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Empreendedorismo e Inovação

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EMPREENDEDORISMO 
Prof. Dr. Luiz Arnaldo Biagio 
O QUE É UM EMPREENDEDOR? 
 
É óbvio que você já deve ter ouvido falar em empreendedorismo, porém não faz 
parte dos seus objetivos, pelo menos por ora, abrir seu próprio negócio, afinal, você trabalha 
em uma organização de grande porte, e está interessado em desenvolver uma carreira 
executiva sólida e longa dentro desta instituição, ou então você é funcionário público em uma 
das três esferas do poder executivo, ou vinculado de alguma forma ao poder judiciário, ou 
ainda vinculado ao poder legislativo, e desde o início da sua carreira profissional optou pela 
estabilidade profissional que estas atividades proporcionam. Por fim, você pode ter escolhido 
uma carreira acadêmica, ou uma carreira militar, ou ainda uma carreira de executivo, porém 
dentro de uma empresa estatal, o que equivale quase a ser um funcionário público. Assim, 
você deve achar que não possui nenhuma inclinação para o empreendedorismo e que isso é 
coisa de pessoas que ambicionam ser seu próprio patrão, ou seja, abrir um negócio, ainda que 
modesto. 
 
Agora eu vou fazer uma provocação te levando a pensar nas respostas para duas 
perguntas: 
 
Você deve ter respondido “nunca” para as duas questões, não é mesmo? Você não é 
diferente de nenhuma outra pessoa. Você é uma pessoa absolutamente normal. Você é como 
a maioria das pessoas, um prisioneiro das rotinas e pressões do trabalho ou responsabilidades 
que a vida nos apresenta no dia-a-dia. 
Por mais absurdo que pareça à primeira vista, estas questões encontram-se na base 
do pensamento das organizações que querem crescer, inovar, se tornar competitiva, enfim 
obter sucesso. Qualquer tipo de organização de qualquer ramo de atividade possui esta 
necessidade, pois isso se chama sustentabilidade. Inclusive as organizações governamentais 
necessitam da sustentabilidade para manterem-se vivas e prestando um serviço de valor 
reconhecido pela sociedade. 
Por outro lado, saiba que todas as pessoas, inclusive você, possuem características 
empreendedoras, só que elas estão latentes, pela simples razão que nós todos fomos, aos 
poucos, cerceados da criatividade, desde o primeiro momento da nossa vida e nos 
acostumamos com os modelos tradicionais que aparentemente impulsionaram o 
desenvolvimento mundial, porém se você observar mais detalhadamente, foram os 
empreendedores os grandes responsáveis pelas revoluções da economia e dos negócios 
mundiais. 
Tenha a mais absoluta certeza de que: todas as pessoas tem capacidade para 
promover revoluções de alto impacto, todas as pessoas tem capacidade de fazer a diferença. 
Para que você entenda definitivamente o que é ser um empreendedor, basta que 
você imagine porque as organizações esperam que seu capital humano tenha um 
desempenho brilhante. Em seguida, pense na afirmação: todas as pessoas tem potencial para 
ser empreendedor. 
É claro que ao ouvir a palavra empreendedor, você pensa imediatamente nos grandes 
empresários, aqueles que não esbarramos todos os dias pelas ruas das nossas cidades ou que 
vemos a mídia divulgando seus feitos, como por exemplo: Ray Krok, Silvio Santos, Roberto 
Marinho, Steve Jobs, Bill Gates, Assis Chateubriant, Delmiro Golveia, Henry Ford, Akio Morita, 
Sakichi Toyoda e tantos outros que de uma forma ou de outra fizeram a diferença no seu 
tempo. Contudo, você poderá empreender descobrindo novas formas de fazer as coisas, 
novos produtos, ou ainda implementando novos modelos de negócios, dentro da própria 
organização que você trabalha. Para tanto basta procurar olhar o mundo de forma diferente 
e se comportar de forma mais proativa. Apenas e tão somente isso. 
Para ser um empreendedor corporativo basta que você tenha uma boa ideia ou 
vislumbre uma oportunidade negócio e tenha um plano para capitalizá-la. Empreendedor 
corporativo é a denominação correta para aquelas pessoas que adotam um comportamento 
empreendedor, porém não estão em busca de abrir seu próprio negócio, mas sim empreender 
na organização onde trabalham. 
 
Você já pensou como o conceito de empreendedorismo está ligado à inovação e 
certamente quando você ouve a palavra inovação, imediatamente pensa nas invenções e nos 
laboratórios repletos de pesquisadores trabalhando em computadores de última geração, 
estabelecendo descobertas científicas capazes de revolucionar toda a existência da 
humanidade, como a invenção da eletricidade, ou da máquina a vapor. Você não pensa 
diferente de todas as pessoas não, afinal desde criança formamos esta imagem dos 
pesquisadores e inventores. 
Acontece que inovação não é invenção, pois enquanto que invenção é o resultado de 
um processo criativo de pesquisa científica ou experimentação, inovação é resultado de um 
processo de desenvolvimento que conduza a novos produtos ou processos comercializáveis. 
Nos Estados Unidos, apenas 0,2% das invenções chegam no mercado e se transformam em 
inovação. 
Se você observar a definição universal de inovação, publicada pelo Manual de Oslo: 
“inovação é a exploração com sucesso de novas ideias”; poderá entender facilmente o porquê 
inovação e empreendedorismo andam de mãos dadas e o papel do empreendedor no 
processo. O empreendedor é o elo entre a invenção e o mercado, transformando-a em 
inovação. 
 
Agora, o laboratório do empreendedor são as ruas movimentadas das cidades, os 
caminhos que cruzam os campos, os jardins, os museus, as escolas, as praias, os espetáculos 
musicais, e todos os demais tipos de entretenimentos e de convívio das pessoas. O 
empreendedor precisa apenas olhar o mundo por um ponto de vista diferente e identificar as 
oportunidades de negócios, que nada mais são que desejos das pessoas não satisfeitos. 
 
É comum também as pessoas confundirem o empresário com o empreendedor. Você 
deve ter sempre em mente que não é necessário ser empresário para ser empreendedor, 
como é o caso do empreendedor corporativo, mas é necessário ser empreendedor para ser 
empresário. 
 Para empreender você precisa sair do lugar comum. Os grandes empreendedores da 
história saíram do lugar comum, ousaram pensar diferente. Vamos ver um pouco da história 
de alguns destes nobres personagens, que ao seu modo, em algum momento, provocaram 
uma revolução no modo de fazer negócios ou no modo de relacionar-se com um 
empreendimento, ou ainda no modo de atender aos anseios da sociedade, onde muitas 
pessoas nem desconfiavam que tinham tais necessidades latentes. Você vai observar que as 
grandes ideias destes grandes empreendedores não foram geradas em laboratórios, mas sim 
de um aguçado senso de observação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agora que você já conhece alguma coisa sobre alguns dos grandes empreendedores 
da história, você consegue analisar o comportamento deles e responder o que eles possuem 
em comum? 
Você pode ter respondido que eles possuem um excelente senso de oportunidades 
para fazer negócios e uma iniciativa fora do comum. Você poderia dizer também que eles 
possuíam uma extensa rede de contatos complementada por uma autoconfiança ímpar. Você 
poderia dizer também que todos foram persistentes diante dos obstáculos encontrados e 
comprometidos com seus ideais. Todas estas respostas estão corretas, porém existe uma 
característica comportamental evidente em todos eles que pode resumir tudo aquilo que já 
foi dito sobre empreendedores: ousadia. Todos os empreendedores são ousados. 
 
Os empreendedores ousam desafiar governos, leis, paradigmas, e tudo aquilo que 
representa um padrão de pensamento, no afã de transformar a sua ideia em um sucesso. 
Os empreendedores estão sempre em busca de ultrapassar os limites da sua 
imaginação enquanto que as demais pessoas procuram apenas delimitar a fronteira da própria 
imaginação. Como resultado desta delimitação, embora as pessoas sejam capazes de perceber 
as oportunidades, não se dão a este trabalho, inibindo assim a capacidade de empreender.Mas há que se tomar alguns cuidados, muita ousadia aliada ao excesso de 
autoconfiança e ao excesso de comprometimento poderá levar o empreendedor a 
experimentar o sabor do fracasso. O comportamento empreendedor é salutar dentro de 
certas medidas. Ultrapassar estes limites é como migrar para o “lado sombrio da força”, 
parafraseando a expressão cunhada por George Lucas no filme Guerra nas Estrelas. 
Faça rapidamente uma busca no seu banco de memória, e responda a seguinte 
pergunta: quantas empresas tidas como modelo de eficiência, simplesmente desapareceram 
do cenário mundial, porquê seus empreendedores ultrapassaram os limites da ousadia e da 
autoconfiança, transformando a capacidade de realização em ganância? Quer uma ajuda? 
Então vamos lá: 
1. Arthur Andersen. No início dos anos 2000, a empresa pertencia ao seleto grupo das 
cinco maiores empresas de auditoria financeira do mundo. Fundada em 1913, a 
empresa se viu mergulhada no escândalo financeiro da distribuidora de energia Enron, 
da qual ela era auditora e auxiliou seu cliente a falsificar balanços distribuindo lucros e 
dividendos para os acionistas e fazendo o valor das ações subir artificialmente na Bolsa 
de Valores de Wall Street. 
2. Enron. Criada em 1985, para atuar como distribuidora de energia, a empresa foi 
considerada no ano 2000 a sétima maior empresa do mundo pela revista Fortune com 
um faturamento de US$ 100 bilhões. Em 2001, a empresa faliu acusada do uso de 
truques contábeis, omissões e mentiras para inflar os lucros nos relatórios contábeis. 
3. ISL/ISMM. Durante mais de 20 anos a agência de marketing prestou serviços à FIFA, a 
entidade máxima do futebol mundial. A ISL, através de sua subsidiária da ISMM, era 
responsável pela venda dos direitos de transmissão de competições da FIFA, faliu em 
2001 com dívidas que superavam US$ 300 milhões. O caso ainda não totalmente 
esclarecido, sendo que a FIFA e nenhum de seus dirigentes recebeu condenação, 
porém três executivos da ISL foram multados por fraude. 
4. Lehman Brothers. Fundado em 1850, a empresa era o quarto maior banco de 
investimentos dos Estados Unidos tendo sobrevivido ao crash das bolsas de valores em 
1929 e à Segunda-Feira Negra em 1987. O banco foi envolvido pela crise financeira 
internacional de 2008 pois tinha em seus ativos títulos da dívida imobiliária norte-
americana acima dos níveis seguros de investimento. O momento do seu pedido de 
concordata é o marco zero da crise financeira global desencadeada em 2008. 
5. WorldCom. Em 21 de julho de 2002, a maior operadora de telefonia de longa distância 
e serviços de dados dos Estados Unidos, revelou a contabilização indevida de US$ 7,68 
bilhões em seus balanços com o objetivo de elevar o valor das suas ações de forma 
artificial. Em 2004 a companhia reconheceu a fraude e decretou falência. O seu diretor 
financeiro, Scott Sullivan, confessou a culpa e foi preso. A empresa era a segunda maior 
responsável mundial pelo trânsito de e.mails na internet. 
Mas, vamos voltar a falar de sucesso, basta de fracassos e falcatruas, não é mesmo? 
Você já observou como as crianças são imaginativas, e sabe porque isso acontece? A 
resposta é bem simples, as crianças ainda não criaram modelos mentais e paradigmas que 
limitam o pensamento e a criatividade. Transportando isso para o caso das empresas você 
poderá concluir que ao longo do tempo, foram criados modelos mentais relativos aos 
produtos e serviços, aos processos de gestão e aos modelos de negócios, que cerceiam a 
criatividade das pessoas. É como se uma força invisível as impedisse de enxergar as 
possibilidades de empreender que existem ao seu redor. 
Você já ouviu a expressão: “esta empresa está precisando de sangue novo”? Pois é, 
isso é sintoma que graças aos modelos mentais criados na empresa, as pessoas que ali 
trabalham não conseguem enxergar as novas possibilidades que se apresentam. As vezes não 
conseguem sequer enxergar problemas rotineiros. O empreendedor é um rompedor dos 
modelos mentais reinantes. 
 
Mas se você pensa que é fácil romper com os modelos mentais, está enganado. A sua 
mente é formada por muitos mecanismos de defesa, desenvolvidos para exterminar qualquer 
ideia que possa mudar as coisas da forma como elas são ou como elas estão. Se você é ou já 
foi fumante, sabe exatamente o que eu quero te dizer. 
O esforço para romper os modelos mentais é exatamente o mesmo que o fumante 
desenvolve na tentativa de largar o vício. 
Para você entender melhor qual a influência dos modelos mentais, que tal fazer um 
exercício sobre os provérbios. Certamente, você conhece todos eles, e não encontrará 
dificuldades para completa-los. 
 
Aproveite e vá até o final deste capítulo e veja as respostas. Certamente você errou 
algumas respostas dos provérbios. Sabe por quê? Por que você já tinha uma ideia pré-
concebida em relação a eles. 
Neste instante, você deve estar se perguntando: e no mundo corporativo, também 
existem os modelos mentais? 
 Existem sim e muito mais que você imagina. Para entender como os modelos 
mentais foram formados é necessário retroceder no tempo e imaginar o desenvolvimento da 
administração ao longo da história e sob o ponto de vista de três variáveis: 
• Fontes de riqueza: ao longo do tempo, as fontes de riqueza da humanidade migraram 
desde a propriedade sobre grandes extensões de terras, típica da era agrícola, onde 
os senhores feudais tinham sua riqueza medida pela quantidade de terras que 
possuíam sob seus domínios, até os dias atuais onde o capital intelectual determina 
o valor das empresas, sem esquecer que entre estes dois períodos tiveram seu espaço 
como fonte de riqueza, o potencial de trabalho e o capital financeiro. 
• Tipos de organização: diz respeito à forma como a sociedade se organiza 
coletivamente para gerar riquezas e desenvolvimento. Historicamente, destacam-se 
a organização feudal durante a era agrícola, o direito de propriedade na fase inicial 
da era industrial, os organogramas hierárquicos na fase final da era industrial e as 
redes humanas na fase inicial da era do conhecimento. 
• Princípios conceituais: diz respeito à forma de gestão utilizada pelas empresas, 
abrangendo desde os conceitos de divisão do trabalho para ganhos de produtividade 
até o perfil de liderança utilizado. 
 
Esta viagem pelo tempo, demonstra como os modelos mentais foram criados no 
mundo corporativo, lembrando que atualmente muitas empresas atuam como se estivessem 
no início da era industrial embora a dinâmica do mundo moderno as tenha empurrado para o 
início da era do conhecimento. 
Você consegue perceber que este “gap” entre princípios conceituais e eras históricas 
pode descortinar um mundo de oportunidades para empreender? 
Agora que você conhece o porquê das coisas, vá em frente empreenda, liberte-se dos 
seus modelos mentais e construa seus sonhos, nem que eles lhes pareçam impossíveis à 
primeira vista.

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