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Embarcações Tradicionais Maranhenses

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ESTADO DO MARANHÃO 
SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA E TURISMO 
UNIDADE GETORA DE CULTURA POPULAR 
 CENTRO DE CULTURA POPULAR DOMINGOS VIERA FILHO 
CASA DE NHOZINHO 
 CASA DO MARANHÃO
LUIS FERNANDO LIMA FIGUEREDO
EMBARCAÇÕES TRADICIONAIS MARANHENSES, UMA RICA TRADIÇÃO CULTURAL.
São Luís-MA
2018
EMBARCAÇÕES TRADICIONAIS MARANHENSES, UMA RICA TRADIÇÃO CULTURAL.
Luis Fernando Lima Figueredo
RESUMO
Este artigo procura analisar a importância social, cultural e econômica das embarcações artesanais/tradicionais maranhenses para o Estado, assim como para a população que apoiam o seu modo de vida nas práticas da navegação, evidenciando as tipologias e características. O artigo também traça uma rápida discussão acerca da importância da incorporação e preservação das técnicas tradicionais para a identificação cultural de um povo, assim como as políticas públicas, de preservação acerca da construção naval artesanal, existentes no Maranhão. No percurso do trabalho, buscaram-se referências no livro “Embarcações do Maranhão: Recuperação das técnicas construtivas tradicionais” do engenheiro, antropólogo e conselheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrés, artigos de outros autores, além de visitas no Estaleiro Escola e No Museu das embarcações Maranhenses no Forte Santo Antônio da Barra. 
PALAVRAS-CHAVE: Estaleiro Escola, embarcações, artesanal, tipologias.
ABSTRACT
This article tries to analyze the social, cultural and economic importance of the craft craft/ traditional of Maranhenses for the State, as well as for the population that support their way of life in the practices of navigation, evidencing the typologies and characteristics. The article also discusses the importance of the incorporation and preservation of traditional techniques for the cultural identification of a people, as well as the public preservation policies on artisanal shipbuilding existing in Maranhão. In the course of his work, reference was made to the book "Craft of Maranhão: Recuperation of Traditional Constructive Techniques" from the engineer, anthropologist and adviser of the National Historical and Artistic Heritage Institute, Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrés, articles by other authors, as well as visits to the School and No Shipyard Museum of the Maranhenses vessels in the Santo Antônio Fort the bar.
KEY WORDS: Shipyard School, craft, artisanal, typologies.
[footnoteRef:1] [1: 1 Luis Fernando Lima Figueredo, Graduando do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Maranhão, 7º período. Estagiário no Museu de Cultura Popular- Casa de Nhozinho.
] 
1. INTRODUÇÃO
O Maranhão é um dos principais estados brasileiros que ainda mantém viva a tradição das construções navais artesanais, assim como suas práticas de navegações apoiadas nas embarcações. Possuímos um litoral com mais de 640 km de extensão, ficando atrás somente da Bahia com seus 932 km, o que influencia diretamente nas variedades de tipologias, nos usos dessas embarcações e consequentemente na continuidade dessa cultura naval.
Apesar de pesquisas oficiais comprovarem essa real dimensão do litoral maranhense, alguns pesquisadores e conhecedores da região discordam. Segundo o principal autor de pesquisas e inventário de acervo que tratam do assunto, Andrés (2008, p. 163):
De fato, o Maranhão possui o mais vasto litoral de todo o país. Se fizermos uma medida real de toda a extensão da linha de costa maranhense ela ultrapassará em muito as medidas oficiais de 640 km. Isto se dá em virtude das infinitas reentrâncias que desenham uma verdadeira renda geográfica, determinada pela foz de incontáveis rios, enseadas, pequenas baías, furos e igarapés, arquipélagos de pequenas e numerosas ilhas que, por sua vez, determinam a formação de baías interiores. 
Desde o início da ocupação e conquista do território, o Maranhão já vivenciava grandes aspectos apoiados nos meios de navegação como a exportação de produtos como o algodão e arroz que era a base da economia entre o século XVIII e XIX. Em São Luís, nesse mesmo período, os tráfegos de embarcações eram constantes principalmente no antigo Porto da Praia Grande onde atracavam navios trazendo produtos provenientes da Europa, atividades portuárias favorecidas pela posição geográfica privilegiada da cidade. Outro aspecto que favoreceu essas atividades e o desenvolvimento das navegações durante esses séculos, estavam associados ao fato de não existirem estradas, o que mudou com o plano de desenvolvimento de malhas viárias com a construção de estradas e rodovias.
No desenvolvimento do artigo, vamos pontuar as características sociais, culturais e econômicas das embarcações artesanais/tradicionais do Maranhão, debatendo e levantando questões acerca da importância da incorporação e preservação das técnicas tradicionais para a identificação cultural do povo maranhense.
2. RELAÇÕES SOCIAIS, ECONÔMICAS E CULTURAIS
É necessário ressaltar a importância das influências e costumes indígenas de navegação e às suas técnicas mais primitivas na formação dessa nossa rica tradição artesanal naval e práticas de navegação. As características aqui apresentadas foram determinantes ao longo do tempo para as formas de ocupação e desenvolvimento desse imenso território litoral.
De fato, a criação de muitas estradas e rodovias diminuíram um pouco a utilização das embarcações, mas ainda hoje boa parte da população de regiões da baixada e principalmente comunidades ribeirinhas do Maranhão apoiam a sua vida nas atividades de navegação. Entre as principais atividades de subsistência dessa população, destaca-se a pesca artesanal que utiliza as embarcações tradicionais tanto para a prática quanto para a venda e consequentemente a exportação dos pescados. Andrés, em sua pesquisa, destaca bem esse aspecto, segundo ele: (2008, p. 164):
Até hoje a maior parte das populações que habitam as longínquas regiões da baixada e do litoral maranhense, cerca de um milhão de pessoas, abrangendo mais de 64.000 km2 de território e algumas das regiões mais isoladas do país, apoiam o seu modo de vida nas práticas da navegação. Várias atividades que dão sustentação a economias regionais dependem destas embarcações para sobreviver. Dentre elas a pesca artesanal, que se processa cotidianamente e assegura a subsistência informal a milhares de famílias. Assim, a carpintaria naval tradicional ainda hoje representa um alto grau de importância sócio econômica para o Estado do Maranhão.
Como meio de transporte para pessoas, cargas, exportação de animais, as embarcações exercem uma importância fundamental em se tratando de questões sócio econômicas. Já no âmbito cultural, são consideradas como arte popular pois se configuram como forma de expressividade do povo sendo produzidas por pessoas as quais não se atribui nenhum conhecimento acadêmico ou letrado. Os barcos, das mais variadas tipologias e cores é um elemento de forte apelo na visualidade do litoral Maranhense, revelando o valor da cultura material e a estima pelo estético. Com isso, entendemos que a arte da carpintaria naval está fortemente enraizada à vida de uma parcela significativa da população maranhense e seu valor não se justifica somente por ser uma atividade produtiva de onde os carpinteiros sustentam a si e suas famílias, mas também pelo seu significativo valor afetivo, social cultural e estético.
Na capital maranhense, o uso já é associado, além da pesca, as atividades de lazer e turismo. Como exemplo, temos o Cais da Praia Grande que transporta passageiros de São Luís a Alcântara por meio de uma embarcação tradicional: o Iate, a maior do estado e consequentemente a que requer mais custo. Ainda na capital, ao passar pela ponte José Sarney, não é raro avistar canoas artesanais, assim como no Portinho localizado no centro histórico onde possui um número notável de embarcações artesanais constantemente concentradas nas atividades de pescas.
Percebemos então, que o Maranhão é um dos estados onde encontra-se a maior utilizaçãode barcos pela população, e isso se deve as características geográficas da região com seus rios, mangues, ilhas, igarapés e o litoral. É devido a toda essa importância e uso dessas embarcações artesanais, que as técnicas de carpintaria naval tradicional ainda hoje representam uma forte tradição no estado, sendo transmitidas de gerações passadas a gerações seguintes, sendo necessário políticas públicas, incentivos de valorização para sua continuidade.
3. TIPOLOGIAS, CARACTERÍSTICAS E MATÉRIA PRIMA
As maiores características das embarcações artesanais maranhenses são as formas das velas com seus coloridos extraídos de cascas e raízes de paus de mangues aos quais adicionam-se corantes, e o casco com diferentes formatos de proas (parte da frente da embarcação) e 
popa (parte traseira do barco), que assim como o mastro são pintados em tons vivos e marcantes.
Segunda a pesquisa do antropólogo Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrès descrita em seu livro “Embarcações do Maranhão: Recuperação das técnicas construtivas tradicionais” o estado possui 15 modelos de embarcações típicas de cada região: Cúter, Bote proa de risco, Biana, Igarité, Boião, Iate, Casquinho, Casco, Lancha de Timon, Canoa de Nova Iorque, Canoa de Benedito Leite, Canoa de Tasso Fragoso, Gambarra, Rabeta e Canoa de um pau. Cada barco é construído e adaptado às condições de maré, ondas, desníveis, barragem, quedas de água, corredeiras e ventos da região.
O Cúter também conhecido como Canoa Costeira, é um dos destaques no estado, possui mais de quatro séculos de história sendo uma das primeiras a serem construídas e utilizadas, em 2013 um exemplar da canoa recebeu o título de Patrimônio Cultural do Brasil. A canoa tombada era de propriedade do comandante Mestre Marinho e tinha como nome Dinamar, onde era usada no transporte de carga entre Alcântara e São Luís. A embarcação recebeu esse título por ser uma das mais antigas em atividade com 60 anos de navegação, sendo um ícone da cultura regional levando o mar em seu nome.
É importante ressaltar mais uma vez, a influência indígena na forma de construção e terminologia das embarcações. Um exemplo é a Canoa de um pau construída com somente uma peça de tronco, movida a vela ou remo, já na terminologia podemos citar o Igarité. Nota-se também que algumas recebem o nome da própria região, é o caso da Lancha de Timon, Canoa de Nova Iorque, Canoa de Benedito Leite, Canoa de Tasso Fragoso. A madeira, matéria prima utilizada na construção desses barcos é fornecida pelas matas do próprio Estado do Maranhão. E Grande é a variedade dessas madeiras: O Angelim, o Guanandi, o Jatobá, o Pequi, a Tatajuba, Sapucaia, Murici, o Pau d’Arco, Aracanguira, Sucupira, Marupá e o Bacuri. Algumas dessas árvores como o Tatajuba e a Sapucaia chegam a ter um metro de diâmetro, enquanto o Angelim pode alcançar os 50 metros de comprimento. Por isso se faz necessário a exploração sustentável desses recursos naturais através do Manejo Florestal, medida já adotada por alguns profissionais e estaleiros artesanais maranhenses. 
4. PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO
Vimos que as embarcações têm uma importância significativa na economia e no contexto social é um instrumento importante na comunicação e ligação entre os povoados e entre os seus moradores. As técnicas de construções navais tradicionais estreita laços, revela talentos e permiti a troca de saberes, inclusive na proteção ambiental e na valorização patrimonial.
Desta forma, o tombamento das embarcações e o registro dos saberes relacionados as técnicas construtivas tradicionais representa ou representaria um incentivo para a preservação de uma das manifestações culturais mais expressivas da identidade cultural do Maranhão.
O Registro do patrimônio imaterial seria uma das formas mais apropriada para a preservação desses bens, já que o Registro é um reconhecimento do valor de determinada manifestação cultural (saberes, fazeres, tradições, comidas, festas) para a formação da identidade e da diversidade cultural brasileira, vindo necessariamente acompanhado de um Plano de Salvaguarda, que visa garantir as condições para que esta manifestação possa continuar acontecendo. O registro das técnicas navais tradicionais entraria no Livro de Registro dos Saberes, que catalogaria as características tipológicas e construtivas específicas da embarcação, além do forte significado simbólico e afetivo local. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Livro de Registro dos Saberes foi criado para:
Receber os registros de bens imateriais que reúnem conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades. Os Saberes são conhecimentos tradicionais associados a atividades desenvolvidas por atores sociais reconhecidos como grandes conhecedores de técnicas, ofícios e matérias-primas que identifiquem um grupo social ou uma localidade. Geralmente estão associados à produção de objetos e/ou prestação de serviços que podem ter sentidos práticos ou rituais. Trata-se da apreensão dos saberes e dos modos de fazer relacionados à cultura, memória e identidade de grupos sociais.
Em São Luís, foi criado em 2006 Estaleiro Escola no Sítio Tamancão, como alternativa para a preservação das técnicas, através da valorização dos profissionais que passaram a ser chamados de mestres artesãos e a usufruir de remuneração apropriada para a transmissão de seus conhecimentos. O local é destinado ao treinamento em atividades de construção naval, funciona como uma escola, com cursos de capacitação, palestras e outras atividades relacionadas a preservação ambiental. Antes, muitos mestres artesãos morriam e levavam consigo esses conhecimentos navais, visto que havia um desinteresse de suas gerações em dá continuidade, motivado pela desvalorização da profissão e consequentemente pela falta de remuneração adequada. A criação do estaleiro escola mudou esse cenário, pois possibilitou e possibilita que esses conhecimentos sejam transmitidos de uma forma mais ampla e bem remunerada. 
Outra política pública de preservação encontra-se na capital com a criação, em 2017, do Museus das Embarcações Tradicionais Maranhenses no Forte Santo Antônio da Barra, em homenagem aos mestres artesãos navais. Localizado no bairro Ponta D'areia o museu expõe as tipologias maranhenses em maquetes navais construídas pelos mestres artesãos que compõem o curso de Modelismo Naval do estaleiro escola.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta conclusão não constitui o fim deste estudo, mas uma proposição que suscita ainda muitas reflexões e processos de análise e percepções que necessitam ser exploradas de modo aprofundado. Escolhi relatar essa temática envolvendo a cultura das embarcações artesanais maranhenses para mostrar a relevância da tradição no contexto social, econômico e cultural do Estado e do povo maranhense que ainda utiliza as embarcações no seu cotidiano. 
Apresentei uma proposta de trabalho que é resultado da experiência desenvolvida no período de estágio no Museu das Embarcações Maranhenses/Forte Santo Antônio da Barra, das visitas feitas no Estaleiro Escola e principalmente da palestra e conversa com o Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrés, idealizador/Diretor do Estaleiro e grande pesquisador do assunto. As contribuições de um artigo deste segmento residem na possibilidade de trabalhar a preservação e a valorização dos profissionais e das embarcações artesanais, por meio do debate e reflexão a respeito dos mesmos, possibilitando ao mesmo tempo o conhecimento acerca da rica cultura popular maranhense.
Através desse trabalho, observamos a riqueza material das embarcações com a sua beleza cênica, as cores, quantidades, tipologias e também a riqueza imaterial com a tradição dos saberes da construção naval passado de geração a geração. Vale ressaltar também, que as embarcações são responsáveis por transportar economias por meio da pesca, passeios turísticos e transportes de cargas, passageiros e animais. Pontuo então, afirmando a necessidade de preservação e de políticas públicas para a manutenção e salvaguardadessa tradição. 
ANEXOS
Imagens- Museu das Embarcações Maranhenses/Forte Santo AntônioCanoa de Nova Iorque. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
Casquinho. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
Lancha de Timon. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
Rabeta. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
Canoa de Tasso Fragoso. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
Gambarra. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
 Igarité. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
Canoa de Tasso Fragoso. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
Canoa Costeira. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
Casquinho de Viana. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
Canoa de Benedito Leite. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
Canoa de um pau. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
Iate. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
Casco com proa de risco. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
Casco. Fonte: Museu das embarcações, 2017.
REFERÊNCIAS
ANDRÉS, Luiz Phelipe de Carvalho Castro. Embarcações do maranhão: Recuperação das técnicas construtivas tradicionais; São Paulo: Audichromo Editora, 1998. 
RODRIGUES, Laércio Gomes. Estaleiros artesanais: homens e barcos na construção de uma economia. Estação Científica (UNIFAP) Macapá, 2011.
ANDRÉS, Luiz Phelipe de Carvalho Castro. Carpintaria Artesanal No Estado Do Maranhão. UEMA: Revista brasileira de engenharia de pesca, 2008.
Sites:
Musel Nacional do Mar. Disponível em: <www.muselnacionaldomar.com.br/estrutura/maranhão> Acesso em 22/12/2017.
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Inventário do Patrimônio Imaterial - Os Barcos do Brasil. Disponível em: <www.iphan.gov.br> acesso em 22/12/2017
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