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Seleção Técnica de Reintegração Cromática


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Seleção Técnica de Reintegração Cromática
Alunos: Clara Betarelle, Daniel Siqueira, Ellen Fernandes, Laura Campos, Maya Bagnariol
 
5.1. Identificação das técnicas de reintegração
As técnicas de reintegração podem ser miméticas, visíveis ou diferenciadas.
Exemplo de reintegração mimética
Simulação realizada pela autora da tese “CRITÉRIOS DE INTERVENÇÃO E ESTRATÉGIAS PARA A AVALIAÇÃO
DA QUALIDADE DA REINTEGRAÇÃO CROMÁTICA EM PINTURA”. Fotos de Ana Bailão
Exemplo de tratteggio e de pontilhismo, imagens retiradas da internet. Disponível em <https://external-content.duckduckgo.com/iu/?u=https%3A%2F%2Fpm1.narvii.com%2F6813%2F7a1302077e7bd6df55a1b292bf0fbcdc3055e0eav2_hq.jpg&f=1&nofb=1&ipt=8f9008f55ff86c26c05a363cdd7c081b4c1dae6755fd0478435a1bf1007e5f0a&ipo=images>
5.1.1 Reintegração mimética
A técnica mimética, também conhecida como ilusionista ou integral, tem como objetivo fazer uma reintegração que seja invisível para o público, de forma que esta imita as cores, formas e texturas das lacunas.
A técnica mimética deve ser realizada em três etapas:
1. No estudo das referências formais e cromáticas existentes da pintura original;
2. No estudo da documentação fotográfica ou gráfica;
3. Nos estudos técnicos dos estratos e materiais constituintes. 
Exemplo da reintegração mimética. Fonte: Joana da Fonseca Diniz, 2015
5.1.2. Reintegração visível ou diferenciada
A reintegração visível ou diferenciada é perceptível ao olho do observador, mas não interfere na estética da obra. Ela consegue restituir grandes perdas da camada pictórica que prejudicam e interferem na leitura da obra, e mantém as marcas de pequenas deteriorações como craquelês que passam a fazer parte da história do objeto. Sendo assim podendo manter fielmente o potencial estético expressivo da obra e preservando parte de sua história
Exemplo de reintegração mimética (extraído de BERGEON, S. (1990) Science et. patience. Paris: Editions des musées nationaux, p. 203). 
Fonte: Ana Bailão, 2015.
a) Tom neutro, sub-tom e reintegração fragmentária
Os três procedimentos se antecedem da prática de restauro arqueológico.
O tom neutro é a reintegração caracterizada pela tonalidade acinzentada, formada pela junção de todos os tons da obra, para encobrir as lacunas. 
Essa técnica traz muita discussão, pois os resultados obtidos por esse método não são satisfatórios dado o fato de que não existe "cor neutra".
A utilização desse tom neutro gera contraste muito grande da tonalidade original da obra e não causa ilusão de ótica que atribui volume.
Pintura de Cosme Tura alusiva a São Lucas Evangelista, pintura sobre tábua, Florença, Museu da Casa Martelli. Visualização da obra após a reintegração cromática com a técnica astrazione cromaticapara obtenção de um tom neutro. Imagem retirada de MARIOTTI, Elena – Lacuna, Riflessioni sulle esperienze dell´Opificio delle Pietre Dure. Florença: Edifir – Edizioni Firenze, 2009, p. 168.(BAILÃO, 2015, p. 266).
Fonte: Ana Bailão, 2015
a) Tom neutro, sub-tom e reintegração fragmentária
A técnica de sub-tom muito utilizada em reintegração de cerâmicas, consiste numa tonalidade um pouco mais clara que a original. Essa técnica é muito utilizada na reintegração de craquelês, que podem ser formados por erros técnicos do pintor, como a dosagem errada de aglutinante e pigmento, que podem ficar à vista e prejudicar na leitura da obra.
A técnica do sub-tom não é recomendada para obras com grande área danificada, pois a tonalidade mais clara pode secundarizar a tonalidade original.
a) Tom neutro, sub-tom e reintegração fragmentária
Reintegração cromática em sub-tom na obra São Simão e São Judas Tadeu, de Ugolino de Nerio imagem retirada de SANCHEZ ORTIZ, Alicia - Restauración de obras de arte: pintura de caballete. Madrid: Ediciones AKAL S.A. 2012, p.250 (BAILÃO, p.264). 
Fonte: Ana Bailão, 2015
Pintura Apollon com reintegração de craquelês utilizando sub-tom. Imagem retirada de BERGEON, Ségolène - Science et. patience. Paris: Editions des musées nationaux, 1990, p. 241.
Fonte: Ana Bailão, 2015
a) Tom neutro, sub-tom e reintegração fragmentária
Muito utilizada em bens de caráter documental e obras primitivas, segundo Emile-Mâle, a reintegração fragmentária trás como solução deixar o suporte exposto desde que o mesmo possua a tonalidade natural próxima a camada pictórica, e não comprometa na leitura da obra. 
Para a tomada de decisão para utilizar essa técnica Emile-Mâle defende que é necessário um estudo crítico e conjunto.
Pintura a Virgem com o Menino, 1426-1427, Museu Diocesano di Velletri, Roma. Reintegração fragmentária.
Fonte: Ana Bailão, 2015
b) Tratteggio
Criado entre 1945-50, no Istituto Centrale del Restauro (ICR), pelos estudantes Paolo Mora e Laura Mora.
Sendo “mecânico e repetitivo” o tratteggio elimina qualquer criatividade na reintegração
Preparada em aquarelas, sendo facilmente visível e reversível
12 cores divididas entre luminosas, opacas e neutras
O tratteggio surge como um sistema de linhas rígidas, verticais e uniformes, de 1 a 1,5 cm de comprimento
Os primeiros traços são efetuados com intervalos regulares de 0,5 cm. Estes intervalos são preenchidos com uma cor diferente, e depois com uma terceira cor, de forma a reconstruir o tom requerido por justaposição de cores
Exemplo de reintegração com tratteggio. Fonte: Joana da Fonseca Diniz, 2015
c) Seleção cromática
Segue as formas e os volumes da composição através da aplicação de traços curtos e pequenos, de cores puras em três camadas, com efeito da cor reintegrada equivalente a original
Usam-se aguarelas ou pigmentos em pó aglutinados em verniz, e apenas as cores primárias e secundárias,
A vibração cromática é uma caraterística que mais evidente, com os traços do pincel nítidos.
É importante que o pincel contenha tinta suficiente para fazer um traço denso, curto, e ligeiramente curvo
Só pode ser efetuada quando há referências da cor e da forma a dar continuidade
Exemplo de reintegração com seleção cromática. Fonte: Joana da Fonseca Diniz, 2015
d) Seleção efeito de ouro
Cores utilizadas:
Amarelo - Representa o dourado do douramento.
Vermelho - Simula a argila de douradura.
Verde - Dá o aspecto metálico e a cor fria.
Processo de aplicação:
Preenchimento e nivelamento das massas nas lacunas.
Impermeabilização com goma laca clara para reduzir o branco intenso das massas.
Aplicação dos pigmentos em três passagens, com cores puras: amarelo, vermelho e verde.
Detalhes da aplicação e efeito das cores:
A direção de aplicação segue o ductus formal da composição da obra, podendo ser vertical, horizontal ou oblíqua.
O amarelo é aplicado com pequenos traços homogêneos e equidistantes.
A camada vermelha modela e faz vibrar a camada amarela.
O verde controla a intensidade de brilho e a temperatura de cor.
d) Seleção efeito de ouro
Detalhamento da reintegração
Fonte: Bailão, 2015
Detalhamento da reintegração
Fonte: Bailão, 2015
Reintegração de douramento
Fonte: Diniz 2016
d) Seleção efeito de ouro
Outros efeitos podem ser alcançados através da aplicação da técnica com algumas modificações
Efeito Patinado: Adição de uma quarta cor, um castanho transparente, para obter um efeito patinado; a escolha do castanho depende do aspecto original do ouro.
Reproduzir Prata: Substituição do verde pelo azul para reproduzir o efeito da prata.
e) Abstração cromática
“Segundo Ornella Casazza, quando é impossível ou não se deseja a reconstrução de lacunas, por falta de referências cromáticas ou formais, a reintegração deve atuar como um elo de ligação cromático entre os fragmentos remanescentes da obra, sem que se produza uma atuação arbitrária que derive num ato de imitação ou falsificação. A cor da abstração cromática é executada a partir dos valores cromáticos inerentes na pintura original. Considerando o tom neutro utilizado nos anos 1960 e 1970, esta técnica de reintegração é entendida como um melhoramento técnico, que tem como propósito, manter uma relação equilibrada com o original, sem imitá-lo oucompetir com ele. Esta técnica resulta da sobreposição sucessiva de camadas de cores puras, sob a forma de curtos traços, ligeiramente encurvados e espontâneos. Todavia, a orientação dos traços varia da primeira à quarta camada. As cores à base de têmpera de ovo da Daler-Rowney são as preferidas e a paleta é limitada. Os tons são combinados para criar uma opção quente e outra fria.” (BAILÃO, 2015, p. 282)
e) Abstração cromática
Primeira Camada:
Objetivo: Fechar ou reduzir a intensidade do branco da massa de preenchimento.
Traços: Orientação predominantemente vertical.
Segunda Camada:
Traços: Quase horizontais, cruzando os traços da primeira camada.
Tornam-se gestos livres e espontâneos da mão.
Duas Camadas Seguintes:
Traços: Aplicados com um ângulo oblíquo variável.
Cria uma trama de cores sobrepostas que é homogênea e variada.
Combinação de cores para a reintegração
Fonte: Bailão, 2015
e) Abstração cromática
Camadas da reintegração
Fonte: Bailão, 2015
Detalhes da reintegração
Fonte: Bailão, 2015
f) Pontilhismo
Conjunto de pontos de cores puras justapostas, adaptando-se a pinturas antigas e a pinturas recentes. 
Reintegração diferenciada ou ilusionista. 
“Sobre um fundo claro, mas que já levou uma fina camada de tinta mais fria e clara que o original, colocam-se pontos de cor, puros, de diferentes valores cromáticos, que vão recriar as formas. À semelhança da selezione cromática, também o pontilhismo restabelece a continuidade das linhas, formas e cores”(BAILÃO, 2015, p. 286)
f) Pontilhismo
Antes da reintegração
Fonte: Bailão, 2015
Depois da reintegração
Fonte: Bailão, 2015
Detalhes da reintegração
Fonte: Bailão, 2015
g) As novas tecnologias aplicadas à reintegração cromática
Com o avanço tecnológico possibilita-se a utilização de diversas ferramentas que possam auxiliar na prática de reintegração cromática.
No caso da utilização de scanners e fotografias que permitem o tratamento digital das lacunas simulando técnicas de reintegração sem tocar na obra.
Nesse caso deve-se atentar na hora da captação da imagem, uma vez que a mesma pode sofrer alteração cromática por diversos fatores, seja pela luminosidade do ambiente, a resolução da imagem e após a impressão.
g) As novas tecnologias aplicadas à reintegração cromática
Utiliza-se a colorimetria para reajuste óptico para medição e reprodução das cores
Em seguida a imagem captada é tratada dentro de softwares de edição de imagens e desenhos gráficos. O preenchimento das lacunas são feitos no software e em seguida, sobre suporte termoplástico é feita a impressão da reintegração produzida no computador.
Pra finalizar, a tinta da impressão é transferida para as lacunas através de adesivos. "Já foram testados o Beva® Film e suportes fotográficos em papel ou tela."(BAILÃO, 2015, p. 288)
g) As novas tecnologias aplicadas à reintegração cromática
Procedimento realizado nas pinturas murais de Antonio Palomino na Igreja de Santos Juanes. 
Sequência de imagens da transferência das imagens impressas em Papelgel
Fonte: Ana Bailão, 2015
5.2. Tomada de decisão: seleção da técnica de reintegração 
Nos séculos XVII e XVIII, Giovan Battista Bellori e J. J. Wickelmann desenvolveram os conceitos de autenticidade do objeto e a necessidade de sua preservação histórica e material. O objetivo da reintegração é tentar devolver a obra à sua leitura estética, salvaguardando os valores implícitos.
Portanto, esta operação estética deve obedecer a princípios éticos, alguns dos quais são:
1. Deverá limitar-se estritamente à área de lacuna, sem exceder os seus bordos e sem
ficar sobre as zonas de pintura original;
2. Não deverá ser hipotética ou feita por analogia, com o objetivo de evitar
falsificações ou confusões miméticas. Este aspeto não se cumpre de forma íntegra
no tipo de reintegração invisível ou ilusionista, sendo este um dos motivos pelo
qual se questiona a aplicação deste sistema;
3. Deverá ser facilmente identificável e reconhecida;
4. Deverá ser reversível, isto é, deve poder eliminar-se com facilidade quando
assim seja necessário, sem que seja perigoso para a pintura original, o que implica
a eleição de materiais mais frágeis que o original;
5. Deverão ser utilizados materiais estáveis, que sejam permanentes no seu
envelhecimento e inócuos no que diz respeito à matéria original. Portanto, antes
da sua utilização deverão estar testados suficientemente.
Depois de compreender os princípios éticos, é necessário reconhecer todos.
 Essas técnicas têm vantagens e limitações :
Método mimético
Vantagens:
Solução que pode adaptar-se a qualquer estilo de pintura;
Utilizada na reintegração de craquelures prematuros e de envelhecimento
Adequada para obras pouco danificadas e com poucas lacunas;
Solução para pinturas concebidas em modo de velaturas e com transparências
Método mimético
Desvantagens:
Pode promover a falsificação e o falso histórico;
Pode alterar o carácter artístico e plástico da obra se não se circunscrever à lacuna
Em obras muito danificadas, a criatividade e gosto pessoal do conservador-restaurador pode adquirir protagonismo.
Envelhecimento mais evidente, em relação ao original, por se tratar de uma mancha de cor
Método diferenciado:
Vantagens:
Solução para pinturas muito danificadas
Adequada para obras com médias e grandes lacunas
Não promove a falsificação e o falso histórico
Redução no uso do pigmento branco de titânio
Método diferenciado:
Desvantagens:
Solução que pode não se adaptar a todos os estilos de pintura
Alguns técnicas de reintegração diferenciada podem criar padrões ou efeitos que podem alterar a composição pictórica original
Envelhecimento menos evidente, por recorrer a tons distintos do original ou à mistura óptica.
Pode alterar o carácter artístico e plástico da obra se ganhar demasiado
protagonismo na execução
Todavia, as técnicas podem ser aplicadas em obras posteriores, inclusive sobre tela, se a textura pictórica e a dimensão das lacunas o permitirem, isto é, se não forem demasiado lisas e extensas. A dimensão da obra também influencia a decisão, uma vez que se for uma pintura pequena, de detalhe, o uso do tratteggio, deformará a visualização e interpretação da imagem. Não é recomendada a reconstrução de lacunas muito extensas ou que constituam mais de 20% imagem original. Porém, podem ser aplicadas em todo o tipo de obras e suportes, desde que a dimensão da obra e a textura pictórica o permita, assim como a dimensão e localização das lacunas. 
As duas primeiras (pontilhismo e tratteggio) têm como especificidade seguirem a forma da composição pictórica; - o pontilhismo aplica-se a todo o tipo de pintura, sobre madeira ou tela. É importante indicar que, à exceção do subtom, da reintegração fragmentária e da abstração cromática, as restantes técnicas, inclusive a mimética, necessitam de referências cromáticas e formais para poderem ser executadas. 
A maioria das obras, quando são entregues para intervenção, têm um propósito: uma exposição, a comercialização da obra ou a simples adoração e gosto pessoal pela mesma. Quando o conservador-restaurador é confrontado com um curto período de tempo para a execução do trabalho, quer a seleção cromática, quer o tratteggio, são mais rápidos de concretizar que o pontilhismo.
Referências
DINIZ, Joana da Fonseca. UM ESTUDO SOBRE A REINTEGRAÇÃO CROMÁTICA: UMA POSSIBILIDADE DE DIRETRIZES. Orientador: Humberto Farias de Carvalho. 2016. 119 f. TCC (Graduação) – Curso Conservação e Restauração, Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.
BAILÃO, Ana Maria dos Santos. Critérios de intervenção e estratégias para a avaliação da qualidade de reintegração cromática em pintura. 2015.
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