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Método Autobiográfico na Pesquisa


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SANTOS, H. T., GAMS, G. M. Z. Método autobiográfico e metodologia de narrativas: contribuições, especificidades e possibilidades para pesquisa e formação pessoal/profissional de professores. In: II Congresso Nacional de formação de professores- XII Congresso Estadual Paulista Sobre Formação de Educadores. pp. 4095-4106. 07-09 de Abril, 2014. Disponível em: Http://WWW.geci.ibilce.unesp.br. Acesso em: 25/08/2020.
ABRAHÃO, H. M. B. Memória, narrativas e pesquisa autobiográfica. In: História da Educação, ASPHE/Fa/UFPEL. Pelotas, n. 14, p. 79-95, set. 2003.
ECKSCHMIDT, Sandra. A arte de lembrar e esquecer: narrativas autobiográficas de professores (as) sobre a sua infância. Dissertação (Mestrado) em educação- Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC: Florianópolis, 2011.
FERRAROTTI, F. Sobre a autonomia do método biográfico. In: NÓVOA, Antônio; FINGER, M. (Orgs). O método autobiográfico e a formação. Natal, RN: EDUFRN; São Paulo: Paulus, 2010.
O método autobiográfico surgiu no ano de 1920, disseminado por sociólogos americanos da Escola de Chicago. Sendo concebido como a ciência das mediações capaz de traduzir comportamentos individuais ou microssociais. Porém, naquele começo de século, não adquiriu a importância que hoje apresenta.
Nessa perspectiva, Santos & Gams (2014), afirmam que este método passou a ser usado mais recentemente como forma autônoma de seu uso, em diversas áreas do saber humano. Sendo reivindicado cada vez mais nos dias atuais, especialmente por apresentar aspectos com viés a possibilitar um entendimento mais particular e delimitado a respeito de um indivíduo, em uma determinada sociedade. 
O método autobiográfico é constituído a partir dos arcabouços da pesquisa. Como prática essencial em outros métodos. Nesse sentido, a pesquisa autobiográfica pertence ao âmbito das narrativas, consistindo na coleta e organização de informações previamente selecionadas (ABRAHÃO, 2003).
Ainda de acordo com Abrahão (2003), pode-se compreender que o método autobiográfico se constitui, dentre outros elementos, a partir de narrativas produzidas por solicitação de um pesquisador. Estabelecendo-se entre pesquisador e entrevistado, uma forma peculiar de intercâmbio de informações e ideias que constituem todo o processo de investigação. Pesquisado e pesquisado, nessa perspectiva, são duas faces da mesma moeda. Esta autora destaca que O trabalho com narrativas autobiográficas implica a forte participação do indivíduo, o qual compromete-se com o processo de reflexão, orientado a partir de seu interesse, e que o leva a definir e a compreender seu processo de formação. Segundo a referida autora:
O estudo autobiográfico é uma construção da qual participa o próprio investigador, razão pela qual, dada a particularidade de seu modo de produção, é, seguramente, a forma de máxima implicação entre quem entrevista e é entrevistado (ABRAHÃO, 2003, p. 85).
Para a construção desse método, as fontes de informação constituem-se distintas das habitualmente utilizadas. As fontes disponíveis de serem utilizadas nesse processo de construção são diversas. Podendo-se lançar mãos de narrativas, história oral, fotos, vídeos, filmes, diários, documentos em geral (ABRAHÃO, 2003).
Nesse sentido, os materiais acima identificados, podem ser identificados a partir de dois tipos, isto é, as narrativas autobiográficos recolhidas por um pesquisador por meio de entrevistas, e os materiais biográficos secundários por apresentarem maior objetividade, como recursos fotográficos, textos, etc.
 Mas, o uso correto do método exige que o pesquisador abandone os privilégios concedidos pelos materiais secundários, é busque a prioridade para o discurso verbal direto do entrevistado. Como destaca Ferrarotti:
Devemos voltar a trazer ao coração do método biográfico os materiais primários e sua subjetividade explosiva. Não é só a riqueza do material biográfico primário que nos interessa, mas também, sobretudo, a sua pregnancia subjetiva no quadro de uma comunicação interpessoal complexa e reciproca entre o narrador e o observador (FERRAROTTI, 2010, p. 43).
Dentre os aspectos que permeiam esse método, podemos especificá-los por tratar-se de um método dependente de memória, característica essencial na constituição do narrador. O qual reconhece a realidade social multifacetária. Vivenciada de modo holístico e integrado. As pessoas envolvidas encontram-se em constante processo de autoconhecimento. Trabalha com emoções e intuições, com subjetividades antes do objetivo, diferindo-se, assim, esse método dos demais (ABRAHÃO, 2003; SANTOS & GAMS, 2014).
Sustenta-se em dados qualitativos, tornando-se perspectiva de novos conhecimentos (SANTOS & GAMS, 2014). Além disso, caracterizando-se pela ausência de objetividade (SANTOS & GAMS, 2014).
O método autobiográfico tem, também, sido utilizado como crítica às metodologias positivistas e interacionistas (SANTOS & GAMS, 2014). Nesse sentido, não precisa estabelecer generalizações estatísticas, mas sim analíticas no processo de compreensão do contexto. Nesse sentido, “as narrativas permitem, dependendo do modo como nos são relatadas, universalizar as experiências vividas nas trajetórias de nosso informante” (ABRAHÃO, 2003, p. 81).
	Em síntese, a construção cientifica a partir deste método revela-se bastante importante para a compreensão do ser humano em sua singularidade, bem como perante a sociedade, especialmente por transcender questões temporais. Como afirma Abrahão (2003, p. 82):
As histórias de vida são entendidas como um documento positivo em detrimento da reconstrução do processo de produção desse documento, desde que as historias de vida são vistas como indicativo de um dado momento no tempo passado, deixando-se tematizar o momento presente da enunciação (ABRAHÃO, 2003, p. 82).
Outro aspecto interessante quanto à estrutura do método autobiográfico, diz respeito à necessidade do recorte espacial que vise delimitar um determinado fato ou fenômeno humano. A narrativa autobiográfica possui o caráter de compreender uma ação humana a partir das especificidades de um determinado momento. Assim:
A construção da biografia narrativa não é uma narrativa de vida, tal como resultaria da narração de uma história de vida considerada em sua globalidade. É o fruto de um processo de reflexão parcial, a meio caminho do percurso seguido pelo sujeito no decorrer da vida. Cada etapa desse percurso se constitui tanto no fim de uma interrogação como é o ponto de partida de outra. (SANTOS & GAMS, 2014, p. 4099).
Durante as últimas décadas a Educação também tem reconhecido o potencial das narrativas como uma metodologia de pesquisa, de desenvolvimento pessoal e profissional dos professores (ECKSCHMIDT, 2011; SANTOS & GAMS, 2014). Nesse sentido, diversos são os autores que abordam a pesquisa autobiográficas, especialmente, quando atreladas às Ciências da educação. Dentre os estudiosos que fazem discussões a respeito desse método, destaca-se Ferraroti (2010), Eckschmidt (2011), dentre outros.
Pesquisas a partir das narrativas autobiográficas estão sendo amplamente utilizadas nos estudos das ciências sociais, pois contribuem para o estudo da forma como os seres humanos experimentam o mundo. Assim ocorre na pedagogia, porque, por meio das histórias de vida, pode-se descobrir o que os professores conhecem sobre o ensino, como estão organizando seu conhecimento e como ele se transforma a partir da experiência.
 
As narrativas autobiográficas com o embasamento teórico do método autobiográfico utilizada para compor uma análise com ênfase nas narrativas de histórias de vida pessoais/profissionais de professores pode revelar a constituição diversos aspectos de interesse de uma investigação educacional. Pois, a escolha desse método qualitativo, que vai além das metodologias qualitativas tradicionais, viabiliza o diálogo, a análise e a discussão sobre diversos aspectos que auxiliam na formação de professores. SANTOS & GAMS, 2014, p. 4096).
Em outras palavras, narrativas autobiográficas são uteis para avaliar a repercussão das experiênciasde vida e da formação nas práticas profissionais. Todavia, não necessitam estar em consonância com o método autobiográfico, pois por si mesmas se constituem uma metodologia completa.
A pesquisa com o uso de narrativas não se refere apenas a uma metodologia qualitativa, mas a uma perspectiva específica para a pesquisa em Educação, a qual pressupõe uma mudança no que se entende como conhecimento em ciências sociais. Ao contrário da abordagem positivista que valoriza a objetividade e reforça o distanciamento entre o pesquisador e o sujeito, as narrativas se assumem subjetivas e valorizam a subjetividade: convidam os sujeitos a falarem sobre si mesmos, dá-lhes a palavra (SANTOS & GAMS, 2014, p. 4104).
Na Educação, a perspectiva da narrativa autobiográfica pode ser utilizada para a construção de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades e atitudes, no desenvolvimento pessoal e profissional dos professores e na própria pesquisa educacional: “A utilização desse método visa a não apenas colaborar com a ciência da educação trazendo novas dimensões e conhecimentos como também colocar o sujeito na posição de protagonista de sua formação e do processo de investigação sobre ela”, (SANTOS & GAMS, 2014, p. 4099).
Conforme ressaltado na dissertação de mestrado de Sandra Eckschmidt (2011) as implicações que as narrativas autobiográficas ocasionam para o processo formativo do profissional em educação, são inúmeros. O exame desse gênero de narrativas permite aos professores em formação inicial ou continuada aprenderem, de forma ativa, a desenvolver suas capacidades de análise e decisão, construir conhecimentos e aprender a lidar com situações complexas, desenvolver habilidades de comunicação e estimular a autoconfiança.
Quando os professores são, ao mesmo tempo, atores e autores de suas narrativas, consentem que outros professores tenham acesso aos acontecimentos pessoais e profissionais, seus sucessos e fracassos, suas perspectivas sobre o ensino e a aprendizagem.
Outros professores, ao lerem, analisarem e discutirem as narrativas de seus colegas atribuem a ela um sentido e dela se apropriam de modo muito particular, devido às experiências pelas quais já passaram. E apesar do distanciamento em que estão colocadas as narrativas para quem as lê, ocorrerá uma possível aproximação, uma identificação com os acontecimentos narrados pelo outro (ECKSCHMIDT, 2011).
Por outro lado, a leitura, a análise e a discussão das narrativas sobre as práticas e conhecimentos dos professores ensejam o aprofundamento e o desenvolvimento de mais conhecimentos sobre o ensino e aprendizagem.

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