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AP-09-LINGUA-PORTUGUESA-2-CURSINHO-UNIENEM-2022

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DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA II 
PROFESSORA: ARACI ALMEIDA 
NOME: ________________________________________________ TURMA: ____ 
Classicismo: 
Caracterizado pelo retorno às formas da Antiguidade Clássica e pelos temas greco-latinos, o 
Classicismo foi uma escola estética europeia dos séculos XV e XVI. 
Contexto histórico 
O período da Idade Média durou cerca de 10 séculos na Europa (século V – século XV). Durante 
esse longo período de tempo, o desenvolvimento científico e cultural dependia do aval ou do 
aceite da Igreja Católica, que exercia influência política e socioeconômica em toda a Europa. 
Enquanto a riqueza na Idade Média estava relacionada à posse da terra e à tradição, as trocas 
comerciais que se estabeleceram com o mercantilismo tornaram o dinheiro a grande fonte de 
poder. O intercâmbio com civilizações da Ásia e da África, sobretudo com povos de origem 
árabe, abriu para os europeus novos horizontes, como o desenvolvimento da matemática e os 
instrumentos de navegação, como o astrolábio. 
Os espaços geográficos abriam-se, com a descoberta de novas rotas pelo mar, levando até a 
chegada aos territórios do grande continente americano: eram as Grandes Navegações." 
Tudo isso foi possível graças ao Renascimento, movimento científico e cultural que tomou conta 
da Europa no século XV. Esquivando-se da censura ideológica da Igreja, pensadores e cientistas 
elaboraram novas teorias e invenções: Nicolau Copérnico propõe o modelo heliocêntrico do 
Universo, Galileu Galilei descobre as leis que regem a queda dos corpos, Johann Gutemberg 
inventa os tipos móveis para imprimir os livros, tarefa antes delegada aos monges copistas. 
O horizonte cultural do Renascimento era a Antiguidade Clássica. A Grécia Antiga é considerada 
o berço do pensamento ocidental (tendo influenciado diretamente a cultura dos romanos), por 
isso o retorno às formas clássicas foi o propósito estético dos renascentistas. O Classicismo tem 
sua gênese na Itália, ao final do século XIII, com o surgimento do pensamento humanista. 
Principais características do Classicismo 
• Busca pelo equilíbrio, pela proporção, pela objetividade e pela transparência. 
• Obra mimética como reflexão de uma natureza que segue leis universais, ou seja, a 
obra como concerto harmônico. 
• Contenção da subjetividade, dos ímpetos da interioridade: o que vale é a obra, não o 
que sente ou pensa o autor. O autor deve desaparecer perante a obra. 
• Rigor formal: cada forma utilizada no texto clássico deve seguir um conjunto de regras 
próprio. 
• Separação das artes: os gêneros textuais não se misturam. A poesia lírica tem seu 
próprio método e características que não devem ser confundidos com aqueles da 
poesia épica, ou da dramaturgia, por exemplo. 
• Noção do ideal de beleza grego, também norteado pela proporção e pelo equilíbrio 
das formas. 
• Neoplatonismo. 
• Temas da mitologia greco-romana. 
• Valorização da racionalidade em oposição à sentimentalidade e do universal em 
detrimento do particular. 
• Antropocentrismo, a centralidade da existência humana em relação ao Universo e 
àquilo que o compõe. 
• Obra como veiculadora de verdades e ensinamentos que permitam aperfeiçoar a alma 
humana. 
• Adoção de formas textuais da Antiguidade Clássica, predominantemente a 
dramaturgia e os gêneros da tragédia e da comédia, e a poesia, nos gêneros lírico e 
épico. 
Classicismo em Portugal 
Embora na Itália o Classicismo tenha se insinuado em meados do século XIII, é apenas em 1527, 
com Sá de Miranda, que o movimento tem início em Portugal. Influenciado pelo dolce stil nuovo, 
“doce estilo novo”, em tradução livre, que aprendera na Itália, Sá de Miranda introduz à 
literatura o gênero do soneto decassílabo, que ficaria conhecido como “medida nova”, em 
oposição à “medida velha”, a das redondilhas (cinco ou sete sílabas métricas). 
Arco da rua Augusta, na Praça do Comércio, em Lisboa: exemplo da arquitetura classicista em 
Portugal. 
Foi predominante no Classicismo português a temática do neoplatonismo, escola filosófica que 
retomava a filosofia amorosa de Platão, tratando o amor não a partir da sensualidade, mas por 
seu viés filosófico e religioso. Além disso, os poetas do período valorizaram sobretudo os 
grandes feitos nacionais, as conquistas do povo português, assunto da poesia épica. Pode-se 
entender, portanto, que o Classicismo em Portugal voltou-se para dois principais temas: amor e 
bravura. 
Principais autores e obras 
Francisco de Sá de Miranda (Coimbra, 1481 – Amares, 1558), Precursor do Classicismo 
português, foi o responsável pela introdução do verso decassílabo em Portugal. Teve algumas 
poesias publicadas no Cancioneiro geral (1516), compilado antológico da poesia humanista. 
Introduziu também, em língua portuguesa, as formas da canção da sextina e as produções em 
tercetos e em oitavas, sendo responsável pela formação dos poetas portugueses, tendo grande 
influência na literatura que se desenvolveu no período. Eram parte de suas temáticas a reflexão 
moral, filosófica e política, além do lirismo amoroso. Escreveu também textos dramatúrgicos e 
cartas em forma de verso. Francisco de Sá de Miranda foi o precursor do Classicismo português. 
Fragmento de soneto de Sá de Miranda 
Comigo me desavim, 
Sou posto em todo perigo; 
Não posso viver comigo 
Nem posso fugir de mim. 
(Sá de Miranda) 
Luís Vaz de Camões (1524/1525-1580) O berço de nascimento de Camões é incerto: 
provavelmente Lisboa, provavelmente em 1524 ou 1525, mas as cidades de Coimbra, Santarém 
e Alenquer também reivindicam ser o local onde o poeta nasceu. De origem fidalga, Camões 
teve uma educação sólida e era conhecedor de história, geografia e literatura. Deu início ao 
curso de Teologia na Universidade de Coimbra, que abandonou por levar uma vida incompatível 
com os preceitos religiosos. Conquistador, Camões teve muitas paixões e seus versos eram 
muito prestigiados pelas damas da corte. Retrato de Camões em cédula de 50 escudos 
angolanos. Envolveu-se em duelos e fez inimizades, o que o levou a alistar-se e embarcar, como 
soldado, para Ceuta, lutando contra os mouros e perdendo o olho direito em combate. Já em 
liberdade, embarcou para a Índia, em 1554, e viveu também em Macau. Salvou-se de um 
naufrágio em 1556, levando consigo os originais de sua mais célebre obra, o poema épico Os 
Lusíadas. Morreu em Portugal, em 1580. Camões é considerado o mais importante poeta de 
língua portuguesa e um dos maiores da literatura universal. Sua produção literária é múltipla e 
contempla tanto as formas eruditas quanto as formas populares de trovas inspiradas em velhas 
cantigas medievais. A obra de Camões pode ser dividida em dois eixos principais: a poesia lírica 
e a épica. A lírica camoniana é composta principalmente de temas amorosos, bastante 
influenciada pelo neoplatonismo, que convive com os temas sensuais, estabelecendo quase 
sempre uma contradição. As antíteses da presença-ausência, amor espiritual-amor carnal, vida-
morte, sonho-realidade são muito presentes em seus poemas, o que o torna um antecipador do 
movimento maneirista. Além disso, Camões compôs na chamada “medida velha”, as 
redondilhas, ligadas à tradição popular, e na “medida nova”, o poema decassílabo, forma 
preferida para a exposição de temas e sentimentos complexos. 
Exemplo da poesia de Camões 
Alma minha gentil, que te partiste 
Tão cedo desta vida, descontente, 
Repousa lá no Céu eternamente 
E viva eu cá na terra sempre triste. 
Se lá no assento etéreo, onde subiste, 
Memória desta vida se consente, 
Não te esqueças daquele amor ardente 
Que já nos olhos meus tão puro viste. 
E se vires que pode merecer-te 
Algua cousa a dor que me ficou 
Da mágoa, sem remédio, de perder-te, 
Roga a Deus, que teus anos encurtou, 
Que tão cedo de cá me leve a ver-te, 
Quão cedo de meus olhos te levou. 
(Camões) 
Os Lusíadas 
Camões ficou muito conhecido por seu trabalho como sonetista,mas sua grande obra foi Os 
Lusíadas, poema épico de cunho nacionalista que exalta o período das Grandes Navegações 
portuguesas. Inspirado em Virgílio e Homero pela forma e pelo tema, Camões utiliza-se também 
da mitologia greco-romana para tecer a epopeia: Baco teria se voltado contra os portugueses, 
por ser dono dos territórios indianos, e Vênus, por gostar do povo lusitano, estaria a seu favor. 
 
Assim, a viagem real de Vasco da Gama mistura-se a essa narrativa mitológica. Escritos em 10 
cantos com oito estrofes cada um, Os Lusíadas é obra de linguagem culta e elevada, conforme a 
característica da poesia épica, e canta heroicamente os reis e os fidalgos portugueses a partir da 
conquista dos novos territórios, adicionando também outros episódios gloriosos da história de 
Portugal. 
SANZIO, R. (1483-1520) A mulher com o unicórnio. Roma, Galleria Borghese. A pintura e o 
poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do 
mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos apresentarem um retrato 
realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos usados no poema, 
valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoal e na variação de atitudes da mulher, 
evidenciadas pelos adjetivos do poema, apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela 
sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela postura, expressão e vestimenta da moça e os 
adjetivos usados no poema, desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como 
base da produção artística, evidenciado pelos adjetivos usados no poema, apresentarem um 
retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior, evidenciados pela 
expressão da moça e pelos adjetivos do poema.

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