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COMPLIANCE Estudo Transversal VI COMPLIANCE Autora: Msc. Dra. Vera Lucia Hoffmann Pieritz 1ª Edição Centro Universitário Leonardo da vinCi - UniasseLvi UNIASSELVI Indaial - 2020 P618e Pieritz, Vera Lucia Hoffmann Estudo transversal VI - Compliance. / Vera Lucia Hoffmann Pieritz. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 56 p.; il. ISBN 978-65-5663-088-5 1. Compliance. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 342.22 3 Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Estudos transvErsaIs Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO 1. INTRODUÇÃO Compliance é um termo que tem tido grande repercussão nos últimos anos, principalmente pelos fatos que têm ocorrido nos meios políticos e com as suas relações com as empresas. O termo Compliance possui a sua origem do inglês do verbo to comply, que conforme o Dicionário Collins define, é agir con- forme ou de acordo com uma regra definida, uma norma interna, um comando ou uma instrução passada. Quando interpretamos o significado do verbo para as terminologias jurídi- cas verificamos que surgem homônimos de referência como “cumprir”, “satisfa- zer”, “executar”, “realizar o que lhe foi imposto” sempre considerando que a sua ação ocorrerá com integridade, conforme apresentado por Ribeiro e Diniz (2015). Os princípios e ideias-bases do compliance surgem com a evolução da sociedade moderna e a industrialização, e esses princípios foram amadure- cendo conforme surgiam casos/escândalos que chocavam a comunidade, ou ainda por questões políticas relacionadas a controles necessários para o bem- -estar da população. 4 Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Estudos transvErsaIs Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Conforme destacado por Ribeiro e Diniz (2015, p. 87), compliance tem como o âmbito o foco empresa- rial e é uma expressão que se volta para as “ferramen- tas de concretização da missão, da visão e dos va- lores de uma empresa”. As autoras ainda complemen- tam que “Não se pode con- fundir o Compliance com o mero cumprimento de regras formais e informais, sendo o seu alcance bem mais amplo”. 5 Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Estudos transvErsaIs Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Conforme a ABBI – FEBRABAN (2019), um dos primeiros documentos que ini- ciou a ideia de programas de Compliance teve sua origem nos Estados Unidos, no ano de 1913, quando fora criado o Federal Reserve System (Banco Central dos EUA), o qual teve como foco principal desenvolver um sistema financeiro mais estável, se- guro e adequado às leis americanas, evitando assim fraudes no sistema bancário. Na verdade, podemos ver bases do modelo de compliance já na virada do sé- culo XX, com o surgimento das agências reguladoras nos Estados Unidos que come- çaram a surgir e no ano de 1906, com a promulgação do Food and Drug Act e a criação do FDA, o governo norte-americano criou um modelo de fiscalização centralizado para regular as atividades relacionadas à saúde alimentar e à comercialização de me- dicamentos, iniciando assim as atividades de base para consolidar o conceito atual de compliance. 6 Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Estudos transvErsaIs Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO REFERÊNCIA DE LEITURA COMPLEMENTAR Para quem deseja conhecer mais sobre a história do Compliance, sugerimos a leitura do artigo: Documento Consultivo Função de Compliance, o qual está disponível em: ABBI – FEBRABAN. Documento Consultivo: Função de Com- pliance. Disponível em: http://www.abbi.com.br/download/funcaodecom- pliance_09.pdf. Acesso em: 12 dez. 2019. Muito se tem evoluído em termos mundiais e também no Brasil em rela- ção ao Compliance, principalmente em termos jurídicos, em que a evolução foi enorme com a promulgação da Lei nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção Empre- sarial), a qual “dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de pes- soas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangei ra, e dá outras providências” (BRASIL, 2013). Vamos conhecer um pou- co mais sobre compliance, sobre a legislação, referências de mercado e a sua aplicação no dia a dia, além de referências jurídicas para sua utilização futura. 7 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE 2. COMPLIANCE NO BRASIL Com a promulgação no congresso Brasileiro da Lei nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção Em- presarial – também conhecida como LAC), o termo Compliance vem sen- do mais utilizado por nós, brasilei- ros, e somente mais recentemente devido aos problemas de escândalos em nível político, que gerou como consequência uma nova visão jurídi- ca tanto em nível empresarial como político, gerando uma conscientiza- ção para uma nova realidade jurídica nacional de repressão à corrupção. 8 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Apesar dessa nova empreitada empresarial e jurídica, vimos o Compliance amadurecendo no país de forma consistente há alguns anos, com as agências reguladoras, Banco Central e leis criadas para regular questões nos mais variados âmbitos e que trabalham para proteger a população, as empresas e os integrantes dos governos sobre a égide da ética e boa governança das ações como um todo. A Lei nº 12.846, de 2013 (Lei Anticorrupção), dispõe sobre o tema da corrup- ção e da aplicação de sanções administrativas e judiciais em relação às entidades jurídicas (empresariais), além de tratar de formas de gerar concessão de benefício às empresas que possuem um setor de compliance estruturada e funcionando. Conforme Martinez (2016, s.p.), os principais momentos no Brasil em rela- ção ao compliance são dados por: No Brasil, desde 09/1998, com a publicação da Resolução nº 2.554 do Banco Central do Brasil (Bacen), incorporaram-se aqui as regras trazidas da Europa (Comitê da Basiléia para Supervisão Bancária, 1975), e dos Estados Unidos da América (SEC – Securities and Exchange Commission, 1934), onde já existia a filosofia compliance. Pouco antes, em 1997 o Comitê da Basiléia, do qual o Brasil participa, havia lançado princípios para uma “supervisão bancária eficaz” (Core Principles for Effective Banking Supervision), os quais deveriam ser aplicados por todos os integrantes daquele órgão de cooperação e supervisão bancária internacional. E em 03/1998 fora publicada no Brasil a Lei nº 9.613/98, conhecida como a Lei de Combate aos Crimes de “Lavagem” de Dinheiro. 9 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Além da sua importância penal, a nova lei cuidou de criar entre nóso Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) – órgão da administração pública federal, no âmbito do Ministério da Fazenda, com a finalidade de disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas. Na Lei nº 9.613/98 e nos princípios do Comitê da Basiléia podemos encontrar, portanto, a gênese da Resolução nº 2.554/98, que obrigou os bancos brasileiros a criar estruturas e mecanismos efetivos de controles internos e de riscos. Num primeiro momento (anos 1999/2000), as instituições financeiras foram obrigadas a criar em seus organogramas áreas específicas de compliance, capa- citando os responsáveis por referidas áreas. Foram elaborados então códigos de ética, cartilhas de conduta no atendimento aos clientes, treinamentos em agências, análise matricial de riscos operacionais e de mercado, entre outras tarefas. Sem falar na inauguração de uma nova era cultural sempre voltada para a ética e para a completa atenção à conformidade de todos os atos e contratos às leis e demais normas aplicáveis ao ramo de atividade financeira. Também outras empresas, fora do segmento financeiro, foram paulatinamente incorporando em suas estruturas pessoas responsáveis pelo compliance, mes- mo antes da Lei nº 12.846/13. O que não havia antes de 2014 em relação ao compliance, e isto sim vem com razão despertando o interesse do empresariado brasileiro, são os benefícios que podem ser obtidos com a implementação daquela cultura ética e de con- troles internos (pois as sanções poderão ser menores se a empresa estiver cum- prindo aquele novo paradigma de comportamento). Está prevista na Lei Anticorrupção uma espécie de análise da conduta social e da “personalidade” da empresa, método que o legislador de 2013 optou em quase simetria ao sistema de aplicação de sanções do art. 59 do Código Penal. 10 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES A ética e eliminação da corrupção sempre foram bandeiras trabalhadas politicamente no Brasil, e vemos com o advento da Lei 12.846/13 uma nova realidade sendo vivenciada pelas organizações empresariais. O conceito de compliance apresentado por Martinez (2016) demonstra que é algo mais extenso que só trabalhar a corrupção no ambiente empresarial, e envolve um “conjunto de mecanismos e procedimentos voltados à proteção da integridade e da ética da empresa, com o incentivo institucional à denúncia de irregularidades para apuração e punição”. Para ABBI – Febraban (2019, p. 8), compliance é o “dever de cumprir, de estar em conformidade e fazer cumprir regulamentos internos e externos im- postos às atividades da Instituição”, e assim o autor ainda descreve que: O que é estar em Compliance: - Estar em compliance é estar em conformidade com leis e regulamentos inter- nos e externos; - Estar em Compliance é, acima de tudo, uma obrigação individual de cada cola- borador dentro da Instituição (ABBI – FEBRABAN, 2019, p. 8). 11 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Como você pode ver, uma organização está sujeita às diver- sas leis e procedimentos internos que visa desenvolver trabalhos éticos com o mercado, mas ainda assim temos a variável humana através de seus colaboradores e gestores que pode gerar proble- mas à empresa. Para controlar e gerir todas essas questões legais e desenvol- ver a política de compliance nas organizações, elas têm desen- volvido o conceito de Governan- ça Corporativa e a sua eficiência deve se basear: 12 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE [...] numa análise criteriosa da adequação dos processos, da cultura e da disci- plina organizacional, recursos humanos e tecnologia, e na aplicação de contro- les rigorosos, preventivos e detectivos no gerenciamento dos Riscos. Deve pau- tar-se, ainda, em uma atuação conjunta com os gestores na avaliação, gestão e monitoração dos mecanismos de medição de informações de desempenho (ABBI – FEBRABAN, 2019, p. 8). Um compliance bem trabalhado em uma organização está sob o controle de uma Governança Corporativa bem organizada dentro da estrutura da em- presa. Esta ação estruturada pode gerar benefícios a quem os implanta, através de uma cultura de ética e de controles internos para a organização, conforme os ditames apresentados na lei. REGRAS PADRÕES POLÍTICAS REQUERIMENTOS REGULAMENTOS TRANSPARÊNCIA LEI 13 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Conforme Perez e Brizoti (2016), ABBI – Febraban (2019), Ribeiro e Diniz (2015), ao desenvolver uma política de compliance, a organização trabalha o dever de respeitar, de estar em conformidade (conforme terminologia utilizada na ISO 9000 e em meios jurídicos) para fazer cumprir por todos os seus funcio- nários e colaboradores tanto os regulamentos internos da organização, como os externos, leis e diretrizes de mercado que podem ser uma regulação – fiscal-fi- nanceiro-contábil, sempre com transparência e ética, conforme são os precei- tos determinantes às atividades em que a organização empresarial desenvolve os seus trabalhos. Na prática, conforme Perez e Brizoti (2016, p. 8) descrevem, compliance trabalha e especifica a execução de um: [...] conjunto de processos e atividades de controle, fundamentados em diretri- zes (guidelines), que ao longo do tempo (mais de 20 anos) tem evoluído, para atender às necessidades da “Governança Corporativa” no cumprimento de suas missões, bem como no atendimento às melhores práticas de mercado, as deter- minações de regulação e principalmente dos requerimentos legais, no cumpri- mento das Leis e Regulamentos nacionais e internacionais. Para encerrarmos este tópico, a Febraban (2019), Perez e Brizoti (2016), dentre outros autores, descrevem o que é “ser” e “estar” em consonância com o compliance pelas organizações e para os seus colaboradores e lemos: 14 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE E o que significa “ser e es- tar” em compliance? Ser compliance “Ser compliance” é conhe- cer as normas da organiza- ção, seguir os procedimen- tos recomendados, agir em conformidade e sentir quanto é fundamental a ética e a idoneidade em todas as nossas atitudes. Estar em compliance “Estar em compliance” é estar em conformidade com leis e regulamentos internos e externos. “Ser e estar compliance” é, acima de tudo, uma obrigação individual de cada colaborador dentro da instituição (FEBRABAN, 2019, p. 11). Logo vimos que compliance não é só uma teoria ou uma Lei a ser seguida, é uma cultura a ser colocada em prática pelas organizações empresariais. 15 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. ALEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO Já citamos a Lei 12.846/13 como sendo um marco para as estratégias mo- dernas de compliance, mas como já lemos anteriormente, existem muitos ou- tras leis e normas que são baluartes e que devemos estar atentos nas organiza- ções empresariais, nos governos federais, estaduais e municipais, e que advo- gados e juristas que trabalham com o tema precisam conhecer. Conforme apresentado por Perez e Brizoti (2016, p. 11), quando falam do tema lei, regulamentos, entre outros, eles descrevem: Para atender às Normativas Técnicas Nacionais e Internacionais, encontramos um número muito grande de referências, que são demandas como requerimen- to de acordo com o tipo e área de atuação das empresas. Esses requerimen- tos normativos técnicos podem ocorrer por necessidade da empresa se tornar aderente às melhores práticas alinhadas à concorrência, por requerimento dos parceiros de negócio, de financiadores e até por própria iniciativa interna da organização. O importante para o Compliance é que se for adotado um padrão ou norma, que ela seja cumprida, portanto, elas devem fazer parte do processo de análise da conformidade, inclusive jurídica. Temos diversas referências que citam as principais leis, normas e regula- mentos, que um compliance deve se basear dependendo da área de ação da organização. Assim, as principais são apresentadas no Quadro 1. 16 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE QUADRO 1 – EXEMPLOS DE POLÍTICAS, NORMAS INTERNAS, LEIS PARA REFERÊNCIA AO COMPLIANCE Políticas e Normas internas – produzidas pela organização: • Códigos de Conduta; • Política de Segurança Corporativa; • Normas Internas; • Normas ISO; • Termos de Responsabilidade; • Termos de Confidencialidade; • Termos de Aceitação e Uso; • Políticas de Responsabilidade Social e Ambiental etc. • Legislação Nacional e Regulamentar – Leis, Decretos, Portarias, Resoluções, Instruções Normativas, Pareceres: • Lei Anticorrupção Brasileira (12.846/2013); • Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011); • Lei de Conflito de Interesses (Lei nº 12.813/2013); • Lei das Estatais (Lei nº 13.303/2016) • Lei das S.A. (6.404/1976); • Código de Processo Civil (13.105/2015); • Código Civil (10.406/2002); • Lei de Informática e Automação (8.248/1991); • Lei do Desenvolvimento e Inclusão Social (13.146/2015); • Leis e normas que regulamentam Condomínios residenciais e comerciais etc. 17 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Regulação de Mercado Nacional e Internacional: • Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC; • Instruções Normativas da CVM (Comissão de Valores Mobiliários); • Instruções Normativas da RFB (Receita Federal Brasileira); • Instruções Normativas Setoriais (ANS, ANSINE, IBAMA, INSS etc.); • Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária CONAR; • Práticas exigidas, baseadas na Lei Norte-Americana FCPA (Foreign Corrupt Practices Act) anticorrupção; • Diretrizes da OCDE sobre governança corporativa para empresas de controle estatal etc. Normativas Técnicas Nacionais e Internacionais – produzidas por Entidades e Institutos: • Normas Técnicas ABNT NBR – ISO/IEC e as internacionais; • Norma IFRS (International Financial Reporting Standards) para práticas de con- tabilidade em padrão internacional; • Norma COPC® (Metodologia para gestão de Call Center); • Padrão Normativo MPS-br (Modelo para qualidade definido como “Melhoria de Processos do Software Brasileiro” – baseado nas normas ISO/IEC 12207 e ISO/IEC 15504 e compatível com o CMMI); • Padrão PMBOOK (Project Management Body of Knowledge): guia baseado em um conjunto de práticas para a gestão de projetos, organizado pelo instituto PMI; • Padrão PCI DSS (Payment Card Industry Data Secutity Standart) é um amplo requerimento para quem opera cartões de crédito; 18 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE • Requisitos Normativos BM&FBOVESPA Supervisão de Mercados (BSM); • Padrão Normativo CERFLOR para manejo florestal (CERFLOR conta com acervo normativo, e utiliza normas internacionalmente aceitas como as Diretrizes para auditorias de sistema de gestão (ABNT NBR ISO 19011): • NBR 14789:2012 - Manejo Florestal - Princípios, Critérios e Indicadores para Plantações Florestais • NBR 14790:2014 - Manejo Florestal - Cadeia de Custódia (baseada na PEFC ST 2002:2013) • NBR 14792 - NBR 14793:2008 - NBR 15789:2013 - NBR 16789:2014 -NBR 15753:2009 - NBR 17790:2014 etc. FONTE: Adaptado de Perez e Brizoti (2016, p. 9-11) Como você pôde ver no quadro são muitos os marcos legais nos quais uma organização precisa se aprofundar para desenvolver o setor de Compliance, e esse quadro só traz uma amostra para o seu conhecimento ao iniciar a traba- lhar, se esse for o seu caso. 19 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE NOTA IMPORTANTE Queremos ressaltar novamen- te que cada organização em- presarial deve buscar ajuda jurídica especializada para en- tender e desenvolver um pro- grama de compliance ajustado ao seu segmento de negócio, e que cada segmento pode pos- suir leis, normas, regulamenta- ções específicas que são ade- quadas à organização seguir. Isso é muito importante para ficar claro aos gestores, advogados e profissionais da organização. 20 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL Devido a sua importância para o compliance, apresentaremos na sequên- cia uma visão jurídica interpretativa da lei nº 12.846/2013, para que você pos- sa entender a sua relação com o compliance moderno aplicado nas empresas, sendo que disporemos somente alguns pontos da respectiva Lei neste artigo. Para conhecimento de todos os artigos, recomendamos que consulte a lei em sua íntegra na página da internet: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2011-2014/2013/ lei/l12846.htm. Recomendamos ainda a leitura dos seguintes artigos relacionados ao tema: • HARTMANN, Stefan E. S. Comentários à Lei Anticorrupção – Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013: Breves reflexões acerca das consequências da entrada em vigor da nova legislação no âmbito do Direito Administrativo. Revista da Escola da Magistratura do TRF da 4ª Região, n. 4. Disponível em: http:// ajufe. org.br/images/bkp/ajufe/arquivos/downloads/artigo-06-ok-91631312. pdf. Acesso em: 29 nov. 2019. 21 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO EstudotransvErsal vI – ComplIanCE • MACHADO, Luiza V. M. Análise crítica da Lei nº 12.846/2013:lei anticorrup- ção. 2015. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/43786/analise-critica- -da-lei-n-12-846-2013-lei-anticorrupcao. Acesso em: 29 nov. 2019. • NETO, Edmilson M. A. Análise da Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/2013). Dis- ponível em: https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/51369/ analise-da-lei-anticorrupcao-lei-no-12-846-2013. Acesso em: 29 nov. 2019. • BITTENCOURT, Sidney. Comentários à Lei Anticorrupção – Lei 12.846/2013. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. DIREITO.COM. Artigo 24. 2015. Disponível em: https://www.direitocom.com/lei-anticorrupcao- comentada. Acesso em: 12 dez. 2019. A Lei nº 12.846/2013, também conhecida como a Lei Anticorrupção Em- presarial, ou simplesmente como LAC é simplesmente um marco para as trata- tivas das questões relacionadas à corrupção no Brasil e para o fortalecimento do Compliance no país, a qual diferentemente da Lei nº 9.613/98, conhecida como a Lei de Combate aos Crimes de “Lavagem” de Dinheiro que tratava sobre o tema corrupção, agora para melhorar a sua eficiência na aplicação traz em 22 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE voga a utilização da cooperação como facilitadora e a devida estrutura de in- centivos e em especial “dispõe sobre a responsabilização administrativa e ci- vil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira, e dá outras providências” (BRASIL, 2013, s.p.). Conforme descreve Ribeiro e Diniz (2015, p. 88), essa lei se mostra como “verdadeiro estímulo para a concreti- zação de conduta empresarial ética e do combate à corrupção”, bem como será uma referência para o crescimen- to e o desenvolvimento dos programas de Compliance, e os autores ressaltam ainda que deverá “exaltar o papel da confiança nos negócios, pressuposto básico, que deve ressurgir como carac- terística essencial em tais condutas”. 23 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Com a entrada em vigor da lei, tornou-se fundamental a todos aqueles que trabalham com compliance e com o Direito Administrativo, que conheçam as transformações levadas a efeito pela LAC e as consequências jurídicas que os 31 (trinta e um) artigos que compõem a Lei geraram no empresariado brasilei- ro, sobretudo na esfera do Direito Administrativo Sancionador. a) Disposições gerais CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 1º Esta lei dispõe sobre a responsabilização objetiva administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacio- nal ou estrangeira. Parágrafo único. Aplica-se o disposto nesta lei às sociedades empresárias e às sociedades simples, personificadas ou não, independentemente da forma de organização ou modelo societário adotado, bem como a quaisquer fundações, associações de entidades ou pessoas, ou sociedades estrangeiras, que tenham sede, filial ou representação no território brasileiro, constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente. Art. 2º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas objetivamente, nos âmbitos administrativo e civil, pelos atos lesivos previstos nesta lei praticados em seu interesse ou benefício, exclusivo ou não. O caput do art. 1º descreve o foco sobre o que se dispõe a Lei Anticorrup- ção, ou seja, descreve sobre a responsabilização objetiva administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacio- nal ou estrangeira. 24 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Conforme Hartmann (2019, p. 310), identifica-se que: a) a responsabilização, no âmbito da LAC, é objetiva, isto é, independe da presença de dolo ou culpa, nos moldes do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal; b) a LAC trata apenas de responsabilidade administrativa e civil, e não penal; c) a LAC tutela as administrações públicas nacional e estrangeira, ou seja, é possível a sua aplicação quando o sujeito passivo do ato lesivo for Estado es- trangeiro ou organização internacional. Conforme o art. 2º, temos uma reafirmação dos ditames apresentados na norma anterior, determinando que a responsabilidade objetiva, tanto em nível administrativo como civil pelos atos lesivos que estão descritos na LAC, bem como os respectivos atos, para fins de responsabilização mesmo que praticados no interesse ou no benefício da pessoa jurídica, é possível que o sujeito ativo do ato lesivo objeto desta lei seja responsabilizado pessoalmente, ainda que o tenha praticado por interesse ou no benefício de terceiros. Assim, uma pessoa jurídica será responsabilizada nos termos da lei, bastan- do a comprovação e a conduta lesiva independente da intenção final do executor. Art. 3º A responsabilização da pessoa jurídica não exclui a responsabilidade in- dividual de seus dirigentes ou administradores ou de qualquer pessoa natural, autora, coautora ou partícipe do ato ilícito. § 1º A pessoa jurídica será responsabilizada independentemente da responsa- bilização individual das pessoas naturais referidas no caput. 25 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE § 2º Os dirigentes ou administradores somente serão responsabilizados por atos ilícitos na medida da sua culpabilidade. Art. 4º Subsiste a responsabilidade da pessoa jurídica na hipótese de alteração contratual, transformação, incorporação, fusão ou cisão societária. § 1º Nas hipóteses de fusão e incorporação, a responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de pagamento de multa e reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido, não lhe sendo aplicáveis as de- mais sanções previstas nesta Lei decorrentes de atos e fatos ocorridos antes da data da fusão ou incorporação, exceto no caso de simulação ou evidente intuito de fraude, devidamente comprovados. § 2º As sociedades controladoras, controladas, coligadas ou, no âmbito do res- pectivo contrato, as consorciadas serão solidariamente responsáveis pela práti- ca dos atos previstos nesta Lei, restringindo-se tal responsabilidade à obrigação de pagamento de multa e reparação integral do dano causado. Conforme Machado (2015, p. 1), o artigo 3º da Lei Anticorrupção descreve que a “responsabilização da pessoa jurídica não exclui a responsabilidade indi- vidual de seus dirigentes, administradores ou de qualquer pessoa natural que tenha agido como autora, coautora ou participante do ato ilícito”. O artigo 4º da LAC descreve que a responsabilidade da pessoa jurídica na hipótese de ocorrer uma alteração contratual, incorporação, fusão ou cisão so- cietária ainda subsiste. Conforme Machado (2015, p. 1), a tal responsabilidade será restrita à obrigação de pagamento de “multa e reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido, não sendo aplicáveis as demais sanções decorrentes de atos e fatos ocorridos antes da data da fusão ou incor- 26 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCEE A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE poração, exceto no caso de simulação ou evidente intuito de fraude” desde que tais atos possam ser devidamente comprovados. b) Dos Atos lesivos CAPÍTULO II DOS ATOS LESIVOS À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NACIONAL OU ESTRANGEIRA Art. 5º Constituem atos lesivos à administração pública, nacional ou estran- geira, para os fins desta Lei, todos aqueles praticados pelas pessoas jurídicas mencionadas no parágrafo único do art. 1º, que atentem contra o patrimônio público nacional ou estrangeiro, contra princípios da administração pública ou contra os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, assim definidos: I - Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a agente público, ou a terceira pessoa a ele relacionada; II - Comprovadamente, financiar, custear, patrocinar ou de qualquer modo sub- vencionar a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei; III - comprovadamente, utilizar-se de interposta pessoa física ou jurídica para ocultar ou dissimular seus reais interesses ou a identidade dos beneficiários dos atos praticados; IV - no tocante a licitações e contratos: a) frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expe- diente, o caráter competitivo de procedimento licitatório público; b) impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento licitatório público; c) afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer tipo; 27 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE d) fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente; e) criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar de licitação pública ou celebrar contrato administrativo; f) obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento, de modifica- ções ou prorrogações de contratos celebrados com a administração pública, sem autorização em lei, no ato convocatório da licitação pública ou nos respec- tivos instrumentos contratuais; ou g) manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos cele- brados com a administração pública; V - Dificultar atividade de investigação ou fiscalização de órgãos, entidades ou agentes públicos, ou intervir em sua atuação, inclusive no âmbito das agências reguladoras e dos órgãos de fiscalização do sistema financeiro nacional. § 1º Considera-se administração pública estrangeira os órgãos e entidades es- tatais ou representações diplomáticas de país estrangeiro, de qualquer nível ou esfera de governo, bem como as pessoas jurídicas controladas, direta ou indire- tamente, pelo poder público de país estrangeiro. § 2º Para os efeitos desta Lei, equiparam-se à administração pública estrangeira as organizações públicas internacionais. § 3º Considera-se agente público estrangeiro, para os fins desta Lei, quem, ain- da que transitoriamente ou sem remuneração, exerça cargo, emprego ou fun- ção pública em órgãos, entidades estatais ou em representações diplomáticas de país estrangeiro, assim como em pessoas jurídicas controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público de país estrangeiro ou em organizações pú- blicas internacionais. O capítulo II da LAC possui apenas o art. 5º, o qual descreve atos lesivos à administração pública nacional ou estrangeira, principalmente descrevendo os atos que atentem lesando contra o patrimônio público nacional ou estrangeiro, contra os princípios da administração pública ou ainda atentem contra os trata- dos firmados pelo governo em níveis internacionais. 28 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Destacamos ainda que algumas condutas previstas na LAC também estão descritas em outras leis, como a 8.666/1993 e 8.429/1992, porém o seu foco de aplicação e objetivos são diferentes, já que a LAC busca tratar o tema na visão das pessoas jurídicas e não o indivíduo. Vale destacar, conforme Neto (2018, p. 1), que: O inciso I do artigo 5º tipifica a corrupção ativa, assim definido: “prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a agente público, ou a terceira pessoa a ele relacionada”. Trata-se de um tipo formal, cuja consumação independe do seu resultado, gerando a lesão ao bem jurídico com a simples conduta. Em seguida, o inciso II tipifica o financiamento de ato lesivo à Administração Pú- blica como sendo aquele que: “comprovadamente, financiar, custear, patrocinar ou de qualquer modo subvencionar a prática dos atos ilícitos”. No inciso III, o le- gislador lista condutas que visam se utilizar de pessoas interpostas para prática de atos lesivos, assim previsto: “comprovadamente, utilizar-se de interposta pessoa física ou jurídica para ocultar ou dissimular seus reais interesses ou a identidade dos beneficiários dos atos praticados”. Nestes dois incisos temos tipos materiais, os quais dependem de resultado naturalístico para sua consumação, que deverão ser devidamente comprovados no âmbito do processo administrativo. No inciso IV o legislador traz os atos lesivos relacionados com licitações e con- tratos, sendo condutas que demandam a comprovação da intenção do agente privado de violar o princípio da competitividade das licitações. Por fim, no inciso V o legislador tipifica as condutas que dificultam a investigação ou fiscalização da Administração Pública, sendo assim previsto: “dificultar ativi- dade de investigação ou fiscalização de órgãos, entidades ou agentes públicos, ou intervir em sua atuação, inclusive no âmbito das agências reguladoras e dos órgãos de fiscalização do sistema financeiro nacional”. 29 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Este capítulo serve de base para os programas de Compliance referentes às responsabilidades e condutas a serem desenvolvidas pelos gestores e funcio- nários das entidades jurídicas em atuação no território nacional. Importante ressaltar a contrapartida também das entidades estrangeiras atuantes no território nacional. c) Responsabilidade Administrativa CAPÍTULO III DA RESPONSABILIZAÇÃO ADMINISTRATIVA Art. 6º Na esfera administrativa, serão aplicadas às pessoas jurídicas conside- radas responsáveis pelos atos lesivos previstos nesta Lei as seguintes sanções: I - multa, no valor de 0,1% (um décimo por cento) a 20% (vinte por cento) do faturamento bruto do último exercício anterior ao da instauração do processo administrativo, excluídos os tributos, a qual nunca será inferior à vantagem au- ferida, quando for possível sua estimação; e II - publicação extraordinária da decisão condenatória. § 1º As sanções serão aplicadas fundamentadamente, isolada ou cumulativa- mente, de acordo com as peculiaridades do caso concreto e com a gravidade e natureza das infrações. § 2º A aplicação das sanções previstas neste artigo será precedida da manifes- tação jurídica elaborada pela Advocacia Pública ou pelo órgão de assistência jurídica, ou equivalente, do ente público. 30 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃOEMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE § 3º A aplicação das sanções previstas neste artigo não exclui, em qualquer hi- pótese, a obrigação da reparação integral do dano causado. § 4º Na hipótese do inciso I do caput, caso não seja possível utilizar o critério do valor do faturamento bruto da pessoa jurídica, a multa será de R$ 6.000,00 (seis mil reais) a R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de reais). § 5º A publicação extraordinária da decisão condenatória ocorrerá na forma de extrato de sentença, a expensas da pessoa jurídica, em meios de comunicação de grande circulação na área da prática da infração e de atuação da pessoa jurí- dica ou, na sua falta, em publicação de circulação nacional, bem como por meio de afixação de edital, pelo prazo mínimo de 30 (trinta) dias, no próprio estabe- lecimento ou no local de exercício da atividade, de modo visível ao público, e no sítio eletrônico na rede mundial de computadores. § 6º (VETADO). Art. 7º Serão levados em consideração na aplicação das sanções: I - a gravidade da infração; II - a vantagem auferida ou pretendida pelo infrator; III - a consumação ou não da infração; IV - o grau de lesão ou perigo de lesão; V - o efeito negativo produzido pela infração; VI - a situação econômica do infrator; VII - a cooperação da pessoa jurídica para a apuração das infrações; VIII - a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, au- ditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códi- gos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica; IX - o valor dos contratos mantidos pela pessoa jurídica com o órgão ou entida- de pública lesados; e X - (VETADO). Parágrafo único. Os parâmetros de avaliação de mecanismos e procedimentos previstos no inciso VIII do caput serão estabelecidos em regulamento do Poder Executivo federal. 31 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Este capítulo é constituído por dois artigos que desenvolvem o tema da responsabilidade administrativa das pessoas jurídicas considerando os atos le- sivos que foram descritos no dispositivo anterior, deixando claro ainda que a aplicação das penalidades tratadas são de competência da autoridade admi- nistrativa responsável, após tramitação do processo normalmente nos órgãos devidos desde que sejam garantidos todos ditames do processo legal e a ampla defesa dos acusados conforme o art. 5º da Constituição Federal. Conforme Hartmann (2019 p. 316), observa-se que são duas as sanções previstas na LAC: [...] sem prejuízo da obrigação de reparação integral do dano causado (art. 6º, §3º): multa, conforme parâmetros definidos no inciso I do art. 6º, e publicação extraordinária da decisão condenatória. A autoridade responsável, de forma fun- damentada (art. 50, caput, da Lei 9.784/1999 e art. 93, IX, da CF), poderá aplicar tais sanções cumulativamente ou de forma isolada, considerando as peculiarida- des do caso concreto, a gravidade e a natureza das infrações (art. 6º, § 1º). Temos que ressaltar ainda que se no capítulo anterior descreveu-se os atos lesivos, neste capítulo da lei temos o detalhamento das responsabilidades administrativas que reforçam a aplicação do Compliance pelas empresas que desenvolvem trabalhos principalmente com foco no governo ou órgãos asso- ciados a ele. 32 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE d) Responsabilização do processo administrativo CAPÍTULO IV DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DE RESPONSABILIZAÇÃO Art. 8º A instauração e o julgamento de processo administrativo para apuração da responsabilidade de pessoa jurídica cabem à autoridade máxima de cada órgão ou entidade dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, que agirá de ofício ou mediante provocação, observados o contraditório e a ampla defesa. § 1º A competência para a instauração e o julgamento do processo administra- tivo de apuração de responsabilidade da pessoa jurídica poderá ser delegada, vedada a subdelegação. § 2º No âmbito do Poder Executivo federal, a Controladoria-Geral da União - CGU terá competência concorrente para instaurar processos administrativos de responsabili- zação de pessoas jurídicas ou para avocar os processos instaurados com fundamento nesta Lei, para exame de sua regularidade ou para corrigir-lhes o andamento. Art. 9º Competem à Controladoria-Geral da União - CGU a apuração, o processo e o julgamento dos atos ilícitos previstos nesta Lei, praticados contra a administração pública estrangeira, observado o disposto no Artigo 4 da Convenção sobre o Com- bate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais, promulgada pelo Decreto nº 3.678, de 30 de novembro de 2000. Art. 10. O processo administrativo para apuração da responsabilidade de pes- soa jurídica será conduzido por comissão designada pela autoridade instaura- dora e composta por 2 (dois) ou mais servidores estáveis. § 1º O ente público, por meio do seu órgão de representação judicial, ou equi- valente, a pedido da comissão a que se refere o caput, poderá requerer as me- didas judiciais necessárias para a investigação e o processamento das infrações, inclusive de busca e apreensão. 33 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE § 2º A comissão poderá, cautelarmente, propor à autoridade instauradora que suspenda os efeitos do ato ou processo objeto da investigação. § 3º A comissão deverá concluir o processo no prazo de 180 (cento e oitenta) dias contados da data da publicação do ato que a instituir e, ao final, apresentar relatórios sobre os fatos apurados e eventual responsabilidade da pessoa jurí- dica, sugerindo de forma motivada as sanções a serem aplicadas. § 4º O prazo previsto no § 3º poderá ser prorrogado, mediante ato fundamen- tado da autoridade instauradora. Art. 11. No processo administrativo para apuração de responsabilidade, será concedido à pessoa jurídica prazo de 30 (trinta) dias para defesa, contados a partir da intimação. Art. 12. O processo administrativo, com o relatório da comissão, será remetido à autoridade instauradora, na forma do art. 10, para julgamento. Art. 13. A instauração de processo administrativo específico de reparação integral do dano não prejudica a aplicação imediata das sanções estabelecidas nesta Lei. Parágrafo único. Concluído o processo e não havendo pagamento, o crédito apurado será inscrito em dívida ativa da fazenda pública. Art. 14. A personalidade jurídica poderá ser desconsiderada sempre que uti- lizada com abuso do direito para facilitar, encobrir ou dissimular a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei ou para provocar confusão patrimonial, sendo estendidos todos os efeitos das sanções aplicadas à pessoa jurídica aos seus administradores e sócios com poderes de administração, observados o contra- ditório e a ampla defesa. Art. 15. A comissão designada para apuração da responsabilidade de pessoa jurídica, após a conclusão do procedimento administrativo, dará conhecimento ao Ministério Público de sua existência, para apuração de eventuais delitos. A aplicação das sanções apresentadas na Lei, seja precedida de manifesta- ção do órgão de assessoramento jurídico competente, como a Advocacia-Geral da União, Procuradoria do Estado ou a Procuradoria Municipal,dependendo do nível do caso, assim como toda a sanção de publicação extraordinária da 34 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE decisão condenatória tenha sido o mais abrangente possível para que todas as dúvidas e decisões sejam claramente dirimidas no processo. Conforme Neto (2018), a LAC traz a possibilidade de ocorrer a descon- sideração da personalidade jurídica no processo administrativo de modo que as sanções sejam aplicadas aos administradores e sócios-administradores da empresa. Isso ocorrerá na descrição de Neto (2018, p. 1) sempre que “utilizada com abuso do direito para facilitar, encobrir ou dissimular a prática dos atos ilí- citos previstos nesta Lei ou para provocar confusão patrimonial, conforme cons- ta no artigo 14 da Lei”. Os trâmites judiciais devem seguir os ritos jurídicos para que todas as dúvi- das sejam dirimidas e que os envolvidos tenham todos os direitos preservados conforme a legislação brasileira em vigor, conforme estabelecido neste capítulo. e) Acordo de Leniência CAPÍTULO V DO ACORDO DE LENIÊNCIA Art. 16. A autoridade máxima de cada órgão ou entidade pública poderá cele- brar acordo de leniência com as pessoas jurídicas responsáveis pela prática dos atos previstos nesta Lei que colaborem efetivamente com as investigações e o processo administrativo, sendo que dessa colaboração resulte: 35 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE I - a identificação dos demais envolvidos na infração, quando couber; e II - a obtenção célere de informações e documentos que comprovem o ilícito sob apuração. § 1º O acordo de que trata o caput somente poderá ser celebrado se preenchi- dos, cumulativamente, os seguintes requisitos: I - a pessoa jurídica seja a primeira a se manifestar sobre seu interesse em coo- perar para a apuração do ato ilícito; II - a pessoa jurídica cesse completamente seu envolvimento na infração inves- tigada a partir da data de propositura do acordo; III - a pessoa jurídica admita sua participação no ilícito e coopere plena e perma- nentemente com as investigações e o processo administrativo, comparecendo, sob suas expensas, sempre que solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento. §2º A celebração do acordo de leniência isentará a pessoa jurídica das sanções previstas no inciso II do art. 6º e no inciso IV do art. 19 e reduzirá em até 2/3 (dois terços) o valor da multa aplicável. § 3º O acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da obrigação de reparar integralmente o dano causado. § 4º O acordo de leniência estipulará as condições necessárias para assegurar a efetividade da colaboração e o resultado útil do processo. § 5º Os efeitos do acordo de leniência serão estendidos às pessoas jurídicas que integram o mesmo grupo econômico, de fato e de direito, desde que firmem o acordo em conjunto, respeitadas as condições nele estabelecidas. § 6º A proposta de acordo de leniência somente se tornará pública após a efeti- vação do respectivo acordo, salvo no interesse das investigações e do processo administrativo. § 7º Não importará em reconhecimento da prática do ato ilícito investigado a proposta de acordo de leniência rejeitada. § 8º Em caso de descumprimento do acordo de leniência, a pessoa jurídica fi- cará impedida de celebrar novo acordo pelo prazo de 3 (três) anos contados do conhecimento pela administração pública do referido descumprimento. § 9º A celebração do acordo de leniência interrompe o prazo prescricional dos atos ilícitos previstos nesta Lei. 36 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE § 10. A Controladoria-Geral da União - CGU é o órgão competente para celebrar os acordos de leniência no âmbito do Poder Executivo federal, bem como no caso de atos lesivos praticados contra a administração pública estrangeira. Art. 17. A administração pública poderá também celebrar acordo de leniência com a pessoa jurídica responsável pela prática de ilícitos previstos na Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, com vistas à isenção ou atenuação das sanções administrativas estabelecidas em seus arts. 86 a 88. Este Capítulo da LAC é um marco na legislação brasileira, pois traz e es- clarece o acordo de leniência na entidade jurídica e seus colaboradores que te- nham praticado ato lesivo validando e beneficiando aos delatores do processo, desde que a mesma seja útil para elucidar casos de corrupção no sistema com a autoridade máxima de cada órgão que se intentou a ação de descaminho con- forme descrito nesta lei. Os acordos de leniência, tanto em nível do Poder Executivo Federal, bem como contra a administração pública estrangeira são de competência exclusiva da Controladoria Geral da União, conforme o Decreto Federal nº 8.420. Conforme Machado (2015, p. 1), para a pessoa jurídica infratora fazer jus à celebração do acordo e benefícios de leniência, deve: 37 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE [...] colaborar efetivamente com as investigações e com o processo administrativo de responsabilização, sendo que desta colaboração deverá necessariamente resul- tar: (i) a identificação dos demais envolvidos na infração, se aplicável, e (ii) a obten- ção célere de informações e documentos que comprovem o ilícito sob apuração. Os principais pontos a serem preenchidos para celebração do acordo de le- niência de forma necessária e cumulativamente são apresentados no Quadro 2. QUADRO 2 – PONTOS FUNDAMENTAIS PARA CELEBRAÇÃO DO ACORDO DE LENIÊNCIA CONFORME LEI 12.846/2013 • Ser a primeira a manifestar interesse em cooperar para a apuração de ato lesivo específico, quando tal circunstância for relevante. • Ter cessado completamente seu envolvimento no ato lesivo a partir da data da propositura do acordo. • Admitir sua participação na infração administrativa. • Cooperar plena e permanentemente com as investigações e o processo administrativo e comparecer, sob suas expensas e sempre que solicitada, aos atos processuais, até o seu encerramento. • Fornecer informações, documentos e elementos que comprovem a infração administrativa. FONTE: Adaptado de Machado (2015) e Brasil (2013) 38 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Atualmente, temos visto esse instituto sendo bastante utilizado em pro- cessos administrativos no direito brasileiro, especialmente na seara criminal, onde vimos popularmente o acordo de leniência ser chamado de colaboração/ delação premiada. Esta lei e, principalmente pela criação do acordo de leniência, permitiu o esclarecimento e o aparecimento de diversos casos de corrupção que antes es- tavam às escondidas e nos porões das legislações que favoreciam os corruptos e corruptores. f) Responsabilização Judicial CAPÍTULO VI DA RESPONSABILIZAÇÃO JUDICIAL Art. 18. Na esfera administrativa, a responsabilidade da pessoajurídica não afasta a possibilidade de sua responsabilização na esfera judicial. Art. 19. Em razão da prática de atos previstos no art. 5º desta Lei, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por meio das respectivas Advocacias Públicas ou órgãos de representação judicial, ou equivalentes, e o Ministério Público, poderão ajuizar ação com vistas à aplicação das seguintes sanções às pessoas jurídicas infratoras: I - perdimento dos bens, direitos ou valores que representem vantagem ou pro- veito direta ou indiretamente obtidos da infração, ressalvado o direito do lesa- do ou de terceiro de boa-fé; 39 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE II - suspensão ou interdição parcial de suas atividades; III - dissolução compulsória da pessoa jurídica; IV - proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou em- préstimos de órgãos ou entidades públicas e de instituições financeiras públicas ou controladas pelo poder público, pelo prazo mínimo de 1 (um) e máximo de 5 (cinco) anos. § 1º A dissolução compulsória da pessoa jurídica será determinada quando comprovado: I - ter sido a personalidade jurídica utilizada de forma habitual para facilitar ou promover a prática de atos ilícitos; ou II - ter sido constituída para ocultar ou dissimular interesses ilícitos ou a identi- dade dos beneficiários dos atos praticados. § 2º (VETADO). § 3º As sanções poderão ser aplicadas de forma isolada ou cumulativa. § 4º O Ministério Público ou a Advocacia Pública ou órgão de representação judicial, ou equivalente, do ente público poderá requerer a indisponibilidade de bens, direitos ou valores necessários à garantia do pagamento da multa ou da reparação integral do dano causado, conforme previsto no art. 7º , ressalvado o direito do terceiro de boa-fé. Art. 20. Nas ações ajuizadas pelo Ministério Público, poderão ser aplicadas as sanções previstas no art. 6º, sem prejuízo daquelas previstas neste Capítulo, desde que constatada a omissão das autoridades competentes para promover a responsabilização administrativa. Art. 21. Nas ações de responsabilização judicial, será adotado o rito previsto na Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. Parágrafo único. A condenação torna certa a obrigação de reparar, integralmen- te, o dano causado pelo ilícito, cujo valor será apurado em posterior liquidação, se não constar expressamente da sentença. 40 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Neste capítulo da Lei Anticorrupção apresenta-se a responsabilização ju- dicial da pessoa jurídica infratora, definindo-se as regras destinadas ao even- tual procedimento para abertura do processo judicial que poderá ser aberto em decorrência da prática dos atos lesivos ocasionados pela pessoa jurídica e previstos na LAC. Hartmann (2019, p. 323) descreve que: Nesse diapasão, inicia-se a LAC, no art. 18, afirmando que a possibilidade de responsabilização judicial da pessoa jurídica infratora não resta afastada pela configuração de sua responsabilidade na esfera administrativa. Na verdade, a LAC apenas reafirma um entendimento pacificado no ordenamento jurídico pá- trio, qual seja a possibilidade de que alguém, ou alguma pessoa jurídica, seja responsabilizado, por determinados atos que praticou, em três esferas diferen- tes: administrativa, cível e penal. Logo, precisamos ter claro que a LAC pode não encerrar a responsabilida- de judicial da pessoa Jurídica e das pessoas envolvidas. Vamos agora para a análise do último capítulo da lei. g) Disposições finais em relação a LAC 41 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE CAPÍTULO VII DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 22. Fica criado no âmbito do Poder Executivo federal o Cadastro Nacional de Empresas Punidas - CNEP, que reunirá e dará publicidade às sanções aplica- das pelos órgãos ou entidades dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de todas as esferas de governo com base nesta Lei. § 1º Os órgãos e entidades referidos no caput deverão informar e manter atua- lizados, no Cnep, os dados relativos às sanções por eles aplicadas. § 2º O Cnep conterá, entre outras, as seguintes informações acerca das sanções aplicadas: I - razão social e número de inscrição da pessoa jurídica ou entidade no Cadas- tro Nacional da Pessoa Jurídica - CNPJ; II - tipo de sanção; e III - data de aplicação e data final da vigência do efeito limitador ou impeditivo da sanção, quando for o caso. § 3º As autoridades competentes, para celebrarem acordos de leniência pre- vistos nesta Lei, também deverão prestar e manter atualizadas no Cnep, após a efetivação do respectivo acordo, as informações acerca do acordo de leniência celebrado, salvo se esse procedimento vier a causar prejuízo às investigações e ao processo administrativo. § 4º Caso a pessoa jurídica não cumpra os termos do acordo de leniência, além das informações previstas no § 3º, deverá ser incluída no Cnep referência ao respectivo descumprimento. § 5º Os registros das sanções e acordos de leniência serão excluídos depois de decorrido o prazo previamente estabelecido no ato sancionador ou do cumpri- mento integral do acordo de leniência e da reparação do eventual dano causa- do, mediante solicitação do órgão ou entidade sancionadora. 42 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Art. 23. Os órgãos ou entidades dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de todas as esferas de governo deverão informar e manter atualizados, para fins de publicidade, no Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas - CEIS, de caráter público, instituído no âmbito do Poder Executivo federal, os dados relativos às sanções por eles aplicadas, nos termos do disposto nos arts. 87 e 88 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Art. 24. A multa e o perdimento de bens, direitos ou valores aplicados com fundamento nesta Lei serão destinados preferencialmente aos órgãos ou enti- dades públicas lesadas. Art. 25. Prescrevem em 5 (cinco) anos as infrações previstas nesta Lei, contados da data da ciência da infração ou, no caso de infração permanente ou continu- ada, do dia em que tiver cessado. Parágrafo único. Na esfera administrativa ou judicial, a prescrição será interrom- pida com a instauração de processo que tenha por objeto a apuração da infração. Art. 26. A pessoa jurídica será representada no processo administrativo na for- ma do seu estatuto ou contrato social. § 1º As sociedades sem personalidade jurídica serão representadas pela pessoa a quem couber a administração de seus bens. § 2º A pessoa jurídica estrangeira será representada pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil. Art. 27. A autoridade competente que, tendo conhecimento das infrações previstas nesta Lei, não adotar providências para a apuração dos fatos será responsabilizada penal, civil e administrativamente nos termos da legislação específica aplicável. Art. 28. Esta Lei aplica-se aos atos lesivos praticados por pessoa jurídica brasilei- ra contra a administração pública estrangeira,ainda que cometidos no exterior. Art. 29. O disposto nesta Lei não exclui as competências do Conselho Adminis- trativo de Defesa Econômica, do Ministério da Justiça e do Ministério da Fazen- da para processar e julgar fato que constitua infração à ordem econômica. Art. 30. A aplicação das sanções previstas nesta Lei não afeta os processos de responsabilização e aplicação de penalidades decorrentes de: 43 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE I - ato de improbidade administrativa nos termos da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992 ; e II - atos ilícitos alcançados pela Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, ou outras normas de licitações e contratos da administração pública, inclusive no tocante ao Regime Diferenciado de Contratações Públicas - RDC instituído pela Lei nº 12.462, de 4 de agosto de 2011. Art. 31. Esta Lei entra em vigor 180 (cento e oitenta) dias após a data de sua publicação. A LAC define em seu art. 22 sobre a criação, no âmbito do Poder Executi- vo federal, o Cadastro Nacional de Empresas Punidas – Cnep –, o qual reúne e publica as sanções aplicadas às pessoas jurídicas infratoras, cabendo ao órgão responsável pela punição informar e manter atualizados os dados relativos à aplicação das sanções, além de conter as informações relacionadas ao acordo de leniência celebrado . Apesar de ser o capítulo final, ele trata de assuntos diversos, como o pra- zo prescricional em relação à pretensão dos entes federativos e do Ministério Público, com relação à aplicação das sanções previstas na LAC, para a pessoa jurídica infratora, estabelece uma hipótese de extraterritorialidade, quando de caso de ato praticado por pessoa jurídica brasileira contra Estados estrangeiros ou organizações internacionais, apresentados no art. 28, ou ainda as competên- cias do Cade. 44 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Conforme Hartmann (2019, p. 323) descreve: O art. 29 estatui que as competências do Conselho Administrativo de Defesa Eco- nômica – Cade, do Ministério da Justiça e do Ministério da Fazenda para proces- sar e julgar fatos que constituam infração à ordem econômica (Lei 12.259/2011) não são excluídas pelo disposto na LAC. Isso significa, portanto, que a pessoa ju- rídica infratora poderá ter sua conduta sancionada, de forma cumulativa, tanto pelas autoridades que compõem o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência quanto por aquelas previstas na LAC, sem que isso importe dupla punição. Para concluirmos a nossa análise da LAC, trazemos mais uma contribuição de Hartmann (2019, 329-330), expondo que: [...] é preciso tecer alguns comentários sobre o art. 30 da LAC, o qual certamente será objeto de embates e discussões na doutrina e na jurisprudência. Verifica-se, da redação do dispositivo, que o legislador determinou que a aplicação da LAC não afeta nem prejudica a aplicação de penalidades por atos de improbidade ad- ministrativa (Lei 8.429/1992) e também por atos lesivos praticados na esfera das licitações e contratações com a administração pública (Lei 8.666/1993). O que a LAC está dizendo, com isso, é que é possível, em tese, a cumulação de penalidades decorrentes dos três diplomas normativos. Assim, uma mesma pessoa jurídica poderia ser sancionada triplamente: (1) por atos previstos na Lei Anticorrupção, (2) por atos de improbidade administrativa e (3) por atos lesivos no âmbito das licitações e contratos. [...] Sem embargo, e no intuito de tomar posição, entende-se que é possível, sim, a aplicação cumulativa das sanções previstas nos três diplomas normati- vos, desde que tal circunstância não implique bis in idem. 45 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Caro acadêmico, trouxemos para você essa lei que está no cerne do de- senvolvimento atual da atividade de Compliance pelas empresas, sendo funda- mental que você também pesquise mais sobre esse tema, pois dependendo das visões e doutrinas aplicadas pelo advogado podem surgir novas interpretações que podem trazer novos caminhos a serem seguidos pelas empresas e pelos profissionais de Compliance. Essa lei, conforme a CGU (2019, p. 1), trouxe diversas inovações para o cenário judiciário brasileiro, e para o Compliance nas empresas, entre as quais ela descreve: Responsabilidade Objetiva: empresas podem ser responsabilizadas em casos de corrupção, independentemente da comprovação de culpa. Penas mais rígidas: valor das multas pode chegar até a 20% do faturamento bruto anual da empresa, ou até 60 milhões de reais, quando não for possível calcular o faturamento bruto. Na esfera judicial, pode ser aplicada até mesmo a dissolução compulsória da pessoa jurídica. Acordo de Leniência: Se uma empresa cooperar com as investigações, ela pode conseguir uma redução das penalidades. Abrangência: Lei pode ser aplicada pela União, estados e municípios e tem com- petência inclusive sobre as empresas brasileiras atuando no exterior. Vamos agora aprender mais sobre a aplicação do compliance nas empresas. 46 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS O tópico anterior apresentou a Lei nº 12.846/2013 e uma pequena inter- pretação de alguns elementos básicos importantes para o bom relacionamento entre as entidades privadas e públicas. O Compliance evoluiu muito após o advento da LAC, melhorando os rela- cionamentos entre os gestores públicos e privados, bem como definindo con- dições claras a todos envolvidos neste processo. Agora desenvolveremos um pouco mais sobre a visão relacionada aos entes da pessoa jurídica e sobre a sua implantação dentro das empresas. Conforme Manzi (2008, p. 39): Tem destacado a alta relevância dos riscos de compliance e de sua função nos bancos. A expressão risco de compliance é definida como risco legal, ou de san- ções regulatórias, de perda financeira ou de reputação que um banco pode sofrer como resultado de falhas no cumprimento de leis, regulamentações, có- digos de conduta e das boas práticas bancárias. Apesar de Manzi (2008) escrever banco e bancário, que era o foco prin- cipal no início da implantação do Compliance, verificamos que o texto é con- dizente com o foco empresarial de relacionamento com os órgãos de governo conforme expressa a própria lei anticorrupção. 47 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Ao analisarmos a missão a ser desenvolvida pelo setor de compliance, vi- mos descrito em ABBI – FEBRABAN (2019, p. 9) que a mesma tem o objetivo de: Assegurar, em conjunto com as demais áreas, a adequação, fortalecimento e o funcionamento do Sistema de Controles Internos da Instituição, procurando mitigar os Riscos de acordo com a complexidade de seus negócios, bem como disseminar a cultura de controles para assegurar o cumprimento de leis e regu- lamentos existentes.Assim, o desenvolvimento do compliance dentro das organizações empre- sariais deve envolver todos os seus funcionários e gestores para desenvolverem um trabalho ético e reto, mas nessa visão está claro que o exemplo precisa vir de cima, dos diretores e executivos das empresas, como também ressalta a res- ponsabilidade apregoada na lei anticorrupção. ABBI – FEBRABAN (2019, p. 11) descreve ainda que as principais responsa- bilidades da Alta Direção das Instituições são analisar e desenvolver: 1. Um Sistema de Controles Internos adequado ao Risco de seus Negócios, a fim de proporcionar segurança operacional e maior confiabilidade aos seus in- vestidores e clientes; 2. Designar Oficiais de Compliance devendo provê-los de uma adequada estru- tura administrativa de apoio, a fim de assegurar a funcionalidade da Gestão de Compliance. A nomeação de um Oficial de Compliance não exime a Instituição e cada uma de suas Áreas e funcionários, da obrigatoriedade de conhecer, aplicar e desenvolver controles internos adequados aos riscos de seus negócios; 48 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE 3. Estruturar a função Compliance de forma independente e autônoma das demais áreas da Instituição, para evitar os conflitos de interesses e assegurar a isenta e atenta leitura dos fatos, visando a busca da conformidade por meio de ações corretivas/preventivas sendo munida com informações relevantes. Manzi (2008) e Lamboy (2018) descrevem que toda operação empresarial desenvolve um Risco Operacional e o Compliance tem como função auxiliar o desenvolvimento de análises e ferramentas relacionadas no que tange a todos os Sistema de Controles Internos das organizações, devendo ser controlado e mitigado no âmbito geral, com o envolvimento de todos os níveis funcionais da organização trabalhando e acompanhando a sua aderência, eficácia e efetivida- de em sua aplicação. Com relação aos controles internos, Lamboy (2018, p. 8) descreve que: Assim, Compliance tem a missão de assegurar que os controles internos da empresa funcionem de forma sistemática, buscando a redução dos riscos com base no modelo de negócios e a complexidade dos mesmos. Também deve disseminar a cultura de controles internos em toda organização de forma a assegurar o cumprimento das leis, normas, regulamentos internos e externos existentes. Com relação aos controles internos e à estrutura da organização, Peres e Brizoti (2016, p. 11) descrevem: 49 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE A Estrutura da Organização (EO) deve apresentar quatro categorias de objeti- vos, o que permite às organizações se concentrar em diferentes aspectos dos controles internos (CI), como segue: Segurança – Esse aspecto está relacionado aos processos operacionais, de di- vulgação e de conformidade, promovendo a avaliação contínua de riscos e sua gestão, nas medidas preventivas de proteção, dos ambientes corporativos, das tecnologias empregadas, da segurança das informações, dos recursos humanos e na manutenção da continuidade dos negócios para a perenidade da organização. Operacional – Esse aspecto relaciona-se à eficácia e à eficiência das operações da empresa, inclusive as metas de desempenho financeiro e operacional e a salvaguarda de perdas de ativos. Divulgação – Esse aspecto relaciona-se a divulgações financeiras e não financeiras, internas e externas, podendo abranger os requisitos de confiabilidade, oportunida- de, transparência ou outros termos estabelecidos pelas autoridades normativas, órgãos normatizadores reconhecidos, ou às políticas internas da organização. Conformidade – Esse aspecto relaciona-se ao cumprimento de leis, normas e regulamentações às quais a organização está sujeita. Logo, o compliance deve ser trabalhado constantemente para mitigar fu- turos problemas devido a possíveis desvios que possam ocorrer, e em grandes organizações, mesmo os pequenos desvios podem gerar prejuízos enormes em diversas frentes para o negócio. Para Candeloro, Rizzo e Pinho (2012), a Gestão de Compliance é importante para o trabalho conjunto com os gestores do negócio para desenvolvimento de uma consonância e conformidade dos controles internos do negócio trabalhando um monitoramento qualitativo de todos os processos, principalmente quando 50 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE se prestar serviços para o setor público, mitigando assim a ocorrência de Risco Operacional e desenvolvendo um programa de adequação dos controles de ati- vidades, através de um programa de ações de melhoria contínua de processos. Com a adoção de Compliance pelas as organizações, Peres e Brizoti (2016, p. 11) descrevem: A demanda pela aplicação de processos estruturados de “Compliance” nas or- ganizações está crescendo no mundo todo. Já se percebe a elevação do nível de consciência dos executivos, de que “Compliance” é fundamental para manter elevada a imagem e a reputação da organização, bem como promover a garan- tia da redução de perdas invisíveis por desvios operacionais, erros involuntá- rios, corrupção e fraudes ocupacionais, entre outros fatores que contribuem com a redução do desempenho dos negócios. Lamboy (2018) ressalta ainda que os custos da empresa, por não estarem em compliance, podem ser bem elevados e incluem: • danos à reputação da organização, dos seus funcionários e perda de valor da marca; • má alocação de recurso e redução da eficiência e da inovação; • cassação das licenças de operação; • sanções administrativas, pecuniárias e, dependendo do caso, criminais às organi- zações e aos indivíduos; e • custos secundários e não previstos (advogados, tempo da alta gerência etc.). 51 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE Assim, podemos ver que para as instituições privadas ou públicas, desenvolver um programa de compliance, antes de mais nada, é plantar para o futuro, buscando eliminar problemas em todos os níveis da organização, pois a ética e uma postura anticorrupção é fundamental para o futuro dos negócios. Uma organização que seja ética e que faça a difusão de uma cultura pautada na ética, por meio de um Programa de Compliance, tem menos problemas com fraudes. 52 Estudos transvErsais Índice 1. INTRODUÇÃO 2. COMPLIANCE NO BRASIL 4. COMPLIANCE E A LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA 3. COMPLIANCE, ESTRUTURA, DEFINIÇÕES 5. A LEI N° 12.846/2013 – LAC – LEI ANTICORRUPÇÃO EMPRESARIAL 6. COMPLIANCE NAS EMPRESAS 7. CONCLUSÃO Estudo transvErsal vI – ComplIanCE 7. CONCLUSÃO Estamos chegando ao fim de mais um material de apoio a você, acadêmico da área de Direito de nossa instituição, e esperamos que você tenha gostado da leitura. Compliance tem se tornado um tema presente nas mais diversas rodas de discussões, principalmente em gestão privada e gestão pública e nos meios jurídicos, por isso é um tema muito importante para você e seu futuro. Você estudou os principais pontos relacionados ao tema compliance, um pouco de sua história, sobre a Lei nº 12.846/2013 que trata do tema corrupção e foi um dos