Buscar

LLPT_TopicosdeLiteraturaPortuguesa_impresso-35

Prévia do material em texto

TÓPICO 04: O SENTIDO DO MITO NA CULTURA PORTUGUESA
Como é fácil constatar, o mito sebastianista fundamenta-se numa longa 
tradição que, como vimos, remonta às profecias do sapateiro Bandarra. O 
mito do rei Encoberto é tão forte que pode mesmo ver substituída sua figura 
história central, no caso D. Sebastião, por uma outra que o momento 
histórico exigir, como foi o caso de D. João IV, sem que isso afete a estrutura 
do mito, isto é, a do rei Encoberto, que está escondido, ou desaparecido, ou 
morto, e que retornará, que ressuscitará para instaurar então um império 
definitivo, português e cristão, restaurando o que foi um dia perdido (a 
autonomia, a riqueza, a glória etc.).
VERSÃO TEXTUAL
Esse é um mecanismo que muito tem a ver com a história de 
Portugal, pois, grande e imperialista no século XVI, aquela nação 
perdeu seu lugar de prestígio no cenário europeu e passou a ocupar 
um lugar periférico cultural e economicamente no continente a partir 
dos séculos XVII e XVIII, assim permanecendo até sua inserção no 
que hoje conhecemos como União Europeia. 
Portanto, durante o século XIX e por quase todo o século XX, as elites de 
Portugal estiveram à margem dos grandes acontecimentos do continente, 
sempre se sentindo inferiorizadas em relação àquelas atuantes nos países 
europeus mais proeminentes, como Inglaterra, França e Alemanha. Isso 
alimentou o mito sebastianista, que apostava no fadado retorno da glória 
portuguesa vivida no Renascimento. 
Neste aspecto, o mito cumpriu o importante papel de resolver no 
plano simbólico e artístico aquilo que não tinha solução no plano da 
realidade prática, econômica e social. 
Ao avaliar o mito sebastianista, Antônio Quadros conclui que:
a figura histórica do rei foi sempre um pretexto, 
foi apenas um meio de canalização e projecção não só 
de uma profecia mítica onde se juntaram em partes 
iguais o messianismo hebraico-português, o 
cristianismo messiânico-encarnacionista e os velhos 
arcanos céltico-bretões, como também, e 
cumulativamente, as aspirações nacionais e 
populares, quer a um nível onírico, quer a um nível 
sociopolítico. [...] O Sebastianismo é um dado 
profundo, é um arquétipo, é uma realidade psíquica e 
mítica do nosso povo e da nossa cultura. (Quadros 
2001:24.)
TÓPICOS DE LITERATURA PORTUGUESA
AULA 03: GRANDES TEMAS DA LITERATURA PORTUGUESA - O INFANTE D. SEBASTIÃO: 1ª PARTE
32
	Combinarenumerar.pdf
	TopicosdeLiteraturaPortuguesa_aula_03.pdf
	04.pdf

Mais conteúdos dessa disciplina