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1 FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA 2 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 1ª edição Ipatinga – MG 2021 3 FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva Bruna Luiza Mendes Leite Carla Jordânia G. de Souza Guilherme Prado Salles Rubens Henrique L. de Oliveira Design: Brayan Lazarino Santos Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Luiza Filgueiras Taisser Gustavo de Soares Duarte © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br http://www.faculdadeunica.com.br/ 4 Menu de Ícones Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São sugestões de links para vídeos, documentos científicos (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo abordado. Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações importantes nas quais você deve ter um maior grau de atenção! São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada unidade do livro. São para o esclarecimento do significado de determinados termos/palavras mostradas ao longo do livro. Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 5 SUMÁRIO SER CRIANÇA NO BRASIL: DESAFIOS E CONQUISTAS ............................ 8 1.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 8 1.2 CONCEPÇÕES DE CRIANÇA E DE INFÂNCIA .............................................. 8 1.3 HISTÓRIA E POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À INFÂNCIA NO BRASIL ............... 10 1.4 ALGUNS MARCOS LEGAIS ..................................................................... 15 FIXANDO CONTEÚDO .................................................................................. 20 A EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA HISTORICIDADE .................................... 26 2.1 A EDUCAÇÃO INFANTIL NA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LEI 9.394/96) .................................................................................... 26 2.2 OS REFERENCIAIS CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL 29 2.3 AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL ..... 32 2.4 A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR ............. 35 O ENSINO FUNDAMENTAL E HISTORICIDADE ......................................... 49 3.1 O ENSINO FUNDAMENTAL NA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LEI 9.394/96) .................................................................................... 49 3.2 OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL ............................................................................................................................... 52 3.3 O ENSINO FUNDAMENTAL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR .......... 59 FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 63 DA EDUCAÇÃO INFANTIL AO ENSINO FUNDAMENTAL – O PROCESSO DE TRANSIÇÃO E AS EXIGÊNCIAS DE UM NOVO CENÁRIO ....................... 68 4.1 ENTENDA A LEGISLAÇÃO ..................................................................................... 68 4.2 OS DESAFIOS ÀS CRIANÇAS E AOS EDUCADORES ............................................ 71 4.3 ALTERNATIVAS PARA SUPERAR OS DESAFIOS DA TRANSIÇÃO .......................... 74 4.4 A EDUCAÇÃO INFANTIL E O ENSINO FUNDAMENTAL NO CENÁRIO DE PANDEMIA DO COVID19 ..................................................................................... 76 FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 83 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL .................................................................... 89 5.1 O SUJEITO APRENDENTE COMO PONTO DE PARTIDA ........................................ 89 5.2 O DOCENTE COMO MEDIADOR DO CONHECIMENTO ...................................... 93 5.3 OS PROJETOS DE TRABALHO REDIMENSIONANDO A EXPERIÊNCIA EDUCATIVA ............................................................................................................................... 94 5.4 EDUCADORAS RELATAM EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS .................................. 97 5.4.1 Projeto “Cores, aromas e sabores”. ........................................................... 97 5.4.2 Projeto “Nossa Formatura” ....................................................................... 100 5.4.3 Projeto “Sonhar, economizar e realizar” ................................................ 102 5.4.4 Projeto “4º ano no mundo do silêncio” ................................................. 104 FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................. 107 UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 04 UNIDADE 05 6 O DESAFIO DA FORMAÇÃO DE EDUCADORES(AS) ............................ 112 6.1 A FORMAÇÃO DOCENTE: ASPECTOS LEGAIS ................................................... 112 6.2 A FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE ..................................................................... 117 6.3 A FORMAÇÃO CONTINUADA DOCENTE .......................................................... 120 6.4 A ESCOLA COMO LÓCUS PRIVILEGIADO DE FORMAÇÃO .............................. 121 6.5 RELATANDO UMA EXPERIÊNCIA ........................................................................ 121 FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................. 124 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................. 130 REFERÊNCIAS ......................................................................................... 131 UNIDADE 06 7 CONFIRA NO LIVRO A Unidade I discutirá sobre os conceitos de criança e de infância, abordará aspectos da história e das políticas de atendimento à infância no Brasil, destacando a importância de alguns documentos que normatizam e asseguram, pela via do direito, uma vida mais digna para as crianças, incluindo o direito à Educação. A Unidade II abordará aspectos legais e históricos que reafirmam o caráter educacional da Educação Infantil, reconhecida como a primeira etapa da Educação Básica e estabelecem e orientam o acesso às creches e pré-escolas como um dever do Estado e direito de todas as crianças. A Unidade III tratará do EnsinoFundamental nos diferentes documentos normativos elaborados no Brasil nas últimas décadas, como a Lei de Diretrizes e Bases Nacionais da Educação, os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular. A Unidade IV discutirá o processo de transição da Educação Infantil para o primeiro ano do Ensino Fundamental, apresentando os desafios envolvidos nesse processo e algumas possibilidades para superá-los. Também serão discutidas as mudanças que ocorreram na educação com a suspensão das aulas devido à pandemia do Covid-19. A Unidade V apresentará algumas práticas pedagógicas que consideram educandos/as como protagonistas e construtores ativos de seu conhecimento, destacando também o papel dos/as educadores/as como mediadores. Compartilhará práticas educativas desenvolvidas na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A Unidade VI discutirá aspectos relevantes acerca da formação de educadores/as, como elemento indispensável de valorização do sujeito e de qualidade na educação. 8 SER CRIANÇA NO BRASIL: DESAFIOS E CONQUISTAS 1.1 INTRODUÇÃO Ao falarmos de infância e de criança, é possível que nos venha à mente um período da vida muito prazeroso, no qual é possível brincar, explorar, investigar, interagir com os pares, viver experiências de afeto, de acolhimento, de aconchego, de respeito à individualidade e às características da faixa etária. Mas é também possível pensarmos em crianças que tiveram e ainda têm uma infância roubada, seja pelo trabalho precoce, seja por uma mentalidade familiar e social que considera a infância como um período sem especificidades, no qual a criança é vista como uma miniatura de adulto ou, ainda, que percebe a criança como um ser incompleto, como uma “folha em branco”, um vir a ser, sendo a infância vista, sobretudo, como preparação para a vida adulta. Isso nos mostra que as concepções de infância e de criança são construções históricas, ou seja, uma ideia, um conceito, que vai passando de geração a geração e se transformando com o passar do tempo. Certamente, a forma como a criança é percebida e tratada na atualidade, em nossa cultura, se difere muito de como ela era percebida e tratada há alguns anos, há alguns séculos. E, ainda, a forma como cada cultura compreende as suas crianças é muito própria e específica. É sobre isso que vamos discutir nesta primeira unidade. Certamente será um estudo instigante, pois você, estudante, terá a oportunidade de utilizar os seus conhecimentos prévios para a construção do sentido desse texto. Inicialmente, discutiremos sobre os conceitos de criança e de infância, como construções históricas. A seguir, você conhecerá um pouco da história e das políticas de atendimento à infância no Brasil e, nessa discussão, entenderá a importância de alguns documentos que normatizam e asseguram, pela via do direito, uma vida mais digna para esses indivíduos, incluindo aí, o direito à Educação. 1.2 CONCEPÇÕES DE CRIANÇA E DE INFÂNCIA UNIDADE 01 9 Ao longo da história, vamos percebendo que as concepções de criança e de infância vão se alterando e trazendo novos sentidos para se pensar esse ser e essa fase da vida. Philippe Ariés, um importante historiador francês, considerado o pioneiro na discussão sobre a história social da criança, faz um resgate histórico a partir do século XII. Em seu livro, Ariès (2017) mostra que a forma como se via a criança e a infância se ligava diretamente ao modelo de civilidade em cada época, as concepções vão se alterando ao longo da história. Por isso, é preciso entendermos que a infância é uma construção histórica e a forma como a concebemos hoje se diferencia muito de períodos anteriores, nos quais ela era invisibilizada ou compreendida de forma bem distinta da qual a compreendemos hoje. Para se ter uma ideia, durante a Idade Média, não existia a concepção de criança, pois ela era vista como miniatura do adulto, o que pode ser confirmado, por exemplo, ao observarmos imagens de criança daquela época. As vestimentas, o envolvimento das crianças com o trabalho, vão reforçando essa afirmação e mostrando que não existia uma diferenciação do que era próprio da criança e próprio do adulto. O estilo despojado, alegre e confortável que conhecemos na atualidade nada tem a ver com a forma com que meninos e meninas eram vestidos/as naquela época. Isso reforça a ideia apresentada anteriormente, de que a criança era vista como uma miniatura de adulto. Sarmento (2007) nos fala da invisibilidade que a infância teve ao longo da história, afirmando que “o olhar adultocêntrico sobre a infância registra especialmente a ausência, a incompletude ou a negação das características de um humano ‘completo’” (SARMENTO, 2007, p. 33). Ou seja, a criança era encarada do ponto de vista da falta, da incompletude e não como um ser pleno em potencialidades e em especificidades que a marcam. Ampliando essa discussão, Cunha (2016, p. 50) afirma que a infância é um “conceito gradualmente construído nas consciências, bem como o conceito de família e de afetividade entre os seus integrantes”, o que reforça a ideia de que ela é construída historicamente, a partir de diferentes percepções, contextos e culturas. E que assim como o conceito de infância, o de família também se altera e marca as relações afetivas entre os seres humanos. Se atualmente a criança é resguardada fisicamente e emocionalmente e se temos a convicção de que ela precisa ser 10 amada, respeitada e valorizada, precisamos entender que houve uma evolução nas mentalidades e nas legislações, quanto à forma de se conceber a criança e a infância. Não vamos aqui explorar todo esse histórico, pois nos concentraremos na discussão sobre o contexto brasileiro, mas amplie o seu conhecimento, a partir das indicações a seguir. 1.3 HISTÓRIA E POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À INFÂNCIA NO BRASIL Quando falamos em história e políticas de atendimento à infância no Brasil, https://bit.ly/3zUGiLe 11 um marco importante a ser considerado é a Constituição Federal de 1988, que coloca a infância no campo do direito. Cunha (2016) faz um importante resgate histórico da infância no Brasil e diz que em nosso país há um atraso, por exemplo, nas políticas de escolarização das crianças, se nos compararmos aos países europeus, o que pode ser relacionado à herança colonizadora deixada ao nosso país, como a separação das crianças de suas famílias nos naufrágios ou, ainda, à escravidão, que desconsiderava completamente as crianças, sendo que muitas eram comercializadas pelo seus pais, como força de trabalho. Assim, essas crianças deixavam seu país de origem e vinham para o Brasil, para trabalhar tanto nas embarcações, quanto na colônia. Essa autora relata maus tratos cometidos contra as crianças nas viagens marítimas para o Brasil, como a falta de alimentação adequada, escassez de água, agressões físicas, ambientes sujos e em condições subumanas, abusos sexuais cometidos por marujos que vinham nas embarcações, dentre tantas outras atrocidades. Esse período deixou marcas expressivas na história da infância, principalmente, das crianças negras e pobres. Para se ter uma ideia, no período da escravidão, o indivíduo só tinha reconhecida a sua identidade a partir dos 14 anos. Cunha (2016), tendo como referência outros estudos, fala ainda sobre a pouca idade com que as meninas se casavam, o que era permitido desde os 12 anos de idade e, com isso, já assumiam todas as tarefas de um adulto. Em seguida à ocupação do território brasileiro, o processo de catequização da população inicia com as crianças indígenas, pelos jesuítas, por se acreditar que seria uma via mais fácil de se atingire catequizar também os adultos. Esse processo de aculturação alterou o modo de vida das crianças, já que a elas eram ensinados alguns ofícios e dedicados alguns cuidados, visando atingi - las e, consequentemente, catequizar aos seus pais, o que era o principal objetivo dos jesuítas. 12 Del Priori (2000) apud Cunha (2016), fala da invisibilidade das crianças negras no período colonial, que, por hereditariedade, já nasciam escravas e, ainda, sofriam com más condições alimentares, crendices e outras práticas que comprometiam a saúde e o desenvolvimento infantil, o que causava alto índice de mortalidade infantil. Cunha (2016) afirma ainda que entre os séculos XVIII e XIX, no Brasil, muitas crianças, principalmente as pobres e órfãs, a partir dos 07 anos, eram recrutadas para trabalharem nos navios. Na história do Brasil, entre os séculos XVIII e XIX, um fato muito frequente era o abandono de crianças pobres, que ficavam sob a guarda de instituições de caridade, como as Santas Casas de Misericórdia, mosteiros, conventos, dentre outros. As crianças abandonadas, muitas ainda bebês, eram colocadas nas Rodas dos Expostos ou Roda dos Enjeitados, dispositivo no qual eram colocadas por alguém da família e entregues, de forma anônima, às instituições de caridade. A criança era colocada do lado de fora, em um orifício da roda, a pessoa a rodava e ela se movia até o interior das instituições. Era habitual os adultos, geralmente as mães, que cometiam esse ato, deixarem bilhetinhos ou alguma informação acerca daquela criança que ali estava sendo deixada. As rodas eram instaladas nos muros das instituições para, assim, manter o anonimato das mães que abandonavam as crianças, geralmente por falta de condições de criá-las em decorrência da pobreza, ou por serem mães solteiras, ou as crianças serem fruto de um adultério, dentre outros motivos. 13 Figura 1: Roda dos Expostos (1825 - 1961) da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Fonte: Santa Casa de Misericórdia de São Paulo ( 2021, online) Há registros também do abandono de crianças em localidades onde não existia a Roda dos Expostos, sendo estas colocadas, geralmente, nas portas das igrejas. Se avançarmos um pouco mais e chegarmos ao período de industrialização no Brasil (séc.XX), vamos encontrar naquele contexto um cenário também desolador quanto ao trabalho das crianças, principalmente nos grandes centros urbanos. Trabalhos perigosos, sem proteção, em péssimas condições de higiene, o que favoreciam o adoecimento e mortalidade infantil. De acordo com Cunha (2016, p. 54) As crianças contratadas para trabalhar nessas fábricas, muitas vezes tinham apenas oito anos de idade e só para lembrar alguns dos riscos que corriam, podemos falar sobre os ferimentos nas máquinas que poderiam trazer sequelas físicas irreversíveis ou morte prematura das crianças, bem como o perigo de choques elétricos [...] Além dos acidentes de trabalho, eles tinham que enfrentar os maus-tratos dos patrões e chefes, que muitas vezes chegavam a lhes causar ferimentos. Esses se esqueciam que apesar de operárias, continuavam crianças e lhes exigiam um desempenho profissional de adultos. Uma discussão interessante feita por Moura (2000) apud Cunha (2016) é que a necessidade da criança em brincar resistia a esse cenário de exploração através do trabalho. Ou seja, as crianças, em seu ambiente de trabalho, muitas vezes eram pegas 14 brincando, já que essa é uma linguagem própria da infância e, por isso, eram castigadas pelos seus patrões. Esse cenário desolador, de exploração do trabalho infantil é muito comum ao longo de nossa história ganhando características próprias em cada período. Se analisarmos as estatísticas acerca do trabalho Infantil nas últimas décadas no Brasil, perceberemos uma queda expressiva nos números, o que pode ser explicado pelas políticas de proteção à infância, efetivadas nas últimas décadas. No entanto, é ainda assustador perceber que o trabalho infantil continua sendo uma realidade em nosso país, demandando novas legislação, plena efetivação das leis já existentes e, principalmente, a mudança de mentalidade da população com relação aos direitos e necessidades das crianças. Leia, no quadro a seguir, informações retiradas do site do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (2021, online): O trabalho infantil ainda é uma realidade para milhões de meninas e meninos no Brasil. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PnadC), em 2016, havia 2,4 milhões de crianças e https://bit.ly/3kLmuFG https://bit.ly/3ujzeGx https://bit.ly/3m5ZjoV 15 adolescentes de cinco a 17 anos em situação de trabalho infantil, o que representa 6% da população (40,1 milhões) nesta faixa etária. Cabe destacar que, desse universo, 1,7 milhão exerciam também afazeres domésticos de forma concomitante ao trabalho e, provavelmente, aos estudos. A maior concentração de trabalho infantil está na faixa etária entre 14 e 17 anos, somando 1.940 milhão. Já a faixa de cinco a nove anos registra 104 mil crianças trabalhadoras. Figura 2: Banner do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil Fonte: FNPETI (2020, online) Esse banner é também um instrumento potente de conscientização acerca do trabalho infantil, produzido pelo Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil. Analise-o e reflita a respeito. 1.4 ALGUNS MARCOS LEGAIS Ao falarmos em políticas públicas de proteção à infância, citamos alguns dos documentos que surgiram nas últimas décadas em nosso país, visando garantir direitos às crianças e atendimento às suas especificidades. Um marco importante é a Constituição Federal (CF) de 1988. O princípio da dignidade humana é um avanço teórico para as crianças e adolescentes em nosso país, ao receberem uma atenção diferenciada, manifesta em Lei. Segundo o Art. 227, (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de https://bit.ly/3EWo6V4 16 2010): É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, [1988] 2020, Art. 227). A Convenção sobre os Direitos da Criança, construída pela Organização das Nações Unidas - ONU em 1989, é também um marco importante da história da infância e da criança. Tendo como um dos fundamentos a Declaração Universal dos Direitos, essa Convenção parte do princípio de que todo cidadão precisa ter garantidos os seus direitos, independente de raça, cor, sexo, língua, etc. Sendo assim, esse documento procura resguardar às crianças, o bem-estar, o direito a um ambiente familiar, o respeito à sua condição, a proteção e cuidados especiais. Importante salientar que essa Convenção é fruto de um acordo assinado por vários países, dentre eles, o Brasil, que a validou no ano de 1990. Outro documento de grande relevância e que, certamente você conhece ou, pelo menos, já ouviu falar, é o Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA, instituído pela Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. O documento retoma pontos importantes da Constituição Federal, reafirmando a necessidade de se resguardarem a dignidade e os direitos das crianças e dos adolescentes em nosso país (BRASIL, 1990). Como lemos no Art. 7º do ECA, “a criança e o adolescente têm direito à proteção à vida eà saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.” (BRASIL, 1990, Art. 7º). O ECA é um documento bastante denso, que trata de uma multiplicidade de situações de garantia de direitos, como o direito à vida, à saúde, à liberdade, ao respeito e à dignidade. Fala também do direito à convivência familiar e comunitária, à educação, cultura, esporte e lazer; trata da profissionalização e proteção ao trabalho para adolescentes com idade superior a 14 anos, sendo vedado o trabalho antes dessa idade; apresenta mecanismos de proteção contra abusos sexuais e atribui penalidades contra os infratores; trata de proteção quanto à exposição às mídias digitais, orienta sobre a proibição de venda de produtos e serviços a menores; apresenta a necessidade de políticas de atendimento e quais instituições 17 promoverão esse atendimento; orienta quanto a atos infracionais e medidas socioeducativas, dentre outros pontos. Interessante destacar que o ECA altera a forma como a criança e o adolescente eram tratados em nossa sociedade, concedendo-lhes direitos e proteções, de grande significado. O Art. 3º do Estatuto mostra, de forma enfática, os direitos a serem defendidos e gozados pelas crianças e adolescentes. Vejamos: A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 1990). Esse breve histórico visou mostrar como a infância vem sendo concebida em nosso país. A seguir, falaremos um pouco mais sobre os aspectos ligados diretamente à educação escolar. Até a década de 1980, a legislação educacional tratava a faixa etária de 0 a 6 anos, trazia em si a concepção que se tinha à época. Esse período era considerado anterior ao que se entendia verdadeiramente como escola (a partir do Fundamental). Ou seja, o que vinha antes do Ensino Fundamental não era ainda considerado um período escolar de relevância, com as suas potencialidades e especificidades. Acesso em: 10 maio 2021 https://bit.ly/3m9ujEn 18 Acreditava-se, sim, que era uma fase propedêutica, preparatória para o Ensino Fundamental, para a escolarização propriamente dita. Não existia nenhuma legislação que fundamentasse e coordenasse a pré-escola e a mesma não era obrigatória. Assim, não era necessário se ter uma formação acadêmica para ser educador/a de crianças pequenas. O que se presenciava, na maioria das vezes, eram instituições que ofereciam apenas serviços de cuidados às crianças. A pré-escola era um local onde as mães deixavam os/as seus/suas filhos/as para serem cuidados/as, enquanto elas trabalhavam. Gostar de criança, geralmente, era suficiente para ser educadora na pré- escola. Parte dessas instituições, ancoradas na concepção preparatória da educação, realizavam os intermináveis “exercícios de prontidão”, com as crianças, por considerarem que atividades daquela natureza favoreceriam o ingresso delas no Ensino Fundamental. Entretanto, não se pode negar que, antes da década de 1980, muitas instituições já se fundamentavam em um conceito mais ampliado de infância e de educação e desenvolviam um trabalho de vanguarda para a época. Nesse cenário, um marco importante para a educação das crianças de 0 a 6 anos de idade, em nosso país foi a Constituição Federal de 1988. Pela primeira vez na história, a criança foi considerada como um sujeito de direito à educação. A Constituição, em seu Art. 205, define a Educação como um direito de todos e dever do Estado e da família e isso teve grande significado para a educação das crianças em nosso país. O art. 206 estabelece os princípios sobre os quais a educação deve versar. Vejamos: Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I. igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II. liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III. pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV. gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; (BRASIL, [1988] 2020, Art. 206) Como se pode perceber, a igualdade de acesso e a gratuidade do ensino constituem elementos importantes dessa lei no contexto da infância em nosso país. 19 Alguns anos depois, em 1996, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), através da Lei 9.394/96, legislação ainda vigente, que constitui um marco importante para a educação de nosso país. Essa legislação insere a Educação Infantil como primeira etapa da educação básica, conferindo-lhe direitos até então inexistentes (BRASIL, 1996). Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil foram implementados dois anos após a promulgação da LDB, fruto da necessidade de um documento que desse direcionamento às instituições de Educação Infantil, a fim de que estruturassem o seu trabalho a partir do Cuidar, do Brincar e de Educar, como eixos integrados e indissociáveis. Nessa mesma época foram implementados também os e os Parâmetros Curriculares Nacionais, com orientações para os demais segmentos da educação básica (Ensino Fundamental e Médio). Já em 2010 foram elaboradas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, como fundamentos importantes para a elaboração das propostas curriculares pelas escolas. Posteriormente, em 2017, é implementada a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como documento normativo e obrigatório a todas as escolas do país. Na próxima unidade trabalharemos, mais detalhadamente, sobre esses documentos. Continue conosco. Porém, antes de continuar, volte a essa unidade, retome as suas marcações e anotações e procure escrever, com as suas palavras, o que de mais significativo você considerou desse conteúdo. Essa é uma boa maneira de estudar e sistematizar conhecimentos. Vamos lá? 20 FIXANDO CONTEÚDO 1. Leia o trecho dessa música que, certamente, você já conhece. Era uma vez (Kell Smith) Era uma vez O dia em que todo dia era bom Delicioso o gosto e o bom gosto das nuvens serem feitas de algodão Dava pra ser herói no mesmo dia em que escolhia ser vilão E acabava tudo em lanche Um banho quente e talvez um arranhão Dava pra ver, a ingenuidade a inocência cantando no tom Milhões de mundos e universos tão reais quanto a nossa imaginação Bastava um colo, um carinho E o remédio era beijo e proteção [...]. Essa música nos remete ao tempo bom e prazeroso da infância, como a consideramos atualmente. Mas, de qual infância estamos falando? Iniciamos os nossos estudos buscando compreender como o conceito de criança e de infância foram se constituindo com o passar do tempo. Sobre isso, leia os excertos abaixo. I. A infância sempre foi considerada como um período dotado de especificidades, no qual a criança precisava ser compreendida em suas características e necessidades; II. As concepções de infância e de criança são construções históricas III. A forma como as crianças são percebidas e tratadas na atualidade, em nossa cultura, se difere muito de como ela era percebida e tratada há alguns anos, há alguns séculos. IV. Cada cultura compreende as suas crianças de forma própria e específica. Assinale a alternativa CORRETA: a) Todas as alternativas são corretas; b) Todas as alternativas são falsas; c) Apenas a alternativa I é verdadeira d) Apenas as alternativas III e IV são corretase) Apenas a alternativa I é falsa. 21 2. A imagem a seguir retrata uma família abastada, do século XVII. Ela nos instiga a observar vários elementos, dentre eles, as vestimentas de adultos e de crianças. Levando em consideração o seu estudo acerca das concepções de Infância e criança ao longo da história, é possível relacionar essa figura, à seguinte concepção: Figura 3: Sir Thomas Lucy of Charlecote and Family, c. 1625 Fonte: Wikimedia commons. Autor desconhecido a) A criança era vista e considerada em sua individualidade, em suas especificidades; b) A criança era vista como uma miniatura de adulto; c) As famílias eram numerosas e as crianças tinham o direito de brincar e de explorar as inúmeras possibilidades que o contexto lhes oferecia. d) As crianças usavam trajes específicos, apropriados às características e necessidades da infância. e) As crianças, filhas de famílias abastadas, usavam trajes característicos da infância. 3. (Concurso Público, Prefeitura de Maracajá - SC, 2020 . Adaptada). O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) representa um importante passo numa sociedade capitalista, onde a mão de obra barata representa produção e lucro. O Art. 1º dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. O Art. 3º do ECA assegura à criança e ao adolescente: 22 a) O desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. b) O desenvolvimento educacional que assegure um trabalho digno depois de formado. c) O direito de ser criança, que compreende a faixa etária de zero a oito (8) anos. d) A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais privadas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. e) O desenvolvimento psíquico, já que esse é considerado o mais relevante. 4. Para analisarmos a história da criança e da infância em nosso país, contamos com as contribuições de Cunha (2016). O estudo desse autor nos mostra que: I. No período de colonização de nosso país, as crianças eram trazidas nas embarcações, com péssimas condições de higiene, de alimentação e de cuidados, de maneira geral; II. Muitas crianças que vieram para o Brasil no período da colonização foram comercializadas e separadas de suas famílias. III. No período colonial a infância não era considerada. Inclusive, a identidade só era concedida às pessoas aos 14 anos de idade. IV. IV) As crianças indígenas foram catequizadas pelos jesuítas que tinham como objetivo principal catequizar os pais delas, através da aproximação das crianças. Após analisar as afirmativas acima, marque a alternativa correta. a) Todas as alternativas são falsas b) Apenas a alternativa II é falsa c) Todas as alternativas são verdadeiras d) Apenas a alternativa IV é falsa e) Apenas a alternativa I é verdadeira. 5. O reconhecimento dos direitos da criança, do jovem e do adolescente é fruto de um processo lento e gradual, em nosso país. Foram necessárias muitas ações, muitas lutas, para se ver garantidos, pelo menos em teoria, direitos a todos e todas cidadãos/ãs brasileiras. 23 Leia o art. abaixo, retirado de um documento oficial: Art. 227: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá- los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” Esse artigo encontra-se inserido em qual documento? a) Declaração Universal dos Direitos Humanos b) Convenção sobre os Direitos da Criança c) Constituição Federal de 1988 d) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e) Estatuto da Criança e do Adolescente 6. Leia e analise a tirinha a seguir: Fonte: Jean Galvão, Folha de S.Paulo. Essa tirinha nos mostra a triste e dura realidade do trabalho infantil, ainda presente em nosso país, embora muito combatida pelas políticas de proteção à infância, efetivadas em nosso país nas últimas décadas. Um dos documentos que assegura uma vida digna a crianças e adolescentes. Segundo esse documento, “ a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando- lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes 24 facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 1990). A qual documento estamos nos referindo? a) À Constituição Federal de 1988; b) À Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional c) Ao relatório do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil d) Ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e) Ao Estatuto do Conselho Tutelar. 7. A história da infância no nosso país, bem como as políticas educacionais de atendimento a essa faixa etária é construída a partir de marcos legais. Leia as informações a seguir e relacione-as adequadamente. I. Constituição Federal de 1988 II. Convenção sobre os Direitos da Criança III. Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 IV. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ( ) Trata de uma multiplicidade de situações de garantia de direitos, como o direito à vida, à saúde, à liberdade, ao respeito e à dignidade. Fala também do direito à convivência familiar e comunitária, à educação, cultura, esporte e lazer; trata da profissionalização e proteção ao trabalho, para adolescentes com idade superior a 14 anos, sendo vedado o trabalho infantil antes dessa idade; apresenta mecanismos de proteção contra abusos sexuais e e penalidades contra os infratores, dentre outros. ( ) Pela primeira vez na história, a criança foi considerada como um sujeito de direito à educação. ( ) Foi construída pela Organização das Nações Unidas - ONU em 1989, tendo como um dos fundamentos a Declaração Universal dos Direitos. ( ) Insere a Educação Infantil como primeira etapa da educação básica, conferindo- lhe direitos até então, inexistentes. 25 Marque a alternativa que apresenta a ordem correta: a) III, I, IV, II b) IV, I, II, III c) III, I, II, IV d) I, IV, II, III e) IV, I, III, II 8. No processo histórico de garantia de direitos das crianças e dos adolescentes em nosso país, criou-se um órgão público, de responsabilidade do município, para proteger e garantir os direitos desses indivíduos, explicitados em Lei. A que órgão estamos nos referindo? a) Conselho Escolar b) Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil c) Conselho Tutelar d) Estatuto da Criança e do Adolescente e) Nenhuma das alternativas anteriores 26 A EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA HISTORICIDADE A Educação Infantil vem sendo constituída no âmbito legal com a integração das creches e pré-escolas nos sistemas de ensino após a Constituição de 1988 e a publicação do ECA que estabeleceram também que o acesso à creche e à pré- escola é um direito da família e dever do Estado. Desde então, houve a ampliação da discussão sobre como deveria ser a proposta pedagógica dessas instituições, de modo que fossem coerentes com o atendimento das crianças de até 5 anos. Nesta unidade, serão apresentados e discutidos alguns documentos que surgiram a seguir, que mostram as mudanças que ocorreram no atendimento da criança de até 5 anos no ambiente escolar e tecem orientaçõessobre a organização da oferta da Educação Infantil, sendo eles : a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) em 1996, os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil em 1998, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil em 2010 e a Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil, em 2017. 2.1 A EDUCAÇÃO INFANTIL NA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LEI 9.394/96) Em 1996, com a promulgação da nova Lei de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), a Educação Infantil passou a integrar a Educação Básica juntamente com o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, reafirmando o direito à educação para as crianças de 0 a 5 anos, assegurado na Constituição de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990. Com essa ação, as creches que historicamente foram construídas vinculadas a área da assistência, são então legitimadas como instituições educativas com metodologias e propostas pedagógicas específicas para a faixa etária atendida. De acordo com a lei em seus art. 29 e 30, a Educação Infantil está organizada em duas etapas: creche e pré-escola, sendo que a creche contempla o UNIDADE 02 27 atendimento da faixa etária de 0 a 3 anos, e a pré-escola às crianças de 4 e 5 anos. Sua oferta deve ser organizada pelas intuições de ensino com carga horária mínima anual de 800 horas, distribuída por no mínimo 200 dias letivos. O atendimento à criança estipulado pela lei é de no mínimo, de quatro horas diárias para o turno parcial e de sete para a jornada integral. Sua finalidade é promover o desenvolvimento integral da criança no aspecto físico, psicológico, intelectual e social. A função da escola é complementar a ação da família e da comunidade (BRASIL, 1996). A avaliação das crianças é tratada na seção II do art. 31º determinando que ela deve ocorrer “mediante o acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental” (BRASIL, 1996, Art. 31). Dessa forma, é necessário que a avaliação considere que o processo de ensino e aprendizagem ocorre gradualmente e auxilie o professor no acompanhamento do desenvolvimento da criança, sendo, para isso, utilizados recursos qualitativos como observações, relatórios e registros. O art. 4º trata do dever do Estado com a educação escolar pública e em relação a Educação Infantil, a lei determina que deve ser efetivada mediante a garantia de: I. educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: a) pré-escola; b) ensino fundamental; c) ensino médio; II. educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade (BRASIL, 1996, Art. 4º). E no art. 6º, a LDB assegura que é dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4 anos de idade (BRASIL, 1996). Entretanto, a idade mínima de ingresso na pré-escola foi definida pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) que, em 09 de outubro de 2018, elaborou as Diretrizes Operacionais complementares para a matrícula inicial de crianças na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. Em relação à Educação Infantil, de acordo com o art. 2º, foi definido que as crianças que completam 4 (quatro) anos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula inicial, é obrigatório o seu ingresso na pré-escola. Já as que completam essa idade mínima após a referida data, devem ser matriculadas na creche, primeira etapa da Educação Infantil. Ainda segundo o documento, essa data do corte etário é “vigente em 28 todo o território nacional, para todas as redes e instituições de ensino, públicas e privadas” (BRASIL, 2018, p.1). Embora na legislação não haja a obrigatoriedade da matrícula nessa etapa da Educação Infantil, a creche (0 a 3 anos) é um direito da criança e de sua família, e de acordo com o art. 4º da LDB, há obrigatoriedade de o poder público oferecer esse atendimento e mais precisamente, os municípios. Segundo o inciso V do art. 11 da referida Lei, compete ao município a responsabilidade pelo oferecimento da Educação Infantil e do Ensino Fundamental: oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino (BRASIL, 1996, Art. 11). Com a LDB ocorreu um avanço na concepção de Educação Infantil, ao ser definida uma educação que considera a criança como um sujeito de direitos. A creche deixa de ser vista como uma instituição assistencialista responsável apenas pelas ações de cuidados básicos com alimentação, higiene, sono e segurança das crianças e passa a exercer uma função fundamental no seu processo de desenvolvimento e de aprendizagem. Com a incorporação da Educação Infantil aos sistemas municipais de ensino 29 as creches passam a assumir práticas de educação e cuidados que possibilitem a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo-linguísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser completo, total e indivisível (BRASIL, 1996). 2.2 OS REFERENCIAIS CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL Para subsidiar os sistemas educacionais na elaboração ou implementação de programas e currículo da Educação Infantil, em 1998, em consonância com a LDB, são publicados os “Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (RCNEI)”, organizados pelo Ministério da Educação (BRASIL, 1998). Trata-se de um documento orientador de caráter instrumental e didático, entendido como um guia reflexivo com conteúdo e orientações didáticas destinadas aos profissionais que atuam nesse nível de ensino respeitando a diversidade cultural brasileira. Segundo o documento o objetivo da proposta é: [...] contribuir para o planejamento, desenvolvimento e avaliação de práticas educativas que considerem a pluralidade e diversidade étnica, religiosa, de gênero, social e cultural das crianças brasileiras, favorecendo a construção de propostas educativas que respondam às demandas das crianças e seus familiares nas diferentes regiões do país (BRASIL, 1998, p. 07). O RCNEI está organizado em três volumes: Introdução, formação pessoal e social e conhecimento de mundo. No volume introdutório são feitas considerações sobre a criança e o ato de educar. É apresentado o referencial teórico, uma retrospectiva histórica das concepções de educação que nortearam esse nível de ensino ao longo da história, e o perfil profissional necessário para o atendimento da oferta educacional voltada para a Educação Infantil. https://bit.ly/3CXu8To 30 O documento propõe modificar a concepção assistencialista que predominou o trabalho nas creches e pré-escola e rever as concepções sobre a infância, as relações entre classes sociais, as responsabilidades e o papel do Estado com as crianças. Nesse volume, o conceito de infância está atrelado à condição social, ao considerar que podem existir várias infâncias dependendo da classe social e também de acordo com as diferenças econômicas, culturais, religiosas e individuais que fazem parte do cotidiano infantil. Como define o documento: A concepção de criança é uma noção historicamente construída e conseqüentemente vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e época. Assim é possível que, por exemplo, em uma mesma cidade existam diferentesmaneiras de se considerar as crianças pequenas dependendo da classe social a qual pertencem, do grupo étnico do qual fazem parte. Boa parte das crianças pequenas brasileiras enfrentam um cotidiano bastante adverso que as conduz desde muito cedo a precárias condições de vida e ao trabalho infantil, ao abuso e exploração por parte de adultos (BRASIL, 1998, p. 21) As orientações estão pautadas no direito ao atendimento de crianças de zero a cinco anos. Os princípios que norteiam o referencial consideram as especificidades afetivo-emocionais, sociais e cognitivas das crianças, e indicam que as qualidades das experiências oferecidas podem contribuir para o exercício da cidadania. São eles: o respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas etc.; o direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil; o acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento, à ética e à estética; a socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma; o atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade. (BRASIL, 1998, p. 13) Os outros volumes contemplam os processos de construção de identidade e autonomia das crianças. O conhecimento de mundo apresenta seis eixos: Música, Movimento, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática. 31 O documento elenca o cuidar e o educar como elementos indissociáveis, e aponta que mesmo havendo um consenso sobre a necessidade de que a educação nessa faixa etária deva promover a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivo, cognitivos e sociais, considerando a criança um ser completo e indivisível, nas práticas encontradas existem divergências na forma como os trabalhos são conduzidos, porque muitas vezes é priorizado um aspecto em detrimento de outro. Há práticas que privilegiam os cuidados físicos enquanto outras contemplam apenas as necessidades emocionais. O RCNEI avança nas discussões sobre a concepção de criança, que é então concebida como um ser social, psicológico e histórico, e que o ponto de partida para o trabalho na educação infantil deve ser o mundo à sua volta. É defendido um modelo de educação democrática e transformadora da realidade que tem como finalidade a formação de cidadãos críticos. Dessa forma, são apresentadas condições para que as crianças se desenvolvam integralmente, de acordo com as diferentes possibilidades de aprendizagem que são abordadas tendo em vista a sua faixa etária. E, para que isso ocorra, é necessário que seja envolvido o desenvolvimento das capacidades de ordem física, afetiva, cognitiva, ética, estética de relação interpessoal e inserção social. No discurso presente no Referencial, o conhecimento é construído pelas crianças a partir das interações que estabelecem com outras pessoas e com o meio em que vivem, sendo resultado de um intenso trabalho de criação, de significação e ressignificação. Nesse sentido, o desafio da Educação Infantil e de seus profissionais, é compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo. O RCNEI apresentou progresso na elaboração de orientações dos conteúdos e objetivos para a Educação Infantil. Em 2010, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil ampliam as discussões elencando a criança no centro do processo de aprendizagem, propondo a interação e a brincadeira como eixos estruturantes do currículo. O seu objetivo foi contribuir com reflexões sobre o processo de aprendizagem da criança e como garantir o seu direito de aprendizagem nessa faixa etária. 32 2.3 AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), foi um documento elaborado pelo MEC (Parecer CNE/CEB nº 20/09 e Resolução CNE/CEB nº 05/09), conforme previsto na LDB, no inciso IV do seu art. 9º, que atribui à União: estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os municípios, competências e diretrizes para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum (BRASIL, 1996, Art. 9). Seguindo a direção da LDB, são estabelecidas diretrizes para o acompanhamento do trabalho pedagógico e para a avaliação da criança, sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, que pressupõe, entre outras coisas, que a aprendizagem se dá a partir das interações e da brincadeira. Apesar das diretrizes terem força de lei, ou seja, devem ser consideradas por todas as instituições que oferecem esta etapa da educação, elas não substituem o processo de discussão sobre as concepções, objetivos, abordagens metodológicas e avaliação, que deve ser realizado pelos profissionais que atuam na Educação Infantil. O direito à educação é reafirmado no art. 5º ao citar que como dever do Estado a garantia da oferta da Educação Infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisitos de seleção, sendo um direito da criança. Também é ressaltada o caráter institucional e educacional da creche e da pré-escola, definindo que se trata de um atendimento que deve ser feito no período diurno e que os estabelecimentos responsáveis pela sua oferta devem ser regulamentados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino. Mesmo com a obrigatoriedade da matrícula das crianças de quatro e cinco anos (Emenda Constitucional nº 59), a frequência na Educação Infantil não é pré- requisito para a matrícula no Ensino Fundamental. 33 No art. 7º das DCNEI, são discutidas as funções sociopolítica e pedagógica que devem ser garantidas na proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil. Para isso, o documento aponta alguns requisitos: ➢ Oferecendo condições e recursos para que as crianças usufruam seus direitos civis, humanos e sociais; ➢ Assumindo a responsabilidade de compartilhar e complementar a educação e cuidado das crianças com as famílias; ➢ Possibilitando tanto a convivência entre crianças e entre adultos e crianças quanto à ampliação de saberes e conhecimentos de diferentes naturezas; ➢ Promovendo a igualdade de oportunidades educacionais entre as crianças de diferentes classes sociais no que se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de vivência da infância; ➢ Construindo novas formas de sociabilidade e de subjetividade comprometidas com a ludicidade, a democracia, a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de relações de dominação etária, socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, lingüística e religiosa. (BRASIL, 2010, p.17) Esses requisitos compreendem a criança como um sujeito de direitos que devem ser garantidos no seu lar desde o nascimento e também no seu ingresso na instituição escolar. O trabalho educacional deve promover a ampliação de conhecimentos e saberes, de forma que seja garantida a igualdade de oportunidades às crianças das diferentes classes sociais. Para isso, é necessária uma forma de organização dos espaços de aprendizagem orientada pelo currículo na perspectiva do sistema de ensino. Dessa forma, as DCNEI discorrem sobre a importância do planejamento das propostas pedagógicas curriculares para a Educação Infantil e que as práticas pedagógicas sejam elaboradas de acordo com as especificidades dessa faixa etária, o que implica na elaboraçãode diferentes práticas pedagógicas por parte 34 das instituições de ensino. Essas propostas devem respeitar os seguintes princípios: Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades. Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática. Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais (BRASIL, 2010, p.16). No art. 3º, o currículo da Educação Infantil é concebido como “um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico [...]” (BRASIL, 2010, p. 12). O conceito de currículo é trabalhado articulado com o projeto pedagógico que é o plano orientador das ações. Segundo Oliveira e Cruz (2010) essa definição supera as anteriores que resumiam e limitavam o currículo à lista de conteúdos obrigatórios que conduziam ao entendimento que na Educação Infantil não havia a necessidade de planejamento e que as atividades consistiam em um calendário voltado para a comemoração de algumas datas sem caráter formativo, reforçando a ideia de que o saber do senso comum é o que deveria ser trabalhado com crianças pequenas. Dessa forma, a criança juntamente com suas experiências e saberes, passa a ser considerada como o centro do processo educativo. E nesse processo, as experiências não devem contemplar apenas o aspecto cognitivo, mas também contribuir para a promoção do desenvolvimento físico, afetivo e social da criança de 0 a 5 anos. Observa-se que nos documentos apresentados: a Constituição Federal de 1988), a LDB (Lei de Diretrizes e Base Nacional da Educação de 1996), o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente de 1998), RCNEI (Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil de 1998), as DCNEI (Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil de 2010), houve avanços no debate quanto à formação e ao atendimento educacional das crianças de zero a cinco anos, nas instituições de ensino que oferecem a creche e a pré-escola, e há destaque para a preocupação com o currículo da Educação Infantil. 35 2.4 A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR Desde a promulgação da Constituição, em 1988, está prevista a existência de uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Porém, apenas em 2015 a sua primeira versão foi para consulta pública e o documento final foi homologado em 2017. Trata-se de um documento normativo previsto também no Plano Nacional de Educação (PNE), elaborado desde 2015 com a mobilização de todas as unidades federativas e que estabelece o que é essencial e direito de aprendizagem para todos os estudantes da educação básica. O projeto de implementação da BNCC em todo território nacional foi pensado para que, em regime de colaboração entre União, Estados e municípios, cada unidade federativa construa uma proposta curricular que contenha o conteúdo da BNCC e também contemple as especificidades regionais, culturais e históricas de cada unidade da federação. Desde a sua homologação, em dezembro de 2017, secretarias estaduais, em colaboração com os municípios, têm se mobilizado para a construção das primeiras versões dos currículos de seus estados alinhados à BNCC. De acordo com o MEC, a implementação da BNCC deveria ocorrer até o ano de 2020. A partir das informações divulgadas no site Movimento pela Base, notamos que, desde então, houve um grande avanço na elaboração dos currículos alinhados à BNCC, observa-se que até o mês de abril de 2021, 82% dos municípios brasileiros homologaram novos currículos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. Figura 4: Avanço dos currículos EI/EF alinhados à BNCC https://bit.ly/3AWmg4k 36 Fonte: Movimento pela Base (2021, online) Em Minas Gerais, a partir da BNCC, foi construído o Currículo Referência de Minas Gerais (CRMG) para a Educação Infantil e para o Ensino Fundamental. Homologado em dezembro de 2018, o CRMG foi resultado da revisão dos currículos que já existiam na rede pública educacional e de um trabalho em regime de colaboração entre a Secretaria Estadual de Estado (SEE-MG) e 852 municípios mineiros por meio da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime-MG). Após sua publicação, foi necessário que cada município organizasse um movimento, como mostra a imagem a seguir, para realizar a implementação do CRMG, a fim de orientar as instituições de ensino e os gestores, na revisão do seu Projeto Político Pedagógico, e formar os/as educadores/as para implementar o currículo no seu plano de aula. Compartilho com vocês a experiência da rede municipal da cidade de Mariana, Minas Gerais, com a implementação do CRMG que teve início em 2019 com o foco na formação dos/as educadores/as. Para isso, foram estabelecidas parcerias com a Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais (SEE-MG) e com a Universidade Federal de Ouro Preto, por meio do Programa “UFOP com a escola”. Foram realizados encontros com todos os/as educadores/as da rede durante os meses de agosto à outubro, com o objetivo de: Apresentar o Currículo Referência para que as instituições de Educação Infantil e Ensino Fundamental pudessem revisitar os seus Projetos Político Pedagógicos; Possibilitar ao docente o aperfeiçoamento profissional através da formação continuada com foco na adequação de sua prática pedagógica às 37 necessidades específicas e às possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento das crianças; Propor práticas inovadoras que definissem, com clareza, os objetivos de aprendizagem possibilitando à criança produzir, transformar e se apropriar de saberes e conhecimentos da natureza e da cultura; Refletir sobre o processo de inclusão a partir da diversidade humana presente nas diferenças sociais, culturais, étnicas, religiosas, de gênero. Ao final dos encontros foi feita uma avaliação com os/as educadores/as que apontou caminhou para que o município tivesse condições de avançar no estudo e implementação do currículo nas escolas da rede pública, e forneceu subsídios para a elaboração das matrizes curriculares articuladas com a proposta do CRMG e a revisão dos instrumentos de avaliação que estavam sendo utilizados pela rede.Essa experiência mostra a importância das parcerias com outras instituições e da participação ativa e efetiva dos/as docentes, pedagogos/as e diretores/as na elaboração de sua proposta curricular. A Base Nacional Comum Curricular determina os conhecimentos e as habilidades essenciais que todos os alunos brasileiros têm o direito de aprender, em cada etapa da Educação Básica. As escolas públicas e particulares do Brasil devem utilizar a Base Nacional para elaborar seus currículos, promovendo oportunidades iguais a todos e contribuindo para uma educação de qualidade. Podemos perceber pela imagem a seguir, que toda a educação básica está estruturada pelas competências gerais, que estão presentes também em todas as áreas do conhecimento e dessa forma, acompanham o desenvolvimento dos alunos desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. De acordo com a BNCC, a aplicação das competências gerais não é de responsabilidade apenas das intuições de ensino, mas também da união de diferentes atores como, gestores, secretarias de educação, professores, alunos, famílias e a sociedade em geral. Figura 5: Competências Gerais da Educação Básica 38 Fonte: BNCC (BRASIL, 2018) A imagem também mostra que na BNCC, cadaetapa da Educação básica foi organizada em um formato diferente. Na Educação Infantil, reforçando o que foi proposto nas DCNEI (BRASIL, 2010), a base do processo educacional deve acontecer por meio de interações e brincadeiras em que as crianças aprendem e se desenvolvem em contato com adultos e com outras crianças. Essa etapa da educação básica é fundamental para a construção da identidade e da subjetividade das crianças. Considerando especificamente a Educação Infantil, o documento indica seis Direitos da Aprendizagem que foram elaborados a partir dos valores éticos, estéticos e políticos tratados nas DCNEI (BRASIL, 2010) e que devem orientar o planejamento dos/as educaores/as. São eles: 39 1. Conviver: a criança tem o direito a um aprendizado coletivo, convivendo com outras crianças e adultos em pequenos e em grandes grupos, e que contribuam para o enriquecimento de sua experiência de vida; 2. Brincar: é defendido o direito da criança de se divertir durante o processo de aprendizagem, reconhecendo a necessidade de atividades lúdicas rotineiras em diferentes tempos e espaços e que estimulem a sua criatividade e imaginação; 3. Participar: compreende a necessidade da criança de estar incluída ativamente em seu processo de aprendizado, participando junto com outras crianças e adultos das decisões e das atividades propostas, tendo a oportunidade de se posicionar e de desenvolver diferentes linguagens. 4. Explorar: a criança tem o direito de explorar movimentos, sons, gestos, texturas, cores, emoções e elementos da natureza dentro e fora da escola pela direção da sua curiosidade; 5. Expressar: o reconhecimento de que a criança tem direito à liberdade de expressar seus pensamentos e desejos, sem discriminação de suas ideias em formação; 6. Conhecer-se: a criança tem o direito de explorar a consciência sobre si mesma, seu corpo e sua identidade. A forma de organização do currículo foi prevista na DCNEI: “A organização curricular da Educação Infantil pode se estruturar em eixos, centros, campos ou módulos de experiências que devem se articular em torno dos princípios, condições e objetivos propostos nesta diretriz.” (BRASIL, 2009, p. 16). Nesse sentido, para assegurar os 6 direitos de aprendizagem definidos na BNCC, foram pensados cinco Campos de Experiência que descrevem quais são os conhecimentos necessários para a formação da criança, e servem como referência para o trabalho do/a educador/a. Cada campo de experiências propõe objetivos de aprendizagem e desenvolvimento específicos para três diferentes grupos etários: bebês (de 0 a 1 ano e seis meses), crianças bem pequenas (de 1 ano e sete meses a 3 anos e 11 meses) e crianças pequenas (de 4 anos a 5 anos e 11 meses). São eles: O eu, o outro e o nós: foca em trabalhar a identidade da criança ao mesmo tempo em que explora sua sensibilidade e empatia; 40 Corpo, gestos e movimento: aborda a exploração do espaço e o desenvolvimento da coordenação motora como base para realização de outras formas de conhecimento, como a escrita e a expressão artística; Traços, sons, cores e formas: trabalha formas geométricas, cores, traços e sons como ponte para conhecimento científico e para a expressão artística; Escuta, fala, pensamento e imaginação: voltado para a comunicação por meio da leitura e da escrita, usando histórias reais e imaginárias como uma ferramenta de aprendizagem; Espaço, tempo, quantidades, relações e transformações: exploram as noções espaciais e a relação da criança com a passagem do tempo. (BRASIL, 2018) De acordo com o documento, os Campos de Experiências constituem um arranjo curricular adequado à educação da criança de 0 a 5 anos e 11 meses quando certas experiências, por ela vivenciadas, promovem a apropriação de conhecimentos relevantes. A escola tem um papel importante na atribuição de sentidos às diversas situações concretas que as crianças vivenciam (BRASIL, 2017, p. 40). Desse modo, os campos de experiências são intercomplementares e relacionam as situações e as experiências cotidianas da criança e seus saberes, aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico. Os objetivos de aprendizagem são definidos como comportamentos, habilidades, conhecimentos e vivências que a criança precisa desenvolver e devem ser ampliados na elaboração dos currículos e buscados na prática de brincadeiras e atividades propostas na rotina escolar. 41 No documento, é reforçado ainda que as atividades que envolvem o cuidar devem ser integradas com as ações de conhecer e explorar o mundo. A autonomia da criança deve ser incentivada tanto nas atividades dirigidas, como também nos momentos de livre exploração, para que ela possa enfrentar e superar obstáculos. Todos os momentos vivenciados pelo/a estudante no espaço educacional, devem ser oportunos para a promoção do conhecimento. Para que isso aconteça, o/a educador/a deve planejar e instituir uma rotina com o objetivo de organizar as ações e promover noções de tempo e espaço que transmitam para as crianças as sensações de segurança e tranquilidade. A rotina também é fundamental para que o docente acompanhe o desenvolvimento das crianças e avalie as práticas pedagógicas com mais facilidade, para que assim, possa realizar intervenções que julgar pertinentes durante o processo de ensino e aprendizagem. Em relação a avaliação das crianças na Educação Infantil, a BNCC orienta que “Parte do trabalho do educador é refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças” (BRASIL, 2017, p. 39). Nesse sentido, em relação às formas de avaliação, o documento apresenta diversas possibilidades de registro que podem ser utilizadas pelo/a educador/a, tais como: portfólios, depoimentos da família, fotografias, desenhos e textos. Em linhas gerais, como podemos observar, a proposta apresentada pela Base se distancia da tradicional organização do planejamento das práticas pedagógicas, cuja estrutura se ancorava em datas comemorativas, conteúdos, áreas de conhecimento ou componentes curriculares. Traz um novo olhar ao currículo que contempla mais amplamente a ação social da criança. 42 A Undime elaborou em conjunto com o Movimento Pela Base e Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, o documento “Parâmetros Nacionais da Qualidade da Educação Infantil - Apoiando contextos de interações, brincadeiras e linguagens promotores das aprendizagens e desenvolvimento das crianças de 0 a 5 anos”. O objetivo da publicação é contribuir com gestores e professores para ajudá-los a compreender os parâmetros e a utilizá-los como referência para planejar suas práticas. Disponível em: https://bit.ly/3ukCBwT. Acesso em: 14 jul 2021. https://bit.ly/3ukCBwT 43 1. (FUNDEPES) De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a avaliação da Educação Infantil deve ser realizada mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental. Nesse contexto, a avaliação nessa etapa: a) Visa a uma análise quantitativa do desenvolvimento infantil. b) Estimula a observação do comportamento infantil com vista à produtividade e racionalidade. c) Requer do docente análises voltadas exclusivamente aos processos sensitivos da infância. d) Requer do docente habilidades na observação dos processos do desenvolvimento infantil, com ênfase em aspectos qualitativos. e) Requer do docente a habilidade pedagógica de perceber o momento de promoção da criançaà etapa seguinte da educação infantil. 2. (VUNESP - Adaptada) Leia o excerto para responder à questão. [...oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento de ensino...] A partir da leitura e de conhecimentos sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), art. 11, pode-se afirmar que as incumbências elencadas cabem a) Aos Municípios. b) Ao Estado. c) À União. d) Às Escolas Privadas. e) Ao Distrito Federal. 3. (UFPR ) Considere o seguinte texto: 44 Contemplar o cuidado na esfera da instituição da Educação Infantil significa compreendê- lo como parte integrante da educação, embora possa exigir conhecimentos, habilidades e instrumentos que extrapolam a dimensão pedagógica. Ou seja, cuidar de uma criança em um contexto educativo demanda a integração de vários campos de conhecimentos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas. (Brasil, 1998, p. 24) Com base no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Brasil/MEC, 1998), é correto afirmar: a) As ações pedagógicas direcionadas ao educar devem ater-se aos comportamentos familiares, para que as aprendizagens anteriores não comprometam os novos conhecimentos e o desenvolvimento de habilidades específicas. b) A atuação na Educação Infantil requer visão integrada sobre o desenvolvimento infantil, ressaltando a articulação entre o cuidar e o educar, de forma que esses processos sejam complementares e indissociáveis. c) O cuidar no contexto educativo infantil tem caráter predominantemente auxiliar, uma vez que a finalidade das ações escolares é instruir e ampliar os conhecimentos específicos de cada criança. d) A Educação Infantil visa o atendimento escolar, delegando-se à área da saúde a responsabilidade com as dimensões relativas ao cuidar. e) Cuidar, na Educação Infantil, significa criar meios de escolarização para que as crianças de 0 a 5 anos tenham acesso à educação formal e aos recursos pedagógicos, visto que o cuidar é responsabilidade das famílias e da sociedade. 4. (ENADE, 2008) As Diretrizes Curriculares da Educação Infantil e os Referenciais Curriculares propõem a educação infantil como espaço de cuidar e educar. Essa concepção também se estende às creches, sobre as quais afirma-se: I. As creches são lugar de proteção e de cuidados com a saúde, bem como de educação para as crianças; II. O ambiente escolar da creche se constitui como espaço assistencialista às crianças; III. O processo educativo na creche promove o desenvolvimento afetivo, cognitivo e social; 45 IV. Como espaço de guarda e tutela, a creche tem especial cuidado com a saúde e a higiene das crianças. São afirmações adequadas à concepção de creche, expressas nos documentos citados, APENAS: a) I e II b) I e III c) II e III d) II e IV e) III e IV 5. (NC-UFPR - adaptada) Em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, a Base Nacional Comum Curricular define os direitos e objetivos de aprendizagem das crianças, orientando as instituições educativas na elaboração do currículo. Acerca dessas orientações, considere as seguintes afirmativas: 1) Para planejar o trabalho no cotidiano, os professores precisam analisar e identificar as conquistas e as dificuldades percebidas nas práticas com as crianças. 2) De modo a orientar os projetos pedagógicos das unidades de Educação Infantil, a BNCC propõe que neles as crianças tenham garantidos como direitos mediadores de aprendizagens significativas: Conviver – Brincar – Explorar – Expressar – Participar – Conhecer-se. 3) O currículo por campos de experiência propõe a organização do trabalho pedagógico na Educação Infantil com práticas essenciais para cada grupo etário, a fim de contemplar suas necessidades, demandas e interesses. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. c) Somente a afirmativa 2 é verdadeira. 46 d) Todas as afirmativas são verdadeiras. e) Nenhuma das alternativas é verdadeira. 6. (IPEFAE - adaptada) Em relação a avaliação, de acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, assinale a afirmativa correta. a) Avaliação deve buscar entender o processo de cada criança. b) A avaliação comporta julgamentos, e certo ou errado no processo educativo. c) A avaliação deve ser constante e fazer parte de uma atitude sistemática. d) A avaliação deve ser sempre classificatória e ter um caráter de julgamento de valor. e) A avaliação deve ser usada com o objetivo de promoção para o acesso ao ensino fundamental. 7. (VUNESP) Joana, professora de educação infantil, atenta à necessidade de atualizar-se e aprimorar o trabalho pedagógico que desenvolve, consultou a Base Nacional Comum Curricular – Etapa da Educação Infantil. Nesse documento, Joana leu os “Direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil”. De acordo com o referido documento, um dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil refere-se a: a) Aplicar os princípios da evolução biológica para analisar a história humana, considerando sua origem, diversificação, dispersão pelo planeta e diferentes formas de interação, valorizando e respeitando a diversidade étnica e cultural. b) Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. c) Identificar e analisar aspectos das estruturas sociais da atualidade com os legados do racismo no brasil e, ainda, identificar e analisar as políticas oficiais com relação aos povos indígenas. d) Formular perguntas, apresentar argumentos e contra-argumentos coerentes, respeitando os turnos de fala, na participação em discussões sobre temas de interesse da turma e temas controversos. e) Identificar e manipular diferentes tecnologias e recursos digitais para acessar, 47 apreciar, produzir, registrar e compartilhar práticas e repertórios artísticos, de modo reflexivo, ético e responsável. 8. (FUNDEPES) A Base Nacional Curricular Comum da Educação Infantil expõe como um dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de crianças de zero a 1 ano e 6 meses a percepção de que suas ações têm efeitos nas outras crianças e nos adultos. Nesse contexto, esse objetivo diz respeito a que campo de experiência? a) “Oralidade e escrita.” b) “O eu, o outro e o nós.” c) “Corpo, gestos e movimentos.” d) “Traços, sons, cores e formas.” e) “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.” 48 49 O ENSINO FUNDAMENTAL E HISTORICIDADE 3.1 O ENSINO FUNDAMENTAL NA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LEI 9.394/96) Como já abordado anteriormente, a Constituição Federal de 1988 garantiu o direito à Educação a todos(as) os(as) brasileiros(as), sem quaisquer distinções. Esse marco histórico gera desdobramentos em outras legislações que vêm a seguir, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei 9.394/96). A LDB institui as diretrizes e as bases da educação nacional, estabelecendo, assim, os princípios que devem reger a educação,bem como as competências e responsabilidades do Estado com relação à Educação pública e gratuita no país. Atribui também a responsabilidade e o dever da família com relação à educação de seus(suas) filhos(as). Em seu 2º art., considera, como finalidade da Educação, “o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” (BRASIL, 1996, Art. 2º). No capítulo I, art. 21, a LDB trata dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino, instituindo dois níveis, sendo o primeiro, a Educação básica, constituída pela Educação infantil, pelo Ensino Fundamental e pelo Ensino médio e o segundo nível, constituído pela Educação Superior. Como já mencionado no capítulo anterior, esse foi um ganho para a Educação Infantil, já que pela primeira vez na história do nosso país ela é inserida na Educação Básica. Em seguida, o art. 22 define como finalidade da Educação Básica, “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL, 1996, Art. 22). Ou seja, como o próprio nome já diz, as habilidades básicas para o estudo, trabalho e cidadania são previstas nessa etapa da Educação. Um aspecto relevante da LDB é evidenciar a importância do caráter democrático da educação, envolvendo toda a comunidade escolar, que pressupõe UNIDADE 03 50 a equipe pedagógica e administrativa da escola, os/as estudantes, seus familiares e comunidade local, nas decisões da escola. O Art. 14 comprova essa afirmação: Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na Educação Básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da Educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996, Art. 14). Os Conselhos escolares são, certamente, um instrumento democrático que precisa ser criado e efetivado nas instituições escolares, pois permitem a participação de toda a comunidade escolar nos rumos da escola. São compostos por representantes de estudantes, de funcionários - incluindo os/as educadores/as, da equipe gestora, dos pais dos estudantes e de membros da comunidade, que são eleitos democraticamente e se organizam para contribuírem com a gestão da escola. A LDB trata ainda da carga horária mínima a ser destinada ao Ensino fundamental, que é de oitocentas horas, distribuídas em, pelo menos, duzentos dias letivos. Essa orientação visa uniformizar a carga horária, garantindo a todos (as) os(as) estudantes um tempo mínimo de atividades escolares, por ano. https://bit.ly/3ohL8jk https://bit.ly/3mboQxb 51 Em 2006, uma alteração importante acontece no Ensino Fundamental que, ao invés de 08 anos, passa a ser composto por 09 anos de escolarização. Ou seja, o último ano da Educação Infantil (faixa etária de 06 anos) passa a integrar o Ensino Fundamental, estendendo assim, a carga horária total desse segmento. O art. 32 da LDB nos apresenta os objetivos que o Ensino Fundamental deve almejar, sendo eles: I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social (BRASIL, 1996, Art. 32). Vemos então, nesses objetivos esperados para o Ensino Fundamental, uma articulação entre as habilidades básicas de aprendizagem, a participação dos/as educandos/as de forma ativa na sociedade, o desenvolvimento de atitudes e valores, incluindo aqueles que se vive no meio familiar. Uma determinação importante dessa lei é acerca do Ensino Religioso nas escolas. Essa disciplina é de oferecimento obrigatório pelas escolas, resguardando o respeito às diferenças e à diversidade religiosa, considerando a pluralidade cultural. No entanto, embora a sua oferta seja obrigatória, não é obrigatório ao/à estudante participar das aulas. Destacamos também o que a LDB nos apresenta sobre a Educação Especial. Em seu Art. 59, na redação alterada em 2013, são tratadas os direitos que os indivíduos possuem de usufruir de uma atenção diferenciada, a partir de suas demandas e particularidades. Vejamos: Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do 52 ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular (BRASIL, 1996, Art. 59). No capítulo 4º do art. 32, a LDB traz uma questão que muito nos interessa. Vejamos o que esse capítulo nos diz: “o ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais” (BRASIL, 1996, Art. 32). Digo que é uma discussão que nos interessa, pois há alguma tempo não imaginávamos o Ensino Fundamental ser oferecido na modalidade à distância, o que se alterou em decorrência da Pandemia do Covid 19, que transformou radicalmente a nossa sociedade e, de maneira particular, a Educação. Esse tema será discutido em capítulo posterior, dada a sua relevância para compreendermos e refletirmos sobre a Educação em nosso país e no mundo, diante desse novo cenário. 3.2 OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) são outra referência importante para compreendermos o processo histórico do Ensino Fundamental em nosso país. Inicialmente, é fundamental entendermos o que significa o termo 53 “Parâmetros”. Se recorrermos ao dicionário, veremos que o significado se aproxima de “regra”, “padrão”, “princípio”. Podemos entender esse documento, então, como um princípio, uma referência teórica, um guia para conduzir o trabalho das instituições escolares. Conforme descrito nos Parâmetros: Apesar de apresentar uma estrutura curricular completa, os Parâmetros Curriculares Nacionais são abertos e flexíveis, uma vez que, por sua natureza, exigem adaptações para a construção do currículo de uma Secretaria ou mesmo de uma escola. Também pela sua natureza, eles não se impõem como uma diretriz obrigatória: o que se pretende é que ocorram adaptações, por meio do diálogo, entre estes documentose as práticas já existentes, desde as definições dos objetivos até as orientações didáticas para a manutenção de um todo coerente (BRASIL, 1997, p. 29) Com isso, vê-se a característica flexível dos PCNs, sendo resguardada a autonomia das instituições escolares frente à implementação de tais orientações curriculares. Os PCNs apresentam, em sua primeira parte, um diagnóstico da realidade educacional do país naquele momento para, a partir daí, apresentar as suas propostas. O diagnóstico apresentava dados quantitativos e qualitativos, que demonstravam o quanto a educação precisava avançar, para se tornar, de fato, um direito de todos e todas, conforme previa a Constituição Federal de 1988 e reafirmava a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996. O documento segue, apresentando a sua natureza, os seus objetivos e a sua função. Destaca que tem a função de: subsidiar a elaboração ou a revisão curricular dos Estados e Municípios, dialogando com as propostas e experiências já existentes, incentivando a discussão pedagógica interna das escolas e a elaboração de projetos educativos, assim como servir de material de reflexão para a prática de professores (BRASIL, 1997, p. 29). Nesse sentido, impulsionados pelas orientação da LDB e dos PCNs, os sistemas, as redes de ensino e as escolas iniciaram um trabalho sistemático de estudo desses documentos e elaboração de seus Projetos Políticos Pedagógicos (PPP). A seguir, compartilho com você, uma experiência que tive durante a minha vida profissional, enquanto pedagoga, em uma escola da rede privada Compartilhando uma experiência… A minha primeira experiência na educação como educadora teve início no ano de 1994, na Educação Infantil de uma escola da rede particular de Mariana, Minas Gerais. Os meus três primeiros anos naquela escola se deram trabalhando com 54 turmas de Maternal (crianças de 2 e 3 anos), por 2 anos e com uma turma de 2º período, por 1 ano. Finalizado o terceiro ano de docência em tal escola, fui convidada pela direção a assumir a coordenação pedagógica. Foi grande o desafio diante de uma nova experiência e em um momento de significativa importância para a educação nacional, visto que estávamos conhecendo a LDB e os PCNs. Era grande a repercussão desses documentos e cabia a nós conhecermos bem cada um deles e elaborarmos o Projeto Político Pedagógico (PPP) da nossa escola. Enfrentei o desafio com muito estudo e determinação. Estudava muito, dia e noite, para compreender a nova função a mim confiada e também aquela nova realidade que se colocava para a educação em todo o país. Participava de congressos, fazia cursos e muitas leituras. Isso foi me embasando e me trazendo tranquilidade para eu desenvolver o processo formativo com as minhas colegas, professoras. Nos reuníamos todas as quintas-feiras, após o encerramento das aulas, para realizarmos os nossos grupos de estudo. Líamos e discutíamos textos, assistíamos a vídeos, que naquela época não eram tão acessíveis como atualmente, e não desistíamos de buscar sempre o melhor. Assim, fomos associando o conhecimento teórico que estávamos construindo, com as exigências de se elaborar o nosso PPP. Passamos o ano de 1997 nesse processo de estudo e construção. Grande foi a nossa satisfação em ter podido elaborar, coletivamente, um documento que nortearia o trabalho daquela escola nos próximos anos, que explicitaria a identidade institucional, os nossos anseios, a nossa realidade, as nossas necessidades, bem como as orientações curriculares nacionais. Como todo PPP, o processo de revisão e atualização é contínuo e, assim, por muitas outras vezes, fizemos o movimento de retomada e melhoria do documento, o que certamente, continuou acontecendo na escola pelos anos que se seguiram. Sinto-me privilegiada por ter tido a experiência de uma construção coletiva, dialógica, ao passo que tantas e tantas outras escolas contratavam uma consultoria externa para elaboração do seu PPP, sem nenhuma participação da comunidade escolar. Reafirmo, pois, a importância da participação ativa de todos os envolvidos na escola, seja na construção de um PPP ou de tantos outros momentos, que exigem participação, interação, escuta e dialogicidade. Angelita Azevedo- Maio de 2021 O Projeto Político Pedagógico precisa, assim, afirmar a identidade da escola, ou seja, as suas concepções, as suas escolhas, a sua identidade cultural. O currículo, que nele se insere, não é meramente uma coletânea de objetivos, conteúdos, técnicas, experiências, mas traduz os processos de subjetivação, ou seja, aquilo que é próprio do indivíduo, da sua experiência, além de refletir o saber sistematizado, construído historicamente. Isso reforça a importância de cada escola construir, coletivamente, o seu PPP e que ele seja uma presença viva nas instituições, conduzindo todos os processos educativos. O PPP deve ser compreendido como um instrumento que garante autonomia e resguarda a identidade da escola, a partir dos princípios e diretrizes que projetam o seu “vir a ser”, construídos, como já dissemos, de maneira coletiva e dialógica. 55 Retomando a nossa conversa sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais, falaremos sobre a organização desse documento. Os PCNs são colocados como o primeiro nível de “concretização curricular”, sendo: uma referência nacional para o ensino fundamental; estabelecem uma meta educacional para a qual devem convergir as ações políticas do Ministério da Educação e do Desporto, tais como os projetos ligados à sua competência na formação inicial e continuada de professores, à análise e compra de livros e outros materiais didáticos e à avaliação nacional (BRASIL, 1997, p. 29). Isso quer dizer que esse documento norteou as ações do Ministério da Educação, no que se referia às metas e objetivos educacionais, blocos de conteúdos sugeridos, bem como outros projetos, dentre eles, a formação de educadores. Importante destacar também que os PCNs trazem como objetivo geral do Ensino Fundamental, “utilizar diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica, corporal — como meio para expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções da cultura” (BRASIL, 1997, p. 48). Quando abordamos a LDB, falamos que essa lei flexibilizava os tempos escolares. Inclusive, demos um exemplo da alternância. Lembra-se? Pois bem, os Parâmetros Curriculares Nacionais partem da concepção de que a divisão rígida da escolaridade, por anos ou séries, compromete o processo educativo e, assim, opta pela organização em ciclos, vendo nesse modelo uma flexibilização do tempo que faz toda a diferença para o/a aprendente, pois respeita os ritmos de aprendizagem. Assim, os PCNs consideravam que: os conhecimentos adquiridos na escola passam por um processo de construção e reconstrução contínua e não por etapas fixadas e definidas no tempo. As aprendizagens não se processam como a subida de degraus regulares, mas como avanços de diferentes magnitudes (BRASIL, 1997, p. 43). Uma inovação trazida pelos PCNs foi a abordagem dos Temas Transversais, 56 que se relacionam a questões do cotidiano, da vida pessoal e coletiva, que precisam ser refletidas com os/as estudantes e incorporadas em sua realidade, ou seja, temas que favorecem a construção da cidadania e, quando falamos em cidadania, estamos nos referindo a direitos e deveres a serem vivenciados pelos indivíduos, de forma a participarem ativamente da vida em sociedade. Portanto, os Temas Transversais são assim chamados, por atravessarem as áreas do conhecimento e problematizarem a realidade. Assim, foram eleitos os seguintes temas: Ética, Saúde, Meio Ambiente, PluralidadeCultural e Orientação Sexual. O documento, dado o seu caráter flexível e contextual, sugere que os Temas transversais sejam trabalhados de acordo com cada contexto, partindo das características e necessidades dos/as estudantes, além de explicitar a importância de cada região eleger os seus próprios temas. Falaremos agora sobre os conteúdos curriculares. Os PCNs redimensionam a percepção acerca dos conteúdos ao considerarem que eles não têm um fim em si mesmos, mas são um meio pelo qual o/a estudante desenvolverá as suas habilidades. Vistos dessa forma, eles deixam de ocupar o lugar central do processo de ensino e aprendizagem. O foco é o/a aprendente e as habilidades que ele desenvolverá e, sendo assim, os conteúdos entram como um meio para tal desenvolvimento. O redimensionamento no conceito de conteúdo também se faz perceber na sua ampliação. Tradicionalmente, os conteúdos eram vistos a nível de conceitos, de forma factual. Os PCNs avançam, considerando os conceitos também a nível de https://bit.ly/3AT9GTo 57 procedimentos, valores, normas e atitudes. Vamos entender melhor o que isso quer dizer? Os conteúdos conceituais “referem-se à construção ativa das capacidades intelectuais para operar com símbolos, ideias, imagens e representações que permitem organizar a realidade.” (BRASIL, 1997, p. 51). O/a aprendente busca informações variadas, as organiza, compreende os princípios que norteiam aquele conteúdo, faz relações variadas, generaliza, memoriza compreensivamente. Podemos citar como exemplos de um conteúdo conceitual: nomear os estados brasileiros, memorizar a data do descobrimento do Brasil, compreender uma cadeia alimentar, listar as estações do ano, conhecer a estrutura e função social de um gênero textual, dentre outros. Os conteúdos procedimentais, como o próprio nome já diz, se relacionam a ações, procedimentos, ao modo de se fazer algo. Assim, eles “expressam um saber fazer, que envolve tomar decisões e realizar uma série de ações, de forma ordenada e não aleatória, para atingir uma meta” (BRASIL, 1997, p. 52). Nessa perspectiva, podemos considerar como exemplos de conteúdos procedimentais: armar e efetuar uma operação matemática, escrever um texto, aplicar uma fórmula para resolução de um problema, confeccionar uma maquete, produzir um cartaz, dentre outros. E, por fim, os conteúdos atitudinais, que dizem respeito às atitudes, comportamentos, regras, normas, desenvolvidas pelos/as estudantes, já que “a escola é um contexto socializador, gerador de atitudes relativas ao conhecimento, ao professor, aos colegas, às disciplinas, às tarefas e à sociedade (BRASIL, 1997, p. 52). O trabalho com esse conteúdo se liga, intimamente, à sua função social de desenvolvimento da cidadania. Assim, podemos exemplificar como conteúdos https://bit.ly/3m9OZft 58 atitudinais: relacionar-se com respeito com os/as colegas e professores/as, usar a empatia nas relações, cumprir uma regra da escola e da sala de aula, ser solidário(a), dentre outros. Tendo como parâmetro esses tipos de conteúdo, os PCNs não os apresentam de maneira solta e independente, mas sim, organizados em blocos, que se intercalam, visando uma integração, já que o conhecimento é global e não fragmentado. Assim, os conteúdos para o Ensino Fundamental são organizados em blocos, a partir das seguintes áreas: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, História e Geografia, Arte e Educação Física, sendo que os Temas Transversais perpassam todas essas áreas. Importante discutirmos também sobre a concepção de Avaliação defendida pelos PCNs. Segundo esse documento, a avaliação: é compreendida como um conjunto de atuações que tem a função de alimentar, sustentar e orientar a intervenção pedagógica. Acontece contínua e sistematicamente por meio da interpretação qualitativa do conhecimento construído pelo aluno (BRASIL, 1997, p. 55). Percebemos então, que a avaliação é considerada como um processo contínuo e permanente, que visa observar o desenvolvimento do/a estudante levando em conta, principalmente, a qualidade da aprendizagem. Através da avaliação, o/a educador tem a possibilidade de avaliar a sua própria prática e perceber o que é necessário fazer para facilitar que o/a estudante aprenda e se desenvolva. Nesse sentido, a avaliação não tem caráter coercitivo, não causa medo e receio no/a estudante, não classifica-o(a), mas é democrática e emancipatória, pois visa, sobretudo, a construção e o desenvolvimento de todos/as os/as estudantes, quanto da prática pedagógica dos/as educadores/as. 59 Esse foi um panorama geral acerca dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental. É sempre importante recorrer aos documentos e lê-los integralmente para, assim, ampliar ainda mais o seu conhecimento. A seguir, abordaremos sobre a Base Nacional Comum Curricular e o que ela nos traz acerca do Ensino Fundamental. 3.3 O ENSINO FUNDAMENTAL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR Como já foi citado anteriormente, a BNCC é um documento normativo que deve ser utilizado como referência na elaboração dos currículos de todas as instituições de ensino que ofertam a Educação Básica no País. Além disso, o documento prevê a formação de educadores, a elaboração e revisão das propostas pedagógicas, a construção de materiais didáticos e avaliações. Seu objetivo é promover a equidade através de uma formação integral do cidadão. O documento foi elaborado a partir dos PCN’s e das DCN’s, e especifica e determina com clareza os objetivos de aprendizagem de cada ano escolar. Com a BNCC, o ensino fundamental passou a ser organizado em cinco áreas do conhecimento, sendo elas: Linguagens; Matemática; Ciências da natureza; Ciências humanas; e Ensino Religioso. https://bit.ly/2XTlXIH https://bit.ly/3uiKUcJ https://bit.ly/39MQzy8 https://bit.ly/3zSuGIm 60 Figura 5: Organização do Ensino Fundamental na BNCC Fonte: BNCC (BRASIL, 2018) Essas áreas foram estruturadas com o propósito de promover a comunicação entre os saberes dos diferentes componentes curriculares. Cada área possui competências específicas. Em cada componente são definidas unidades, objetos de conhecimento e habilidades. Além disso, há uma progressão entre as competências específicas nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental: As competências específicas possibilitam a articulação horizontal entre as áreas, perpassando todos os componentes curriculares, e também a articulação vertical, ou seja, a progressão entre o Ensino Fundamental – Anos Iniciais e o Ensino Fundamental – Anos Finais e a continuidade das experiências dos alunos, considerando suas especificidades (BRASIL, 2018, p.28). https://bit.ly/3ukHgz4 61 Da mesma forma que os PCN´s, a BNCC divide também o Ensino Fundamental em duas fases: os anos iniciais (1º ao 5º ano) e anos finais (6º ao 9º ano). Nos anos iniciais é dedicado a introdução escolar, é feito um resgate das atividades lúdicas comuns na Educação Infantil, estabelecendo dessa forma uma relação com a etapa anterior, ressaltando assim a importância da sistematização progressiva das experiências dos alunos. A criança nessa etapa deve ter oportunidade para expressar sua curiosidade e demonstrar seus argumentos e necessidades por meio do seu ponto de vista, na convivência com a família e na escola. A alfabetização está inserida na área de linguagens, no documento ela é tratada como o foco da ação pedagógica no 1º e 2º ano dos anos iniciais, com o objetivo de garantir à criança, o direito fundamental de ler e escrever. Nos anos finais, apesar de ainda existir a preocupação com a alfabetização, a ênfase é dada no trabalho com ascapacidades e produção de textos escritos e orais e na participação do aluno em práticas de letramento. Apesar do trabalho pedagógico nas duas etapas do Ensino Fundamental apresentarem muitas características em comum, nos anos finais a proposta educacional está mais direcionada para a promoção da autonomia e do protagonismo dos alunos, preparando-os para o ingresso no ensino médio. O adolescente é um sujeito em desenvolvimento sendo necessário que a escola busque compreender e dialogar com as formas de expressão particulares dessa faixa etária. Segundo a base: As mudanças próprias dessa fase da vida implicam a compreensão do adolescente como sujeito em desenvolvimento, com singularidades e formações identitárias e culturais próprias, que demandam práticas escolares diferenciadas, capazes de contemplar suas necessidades e diferentes modos de inserção social. (BRASIL, 2018, p. 60) 62 Nesse contexto, a avaliação também adquire uma forma mais global e integral, a BNCC recomenda: construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de processo ou de resultado que levem em conta os contextos e as condições de aprendizagem, tomando tais registros como referência para melhorar o desempenho da escola, dos professores e dos alunos (BRASIL, 2018, p. 17). O documento reforça, desse modo, a necessidade de a avaliação ser realizada de maneira formativa, ou seja, os/as educadores/as precisam observar o percurso dos alunos, identificar os seus progressos e planejar os caminhos para que o aprendizado avance. Para que isso aconteça, ele/a deve utilizar diferentes instrumentos de avaliação como, por exemplo, portfólios, relatórios, registros a partir de fotos, vídeos e gravações. A Base também ressalta as discussões sobre a função do/a educador/a, que não é mais concebido como o único detentor do conhecimento e passa a ser entendido como o mediador e responsável por orientar e auxiliar o/a estudante na construção do conhecimento. Com isso, o/a estudante passa a desempenhar o papel de protagonista do seu processo de ensino e aprendizagem. 63 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (COTEC- 2020) Analise as afirmativas abaixo, que tratam da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n.º 9.394/1996, sobre as finalidades da educação básica: I. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar- lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. II. A educação básica pode organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. III. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. Está(ão) CORRETA(S) as afirmativas: a) I, apenas. b) I e II, apenas. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. 2. (ENADE, 2005). Como parte das atividades de estágio, estudantes de Pedagogia observaram a organização e o funcionamento de uma escola da rede pública do Ensino Fundamental, ficando em dúvida quanto a três aspectos legais: os dias letivos, a carga horária anual necessária e o ensino religioso. O que determina a Legislação Educacional, relativamente a esses três aspectos? DIAS LETIVOS HORAS ANUAIS ENSINO RELIGIOSO 64 a) 200 800 Obrigatório para a escola e facultativo para o aluno b) 200 720 Facultativo para a escola e para o aluno c) 190 750 Facultativo para o aluno d) 180 790 Facultativo para a escola e) 170 780 Obrigatório para a escola e para o aluno 3. (ENADE, 2005) A implementação do projeto político-pedagógico é uma das condições para que se afirme a identidade da escola como espaço necessário à construção do conhecimento e da cidadania. Sabe-se que o currículo é parte integrante desse processo e deve contemplar a formação de identidade cultural. Nessa perspectiva, o currículo deverá ter como diretriz: a) Promover narrativas sobre o outro numa ótica universalista. b) Valorizar o enfoque prescritivo e auto-referenciado do conhecimento. c) Organizar conteúdos, disciplinas, métodos, experiências e objetivos. d) Estabelecer pautas de conduta visando à classificação de identidades. e) Privilegiar os processos de subjetivação coletiva e o saber sistematizado. 4. (ENADE, 2008) A elaboração do projeto político-pedagógico é um processo de consolidação da democracia e da autonomia da escola, com vistas à construção de sua identidade. É uma ação intencional, com um compromisso definido coletivamente, que reflete a realidade, busca a superação do presente e aponta as possibilidades para o futuro. O projeto político-pedagógico é um documento que não se reduz à dimensão didático-pedagógica. Nesse texto, o projeto político-pedagógico se constitui como: a) Instrumento legitimador das ações normativas da equipe gestora. b) Desenvolvimento de ações espontâneas da comunidade escolar. c) Definição de princípios e diretrizes que projetam o vir a ser da escola. d) Incorporação de múltiplas teorias pedagógicas, produzidas na contemporaneidade. e) Implementação de estrutura organizacional visando à administração interna da escola. 5. (ENADE, 2008). A Escola Municipal Maíra vem modificando as características de 65 sua gestão. Ampliou as ligações com a comunidade em seu entorno e fortaleceu o conselho escolar, que tem acompanhado a freqüência e o desempenho dos alunos. Quando surgem problemas, os membros do conselho, formado por professores, alunos, pais, funcionários e representantes da comunidade, conversam entre si, com os professores e a família do aluno. Além disso, o conselho participa das decisões pedagógicas e administrativas, inclusive no que tange ao uso dos recursos financeiros da escola, seja para obras de manutenção, para passeios educativos ou para a compra de materiais didáticos. De acordo com a regulamentação municipal, haverá novas eleições para o conselho escolar no próximo ano. A escola apresentada nesse texto está atuando: I. De forma equivocada, pois envolve os alunos nas decisões pedagógicas e administrativas; II. Em consonância com as concepções democráticas de gestão, pois redefine os membros do conselho por meio de eleições periódicas; III. Em desacordo com a ldben 9.394/1996, pois permite que pessoas de fora da escola interfiram em sua gestão; IV. De acordo com a ldben 9.394/1996, pois tem um conselho escolar atuante, com participação comunitária. Está(ão) correta(s) APENAS a(s) afirmação(ões) a) II b) III c) IV d) I e III e) II e IV 6. (Instituto AOCP) A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) possui caráter prescritivo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. Sabendo disso, é correto afirmar que a Base é um documento de caráter 66 a) Normativo. b) Restritivo. c) Moderador. d) Estrutural. e) Legislativo. 7. (UFF) A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, ao valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta para a necessária articulação com as experiências vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever para os alunos: a) O processo de vivências naturais,partindo dos conceitos mais simples para os mais complexos. b) A progressiva sistematização dessas experiências e o desenvolvimento de novas formas de relação com o mundo. c) O desenvolvimento contínuo das atividades infantis, sendo retiradas gradualmente para que não haja bloqueios. d) A maturidade necessária para que possam absorver os conteúdos disciplinares mais abstratos. e) A concepção de que eles, os alunos, se encontram em níveis diferentes e é preciso homogeneizar as atitudes e conhecimentos. 8. Como você estudou, os PCNs redimensionam a percepção acerca dos conteúdos ao considerarem que eles não têm um fim em si mesmos, mas são um meio pelo qual o/a estudante desenvolverá as suas habilidades. Baseando-se em estudos de educadores de referência, os PCNs apresentam uma tipologia de conteúdos. Leia- os abaixo e faça as devidas associações. 1. Conteúdos conceituais 2.. Conteúdos procedimentais 3.. Conteúdos atitudinais 67 ( ) Podem ser exemplificados da seguinte forma: demonstrar respeito e atenção a um palestrante que visitará a escola para uma atividade com a comunidade escolar. ( ) Podem ser exemplificados da seguinte forma: falar as capitais dos estados brasileiros; ( ) Podem ser exemplificados da seguinte forma: participar ativamente da organização de um festival cultural na escola. ( ) Podem ser exemplificados da seguinte forma: apresentar as partes que compõem uma planta. ( ) Podem ser exemplificados da seguinte forma: saber ouvir os/as colegas e esperar a sua vez de falar. Assinale a resposta que apresenta a sequência CORRETA. a) 2, 1, 1, 3, 2 b) 3, 1, 2, 3, 1 c) 3, 1, 1, 2, 3 d) 3, 1, 2, 1, 3 e) 2, 1, 2, 1, 3 68 DA EDUCAÇÃO INFANTIL AO ENSINO FUNDAMENTAL – O PROCESSO DE TRANSIÇÃO E AS EXIGÊNCIAS DE UM NOVO CENÁRIO 4.1 ENTENDA A LEGISLAÇÃO A passagem da criança da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, é um momento que merece muita atenção por parte da escola e dos/as educadores/as, para que essa mudança não cause prejuízos ao aprendizado e para que toda a trajetória escolar vivenciada até então pelas crianças seja considerada e tenha continuidade. Esse tema vem sendo discutido em documentos legais que embasam a educação brasileira desde 1998 com os RCNEI, porém, apenas a partir da implementação da Lei nº11.274/2006 que institui o Ensino Fundamental de nove anos que antecipou o ingresso das crianças de seis anos nessa etapa da Educação Básica, é que esse momento da transição obteve maior visibilidade. O documento elaborado pelo MEC em 2006, intitulado “Ensino Fundamental de Nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade”, aponta que “[...] a implementação dessa política requer orientações pedagógicas que respeitem as crianças como sujeitos da aprendizagem” (BRASIL, 2006, p. 7). Essas orientações reafirmam a passagem da Educação Infantil para o Ensino Fundamental como um marco na vida e no desenvolvimento da criança, sendo este um momento que merece atenção especial para a construção de um elo entre essas duas etapas. Para isso, são apontadas várias providências necessárias geradas por essa ampliação, como uma política de formação continuada voltada para os profissionais da educação, mudanças na infraestrutura e do mobiliário dos espaços físicos e recursos e materiais didáticos que precisam ser repensados, de forma que sejam capazes de atender essa nova faixa etária que passou a ser atendida no Ensino Fundamental. Essas demandas são fundamentais para que o objetivo da UNIDADE 04 69 implementação dessa política alcance o seu objetivo de assegurar a ampliação do tempo de convívio escolar com maiores oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem. Essa preocupação está presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), que reforçam a necessidade da instituição de ensino que oferece o Ensino Fundamental assegurar que essa transição ocorra de forma a dar continuidade aos processos de aprendizagem e de desenvolvimento das crianças (PAZ; OLIVEIRA; 2017). Na transição para o Ensino Fundamental a proposta pedagógica deve prever formas para garantir a continuidade no processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, respeitando as especificidades etárias, sem antecipação de conteúdos que serão trabalhados no Ensino Fundamental (BRASIL, 2010, p. 30). Dessa forma, é preciso que a escola esteja preparada para o momento de transição, prevendo como esse processo deve ocorrer em sua proposta pedagógica e implementando ações que ajudem as crianças a se adaptarem à nova rotina escolar por meio de mudanças gradativas. A transição também é discutida na Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017), que ressalta que todo o histórico do/a estudante que está chegando ao primeiro ano é essencial para que a transição ocorra de forma saudável e sejam respeitados os conhecimentos que a criança já traz. Segundo a Base: [...] para que as crianças superem com sucesso os desafios da transição, é indispensável um equilíbrio entre as mudanças introduzidas, a continuidade das aprendizagens e o acolhimento afetivo, de modo que a nova etapa se construa com base no que os educandos sabem e são capazes de fazer, evitando a fragmentação e a descontinuidade do trabalho pedagógico. (BRASIL, 2017, p. 53) A Base também sugere que os/as educadores/as devem realizar uma síntese do que foi aprendido na Educação Infantil, a partir dos objetivos de aprendizagem previstos nos cinco campos de experiências, como mostra o quadro a seguir. Quadro 1: BNCC - Síntese das aprendizagens da Educação Infantil 70 SÍNTESE DAS APRENDIZAGENS O eu, o outro e o nós Respeitar e expressar sentimentos e emoções. Atuar em grupo e demonstrar interesse em construir novas relações, respeitando a diversidade e solidarizando-se com os outros. Conhecer e respeitar regras de convívio social, manifestando respeito pelo outro. Corpo, gestos e movimentos Reconhecer a importância de ações e situações do cotidiano que contribuem para o cuidado de sua saúde e a manutenção de ambientes saudáveis. Apresentar autonomia nas práticas de higiene, alimentação, vestir- se e no cuidado com seu bem-estar, valorizando o próprio corpo. Utilizar o corpo intencionalmente (com criatividade, controle e adequação) como instrumento de interação com o outro e com o meio. Coordenar suas habilidades manuais. Traços, sons, cores e formas Discriminar os diferentes tipos de sons e ritmos e interagir com a música, percebendo-a como forma de expressão individual e coletiva. Expressar-se por meio das artes visuais, utilizando diferentes materiais. Relacionar-se com o outro empregando gestos, palavras, brincadeiras, jogos, imitações, observações e expressão corporal. Escuta, fala, pensamento e imaginação Expressar ideias, desejos e sentimentos em distintas situações de interação, por diferentes meios. Argumentar e relatar fatos oralmente, em sequência temporal e causal, organizando e adequando sua fala ao contexto em que é produzida. Ouvir, compreender, contar, recontar e criar narrativas. Conhecer diferentes gêneros e portadores textuais, demonstrando compreensão da função social da escrita e reconhecendo a leitura como fonte de prazer e informação. Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações Identificar, nomear adequadamente e comparar as propriedades dos objetos, estabelecendo relações entre eles. Interagir com o meio ambiente e com fenômenos naturais ou artificiais, demonstrando curiosidade e cuidado com relação a eles. Utilizar vocabulário relativo às noções de grandeza (maior, menor, igual etc.), espaço(dentro e fora) e medidas (comprido, curto, grosso, fino) como meio de comunicação de suas experiências. Utilizar unidades de medida (dia e noite; dias, semanas, meses e ano) e noções de tempo (presente, passado e futuro; antes, agora e depois), para responder a necessidades e questões do cotidiano. Identificar e registrar quantidades por meio de diferentes formas de representação (contagens, desenhos, símbolos, escrita de números, organização de gráficos básicos etc). Fonte: Brasil (2017, p. 54-55). 71 Nesse processo, uma estratégia potente seria o/a educador/a de turmas de 1º ano do Ensino Fundamental conversar com os/as educadores/as que acompanharam as crianças na etapa anterior, consultar portfólios e avaliações que foram realizadas, para que possa ser construído um planejamento com base nessas informações que contribua para promover a adaptação da criança à nova rotina e continuidade do aprendizado. Como podemos observar, o principal documento que orienta os objetivos de aprendizagem para cada segmento da Educação Básica, a BNCC (2018) discorre sobre a importância da articulação entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental. Porém, como discutiremos a seguir, ainda são muitos os desafios que precisam ser superados para que esse momento de mudança tão importante e crucial na vida escolar da criança aconteça de forma adequada, respeitosa e afetuosa. 4.2 OS DESAFIOS ÀS CRIANÇAS E AOS EDUCADORES A falta de articulação entre a Educação Infantil e o 1º ano do Ensino Fundamental e as mudanças bruscas na organização e no desenvolvimento do trabalho pedagógico, pode ocasionar problemas no desenvolvimento das crianças que se encontram nesta fase. Na primeira etapa (Educação Infantil), a aprendizagem é mediada a partir de brincadeiras e do lúdico. Já na segunda (Ensino Fundamental), infelizmente, a ludicidade perde o seu protagonismo e as brincadeiras vão, aos poucos, sendo substituídas por atividades que priorizam a alfabetização, gerando a descontinuidade das práticas pedagógicas que foram trabalhadas na Educação Infantil. Uma pesquisa realizada por Neves, Gouvêa e Castanheira (2011) teve como finalidade investigar a relação entre a pré-escola e o ensino fundamental analisando https://bit.ly/3zTqgkp 72 o processo de transição entre essas etapas, vivenciado por um grupo de crianças em Belo Horizonte. As pesquisadoras constataram no trabalho a falta de diálogo entre as práticas pedagógicas desenvolvidas nesses dois segmentos. Tanto na Educação Infantil como no 1º ano do Ensino Fundamental, as práticas educacionais se estruturam em torno de brincadeiras e do letramento, mas de maneiras diferentes. Na educação infantil, a brincadeira estava presente em todos os momentos da rotina da criança, já no Ensino Fundamental o brincar era colocado em segundo plano e o foco passou a ser atividades voltadas para a apropriação do sistema de escrita. O mesmo foi constatado por Dias e Campos (2015) ao investigar o processo de transição escolar da educação infantil para o ensino fundamental sob o olhar das crianças. Segundo a autora, apesar dos documentos oficiais apontarem a necessidade de articulação entre os níveis de ensino, no cotidiano foi observado que há segmentação e desarticulação entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental. O brincar, apesar de ainda fazer parte do 1º ano, deixa de ser reconhecido como parte do processo de desenvolvimento da aprendizagem e passa a ser utilizado apenas como um recurso para que o planejamento das atividades não seja tão cansativo. Essas duas pesquisas apresentadas ajudam a ilustrar algumas das dificuldades envolvidas no processo de transição. Trata-se de um processo que envolve desafios para a escola que irá receber essas crianças, para os/as educadores/as que lecionarão no 1º ano Ensino Fundamental, para as crianças e, também, para a família dos/as estudantes. As mudanças devem ser graduais; no 1º ano a criança intensifica a rotina de alfabetização e as brincadeiras ainda devem ter espaço. De acordo com Melo (2019), a promoção de atividades lúdicas no processo de transição entre a primeira e a segunda etapa da educação básica pode apresentar contribuições significativas para o ensino e a aprendizagem das crianças nos aspectos cognitivo e motor. Para isso, o jogo se apresenta como um recurso valioso, por meio dele é possível que as crianças aprendam regras de diferentes maneiras e apliquem os conhecimentos adquiridos/construídos na escola. Melo (2019, p. 322) afirma que: [...] é imprescindível que os professores (as) de crianças com seis anos invistam na promoção de atividades lúdicas que contemplem suas necessidades e não somente realizem práticas rotineiras como as atividades xerocopiadas, ditados e coisas semelhantes que não agregam valores e sentidos a sua vivência tanto no chão da escola quanto no contexto familiar. 73 Contudo, os/as educadores/as encontram muitas dificuldades que, muitas vezes, podem inviabilizar a realização dos jogos na escola, como falta de recursos, materiais e espaço físico adequado. Diante disso, é fundamental que a escola e os/as educadores/as organizem e preparem o período de adaptação e acolhimento das crianças. Todo o ambiente educativo deve ser preparado para receber as crianças e as suas famílias. Para muitos, a transição também significa a mudança para outra escola ou para outro prédio, dentro da mesma escola. Esse é um momento que desperta nas crianças diferentes sentimentos, como ansiedade, curiosidade, empolgação e medo. Mas aos poucos, as crianças vão compreendendo suas novas responsabilidades, os novos horários, a forma de organização do espaço físico da sala de aula, a ampliação na quantidade de lições, dentre outros. É comum que nesse período, as famílias dos/as estudantes também se sintam inseguras e tenham dúvidas sobre a nova dinâmica escolar, por isso é fundamental que o vínculo com a família não se perca. A escola deve estar sempre aberta ao diálogo para que o processo de transição tenha êxito. No próximo tópico abordaremos algumas alternativas que podem ser utilizadas para que esse momento de transição possa ocorrer com mais tranquilidade, de forma respeitosa e que https://bit.ly/3oeHLJW 74 considere os conhecimentos e as experiências que antecederam o ensino fundamental. 4.3 ALTERNATIVAS PARA SUPERAR OS DESAFIOS DA TRANSIÇÃO Como já abordamos anteriormente, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Resolução CNE/CEB 5, de 18/12/2009), constituem um conjunto de orientações para que as instituições elaborem, avaliem e atualizem suas Propostas pedagógicas, por isso é fundamental que os profissionais da educação, tenham conhecimento sobre o seu conteúdo, para que sua implementação seja viabilizada nas escolas. No que tange à avaliação em creches e pré-escolas e à passagem das crianças pelos diferentes grupos etários ao longo de sua trajetória nas instituições, no art. 10, é tratado especificamente da avaliação e das relações entre educação infantil e ensino fundamental. Como podemos observar a seguir, o documento tece orientações importantes sobre esse momento: Art. 10. As instituições de Educação Infantil devem criar procedimentos para acompanhamento do trabalho pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, garantindo: I - a observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e interações das crianças no cotidiano; II - utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); III - a continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação deestratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela criança (transição casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-escola/ Ensino Fundamental); IV - documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança na Educação Infantil; V - a não retenção das crianças na Educação Infantil. (BRASIL, 2009, p.18) Diante disso, a organização do planejamento pedagógico precisa ser centrado na criança, em suas necessidades e interesses, para que sejam construídos procedimentos de acompanhamento do trabalho pedagógico e avaliação do seu desenvolvimento. É importante que esses procedimentos orientem os/as educadores/as a promoverem uma reflexão sobre seu próprio trabalho e sobre o 75 modo como as crianças estão se desenvolvendo ou não, a partir das intervenções planejadas. A preparação para o momento da transição deve ter início desde a Educação Infantil, em que a escola e os/as educadores/as podem disponibilizar todos os materiais construídos durante o processo de acompanhamento das crianças, como fotos, desenhos, relatórios e portfólios, para a nova equipe que irá receber a criança no 1º ano do Ensino Fundamental. É uma forma de garantir que o seu percurso na Educação Infantil não se perca e o/a novo/a educador/a tenha um ponto de partida para conduzir o seu trabalho e realizar a síntese das aprendizagens, conforme propõe a BNCC. Os RCNEI apontam alguns caminhos para que esse momento seja preparado desde a Educação Infantil: A passagem da educação infantil para o ensino fundamental representa um marco significativo para a criança, podendo criar ansiedades e inseguranças. O professor da educação infantil deve considerar esse fato desde o início do ano, estando disponível e atento para as questões e atitudes que as crianças possam manifestar. Tais preocupações podem ser aproveitadas para a realização de projetos que envolvam visitas a escolas de ensino fundamental; entrevistas com professores e alunos; programar um dia de permanência em uma classe de primeira série. É interessante fazer um ritual de despedida, marcando para as crianças este momento de passagem com um evento significativo. Essas ações ajudam a desenvolver uma disposição positiva frente às futuras mudanças demonstrando que, apesar das perdas, há também crescimento (BRASIL, 1998, p. 84). Nesse sentido, ainda na Educação Infantil, é importante que estejam previstas na proposta pedagógica das escolas, ações que contribuam para o momento de transição desde o início, como as comemorações que ocorrem ao final do ano letivo e que marcam o final dessa etapa, e têm como objetivo proporcionar às crianças a despedida das intuições ou a mudança para outro prédio na mesma escola. Também podem ser organizadas visitas para apresentar a nova escola ou ao novo prédio onde a criança irá frequentar no próximo ano. A família também pode ser convidada para esse momento, para que contribua com o início desse processo de adaptação das crianças. Já ao iniciar o ano letivo no 1º ano do Ensino Fundamental, a criança e a sua família devem ser acolhidas e apresentadas ao novo ambiente, à nova rotina e às pessoas. As mudanças devem ocorrer de forma gradual para que a adaptação ocorra de forma tranquila. Reuniões devem ser organizadas com as famílias para que 76 fiquem cientes das mudanças na proposta pedagógica para o Ensino Fundamental e para que o vínculo não se perca com a transição. É imprescindível que a criança sempre tenha oportunidade de expressar seus sentimentos, receios e dúvidas ao ser inserida nessa nova etapa da sua vida escolar. Apresentamos aqui, brevemente, algumas possibilidades que podem ser planejadas e realizadas para que o momento da transição entre essas duas etapas possa promover a continuidade dos processos de aprendizagens das crianças e esperamos que possam lançar luzes para a sua reflexão e ação docente. A seguir, apresentaremos um pouco do cenário educacional brasileiro, em face da pandemia da COVID-19 que ocasionou na suspensão das aulas presenciais no mês de março de 2020 e que causou um relevante impacto em nossa área. 4.4 A EDUCAÇÃO INFANTIL E O ENSINO FUNDAMENTAL NO CENÁRIO DE PANDEMIA DO COVID19 Com o rápido avanço dos casos de contaminação pelo novo coronavírus e a declaração da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que a disseminação comunitária da COVID-19 foi caracterizada como pandemia em todos os continentes, foram recomendadas três ações básicas, para contê-la: isolamento e tratamento dos casos identificados; testes massivos; e distanciamento social (BRASIL, 2020a). Diante disso, o Ministério da Saúde declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional. E, desde então, estados e municípios publicaram decretos e instrumentos legais e normativos para o enfrentamento da doença. Dentre as ações, foi prevista a suspensão das atividades escolares presenciais. As aulas começaram a ser suspensas em alguns municípios e estados brasileiros a partir do dia 11 de maio de 2020 por tempo indeterminado em escolas, universidades e demais estabelecimentos de ensino da rede pública e privada. No dia 17 de março de 2020, o MEC se pronunciou sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais, enquanto durasse a situação de pandemia da COVID-19, para instituição de educação superior integrante do sistema federal de ensino, por meio da Portaria nº 343 (BRASIL, 2020a). Em 1º de abril de 2020, foi editada pelo o Governo Federal a Medida Provisória nº 934 (BRASIL, 2020b) que estabeleceu normas excepcionais para o ano letivo da educação básica e do 77 ensino superior decorrentes das medidas para enfrentamento da situação de emergência de saúde pública. Foram realizadas consultas ao Conselho Nacional de Educação para que se manifestasse sobre as orientações referentes à reorganização do calendário escolar e cômputo da carga horária (BRASIL, 2020). Nesse contexto, o Conselho Nacional de Educação se pronunciou por meio do Parecer nº 05/2020, do, aprovado em 28 de abril de 2020, que conduziu as ações educativas nas redes públicas e privadas do país. O documento orientou sobre a reorganização do calendário escolar e sobre a possibilidade de cômputo de atividades pedagógicas não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima anual. Nesse documento, são dadas orientações quanto aos direitos e objetivos de aprendizagem; sobre a reposição da carga horária de forma presencial ao fim do período de emergência, já que se esperava que as aulas retornassem ainda em 2020; orienta ainda sobre o “cômputo de carga horária realizada por meio de atividades pedagógicas não presenciais (mediadas ou não por tecnologias digitais de informação e comunicação) a fim de minimizar a necessidade de reposição de forma presencial” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2020a, p. 07); trata das especificidades que precisam ser consideradas no trabalho com cada segmento, modalidade e nível de ensino (Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Superior, Ensino Técnico, Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Indígena, do campo, Quilombola e Povos Tradicionais e, finalmente, sobre o Ensino Superior. Algum tempo depois, a oferta de atividades não presenciais em todas as etapas de ensino, desde a educação infantil até o ensino superior, foi autorizada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) através do Parecer CNE/CP nº 9, de 8 de junho de 2020 (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2020b). Com isso, reafirmou-se que as atividades não presenciais pudessem ser ofertadas por meio digitais ou não, porexemplo, por meio de videoaulas, de conteúdos organizados em plataformas virtuais de ensino e aprendizagem e pelas redes sociais, entre outros. As aulas também https://bit.ly/39L1HeY 78 tiveram a possibilidade de serem oferecidas por meio de programas de televisão ou rádio; pela adoção de materiais didáticos impressos e distribuídos aos estudantes e a seus pais ou responsáveis; e pela orientação de leituras, projetos, pesquisas, atividades e exercícios indicados em materiais didáticos. Observa-se que muitas dessas orientações já estavam contidas no Parecer 05/2020. Em relação à Educação Infantil, é destacada a importância da manutenção do vínculo da criança com a instituição de ensino, e para que isso aconteça aponta para a necessidade de fortalecimento do diálogo com a família que deve ser orientada na realização de atividades lúdicas com as crianças, como cita o documento: No sentido de contribuir para minimização das eventuais perdas para as crianças, sugere-se que as escolas possam desenvolver alguns materiais de orientações aos pais ou responsáveis com atividades educativas de caráter eminentemente lúdico, recreativo, criativo e interativo, para realizarem com as crianças em casa, enquanto durar o período de emergência, garantindo, assim, atendimento essencial às crianças pequenas e evitando retrocessos cognitivos, corporais (ou físicos) e socioemocionais. Deste modo em especial, evitaria a necessidade de reposição ou prorrogação do atendimento ao fim do período de emergência, acompanhando tão somente o mesmo fluxo das aulas da rede de ensino como um todo, quando do seu retorno (BRASIL, 2020b, p. 09). Sobre o retorno presencial, não haveria reposição ao fim do período de emergência, acompanhando tão somente o mesmo fluxo das aulas da rede de ensino como um todo, quando do seu retorno. Também foi sugerido que as instituições de educação infantil orientassem os pais ou responsáveis sobre atividades sistemáticas que pudessem ser realizadas com seus filhos durante o período de isolamento social, inclusive utilizando-se de encontros virtuais síncronos, se possível. Importante ressaltar que nessa fase de escolarização a criança tem assegurado o seu direito de progressão, sem retenção. GLOSSÁRIO: 79 Segundo a lei 14.040/20, de 18 de agosto de 2020, que suspendeu a obrigatoriedade de escolas e universidades cumprirem a quantidade mínima de dias letivos neste ano em razão da pandemia de Covid-19, os estabelecimentos de educação infantil ficaram dispensados de cumprir os 200 dias do ano letivo e também a carga mínima de 800 horas. Já as escolas de ensino fundamental e médio precisavam cumprir a carga horária, embora não precisassem seguir o número mínimo de dias letivos (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2020d). 1. Apoiar a tomada de decisões para o retorno às aulas presenciais; 2. Oferecer diretrizes que orientem o planejamento dos calendários e dos protocolos específicos dos estabelecimentos de ensino, definidos pelas autoridades locais e regionais; 3. Oferecer sugestões e recomendações de cunho organizacional e pedagógico que podem ser desenvolvidos pelas escolas e sistemas de ensino (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2020c, p. 02). https://bit.ly/2XZ1WAk 80 Em 10 de dezembro de 2020 são instituídas pela Resolução CNE/CP Nº 2 de 10 de dezembro de 2020 (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2020e), as Diretrizes Nacionais orientadoras para a implementação dos dispositivos da Lei nº 14.040. Em relação à Educação Infantil, o documento orienta que as instituições escolares devem priorizar atividades de estímulo cognitivo e socioemocional e vivências lúdicas a partir de brincadeiras conforme proposto nos campos de experiência da BNCC. Também é discutida a importância da mediação dos adultos da família, por se tratarem de crianças pequenas que ainda estão desenvolvendo a independência e a autonomia (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2020e). Outro ponto discutido pelo parecer foi o retorno das aulas presenciais. No art. 13 há uma preocupação com o acolhimento e a preparação socioemocional dos profissionais da educação, é enfatizado que o processo de retorno deve ser gradual. As escolas devem realizar o acolhimento e a reintegração social da equipe e da comunidade escolar com o objetivo de prepará-las para este trabalho de integração. Além dessas orientações, os Conselhos Estaduais de Educação, os Sindicatos das escolas particulares, os Sindicatos dos trabalhadores da Educação pública e privada, têm se posicionado, emitindo orientações à comunidade escolar sobre esse período tão desafiador na história da nossa educação. Diante desse novo cenário e das orientações legais que foram publicadas, as instituições de ensino tiveram que em curto prazo de tempo de se adequarem às novas orientações para que o vínculo com os/as estudantes fosse mantido remotamente durante o período de suspensão das aulas presenciais. E cada rede de ensino teve que elaborar estratégias para que o aprendizado chegasse até o/a estudante. Tendo em vista as peculiaridades de cada localidade, foram mobilizados múltiplos recursos como materiais impressos, plataformas digitais, programas de rádio e orientações para as famílias dos estudantes. A seguir, compartilharemos as primeiras ações que a rede municipal da cidade Mariana elaborou para atender aos alunos, no ano de 2020. Compartilhando experiência A Secretaria Municipal da cidade de Mariana (MG), desde a suspensão das aulas no dia 17 de março de 2020, começou a se organizar para que o vínculo do/a estudante 81 com a escola fosse mantido. Para isso, inicialmente foram produzidos podcasts e vídeos educativos para os diversos segmentos e modalidades do ensino. Posteriormente, como maneira de responder aos grandes desafios colocados para a educação em decorrência da suspensão das aulas presenciais devido a pandemia da COVID-19, no ano de 2020 foram construídos em conjunto com pedagogos/as e professores/as de todas as escolas municipais, os Cadernos pedagógicos. As atividades englobaram propostas de conteúdo educativo, lúdico, interdisciplinar e interativo. Em alguns momentos, toda a família é convidada a participar da realização das atividades, estreitando também os vínculos da criança com os seus familiares. Para a elaboração do material foram feitas reuniões periódicas, conduzidas pelo setor Pedagógico da Secretaria Municipal de Mariana de forma remota, com a participação de todas as pedagogas e professores/as da rede municipal, a partir de um trabalho coletivo. Com o nome “Criando Possibilidades e Construindo Conhecimentos” os cadernos foram elaborados para cada segmento e modalidade de ensino, dentro das habilidades propostas pela Base Nacional Comum Curricular e pelo Currículo Referência de Minas Gerais. Também é abordado no material, o sentimento de pertencimento ao local onde se vive e a consciência da necessidade de preservação do patrimônio material e imaterial. Para a elaboração das atividades também foi levada em consideração a educação na perspectiva da inclusão. Nesse contexto, surgiram então novos desafios para a Educação Básica. Somados à preocupação com a saúde e com a manutenção da vida, os/as educadores/as tiverem que, em curto espaço de tempo, buscar estratégias para a manutenção dos vínculos com os/as estudantes, mesmo que a distância, e se adaptarem às novas ferramentas digitais que, até então, não eram tão presentes no cotidiano da sua profissão. Diante disso, a fase da transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental se tornou ainda mais complexa e desafiadora, para a família, para a escola e para a criança. Dentro das especificidades de cada contexto escolar, as escolas orientadas pela BNCC,precisam refletir sobre quais são as melhores estratégias e possibilidades para planejar o momento da transição diante da situação de pandemia que os país está enfrentando, e de acordo com as demandas colocadas pela família e recursos disponíveis. E, para isso, o diálogo com a família assume uma função ainda mais 82 relevante, já que se tratando de crianças pequenas, a família terá papel importante no processo de aprendizagem das crianças, a partir de orientações e intervenções adequadas dos/as educadores/as. https://bit.ly/3ujq1OA 83 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (FEPESE) De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC): 1) A transição entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental requer muita atenção, para que haja equilíbrio entre as mudanças introduzidas, garantindo integração e continuidade dos processos de aprendizagens das crianças, respeitando suas singularidades e as diferentes relações que elas estabelecem com os conhecimentos, assim como a natureza das mediações de cada etapa. 2) Torna-se necessário estabelecer estratégias de acolhimento e adaptação tanto para as crianças quanto para os docentes, de modo que a transição entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental se construa com base no que a criança sabe e é capaz de fazer, em uma perspectiva de continuidade de seu percurso educativo. 3) A Educação Infantil tem o papel de preparar as crianças para o ingresso no Ensino Fundamental de modo que elas possam sair dessa etapa alfabetizadas. Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas. a) É correta apenas a afirmativa 3. b) São corretas apenas as afirmativas 1 e 2. c) São corretas apenas as afirmativas 1 e 3. d) São corretas apenas as afirmativas 2 e 3. e) São corretas as afirmativas 1, 2 e 3. 2. Com base na leitura do trecho a seguir assinale a alternativa correta: “[...] ao ter como foco o registro da experiência infantil, evidenciou a necessidade de uma maior integração entre o brincar e o letramento nas práticas pedagógicas da educação infantil e do ensino fundamental, ambas dimensões fundamentais da cultura infantil contemporânea”. DIAS, Edilamar Borges; CAMPOS, Rosânia. Sob o olhar das crianças: o processo de transição escolar da educação infantil para o ensino fundamental na contemporaneidade. Rev. Bras. Estud. Pedagog. Set-Dez de 2015. Disponível em:https://doi.org/10.1590/S2176- 6681/346813580 Acesso em jun. de 2021. a) O 1º ano do Ensino Fundamental deve ter como foco atividades que tenham como objetivo a apropriação do sistema de escrita. 84 b) A transição da pré-escola para o 1º ano do Ensino Fundamental deve ocorrer de forma contínua, gradual considerando as experiências que a criança já vivenciou na Educação Infantil., em que o letramento e o brincar estejam articulados, c) O brincar deve ser o centro das experiências do processo educativo na Educação Infantil. E no Ensino Fundamental as práticas educativas devem ter como foco apenas a alfabetização das crianças. d) D - A Educação Infantil é uma etapa preparatória para o 1º ano do Ensino Fundamental. Na pré-escola, a criança inicia o seu processo de alfabetização, a partir da ênfase dada às atividades e vivências com a escrita e com o letramento. e) Assim como na Educação Infantil, os anos iniciais do Ensino Fundamental têm como eixos centrais a interação e a brincadeira, o que facilita o processo de transição. 3. (FAUEL – Adaptado) A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) relata sobre a transição da educação infantil para o ensino fundamental, sendo as duas etapas da Educação Básica, que requerem muita atenção, para que haja equilíbrio entre as mudanças introduzidas. Diante dessas afirmações e de acordo com a BNCC, o processo de transição da Educação Infantil para o 1º ano do ensino fundamental deve proporcionar: a) A integração e continuidade dos processos de aprendizagem das crianças. b) A alfabetização e continuidade dos processos de socialização das crianças. c) A integração e continuidade dos processos lúdicos das crianças. d) A socialização e continuidade dos processos psicológicos das crianças. e) A alfabetização e a continuidade dos processos de aprendizagens das crianças. 4. (SERCTAM) Os art.s 10 e 11 das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), que tratam especificamente da avaliação e das relações entre Educação Infantil e Ensino Fundamental, versam sobre como as instituições de Educação Infantil devem criar procedimentos para acompanhamento do trabalho pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças, garantindo: 85 I. A observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e interações das crianças no cotidiano; II. Utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); III. A continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela criança (transição casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-escola/ Ensino Fundamental); IV. Documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho da instituição, junto às crianças e aos processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança na Educação Infantil; V. A retenção das crianças na Educação Infantil, caso as expectativas de aprendizagens referentes à etapa não sejam alcançadas pela criança, possibilitando assim, a consolidação de um processo de desenvolvimento qualitativo. Estão corretas: a) Todas as alternativas. b) Nenhuma das alternativas. c) Quatro alternativas. d) Três alternativas. e) Duas alternativas. 5. Em relação à Lei 14.040 que estabeleceu normas educacionais excepcionais a serem adotadas durante o estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020; e altera a Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, assinale a alternativa correta: a) A lei dispensou o Ensino Fundamental do cumprimento da carga horária mínima anual de 800 horas estabelecida na LDB. b) A Educação Infantil ficou dispensada, em caráter excepcional, da obrigatoriedade de observância do mínimo de dias de trabalho educacional e do cumprimento da carga horária mínima anual previstos no inciso II do caput do art. 31 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. 86 c) De acordo com a lei citada, no Ensino Fundamental, as atividades não presenciais mediadas por tecnologias da informação e comunicação não podem ser computadas como parte do cumprimento da carga horária anual. d) A lei orienta que os sistemas de ensino não desenvolvam atividades não presenciais na Educação Infantil mediadas por tecnologias da informação e da comunicação devido aos riscos da exposição de telas em crianças pequenas. e) Os sistemas de ensino ficam dispensados, em caráter excepcional, no ensino fundamental e no ensino médio, da obrigatoriedade de observância do mínimo de dias de efetivo trabalho escolar, nos termos do inciso I do caput do § 1º do art. 24 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, desde que cumprida atividades não presenciais mediadas por tecnologias da informação e da comunicação. 6. O ensino remoto imposto pelas medidas de isolamento social devido à covid-19 tem se mostrado um desafio para todos os níveis de ensino, mas, em especial, para a educação infantil, já que crianças pequenas têm mais dificuldade em se adaptar às atividades a distância. (Estudo mostra impacto da pandemia em crianças da educação infantil. Disponível: https://cangurunews.com.br/estudo- impacto-da-pandemia-educacao-infantil/,Acesso em jun. de 2021.). Leia as afirmativas a seguir sobre o ensino remoto na Educação Infantil: I - Durante o período de pandemia da Covid-19, para que o trabalho pedagógico na Educação Infantil alcance seus objetivos, é primordial o envolvimento da família, que deve dialogar com a escola e apoiando trabalho dos professores; II - Na Educação Infantil, as atividades a distância devem ser adaptadas pelo professor em seu planejamento de forma que a família consiga realizá-las com a criança a partir das orientações passadas. III - As aulas síncronas não devem ser utilizadas como recurso no ensino remota na Educação Infantil, nem mesmo com curta duração, pois em frente à tela do computador a criança, não têm a mesma concentração das aulas presenciais. É correto o que se afirma somente em: a) I e II. b) I, II e III. c) II. 87 d) I. e) II e III. 7. [...] é prioridade que instituições de educação infantil e ensino fundamental incluam no currículo estratégias de transição entre as duas etapas da educação básica que contribuam para assegurar que na educação infantil se produzam nas crianças o desejo de aprender, a confiança nas próprias possibilidades de se desenvolver de modo saudável, prazeroso, competente e que, no ensino fundamental, crianças e adultos (professores e gestores) leiam e escrevam. KRAMER, S.; NUNES, M. F. R.; CORSINO, P. Infância e crianças de 6 anos: desafios das transições na educação infantil e no ensino fundamental. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.37, n.1, 220p. 69-85, jan./abr. 2011. A partir da leitura do texto apresentado assinale a alternativa que apresenta uma estratégia de transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental que pode ser utilizada pelo professor com o objetivo de contribuir para que esse processo seja acolhedor e considere a bagagem que a criança já traz: a) Elaborar uma rotina rígida e com atividades mais estruturadas, para que as crianças tenham mais disciplina e compreendam que no Ensino Fundamental as regras e a organização do tempo e do espaço, são diferentes da Educação Infantil. b) Fazer reuniões com as famílias para explicar que a proposta de trabalho do Ensino Fundamental é que a criança aprenda a ler e escrever, que não devem mais trazer na mochila brinquedos e que a quantidade de lição de cada irá aumentar. c) Já no primeiro dia de aula, organizar as carteiras em fileiras voltadas para o quadro e apresentar as regras instituídas pela escola que devem ser cumpridas pelas crianças. d) Elaborar um planejamento com mudanças gradativas, mantendo momentos para algumas brincadeiras e propostas de interação, de forma que as crianças possam se adaptar aos poucos à nova rotina e seu aprendizado tenha continuidade. e) Para que a criança consiga se adaptar mais facilmente à nova rotina, o professor deve aumentar o tempo das atividades voltadas para apropriação da escrita e reduzir o tempo destinado a brincadeiras e a interação entre os pares. 8. Leia as afirmativas a seguir sobre a transição da Educação Infantil para o Ensino 88 Fundamental no contexto da pandemia de Covid-19: 1) Em 2020, com a paralisação das atividades educacionais presenciais devido a pandemia de Covid-19, o processo de transição da pré-escola para o 1º ano do ensino fundamental se tornou ainda mais delicado. As crianças perderam o contato direto com docentes, colegas e com o espaço da escola. 2) No retorno das aulas presenciais, os professores do Ensino Fundamental precisarão estar abertos a mudar seu olhar e forma de planejamento. Provavelmente, devido ao longo tempo longe de um acompanhamento educacional presencial, muitas crianças chegarão com menos ganhos de aprendizagem do que é geralmente esperado. 3) A Base Nacional Comum Curricular é um bom ponto de partida para se pensar a transição no atual contexto, pois ela apresenta uma seção específica para tratar da mudança das crianças para uma nova etapa da vida escolar. No documento, fica claro que deve haver uma continuidade entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental. Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas. a) É correta apenas a afirmativa 3. b) São corretas apenas as afirmativas 1 e 2. c) São corretas apenas as afirmativas 1 e 3. d) São corretas apenas as afirmativas 2 e 3. e) São corretas as afirmativas 1, 2 e 3. 89 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 5.1 O SUJEITO APRENDENTE COMO PONTO DE PARTIDA Nas unidades anteriores, você teve a oportunidade de compreender que a forma como a sociedade concebe a criança vem se alterando ao longo da história. Passamos por períodos em que essas eram consideradas como uma tábula rasa, ou como miniatura de adultos, sem especificidades próprias. Essa concepção se alterou e hoje percebe-se as crianças enquanto seres que possuem singularidades, são detentoras de conhecimento e possuem potencial criativo e condições de aprender, independente de sua condição física, mental, social e cultural. Para isso, devemos ter com elas uma linguagem e práticas apropriadas que as considere como sujeitos em plena constituição. As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil definem a criança como: [...] sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentido sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2010, p.12). Compreendemos a criança e o ser humano, de maneira geral, como um ser que produz cultura, que constrói conhecimentos e, dessa forma, necessita ser considerada como o ponto de partida para qualquer ação educativa. Nesse sentido, a BNCC discute a importância da aplicação dos conhecimentos na vida real, destacando que o contexto é fundamental para dar sentido ao aprendizado. As crianças quando chegam à escola trazem uma grande bagagem de conhecimentos anteriores, e é preciso que os educadores desenvolvam um trabalho que valorize esses conhecimentos, formulando questionamentos que levem o aluno a encontrar e interpretar, por exemplo, os resultados de uma pesquisa. UNIDADE 05 90 Durante muito tempo, a escola se preocupou com os métodos de ensino, considerando que um/a bom/boa professor/a era aquele/a que conseguia executar os melhores métodos, que trabalhava com a sua turma com grande quantidade de conteúdo, através da transmissão. Essa abordagem tradicional desconsiderava a forma como o sujeito aprende e apostava que os melhores métodos trariam os melhores resultados. Felizmente, essa percepção vem se alterando, trazendo um novo olhar para o sujeito aprendente. Ou seja, o foco deixa de ser o método e o conteúdo, para se fixar no sujeito, na forma como ele aprende, pois somente assim, é possível escolher a melhor forma de ensiná-lo e de favorecer a construção de seu conhecimento. Nos estudos voltados para o desenvolvimento infantil a aprendizagem é abordada atrelada ao processo educacional, muitos pesquisadores de diferentes áreas têm se debruçado sobre a compreensão do processo de aprendizagem a partir das teorias do desenvolvimento. Nesse cenário destacam-se dois grandes nomes: Jean Piaget e Lev Vygotsky. Jean Piaget (1896 – 1980), biólogo suíço, ao estudar a aquisição de conhecimentos pelo ser humano, especialmente pelas crianças, nos ajuda muito nesse entendimento ao mostrar que o sujeito aprendente, na construção de seu conhecimento, se desenvolve a partir de estágios. Piaget constatou a partir de observações que o conhecimento está na interação da criança com o objeto que ela estuda, eo ensino deve se basear nas suas experiências e no seu desenvolvimento relacionado ao processo biológico. Com isso, houve uma grande mudança na forma de pensar em relação às crianças. Até então, predominava a Teoria Pedagógica Tradicional em que o professor era considerado como principal responsável pela transmissão do conhecimento. 91 Segundo Piaget, o desenvolvimento cognitivo é descrito a partir de estágios que devem ser respeitados pelo/a educador/a, para que o/a estudante tenha sucesso no aprendizado. Em cada estágio é desenvolvido pela criança uma resposta ao ambiente. São eles (MASTELLA et al., 2014): 1. Sensório motor (0 a 2 anos): As realizações dos bebês consistem em grande parte na coordenação de suas percepções sensoriais e em comportamentos motores simples. Gradualmente, ele desenvolve a capacidade de organizar atividades em relação ao ambiente, fazendo descobertas sobre si mesmo e o seu mundo. 2. Pré-operatório (2 a 6 anos): A criança está começando a perceber que existe um mundo externo separado dela e o explora de diversas maneiras. É uma fase simbólica, em que as crianças raciocinam a partir da imaginação, ainda não são capazes de entender o ponto de vista do outro. Elas começam a brincar de faz de conta e a imitar as atividades presenciadas em casa, na escola e nos personagens das histórias. 3. Operatório Concreto (7 a 12 anos): Nesta fase a criança já é capaz de distinguir a fantasia da realidade e de resolver problemas lógicos, têm uma melhor compreensão da relação entre os objetos. 4. Operatório formal (a partir dos 12 anos): É quando os adolescentes desenvolvem a capacidade do pensamento abstrato, adquirindo a capacidade de elaborar hipóteses, imaginar possibilidades e testar teorias. https://bit.ly/2XSvzn2 92 Segundo Piaget (1959), a aprendizagem é compreendida como um processo de equilibração constante, e para que o aprendizado fosse efetivado as atividades deveriam desafiar as crianças de forma que através de processos mentais ela fosse capaz de realizar descobertas. Essa proposta de aprendizado, coloca a criança como sujeito ativo do processo de aprendizagem, a educação precisa ir além da memorização dos conteúdos, é preciso que os/as estudantes participem do processo de construção do conhecimento e sejam autônomos/as para produzir, inventar e criar novos conhecimentos, respeitando sua maturação. Lev Vygotsky (1896-1934) foi um cientista, filósofo e psicólogo bielo-russo, da mesma forma que Piaget, ele também ressaltou em suas obras o papel da escola no desenvolvimento das crianças, porém Vygotsky (2001) atribuiu as relações sociais como uma função preponderante nesse processo, em que o desenvolvimento cognitivo é entendido como colaborativo. Diante disso, em sua teoria, o/a educador/a desempenha o papel de “mediador” na relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento, e isto significa organizar a situação para que a aprendizagem ocorra, para que o/a estudante se sinta desafiado/a. O/a educador/a representa um elo intermediário entre o/a estudante e o conhecimento disponível no ambiente, planejando, organizando, e regendo o processo de aprendizagem. Um dos principais conceitos discutidos por Vygotsky (2001) é o de zona de desenvolvimento proximal que é a distância entre o que a criança já dá conta de realizar sozinha e o que ela está próxima de realizar sozinha, sendo assim, cabe ao educador saber identificar essas duas habilidades, e a partir da intervenção pedagógica, intervir adequadamente, para que aconteçam os avanços. Como podemos observar, Piaget (1959) enfatizava a interação com o meio físico, privilegiando a maturação biológica e já Vygotsky (2001) ressaltava a influência do ambiente social. Apesar das diferenças de enfoque, ambos criticaram o modelo de educação baseado no acúmulo quantitativo de conhecimentos e contribuíram para a superação da concepção de estudante apenas como receptor de conhecimentos. A criança passa a ser concebida como um ser social que assume um importante papel no seu processo de aprendizado. Dessa forma, é primordial que orientadas pelo currículo e o projeto pedagógico, as intuições educacionais dialoguem com os conceitos desenvolvidos por eles a partir da compreensão das etapas envolvidas no processo de ensino e aprendizagem. 93 5.2 O DOCENTE COMO MEDIADOR DO CONHECIMENTO Como discutido anteriormente, a partir das ideias desenvolvidas por Piaget e Vygotsky, a escola tradicional voltada para a transmissão do conhecimento e pelo papel passivo do/a estudante foi fortemente criticada. As novas concepções passaram a compreender o/a estudante como sujeito ativo e protagonista do seu processo de aprendizagem e isso promoveu mudanças no papel dos/as educadores/as. Partindo da compreensão de como o sujeito aprende, passamos a entender melhor qual o papel do/a educador/a no processo educativo. Mediar é uma tarefa complexa que exige um planejamento prévio, é necessário que o/a educador/a esteja seguro/a, saiba quais ferramentas e recursos podem ser utilizados para ser capaz de reverter e transformar situações inesperadas e também, muitas vezes, conflituosas. Durante a mediação é possível monitorar o desenvolvimento e aprendizagem e, para que isso aconteça, a criança deve ter oportunidade e ser estimulada a se expressar, desenvolver sua autonomia e liberdade para compartilhar suas opiniões. Por meio da interação serão levantados dados para saber se o que está sendo trabalhado tem sido aprendido/ construído. Conforme apontou Piaget (1959), a aprendizagem não acontece espontaneamente, somente a partir da exposição da criança a uma situação ou objeto de aprendizagem, por si só, não é suficiente para garantir a aquisição e construção do conhecimento. A criança precisa exercer alguma ação sobre esse objeto, para promover sua aprendizagem. Dessa forma, o/a educador/a precisa criar situações que favoreçam a aprendizagem, a partir da organização dos espaços, do currículo e do planejamento das ações em sala de aula para proporcionar o desenvolvimento do conhecimento estabelecendo uma relação entre o que já foi consolidado e o que ainda necessita de mediação para que o conhecimento seja efetivado. Diante disso, podemos afirmar que cabe ao/à educador/a ser um/a mediador/a na construção do conhecimento de seus/suas educandos/as. Paulo Freire, contribui ainda mais com essa discussão, ao afirmar que ao passo que o/a educador/a ensina, ele também aprende. O educador deve estabelecer relações dialógicas de ensino e aprendizagem junto aos estudantes, de forma democrática e afetuosa. 94 5.3 OS PROJETOS DE TRABALHO REDIMENSIONANDO A EXPERIÊNCIA EDUCATIVA Certamente, você já ouviu falar sobre os Projetos de Trabalho, ou até mesmo, pode já ter vivenciado essa experiência em alguma escola, como docente, estagiária, auxiliar ou estudante. Quando falamos de Projetos de Trabalho, nos lembramos, necessariamente, dos educadores Fernando Hernández e Montserrat Ventura, já que eles ressignificaram essa forma de trabalho nas últimas décadas e exercem grande influência nas escolas brasileiras. Esses autores, por sua vez, têm suas ideias fundamentadas em John Dewey, filósofo e educador norte americano. Segundo Hernandez, em entrevista concedida à Revista Bem Legal, os Projetos de trabalho trazem uma nova forma de ver a escola e de trabalhar com os/as estudantes, uma nova perspectiva educativa, que se traduz em: uma visão a respeito das relações pedagógicas e do aprendizado por meio do diálogo e da indagação. Nossa aposta é que a vida da sala de aula e da escola seja um projeto em que jovens, crianças, educadores e famílias encontrem seu lugar para aprender (HERNANDEZ, 2014, online).Pautar as relações que ocorrem em sala de aula pelo diálogo e pela indagação é, certamente, uma forma necessária de conduzir qualquer prática pedagógica. É preciso que educadores/as e educandos/as criem vínculos afetivos, dialoguem sobre os conteúdos escolares, sobre as aprendizagens e sobre a vida, de maneira geral. Que o ambiente escolar seja de acolhimento, de respeito e valorização das diferenças, que cada um/a seja considerado/a no seu modo de ver e de estar no mundo. Em um ambiente assim, há espaço para o questionamento, para a dúvida, para a indagação, enfim, para uma pedagogia problematizante, como nos diz Paulo Freire (2016). Ou seja, uma pedagogia que problematiza, que questiona a realidade e que busca respostas a partir da percepção de que todos/as são sujeitos ativos no processo de ensinar e de aprender, que produzem e possuem conhecimentos variados, que precisam ser considerados na construção de novos conhecimentos. Dessa forma, a educação bancária, tanto criticada por Freire, deve dar lugar a uma educação dialógica, inclusiva, na qual os/as educandos são ativos/as em seu processo de aprendizagem. Convém, aqui, entender o que é chamado de 95 Educação Bancária. Segundo Freire, educação bancária é aquela na qual os/as educadores/as desconsideram que os/as educandos/as são detentores de saber; ignoram tudo o que eles/as sabem e os/as consideram como meros depósitos, vazios, os quais serão preenchidos por informações e conhecimentos transmitidos pelos professores, que, por sua vez, detêm o conhecimento. Essa forma de ver a educação precisa deixar de existir e, por isso, estamos trabalhando com você, nesse capítulo, a importância do/a educando/a ser considerado um sujeito de conhecimento e o/a educador/a, como um mediador desse processo e não como alguém que detém o saber e considera os/as estudantes como seres vazios, sem conhecimento. Voltando à nossa discussão sobre os Projetos de Trabalho, Hernández e Ventura (1998) consideram os projetos como uma nova forma de organizar os conhecimentos, que por sua vez, precisam ser compreendidos de forma globalizada e relacional. A nossa tendência é compartimentar as áreas do conhecimento, colocando cada uma em sua “caixinha”. Mas, se pensarmos bem, os conhecimentos se integram, são realmente globalizados. Por exemplo, ao ler um texto de Geografia, veja quantas áreas do conhecimento podem estar ali, integradas. Isso nos mostra que o conhecimento não é fragmentado e, por isso, é importante que a nossa prática educativa considere a globalização do conhecimento. A globalização não pode ser entendida como interdisciplinaridade, como um simples somatório de disciplinas, mas compreendida como o “estabelecimento de relações estruturais e críticas entre as diferentes fontes de informação que aporta e recebe o estudante” (HERNÁNDEZ; VENTURA, 1998, p. 56). Esse enfoque pressupõe ainda que o aprendente, para construir um novo conhecimento, precisa fazer relações com o que já sabe sobre aquele assunto, com seus “esquemas internos e externos de referência” (HERNÁNDEZ; VENTURA, 1998, p. 57). Isso confirma o que dissemos anteriormente, ou seja, a construção do https://bit.ly/2Y6wiBy 96 conhecimento pressupõe a valorização e consideração dos saberes que cada aprendente já possui. É a partir do que ele sabe, das suas construções, da sua realidade, que o trabalho educativo deve partir. Com esses pressupostos, os projetos de trabalho são problematizados pelas/os educadoras/es, de forma que haja real envolvimento e interesse da turma para o início de um projeto, pois sem isso, o trabalho não se constitui como tal. Segundo Hernández e Ventura (1988, p. 62), “um projeto pode organizar-se seguindo um determinado eixo: a definição de um conceito, um problema geral ou particular, um conjunto de perguntas inter-relacionadas, uma temática que valha a pena ser tratada por si mesma”, dentre outros. Durante muito tempo, por falta de uma leitura mais cuidadosa sobre essa proposta, muitas escolas acreditavam que os temas dos projetos deveriam vir exclusivamente dos/as estudantes, de maneira espontaneísta, sem que o/a educador/a pudesse interferir. No entanto, essa afirmação dos autores, nos ajuda a perceber que variadas são as possibilidades de surgimento de um projeto em sala de aula, cabendo ao/à educador(a) estar atento/a a essas possibilidades e, quando possível e necessário, também sugerir temáticas que sejam complexas o suficiente para se transformarem em um projeto. O objetivo, a justificativa, as etapas, os índices, as apreciações, o portfólio, são sempre construídos coletivamente, com a participação ativa dos/as estudantes. As etapas realizadas são avaliadas pelo coletivo da turma, visando sistematizar o que já foi desenvolvido e planejar os próximos passos. Os momentos de discussão são frequentes, quando as crianças, geralmente em roda, discutem, sugerem, questionam, tornando o processo participativo e democrático. Uma forma importante de registro utilizada nos Projetos de trabalho é o Portfólio, ou porta-fólio, instrumento que vem da área de Artes e que foi incorporado à Educação. Através dele, os/as estudantes coletam, organizam, selecionam, sistematizam informações e produções coletivas e individuais. Não é uma mera coletânea de materiais, de atividades, mas sim, o registro sistemático de um processo de aprendizagem no qual o sujeito aprendente age ativamente sobre o objeto de conhecimento. Importante destacar o caráter singular dos portfólios, pois, como representam o processo de cada estudante, cada portfólio é único, assim como cada estudante também é único. 97 Nessa parte do texto a seguir, compartilharemos com você, estudante, algumas experiências do trabalho com projetos na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Os relatos foram produzidos por educadoras, com as quais, trabalhamos ao longo de alguns anos de nossa carreira. A opção em trazer esses textos se fundamenta na importância que atribuímos ao compartilhamento dos saberes e práticas docentes. São educadoras ajudando na formação de outras educadoras, a partir de sua vivência em sala de aula, no cotidiano da docência. O primeiro projeto a ser compartilhado com você é da Educação Infantil, desenvolvido com crianças do Maternal, na faixa etária de 2/3 anos, no ano de 2019. 5.4 EDUCADORAS RELATAM EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS 5.4.1 Projeto “Cores, aromas e sabores”. Um dos temas propostos pela Base Nacional Comum Curricular é o Empreendedorismo. Tínhamos como desejo desenvolver um projeto com essa abordagem, mas que partisse da necessidade e interesse das crianças, como sempre fazíamos. Queríamos que fosse algo real, significativo na vivência delas, pois se não https://bit.ly/3B3OaLP https://bit.ly/2ZyXQQh 98 fosse dessa forma, não se caracterizaria como um projeto. Assim, ao longo de algumas semanas, fomos planejando atividades com o objetivo de problematizar a temática na turma. Uma das atividades foi a culinária, momento em que o interesse das crianças pelas hortaliças foi despertado. E assim, associando a outras atividades motivadoras e problematizadoras, surgiu nas turmas de Maternal II e Maternal III, o projeto “Cores, aromas e sabores”, que teve como finalidade a produção e a comercialização de temperos. Foi um projeto com duração de aproximadamente oito meses, no qual foi possível trabalhar o conhecimento de maneira globalizada, envolvendo as diferentes áreas do conhecimento e campos de experiência propostos para a Educação Infantil. Como dissemos, a culinária foi uma atividade de problematização do projeto; quando preparávamos, coletivamente, uma omelete com o uso de hortaliças (cebolinha e salsinha),as crianças foram motivadas a explorar as características desses ingredientes, cheirando, apalpando e sentindo o sabor, algo que aguçou a curiosidade delas e, decidimos, então, plantar hortaliças e produzir temperos. Foi um processo com muito diálogo, participação, observação e estabelecimento de relações. Dentre as etapas, houve uma visita a uma horta de uma vizinha da escola, a Dona Hilda; seleção e exploração de semestres e mudas; organização dos vasos; plantio coletivo e individual, já que cada criança também plantou uma muda para levar para casa; cuidados diários com as plantinhas, colheita das plantas; realização de culinária com as plantinhas colhidas; pesquisas diversas; observação e estudo dos bichinhos encontrados nas plantas; chá com os/as vovôs/ós, dentre outras. Destacamos o alvoroço causado nas crianças quando apareciam os bichinhos, como caramujos, joaninhas, minhocas. Era um misto de curiosidade, surpresa, receio, euforia, encanto e vontade de pegar. Foram momentos com muitas experimentações e aprendizado. Outro momento que merece destaque foi o cuidar das plantinhas em casa. Isso porque, além dos vasos plantados na escola, cada criança plantou uma mudinha, assumiu o compromisso de cuidar dela e, ao final do projeto, reunimos todas as plantinhas na escola, para fazermos uma doação. Era de nosso conhecimento que a APAE de nossa cidade cultivava hortaliças como a salsinha, 99 que era usada nas refeições dos (as) alunos (as) e funcionários (as) do local. Além disso, sabíamos também que faziam temperos com algumas ervas que plantavam para vender e arrecadar fundos para a manutenção da instituição. Entramos em contato com a Dorinha, funcionária da instituição, e agendamos uma visita para levarmos as plantinhas. Ela nos recebeu com muito carinho e gratidão e nos ensinou o passo a passo da produção do tempero. As crianças ficaram atentas a tudo que ela dizia e fazia. O cheiro das ervas e dos outros ingredientes se misturando no liquidificador era sentido de longe. Depois de vermos e aprendermos tudo aquilo, ficamos ansiosos (as) para prepararmos nosso próprio tempero com as ervas que havíamos plantado. Mas o que faríamos com o dinheiro que fosse arrecadado com a venda dos temperos na escola? Fomos ouvir a opinião das crianças em uma roda de conversa, e uma delas sugeriu que fôssemos tomar açaí. Logo, todas concordaram, animadas pelo colega. Afinal, bons empreendedores trabalham em equipe e estão sempre abertos a novas sugestões. Depois que nos organizamos e definimos os detalhes com as famílias e a direção da escola, compramos os recipientes para armazenar o tempero, criamos um rótulo com o nome do projeto e a descrição dos ingredientes. O convite foi feito a todas as turmas e colaboradores da escola para nos prestigiar e comprar nosso tempero. Chegou o grande dia. A produção começou animada com a ida dos Maternais II e III para o pátio fazer a colheita das ervas que seriam usadas. Em seguida, de volta à cozinha, tudo foi lavado, crianças e professoras com toucas nas cabeças e iniciamos o preparo e o armazenamento do tempero. Ninguém queria ficar de fora, os olhinhos estavam atentos o tempo todo. Tudo foi feito com a participação das crianças, mas com muito cuidado para manter a segurança de todas elas. Tempero pronto para a comercialização. Em uma mesa previamente montada no pátio da escola, levamos toda a nossa produção para a venda. As crianças ficaram super animadas com o vai e vem de “clientes” e nessa “brincadeira” de comércio, conseguimos vender todos os temperos produzidos. O dinheiro arrecadado foi suficiente para levar as duas turmas para tomarem açaí e sorvete à vontade, no centro da cidade. Foi um dia de muita diversão e alegria! 100 Através desse projeto as crianças puderam desenvolver diversas habilidades nas diferentes áreas do conhecimento. Os pequenos e pequenas vivenciaram experiências de contato com a terra, com minhocas, lagartas, caracol, sentiram a textura da terra, das sementes, folhas, e o aroma que cada uma das plantinhas possui. Desenvolveram a capacidade de cuidar das plantas, de planejar e executar um empreendimento. A investigação e ação estiveram presentes a todo momento e, temos certeza que foi uma experiência significativa e de muita aprendizagem para todas as crianças. Aprendizagem para toda a vida. Figura 6: Chá com os/as vovôs/ós, organizado com as crianças Fonte: Arquivo pessoal das Autoras (2021) O segundo projeto que compartilhamos com você, foi desenvolvido por uma turma de 2º período, da Educação Infantil, crianças na faixa etária de 5 anos, no ano de 2019. 5.4.2 Projeto “Nossa Formatura” Em nossa região, é comum as escolas prepararem um evento de finalização da Educação Infantil, chamado por muitos, de “formatura”. Há um envolvimento efetivo das escolas e das famílias na organização desse evento, geralmente muito esperado por ambas as partes. Mas, como ficam as crianças diante disso? Que real sentido possui esse evento na vida delas? O nosso anseio sempre foi o de tornar cada vez mais significativo qualquer evento ou atividade escolar, pois se não for assim, as crianças vivenciarão algo simplesmente por ser uma demanda social, familiar ou escolar. Não acreditamos nisso e, dessa forma, desenvolvemos com as crianças um projeto com o objetivo de organizar com elas a própria formatura, pois elas são vistas, por nós, como protagonistas da própria aprendizagem. 101 Após um período de problematização, iniciamos o projeto intitulado “Nossa Formatura”, com o intuito de planejar, organizar, estabelecer metas e realizar o evento, com a participação ativa das crianças ao longo de todo o processo. No desenvolvimento do projeto, várias áreas do conhecimento foram trabalhadas de forma lúdica, prazerosa e integrada. Foram várias ações planejadas e realizadas, como, entrevistas com adultos e outras crianças que já tinham se formado nessa etapa de estudos, envolvendo a família e outras turmas da escola. Assistimos a vídeos de outros formandos e apreciamos fotografias. Tivemos um encontro com a costureira, que veio à escola conversar com a turminha sobre as fantasias que seriam usadas, momento em que cada criança colocou as suas expectativas e ideias. Conseguimos estabelecer parcerias com os familiares e amigos para a realização de uma rifa que ajudou a custear a formatura. Vendemos doces e pipas na escola, produtos feitos e confeccionados pela própria turminha e familiares. Escrevemos e ilustramos um livro de reconto da história “O mágico de Oz” - tema da formatura - e claro, não posso deixar de relatar os vários ensaios realizados para a peça teatral, que envolvia a todos(as). Em todos esses momentos, tivemos o apoio de muitas pessoas que abraçaram essa causa conosco. Foram momentos de muito aprendizado, construídos de forma leve e com grande valor sentimental. Enfim, ao desenvolver esse projeto, conseguimos trabalhar as etapas necessárias de organização de uma formatura, além de estimular o lado empreendedor das crianças. Acredito que esse projeto tenha sido marcante para cada criança, assim como foi para mim. A formatura é um momento muito especial e a construção de cada etapa, foi algo realizado coletivamente, possibilitando grandes expectativas e um incrível espetáculo no final com uma peça teatral, em um lindo palco e com a plateia aplaudindo de pé. Figura 7: Formatura das crianças 102 Fonte: Arquivo pessoal das Autoras (2021) Passaremos agora a apresentar projetos realizados com crianças do Ensino Fundamental, anos iniciais. O primeiro é de uma turma de 4º ano, crianças na faixa etária de 9/10 anos, desenvolvidono ano de 2019. 5.4.3 Projeto “Sonhar, economizar e realizar” As relações que envolvem o uso do dinheiro estão presentes na vida social e trabalhá-las na escola constitui um importante recurso para diferentes áreas do conhecimento. Observei, no entanto, que a turma do 4º ano do Ensino Fundamental do Centro Educacional Arco-Íris, tinha ainda pouco contato social com o dinheiro, sendo restritas as relações envolvendo mesada, orçamento familiar, doação, poupança, lucro, planejamento financeiro, entre outros. Esse projeto se justificou pela necessidade dos/as estudantes vivenciarem experiências sobre o uso do dinheiro e atuarem de maneira mais efetiva nas relações sociais. Sabemos que a escola deve preparar os/as estudantes para serem cidadãos conscientes e autônomos e, a educação financeira está envolvida nesses objetivos. O trabalho foi organizado a partir das seguintes fases: 1. A iniciação – Problematizei a temática, buscando investigar o que os/as estudantes conheciam sobre, apresentei vídeos, livros e outros recursos textuais que pudessem causar o interesse e envolvimento, levando em consideração o cotidiano das crianças. Entreguei um cofre individual para cada criança. 2. O planejamento – Confeccionamos o cofre coletivo da turma e definimos juntos nossas metas, planejando detalhadamente as ações individuais e coletivas do 103 projeto, que se realizariam durante aproximadamente oito meses promovendo rifas, exposições, vendas e outras ações; 3. A execução – Nesta fase, colocamos em prática, coletivamente, o que foi planejado, sempre alinhando a boa comunicação com as famílias, buscando sempre promover a motivação dos/as estudantes. Conhecemos projetos sociais, realizamos pesquisas diversas e entrevistas com empreendedores locais de áreas da preferência dos alunos, promovemos debates e palestra com Microempreendedor Individual (MEI) da cidade, fizemos compra em um Supermercado para atividade de culinária e realizamos reuniões mensais, estimulando o compromisso, o senso de responsabilidade, a escrita e a oralidade por meio de registros em ata, além da contagem do dinheiro arrecadado. 4. O encerramento das atividades foi marcado com passeios a alguns locais escolhidos pela turma, financiados com o dinheiro arrecadado durante o projeto e, ainda, fizemos uma doação para uma ONG da cidade, que cuida e ampara animais de rua. Desenvolver junto às crianças o projeto “Sonhar, economizar e realizar”, foi uma experiência muito enriquecedora que me remete uma enorme alegria ao olhar o caminho que percorremos. As atividades realizadas no decorrer do ano possibilitaram às crianças conhecer melhor as suas relações com o dinheiro, construindo conceitos e abordando conteúdos significativos, de relevância. Além de aprenderem sobre as melhores escolhas com o uso do dinheiro, desde pequenas, o projeto despertou nas crianças o senso de solidariedade através da percepção do papel social de cada uma. As atividades foram bem válidas e todas afirmaram ter gostado, pois aprenderam a economizar e gastar menos em várias situações, algo importante para o presente e para o futuro. Aprenderam também o quanto é gratificante ajudar o próximo, defender uma causa social, promovendo o bem. Figura 8: Entrevista com um microempreendedor da cidade 104 Fonte: Arquivo pessoal das Autoras (2021) Por fim, temos o prazer de compartilhar com você, estudante, mais um projeto desenvolvido também por uma turma de 4º ano, com faixa etária entre 9/10 anos, no ano de 2018. 5.4.4 Projeto “4º ano no mundo do silêncio” No ano de 2018, desenvolvi um projeto com estudantes do 4º ano do Ensino Fundamental do Centro Educacional Arco-Íris, intitulado “4º ano no mundo do silêncio.” O interesse da turma do 4º ano por pessoas surdas e pela comunicação através da língua de sinais, a curiosidade demonstrada por meio de diversas perguntas e questionamentos em função de atividades variadas em sala envolvendo a diversidade, o respeito e a tolerância, foram fontes de motivação para a elaboração deste projeto. A obra literária de Walcyr Carrasco, “Daniel no mundo do silêncio”, aumentou ainda mais o interesse da turma pelo assunto, antes mesmo de começarmos a leitura. Após a leitura do livro de minha autoria, “O menino que brigava com as palavras”, que mostra os desafios sociais enfrentados por uma criança com dificuldades na fala, várias sugestões foram apresentadas para o tema do projeto, até que todos concordaram que o mais adequado seria “Libras e respeito às diferenças”. A Língua Brasileira de Sinais - Libras é a segunda língua oficial do Brasil (Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002) porém, ainda é pouco conhecida entre os brasileiros. Por isso, o objetivo principal do projeto foi garantir a interação e a comunicação entre a criança surda e a ouvinte, proporcionando a possibilidade das crianças ouvintes conhecerem sobre a educação inclusiva de surdos, seus desafios e conquistas, bem como a língua de sinais. 105 A primeira etapa foi identificar os conhecimentos prévios da turma, descobrir o que todos queriam saber sobre o assunto e juntos buscarmos ações que nos levariam a responder às questões apresentadas. Posteriormente, partimos para a escolha do nome “4º ano no mundo do silêncio”, realizada por meio de votação envolvendo a turma e funcionários da escola. Um dos momentos mais divertidos foi a “Culinária Maluca”, na qual as crianças deveriam indicar os ingredientes de um bolo de cenoura usando apenas sinais ou gestos. Outro momento marcante foi a entrevista com a mãe de uma criança surda que, além de contribuir e emocionar contando sua história, ensinou aos (as) alunos (as), alguns sinais e jogos em Libras. A visita à Escola Estadual Francisco Sales, em Belo Horizonte, capital mineira, destinada ao atendimento de pessoas surdas foi muito especial. Lá, cada aluno (a) ouvinte recebeu um sinal dos (das) alunos (as) surdos (as), brincaram, se comunicaram e puderam ter empatia, pois naquele lugar todos usavam Libras e os ouvintes é quem tinham que se adaptar. Até o Centro Educacional Arco-Íris ganhou um sinal em Libras. Foi gratificante testemunhar crianças ouvintes tendo a possibilidade de desvendar os mistérios deste mundo silencioso e perceber o quanto é importante para uma pessoa surda ou com qualquer tipo de necessidade especial se sentir amada, acolhida, respeitada e segura de que seu direito de viver em sociedade está sendo garantido. A culminância do projeto foi a exposição de todo o trabalho desenvolvido pela turma para a apreciação da escola e da comunidade. O Projeto “4º ano no mundo do silêncio”, desde o início, foi muito inspirador. Os/as estudantes mostraram curiosidade e interesse durante todo o processo, realizaram pesquisas e atividades variadas e desenvolveram a autonomia, ao apresentarem para os/as colegas, sugestões de vídeos e brincadeiras que enriqueceriam o nosso trabalho. Muitas descobertas foram feitas e muitas experiências foram trocadas. Figura 9: Crianças aprendendo libras com estudantes surdos 106 Fonte: Arquivo pessoal das Autoras (2021) Os relatos de experiência destes educadores, nos mostram, na prática, como acontecem trabalhos que consideram o/a estudante como protagonista de seu processo de aprendizagem e o/a educador/a como mediador/a. Você deve ter percebido que os fundamentos apresentados desde o início deste capítulo se fizeram presentes nesses projetos ora apresentados. O que queremos defender é que é possível e necessário promovermos uma educação inclusiva, acolhedora, dialógica, participativa e transformadora. 107 FIXANDO O CONTEÚDO1. (COTEC) Propor às crianças a brincadeira do faz-de-conta, como fala Lev Vygotsky, e/ou o jogo simbólico, como descreve Jean Piaget, como condição para o desenvolvimento infantil, requer uma forma de organização dos ambientes de aprendizagem que, na perspectiva do sistema de ensino, é orientada através do(a): a) Currículo e pelo projeto pedagógico da instituição educacional. b) Dinâmica dos cuidados com a alimentação, lazer e moradia. c) Dinâmica das ações que envolvem a higiene e a limpeza. d) Saber do senso comum, com um calendário voltado a comemorar determinadas datas. e) Brincadeira infantil, na qual assume vários papéis sem interação com o cotidiano. 2. (AMEOSC) A teoria sociocultural de Vygotsky, assim como a teoria de Piaget, enfatiza o envolvimento ativo da criança com seu ambiente; mas, enquanto Piaget descrevia a mente, por si só, absorvendo e interpretando informações sobre o mundo, Vygotsky via o crescimento cognitivo como um processo: a) Colaborativo. b) Formal. c) Reacional. d) Resolutivo. e) Individual. 3. (COTEC) Segundo Freire (1996), “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.” Se essas tendências forem consideradas pelo profissional pedagogo, no exercício de suas atividades pedagógicas, serão perceptíveis, no ambiente de trabalho, a) Memorização de conteúdos como uma forma de preservação da cultura letrada e do conhecimento. b) Diálogos que incentivem à busca pela aprendizagem e incentivos às trocas de 108 experiências. c) Capacitações para mistificação da realidade e treinamentos para a resolução de problemas. d) Experiências compartilhadas com o objetivo de reforçar suas crenças e influenciar as atitudes dos outros. e) Rigorosidade metódica, no processo de aprendizagem, para limitar o pensamento crítico do educando. 4. (FUNIVERSA) A mediação da aprendizagem depende da qualidade da interação entre mediador e mediado. O docente deve estabelecer com os alunos relações baseadas na colaboração mútua e na coordenação das ações dos indivíduos. Acerca do comportamento grupal e intergrupal da liderança do professor, assinale a alternativa correta. a) O professor deve ter como tarefa essencial a organização do contexto, imaginando e propondo situações-problema adequadas. b) O docente deve instaurar uma relação de sancionamento, de coerção das ações de aprendizagem do educando. c) Com o trabalho de mediação, o aluno adquire autonomia em relação ao seu aprendizado, e a intervenção do docente torna-se desnecessária. d) O professor-mediador não pode ser um observador do comportamento do aluno, mas deve avaliá-lo, determinando, quando possível, seu progresso, sua melhoria. e) O docente não deve colocar-se no lugar do aluno, pois os papéis de um e de outro podem ser confundidos em suas intenções. 5. (COMPERVE, 2019). No campo da pedagogia, uma das metodologias amplamente em discussão, para contribuir com a melhoria da aprendizagem e da educação dos estudantes, é a aprendizagem baseada em projetos. O interesse crescente dessa metodologia pode ser explicado, entre outros motivos, pelo fato de: a) Estimular o estudante a duvidar e a pesquisar como também pelo fato de criar condições que estimulem a compreensão e a reconstrução do conhecimento. b) Estimular o estudante a resolver problemas em grupo em contraponto com a 109 autonomia intelectual indesejada na escola. c) Assumir o professor o papel protagônico da aprendizagem dos estudantes e ser, ao mesmo tempo, o mediador do processo. d) Assumir o professor o papel de planejar as atividades que devem ser realizadas pelo grupo de estudantes. e) Nenhuma das alternativas anteriores. 6. Paulo Freire, importante educador brasileiro, nos incita a pensar e efetivar uma pedagogia problematizante, em contraponto à educação bancária que, infelizmente, é ainda muito presente em nossas escolas. Sobre essa discussão, leia as afirmações a seguir. ( ) A concepção de educação bancária se fundamenta na ideia de que cabe ao professor transmitir e depositar informações nos alunos, que por sua vez, precisam recebê-las passivamente. ( ) A educação bancária estabelece uma relação de respeito às diferenças e ao tempo de aprender de cada indivíduo. ( ) A educação bancária permite a estudantes e educadores uma relação de diálogo e de construção conjunta de conhecimento. ( ) A pedagogia problematizante é dialógica, inclusiva. É possibilitado a estudantes e educadores questionarem a realidade, buscarem respostas, pois são sujeitos ativos no processo de ensinar e de aprender. ( ) A pedagogia problematizante está baseada na transmissão de conteúdos pelos professores, pois eles detêm o saber. A sequência está correta em: a) V, V, F, V, F b) V, F, F, V, F c) V, F, F, F, F d) V, F, V, V, F e) V, V, V, F, V 7. Os projetos de trabalho são considerados uma nova forma de organizar os conhecimentos. Sobre essa temática, analise as afirmações a seguir. 110 I. Os projetos de trabalho vinculam-se a uma perspectiva de conhecimento globalizado e relacional. II. Segundo Hernández e Ventura (1988, p. 62), “um projeto pode organizar-se seguindo um determinado eixo: a definição de um conceito, um problema geral ou particular, um conjunto de perguntas inter-relacionadas, uma temática que valha a pena ser tratada por si mesma”, III. Os projetos de trabalho devem partir exclusivamente dos/as estudantes, de maneira espontaneísta, sem que o/a educador/a possa interferir. IV. Todas as etapas de um projeto são definidas e desenvolvidas envolvendo toda a classe. Assinale a alternativa correta: a) Todas as alternativas estão incorretas b) Todas as alternativas estão corretas c) Apenas a alternativa II está correta d) Apenas a alternativa III está incorreta e) Apenas a alternativa IV está incorreta. 8. Na abordagem pedagógica dos Projetos de Trabalho, o Portfólio aparece como um instrumento de grande importância, pois acompanha o processo de aprendizagem do/a estudante. Sobre essa temática, leia as afirmações a seguir. I. O Portfólio, também conhecido como Porta-fólio é originário da área de Artes. II. No portfólio podem ter produções individuais e coletivas. III. O Portfólio é uma coletânea de atividades, portanto, todos/as os/as estudantes de uma turma terão o mesmo material ao final do projeto. IV. Através do portfólio, os/as estudantes coletam, organizam, selecionam, sistematizam informações e produções. V. O portfólio é um instrumento singular, pelo fato de ser individual, de apresentar as produções de cada estudante e também produções coletivas da turma. Assim, cada estudante produz, seleciona, reflete de uma forma; consequentemente, os portfólios são diferentes, únicos. 111 Assinale a alternativa correta: a) Todas as alternativas são verdadeiras b) Todas as alternativas são falsas c) Somente a alternativa III é falsa d) As alternativas III e V são falsas e) A alternativa II é falsa. 112 O DESAFIO DA FORMAÇÃO DE EDUCADORES(AS) Iniciaremos a nossa última unidade abordando uma temática muito relevante: a formação de educadores/as. O que percebemos é que, embora muito debatida no meio acadêmico, a formação de educadores/as ainda é um desafio para a Educação brasileira e, por isso, é preciso sempre colocá-la em pauta, a fim de ampliarmos a discussão e buscarmos meios de efetivá-la a partir das necessidades dos sujeitos, sejam educadores/as ou educandos/as. Seguindo a dinâmica das unidades anteriores, iniciaremos abordando a formação a partir de alguns documentos oficiais, a fimde percebermos como ela vem sendo tratada na história mais recente de nosso país. Salienta-se que não é nosso objetivo discutir toda a legislação, mas somente algumas que consideramos mais relevantes para se entender o processo de formação docente em nosso país nos últimos anos. 6.1 A FORMAÇÃO DOCENTE: ASPECTOS LEGAIS Como já discutido em capítulos anteriores, a Constituição Federal de 1988 é um marco importante para a educação em nosso país, sobretudo, pelo direito à educação a todos/as os/as brasileiros/as, independente da idade, da classe social, gênero. No que se refere à formação de educadores/as, a Constituição Federal, no seu art. 206 apresenta alguns princípios gerais da Educação, que nos ajudarão a compreendê-la. Vejamos: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V- valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; UNIDADE 06 113 (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). (BRASIL [1988], 2020, Art. 206). Esses capítulos do Art. 206 se referem à educação, na perspectiva do direito a ser concedido a estudantes e aos educadores e, podemos dizer, que se relacionam também à formação do/a educador/a. Ensinar exige uma boa formação e também a valorização do trabalho docente, que se dá, entre outras coisas, com um plano de carreira, concurso público, dentre outros. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) amplia a discussão sobre a formação docente e no Art. 62 apresenta as exigências de formação para o/a professor/a atuar. Segundo esse artigo: A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal (BRASIL, 1996, Art. 62). Certamente esse é um avanço, pois até então, a educação superior não era uma exigência para a atuação docente, embora se admita, ainda hoje, a formação em nível médio. A década de 1990 assistiu a uma ampliação considerável das instituições superiores de formação de docentes, motivada pela LDB que, na data de sua promulgação, definiu que em dez anos, todos/as os/as professores /as deveriam ter cursado o ensino superior. A corrida dos/as educadores/as pela formação fez com que a rede particular de ensino se colocasse de forma mais incisiva no mercado a fim de acolher a essa demanda significativa que surgia. Durante algum tempo, após a promulgação da LDB, a formação de nível superior de educadores/as para atuarem na Educação Infantil e no Ensino Fundamental (anos iniciais) se deu, inicialmente, como curso Normal Superior através do Decreto 3.276/1999, como espaço exclusivo de formação. Após vários embates, no ano de 2000, a legislação é alterada e o curso Normal Superior passa a ter caráter preferencial, mas não exclusivo, conforme verificamos no parágrafo 2º do Art. 3º: A formação em nível superior de professores para a atuação multidisciplinar, destinada ao magistério na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, far-se-á, preferencialmente, em cursos normais superiores (BRASIL, 1999, Art. 3º, § 2º). Ainda no parágrafo terceiro do art. 3º, o Decreto apresenta os conteúdos da 114 formação de professores no Curso Normal Superior. Os cursos normais superiores deverão necessariamente contemplar áreas de conteúdo metodológico, adequado à faixa etária dos alunos da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, incluindo metodologias de alfabetização e áreas de conteúdo disciplinar, qualquer que tenha sido a formação prévia do aluno no ensino médio (BRASIL, 1999, Art. 3º). Percebe-se, a partir desse parágrafo, a formação técnica que se esperava na formação docente, nos cursos Normais superiores. Não se priorizavam uma formação mais ampliada, com viés também teórico, algo tão necessário à formação, pois uma formação mais ampliada favorece a criticidade. Portanto, essa redução curricular foi um forte motivo de críticas ao Curso Normal Superior e de pedidos pela sua substituição por um novo curso que favorecesse uma formação mais ampliada. O Conselho Nacional de Educação, após criar um Parecer, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena em fevereiro de 2002 - Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002. O Art. 2 desta Resolução trata da organização curricular dos cursos de formação em Licenciatura e ao analisarmos, podemos perceber que os conteúdos da formação se ampliam consideravelmente, se o compararmos com os cursos Normais Superiores. Vejamos: I - o ensino visando à aprendizagem do aluno; II - o acolhimento e o trato da diversidade; III - o exercício de atividades de enriquecimento cultural; IV - o aprimoramento em práticas investigativas; V - a elaboração e a execução de projetos de desenvolvimento dos conteúdos curriculares; VI - o uso de tecnologias da informação e da comunicação e de metodologias, estratégias e materiais de apoio inovadores; VII - o desenvolvimento de hábitos de colaboração e de trabalho em equipe (BRASIL, 2002). Salienta-se que essas Diretrizes dão às instituições formadoras a autonomia para elaborarem as suas matrizes curriculares, desde que resguardados os princípios e orientações defendidos por elas, conforme vemos no Art. 14, parágrafo 1º: A flexibilidade abrangerá as dimensões teóricas e práticas, de interdisciplinaridade, dos conhecimentos a serem ensinados, dos que fundamentam a ação pedagógica, da formação comum e específica, bem como dos diferentes âmbitos do conhecimento e da autonomia intelectual e profissional (BRASIL, 2002, Art. 14, § 1º). Importante destacar que entre os anos de 2002 e 2005, alguns Pareceres e Resoluções foram elaborados e emitidos pelo Conselho Nacional de Educação. Já 115 em 2006, o Conselho Nacional de Educação aprova a Resolução CNE/CP n.º 1, de 15 de maio de 2006, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Retomando a nossa discussão sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, Licenciatura, encontramos no Art. 2º deste documento, as áreas de atuação do pedagogo, ou seja, em quais frentes ele pode desenvolver o seu trabalho. Vejamos: As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos (BRASIL, 2006, Art. 2º). Essa determinação nos mostra a amplitude da atuação do pedagogo a partir dessas Diretrizes, ou seja, as possibilidades de trabalho educativo se ampliam, não https://bit.ly/3F2XTUG https://bit.ly/2ZGsx6k 116 sendo restritas mais à docência na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental. Agora, o pedagogo poderá atuar também no curso normal a nível de ensino médio, em cursos de educação profissional e ainda em áreasde organização e gestão nas escolas e em sistemas de ensino. Tendo ampliado a atuação do pedagogo, as Diretrizes apontam também para a formação desses docentes, que, necessariamente, precisa também se ampliar. No art. 3º, lemos assim: O estudante de Pedagogia trabalhará com um repertório de informações e habilidades composto por pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, cuja consolidação será proporcionada no exercício da profissão, fundamentando-se em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2006, Art. 3º). Caminhando um pouco mais pela legislação, um marco importante é a Resolução n.2, de 1º de julho de 2015, define as “Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada.”. Esta Resolução foi muito vista no meio acadêmico, por se acreditar que ela valoriza a formação docente; por dar autonomia às instituições formadoras; por articular a formação inicial e a continuada; por considerar o ensino, a pesquisa e a extensão como indissociáveis; por reconhecer as instituições de educação básica como potentes na formação docente; por defender que a formação deve ter base científica, teórica e interdisciplinar, dentre outros aspectos (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2015). No entanto, as instituições nem tiveram tempo hábil de implementar essa Resolução e foram surpreendidas pela Resolução CNE/CP nº 2, de 20 de dezembro de 2019, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica, conhecidas como BNC- Formação (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2019). Essas diretrizes surgem como consequência da BNCC da Educação básica, já 117 que se acredita que os/as professores/as, para garantirem as aprendizagens essenciais aos estudantes, precisam ter uma formação condizente a esse objetivo. Importante destacar que essa discussão foi inserida no Art. 62 da LDB que assim previa: “ os currículos dos cursos de formação de docentes terão por referência a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 1996). O capítulo II desta Resolução trata dos fundamentos e da política da formação docente e em seu Art. 6º apresenta variados elementos que se relacionam à BNCC e que precisam ser contemplados na formação. Dentre eles, destacamos três: II - a valorização da profissão docente, que inclui o reconhecimento e o fortalecimento dos saberes e práticas específicas de tal profissão; VII - a articulação entre a formação inicial e a formação continuada; VIII - a formação continuada que deve ser entendida como componente essencial para a profissionalização docente, devendo integrar-se ao cotidiano da instituição educativa e considerar os diferentes saberes e a experiência docente, bem como o projeto pedagógico da instituição de Educação Básica na qual atua o docente (BRASIL, 2019, Art. 6º). Várias têm sido as críticas a esta Resolução, por considerá-la impositiva, já que não houve participação de educadores em sua organização; por desconsiderar as pesquisas sobre formação docente desenvolvidas nos últimos anos e a autonomia universitária; por retornar ao modelo das competências, baseado em uma visão pragmática e neoliberal, dentre outras. Enfim, temos assistido, neste ano de 2021, a uma série de manifestos de instituições formadoras em defesa de uma nova organização dos cursos de Pedagogia. 6.2 A FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE No Art. 62, no parágrafo primeiro da LDB, vê-se uma junção de esforços entre o governo federal, o estadual e o municipal para a formação inicial e continuada do magistério, mostrando assim, que esse é um desafio a ser enfrentado por essas esferas administrativas. Convém aqui, entendermos alguns conceitos importantes relacionados à formação. O primeiro deles é a formação inicial. Buscando uma definição no Dicionário Trabalho, profissão e condição docente, uma importante fonte de consulta na área da Educação, encontramos a 118 formação inicial entendida como “formação de docentes para o magistério da educação básica que se efetiva em cursos de formação de professores, mediante um currículo direcionado ao exercício profissional (AGUIAR, 2010). Essa autora faz um resgate histórico da formação e aponta que há um debate acerca de diferentes posicionamentos que envolvem a formação docente. Que tipo de profissional se deve formar: aquele com competência técnica que atenda bem ao mercado de trabalho ou aquele com uma formação mais ampla, sólida, que abarca a formação técnica, como também cultural, científica e também política? Você foi percebendo, na leitura dos capítulos anteriores que, ao longo dos anos, essas diferentes concepções foram aparecendo nas legislações, reafirmando essa colocação da autora. Severino (2003) discute exatamente isso: o que deve se constituir como conteúdo de formação para os/as docentes? Ele nos mostra que aqui no Brasil, desde o final dos anos 70, passando pelas décadas de 80 e 90, a comunidade educacional vem se mobilizando para discutir e entender a formação de educadores/as. Esse autor vê na LDB um marco importante para essa discussão, visto que ela traz a exigência de uma formação de nível superior para educadores/as e, além disso, cria os Institutos Superiores de Educação, lócus privilegiado de formação docente. Ele entende que a formação docente não é meramente uma habilitação técnica, mas que deve ser ampliada, integral. Diante disso, ele faz uma crítica aos cursos de formação que não consideram a formação humana de maneira integral (SEVERINO, 2003, p. 75). Assim, o autor elenca alguns problemas identificados nos cursos de formação de professores/as em nosso país, sendo eles: 1. Os/as estudantes geralmente não se apropriam dos conteúdos científicos necessários à formação docente; 2. Os estágios geralmente são poucos e aligeirados, não permitindo que o estudante compreenda de maneira mais sistemática a dinâmica de sala de aula; 3. Os cursos de formação não oferecem subsídios aos estudantes para que eles conheçam a realidade histórico-cultural do contexto em que vai atuar; 4. O currículo dos cursos geralmente é fragmentado, as disciplinas não dialogam entre si; 5. 119 Predominância à transmissão de informações, repetições e reproduções, não permitindo que construa o seu conhecimento de maneira ativa e participativa (SEVERINO, 2003). Diante desse cenário de fragilidade encontrada nos cursos de formação de educadores/as, Severino (2003) sugere alguns conteúdos da formação inicial, sendo eles: conteúdos específicos (saberes da área em que vai atuar); conhecimento e desenvolvimento de habilidades técnicas (metodologias, recursos técnicos e científicos) e, ainda, relações situacionais, ou seja, que o estudante em formação tenha a possibilidade de conhecer a si mesmo, aos outros, estabelecer relações consigo mesmo, com o grupo ao qual pertence e com demais grupos, conhecendo as diferentes realidades (SEVERINO, 2003, p. 78). Enfim, o que Severino (2003) está propondo é um processo de conscientização e uma educação humanizadora e, quando falamos disso, logo nos vêm à mente as contribuições de Paulo Freire. Freire (1996), em seu livro Pedagogia da Autonomia nos traz reflexões muito relevantes para pensarmos a educação e a formação de educadores. Segundo ele, “ensinar exige criticidade”, “ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural”, “ensinar exige apreensão da realidade”, dentre tantos outros ensinamentosque nos ajudam a refletir sobre o nosso papel de verdadeiros/as educadores/as. Outra discussão que Severino (2003) faz é sobre a importância de algumas áreas do conhecimento na formação inicial dos/as educadores, citando a Psicologia, a Antropologia, a Filosofia e demais ciências Humanas e Sociais, pois, essas áreas possibilitarão ao estudante, futuro educador, uma formação prática, político e https://bit.ly/39LcPsg 120 social, ou, em outras palavras, uma formação humana, pois, segundo ele, “é sendo política que a atividade profissional se tornará intrinsecamente ética (SEVERINO, 2003, p. 83). 6.3 A FORMAÇÃO CONTINUADA DOCENTE O termo formação continuada nos remete à ideia de que não basta ao docente ter cursado uma faculdade ou um curso de nível médio para ter completado a sua formação. Isso porque, como nos dizia Paulo Freire, somos inacabados, estamos em processo constante de construção e de transformação e, por isso, é necessário que estejamos sempre em busca de ampliar o nosso conhecimento, a nossa formação geral. Segundo Diniz-Pereira (2010), a partir da década de 1980, no Brasil, ganha força a distinção entre a ideia de formação inicial ou “pré-serviço” e formação continuada, ou “em serviço”. No entanto, esse autor adverte para a problemática que surge ao separarmos a formação dessa maneira, pois, se observarmos em algumas regiões do país, inúmeros/as docentes atuam há anos sem formação inicial e só se qualificam em curso de formação após muitos anos de serviço. E, ainda, muitos foram e ainda continuam sendo educadores/as leigos/as, de notório saber, sem formação inicial. Diniz-Pereira (2010) faz uma crítica ainda à ideia que ainda vigora em nosso país de que a formação continuada é apenas um curso ou outro que o/a educador faz, incluindo aí a pós graduação lato sensu, muitas vezes, sem relação com suas reais necessidades formativas e que geralmente não representam uma melhoria na prática docente.. Com isso, nos últimos anos, essa ideia de separação entre formação inicial e formação continuada foi cedendo espaço para uma nova concepção: a de formação como um continnum, ou seja, de se encarar a formação como algo permanente, não estanque, não fragmentado, mas contínuo, com vistas ao desenvolvimento profissional docente. Por desenvolvimento profissional adotamos o conceito de Diniz-Pereira (2010), sendo entendido por ele como “uma concepção de formação não dissociada da própria realização do trabalho docente”. Ao falarmos em desenvolvimento profissional é importante percebermos também que o processo formativo do/a educador/a não se separa das suas condições de trabalho, que, de acordo com esse mesmo autor, precisa-se considerar: 121 salários dignos, maior autonomia profissional, dedicação exclusiva a uma única escola, pelo menos um terço da jornada de trabalho para planejamento, reflexão e sistematização da prática, estudos individuais e coletivos, salas de aula com um número reduzido de alunos, [...] (DINIZ-PEREIRA, 2010). 6.4 A ESCOLA COMO LÓCUS PRIVILEGIADO DE FORMAÇÃO Conforme estamos discutindo, é importante pensarmos que a formação é um processo permanente, contínuo, que deve fazer parte da vida profissional dos/as docentes. Vimos também que, embora muitos consideram que fazer um curso ou outro, vez ou outra, está fazendo formação continuada, mas não é bem assim que acontece. A formação, sendo vista como permanente e contínua, deve se associar às demandas formativas que os/as docentes apresentam a partir da sua realidade de sala de aula. Nesse sentido, destacamos aqui a importância da própria escola ser um lócus privilegiado de formação, pois é nesse espaço de vivência, de coletividade, de encontro entre os pares, que a formação acontece diariamente e deve ter momentos reservados a essa prática. Quando os/as docentes se encontram, compartilham suas angústias, seus saberes, suas experiências, suas inquietações e dúvidas, certamente estão se formando. Ademais, faz-se necessário que a escola reserve momentos para grupos de estudo, para reflexão sobre a prática, para construção de conhecimento de forma coletiva, compartilhada. Importante saber que a Lei n° 11.738, de 16 de julho de 2008 estabelece o Piso salarial e carga horária complementar aos educadores dentro das escolas, que deve ser destinada à formação. 6.5 RELATANDO UMA EXPERIÊNCIA 122 Caro/a estudante, nesse momento, eu, Angelita Azevedo, compartilho com você duas experiências acadêmicas/profissionais, que vivenciei ao longo da minha carreira. A primeira é a prática de grupos de estudos pelas escolas e redes nas quais desempenhei as funções de pedagoga/coordenadora e diretora pedagógica. Desde a primeira escola em que trabalhei, os grupos de estudos com os/as educadores/as foram uma marca da minha atuação enquanto educadora. Sempre acreditei que a escola é o local, por excelência, de formação e que precisávamos valorizar e defender esse espaço, como forma também de valorização profissional. Assim, tanto nas escolas particulares, quanto nas redes públicas municipais nas quais trabalhei, sempre tínhamos uma agenda de grupos de estudos e posso afirmar que o meu crescimento enquanto profissional se deve muito a essa experiência. A segunda experiência que compartilho é sobre a minha pesquisa de doutorado. Ela foi realizada na rede municipal de Diogo de Vasconcelos, Minas Gerais, entre os anos de 2018 a 2021 e constou de uma formação de educadoras da Educação de Jovens e Adultos, em ambiente colaborativo, no qual cada participante apresentava as suas demandas formativas e fomos construindo, ao longo desse tempo, um processo de estudo, de compartilhamento de experiências, vivências e saberes e sistematizando todas as nossas construções. Nessa pesquisa construímos duas revistas, uma de histórias de vida de educadoras e educandas/os e, outra, de textos produzidos pelas próprias educadoras, sobre o que significava, para elas, serem educadoras de pessoas jovens, adultas e idosas. Posso afirmar que essa foi uma das experiências mais marcantes e significativas em minha vida pessoal e acadêmica. E assim, querida/o estudante, finalizamos esse livro, com o desejo de que você tenha ampliado os seus conhecimentos acerca dos fundamentos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental, tenha se deliciado com as práticas pedagógicas apresentadas e compreendido que a formação é um processo permanente, contínuo. Portanto, jamais pare de estudar, de se aperfeiçoar e lute por uma educação onde todos e todas tenham resguardados os seus direitos. Lute por uma educação libertadora e emancipatória. 123 124 FIXANDO O CONTEÚDO 1. A formação docente em nível superior para atuar na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental (licenciatura) foi uma conquista na história recente da educação em nosso país. Embora se admita ainda a formação em nível médio para a atuação docente nestas séries, a formação de nível superior é desejável e, de certa forma, priorizada. Qual legislação determina a formação nesses moldes, apresentados acima? a) Constituição Federal de 1988 b) Lei de Diretrizes e Bases da Educação c) Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil d) Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002 e) Resolução CNE/CP nº 2, de 20 de dezembro de 2019 2. Conforme você estudou, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, definidas através da Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002, constituem um documento importante, que trata da formação docente em nosso país. Sobre as referidas Diretrizes, assinale a alternativa correta. É um documento que tratada organização curricular dos cursos de formação em Licenciatura; a) Os conteúdos sugeridos para a formação docente se ampliam consideravelmente, se o compararmos com o que era oferecido pelos cursos Normais Superiores; b) As matrizes curriculares dos cursos de formação de professores podem ser construídas pelas próprias instituições formadoras, desde que respeitem os princípios e as orientações defendidos pelas Diretrizes. c) Sobre os conteúdos indicados para a formação dos docentes, as Diretrizes sugerem vários, dentre eles, o exercício de atividades de enriquecimento cultural e o aprimoramento em práticas investigativas. d) As diretrizes não são importantes para a construção e direcionamento dos 125 conteúdos abordados pelas Instituições formadoras, desde que elas sigam valores de moral, ética e conduta. e) Todas as alternativas anteriores estão corretas. 3. No ano de 2006, o Conselho Nacional de Educação aprovou novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Licenciatura em Pedagogia. Em tais diretrizes são apontadas as áreas de atuação do/a pedagogo/a. Que áreas são essas? Assinale a alternativa correta. a) Somente na Educação Infantil; b) Somente nos anos Iniciais do Ensino Fundamental c) Na Educação Infantil, nos anos iniciais e nos anos finais do Ensino Fundamental. d) Na Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio na modalidade Normal, em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. e) Nenhuma das alternativas anteriores. 4. Em 2019, uma nova Resolução criada pelo Conselho Nacional de Educação, define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica. Sobre essas Diretrizes, leia as afirmações a seguir. I. Por instituir uma Base Nacional Comum para a formação, essas Diretrizes são conhecidas como BNC-Formação. II. As referidas Diretrizes surgem a partir da BNCC da Educação básica e objetivam formar os/as educadores/as, de forma que possam garantir as aprendizagens essenciais aos estudantes, definidas pela Base. III. Essas Diretrizes estão amparadas na LDB, que previa que os currículos dos cursos de formação de docentes terão por referência a Base Nacional Comum Curricular. Assinale a alternativa correta: 126 a) Todas as alternativas estão corretas b) Todas as alternativas são falsas c) Somente a alternativa II é falsa d) Somente a alternativa III é falsa e) Somente as alternativas II e III são corretas. 5. Na discussão sobre formação docente, um conceito bastante utilizado pela literatura é Formação Inicial. De acordo com AGUIAR (2010), a formação inicial é entendida como “formação de docentes para o magistério da educação básica que se efetiva em cursos de formação de professores, mediante um currículo direcionado ao exercício profissional. Tendo como base o estudo sobre essa temática, leia as afirmativas a seguir. I. Uma das discussões presentes envolvendo essa temática é sobre o tipo de profissional que se deve formar. Ou seja, deve-se almejar uma formação puramente técnica, ou uma formação mais ampliada, sólida, que envolva também aspectos científicos, culturais e políticos? II. Severino (2003) defende que a formação docente não é meramente uma habilitação técnica, mas que deve ser uma formação ampliada, integral. III. Uma crítica que se faz aos cursos de formação inicial docente se refere aos estágios, visto que na maioria das vezes são em quantidade insuficiente e aligeirados. IV. A Lei de Diretrizes e Bases dá um passo significativo no que se refere à formação inicial docente, ao vislumbrar a formação a nível superior a todos/as os/as educadores/as. Marque a alternativa correta: a) Todas as alternativas são corretas b) Todas as alternativas são falsas c) Somente a alternativa IV é falsa d) Somente as alternativas são verdadeiras, exceto a alternativa II e) As alternativas III e IV são falsas. 127 6. Ao se falar em formação inicial docente, algumas críticas são feitas com relação à qualidade dos cursos, o que interfere diretamente na qualidade da formação do/a educador/a e, consequentemente, na qualidade da educação, de maneira geral. Severino (2003) apresenta alguns problemas que, segundo ele, são encontrados em muitos cursos de formação de professores. Quais são os problemas na visão desse autor? Leia as alternativas a seguir e identifique-os. I. A realidade histórico-cultural do contexto em que o/a educador/a vai atuar, não é considerada, nem trabalhada; II. Os/as estudantes, futuros docentes, geralmente não se apropriam dos conteúdos científicos necessários à formação docente III. Os estágios são feitos em locais onde os/as docentes não irão trabalhar posteriormente. IV. Nos cursos os/as estudantes convivem com práticas de transmissão de informações, repetições e reproduções, não permitindo que construam o seu conhecimento de maneira ativa e participativa. Assinale a alternativa correta: a) Todas as alternativas são verdadeiras b) Todas as alternativas são falsas c) Somente a alternativa III é falsa d) As alternativas III e IV são falsas e) A alternativa I é falsa. 7. Na discussão acerca da formação docente, um conceito com o qual geralmente nos deparamos é o de formação continuada. Sobre ele, leia as afirmações a seguir e marque a alternativa correta. a) Formação continuada se refere ao curso inicial feito pelos educadores/as, no ensino superior ou médio, para que possam atuar profissionalmente. b) O termo formação continuada nos remete à ideia de que basta ao docente ter cursado uma faculdade ou um curso de nível médio para ter completado a sua formação. 128 c) Para se efetivar uma formação continuada, é importante fazer um curso uma vez por ano, independente da sua área de atuação. d) A formação continuada se restringe à realização de um curso de especialização lato sensu. e) O termo Formação continuada nos remete à ideia que somos inacabados, em processo constante de construção e de transformação e, por isso, é necessário que estejamos sempre em busca de ampliar o nosso conhecimento, a nossa formação geral. 8. o estudo sobre formação docente, você teve a oportunidade de se apropriar de alguns conceitos, como, por exemplo, Desenvolvimento Profissional docente. Esse conceito tem sido muito discutido no meio educacional e nos traz contribuições importantes. Leia as afirmações a seguir. I. Pensar no desenvolvimento profissional docente pressupõe compreender que a formação não se dá de maneira estanque, fragmentada, mas em um processo contínuo. II. O desenvolvimento profissional se efetiva com a percepção de que a formação não está dissociada das condições objetivas de trabalho do/a educador/a. III. Autores como Diniz-Pereira (2010), apontam que salários dignos, estudos individuais e coletivos, dedicação exclusiva a uma única escola, dentre outros aspectos, possibilitam o desenvolvimento profissional docente. IV. O desenvolvimento profissional docente se refere, exclusivamente, ao estudo permanente desenvolvido pelo/a educador/a ao longo de sua carreira. Assinale a alternativa correta: a) Todas as alternativas são corretas b) Todas as alternativas são falsas c) A alternativa II é falsa d) Somente a alternativa IV é falsa e) As alternativas I e IV são falsas. 129 130 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDOUNIDADE 01 UNIDADE 02 QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 D QUESTÃO 2 B QUESTÃO 2 A QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 B QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 B QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 A QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 A QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 B QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 B UNIDADE 03 UNIDADE 04 QUESTÃO 1 A QUESTÃO 1 B QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 B QUESTÃO 3 E QUESTÃO 3 A QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 C QUESTÃO 5 E QUESTÃO 5 B QUESTÃO 6 A QUESTÃO 6 A QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 D QUESTÃO 8 D QUESTÃO 8 E UNIDADE 05 UNIDADE 06 QUESTÃO 1 A QUESTÃO 1 B QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 E QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 D QUESTÃO 4 A QUESTÃO 4 A QUESTÃO 5 A QUESTÃO 5 A QUESTÃO 6 B QUESTÃO 6 C QUESTÃO 7 D QUESTÃO 7 E QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 D 131 REFERÊNCIAS AGUIAR, M. A. S. Formação inicial. In: OLIVEIRA, D. A.; DUARTE, A. M. C.; VIEIRA, L. M. F. 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