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Revista Baiana
de Saúde Pública
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v.37, Suplemento 1, p.133-143 
jan./mar. 2013
PERFIL BIOSSOCIAL DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE DOENÇA DE CHAGAS ATENDIDOS 
NO AMBULATÓRIO DE INFECTOLOGIA DO HOSPITAL COUTO MAIA, SALVADOR, BAHIA
Raissa Bastos Carvalhoa
Hugo Carvalho Silva b
Marcos Vinícius Guerreiro Coutoc
Fabiana Behrmann da Conceiçãod
Gilmar Ribeiro Juniore
Claudilson José de Carvalho Bastosf
 
Resumo
A doença de Chagas é uma zoonose causada pelo protozoário Trypanosoma 
cruzi, endêmica nas Américas Central e do Sul. O presente estudo teve como objetivo avaliar 
o perfil biossocial dos pacientes portadores da Doença de Chagas Humana (DCH) atendidos 
no ambulatório de infectologia do Hospital Couto Maia, unidade de referência localizado em 
Salvador, Bahia. Trata-se de um estudo de corte transversal, descritivo, realizado de março a 
junho de 2012, com aplicação de questionário respondido em um único momento por doentes 
provenientes de Itaberaba, Bahia. Os resultados evidenciam que, dentre os 28 pacientes 
estudados, 53,6% eram do sexo feminino, com idade de 38 a 84 anos; 42,9% eram analfabetos; 
87,5% responderam receber menos que dois salários mínimos, sendo a agricultura a principal 
fonte de renda (nenhum paciente referiu ter carteira assinada); 78,6% tinham familiares com 
doença. Encontrou-se ainda a falta assistência sanitária, educação, moradia e saúde para a 
população estudada. Concluiu-se que a pesquisa pôde reforçar a sustentação dos dados da 
literatura a respeito do perfil biossocial dos portadores da doença de Chagas.
Palavras-Chave: Doença de Chagas. Perfil social. Epidemiologia.
a Estudante de medicina da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Salvador (FTC).
b Médico formado pela Faculdade de Tecnologia e Ciências de Salvador (FTC). Médico residente em clínica médica no 
Hospital Santo Antônio.
c Médico formado pela Faculdade de Tecnologia e Ciências de Salvador (FTC).
d Assistente Social do Hospital Couto Maia.
e Técnico em Saúde pública do Laboratório de Patologia e Biologia Molecular (LPBM) da Fundação Oswaldo Cruz 
(Fiocruz), Salvador, Bahia.
f Médico infectologista e preceptor da residência médica do Hospital Couto Maia. Professor titular do curso de medicina 
da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Salvador (FTC).
 Endereço para correspondência: Claudilson José de Carvalho Bastos. Rua Rio São Francisco, s/n, Monte Serrat, 
Salvador, Bahia. CEP: 40425-060. cbastos@hsf.org.br
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BIOSOCIAL PROFILE OF PATIENTS WITH CHAGAS DISEASE ADDMITTED AT THE 
DEPARTMENT OF INFECTIOUS DISEASES AT COUTO MAIA HOSPITAL, SALVADOR, BAHIA
Abstract
Chagas disease is a zoonosis caused by the protozoan Trypanosoma cruzi, 
endemic in Central and South Americas. The present study aimed to evaluate the bio-social 
profile of patients with Chagas disease admitted at the Infectious Disease sector at Hospital 
Couto Maia, a reference hospital located in Salvador, Bahia. This research was conducted 
between March and June 2012, a questionnaire answered in a single moment was used as 
method with patients from Itaberaba, Bahia, Brazil. The results show that 28 patients 53.6% 
of females aged 38-84 years, 42.9% were illiterate, 87.5% answered they received less than 
two minimum wages (agriculture was their main source of their income), none of the patients 
made any reference to full time jobs with contracts and 78.6% of respondents has family and 
relatives affected by the Chagas disease. It can be concluded that this research can reinforce 
the literature data regarding the socio-cultural profile of patients with Chagas disease. 
Key words: Chagas disease. Social profile. Epidemiology.
PERFIL BIOSOCIAL DE LOS INDIVIDUOS PORTADORES DE LA ENFERMEDAD DE CHAGAS 
ATENDIDOS EN EL AMBULATORIO DE ENFERMEDADES INFECCIOSAS DEL HOSPITAL 
COUTO MAIA, SALVADOR, BAHIA 
Resumen
La enfermedad de Chagas es una zoonosis causada por el protozoo 
Trypanosoma cruzi, que es endémica en América Central y del Sur. Este estudio tuvo como 
objetivo evaluar el perfil biosocial de los pacientes portadores de la Enfermedad de Chagas 
humana (ECH), atendido en un ambulatorio de enfermedades infecciosas del Hospital Couto 
Maia, unidad de referencia localizado en Salvador, Bahia. Estudio de enfoque transversal, 
descriptivo, realizado de marzo a Junio de 2012, con la aplicación de cuestionario respondido 
en un único momento, por enfermos provenientes de Itaberaba, Bahia. Los resultados 
muestran que de los 28 pacientes, el 53,6% eran mujeres, con edad entre 38 a 84 años; el 
42,9% era analfabeto, el 87,5% respondió que reciben menos de dos sueldos base, teniendo 
la agricultura como principal fuente de renta (ningún paciente refirió poseer registro formal de 
trabajo) y el 78,6% de los encuestados estaban familiarizados con la enfermedad. Se encontró, 
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aún, que la población estudiada carece de asistencia sanitaria, educación, habitación y salud. 
Se concluye que la investigación refuerza lo que sostenido por la literatura, con respecto al 
perfil biosocial de los portadores de la enfermedad de Chagas. 
Palabras-Clave: Enfermedad de Chagas. Perfil social. Epidemiologia.
INTRODUÇÃO
Doença de Chagas Humana (DCH), também conhecida como tripanossomíase 
americana, é uma zoonose causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi.1 Trata-se de uma 
patologia endêmica nas Américas Central e do Sul, onde se encontram aproximadamente 17 
milhões das pessoas infectadas e outros 100 milhões de indivíduos com risco de infecção.2 Em 
relação ao Brasil, tem-se que a prevalência total da DCH é de 4,2% e, na região Nordeste, a 
taxa da infecção pode atingir mais de 5,0%.3,4 Além da transmissão vetorial, há a transmissão 
por transfusão do sangue, transplante de órgãos, via oral, vertical e acidente laboratorial.5,6 
Recentemente, ocorreu microssurtos dessa doença por transmissão oral em cidades do interior 
de Santa Catarina e da Bahia.7,8
A DCH está, dentre as demais patologias parasitárias, como a mais associada ao 
padrão social e econômico da população.2 Estudos prévios apontam para uma íntima relação 
da DCH com o padrão social da população, com predomínio de indivíduos de pouca renda 
financeira, que vivem em precárias condições de moradia, com baixa escolaridade, residentes 
na zona rural.9 Contudo, com o crescimento demasiado dos grandes centros, o desmatamento 
e o rareamento dos animais silvestres associados à construção das residências em ecótopos 
silvestres, cria-se a possibilidade de transmissão da DCH em bairros nobres das metrópoles.5 
Assim sendo, um estudo cujo enfoque seja, apenas, sobre o perfil biológico da 
DCH não basta para seu entendimento completo, sendo indispensável uma ampla abordagem 
do paciente que envolva seu perfil biológico e também seu meio social.10 
Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo avaliar o perfil 
biossocial dos pacientes portadores da DCH procedentes de Itaberaba, Bahia, atendidos 
em Salvador, no ambulatório de infectologia do Hospital Couto Maia (HCM), no período de 
março e junho do ano de 2012.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo de corte transversal, descritivo, realizado por meio da 
aplicação de questionário. Envolveu uma amostra de conveniência, no período de março a junho 
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de 2012, abordando pacientes procedentes da cidade Itaberaba, Bahia, atendidos no ambulatório 
de infectologia do Hospital Couto Maia, um hospital de referência para doença infectocontagiosa 
localizado em Salvador, Bahia. Teve como critério de inclusão os pacientes portadores de doença 
de Chagas previamente diagnosticada que fossem atendidos no ambulatório de infectologia 
do HCM e encaminhados da cidade de Itaberaba, Bahia. O Questionário aplicado na coleta de 
dados questionava o paciente sobre idade, sexo, etnia, estado civil, naturalidade, procedência, 
ocupação, zona de moradia, tipo de habitação, composiçãodo imóvel, condições de moradia, 
bens duráveis em domicílio, uso de álcool ou outras substâncias psicoativas, tabagismo, se 
algum membro familiar tinha DCH, escolaridade, ocupação e renda familiar mensal. A etnia foi 
classificada de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)11 e o grau 
de escolaridade pelas informações obtidas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.12 
Quando o paciente atendia aos critérios de inclusão, recebia esclarecimentos 
sobre os objetivos da pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) 
para ser assinado e devolvido. O questionário elaborado como instrumento para a coleta 
de dados foi aplicado por uma pessoa treinada e respondido em um único momento. A 
análise e tabulação dos dados foram feitas no programa estatístico Social Package Statistical 
Science (SPSS), na versão 10.0, e os dados apresentados em tabelas e gráficos. As variáveis 
quantitativas foram expressas em médias e desvio padrão; as variáveis qualitativas, em 
frequências absoluta e relativa. Não foi realizada inferência estatística devido à amostra ser 
de conveniência. O projeto foi apresentado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do 
Hospital Couto Maia, Protocolo n° 00749712.7.0000.0046.
RESULTADO
Vinte e oito pacientes encaminhados de Itaberaba, Bahia, compareceram 
voluntariamente ao ambulatório de infectologia do Hospital Couto Maia no período de março 
a junho do ano de 2012. A idade desses pacientes variou de 38 a 84 anos com média de 56 e 
desvio padrão de 11,5 anos. A maioria dos pacientes (53,6%) pertencia ao sexo masculino. A 
etnia predominante foi negra (50%), seguidos pela parda (32,1%) e branca (17,9%). (Tabela 1).
Tabela 1 � Perfil biossocial dos portadores de doença de Chagas atendidos no 
HCMaia � Salvador (BA) � jan.-jun. 2012
Variáveis N (%)
Idade (Anos) * 56,0 (11,5)
Valor mínimo 38
Valor máximo 84
(continua)
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Tabela 1 � Perfil biossocial dos portadores de doença de Chagas atendidos no 
HCMaia � Salvador (BA) � jan.-jun. 2012
Variáveis N (%)
Gênero
Masculino 15 (53,6)
Raça 
 Negra 14 (50)
 Parda 09 (32,1)
 Branca 05 (17,9)
Escolaridade 
 Analfabeta 12 (42,9)
 Fundamental incompleto 13 (46,4)
 Fundamental completo 02 (7,1)
 Ensino Médio completo 01 (3,6)
Ocupação 
 Desempregado 06 (21,4)
 Empregado 13 (46,4)
 Pensionista 01 (3,6)
 Aposentado 05 (17,9)
 Beneficiado 03 (10,7)
Tipo de trabalho 
 Lavrador 11 (78,6)
 Faxineira 03 (21,4)
Renda salarial familiar
 Menos de 1 salário 09 (32,1)
 1 salário 13 (46,4)
 2 salários 06 (21,4)
Estado civil 
 Solteira 09 (32,1)
 Casada 16 (57,1)
 Viúvo 03 (10,7)
Naturalidade 
 Itaberaba � Zona rural 11 (39,3)
 Outros locais 17 (60,7)
Município de residência 
 Itaberaba 21 (75)
 Outros locais 07 (25) 
Zona de moradia 
 Rural 14 (50)
 Urbana 14 (50)
Fonte: Elaboração própria.
Verificou-se que 75% dos pacientes moravam em Itaberaba no período em que foi 
realizada esta pesquisa, sendo metade da população estudada moradora da zona rural. A análise 
da naturalidade revelou que mais de 60,7% nasceram na zona rural desse município (Tabela 1).
Ao analisar a relação conjugal declarada, encontrou-se 57,1% casados, 10,4% 
solteiros e 10,7% viúvos. Questionados sobre o grau de escolaridade, 3,6% dos entrevistados 
(conclusão)
138
afirmaram que tinham o ensino médio, 7,1% que concluíram ensino fundamental, 46,9% não 
concluíram o ensino fundamental e 42,9% eram analfabetos (Tabela 1).
Sobre a principal fonte de renda da família, os portadores da doença de Chagas 
entrevistados (87,5%) revelaram que recebem menos de dois salários mínimos, entretanto, 
destes, 32,1% recebem menos de um salário mínimo e 21,4% ganham até dois salários 
mínimos (Tabela 1).
Verificou-se que 21,4% eram desempregados, 46,4% assalariados � mas nenhum 
com carteira assinada; destes, 78,6% eram lavradores e 21,4% faxineiras �, 3,6% pensionistas, 
17,9% aposentados e 10,7% conseguiram benefício pelo diagnóstico da doença (Tabela 1). 
Sobre o tipo de residência, 14,3% responderam que moram em residência de 
taipa, 21,4% em casa de adobe, 35,6% em casa de bloco e 28,6% em casa de tijolo. A análise 
dos questionários permitiu mostrar que 85,7% dos portadores possuem informação sobre o 
barbeiro transmissor da doença e 78,6% têm familiares com doença de Chagas, sendo 13,6% 
avôs, 50,0% irmãos, 13,6% pais, 13,6% mães e 9,1% tias. 
Questionados sobre os hábitos de vida, detectou-se que 28,6% dos pacientes 
são tabagistas (Gráfico 1) e 36% são etilistas (Gráfico 2); todos os que mencionaram consumir 
bebida alcoólica (100%) referiram ser etilistas sociais.
Gráfico 1 � Porcentagem de pacientes fumantes atendidos no ambulatório de 
infectologia do HCMaia � Salvador � jan.�jun. 2012
Fonte: Elaboração própria.
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Gráfico 2 � Porcentagem de pacientes etilistas atendidos no ambulatório de 
infectologia do HCMaia � Salvador � jan.-jun 2012
Fonte: Elaboração própria.
Quanto ao grau cultural, perguntados sobre a existência de meios de 
comunicação em suas casas, 67,9% disseram que possuíam rádio, 78,6% televisão e 3,6% 
computador e internet.
Sobre as questões que pesquisavam a situação econômica, os pacientes 
(100,0%) revelaram possuir ao menos um eletrodoméstico em casa, 67,9% possuíam entre um 
e cinco, e 14,3% responderam que têm mais de cinco. Dentre esses eletrodomésticos, 78,6% 
disseram que tinham geladeira, 78,6% fogão e 14,3% máquina de lavar. Nenhum pesquisado 
tem freezer em casa.
No tocante à condição de moradia, detectou-se que 82,1% têm luz elétrica em 
casa, 64,3% têm água encanada, 42,9% possuem rede de esgoto, 14,3% têm telefone fixo e 
53,6% têm telefone móvel.
DISCUSSÃO
A DCH ainda constitui um problema de saúde pública, mesmo que existam 
dados apontando para uma queda da sua prevalência na América Latina.2,4 Este trabalho 
relatou o perfil biossocial de pacientes com doença de Chagas provenientes da cidade de 
Itaberaba, interior da Bahia, atendidos no Hospital Couto Maia, localizado em Salvador. Os 
resultados referentes ao sexo e idade dos pacientes atendidos no ambulatório de infectologia 
do HCM estão de acordo com os achados de outros autores que encontraram prevalência 
do sexo masculino.13-15 Isto pode ser explicado pelo fato de pessoas deste sexo serem mais 
expostas ao ambiente que propicia a transmissão de DCH.
140
Estudos16,17 informam que o conhecimento da idade dos pacientes é importante, 
visto que os mais jovens apresentam maior gravidade e letalidade nos casos agudos da 
doença. Contudo, a idade média dos integrantes do presente estudo foi de 56 anos, mas 
foram abordados indivíduos na fase crônica, diferente dos trabalhos citados. É importante 
destacar que uma população com idade mais avançada acaba elevando o custo do 
tratamento, pois tende a apresentar maiores complicações, necessita de mais exames para 
rastrear possíveis alterações e é mais oneroso para o governo. No entanto, se houvesse uma 
intervenção preventiva, como um tratamento etiológico, os possíveis agravos à saúde em 
decorrência da doença poderiam ser evitados.18 
Em relação à história familiar para doença de Chagas, foi encontrado um total 
de 78,6%. Estudo envolvendo pacientes com DCH na cidade de Maringá, Paraná,19 encontrou 
um total de 68,9% de pacientes portadores da doença que tiveram história positiva em 
membros familiares para esta patologia. 
No trabalho realizado, a maior prevalência foi de negros, havendo concordância 
com outro estudo, no qual verificou-se predomínio de 60% para mulatos e negros.14 Estudo 
envolvendo candidatos doadores de sangue, no entanto, encontrou maior predomínio da 
etnia branca (84%).20 Essa diferença entre os resultados pode ser entendida pela existência das 
variações étnicas apresentadas no Brasil.
Já não se tratavade uma novidade, mas, em 1997, alertou-se para o fato de 
que a ocorrência da doença de Chagas é significativamente maior em população pobre que 
reside em casa de má qualidade.21 Dez anos depois, em 2007, mais um alerta recaiu sobre os 
riscos de doenças enzoóticas quando existe a união entre o baixo poder aquisitivo, a precária 
condição de moradia e a escassez de política pública para melhoria da higienização.22 
Com isso, foi possível encontrar outros dados que condizem com essa situação, 
como, por exemplo, um estudo realizado na cidade Mossoró, Rio Grande do Norte, no qual 
66,7% dos pacientes referiram morar em residência de taipa na zona rural, contra 33,3% que 
moravam em residência de alvenaria.23 Além disso, 58,4% dos entrevistados com a patologia 
em questão eram analfabetos, 83,3% recebiam menos que dois salários mínimos e 33,3% 
disseram que a renda era obtida exclusivamente da agricultura familiar, o que apresenta 
semelhança com este trabalho. 
Outro achado, proveniente de Montes Claros (MG), apontou um valor menor 
de indivíduos portadores de doença de Chagas que eram analfabetos (27,9%).16 No presente 
estudo, o resultado foi 42,9%, então, essa diferença pode ser explicada pelo fato de Minas 
Gerais colocar-se como um estado mais desenvolvido em relação à Bahia e o Rio Grande 
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do Norte, o que significa uma distinta relação socioeconômica entre eles. Pôde-se verificar 
também que 85% dos pacientes do estudo realizado em Minhas Gerais eram provenientes da 
zona rural e que a agricultura foi destacada como a principal fonte de renda mensal.16
CONCLUSÃO
O perfil biossocial dos indivíduos portadores de doença de Chagas identificado 
neste estudo foi constituído de um número maior de pessoas do sexo masculino, com idade 
média de 56 anos e desvio padrão de 11,5. A etnia que se destacou em prevalência foi a 
negra e pôde-se observar um elevado índice de analfabetismo. 
A maioria dos entrevistados revelou receber menos de dois salários mínimos, 
sendo a agricultura a principal fonte de renda, contudo nenhum paciente referiu ter carteira 
assinada. Encontrou-se ainda a falta de assistência sanitária, educação, moradia e saúde para a 
população estudada, no entanto, o mais importante é lembrar que esses quesitos estão incluídos 
como dever do estado e direito de todos os cidadãos conforme a constituição federal brasileira.
Concluiu-se que a pesquisa pôde reforçar a sustentação dos dados da literatura a 
respeito do perfil biossocial dos portadores da doença de Chagas.
AGRADECIMENTOS 
À Diretora Geral do Hospital Couto Maia, Dra. Ceuci de Lima Xavier Nunes 
e à Diretora Médica, Dra. Ana Verônica Mascarenhas Batista. À equipe de Enfermagem 
do Ambulatório de Infectologia do Couto Maia. Ao Sr. Manoel Correia, responsável pelo 
encaminhamento dos pacientes procedentes de Itaberaba, Bahia. À assistente social do HCM 
Fabiana e a Dona Vera.
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