverão seguir sem defesa? Pensando nessas e outras questões que a Constituição Cidadã previu a existência de um órgão composto por advogados, custeado pelo Estado, para atender a população desfavorável economicamente. O Defensor Público é advogado aprovado no concurso público para a defensoria. Atualmente, tendo em vista o aumento da população economicamente pobre, a Defensoria Pública trabalha com um número reduzido de servidores e muitos municípios do país não possuem acesso ao Defensor Público, 昀椀cando tal função encarregada a advogados nomeados pelo juiz da comarca, os denominados advogados dativos. Noções de Direito 47 SAIBA MAIS: Que tal se aprofundar sobre a separação dos poderes na Constituição? Acesse o vídeo a seguir e con昀椀ra uma explicação sobre o assunto abordado nesse capítulo. O conteúdo encontra-se disponível aqui. RESUMINDO: E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Aprendemos sobre a teoria da separação dos poderes de Montesquieu e o sistema de freios e contrapesos que integram a tripartição dos poderes, adotada pela Constituição de 1988, através dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, os quais analisamos suas funções separadamente. Você pode aprender que o poder legislativo não se resume em criar leis, você pode aprender sobre sua atuação em cada esfera da federação, além de aprender sobre a diferença entre o unicameralismo e bicameralismo federativo, que acontece somente em relação ao poder legislativo federal. Vimos também quem compõe o executivo no âmbito municipal, estadual e federal, suas funções e atribuições. Por 昀椀m, detalhamos a atuação do poder judiciário e as garantias constitucionais que os representantes desse poder possuem. Noções de Direito 48 REFERÊNCIAS ALEXY, R. Teoria dos direitos fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2008. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm Acesso em: 20 jan. 2021. LENZA, P. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Editora Saraiva, 2018. PAULO, V.; ALEXANDRINO, M. Direito Constitucional Descomplicado. São Paulo: Método, 2018. SILVA, J.A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2019. Noções de Direito