Buscar

APS - Direito do trabalho - Maria Vitoria

Prévia do material em texto

SUPREMACIA DO MODELO NEGOCIADO SOBRE O MODELO LEGISLADO NA 
REFORMA TRABALHISTA 
 
A reforma trabalhista, a princípio, tinha ênfase em tratar para que as normas 
de negociação coletiva sobrepusessem o Legislado (CLT). 
 
Porém, após o Presidente da época, Michel Temer, encaminhar a proposta 
para o Ministério do Trabalho, ele foi modificado e ampliado para alterar diversos 
outros artigos da Legislação vigente à época, não só da CLT, que influenciavam nas 
relações trabalhistas. 
 
O argumento utilizado para fundamentar tamanha alteração foi de que se 
fazia necessário uma modernização nas relações trabalhistas. Mas o que houve na 
verdade foi uma inversão de valores, nos quais ignoram o texto da nossa Carta 
Magna e também tratados internacionais no que tange os direitos humanos sociais. 
 
 
 
DO PRINCÍPIO DA APLICAÇÃO DA NORMA MAIS FAVORÁVEL 
 
 
 
Este princípio rege a aplicação da norma trabalhista, e para a aplicação deste 
princípio, é necessário que haja uma pluralidade de normas aplicáveis ao litigio. 
Desta forma, este princípio vem para dizer que nestes casos, a norma a ser 
aplicada deve ser a que for mais favorável ao trabalhador. 
 
Com isso, podemos perceber que no direito trabalhista não há uma hierarquia 
de normas aplicáveis, pois nem sempre o legislado em nossa Constituição Federal 
será o mais benéfico para o obreiro. 
 
Por conseguinte, este princípio não se aplica diante de normas proibitivas ou 
disciplinadoras (como por ex. salário mínimo). 
 
 
 
 
TEORIA DA ACUMULAÇÃO 
 
 
Essa Teoria propõe que todas as vantagens do trabalhador devem ser 
acumuladas. Neste caso, o contrato de trabalho deve conter uma seleção das 
normas legais agrupadas, acumulando-se, portanto, as condições que forem mais 
favoráveis ao trabalhador. 
 
Ou seja, o aplicador da norma somente usará as que forem favoráveis ao 
obreiro, acumulando inúmeros direitos. 
 
Outrossim, esta teoria vai contra o disposto no art 620 da CLT, que preconiza 
que “condições estabelecidas em acordo coletivo de trabalho sempre prevalecerão 
sobre as estipuladas em convenção coletiva de trabalho”. 
 
 
 
TEORIA DA CONGLOBAMENTO 
 
 
Ao contrário da teoria anterior, a Teoria do Conglobamento, também 
conhecida como Teoria do Conjunto, ela não leva em consideração as normas 
fracionadas, mas sim todo o conjunto. 
 
Ou seja, no caso de haver normas previstas em instrumentos diversos, o 
aplicador deverá escolher o instrumento coletivo a ser aplicado ao caso, e não as 
normas isoladas de cada uma existente. Essa é a Teoria mais aceita pelos 
Doutrinadores. 
 
 
 
 
TEORIA DA INCINDIBILIDADE DOS INSTITUTOS 
 
 
Essa teoria é mais versátil. De acordo com ela, no caso de mais de uma fonte 
reguladora de uma mesma matéria, deve-se acumular os diplomas legais, limitando 
eles à um conjunto de normas por matéria. 
 
Diante isto, com a aplicação desta teoria, é possível combinar diversas 
normas existentes, separando-as de acordo com seus institutos jurídicos, já levando 
em consideração as mais favoráveis ao trabalhador. 
 
 
 
A REFORMA TRABALHISTA E A SUPREMACIA DO NEGOCIADO SOBRE O 
LEGISLADO 
 
 
O modelo do “negociado sobre o legislado” veio com a Reforma Trabalhista 
durante a presidência do Michel Temer. 
 
Este modelo institui que nem sempre uma cláusula da sobre uma matéria 
CLT será válida devido à sua hierarquia ante uma negociação sobre a referida 
matéria. Ou seja, de acordo com este sistema, as cláusulas previstas em acordos 
ou convenções coletivas prevalecem quando conflitante com o legislado. 
 
O sistema em questão está regulado no art. 611-A da CLT, onde estabelece 
parâmetros e limites para essas negociações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
INCONSTITUCIONALIDADE DO NOVEL ART. 611-A DA CLT 
 
 
 
Dependendo da interpretação e da negociação, podemos dizer que o art. 
611-A da CLT viola princípios constitucionais. 
 
A nossa CF diz expressamente que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de 
fazer, se não em virtude Lei. Ora, seria então os acordos e convenções coletivas 
“pesos” equiparados às Leis? 
 
Na visão de alguns doutrinadores a teoria da prevalência do negociado sob o 
legislado vai contra o princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas. Bem 
como a aplicação da norma mais favorável. 
 
O principal motivo pelo qual esta norma é considerada inconstitucional, se dá 
pelo fato de que o legislador preconizou hipóteses específicas em que os direitos 
dos trabalhadores podem ser reduzidos. 
 
Além, também, do fato de o art 611-A não fazer distinção a trabalhadores 
sindicalizados ou não. 
 
 
 
INCONVENCIONALIDADE E INCONVENIÊNCIA DO NOVEL ART. 611- A DA CLT 
 
 
Com a aplicação do Art. 611-A da CLT, ela obriga a desestatização e 
privação dos direitos humanos, pois afasta o poder do Estado como garantidor dos 
direitos dos trabalhadores. 
 
Ou seja, o Governo descumpre tratados internacionais, aos quais teria a 
obrigação de cumprir ao dar abertura para que sejam negociados os direitos dos 
trabalhadores. 
 
Outro problema que enfrentamos é que, no Brasil, há um grande número de 
analfabetos e pessoas com o ensino básico ou médio incompleto. Já os 
empresários contam com uma vasta educação. Isso faz com que as negociações 
não sejam feitas em condições de “igual para igual”, pois o nível educacional é 
diferente, e isso influencia muito na hora das negociações. 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
A reforma trabalhista tende a beneficiar apenas os empresários, pelas 
fundamentações acima apresentadas, e as negociações coletivas podem implicar 
em redução de salários e de direitos que são dos trabalhadores. 
 
Diante de todo o exposto, a longo prazo, a classe executiva, que é 
economicamente mais forte e possui um nível educacional maior, agravará a 
desigualdade social, uva vez que influencia diretamente na má distribuição de 
renda. 
 
Por derradeiro, os artigos da CLT devem ser interpretados à luz da nossa 
Carta magna, para que quem for interpretar as convenções ou acordos coletivos 
verifiquem se estão em harmonia com os princípios constitucionais.

Continue navegando