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BT009-CP-CO-Por_v1 Bioética


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BT009 – Bioética geral
Caso prático
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Caso aplicado
Uma mulher de 22 anos deu entrada no pronto-socorro do Hospital Pepe Aguirre com fortes dores de estômago. Depois de aguardar por muito tempo, foi a vez dela. A pessoa que fez seu atendimento na recepção central com voz alta, altiva e fria coletou os dados dela e perguntou por que ela havia comparecido ao pronto socorro; a jovem revelou os sintomas, mas no meio da história começou a sentir fortes dores, o que evidentemente a impedia de continuar falando, porém, a atendente lhe disse: “Senhorita, preciso que responda logo, tenho que atender mais gente! Você pode se apressar?" Depois de alguns minutos, ela preencheu as informações no arquivo da jovem e a atendente falou para ela sentar e esperar até que seja chamada.
A jovem, sem receber nenhum tipo de atenção, teve que esperar 45 minutos para ser atendida de fato. Quando chegou a sua vez, com dificuldade chegou ao consultório onde deveria ser atendida; o médico cumprimentou-a friamente, olhou seu prontuário, revisou-o e diagnosticou-a com apendicite. Ele também anunciou que deveria fazer uma operação de emergência, pois caso contrário sua doença poderia piorar para peritonite e depois até vir à óbito. Entre dor e lágrimas, a jovem disse ao médico que não tem dinheiro para pagar a operação, pois foi demitida do emprego há apenas uma semana por não cumprir o horário, por isso não fechou contrato e não tem plano. Além disso, sua família tem poucos recursos e também não tem salário fixo. Enquanto isso, o médico olha para ela e ouve atentamente sua história.
Diretrizes para desenvolver o caso:
Explique qual é o dilema ético do caso. 
Desenvolva a análise bioética e indique o julgamento ético a esse respeito. Esta análise deve incluir dados experimentais, um quadro antropológico e indicações éticas (incluindo uma análise dos princípios bioéticos envolvidos).
Lembre-se de justificar seu raciocínio a partir da consulta a material bibliográfico, citando e utilizando o regulamento correspondente e leve em consideração a clareza do texto das respostas. O tamanho máximo é de 3 páginas (excluindo a declaração do caso).
a) Explique qual é o dilema ético do caso – Para compreender o dilema ético do caso, é preciso sumariamente analisar quais os fatores normativos-legais atrelados com o direito à saúde. Primeiro, o direito à saúde é tido como um direito humano, assegurado a todos os indivíduos por meio de diplomas internacionais de grande relevância, sendo o mais importante deles a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), de 1948, emitida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e ratificada pelo Brasil. Segundo, a Constituição Federal de 1988 (CF-88), ao dialogar legalmente sobre o direito à saúde, dispõe que este trata-se de um direito de caráter não apenas humano, como também fundamental, social e universal. Para fins de acesso, o direito à saúde deve proporcionar condições igualitárias, sem quaisquer tipos de distinção. Por sua vez, o acesso a tal direito deve ocorrer de forma irrestrita, considerando que este é fundamental para preservar a dignidade dos indivíduos. Dada a ampla desigualdade social coexistente na sociedade brasileira, a igualdade de acesso ao direito à saúde deve ser conduzida sob um condão de equidade, ou seja, deve ser ofertada de acordo com as condições de cada indivíduos. Dito isto, é importante responder ao questionamento indicando que o dilema ético existente no caso narrado é justamente a equidade do acesso ao direito à saúde, acesso este que fora limitado no caso clínico emergencial de uma paciente que requeria uma cirurgia de emergência. Cabe ainda destacar a existência de um outro dilema ético no caso hipotético, sendo ela o não acolhimento da paciente de forma respeitosa, pois, seu acolhimento foi conduzido sob um amplo desrespeito aos seus direitos, principalmente quanto a violação da sua dignidade, diante de ocorridos que justificam tal afirmação, tais como: a forma de comunicação da recepcionista; a não preservação dos dados dialogados com a paciente na recepção da unidade hospitalar; a espera de 45 minutos para um atendimento emergencial; o comportamento do médico com a paciente; e a não requisição de exames antes do diagnóstico e da prescrição da cirurgia. Uma outra questão ética ainda pode ser levantada, sendo ela a privação do direito de acesso integral aos cuidados em saúde, principalmente em casos de urgência e emergências, nos quais não se pode limitar o usofruto dos tratamentos requeridos pelo critério de insuficiencia econômico, pois, é direito do Estado prover a disposição de todos os serviços em saúde indispensáveis para a manutenção da 3 qualidade de vida e da própria vida dos indivíduos, quer seja pelo sistema público ou privado. 
b) Desenvolva a análise bioética e indique o julgamento ético a esse respeito. Esta análise deve incluir dados experimentais, um quadro antropológico e indicações éticas (incluindo uma análise dos princípios bioéticos envolvidos) – A bioética foi criada no século XX, na década de 1970, dispondo de diretrizes e princípios que visam salvaguardar a relação entre científica e seres humanos, incluindo neste campo a relação médico X paciente no âmbito da saúde. A análise da bioética aplicada ao caso em epígrafe imprescinde da indicação dos princípios bioéticos que se correlacionam com a situação narrada, sendo eles o da autonomia, o da justiça e o da beneficonsideração. A conceituação destes princípios é deveras importante para compreender a aplicação dos mesmos no caso hipotético analisado. No que diz respeito ao princípio da autonomia, Byk (2015) o conceitua como sendo uma exigência que requer dos profissionais da saúde, principalmente do médico, o respeito para com a vontade do paciente em relação ao tratamento que será adotado para o seu quadro clínico, lhe informando de “todas as opções possíveis”, incluindo as questões e possibilidades financeiras. Aplicando o princípio da autonomia ao caso analisado, percebe-se ampla violação do mesmo no cenário em que o médico recomenda o procedimento cirúrgico e, mesmo diante da narrativa da paciente com relação a sua condição econômica, não oferta a ela o conhecimento de todas as possibilidades possíveis, as quais poderiam incluir opções de tratamento medicamentoso ou o custeio da cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Com relação ao princípio da justiça, a sua conceituação pode ser extraída da obra de Gozo e Ligiera (2012), que diz respeito a condição de garantia de acesso igualitárioequitativo aos serviços e cuidados em saúde, não possuindo como obstáculo a sua condição financeira. Mais uma vez, diante do caso narrado, violou-se tal princípio, uma vez que o acesso aos serviços médicos pela paciente fora marcado por negligências, a exemplo da espera prolongada pelo atendimento, pela insatisfatória prestação do serviço de acolhimento primário e pelo cerceamento do acesso ao tratamento cirúrgico. Já com relação ao princípio da beneficonsideração também chamado de princípio da não-discriminação, Byk (2015) ilustra o seu conceito afirmando que esta busca evitar quaisquer tipos de discriminação em desfavor dos pacientes, quer 4 seja por condição de gênero, cor/raça, situação socioeconômica ou de quaisquer outras naturezas. Perpassado os entendimentos principiológicos necessários, o julgamento ético do caso pode ser ilustrado indicando que a paciente tem o direito de receber tratamento digno e respeitoso, devendo o profissional da medicina assegurar que a mesma possua acesso a todos os serviços necessários para o reestabelecimento da sua saúde, ainda que esta não possua suficiência de recursos financeiros. No escopo deste julgamento, cabe o manuseio de ações estratégicas em saúde que disponham para a paciente alternâncias dos tratamentos possíveis, das opções de financiamentos de custeio, de encaminhamentos ao SUS ou judicial, dentre outras possibilidades de concretude do usufruto de um acesso à saúde pautado na preservação da dignidade da paciente. 
REFERÊNCIASBYK, Christian. Tratado de bioética. 1. ed. Bahia: Paulus, 2015.
GOZZO, Débora; LIGIERA, Wilson R. Bioética e direitos fundamentais. 1. ed. São
Paulo: Saraiva Jur, 2012.
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