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Psicodiagnóstico: Contexto e Abordagens


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RESUMO PARA ETP 1 
 
Abaixo estão alguns trechos dos textos utilizados durante o primeiro semestre da 
disciplina de Psicodiagnóstico, com os destaques em amarelo evidenciando o que foi 
considerado importante, além do uso de fontes e cores diferentes para os comentários, 
transcrições e observações feitas em aula. 
 
Leitura do capítulo 1 do livro “Diagnóstico Psicológico – A Prática Clínica” 
CONTEXTO GERAL DO DIAGNÓSTICO PSICOLÓGICO 
Marília Ancona-Lopez 
O termo “diagnóstico” - Sentido amplo e restrito 
A palavra diagnóstico origina-se do grego diagnõztikôe e significa discernimento, 
faculdade de conhecer, de ver através de. Compreendido dessa forma, o diagnóstico é 
inevitável, pois, sempre que explicitamos nossa compreensão sobre um fenômeno, 
realizamos um de seus possíveis diagnósticos, isto é, discernimos nele aspectos, 
características e relações que compõem um todo, o qual chamamos de conhecimento 
do fenómeno. 
Para chegarmos a esse conhecimento, utilizamos processos de observações, de 
avaliações e de interpretações que se baseiam em nossas percepções, experiências, 
informações adquiridas e formas de pensamento. É nesse sentido amplo que a 
compreensão de um fenômeno se confunde com o diagnóstico do mesmo. 
Em sentido mais restrito, utiliza-se o termo diagnóstico para referir-se à possibilidade de 
conhecimento que vai além daquela que o senso comum pode dar, ou seja, à 
possibilidade de significar a realidade que faz uso de conceitos, noções e teorias 
científicas. 
Quando procuramos ler determinado fato a partir de conhecimentos específicos, 
estamos realizando um diagnóstico no campo da ciência ao qual esses conhecimentos 
se referem. 
Neste livro trataremos do diagnóstico psicológico, O diagnóstico psicológico busca 
uma forma de compreensão situada no âmbito da Psicologia. Em nosso País, é uma 
das funções exclusivas do psicólogo garantidas por lei (Lei n.° 4119 de 27-8-1962, que 
dispõe sobre 2a formação em Psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo). 
PSICODIAGNÓSTICO 
Outras funções exclusivas são a orientação e 
seleção profissional, orientação psicopedagógica, 
solução de problemas de ajustamento, direção de 
serviços de Psicologia, ensino e supervisão 
profissional, assessoria e perícias sobre assuntos de 
Psicologia. 
Quando nos dispomos a realizar um 
psicodiagnóstico, presumimos possuir 
conhecimentos teóricos, dominar procedimentos e 
técnicas psicológicas. Como são muitas as teorias 
existentes, e nem sempre convergentes, a atuação 
do psicólogo em diagnóstico, assim como nas 
outras funções privativas da profissão, varia 
consideravelmente. Em outras palavras, é porque a 
atuação profissional depende de uma forma de conhecimento, método de estudo e 
procedimentos utilizados — considerando que na Psicologia estes são muitas vezes 
incipientes —, que se encontram muitas concepções e estruturações diferentes do 
diagnóstico psicológico. O próprio uso do termo varia, de acordo com essas concepções. 
Encontra-se, muitas vezes, ao invés de “diagnóstico psicológico”, a utilização dos termos 
“psicodiagnóstico”, “diagnóstico da personalidade”, “estudo de caso” ou “avaliação 
psicológica”, Cada um desses termos é utilizado preferencialmente por grupos de 
profissionais posicionados de formas diferentes diante da Psicologia. 
Assim, antes de nos propormos a atuar profissionalmente, será interessante 
explicitarmos sobre que fenômenos pretendemos atuar, quais serão os referenciais 
teóricos, os métodos e procedimentos a utilizar. 
 
A PSICOLOGIA CLÍNICA E AS ABORDAGENS PSICODIAGNÓSTICAS 
O termo Psicologia Clínica foi utilizado, pela primeira vez, eu 1896, referindo-se a 
procedimentos diagnósticos utilizados junto à clínica médica, com crianças deficientes 
físicas e mentais. O interesse por esse diagnóstico surgiu a partir do momento em que as 
doenças mentais foram consideradas semelhantes às doenças físicas. Passaram, então, 
a fazer parte do universo de estudo da ciência, e não mais da religião, como 
anteriormente, quando eram consideradas castigos divinos ou possessões. 
Pareadas com as doenças físicas, foi necessário observar as doenças mentais, verificar 
sua existência como entidades específicas, descrevê-las e classificá-las. 
Dessa forma, a par da Psiquiatria, atividade médica destinada a combater a doença 
mental, desenvolveu-se a Psicopatologia, ou seja, o ramo da ciência voltado ao estudo 
do comportamento anormal, definindo-o, compreendendo seus aspectos 
subjacentes, sua etiologia, classificação e aspectos sociais. Do mesmo modo, a par do 
desenvolvimento da Psicologia, isto é, do estudo sintomático da vida psíquica em geral, 
desenvolveu-se a Psicologia Clínica, como atividade voltada à prevenção e ao alívio do 
sofrimento psíquico, 
A BUSCA DE UM CONHECIMENTO OBJETIVO 
A forma de atuação inicial em psicodiagnóstico refletir a postura predominante, na 
época, entre os cientistas. Estes consideravam possível chegar-se ao conhecimento 
objetivo de um fenômeno, utilizando uma metodologia baseada em observação 
imparcial e experimentação. Esta postura, na qual a confirmação de hipóteses se baseia 
em marcos referenciais externos, conhecida em sentido amplo como postura positivista, 
predominou principalmente no continente americano, Dentro dessa orientação, 
desenvolveram-se o modelo médico de psicodiagnóstico, o modelo psicométrico e o 
modelo behaviorista. 
O MODELO MÉDICO 
O trabalho em diagnóstico psicológico junto aos médicos marcou o início da atuação 
profissional. Houve uma transposição do modelo médico para o modelo psicológico. Este 
adquiriu algumas características: enfatizou os aspectos patológicos do indivíduo, 
usando como quadros referenciais as nosologias psicopatológicas e enfatizou uso de 
instrumentos de medidas de determinadas características do indivíduo. 
As dificuldades encontradas nessa abordagem ligaram-se ao fato de que os quadros 
sintomáticos nem sempre se adequam ao quadro apresentado pelo sujeito. Além 
disto, os mesmos sintomas podiam ter muitas vezes causas diversas e, vice-versa, as 
mesmas causas podiam provocar diferentes sintomas. 
Do Ponto de vista do psicólogo, a grande ênfase nos aspectos psicopatológicos deixava 
em segundo plano características não-patológicas do comportamento das pessoas, 
limitando o estudo e o conhecimento sobre o indivíduo. 
Apesar dessas dificuldades, utilizam-se até hoje classificações psicopatológicas, 
principalmente no que se refere aos grandes grupos nosológicos. Convém lembrar que, 
dentro da Psicopatologia, há diferentes classificações, e estas obedecem a diferentes 
critérios. A utilização de critérios classificatórios justifica-se, porém, pela busca de 
uma linguagem comum. 
O MODELO PSICOMÉTRICO 
O desenvolvimento dos testes foi, aos poucos, estabelecendo um campo de atuação 
exclusivo para o psicólogo e garantindo sua identidade profissional, embora precária, já 
que condicionada à autoridade do médico a quem cabia solicitar esses testes e receber 
os resultados dos mesmos. Na atuação, foi com o uso de testes, principalmente junto a 
crianças, que os psicólogos ganharam maior autonomia. Nesse trabalho, esforçavam-
se por determinar, através dos testes, a capacidade intelectual das crianças, suas 
aptidões e dificuldades, assim como sua capacidade escolar. 
 
O MODELO BEHAVIORISTA 
A fim de poder aplicar o método das ciências naturais, necessitavam de um objeto de 
estudo observável e mensurável, e declararam o comportamento observável como o 
único objeto possível de ser estudado pela Psicologia. Consideraram que o 
comportamento humano não decorre de características inatas e imutáveis, mas é 
aprendido, podendo ser modificado. Passaram a estudá-lo, preocupando-se em 
alcançar as leis que o regem e as variáveis que nele influem, a fim de se poder agir 
sobre ele, mantendo-o, substituindo-o, modelando-o ou modificando-o. Os 
behavioristas criaram formas próprias de avaliação do comportamento a ser estudado. 
Não utilizaram o termo "psicodiagnóstico”,valendo-se dos termos “levantamentos de 
repertório” ou “análises de comportamento”. 
1.2.2. A IMPORTÂNCIA DA SUBJETIVIDADE 
O homem não pode ser estudado como um mero objeto, fazendo parte do mundo, pois 
o próprio mundo não passa de um objeto intencional para o sujeito que o pensa. Desse 
modo, os métodos das ciências naturais não poderiam ser transpostos para as ciências 
humanas, já que estas possuem características específicas. Esta forma de pensar foi 
marcante para a Psicopatologia e para a Psicologia. No campo desta última, deu origem 
à Psicologia Fenomenológico-existencial e à Psicologia Humanista. Todas essas 
correntes afirmam que a consciência, a vida intencional, determina e é determinada 
pelo mundo, sendo fonte de significação e valor. Salientam o caráter holístico do homem 
e sua capacidade de escolha e autodeterminação. Partindo dessa posição frente ao 
homem e â ciência, inúmeras escolas surgiram e encararam de formas diversas a 
questão do psicodiagnóstico. 
O HUMANISMO 
Para os humanistas, os procedimentos diagnósticos são artificiais. Constituem-se em 
racionalizações, acompanhadas de julgamentos baseados em constructos teóricos que 
descaracterizam o ser humano. Esses psicólogos não se utilizam de diagnósticos e de 
testes, considerando que, através do relacionamento estabelecido com o cliente, 
durante a psicoterapia ou aconselhamento, alcançam um a compreensão do mesmo. 
A PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL 
Algumas correntes da Psicologia Fenomenológico-existencial reformularam a visão do 
psicodiagnóstico. Para estes psicólogos, os dados obtidos em entrevistas e /o u em 
testes podem ser úteis e trazer informações a respeito das pessoas, ajudando-as no 
caminho do autoconhecimento. Esses dados devem ser discutidos diretamente com 
os clientes, estabelecendo-se com os mesmos as possíveis conclusões. Apesar de 
empregarem testes e informações derivadas de diferentes correntes do conhecimento 
psicológico, utilizam-nas apenas como recursos ou estratégias a serem trabalhadas 
com os clientes. O psicodiagnóstico é considerado mais do que um estudo e avaliação. 
Salienta-se o seu aspecto de intervenção, diluindo-se os limites que separam o 
psicodiagnóstico da intervenção terapêutica. 
Uma das contribuições do psicodiagnóstico interventivo, na abordagem 
fenomenológica-existencial, está na reavaliação do papel desempenhado pelo cliente e 
pelo psicólogo nesta situação. O cliente, antes agente passivo, torna-se um parceiro ativo 
e envolvido no trabalho de compreensão e eventual encaminhamento posterior: é 
corresponsável pelo trabalho desenvolvido. 
A reavaliação da atitude do psicólogo levou a uma mudança de postura. O psicólogo 
não é mais o técnico, o detentor do saber que procura oferecer respostas às perguntas 
trazidas pelos pais. Seus conhecimentos teóricos, técnicos e os provindos de sua 
experiência pessoal representam apenas outro ponto de vista. 
A PSICANÁLISE 
A Psicanálise provê uma revolução na Psicologia, explicitando o conceito de 
inconsciente e explicando, através de processos intrapsíquicos, os diferentes 
comportamentos que procura compreender. Através da ótica psicanalítica, rediscutem-
se a determinação psíquica, a dinâmica da personalidade, reveem-se os com 
portamentos psicopatológicos, sua origem e prognóstico. Embora, desde o início, os 
estudos psicológicos tenham se preocupado em definir e conhecer a personalidade, foi 
a Psicanálise que propôs o complexo mais completo de formulações sobre sua 
formação, estrutura e funcionamento. 
1.2.3. A PROCURA DE INTEGRAÇÃO 
Todas as abordagens em Psicologia, que surgiram e foram se desenvolvendo ao longo 
do tempo, têm seus equivalentes atuais. Isto quer dizer que. hoje, entre os psicólogos, 
encontramos aqueles que atuam a partir de conceitos do homem e da ciência 
positivistas, fenomenológico-existenciais, humanistas e psicanalíticos. Estas seriam as 
grandes tendências encontradas em Psicologia. Podemos dizer que, apesar de 
apresentarem diferenças fundamentais, muitas vezes se interseccionam, não sendo 
sempre possível detectar as fronteiras entre as mesmas. Apesar dos diferentes marcos 
referenciais, a conceituação de cada uma dessas tendências é muito ampla e cada 
uma delas apresenta inúmeros desdobramentos, de tal forma que, na prática da 
Psicologia e, portanto, na prática do psicodiagnóstico, temos, como já foi dito, várias 
formas de atuação, muitas das quais não podem ser consideradas decorrentes 
exclusivamente de um a ou de outra dessas abordagens. Em outras palavras, quando 
olhamos concretamente para a Psicologia Clínica, verificamos grandes variações de 
conhecimentos e atuações.. 
Atualmente, todas as correntes em Psicologia concordam, embora partindo de 
pressupostos e métodos diferentes, que, para se compreender o homem, é necessário 
organizar conhecimentos que digam respeito à sua vida biológica, intrapsíquica e social, 
não sendo possível excluir nenhum desses horizontes. 
1 3 1. A PRÁTICA DO PSICODIAGNÓSTICO 
Na prática da Psicologia Clínica visa-se, basicamente, a aliviar o sofrimento psíquico do 
cliente. Na prática do psicodiagnóstico, o objetivo é organizar os elementos presentes no 
estudo psicológico. de forma a obter uma compreensão do cliente a fim de ajudá-lo. 
1.3.2. O CONTEXTO DA ATUAÇÃO 
O maior desenvolvimento dos modelos de psicodiagnóstico atuais deu-se em 
consultórios privados, no atendimento a uma clientela socialmente privilegiada. A 
valorização do psicólogo como profissional liberal contribuiu para a preferência pela 
atuação autônoma, em detrimento da atuação em instituições. Nestas, a mera 
transposição dos modelos de psicodiagnóstico utilizados em consultórios, mostrou-se 
ineficiente. A situação passou a incluir, além do psicólogo e do cliente, um terceiro 
elemento, a instituição, que modificou a estruturação do trabalho. Nem sempre a 
instituição, os psicólogos e os clientes apresentam necessidades e objetivos coincidentes. 
A atuação em psicodiagnóstico prevê o conhecimento das necessidades do cliente. 
Questões éticas propõem ao psicólogo o conhecimento e a elaboração de suas próprias 
necessidades e desejos, a fim de que os mesmos não interfiram no trabalho profissional, 
prejudicando-o. Consideramos necessário que as influências institucionais sejam 
reconhecidas também. O psicólogo, ao atuar em creches, hospitais, presídios e outras 
organizações, encontra-se frequentemente sob orientação estranha aos interesses de 
sua profissão. Apesar da regulamentação prever, como função exclusiva do psicólogo, a 
direção de serviços de Psicologia, essa regulamentação nem sempre é respeitada. 
A procura do serviço psicológico decorre de encaminhamentos de terceiros, verificando-
se raramente a busca espontânea. A expectativa, nesses casos, é de adequação rápida 
às exigências exteriores. O profissional nem sempre encontra a seu dispor as técnicas 
mais adequadas ao caso em atendimento. A maioria das técnicas à disposição foi 
desenvolvida em outros países, e o acesso às mesmas depende de sua divulgação e 
comercialização. A obtenção de certos materiais implica em alto custo financeiro. Nessa 
situação, com poucos instrumentos disponíveis, o psicodiagnóstico pode transformar-se 
na repetição estereotipada de um a sequência fixa de testes, que nem sempre seriam os 
escolhidos pelo profissional, ou os que melhor serviriam ao cliente. 
 
 
 
 
 
 
O PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO FENOMENOLÓGICO-
EXISTENCIAL GRUPAL COMO POSSIBILIDADE DE AÇÃO 
CLÍNICA DO PSICÓLOGO 
 
PAULO EVANGELISTA 
Observações: 
 Prática que inclina-se para acolher o sofrimento humano e o reconduzir ao bem-
estar (resgate de sentido) 
 O domínio do saber deixa de ser o único lugar seguro 
 O psicólogo passando a atuar como um mediador e não mais como um detentor 
do saber 
 Funda-se tendo a perspectiva fenomenológica como referencial. Pois considera que 
a condição que constitui o sujeito é relativa e revela-se pelo encontro com o outro.Frequentemente os pacientes precisam se deslocar de longe, gastando o dinheiro 
contado para condução, para, após dois ou três meses, terem confirmado pelo psicólogo 
que realmente precisam de um atendimento psicológico. 
Não é a toa que muitos pacientes desistem do atendimento nas clínicas-escola antes 
de o iniciarem; com o longo tempo de demora na fila de espera, ou os sintomas 
desaparecem, ou buscam atendimento em outros lugares. Esse é, portanto, outro 
aspecto do psicodiagnóstico tradicional que, quando usado em contextos 
institucionais, exige reformulações. No consultório particular ele funciona. Aliás, é do 
modelo de consultório particular que provém. Mas em clínicas-escola e outras 
instituições voltadas para o atendimento de pessoas que não dispõem de recursos 
para atendimentos particulares, esse modelo não se adéqua. 
Esse modelo de psicodiagnóstico nasceu nos consultórios particulares, mas não se 
adéqua à situação de atendimento nessas instituições, aonde as pessoas vêm 
buscando ajuda para lidar com as dificuldades atuais. Ancona-Lopez (1984) lembra 
que as pessoas nem se preocupam com o nome do serviço psicológico que estão re- 
cebendo; o que lhes importa é conseguir lidar com o sofrimento atual. Mas o 
psicólogo que realiza o psicodiagnóstico no modelo tradicional acaba por 
desconsiderar o pedido de ajuda, postergando “a intervenção, empobrecendo um 
encontro rico de possibilidades” (p. 32). 
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PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO 
 
Perguntas não são intervenção. Elas podem ter efeito terapêutico, a medida em que 
foca no cliente. 
Assim, o questionamento deste modelo de psicodiagnóstico surge a partir do 
encontro com a realidade institucional que encontra. O psicodiagnóstico interventivo 
aparece como uma modalidade de prática psicológica mais adequada para atender 
a clientela das clínicas-escola. Por um lado, segue o mesmo objetivo do 
psicodiagnóstico tradicional, a saber, compreender o que ocorre, o comportamento 
interpretado como problemático, e para responder ao pedido de modificação por meio 
de intervenção do psicólogo, indicando o encaminhamento mais adequado, caso 
necessário. 
Quando em 2008 entrei pela primeira vez para supervisionar um grupo de estagiários 
de psicodiagnóstico interventivo na UNIP, deparei-me com um modo completamente 
diverso de prática psicológica, cujo objetivo geral é esse apresentado acima. O grupo 
era composto por doze estagiários, que formavam duplas. Eles me informaram que em 
poucos minutos receberíamos seis famílias, previamente chamadas pela clínica-escola, 
para o psicodiagnóstico. Ao longo do processo fui descobrindo e compreendendo 
o sentido deste psicodiagnóstico. Primeiramente, as sessões eram realizadas em 
grupo. Isso é muito enriquecedor neste processo, pois possibilita aos pais e 
responsáveis que ouçam as suas histórias, as compreensões que têm dos 
comportamentos de seus filhos e os modos como já tentaram lidar com os 
comportamentos tidos como problemáticos. 
Yehia (1996) indica que o lugar do psicólogo é o de compreender a pergunta, mas neste 
contexto em que os interessados são coautores de seu processo, o conhecimento 
teórico e técnico do psicólogo passa a ser apenas mais um ponto de vista. Trata-se de 
um ponto de vista embasado em pesquisas e observações que possibilita a 
organização dos fenômenos clínicos e o desvelamento de um sentido que articule 
uma compreensão do sofrimento atual, a ser trançado com o saber proveniente dos 
clientes. No caso do embasamento fenomenológico existencial, o psicólogo contribui 
com a perspectiva de que o cliente está, a seu modo, respondendo à indeterminação 
de sua existência e à tarefa de ser, buscando o sentido desse modo. É responsabilidade 
do psicólogo criar o contexto de aparição de fenômenos clínicos (setting), ou seja, o campo 
no qual o que aparecer será usado para compreender o sentido da vivência do cliente 
articulado ao sofrimento que motivou a procura. Também cabe ao psicólogo, em função 
de sua maior mobilidade e liberdade, coordenar o processo de busca de ajuda 
psicológica pela família, indicando avaliações concomitantes para esclarecer o pedido 
se forem necessárias. Um dos aspectos principais do psicodiagnóstico interventivo é a 
liberdade para acompanhar o desvelamento do fenômeno que o psicólogo tem 
diante de si. Por isso, a abordagem psicológica mais pertinente é a fenomenologia 
existencial. Liberdade não quer dizer falta de delimitações. Quer dizer que se buscam 
constantemente modos de acesso que facilitem o desvelamento do sentido do 
sofrimento apresentado. Isso é um dos fundamentos da fenomenologia: “o sentido 
específico do logos, só poderá ser estabelecido a partir da ‘própria coisa’ que deve ser 
descrita, ou seja, só poderá ser determinado cientificamente segundo o modo em que 
os fenômenos vêm ao encontro” (Heidegger, 1998, p. 65). Por isso, não há técnicas 
previamente delineadas. O atendimento aos pais e às crianças (no caso de 
psicodiagnóstico infantil) é uma ‘ferramenta’ adequada, pois a situação grupal 
facilita a manifestação dos modos de se relacionar. Assim, no psicodiagnóstico 
interventivo se alternam sessões dos pais e dos filhos. 
DESVELANDO OS MUNDOS DA CRIANÇA 
será de fato agressiva ou reage agressivamente quando sente que seu espaço foi 
invadido? Será que se sente à vontade para brincar com crianças mais velhas ou mais 
novas, embora não com crianças de sua idade? Em grupo pode-se observar tudo isso. 
E essa observação, diferentemente do modelo tradicional de psicodiagnóstico, que 
seria de coleta de dados para formulação de uma compreensão pelo psicólogo para 
posterior devolutiva e encaminhamento, possibilita que, imediatamente, intervenha-
se na situação, investigando e convidando novos modos de ser e estar com outros. 
Outras possibilidades de investigação sobre a situação existencial daquele que busca 
ajuda psicológica são os testes psicológicos (também são prerrogativa do psicólogo) 
e visitas domiciliar e escolar. 
O psicodiagnóstico interventivo considera importante a visita escolar por esta revelar, 
como a domiciliar, outro mundo habitado pela criança. Ademais, é a oportunidade 
de conversar com outras pessoas que convivem com a criança – professor, diretor, 
cuidador, etc. – sobre as compreensões que têm da criança e de seus comportamentos, 
assim como implicá-los em novos modos de lidar com a criança, sendo esse o caso. 
A visita escolar também possibilita uma compreensão dos significados imbricados na 
organização espacial e física da escola, assim como os valores que sustentam o 
cotidiano escolar. Há espaço para as crianças brincarem? Como é esse espaço? A escola 
é limpa, organizada? Como é o barulho? etc. Estes aspectos não têm significados ‘em si 
mesmos’, mas podem contribuir para a compreensão global do ser-no-mundo infantil 
quando confrontados com outros aspectos advindos das situações de observação 
lúdica, diálogo com os responsáveis, visita domiciliar, etc (Maichin, 2006). 
Não se trata de uma nova modalidade que surge de uma especulação teórica. 
Conforme mencionado há pouco, a população que procura os serviços de clínicas-escola 
investe seus recursos nesse processo. No modelo tradicional do psicodiagnóstico, a 
família saía do processo com a confirmação de que precisava de um psicólogo, mas 
que teria que retornar para iniciar o processo interventivo quando fosse chamada. A 
proposta de que o psicodiagnóstico seja também uma intervenção surge da 
compreensão da especificidade do público que busca este serviço, sendo, portanto, 
fenomenológica. Ao mesmo tempo em que oferece uma ajuda, tal como está sendo 
buscada, possibilita a compreensão sobre a situação atual e a abertura de novas 
possibilidades. Isso favorece, inclusive, que o encaminhamento proposto seja seguido. 
No Centro de Psicologia Aplicada (clínica-escola) da UNIP, os vários pacientes quechegam encaminhados pelo psicodiagnóstico referem-se a esse processo como tendo 
sido caracterizado por importantes mudanças. 
PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO COMO AÇÃO CLÍNICA 
Esta modalidade se propõe a acolher a experiência daquele que busca o psicólogo, 
favorecendo “uma visão mais clara de si mesmo e de sua perspectiva ante a 
problemática que vive e que gera um pedido de ajuda” (Mahfoud, 1987, p. 76) a partir 
das possibilidades do próprio cliente no momento em que a procura pelo serviço 
psicológico acontece 
Esse modo de compreender a intervenção em ambas modalidades está sustentado na 
fenomenologia-existencial, que concebe a ação clínica como “um espaço aberto, 
condição de possibilidade para a emergência de uma transformação não produzida, 
mas emergente em forma de reflexão, aqui entendida com quebra do estabelecido e 
condição necessária para novo olhar poder sur gir” (Barreto & Morato, 2009, p. 50). 
COAUTORIA DO SABER SOBRE SI 
Essa perspectiva fenomenológica de intervenção, isto é, disponível para acolher a 
demanda tal como aparece, a partir de sua própria especificidade, exige do psicólo- 
go uma modificação na sua postura tradicional. O psicólogo não tem como fazer isto 
se estiver apoiado no saber científico sobre o outro, a partir do qual elaborará 
conhecimentos sobre ele. Esta postura exige participação dos envolvidos, o que coloca 
o psicólogo na mesma condição do paciente: diante de uma situação desconhecida, 
aberto para o que se manifestar, tendo que destinar o que aparecer. Ou seja, ambos 
estão no mesmo barco rumo à modi ficação da situação atual. 
Por fim, é fundamental comentar que ao longo do processo de psicodiagnóstico, 
são realizadas devolutivas constantes. Elas auxiliam no esclarecimento da 
demanda e na compreensão da situação, sendo o principal aspecto interventivo 
deste processo. Levando em conta que os fenômenos aparecem sempre sob um 
aspecto e que há infindáveis modos de aparecer, no psicodiagnóstico interventivo são 
demarcadas compreensões que surgem de cada encontro, a fim de que psicólogo e 
paciente possam conjuntamente considerar o que se apresentou. Do ponto de vista 
fenomenológico a compreensão já é um modo de ação, dado que abre novas 
possibilidades. Ademais, é fundamental que as compreensões que surgem nos 
encontros possam ser partilhadas com os participantes. Isso torna necessário que o 
psicólogo cuide de que sua linguagem esteja em consonância com a dos 
participantes. Isto é, jargões psicológicos e linguagem técnica não favorecem a 
compreensão; pelo contrário, distanciam psicólogo e paciente. (TÁ LIGADO?) 
Para que a nossa intervenção seja eficiente ela deve 
pertencer ao campo de possibilidades do cliente. ou seja, se 
o cliente não tiver repertório e nem vocabulário ele poderá 
não entender e/ou recusar o que estamos dizendo. 
No psicodiagnóstico interventivo, a devolutiva com o livro-história é seguida de uma 
devolutiva final com os pais e responsáveis, que tem o mesmo objetivo da devolutiva 
às crianças. Contribui para quem se apropriem da compreensão e das possibilidades 
abertas ao longo do processo. No estágio na UNIP isso tem sido feito através de uma 
leitura conjunta e discussão do relatório psicológico elaborado pelo estagiário. Esta 
situação também é de troca. O relatório apresentado não é definitivo, pois as 
considerações, dúvidas, críticas e correções propostas pelos pacientes compõem a 
redação final, de modo que, fiel à proposta de que todos são coparticipantes deste 
processo, até o relatório psicológico é elaborado conjuntamente. 
 
 
CAPÍTULO II PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO 
FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL 
Marizilda Fleury Donatelli 
 
 Este capítulo tem por objetivo apresentar o psicodiagnóstico interventivo, 
destacando seus pressupostos. Essa prática postulou diferenças significativas, tanto 
no que se refere à postura do psicólogo quanto à postura do cliente. Acrescentou-se 
ao processo, que se caracterizava somente pela investigação, um caráter interventivo. 
Não se trata apenas de um processo investigativo. O que o caracteriza é a 
possibilidade de intervenção. 
Descrevo a seguir os principais aspectos deste modelo de atendimento psicológico. 
O psicólogo tradicionalmente sentia sua tarefa como o cumprimento de uma solicitação 
com as características de uma demanda a ser satisfeita, seguindo os passos e utilizando 
instrumentos indicados por outros (psiquiatra, psicanalista, pediatra, neurologista etc.). 
O objetivo fundamental de seu contato com o paciente era, então, a investigação do que 
este faz frente aos estímulos apresentados. Fischer, nos Estados Unidos, nos anos 1970, e 
M. Ancona-Lopez, no Brasil, na década de 1980, foram as precursoras na introdução do 
psicodiagnóstico interventivo, o qual, como indica o próprio nome, rompe com o 
modelo anterior, fazendo do atendimento um processo ativo e cooperativo. 
No psicodiagnóstico interventivo fenomenológico-existencial, as questões trazidas pelos 
clientes são ao mesmo tempo investigadas e trabalhadas, a fim de que se possam 
construir, em conjunto, possíveis modos de compreendê-las. As intervenções no 
Psicodiagnóstico Interventivo se caracterizam por propostas devolutivas ao longo do 
processo, acerca do mundo interno do cliente. São assinalamentos, pontuações, 
clarificações, que permitem ao cliente buscar novos significados para suas experiências, 
apropriar-se de algo sobre si mesmo e ressignificar suas experiências anteriores. 
[…] reconhecem a necessidade de fazer certos apontamentos ao paciente durante o 
processo Psicodiagnóstico por considerarem que o trabalho alcança uma dimensão 
mais ampla e compreensiva. Também argumentam a favor de devoluções parciais e de 
realizar um trabalho em conjunto com o paciente. No caso do psicodiagnóstico infantil, 
esse processo pressupõe a implicação da família na problemática, atribuída à criança, 
na queixa. Parte da ideia de que, se a criança apresenta um comportamento que atinge 
os pais, mobilizando-os a procurar por um psicólogo, a família está, de algum modo, 
envolvida no problema. Além disso, como diz Yehia (1995, p. 118): 
Não é um diagnóstico unilateral. Paciente e psicólogo chegarão juntos ao entendimento 
do que está acontecendo. 
 
PSICODIAGNÓSTICO COMO PRÁTICA COMPARTILHADA 
Em tal modalidade de atendimento, o psicólogo compartilha com os clientes suas 
impressões, permitindo que estes as legitimem ou ainda as transformem. Entende-se 
que é no compartilhar de experiências e percepções que pode emergir uma nova 
compreensão, um novo sentido, que possibilite diminuir ou eliminar o sofrimento 
psíquico da criança e da família. 
Essa é uma posição derivada da Psicologia Fenomenológica, na medida em que 
entende o indivíduo, em seu “estar no mundo”, como uma pessoa consciente, capaz de 
fazer escolhas e de responsabilizar-se por elas, diante de quem se abre um leque de 
possibilidades 
PSICODIAGNÓSTICO COMO PRÁTICA DE COMPREENSÃO DAS VIVÊNCIAS 
A queixa deixou de ser vista de modo isolado para tornar-se via de acesso ao mundo do 
sujeito, a seus objetos intencionais, e aos conflitos nele instalados, considerando-se o 
esclarecimento dos significados ali presentes como processo necessário para uma 
possível ressignificação e consequente modificação do modo de estar consigo e com o 
outro. 
Quando o psicólogo recebe uma criança encaminhada, é muito importante trabalhar a 
sua queixa desde o início assim como o significado que essa queixa representa para ela. 
 
DESCRIÇÃO DO ATENDIMENTO EM PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO NA 
ABORDAGEM FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL 
Essa modalidade de atendimento pode ser realizada individualmente, ou com mais 
frequência, nas instituições. As etapas do processo são as mesmas, em ambos os casos. 
Nesta descrição, apresento minha forma de trabalhar, individualmente, em 
psicodiagnóstico interventivo fenomenológico-existencial. 
1. Triagem – identificar /eleição da queixa / encaminhar ou atender 
2. Entrevista inicial – entender o caso 
3. Anamnese - História de vida da criança (situação psicomotora e social) 
a. O roteiro de anamnese não é apenas uma coleta de dados, mas uma 
oportunidade para os pais entrarem em contato com suas experiências 
passadas e presentes com o filho. Isso ajuda a identificar quais são as 
expectativas que atuam nessa relação. 
4. Contato inicial com a criança (Observação lúdica) 
a. É possível que durante o contato com a criança apareçam dados que 
não constaram na queixa inicial. 
5. Devolutiva parcial com os pais (orientações e/ou intervenções) 
6. Hora lúdica - Encontros com a criança: uso de testes psicológicos 
7. Devolutiva parcial 
8. Visita domiciliar 
9. Visita escolar 
10. Devolutiva Parcial 
11. Relatório final 
12. Devolutiva final para a criança (entrega do livro metáfora para a criança e 
relatório psicológico para a escola) 
 
 Para a entrevista inicial convoco somente os pais. 
 Explico que parto da ideia de que se a criança tem uma dificuldade, os pais estão 
implicados nela, e que, por essa razão, a participação deles no processo é fundamental. 
 Enfatizo que não se trata de um diagnóstico feito somente por mim, mas que buscaremos 
juntos compreender o que se passa, que eles são parte ativa do atendimento, e que tanto 
as informações por eles fornecidas como seu modo de entender a criança são essenciais 
para a efetivação do processo. 
 Explico ainda as visitas domiciliar e escolar que fazem parte do atendimento e que serão 
realizadas durante seu curso. 
 Combino dia, horário, falo a respeito do sigilo. 
 Certifico-me de que os pais compreenderam minha fala e pergunto-lhes se concordam 
com o que apresentei. 
 Procuro, por meio de seu discurso, entender as expectativas em relação ao processo. 
 Busco entender os aspectos manifestos e latentes da demanda. 
 Deixo que eles falem sem interrupções. 
 As eventuais dúvidas ou perguntas que tenha a fazer deixo para depois que os pais derem 
sinal de que concluíram o que tinham para comunicar. 
 
 
 
ENTREVISTAS CLÍNICAS 
CAPÍTULO 6 
Mary Dolores Ewerton Santiago 
 
A entrevista psicológica se constitui, na relação estabelecida entre duas ou mais 
pessoas dentro de um marco referencial estabelecido, sem perder de vista que 
ela se caracteriza por ser basicamente uma relação humana. 
 
A IMPORTÂNCIA DE UM MARCO REFERENCIAL NA ESTRUTURAÇÃO DA 
ENTREVISTA 
Na entrevista inicial é que tem lugar o estabelecimento de um marco referencial. Este 
tem como finalidade manter constantes certas variáveis que dizem respeito a: 1) 
objetivos do trabalho; 2) papel do psicólogo; 3) lugar e horário cias entrevistas; 4) duração 
aproximada do trabalho; 5) honorários 
(...) o medo do desconhecido que aciona alguns mecanismos de defesa, fazendo com que 
o psicólogo e o paciente se preparem para a situação de encontro. 
É, portanto, no contato direto com o paciente, na entrevista inicial, que podemos saber 
como ele é e por que solicitou a consulta. No caso do diagnóstico infantil, a procura é 
feita pelos pais ou responsáveis pela criança, sendo esta caracterizada por eles como 
paciente. Muitas vezes, os pais vêm com a expectativa de que o problema da criança 
seja solucionado, isto é, consideram a situação diagnóstica como uma situação 
terapêutica (mágica, evidentemente, uma vez que supõem que os conflitos e sintomas 
deles decorrentes desapareçam no limitado prazo de tempo em que se realiza o 
diagnóstico). 
Isto se dá não só pelo desconhecimento dos pais do que seja um processo 
psicodiagnóstico e um processo psicoterapêutico, mas também por outras necessidades, 
tais como: de que o psicólogo se encarregue dos problemas do filho e os trate, ou de que 
o psicólogo resolva rapidamente a situação que os incomoda. Cabe ao psicólogo 
investigar estas expectativas no atendimento inicial e ir mostrando-as aos pais, pois, 
caso contrário, estes sentir-se-ão frustrados, pouco compreendidos em suas 
necessidades e pouco disponíveis para aceitar os encaminhamentos propostos como 
necessários para a resolução da problemática apresentada. 
É claro que nem sempre as expectativas dos pais podem ser explicitadas, ou porque lhes 
é difícil (“não aguento mais meu filho, cuide dele”) ou porque estão a um nível 
inconsciente. Nestes casos, é importante que o psicólogo faça alguns assinalamentos 
não somente para que os pais possam entrar em contato com as suas expectativas, mas 
também para esclarecer o objetivo do trabalho que está sendo realizado. 
O psicólogo tem que estar envolvido no processo de psicodiagnóstico, não somente 
porque ele é uma variável na relação de entrevista (isto porque ele é da mesma natureza 
de seu objeto de estudo, paciente), mas também porque é a partir da instrumentação 
da contratransferência que ele pode compreender o paciente. Em outras palavras, a 
reação emocional, o impacto afetivo que o paciente provoca no psicólogo pode ser útil 
para este na medida em que o ajuda a compreender os tipos de vínculos que o paciente 
estabelece e que são, algumas vezes, problemas dos quais ele se queixa. Se o psicólogo 
não consegue se envolver no processo, isto é, quando se marginaliza, sua compreensão 
fica mais limitada e lhe impossibilita desenvolver um trabalho com objetividade, Esta 
depende justamente de sua inserção no processo e das considerações sobre sua pessoa 
no mesmo. 
Ainda que o psicólogo tenha a intuição de que não é o verdadeiro motivo da consulta, 
convém respeitar os limites dos pais e explorar o tema abordado, uma vez que é nele 
que os mesmos centram sua atenção e, portanto, aquele com o qual o psicólogo pode 
trabalhar no momento. Iniciar uma investigação por coordenadas que o psicólogo 
supõe importantes em prejuízo do que manifestamente se expressa como mais 
relevante na fala dos pais, pode resultar em fracasso por não encontrar motivação ou 
disponibilidade por parte deles. 
Por vezes, os pais usam os outros profissionais como intermediários: relatam que “a 
professora foi que mandou porque ele é inquieto, não presta atenção, não grava nada” . 
Os próprios pais podem até compartilhar estas queixas, porém as expressam para o 
psicólogo como sendo de terceiros, para se defender não somente da situação 
diagnóstica (colocando-se, por exemplo, como meros representantes da professora), 
mas também da percepção de seu vínculo com o filho. Quando esta situação ocorre é 
interessante investigar o ponto de vista dos pais e o que eles pensam a respeito do filho. 
Caso contrário, eles não se envolvem no processo diagnóstico. 
No caso em que a criança é incluída, a entrevista se limita à queixa, convidando-se 
também a criança a falar sobre este assunto. Na ocasião, não se faz uma pesquisa sobre 
o desenvolvimento da criança (se foi desejada, se houve abortos etc.) e nem sobre 
situações emocionais de tensão, uma vez que ansiedades intensas podem surgir. A 
entrevista em conjunto restringe-se, então, às queixas e estabelecimento do contrato. 
 
ÀS ENTREVISTAS SUBSEQUENTES 
A investigação necessária para se realizar um psicodiagnóstico inclui não somente 
aquele que é caracterizado como paciente — no caso, a criança — mas também todas 
as complexas interações do grupo familiar ao qual pertence. Isto significa que há 
necessidade de pesquisar o sistema familiar e compreender a criança e sua 
problemática a partir daí. Caso contrário, todo o procedimento utilizado está falseado 
desde o início: considerar a criança como desvinculada da situação familiar é aceitar a 
ideia de que ela, sozinha, desenvolveu-se e que os fracassos ou sucessos em sua evolução 
devem-se a ela somente. Negar que os tipos de vinculação estabelecidos no processo de 
desenvolvimento possam cristalizar certas condutas normais ou patológicas que os 
indivíduos apresentam, seria negar a importância da própria vida de relação que é 
comum aosseres humanos. Na realidade, a investigação necessária não se refere 
somente ao processo evolutivo da criança em seu micromundo social (que é 
basicamente sua família), mas também deve levar em consideração o macromundo 
social, com todas as influências socioeconômicas, políticas e culturais. 
De tudo que foi dito deduz-se que realizar uma pesquisa ampla e profunda nas 
entrevistas é tarefa difícil, só conseguida se o psicólogo permitir que apareçam 
conteúdos emergentes na situação relacional e estiver atento a estes. Por esta razão 
desaconselhamos a utilização de roteiros de pesquisa preestabelecidos, que, além de 
limitar a investigação, servem muitas vezes como instrumento defensivo tanto para os 
pais como para o psicólogo. 
Neste enfoque consideramos não somente os aspectos particulares (congênitos e 
hereditários) da criança, mas também os analisamos na sua relação com o ambiente 
familiar e social. Em última instância, são os fatores individuais, familiares e sociais que 
convergem para a estruturação de uma determinada personalidade. Convém ressaltar 
que todo esse processo de investigação diagnóstica assume características 
particulares quando realizado em uma instituição. O psicólogo deverá então recorrer 
a modelos alternativos que levem em conta as peculiaridades da clientela e da 
própria instituição, sem perder de vista a qualidade do seu trabalho. 
 
 
 
AS ENTREVISTAS DEVOLUTIVAS 
Consideramos imprescindível informar aos pais e à criança, na ocasião do 
enquadramento, que lhes será transmitido o conhecimento obtido acerca deles. Isto 
contribuirá para que se sintam menos ameaçados na situação relacional e mais 
dispostos a colaborar. 
Consideramos que uma das maiores dificuldades do psicólogo em realizar as entrevistas 
devolutivas é justamente aquela relativa à comunicação dos resultados obtidos. Muitas 
vezes, ele não consegue adequar sua linguagem à do paciente, expressar seu ponto de 
vista de forma compreensível, sem precisar recorrer à terminologia psicológica com a 
qual se familiarizou durante seus estudos, e até mesmo usou na sua compreensão do 
caso. 
Esta decodificação, que realmente não é simples nem fácil, parece depender 
basicamente de dois fatores: a) compreensão ampla e profunda do paciente e seu grupo 
familiar; b) aspectos da personalidade do psicólogo mobilizados durante o processo 
psicodiagnóstico. 
Dito de outro modo, a clareza do pensamento verbal depende da compreensão, mas 
relaciona-se diretamente com a qualidade do mundo interno do psicólogo. Distúrbios 
não resolvidos em relação a seus próprios aspectos infantis interferem no 
funcionamento profissional do psicólogo, uma vez que favorecem o aparecimento de 
contraidentificações projetivas 
As informações diagnosticas transmitidas pelo psicólogo devem ser aquelas que podem 
ser recebidas no momento pelo paciente e pelos pais; há necessidade, portanto, de se 
estimar os recursos egóicos dos mesmos, respeitando-se os limites impostos pelos seus 
sistemas defensivos. Um dos cuidados a serem tomados é o de não centralizar a 
problemática ou na criança ou nos pais, nem os induzir a pensar desta forma (que o 
problema é de um ou de outro), acirrando os conflitos existentes nas relações familiares. 
Supomos importante considerar a problemática como decorrente dos vínculos 
estabelecidos, por razões já anteriormente citadas. A devolução, a nosso ver, refere-se às 
informações diagnósticas, à compreensão obtida e aos encaminhamentos necessários; 
não inclui conselhos, mesmos quando solicitados, uma vez que estes, ao serem 
oferecidos, tendem a fazer evitar o uso do pensamento por parte daqueles que procuram 
atendimento. 
Quando se trata de diagnóstico psicológico na infância, as entrevistas devolutivas 
devem ser realizadas primeiramente com os pais (ou seus substitutos) e depois com a 
criança, uma vez que os encaminhamentos, quando necessários, somente serão 
propostos à criança quando aceitos pelos pais ou responsáveis. Se uma criança é 
informada da necessidade de tratamento, mas não conta com o apoio dos pais, pode 
intensificar a manifestação de suas dificuldades e fazer aguçar os conflitos 
intrafamiliares.

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