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PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PÚBLICO Luciane Rosa de Oliveira Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os objetivos do ciclo orçamentário. Esquematizar as fases do ciclo orçamentário. Indicar a responsabilidade na elaboração do ciclo orçamentário nas diferentes esferas públicas e os órgãos fiscalizadores. Introdução Neste capítulo, você vai estudar o ciclo orçamentário brasileiro, verificando as etapas do processo orçamentário brasileiro e as atividades recorrentes — cíclicas — da gestão dos recursos financeiros públicos. Esse processo é muito importante para as finanças públicas no Brasil, pois estrutura o orçamento público brasileiro. Ele promove, de forma legal, organizada e disciplinada, o planejamento, a aprovação, a execução, o controle e a avaliação da utilização de recursos financeiros públicos para a ação governamental em suas diferentes esferas (federal, estadual, distrital e municipal). As duas primeiras partes do capítulo apresentam o processo orça- mentário brasileiro e seus principais objetivos. Você vai compreender por que esse é um processo cíclico e como ele está estruturado para atender à Constituição Federal e à legislação orçamentária. Na sequência, você vai verificar as fases de planejamento, aprovação, execução, controle e avaliação do ciclo orçamentário brasileiro, estudando a interação entre o planejamento e o orçamento público. Na última parte do capítulo, você vai conferir quais são os órgãos envolvidos na elaboração e na fiscalização do ciclo orçamentário, verifi- cando suas responsabilidades e seus prazos nas diversas fases do processo orçamentário brasileiro, nas esferas federal, estadual, distrital e municipal. Dentre as responsabilidades, destacam-se a responsabilidade fiscal, a responsabilidade de cumprimento das exigências legais envolvidas no processo orçamentário e a responsabilidade social dos governantes com relação aos objetivos e às metas da gestão pública, configurando o desafio para os gestores públicos de equilibrar as responsabilidades fiscal e social. Ciclos do orçamento público O orçamento público é uma ferramenta do planejamento. Por meio do orça- mento, o governo estima receitas a serem arrecadadas via tributos e fi xa as despesas e os investimentos a serem executados. Agindo com responsabili- dade fi scal, o governo estabelece sua estratégia e defi ne diretrizes, objetivos e metas para a sua gestão, as quais são limitadas pelos recursos fi nanceiros disponíveis. Dessa estratégia, deriva um plano de ação para as diversas ati- vidades do governo. No Brasil, em conformidade com a legislação orçamentária (BRASIL, [2020a]), em que se destacam a CF/1988 (BRASIL, 1988) e a Lei de Responsabi- lidade Fiscal (LRF, Lei Complementar nº. 101, de 4 de maio de 2000) (BRASIL, 2000), o processo orçamentário público apresenta dois ciclos principais: um ciclo orçamentário plurianual de médio prazo (quatro anos) e um ciclo orça- mentário anual. O ciclo orçamentário plurianual, seguindo as boas práticas de gestão, segue o mandato de quatro anos dos governantes das diferentes esferas de governo (federal, estadual e municipal) e se caracteriza por ser estratégico, remetendo a um planejamento estratégico. O ciclo orçamentário anual traz a base para as operações das diferentes esferas de governo e se caracteriza por ser operacional, remetendo a um planejamento operacional. O modelo de orçamento público no Brasil tem base legal. A CF/1988 (BRA- SIL, 1988), em seu art. 165, estabelece os três instrumentos principais para o processo orçamentário brasileiro: a Lei do Plano Plurianual (PPA); a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); e a Lei Orçamentária Anual (LOA). O PPA tem por função estabelecer diretrizes, objetivos e metas de médio prazo (quatro anos) da administração pública para as despesas de capital e ou- Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos2 tras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro poderá ser iniciado sem estar incluído no PPA. A vigência de cada PPA inicia no segundo ano de mandato presidencial, terminando ao fim do primeiro ano do mandato seguinte. Sempre que necessário, o Executivo pode enviar projetos de revisão do PPA em vigor. O art. 165, § 1º, da CF estabelece que: “[...] § 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada” (BRASIL, 1988, documento on-line). A LDO estabelece metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício subsequente (para o ano se- guinte ao de sua elaboração e aprovação), orienta a elaboração da LOA, dispõe sobre os critérios e a forma de limitação de empenho, entre outras funções. O projeto de LDO deve ser enviado pelo Executivo Federal ao Congresso Nacional até o dia 15 de abril de cada ano, devendo ser devolvido para sanção até o dia 17 de julho do mesmo ano. O art. 165, § 2º, da CF (BRASIL, 1988, documento on-line) estabelece o seguinte: § 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. A LOA é o instrumento que permite a execução do plano de trabalho para o ano seguinte à sua elaboração. É o orçamento propriamente dito, uma lei que estima as receitas e fixa as despesas públicas para o período de um exercício financeiro. A LOA contém todos os gastos do governo federal, e seu projeto deve ser enviado ao Congresso Nacional até o dia 31 de agosto de cada ano. O processo legislativo orçamentário é especial e, por isso, todas as proposições 3Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos passam exclusivamente pela Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO). Trata-se de um órgão legislativo permanente do Congresso Nacional, composto por deputados federais e senadores, ao qual cabe o exame e o parecer sobre matérias orçamentárias, incluídas as contas apresentadas anualmente pelo presidente da República, os planos e programas nacionais, regionais e setoriais e o acompanhamento e a fiscalização orçamentária. O § 5º do art. 165 da CF (BRASIL, 1988, documento on-line) estabelece o seguinte: § 5º A lei orçamentária anual compreenderá: I – o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público; II – o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III – o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo poder público. No Congresso, a CMO discute a proposta enviada pelo Executivo, faz os ajustes que julgar necessários por meio de emendas e vota o relatório do pro- jeto na forma de um parecer. Esse parecer é levado ao plenário do Congresso para aprovação final e envio à sanção presidencial. O § 4º do art. 165 da CF (BRASIL, 1988, documento on-line) estabelece que “Os planos e programas nacionais, regionais e setoriais previstos nesta Constituição serão elaborados em consonância com o plano plurianual e apreciados pelo Congresso Nacional”. As informações sobre a tramitação das leis orçamentárias estão disponíveis no portal da Câmara dos Deputados.A Figura 1 resume os três principais instrumentos do orçamento público brasileiro. Figura 1. Principais instrumentos do orçamento público brasileiro. Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos4 Definição de ciclo orçamentário O ciclo orçamentário é o processo de planejamento, aprovação, execução, controle e avaliação do orçamento público. Denomina-se ciclo porque é um processo que se repete de forma cíclica. Ou seja, a última fase de um ciclo — no caso, o controle e a avaliação de sua execução em um período — auxilia na primeira fase do ciclo seguinte, ou seja, no planejamento e na execução em um novo período de um novo exercício fi nanceiro. O site do Senado Federal Brasileiro (BRASIL, [2020b]) coloca, em seu glossário, uma definição semelhante. Segundo essa fonte, o ciclo financeiro é a: Sequência de fases ou etapas que deve ser cumprida como parte do processo orçamentário. A maioria dos autores adota como fases do ciclo orçamentário as seguintes: elaboração, apreciação legislativa, execução e acompanhamento, controle e avaliação, quando, então, se inicia o ciclo seguinte. Corresponde ao período em que se processam as atividades típicas do orçamento público, desde sua concepção até a avaliação final (BRASIL, [2020b], documento on-line). No modelo do orçamento público brasileiro, considerando seus principais instrumentos legais (PPA, LDO e LOA), conforme mencionado, existem dois ciclos importantes: o ciclo orçamentário anual e o ciclo orçamentário plurianual. O ciclo orçamentário anual segue o PPA e tem quatro fases básicas, focadas em um único período anual, o exercício financeiro, isto é, o ano de exercício do orçamento: 1. Planejamento. 2. Aprovação. 3. Execução. 4. Controle e avaliação. A Figura 2 sintetiza o ciclo orçamentário anual e suas fases. 5Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos Figura 2. Ciclo orçamentário anual. O ciclo orçamentário plurianual — ou ciclo orçamentário ampliado — tem base no PPA e abrange quatro anos, com quatro ciclos orçamentários anuais e uma LDO e uma LOA para cada ano. A Figura 3 apresenta, de forma resumida, o ciclo orçamentário plurianual, considerando seus quatro ciclos orçamentários anuais. Figura 3. Ciclo orçamentário plurianual. Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos6 Objetivos do ciclo orçamentário O objetivo do orçamento público brasileiro é o planejamento fi nanceiro, ou seja, planejar a utilização dos recursos fi nanceiros arrecadados por meio dos tributos (impostos, taxas, contribuições, entre outros) e fi xar as despesas e os investimentos do governo. Esse planejamento fi nanceiro é essencial para ofe- recer serviços públicos adequados, além de especifi car gastos e investimentos que foram priorizados pelos poderes. Em síntese, o orçamento público, com base na legislação orçamentária (BRASIL, [2020a]), tem como objetivos principais: fazer uma estimativa realista das receitas que o governo espera arrecadar; fixar as despesas e os investimentos a serem efetuados com os recursos financeiros arrecadados. Em seu Portal da Transparência, a Controladoria Geral da União (CGU) afirma que “[...] as receitas são estimadas porque os tributos arrecadados (e outras fontes) podem sofrer variações ano a ano, enquanto as despesas são fixadas para garantir que o governo não gaste mais do que arrecada” (BRASIL, c2020, documento on-line). O processo orçamentário público brasileiro tem por objetivo principal ins- trumentalizar o orçamento público, dar-lhe uma estrutura sistematizada para as suas diversas fases. Todavia, em cada uma dessas fases, apresenta objetivos secundários, ao promover a elaboração das propostas do PPA, da LDO e da LOA, a apreciação e aprovação do Poder Legislativo, o monitoramento de sua execução e, por fim, o controle e a avaliação. A seguir, são descritos os objetivos secundários associados às fases do ciclo orçamentário. Planejamento: o ciclo orçamentário visa a auxiliar no planejamento das ações do governo e na elaboração das propostas orçamentárias, para apreciação e aprovação do Poder Legislativo. Aprovação: o ciclo objetiva prover, de forma estruturada, os instru- mentos legais e de gestão para a apreciação legislativa e a aprovação do orçamento público. Execução: o ciclo fornece uma base legal e de gestão para a execução do orçamento público. Controle e avaliação: o ciclo orçamentário visa a estabelecer parâme- tros para o monitoramento, o controle e a avaliação da disciplina fiscal do orçamento público e dos resultados obtidos na gestão dos recursos financeiros públicos. 7Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos Além disso, dada suas características de gestão cíclica, gestão de ciclo fechado e busca pela melhoria contínua, o Poder Executivo tem fases de con- trole e avaliação de ciclos plurianuais ou anuais anteriores estruturadas para também auxiliar no planejamento do período seguinte. A CGU faz menção a esse ciclo quando afirma que: A ideia é terminar cada ano com a LOA aprovada para o ano seguinte, ou seja, com todo o detalhamento dos gastos e receitas. A LOA é o que chamamos, de fato, de orçamento anual. A lei por si só também é grande e complexa, por isso é estruturada em três documentos: orçamento fiscal, orçamento da seguridade social e orçamento de investimento das estatais (BRASIL, c2020, documento on-line). Finalmente, um objetivo não menos importante do processo orçamentário é o fornecimento de informações sobre a eficácia da gestão pública. O processo orçamentário permite não somente o planejamento e a avaliação de resultados da gestão financeira, mas também o planejamento e a avaliação dos resultados da gestão pública do mandato do governante. Permite avaliar as responsabi- lidades fiscal e social do governo, ou seja, o bom uso do dinheiro público. A CGU menciona esse cruzamento de resultados qualitativos e quantitativos da gestão pública ao afirmar o seguinte: Uma vez que o orçamento detalha as despesas, pode-se acompanhar as prio- ridades do governo para cada ano, como, por exemplo: o investimento na construção de escolas, a verba para transporte e o gasto com a saúde. Esse acompanhamento contribui para fiscalizar o uso do dinheiro público e a melhoria da gestão pública (BRASIL, c2020, documento on-line). Os objetivos do ciclo orçamentário ficam mais claros quando se verificam suas fases com maior detalhamento. O tópico a seguir visa a discutir com maior detalhamento as fases do processo orçamentário. As fases do ciclo orçamentário O ciclo orçamentário, contando com as quatro fases básicas que compõem o ciclo orçamentário anual, ao ser analisado no contexto dos instrumentos previstos na CF/1988 (BRASIL, 1988) e do ciclo orçamentário plurianual, apresenta oito fases distintas, como indica Sanches (1993): Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos8 1. Fase do planejamento plurianual (PPA) 2. Fase de apreciação e adequação do PPA 3. Fase de proposição de metas e prioridades e de formulação de políticas de alocação de recursos (LDO) 4. Fase de apreciação e adequação da LDO 5. Fase de elaboração da proposta de LOA 6. Fase de apreciação, adequação e autorização legislativa 7. Fase de execução dos orçamentos 8. Fase de avaliação da execução e julgamento das contas A definição do número de fases do ciclo orçamentário pode ser controversa. Como visto, o ciclo orçamentário anual apresenta as seguintes quatro fases: 1. planejamento; 2. aprovação; 3. execução; 4. controle e avaliação. O ciclo orçamentário plurianual (ampliado) pode ser apresentado com as oito fases a seguir: 1. planejamento plurianual (PPA); 2. aprovação do PPA; 3. projeto da LDO; 4. aprovação da LDO; 5. projeto da LOA; 6. aprovação da LOA; 7. execução; 8. controle e avaliação. O ciclo orçamentário, porém, é apresentado por diferentes autores com um número diferente de fases. O ciclo anual pode, por exemplo, desdobrar o projeto e a aprovação da LDO e da LOA e ter seis fases. O ciclo plurianualpode desdobrar as fases anuais nos anos do mandato do governo e ter 26 fases (PPA, aprovação do PPA e mais seis fases por ano de mandato). Nenhum está incorreto. O que varia é tão somente o detalhamento que o autor pretendeu dar a cada uma das fases do ciclo anual ou plurianual. Fique atento: o número de fases dos ciclos orçamentários pode variar dependendo do autor consultado, mas as atividades do processo orçamentário permanecem as mesmas. Neste capítulo, o ciclo orçamentário plurianual aceita a sugestão de Sanches (1993), que indica oito fases. 9Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos A Figura 4, a seguir, mostra as oito fases do ciclo orçamentário, com base em Sanches (1993). Figura 4. Fases do ciclo orçamentário brasileiro. Fonte: Adaptada de Sanches (1993). As três fases de planejamento — planejamento plurianual, proposição de metas e prioridades e formulação de políticas de alocação de recursos para a LDO e elaboração da LOA — compreendem uma análise ambiental — das demandas sociais por serviços no curto e no longo prazo — e uma análise organizacional — das possibilidades do Estado em atender a essas demandas, considerando seus recursos financeiros e organizacionais. Desse conjunto de análises, considerando a limitação de recursos, vêm a definição de prioridades, as diretrizes e os objetivos para o mandato do governo, as metas — caracteriza- das por serem objetivos datados e quantificados correspondentes a indicadores sociais e financeiros — e as iniciativas para o atingimento dessas metas. Esse trabalho de elaboração, em uma perspectiva de médio prazo (plurianual de quatro anos), no caso do PPA, e anual, no caso da LDO e da LOA, deve ser apresentado ao Poder Legislativo para sua autorização. As fases de planejamento, segundo Sanches (1993, documento on-line), incluem: Além das tarefas relacionadas à estimativa da receita, um conjunto de ativida- des normalmente referidas como formulação do programa de trabalho — que compreende o diagnóstico de problemas, a formulação de alternativas, a tomada de decisões, a fixação de metas e a definição de custos —, a compatibilização das propostas à luz das prioridades estabelecidas e a montagem da proposta a ser submetida à apreciação do Legislativo. Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos10 As três fases de planejamento no ciclo orçamentário remetem ao que a teoria geral da administração chama, respectivamente, de planejamento estratégico, planejamento tático e planejamento operacional. Salvas as especificidades da Administração Pública no Brasil, o PPA pode ser associado ao planejamento estratégico da teoria da administração, a LDO, às diretrizes, metas e iniciativas do planejamento tático desdobradas do planejamento estratégico, e a LOA, ao planejamento operacional. As três fases de aprovação — apreciação e adequação do plano plurianual, apreciação e adequação da LDO e apreciação, adequação e autorização le- gislativa da LOA — compreendem a tramitação do PPA, da LDO e da LOA no Poder Legislativo. As propostas de cada uma são formalmente recebidas e divulgadas, têm um relator designado, são apreciadas pela CMO, no caso do orçamento federal, e submetidas para aprovação. Sanches (1993, documento on-line) coloca que, nesse processo, “[…] as estimativas de receita são revistas, as alternativas são reavaliadas, os programas de trabalho são modificados através de emendas, e os parâmetros de execução (inclusive os necessários a uma certa flexibilidade) são estabelecidos”. Nas seis primeiras fases do ciclo orçamentário plurianual, ou seja, as fases de elaboração do PPA, da LDO, da LOA e suas respectivas aprovações pelo Poder Legislativo, há o embate político entre forças majoritárias e minoritárias do Congresso Nacional. A apreciação e o debate sobre o planejamento e o orçamento público são, sobretudo, políticos. O poder hegemônico não é necessariamente igualitário ou justo, e existe uma questão ética no que concerne à vontade da maioria, se esta deve ser imposta à minoria ou se o caminho deve ser o de uma negociação que traga soluções aceitáveis para diferentes grupos. Dada, muitas vezes, a restrição de receitas e as diferentes ideologias políticas quanto ao tamanho do Estado, o planejamento e o orçamento público são observados com um viés político. Fique atento: o profissional que trabalha na elaboração e aprovação do orçamento público deve estar atento tanto aos aspectos da gestão pública quanto àqueles da gestão política, pois não basta a capacidade de gestão administrativa — é preciso haver capacidade política para saber se relacionar com pessoas com diferentes convicções políticas. 11Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos A fase seguinte, com o orçamento aprovado, ou seja, com a LOA aprovada, é a execução dos orçamentos. Essa fase se inicia com a programação do or- çamento, quando são definidos cronogramas de saída de recursos associados às entradas de receitas, projetando fluxos de caixa. Na sequência, tem-se a execução da arrecadação de receitas e dos desembolsos destinados às despesas e aos investimentos, acompanhados e monitorados pelos órgãos de fiscalização e controle via sistemas de controle interno, inspeções e auditorias. A última fase é a fase de controle e avaliação, ou avaliação da execução e julgamento das contas. O controle ocorre em dois momentos distintos: durante a execução, que é um controle de acompanhamento da execução, e como um controle final dos resultados obtidos após a execução. Nessa fase, são produzidos demonstrativos financeiros em conformidade com as normas legais, os quais já estão automatizados em sistemas para esse fim. Sanches (1983, documento on-line) afirma que, nessa fase final, dados e informações da execução “[…] são apreciados e auditados pelos órgãos auxiliares do Poder Legislativo (Tribunal de Contas e assessorias especializadas) e as contas julgadas pelo Parlamento”. A Figura 5, a seguir, mostra o ciclo orçamentário de oito fases com base em Sanches (1993). Figura 5. O ciclo orçamentário brasileiro. Fonte: Adaptada de Sanches (1993). Planejamento plurianual (PPA)(Executivo) Controle e avaliação Execução orçamentária Apreciação e aprovação da LOA (Legislativo) Projeto da LOA (Executivo) Apreciação e aprovação do PPA (Legislativo) Apreciação e aprovação do LDO (Legislativo) Projeto da LDO (Executivo) A cada 4 anos Anualmente Após a última fase do ciclo orçamentário, tem-se a retroalimentação de um novo ciclo. Dados, informações e avaliação de orçamentos (fiscais) e de planejamentos (sociais) são utilizados para novas fases de planejamento de ciclos orçamentários plurianuais ou anuais. Além disso, no caso de eventuais irregularidades detectadas pelos órgãos de fiscalização e controle ou pelo Congresso, investigações ou processos legais devem ser encaminhados, de acordo com as normas legais. Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos12 Acesse os links a seguir para conferir os principais documentos citados neste capítulo. CF/1988 https://qrgo.page.link/31BJU Legislação orçamentária https://qrgo.page.link/8u3UM LRF https://qrgo.page.link/wNMdw Responsabilidades As responsabilidades no processo orçamentário estão distribuídas entre os poderes. É importante saber quem são os responsáveis — quanto ao processo em si e aos prazos — por cada fase do ciclo orçamentário. Neste capítulo, o destaque é para a elaboração e a aprovação dos projetos de lei e para o controle e a avaliação pelos órgãos fi scalizadores. A elaboração dos projetos de lei do PPA, da LDO e da LOA é responsabi- lidade do Poder Executivo em todas as esferas de governo (federal, estadual e municipal). O Poder Executivo trabalha com os demais Poderes e prepara o orçamento público para o conjunto do governo. Assim: cabe ao presidente da República, enquanto chefe do Poder Executivo Federal, a liderança na elaboração e o encaminhamento dos projetos de lei do PPA, da LDO e da LOA ao CongressoNacional; cabe ao governador do estado ou do Distrito Federal a chefia da elabo- ração dos projetos de lei de seu estado e o encaminhamento à respectiva Assembleia Legislativa (ou Câmara Distrital) de seu estado; cabe ao prefeito municipal a coordenação dos projetos de lei de seu município e seu encaminhamento à respectiva Câmara de Vereadores. 13Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos Especificamente, quem coordena a elaboração dos três projetos de lei do orçamento público federal — ou Orçamento Geral da União — é a Secretaria de Orçamento Federal (SOF) junto aos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), e quem os encaminha ao Congresso Nacional é a presidência da República. A apreciação e a aprovação dos projetos de lei do PPA, da LDO e da LOA cabem ao Poder Legislativo das diferentes esferas de governo (federal, estadual e municipal); assim: cabe ao Congresso Nacional a apreciação e a aprovação na esfera federal; cabe à Assembleia Legislativa (ou Câmara Distrital) do estado a apre- ciação e aprovação na esfera estadual; cabe à Câmara de Vereadores a apreciação e aprovação na esfera municipal. O Poder Legislativo (Congresso Nacional, Assembleia Legislativa Estadual, Câmara Distrital e Câmara de Vereadores) tem a responsabilidade de discutir, propor emendas, aprovar esses projetos de lei com suas propostas orçamen- tárias e, após o término dos exercícios, julgar as contas apresentadas pelo Poder Executivo. Os órgãos fiscalizadores As atividades de controle e avaliação do ciclo orçamentário são divididas em dois grupos: o controle interno e o controle externo. O controle interno tem a responsabilidade de verifi car se as atividades incluídas no ciclo orçamentário foram executadas de acordo com os objetivos planejados e as regras de execu- ção. O controle externo avalia se os demonstrativos do controle interno estão corretos, em uma espécie de auditoria. Na esfera federal, o controle interno é responsabilidade da CGU, com participação dos ministérios e dos demais poderes. Órgãos fi scalizadores similares fazem o controle interno nas esferas estadual e municipal. O Poder Legislativo nas diferentes esferas de governo — Congresso Nacional na esfera federal, Assembleia Legislativa na esfera estadual e Câmara dos Vereadores na esfera municipal — é o responsável pelo controle externo, que avalia a execução do orçamento, assim como verifi ca indicadores sociais e a efi ciência do Poder Executivo e de sua gestão. O Tribunal de Contas da União (TCU) é o órgão de controle externo do governo federal responsável pela fiscalização contábil, financeira, orçamentá- ria, operacional e patrimonial dos órgãos e entidades públicas do país quanto Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos14 à legalidade, à legitimidade e à economicidade. É, portanto, o órgão federal responsável pela auditoria das contas públicas. Além do TCU, o Brasil tem 26 tribunais de contas estaduais, um tribunal de contas no Distrito Federal, três tribunais de contas de municípios de estados (Bahia, Goiás e Pará) e dois tribunais de municípios (São Paulo e Rio de Janeiro). Auditorias similares às do TCU ocorrem nos tribunais de contas estaduais e municipais. Abaixo, a título de exemplo, está o Relatório Analítico e Projeto de Parecer Prévio do Tribunal de Contas do Distrito Federal, sobre as contas do Distrito Federal do exercício de 2015. Fonte: Adaptada de Martins (2017). 15Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos Prazos no ciclo orçamentário União, estados, Distrito Federal e municípios têm diferentes responsabilidades quanto a prazos para as fases do ciclo orçamentário. Os prazos da União são previstos na Constituição, os prazos dos estados são defi nidos na Constituição Estadual e no Regimento Interno da Assembleia Legislativa, e os prazos dos municípios são estabelecidos na Lei Orgânica do Município e no Regimento Interno da Câmara Municipal. Os prazos para as atividades do ciclo orçamentário na esfera federal são: PPA ■ 31 de agosto do primeiro ano de mandato do presidente eleito: envio do projeto de lei do PPA do Poder Executivo ao Legislativo. ■ 15 de dezembro: aprovação do PPA pelo Poder Legislativo. Nota: o recesso do Congresso não inicia até a aprovação. ■ 31 de dezembro: encerramento do exercício. O Poder Executivo geralmente divulga relatório de avaliação da execução do PPA em até três meses do encerramento de cada exercício. LDO ■ 15 de abril: envio do projeto de LDO do Poder Executivo ao Le- gislativo. O novo governo, no primeiro ano, deve se basear no PPA elaborado no governo anterior. ■ 30 de junho: aprovação da LDO pelo Poder Legislativo. Nota: o recesso de meio de ano do Congresso não inicia até a aprovação. LOA ■ 31 de agosto: envio do projeto de LOA do Poder Executivo ao Legislativo. ■ 15 de dezembro: aprovação do PPA pelo Poder Legislativo. Nota: o recesso do Congresso não inicia até a aprovação. ■ Divulgação até 30 dias após a publicação da LOA. O Poder Executivo, de acordo com as determinações da LRF, deve divulgar o cronograma mensal de desembolso e a programação financeira. ■ A cada dois meses, o Poder Executivo deve verificar o cumprimento da meta fiscal. Caso seja necessário, é solicitado um contingen- Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos16 ciamento de despesas aos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Divulgação de relatórios sobre a execução do orçamento: ■ até 30 dias após o final de cada bimestre, o Poder Executivo deve divulgar um relatório bimestral de acompanhamento da execução orçamentária; ■ até 30 dias após o final de cada quadrimestre, os três Poderes devem divulgar um relatório de gestão fiscal para comparação das despesas com pessoal e o montante da dívida pública com os limites previstos na Legislação (LRF). Prestação de contas e parecer do TCU: ■ até 60 dias após a abertura da sessão legislativa (15 de fevereiro), o Poder Executivo deve apresentar suas contas do ano anterior ao Legislativo; o Poder Legislativo deve julgar as contas apresentadas pelo Executivo e, para isso, não há prazo fixado; ■ até 60 dias após o recebimento das contas, o TCU deve emitir parecer prévio sobre as contas dos três Poderes. O Quadro 1 apresenta uma síntese dos prazos do governo federal no ciclo orçamentário. 17Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos G ru p o A çã o R es p o n sá ve l P ra zo s A n o 1 A n o 2 A n o 3 A n o 4 PP A En vi o do p ro je to d e le i Po de r E xe cu tiv o pa ra o L eg is la tiv o A té 3 1/ 08 A pr ov aç ão Po de r L eg is la tiv o A té 1 5/ 12 Re la tó rio d e av al ia çã o da e xe cu çã o Po de r E xe cu tiv o A té tr ês m es es d o en ce rr am en to d e ca da e xe rc íc io fi na nc ei ro (3 1/ 12 ) LD O En vi o do p ro je to d e le i Po de r E xe cu tiv o pa ra o L eg is la tiv o A té 1 5/ 04 A pr ov aç ão Po de r L eg is la tiv o A té 3 0/ 06 LO A En vi o do p ro je to d e le i Po de r E xe cu tiv o pa ra o L eg is la tiv o A té 3 1/ 08 A pr ov aç ão Po de r L eg is la tiv o A té 1 5/ 12 C ro no gr am a m en sa l d e de se m b ol so s e pr og ra m aç ão fi na nc ei ra Po de r E xe cu tiv o 30 d ia s ap ós a a pr ov aç ão d a LO A Ve rif ic aç ão d a m et a fis ca l ( e ev en tu al c on tin ge nc ia m en to ) Po de r E xe cu tiv o A c ad a do is m es es Q u ad ro 1 . R es p on sa bi lid ad e de p ra zo s no c ic lo o rç am en tá rio d a U ni ão (C on tin ua ) Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos18 Fo nt e: A da pt ad o de (1 ) C on st itu iç ão d e 19 88 , ( 2) L ei d a Re sp on sa bi lid ad e Fi sc al (L ei C om p le m en ta r n o. 1 01 , d e 4 de m ai ode 2 00 0) e ( 3) L ei 4 .3 20 /1 96 4. G ru p o A çã o R es p o n sá ve l P ra zo s A n o 1 A n o 2 A n o 3 A n o 4 Re la tó rio d a ex ec uç ão o rç am en tá ria Po de r E xe cu tiv o 30 d ia s ap ós o fi na l d e ca da b im es tr e Re la tó rio d e ge st ão fi sc al Po de re s Ex ec ut iv o, Le gi sl at iv o e Ju di ci ár io 30 d ia s ap ós o fi na l d e ca da q ua dr im es tr e A pr es en ta c on ta s do a no a nt er io r Po de r E xe cu tiv o pa ra o L eg is la tiv o A té 6 0 di as a p ós a a b er tu ra d a se ss ão le gi sl at iv a (1 5/ 02 ) Pa re ce r p ré vi o so br e as co nt as d os tr ês P od er es TC U A té 6 0 di as a p ós o re ce bi m en to da s co nt as p el o Tr ib un al Ju lg am en to d as c on ta s ap re se nt ad as p el o Po de r E xe cu tiv o Po de r L eg is la tiv o Se m p ra zo d ef in id o Q u ad ro 1 . R es p on sa bi lid ad e de p ra zo s no c ic lo o rç am en tá rio d a U ni ão (C on tin ua çã o) 19Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos A responsabilidade pela elaboração do ciclo orçamentário, nas diferentes esferas públicas, e pelo controle e avaliação dos órgãos fiscalizadores, pode ser detalhada quando se discute os órgãos existentes da estrutura dos três Poderes. Por exemplo: a responsabilidade pela elaboração do PPA é do Poder Executivo; porém, quem lidera é a presidência da República, e quem organiza os dados e informações é a SOF. Esse detalhamento, assim como dados e informações sobre o orçamento público e seu processo, estão disponíveis nos portais das diferentes esferas de governo, os quais adotam práticas de transparência de gestão. Para saber mais sobre responsabilidades e prazos no ciclo orçamentário do seu estado ou município, acesse na internet: a Constituição do seu Estado e/ou o Regimento Interno da Assembleia Legislativa; a Lei Orgânica do Município e/ou o Regimento Interno da Câmara Municipal. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/consti- tuicao.htm. Acesso em: 9 jan. 2020. BRASIL. Lei Complementar no. 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Diário Oficial da União, 5 maio 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci- vil_03/leis/lcp/lcp101.htm. Acesso em: 9 jan. 2020. BRASIL. Lei no. 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Finan- ceiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Diário Oficial da União, 23 mar. 1964. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm. Acesso em: 9 jan. 2020. BRASIL. Ministério da Economia, Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Siop Legis: legislação orçamentária. [2020a]. Disponível em: http://www.planejamento.gov.br/ assuntos/orcamento-1/legislacao. Acesso em: 9 jan. 2020. Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos20 BRASIL. Orçamento público. Portal da Transparência. c2020. Disponível em: http://www. portaltransparencia.gov.br/entenda-a-gestao-publica/orcamento-publico. Acesso em: 9 jan. 2020. BRASIL. Senado Federal. Ciclo orçamentário. [2020b]. Disponível em: https://www12. senado.leg.br/orcamento/glossario/ciclo-orcamentario. Acesso em: 9 jan. 2020. MARTINS, J. R. P. Relatório analítico e projeto de parecer prévio sobre as contas do Governo do Distrito Federal – Exercício de 2015: manifestação do Ministério Público de Contas do DF. Brasília, 2017. 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Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 21Ciclo orçamentário: processo e órgãos envolvidos