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2 Curso de Gestão Empresarial Matemática Financeira Juros Simples Moeda: Florins holandeses da GEOCTROYEERDE WEST-INDISCHE COMPAGNIE (Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais) 2 Consideradas as primeiras moedas brasileiras (contêm a palavra Brasil no reverso e foram cunhadas no Brasil), datadas de 1645 e 1646 Fonte: Imagens: Coleção Eduardo Rezende - http://www.moedasdobrasil.com.br Juros simples Unidade de Aprendizagem 02 Objetivos da unidade de aprendizagem Compreender o conceito de juro, apresentar fórmulas e aplicações de juros simples. Competência Identificar e resolver transações financeiras que adotam a modalidade de juros simples. Habilidades Solucionar problemas financeiros do cotidiano de empresas ou de pessoas físicas que envolvam o regime de juros simples. UA2 – Juros Simples 3 Apresentação Juro é a remuneração ou “aluguel” de um capital. Tem-se conhecimento de cobrança do juro desde os sumérios antigos. Tábulas encontradas em terras babilônicas comprovam alto conhecimento dos sumérios com matemática contábil, há registros de notas promissórias, cartas de crédito, recibos, juros simples e compostos. Para começar Juro parece algo assustador. Nem sempre! Quando o juro se refere a empréstimo, realmente não é muito amigável para o tomador; referindo-se a um investimento, o juro é muito bem-vindo, quanto maior, melhor para o investidor. “Os romanos usavam duas denominações para o juro: foenos quando se referiam ao credor e usura quando se referiam ao devedor. Até o fim da Idade Média a palavra usura significava juro. Sua acepção atual é de juros a taxas ilegais ou exorbitantes”. (Almeida, 2016) Mas porque existem juros em tantas situações empresariais e do cotidiano? UA2 – Juros Simples 4 Razões dos juros: • RISCO – existe a possibilidade, maior ou menor, de o devedor do capital não devolver a quantia emprestada. • DESVALORIZAÇÃO – o tempo altera o poder de compra de um capital. • DESPESAS – há despesas documentais intrínsecas a um empréstimo. • LUCRO – é o custo de oportunidade, pois o credor perde oportunidade de investir seu capital em outra transação ou em alguma aquisição. • NÃO CUMPRIMENTO DO ACORDADO EM CONTRATO – são os juros de mora inseridos em todo contrato a longo prazo. Devemos ainda nos familiarizar com os conceitos que serão estudados em nossa disciplina: Capital – é qualquer valor em espécie disponível para empréstimo em determinada época. Também é denominado principal ou capital inicial. Montante – é o capital adicionado do juro. Taxa de juros – é a razão entre os juros recebidos ao final de certo período e o capital inicialmente empregado. A taxa de juros é sempre apresentada em porcentagem, ou seja, relacionada a um capital de 100. Exemplo sempre ajuda: UA2 – Juros Simples 5 Um empréstimo de R$ 200,00 a ser resgatado ao final de um ano a R$ 280,00. Calculando a taxa de juros empregada, temos: Capital inicial: 200,00 Juros: 280,00 – 200,00 = 80,00 Taxa de juros: 4,0 00,200 00,80 ou 40% a.a. Mas, atenção, a taxa de juros deve estar sempre relacionada a um período determinado. Não é correto mencionar 12% de juros, muito comum na imprensa e noticiários, pois não se especifica a que período se refere esta porcentagem. Para identificar os períodos, usamos: ➢ diário (ao dia) ― x% a.d. (ao dia) com a taxa id ➢ mensal ― x% a.m. com a taxa im ➢ trimestral ― x% a.tr. com a taxa itr ➢ anual ― x% a.a. com a taxa ia Em bancos e financeiras as taxas empregadas para remunerar capitais captados de investidores são muito menores que as taxas referentes aos empréstimos ou financiamentos cedidos a clientes. Juros simples UA2 – Juros Simples 6 Juros simples incidem apenas sobre o capital inicial a cada período. Assim, juros simples dependem do capital, da taxa de juros e do tempo. J = C.i.t Mas com o advento das calculadoras financeiras e a nomenclatura atualmente aceita, podemos designar a mesma fórmula por: J = PV.i.n onde PV é o “valor presente” e n é o prazo. O montante ou “valor futuro” é o capital mais o juro, portanto: M = C + J M = C + C.i.t M = C (1 + i.t) ou: FV = PV (1 + i.n) Não é adequado utilizar linguajar inadequado em contextos matemáticos, mas uma forma não ortodoxa de memorizar a fórmula para sempre é: “João comeu isto tudo” (JCit). Acredite, funciona, principalmente se você conhecer algum João comilão. Capitalização simples UA2 – Juros Simples 7 Conforme Samanez (2010) “Chamamos de capitalização o momento em que os juros são incorporados ao principal. No regime de juros simples não há capitalização, pois apenas o capital inicial rende juros.” Porém, esta assertiva não está conforme significado descrito em dicionários de língua portuguesa e não podemos concordar com ela. Capitalizar significa adicionar ao capital, acumular ao capital. Portanto, o juro simples é sim adicionado ao capital, apenas não incidirão novos juros sobre ele. Capitalização simples é a transação em que se consideram juros simples e a taxa varia linearmente em função do tempo, isto é: • a taxa mensal é calculada pelo produto da taxa diária por 30 (dias de um mês comercial) im = id . 30 • a taxa anual é o produto da taxa mensal por 12 ia = im . 12 Atenção: Há duas maneiras de interpretar os prazos dos juros. Se considerarmos juros bancários, contam-se 360 dias para o ano (ano comercial) e 30 dias para o mês. Para certas aplicações como no Método Hamburguês o prazo deve ser exato, 365 ou 366 dias para o ano e 28, 29, 30 ou 31 dias para o mês. Neste caso calculamos juros exatos. Também merecem atenção prazos que diferenciam dias corridos de dias úteis. UA2 – Juros Simples 8 A partir da fórmula do montante ou valor futuro é possível calcular qualquer um dos parâmetros envolvidos. i.C CM t t.C CM i t.i1 M C Atenção: No sistema de juros simples, os juros são sempre iguais, em qualquer período. Aprendendo por uma aplicação: Imaginemos que, no início de junho, emprestei a meu amigo Valdir R$ 35.000,00, valor este que será pago quando Valdir puder (afinal, somos amigos). A taxa combinada foi de 1% a.m., então nossa “ação entre amigos” pode ser visualizada na tabela a seguir: período (mês) dívida juros dívida atualizada(final do mês) início do mês = constantes = + junho 35.000,00 350,00 35.350,00 julho 35.350,00 350,00 35.700,00 agosto 35.700,00 350,00 36.050,00 setembro 36.050,00 350,00 36.400,00 Valdir prevê que poderá quitar sua dívida no início de janeiro, quando deverá dispor de R$ 37.450,00, pois: UA2 – Juros Simples 9 M = 35.000,00 (1 + 0,01 . 7) = 37.450,00 conte os meses com cuidado! A utilização de juros simples no Brasil restringe-se a operações de curto prazo, até mesmo diário, a descontos antecipados de títulos, negociações entre pessoas físicas e o popular e famigerado “cheque especial”. Método Hamburguês O método hamburguês calcula os juros devidos em certo período de utilização do “cheque especial”, uma modalidade de empréstimo. São cobrados juros simples, porém, diários. Vamos simular uma movimentação de conta corrente do cliente de um banco, através do extrato abaixo. A taxa considerada será de 13,02% a.m. (infelizmente bastante real) e o mês agosto de 2017. (cuidado, agosto tem 31 dias) Data Histórico Valor (c/d) Saldo (c/d) número de dias nº de dias X saldo devedor 01/08 20,00 + 2 --- 03/08 cheque 450,00 -430,00 - 4 1.720,00 07/08 rec. salário 1.100,00 + 670,00 + 1 --- UA2 – Juros Simples 10 08/08 pgto. energia 330,00 - 340,00 + 5 --- 13/08 pgto. telefone 360,00 - 20,00 - 2 40,00 15/08 mercado 430,00 - 450,00 - 3 1.350,00 18/08 restaurante 280,00 - 730,00 - 2 1.460,00 20/08 adicional salário 830,00 + 100,00 + 3 --- 23/08 cheque 210,00 - 110,00 - 2 220,00 25/08 retirada c eletr. 60,00 - 170,00 - 3 510,00 28/08 depósito 100,00 + 70,00 - 4 280,00 5.580,00 O juro total do mês será o produto da taxa diária pela soma dos valores dos períodos em que a conta ficou negativa. Calculando o juro diário: 0042,0 31 1302,0 id ou seja, “apenas” 0,42% a.d. J = 5.580 . 0,0042 = 23,44 Significa que o cliente pagará R$ 23,44 para o mês de agosto. Não parece muito, mas verifique que os valores são bastante modestos e, ainda, em setembro o cliente já conta com saldo negativo. Antena parabólica UA2 – Juros Simples 11 Vamos conversar um pouco sobre calculadoras e planilhas de cálculo. Você não necessita ter uma calculadora financeira de último tipo para se tornar um bom profissional da área financeira. Obviamente ninguém espera que você calcule a raiz quinta de 1,00042 apenas com conhecimentos algébricos ou, em linguajar antigo, “à mão”. Em problemas de juros simples não há necessidade de uma calculadora financeira, basta uma simples calculadora científica, atualmente bastante acessíveis. Sinceramente, uma calculadora financeira torna-se essencial em cálculos mais avançados como a Taxa Interna de Retorno (TIR), mas que obviamente pode ser calculada, com certo labor, apenas com conhecimentos matemáticos de interpolação ou derivadas. Para apresentação e cálculos em tabelas, como as apresentadas no estudo do Método Hamburguês, o Excel é de extrema valia e rapidez, desde que você domine a programação do preenchimento automático das células. Mas, lembre-se. nunca, nunca mesmo, espere que uma máquina faça o trabalho mental por você. Uma máquina não pode e não deve superar seu cérebro, ela apenas poderá agilizar trabalho braçal e repetitivo. Você é o ser pensante, você domina a ciência! E agora, José? UA2 – Juros Simples 12 A necessidade de contar com cheque especial para as finanças de pessoas físicas ou pequenas empresas não é nada saudável. Assim, vamos apurar a dedicação a seu Curso de Gestão Empresarial e, como profissional bem-sucedido, o cálculo de juros de cheque especial será apenas um bom conhecimento, sem qualquer aplicação pessoal. Portanto, hora de carinho especial ao momento da verdade UA2. BIBLIOGRAFIA DE APOIO VIEIRA SOBRINHO, JOSÉ DUTRA. Matemática Financeira. 7 ed. São Paulo: Atlas Editora, 2000. UA2 – Juros Simples 13 ALMEIDA, JARBAS THAUNAHY SANTOS DE. Matemática Financeira. 1 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. SAMANEZ, CARLOS PATRÍCIO. Matemática Financeira: Aplicações à Análise de Investimentos. 5 ed. São Paulo, Pearson Prentice Hall, 2010. CRESPO, A. A. Matemática Comercial e Financeira fácil. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. VANNUCCI, LUIZ ROBERTO. Cálculos Financeiros aplicados e avaliação econômica de projetos de investimento. 1 ed. São Paulo: Textonovo, 2003. TEIXEIRA, JAMES; DI PIERRO NETTO, SCIPIONE. Matemática financeira. 1 ed. São Paulo; Makron Books, 1998.