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32 VOLUME PSICOPEDAGOGIA REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA • Nº 99 • 2015 • ISSN 0103-8486 EDITORIAL / EDITORIAL ...................................................................................................283 ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES • Autoeficácia de cuidadores de crianças com o transtorno do espectro autista .............285 • Há relação entre desenvolvimento psicomotor e dificuldade de aprendizagem? Estudo comparativo de crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, dificuldade escolar e transtorno de aprendizagem .........................................................293 • Avaliação da memória em crianças e adolescentes com capacidade intelectual limítrofe e deficiência intelectual leve .............................................................................302 • Análise de itens da versão brasileira do Ages and Stages Questionnaires para creches públicas da cidade do Rio de Janeiro ......................................................... 314 RELATO DE EXPERIÊNCIA / EXPERIENCE REPORT • Avaliação psicopedagógica de criança com alterações no desenvolvimento: relato de experiência ........................................................................................................326 ARTIGO ESPECIAL / SPECIAL ARTICLE • Estratégia de inclusão: resgate da corporeidade no interior das escolas .......................336 ARTIGOS DE REVISÃO / REVIEW ARTICLES • A dupla-excepcionalidade: relações entre altas habilidades/superdotação com a síndrome de Asperger, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e transtornos de aprendizagem .......................................................................................346 • O brincar na clínica psicopedagógica .............................................................................. 361 • Educação Superior: vicissitudes da ação psicopedagógica .............................................366 SEÇÃO BAHIA Diretora Geral: Nilzan Gomes Santos Av. Tancredo Neves, 3343 – Edif. Cempre, sala 1105 Caminho das Árvores Salvador – BA – CEP: 41820-021 Tel: (71) 3341-0121 Seção / (71) 3362-0906 / 8838-9190 E-mail: abppssecao.ba@uol.com.br / nilzangomes@yahoo.com.br Vice-Diretora: Joanice Maria Bezerra Souza SEÇÃO BRASÍLIA Diretora Geral: Walderlene Ramalho QNE 02, Lote 01, sala 203, Ed. Bombini Clínicas Taguatinga / Brasília – DF – CEP: 72125-020 Tel (61) 9986-9667 E-mail: abppbsb@hotmail.com / wramalho_@hotmail.com Vice-Diretora: Marina Lima Beust SEÇÃO CEARÁ Diretora Geral: Andréa Aires Costa R. João Carvalho, 800, sala 1008 – Ed. Talent Center – Aldeota Fortaleza – CE – CEP: 60140-140 Tel: (85) 8543-4331/ 9967-2002 E-mail: abppce@psicopceara.com.br / airesfono@hotmail.com Vice-Diretora: Graça Maria de Morais Aguiar e Silva SEÇÃO GOIÁS Diretora Geral: Lucila Menezes Guedes Monferrari Av. 85, 684, sala 207 – Ed. Eldorado Center – Setor Oeste Goiânia – GO – CEP: 74120-090 Tel/Fax: (62) 3214-2178 / 8153-9648 E-mail: psicopedagogiagoiasabpp@gmail.com.br / lmg.monferrari@yahoo.com Vice-Diretora: Denise A.S. Baiocchi Carneiro SEÇÃO MINAS GERAIS Diretora Geral: Regina Rosa dos Santos Leal Av. Brasil, 248, sala 202 – Santa Ifigênia Belo Horizonte – MG – CEP: 30140-001 Tel: (31) 3221-3616 / 3239-5920 / 9238-1955 E-mail: abppminasgerais@gmail.com / reginaleal.uemg@gmail.com Vice-Diretora: Maria Ana Tafner Pereira SEÇÃO PARÁ Diretora Geral: Maria de Nazaré do Vale Soares Travessa 3 de Maio, 1218, sala 105 – Ed. Alpha Center São Braz – Belém – PA – CEP: 66060-600 Tel: (91) 3229-0565 / 9981-2076 E-mail: abpppa@yahoo.com.br / nazasoaresdovale@yahoo.com.br Vice-Diretora: Eliane Souza de Deus Neto Almeida SEÇÃO PARANÁ NORTE Diretora Geral: Rosa Maria Junqueira Sccichitano (interina) Rua Antonio Amado Noivo, 440 – Vila Ipiranga Londrina – PR– CEP 86010-640 Tel: (43) 9131-8016 E-mail: abpp.parananorte@hotmail.com SEÇÃO PARANÁ SUL Diretora Geral: Loriane Ferreira Rua Fernando Amaro, 431, Alto da XV Curitiba – PR – CEP: 80045-080 Tel: (41) 3363-8006 / 3282-9357 / 9106-9645 E-mail: diretoria@paranasul.com.br / loriane_ferreira@netpar.com.br Vice-Diretora: Heloisa Monte Serrat Barbosa SEÇÃO PIAUÍ Diretora Geral: Maria Alice de Santana Resende Rua Arlindo Nogueira, 333, SI 05 Edif. Luiz Fortes, Centro Teresina – PI – CEP: 64000-290 Telefone: (86) 9992-0817 E-mail: abppsecaopiaui@hotmail.com / alicepedag@hotmail.com Vice-Diretora: Benilde Ferreira de Assunção Farias SEÇÃO RIO DE JANEIRO Diretora Geral: Maria Katiana Veluk Gutierrez Av. Nossa Senhora de Copacabana, 861, sala 302 – Copacabana Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22060-000 Tel: (21) 2236-2012 E-mail: abpp-rj@abpp-rj.com.br Vice-Diretora: Fátima Galvão Palma SEÇÃO RIO GRANDE DO NORTE Diretora Geral: Ednalva de Azevedo Silva (interina) Rua Kerginaldo Cavalcante, 279 – Nova Descoberta Natal – RN – CEP: 59075-240 Tel: (84) 99988-3260 E-mail:psicopedrn@yahoo.com.br SEÇÃO RIO GRANDE DO SUL Diretora Geral: Iara Caierão Av. Venâncio Aires, 1119, sala 09 – Bonfim Porto Alegre – RS – CEP: 90520-000 Tel: (51) 3333-3690 / (54) 9607-7053 E-mail: secretaria@abpprs.com.br / iarac@terra.com.br Vice-Diretora: Gilca Maria Lucena Kortmann SEÇÃO SANTA CATARINA Diretora Geral: Maria Alice Moreira Bampi Rua Rui Barbosa, 574, apto 801 - Agronômica Florianópolis – SC – CEP: 88025-301 Tel: (48) 3365-1097 / 9999-0753 E-mail: abppsc@gmail.com / alicebampi@gmail.com Vice-Diretora: Lucimara Maia da Silva SEÇÃO SÃO PAULO Diretora Geral: Sandra Lia Nisterhofen Santilli Av. Dr. Arnaldo, 1690 – Sumaré São Paulo – SP – CEP: 01255-000 Tel – (11) 995131411 / 3259-0837 / 99158-0993 E-mail: saopaulo@saopauloabpp.com.br / nisterho@uol.com.br Vice-Diretora: Maria Cristina Natel SEÇÃO SERGIPE Diretora Geral: Nielza da Silva Maia de Souza R. Riachuelo, 1188, sl 16 – São José Aracajú – SE – CEP: 49015-160 Tel: (79) 3214-5363 r/ 222 / 9134-5652 E-mail: abppsergipe@gmail.com / nielzamaia@yahoo.com.br Vice-Diretora: Maria de Fátima Vasconcelos Gomes NÚCLEO ESPÍRITO SANTO Coordenadora: Cheila Araujo Mussi Montenegro Av. Nossa Senhora da Penha, 1495 – sl 504ª Ed. Corporate Center – Santa Lúcia Vitória-ES – CEP: 29056-905 Tel: (27) 98875-4508 / 99969-5545 E-mail: abpp.es@gmail.com / cheimussi@yahoo.com.br Vice-Coordenadora: Lucia Maria Gogoy NÚCLEO PERNAMBUCO Coordenadora: Roberta Claro (interina) Rua Aviador Severiano Lins, 73, sala 5 – Boa Viagem Recife – PE – CEP 51020-060 Tel: (81) 3466-1362 E-mail:abpppernambuco@gmail.com NÚCLEO SUL MINEIRO Coordenadora: Janaina Cristiane Guidi Pereira Rua Alberto Cabre, 300 – Vila Pinto Varginha – MG – CEP: 37010-630 Tel: (35) 9808-2392 / 9841-6249 E-mail: abppsulmineiro@gmail.com / guidipereira@bol.com.br Vice-Coordenadora: Marília Vieira Siqueira de Arante Sede: Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - CEP: 05405-000 - São Paulo - SP Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567 - www.abpp.com.br - psicoped@uol.com.br SEÇÕES E NÚCLEOS Triênio 2014/2016 Conselho editorial internaCional Carmen Pastorino - Uruguai César Coll - Espanha Isabel Solé - Espanha Maria Cristina Rojas - Argentina Neva Milicic - Chile Vitor da Fonseca - Portugal Conselho editorial naCional Ana Lisete Rodrigues SP Anete Busin Fernandes SP Beatriz Scoz SP Débora Silva de Castro Pereira BA Edith Rubinstein SP Elcie Salzano Masini SP Eloísa Quadros Fagali SP Evelise Maria L. Portilho PR Gláucia Maria de Menezes Ferreira CE Heloisa Beatriz Alice Rubman RJ Iara Caierão RS Leda M. Codeço Barone SP Margarida Azevedo Dupas SP Maria Auxiliadora de Azevedo Rabello BA Maria Cecília Castro Gasparian SP Conselho exeCutivo Maria Irene Maluf SP Luciana Barros de Almeida GO editora Maria Irene Maluf SP Maria Célia Malta Campos SP Maria Cristina Natel SP Maria Lúcia de Almeida Melo SP Maria Silvia Bacila Winkeler PR Marisa Irene Siqueira Castanho SP Mônica H. Mendes SP Nádia Bossa SP Neide de Aquino Noffs SP Nívea M.de Carvalho Fabrício SP Regina Rosa dos Santos Leal MG Rosa M. Junqueira Scicchitano PR Sônia Maria Colli de Souza SP SôniaMaria Pallaoro Moojen RS Vânia Carvalho Bueno de Souza SP Consultores ad hoc Ana Maria Maaz Acosta Alvarez Jaime Zorzi Lino de Macedo Lívia Elkis Luiza Helena Ribeiro do Valle Saul Cypel Sylvia Maria Ciasca PSICOPEDAGOGIA – Órgão oficial de divulgação da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp é indexada nos seguintes órgãos: 1) LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde - BIREME 2) Clase - Citas Latinoamericanas en Cien- cias Sociales y Humanidades. Universidad Nacional Autónoma de Mexico 3) Edubase - Faculdade de Educação, UNI- CAMP 4) Bibliografia Brasileira de Educação - BBE CIBEC / INEP / MEC 5) Latindex - Sistema Regional de Informa- ción en Línea para Revistas Científicas de América Latina, El Caribe, España y Portugal 6) Catálogo Coletivo Nacional – Instituto Brasileiro em Ciência e Tecnologia – IBICT Psicopedagogia: Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia / Associação Brasileira de Psicopedagogia. - Vol. 10, nº 21 (1991). São Paulo: ABPp, 1991- Quadrimestral ISSN 0103-8486 C o n t i n u a ç ã o , a p a r t i r d e 1 9 9 1 , v o l . 1 0 , n º 2 1 d e B o l e t i m d a Associação Brasileira de Psicopedagogia. 1. Psicopedagogia. I. Associação Brasileira de Psicopedagogia. CDD 370.15 7) INDEX PSI – Periódicos – Conselho Federal de Psicologia 8) DBFCC – Descrição Bibliográfica Fundação Carlos Chagas 9) PEPSIC – Periódicos Eletrônicos em Psicologia Editora Responsável: Maria Irene Maluf Revisão e Assessoria Editorial: Rosângela Monteiro Editoração Eletrônica: Rudolf Serviços Gráficos O conteúdo dos artigos aqui publicados é de inteira responsabilidade de seus autores, não expressando, necessariamente, o pensamento do corpo editorial. É expressamente proibida qualquer modali- dade de reprodução desta revista, seja total ou parcial, sob penas da lei. www.abpp.com.br psicoped@uol.com.br Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000 São Paulo - SP - Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567 Acesse a revista na íntegra: www.revistapsicopedagogia.com.br diretoria da assoCiação Brasileira de PsiCoPedagogia triÊnio 2014/2016 Ana Paula Loureiro e Costa RJ Clarissa Farinha Candiota RS Débora S. de Castro Pereira BA Evelise Maria Labatut Portilho PR Fabiani Ortiz Portella RS Francisca Francineide Cândido CE Galeára Matos de França Silva CE Iara Caierão RS Joyce Maria Barbosa de Pádua PI Luciana Barros de Almeida GO Luciana Queiroz Bem Portela CE Márcia Alves Simões SP Maria Cristina Natel SP Maria José Weyne M. de Castro CE Maria Teresa Messeder Andion SP Marisa Irene Siqueira Castanho SP SuplenteS Edimara de Lima SP Heloisa Beatriz Alice Rubman RJ Jozélia de Abreu Testagrossa BA Márcia Alves Affonso SP Presidente Luciana Barros de Almeida (GO) Vice-Presidente Edimara de Lima (SP) 1ª Tesoureira Quézia Bombonatto (SP) 2ª Tesoureira Ana Paula Loureiro e Costa (RJ) 1ª Secretária Administrativa Maria Teresa Messeder Andion (SP) 2ª Secretária Administrativa Heloísa Beatriz Alice Rubman (RJ) 1ª Assessora Científica Marisa Irene Siqueira Castanho (SP) 2ª Assessora Científica Evelise Maria Labatut Portilho (PR) Assessoras de Relações Públicas Débora Silva de Castro Pereira (BA) Galeára Matos de França Silva (CE) Marilene Ribeiro de Azevedo (GO) Assessoras de Comunicação e Divulgação Iara Caierão (RS) Maria José Weyne Melo de Castro (CE) Maria Katiana Veluk Gutierres (RJ) ASSeSSoriAS Assessora de Publicações Científicas Maria Irene Maluf (SP) Assessora de Formação e Regulamentação Neide De Aquino Noffs (SP) Beatriz Judith Lima Scoz SP Edith Rubinstein SP Leda Maria Codeço Barone SP Maria Cecília Castro Gasparian SP Maria Célia Malta Campos SP Maria Irene Maluf SP Mônica H. Mendes SP Neide de Aquino Noffs SP Nívea Maria de Carvalho Fabrício SP Quézia Bombonatto SP Conselheiras vitalíCias Conselheiras eleitas – gestão 2014/2016 sumário EDITORIAL / EDITORIAL Irene Maluf ...................................................................................................................................283 ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES • Autoeficácia de cuidadores de crianças com o transtorno do espectro autista Self-efficacy of caregivers of children with autism spectrum disorder Maria de Lourdes Merighi Tabaquim; Roberta Gelain de Souza Vieira; Ana Paula Ribeiro Razera; Sylvia Maria Ciasca .........................................................................285 • Há relação entre desenvolvimento psicomotor e dificuldade de aprendizagem? Estudo comparativo de crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, dificuldade escolar e transtorno de aprendizagem There is relationship between psychomotor development and learning disability? Comparative study in children with attention deficit hyperactivity disorder, school difficulties and learning disorder Mariana Coelho Carvalho; Sylvia Maria Ciasca; Sônia das Dores Rodrigues .........................293 • Avaliação da memória em crianças e adolescentes com capacidade intelectual limítrofe e deficiência intelectual leve Memory evaluation in children and adolescents with limitrophe intellectual capacity and mild intellectual disability Amanda Morão Pereira; Carolina Rabelo Araújo; Sylvia Maria Ciasca; Sônia das Dores Rodrigues .........................................................................................................302 • Análise de itens da versão brasileira do Ages and Stages Questionnaires para creches públicas da cidade do Rio de Janeiro Item analysis of the Ages and Stages Questionnaires Brazilian version for public day care centers in Rio de Janeiro Luis Filipe F.A. Tavares; Daniel C. Mograbi; Jesus Landeira-Fernandez .................................314 RELATO DE EXPERIÊNCIA / EXPERIENCE REPORT • Avaliação psicopedagógica de criança com alterações no desenvolvimento: relato de experiência Psychopedagogical evaluation of one child with developmental abnormalities: experience report Leila Santos Batista; Bárbara Gonçalves; Márcia Siqueira de Andrade ...................................326 ARTIGO ESPECIAL / SPECIAL ARTICLE • Estratégia de inclusão: resgate da corporeidade no interior das escolas Inclusion strategy: rescue of embodiment within schools Sandra Maria Correa Miller; Maira Miller Ferrari ....................................................................336 ARTIGOS DE REVISÃO / REVIEW ARTICLES • A dupla-excepcionalidade: relações entre altas habilidades/superdotação com a síndrome de Asperger, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e transtornos de aprendizagem The twice-exceptionality: relations between giftedness with Asperger’s syndrome, attention deficit hyperactivity disorder and learning disorders Rauni Jandé Roama Alves; Tatiana de Cássia Nakano ..............................................................346 • O brincar na clínica psicopedagógica The play in clinic psychopedagogical Rosanita Moschini; Iara Caierão .................................................................................................361 • Educação Superior: vicissitudes da ação psicopedagógica Higher education: vicissitudes of psycho-pedagogical action Sílvia Maria de Oliveira Pavão; Amanda do Prado Ferreira Cezar ...........................................366 283 rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 283-4 EDiToriAL Nesta 99ª edição, a revista Psicopedagogia oferece aos seus leitores arti- gos de alta qualidade acadêmica, que abordam questões envolvidas na aprendizagem, na Psicopedagogia, na Educação, fundamentando-se em autores diversos, embasados em experiências bem distintas, o que confere a este número uma característica muito interessante. Iniciamos com a apresentação aos leitores de quatro excelentes artigos de pesquisa. O primeiro dentre eles, “Autoeficácia de cuidadores de crianças com o transtorno do espectro autista”, de autoria de Maria de Lourdes Merighi Tabaquim; Roberta Gelainde Souza Vieira; Ana Paula Ribeiro Razera e Sylvia Maria Ciasca, discorre sobre um estudo que teve como objetivo identificar a relação do padrão de independência da criança com transtorno do espectro autista e o nível de autoeficácia do seu cuidador. “Há relação entre desenvolvimento psicomotor e dificuldade de aprendi- zagem?” é um trabalho comparativo entre crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, dificuldade escolar e transtorno de aprendizagem, de interesse especial para educadores e especialistas em Psicopedagogia, que foi escrito por Mariana Coelho Carvalho; Sylvia Maria Ciasca e Sônia das Dores Rodrigues. A avaliação do desempenho psicomotor de crianças com transtorno de aprendizagem, dificuldade escolar e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade foi o primordial objetivo das autoras, que ressaltam a necessidade de se inserir a educação psicomotora na escola, com o objetivo se prevenir e minimizar problemas acadêmicos. Não menos interessante e produtivo é o artigo que segue, “Avaliação da memória em crianças e adolescentes com capacidade intelectual limítrofe e deficiência intelectual leve”, uma contribuição de Amanda Morão Pereira, Carolina Rabelo Araújo, Sylvia Maria Ciasca e Sônia das Dores Rodrigues, que teve como objetivo avaliar e comparar a memória de crianças e adolescentes classificados como intelectualmente deficientes (grau leve), inteligência limí- trofe e sem comprometimento intelectual. Especificamente, foram analisadas a memória operacional, memória de curto prazo imediata e memória de longo prazo (episódica e semântica), nos três grupos mencionados, e o resultado desse trabalho reveste-se de maior importância, pois remete à ideia de que estratégias de ensino embasadas nos resultados de tais estudos podem favo- recer a aprendizagem dessas crianças. Ao lado desses trabalhos figura ainda neste número o artigo original “Análise de itens da versão brasileira do Ages and Stages Questionnaires para creches públicas da cidade do Rio de Janeiro”, um teste de rastreamento usado para avaliar o desenvolvimento de crianças na idade pré-escolar (8 a 60 meses), utilizado pela Secretaria de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro como instrumento para avaliar a qualidade do atendimento em creches municipais, que nos foi encaminhado por Luis Filipe F. A. Tavares; Daniel C. Mograbi e Jesus Landeira-Fernandez. Na atualidade, a concepção de avaliação psicopedagógica vem ganhando novas abrangências e, como exemplo, trazemos a público o interessante artigo de Leila Santos Batista; Bárbara Gonçalves e Márcia Siqueira de Andrade, 284 rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 283-4 EDiToriAL “Avaliação psicopedagógica de criança com alterações no desenvolvimento: relato de experiência”. “Estratégia de inclusão: resgate da corporeidade no interior das escolas” é o artigo especial da 99ª edição desta Revista. Associando duas questões de relevância para reflexão do leitor, as autoras Sandra Maria Correa Miller e Maira Miller Ferrari realizam um contraponto entre educação e corporeidade no contexto do sistema oficial de ensino, enfatizando a importância de resgatar o ato motor e o significado da corporeidade em diferentes etapas da educação básica. “A dupla-excepcionalidade: relações entre altas habilidades/superdotação com a síndrome de Asperger, transtorno de déficit de atenção de hipera- tividade e transtornos de aprendizagem”, de Rauni Jandé Roama Alves e Tatiana de Cássia Nakano, é o primeiro entre três artigos de revisão desta edição e, certamente, nos remete a um complexo tema que decorre de uma condição onde a presença de capacidades superiores em uma ou mais áreas ocorre conjuntamente a deficiências ou condições tidas como incompatíveis a essas capacidades. Vemos emergir em seguida um outro tema de grande importância, “O brincar na clínica psicopedagógica”, escrito por Rosanita Moschini e Iara Caierão, um trabalho elaborado a partir da revisão de literatura acerca da temática, em complementaridade com a prática psicopedagógica. Segue-se a este o último artigo deste número, “Educação Superior: vicissi- tudes da ação psicopedagógica”, de Sílvia Maria de Oliveira Pavão e Amanda do Prado Ferreira Cezar, um trabalho centrado nas discussões sobre as opções da intervenção psicopedagógica direcionada aos estudantes da Educação Superior, um campo ainda pouco estudado entre nós. Findo o segundo ano da gestão de Luciana Almeida e após o X Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, eis-nos agora organizando com imensa alegria o 100º número da revista Psicopedagogia, uma edição comemorativa para a qual estamos desde já convidando nossos leitores a aguardarem. Agradecendo a colaboração generosa dos autores, desejamos a todos exce- lentes momentos de leitura, de compreensão intensa sobre tantos e profundos temas que envolvem a aprendizagem humana e que compõem este número. Irene Maluf Editora autoefiCáCia de Cuidadores de Crianças Com o transtorno do esPeCtro autista rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 285-92 285 ArTiGo oriGiNAL RESUMO – O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é considerado um transtorno global do desenvolvimento, com características graves e comprometedoras. A sobrecarga materna é apontada por diversos autores como sendo uma consequência da própria condição da criança, a qual implica em uma dependência intensa e constante do portador em relação à sua mãe. O objetivo deste estudo foi identificar a relação do padrão de independência da criança com TEA e o nível de autoeficácia do seu cuidador. Participaram do estudo 13 cuidadores, sendo 15,4% do sexo masculino e 84,6% do sexo feminino. Para a coleta de dados foram utilizados dois protocolos: Escala de Percepção de Autoeficácia e Índice de Katz de Atividades de Vida Diária. Os resultados demonstraram que os cuidadores possuíam um bom índice de Autoeficácia, com ausência de sobrecarga do cuidador (M=40,3). As pontuações no Índice de Katz (M=11,3) evidenciaram 3 crianças dependentes, 4 que necessitavam de ajuda e 6 independentes. O estudo apontou para a ausência de correlação do nível de dependência da criança com TEA e da percepção de autoeficácia do cuidador, sugerindo Correspondência Maria de Lourdes Merighi Tabaquim Rua Bandeirantes, 9-60 – apto 61 – Centro – Bauru, SP, Brasil – CEP 17015-012 E-mail: malu.tabaquim@usp.br Maria de Lourdes Merighi Tabaquim – Neuropsicóloga, Doutora em Ciências Médicas, Docente do Departa- mento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB/USP) e da Pós-Graduação do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC/USP). Bauru, SP, Brasil. Roberta Gelain de Souza Vieira – Psicóloga, Especialista em Neuropsicologia aplicada à Neurologia Infantil pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Es- tadual de Campinas (FCM/Unicamp), Campinas, SP, Brasil. Ana Paula Ribeiro Razera – Enfermeira, Doutoranda em Ciências da Reabilitação pelo Programa de Pós- Graduação do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC/ USP), Bauru, SP, Brasil. Sylvia Maria Ciasca – Neuropsicóloga, Doutora em Neu rociências e Livre-docente em Neurologia Infantil, Professora Associada da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, Brasil. autoefiCáCia de Cuidadores de Crianças Com o transtorno do esPeCtro autista maria de Lourdes merighi Tabaquim; roberta Gelain de souza Vieira; Ana Paula ribeiro razera; sylvia maria Ciasca taBaquim mlm et al. rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 285-92 286 limitação e particularidade da amostra, cujos cuidadores se manifestaram com disponibilidade prática e afetiva, para atender às demandas da criança, minimizando o impacto decorrente. UNITERMOS: Eficácia. Cuidadores. Criança. Transtorno autístico. INTRODUÇÃO O transtorno autista ou autismo infantil faz parte de um grupo de transtornos do neurodesen- volvimento denominadosTranstornos Globais do Desenvolvimento (TGDs), Transtornos Invasi- vos do Desenvolvimento (TIDs) ou Transtornos do Espectro do Autismo (TEAs). Esse grupo de transtornos compartilha sintomas centrais no comprometimento em duas áreas específicas do desenvolvimento: déficits sociais e de comunica- ção e presença de comportamentos repetitivos e restritivos1. A incidência de casos do Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem crescido de forma significativa em todo o mundo, especialmente durante as últimas décadas, atingindo a média de 40 e 60 casos a cada 10.000 nascimentos2-4. Atualmente, não há uma estimativa oficial que indique o número de portadores do transtorno, sendo utilizados dados de pesquisas internacio- nais como referência5. A presença de uma criança com TEA tende a modificar as relações familiares e, em alguns casos, o rompimento de vínculos6. As dificul- dades pertinentes ao transtorno devido à sua cronicidade, condições físicas e mentais resul- tam em uma maior dependência em relação às suas mães, sendo elas a principal cuidadora dos portadores de autismo e, por isso, está mais propensa ao desenvolvimento de altos níveis de estresse, resultando em sobrecarga, agravos à saúde física e psicológica7. A partir da perspectiva da aprendizagem so- cial, a autoeficácia é definida como o julgamento do sujeito sobre sua habilidade para desempe- nhar com sucesso um padrão específico de com- portamento. Este envolve o julgamento sobre as capacidades para mobilizar recursos cognitivos e ações de controle sobre eventos e demandas do meio8. Tais crenças podem influenciar as as- pirações e o envolvimento com metas estabeleci- das, o nível de motivação, a perseverança diante das dificuldades, a resiliência às adversidades, relacionando-se com a qualidade de pensamento analítico, a atribuição causal para o sucesso ou fracasso e a vulnerabilidade para o estresse e depressão9. Esse conceito tem sido transposto para o campo das relações familiares e sugerido que o senso de autoeficácia para o desempenho de atividades de cuidados gerais, prestados por pais a seus filhos, está relacionado ao quanto esses pais se sentem capazes de realizar as tarefas com sucesso10. Um estudo demonstrou que a autoeficácia parental é negativamente relacionada aos problemas comportamentais de crianças11. Outros autores complementam essa noção, demonstrando que baixos níveis de au- toeficácia estão associados a pouca persistência, depressão e diminuição da satisfação quanto ao papel parental12. Diante deste contexto, o objetivo deste estudo foi identificar a relação do padrão de indepen- dência da criança com TEA e o nível de percepção de autoeficácia do seu cuidador. MÉTODO Participaram deste estudo 13 cuidadores de crianças diagnosticadas com TEA, de ambos os sexos, na faixa etária de 3 a 12 anos, matricula- das em um centro de equoterapia localizado em uma cidade do interior do Estado de São Paulo. O critério para inclusão no estudo foi o diagnóstico clínico realizado pela equipe interdisciplinar da instituição participante e a adesão por meio do consentimento formal dos responsáveis com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Após os procedimentos éticos da pesquisa sob o protocolo no 903.528, foi realizado o convite autoefiCáCia de Cuidadores de Crianças Com o transtorno do esPeCtro autista rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 285-92 287 para a participação espontânea na pesquisa. Aos interessados, foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para a de- vida formalização da autorização. Durante o período de permanência na instituição onde os pais aguardam o tempo de terapia dos filhos, um horário foi agendado para a coleta de dados em um único encontro de aproximadamente 50 minutos, visando à aplicação dos instrumentos Escala de Percepção de Autoeficácia13 e o Índice de Katz de Atividades de Vida Diária14, de acordo com as normas estabelecidas em cada protocolo, com o cuidador. O ambiente foi programado na instituição participante, em sala adequada para os devidos procedimentos, e foi realizada a de- volutiva aos cuidadores. A Escala de Percepção de Autoeficácia tem o objetivo de identificar a percepção do cuidador sobre a sobrecarga do trabalho e relação com a pessoa sob seus cuidados. É um instrumento composto por 22 itens que avaliam os compor- tamentos mais apresentados por indivíduos com autismo e o quanto os pais e cuidadores acre- ditam serem capazes de manejá-los. É formada por três categorias: autoeficácia para obtenção de uma pausa; autoeficácia para responder a comportamentos inadequados da pessoa cui- dada; autoeficácia para controlar pensamentos negativos sobre o ato de cuidar. A pontuação é obtida por meio de uma escala Likert de seis pontos, que varia de “Nenhuma confiança” (0) até “Completamente confiante” (4)13. Já o Índice de Katz de Atividades de Vida Diária é um instrumento que tem o objetivo de identificar o nível de independência de pessoas com deficiência ou necessidades especiais, por meio da avaliação do impacto da doença/defi- ciência, com ênfase na limitação imposta pelas condições crônicas. É constituído de seis ativida- des de rotina, tais como: tomar banho, vestir-se, controlar os esfíncteres, usar o banheiro, loco- moção e alimentação. Apresenta a pontuação de 1 a 3, representando o nível de dependência, dependência parcial e independência, sendo: 1 – Dependente; 2 – Necessidade de ajuda; 3 – Independente. Cada participante pode ter a pontuação com um mínimo de 6 até um máximo de 18 pontos, onde resulta a seguinte classifi- cação: ≤6 – Dependente; 7-12 – Dependência parcial; 13-18 – Independente14. Os dados foram pontuados de acordo com os critérios normativos de cada instrumento utili- zado na pesquisa e descritos visando à análise do desempenho e a correlação com a sobrecarga dos cuidadores. Tabelas descritivas das variá- veis observadas foram elaboradas, analisadas e comparadas em relação ao grau de percepção de autoeficácia e independência da criança, tendo como referência a classificação proposta pelo instrumento utilizado, utilizando como base o software de análise estatística Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), sendo adotado nível de 5% para que as diferenças fossem con- sideradas estatisticamente significantes. Na aná- lise dos dados foi também considerado o estudo estatístico sobre a média e desvio padrão, para obtenção dos escores brutos e transformados. RESULTADOS Os resultados foram apresentados por meio da caracterização da amostra, seguido dos dados obtidos com os instrumentos previstos na me- todologia. Foram consideradas as ponderações e os percentuais resultantes das informações analisadas. Os dados sociodemográficos dos cuidado- res, submetidos aos instrumentos requeridos, indicaram que 84,6% dos cuidadores eram do gênero feminino e 15,4% do gênero masculino. Em relação à escolaridade, 15,4% dos cuidadores possuíam o ensino fundamental, 61,5% o ensino médio e 23,1% o ensino superior. No que con- cerne à atividade laboral, 46,2% dos cuidadores declararam trabalhar fora e 53,8% colocaram-se como “do lar”, ou seja, dono(a) de casa ou apo- sentado (Tabela 1). A média de idade dos participantes foi de 42 ± 7,49 anos, sendo o máximo 62 anos e o mínimo 34 anos. Quanto ao gênero da criança cuida- da, constatou-se que predominou o masculino (76,92%) e média de idade de 7 anos, sendo a máxima de 12 anos e a mínima de 3 anos. taBaquim mlm et al. rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 285-92 288 Para identificar o grau de independência da criança e o nível de percepção de autoeficácia do cuidador, foram administrados os instru- mentos, conforme descrito na metodologia. A Tabela 2 demonstra as medidas da avaliação de autoeficácia do cuidador e as características de independência da criança com TEA. Os resultados demonstraram que, de modo geral, os cuidadores possuíam um bom índice deAutoeficácia, já que os resultados apon- taram que não houve sobrecarga do cuidador (M=40,30 ± 12,09). As pontuações no Índice de Katz (M=11,31 ± 4,40) evidenciaram que 3 crianças eram dependentes, 4 necessitavam de ajuda e 6 eram independentes. A Tabela 3 apresenta o intervalo de confiança, a média e o desvio padrão, conforme a Escala de Autoeficácia aplicada. Quanto às catego- rias, os dados apontaram que houve um nível baixo de autoeficácia para “obtenção de uma pausa” (M=11,84 ± 8,53), um nível moderado em relação à “autoeficácia para responder a Tabela 1 – Representação dos dados sociodemográficos dos cuidadores e das crianças com TEA. Gênero do Cuidador Idade do Cuidador Escolaridade Trabalha Fora Gênero da Criança Idade da Criança Feminino 45 Ensino médio sim Feminino 6 Feminino 62 Ensino fundamental Não masculino 12 Feminino 35 Ensino médio Não masculino 8 Feminino 40 superior sim masculino 3 Feminino 42 Ensino fundamental Não Feminino 7 Feminino 40 Ensino médio sim masculino 12 Feminino 38 superior sim Feminino 6 Feminino 34 Ensino médio sim masculino 3 Feminino 39 Ensino médio Não masculino 10 Feminino 39 Ensino médio Não masculino 11 Feminino 43 Ensino médio Não masculino 7 masculino 39 superior sim masculino 3 masculino 52 Ensino médio Não masculino 12 Tabela 2 – Avaliação de autoeficácia do cuidador e nível de independência da criança. Instrumentos n Mínimo Máximo Média Desvio padrão Escala de Autoeficácia 13 27,00 64,00 40,30 12,09 Índice de Katz 13 6,00 18,00 11,31 4,40 Tabela 3 – Representação das categorias da Escala de Percepção de Autoeficácia. Categorias N Mínimo Máximo Média Desvio padrão 1) Autoeficácia para obtenção de uma pausa 13 0,00 25,00 11,84 8,53 2) Autoeficácia para responder a comportamentos inadequados da pessoa cuidada 13 10,00 24,00 15,23 4,30 3) Autoeficácia para controlar pensamentos negativos sobre o ato de cuidar 13 8,00 24,00 13,15 5,06 autoefiCáCia de Cuidadores de Crianças Com o transtorno do esPeCtro autista rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 285-92 289 comportamentos inadequados da pessoa cui- dada” (M=15,23 ± 4,30), e um nível moderado no que se refere à “autoeficácia para controlar pensamentos negativos sobre o ato de cuidar” (M=13,15 ± 5,06). Observando o grau de parentesco na amos- tra, constatou-se que 70% dos participantes eram mães, 16% pais, 7% avó e 7% tia. Dentre as mães, 5 exerciam atividades profissionais fora de casa (Tabela 4). A caracterização da amostra do estudo quanto à relação parental com a criança está representada na Figura 1, onde se observa que as mães se apresentam em maior número como cuidadoras e, portanto, como participantes. Para análise de correlação entre os fatores da escala foi utilizado o teste de Spearman (Tabela 4). Os escores obtidos na escala Katz possuem correlação negativa com os escores da escala de Autoeficácia (rs=-0,042; p=0,893), indicando que são variáveis que se movem em sentido con- trário, ou seja, há uma tendência de que quando há mais pontos na escala Katz, menos ocorre na escala de Autoeficácia e vice-versa. No entanto, é uma correlação muito fraca e não significativa. DISCUSSÃO A motivação de todos os cuidadores para participar da pesquisa foi surpreendente, todos se mostraram disponíveis ao agendamento e compareceram como solicitado. À medida que as perguntas foram feitas, houve reflexão, por parte do cuidador, antes da resposta. Em alguns momentos, houve manifestação de sentimentos relacionados à sobrecarga e preocupação com o futuro, manifestada com choro e, em outros momentos, demonstraram autocontrole em si- tuações exigidas pela criança. A distribuição dos cuidadores em relação ao gênero apontou para o padrão tradicional familiar do Brasil, onde o papel de cuidar dos filhos, sobretudo aqueles portadores de cuidados especiais, é delegado às mães ou às mulheres, que constituem 84,6% da nossa amostra7. Os resultados indicaram um percentual significativo de cuidadoras que não exercem atividades laborais fora do domicílio. Esse dado sugere que, diante das necessidades e fragi- lidade da criança, possam ter se mobilizado a proteger cada vez mais o filho, muitas vezes, dificultando a convivência da criança com outras pessoas além do círculo familiar, como amigos, por exemplo. Durante a aplicação dos testes foi possível observar que a maior parte dos cuidadores de- monstrava sentir-se incapaz de obter uma pausa no ato de cuidar, evidenciando culpa ao pensar em ter um tempo para si próprio e ter que pedir a um amigo ou familiar para cuidar da criança. No que diz respeito à avaliação de Autoefi- cácia do cuidador e as características de Inde- Tabela 4 – Correlações dos tipos de Autoeficácia. Valor de Correlação Índice de Katz Escala de Autoeficácia rs -0,042 p 0,893 Autoeficácia para obtenção de uma pausa rs 0,124 p 0,687 Autoeficácia para responder a comportamentos inadequados da pessoa cuidada rs 0,017 p 0,956 Autoeficácia para controlar pensamentos negativos sobre o ato de cuidar rs -0,243 p 0,424 Figura 1 – Demonstrativo da condição parenteral dos participantes. taBaquim mlm et al. rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 285-92 290 pendência da criança com TEA, os resultados demonstraram que, de modo geral, os cuidadores possuíam um bom índice de Autoeficácia. As pontuações no Índice de Katz demonstraram que poucas crianças eram dependentes, a maioria com necessidades de assistência, ou mesmo, independente. Os escores obtidos na escala Katz tiveram correlação negativa com os escores da escala de Autoeficácia, porém trata-se de uma correlação frágil e não significante. Por isso, esses dados devem ser analisados com cautela, haja vista o tamanho limitado da amostra, assim como os desvios padrão. Considerando que a autoeficácia consiste no julgamento da pessoa sobre a sua habilidade para desempenhar com sucesso um padrão es- pecífico de comportamento, no caso, de cuidador, um dos participantes do estudo, na figura do pai, teve o índice de impacto “intenso” na escala aplicada. Este dado remete à compreensão sobre as dificuldades de ordem prática, uma vez que essa expectativa interfere e regula o pensamento (reações afetivas) e as ações (desempenho com a criança) realizadas intencionalmente, podendo inclusive gerar ansiedade e desmotivação. Os sucessos obtidos contribuem para a construção de uma forte crença na eficácia pessoal. Por outro lado, as falhas podem comprometê-la, especialmente se estas ocorrerem antes que um sentimento de eficácia esteja firmemente estabelecido15. Os cuidadores que conseguem trocar infor- mações e falar sobre suas dificuldades apre- sentaram o índice de impacto “ausente”. As crenças de eficácia podem ser desenvolvidas por meio de fontes de informação, uma delas é constituída pelas experiências vicárias, forneci- das por modelos sociais. Ver pessoas parecidas a si mesmo, sendo bem-sucedidas por esforços mantidos, aumenta a crença dos observadores de que eles possuem as capacidades e habilidades para dominar atividades comparáveis de forma bem sucedida15. Na experiência vicária, o impacto da modela- gem na percepção de autoeficácia é influenciado pela semelhança percebida em relação aos mo- delos, o que pode encorajar e empoderar. Neste estudo, os cuidadores tinham a oportunidade de vivenciar a troca de experiências pela proximi- dade na instituição participante, o que pode ter contribuído para a minimização das situações impactantes e estressoras advindas da sobrecar- ga no cuidado com a criança com necessidades especiais, como no caso da criança com TEA. No que diz respeito à variável emprego, do total de 6 participantes que trabalham fora, 4 apresentaram índice de impacto “ausente” de sobrecarga. Sugere-se que, além desse ofício complementar à renda familiar, exista a possi- bilidade compensatória de redirecionar os inte- resses e as responsabilidades, tornam-se mais disponíveis, oferecendomais oportunidades para uma relação mais prazerosa com a criança, sentindo-se eficazes no papel de cuidadores. Enquanto alguns estudos apresentam discor- dâncias sobre as fontes do estresse familiar como típicas ou não da sintomatologia do autismo16-18, outros estudos não levam em conta fatores im- portantes nesse processo, tal como o apoio social disponível a essas famílias ou a gravidade dos sintomas presentes na criança19-21. Depreende-se disso que essa questão permanece controversa. Contudo, os resultados parecem apontar para uma sobrecarga maior nas mulheres, pelo me- nos em termos de cuidado direto da criança. De qualquer modo, a relação entre autoeficácia em cuidadores de indivíduos com o espectro autista tem sido pouco investigada na literatura. O conhecimento gerado neste estudo objeti- vou, nesse sentido, contribuir com dados empí- ricos, para uma maior compreensão da situação atual dos cuidadores de crianças com TEA. Os dados encontrados são importantes, portanto, pois possibilitam uma melhor compreensão da sobre- carga dos cuidadores dessas crianças, fornecendo suporte para uma proposta de intervenção. CONCLUSÃO O estudo apontou para a ausência de corre- lação do nível de dependência da criança com TEA e da percepção de autoeficácia do cuida- dor, sugerindo limitação e particularidade da amostra, cujos cuidadores se manifestaram com autoefiCáCia de Cuidadores de Crianças Com o transtorno do esPeCtro autista rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 285-92 291 disponibilidade, prática e afetiva, para atender às demandas da criança, minimizando o impacto decorrente. As pontuações no Índice de Katz demons- traram que poucas crianças eram dependentes, a maioria com necessidades de assistência, ou mesmo, independente. No que diz respeito à avaliação de Autoeficácia do Cuidador e às ca- racterísticas de Independência da criança com TEA, os resultados demonstraram que, de modo geral, os cuidadores possuíam um bom índice de Autoeficácia. SUMMARY Self-efficacy of caregivers of children with autism spectrum disorder Disorder Autism Spectrum (TEA) is considered a global development disorder with serious and compromising features. Maternal overhead is mentioned by several authors as a consequence of their own child’s condition, which implies an intense and constant dependence carrier in relation to his mother. The objective of this study was to identify the child’s independence pattern of relationship with TEA and the self-efficacy level of your caregiver. This study was attended by 13 caregivers, 15.4% male and 84.6% female. To collect data we used two protocols: Perception Scale Self-efficacy and Katz Index of Activities of Daily Living. The results showed that the caregivers had a good Self-efficacy rate with no caregiver burden (M=40.3). Scores on Katz Index (M=11.3) showed three dependent children, 4 needed help and 6 independent. The study pointed to the lack of correlation of the child’s level of dependency with ASD and perception of caregiver self-efficacy, suggesting limitation and particularity of the sample, whose caregivers demonstrated with practical and emotional availability, to meet the demands of the child, minimizing the impact. KEY WORDS: Efficacy. Caregivers. Child. Autistic disorder. REFERÊNCIAS 1. American Psychiatric Association (APA). Ma- nual diagnóstico e estatístico de transtor nos mentais – DSM-5. Porto Alegre: Artmed; 2014. 2. Gernsbacher MA, Dawson MH, Goldsmith H. Three reasons not to believe in an autism epi- demic. Curr Dir Psychol Sci. 2005;14(2):55-8. 3. Fombonne E, Zakarian R, Bennett A, Meng L, McLean-Heywood D. 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A auto-eficácia e os aspectos comportamentais de crianças com dificul- dade de aprendizagem. Psicol Reflex Crit. 2000;13(3):327-36. 10. Hastings RP, Brown T. Behavior problems of children with autism, parental self-effi- cacy and mental health. Am J Ment Retard. 2002;107(3):222-32. 11. Mouton PY, Tuma JM. Stress locus of control and role satisfaction in clinic and control mo- thers. J Clin Child Psychol. 1988;17(3):217-24. 12. Johnston C, Mash EJ. A measure of paren- ting satisfaction and efficacy. J Clin Child Psychol. 1989;18(2):167-75. 13. Sofronoff K, Farbotko M. The effectiveness of parent management training to increase self-efficacy in parents of children with As- perger syndrome. Autism. 2002; 6(3):271-86. 14. Duarte YAO, Andrade CL, Lebrão ML. O índex de Katz na avaliação da funcionalida- de dos idosos. Rev Esc Enferm USP. 2007; 41(2):317-25. 15. Bandura A. Self-efficacy. In: Ramachaudran VS, ed. Encyclopedia of human behavior. New York: Academic Press; 1998. 16. 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Asses- sing resources and stress in parents of seve- rely dysfunctional children through the Clar- ke Modification of Holroyd’s Questionnaire on Resources and Stress. J Autism Dev Disord. 1992;22(2):217-34. Trabalho realizado na Faculdade de Ciências Médi- cas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/ Uni camp), Campinas, SP, Brasil. Artigo recebido: 22/8/2015 Aprovado: 4/11/2015 desenvolvimento PsiComotor e ProBlemas de aPrendizagem rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 293-301 293 ArTiGo oriGiNAL RESUMO – Introdução: O objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho psicomotor de crianças com transtorno de aprendizagem (TA), dificuldade escolar (DE) e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Especificamente, foi identificada a relação entre habilidades psicomotoras nos diferentes tipos de problemas com a aprendizagem. Método: Foram avaliadas 25 crianças, de ambos os gêneros, com idade entre 7 e 11 anos de idade, com diagnóstico de TDAH (n=8), TA (n=6) e DE (n=11), avaliadas no DISAPRE/FCM/UNICAMP. A Escala de Desenvolvimento Motor (Rosa Neto, 2002) foi utilizada para avaliar motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e organização temporal. Resultados e Conclusões: Todas as crianças tiveram idade motora inferior à idade cronológica. Comparando as habilidades psicomotoras, constatou-se que Correspondência Sônia das Dores Rodrigues Rua Heitor Ernesto Sartori, 730, apto 204 – bloco9 – Praça dos Profetas – Santa Genebra – Campinas, SP, Brasil – CEP: 13080-657. E-mail: rodrigues.sdd@gmail.com coelho.mariana@hotmail.com Mariana Coelho Carvalho – Graduação em Psicologia (Uni versidade de Ribeirão Preto - UNAERP), Aprimo ra- mento em Psicopedagogia aplicada à Neuro lo gia Infantil (UNICAMP), Especialização em Neu ropsicologia apli- cada à Neurologia Infantil (UNICAMP), Mestrado em Ciências Médicas (UNICAMP), Campinas, SP, Brasil. Sylvia Maria Ciasca – Graduação em Psicologia (PUC – Campinas), Mestrado em Psicologia (Neurociências e Comportamento) (USP), Doutorado em Neurociências (UNICAMP), Livre-docência em Neurologia Infantil, Campinas, SP, Brasil. Sônia das Dores Rodrigues – Graduação em Pedagogia (UNICAMP), Especialização em Psicopedagogia (PUC- Campinas), Especialização em Psicomotrocidade (ISPE- GAE/FMABC), Mestrado e Doutorado em Ciências Médicas (FCM-UNICAMP), Campinas, SP, Brasil. há relação entre desenvolvimento PsiComotor e difiCuldade de aPrendizagem? estudo ComParativo de Crianças Com transtorno de défiCit de atenção e hiPeratividade, difiCuldade esColar e transtorno de aPrendizagem mariana Coelho Carvalho; sylvia maria Ciasca; sônia das Dores rodrigues Carvalho mC et al rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 293-301 294 INTRODUÇÃO No momento em que nasce, a criança se vê num mundo extremamente complexo, repleto de estímulos visuais, auditivos e táteis, princi- palmente. Nessa etapa, o bebê é dotado basica- mente de reflexos e suas estruturas nervosas ainda não estão devidamente mielinizadas. Como consequência, dependerá do cuidado de terceiros para sobreviver e se desenvolver ade- quadamente. Tais cuidados incluem não só ali- mentação, higiene e homeostasia, mas também suporte afetivo e emocional. Gradativamente, a criança se torna um ser cada vez mais indepen- dente e, à medida que isso ocorre, alterações comportamentais são observadas. Esse processo evolutivo, no entanto, requer a intersecção de uma série de fatores, que en volvem o desenvolvimento constitucional (in - tegridade e maturação do sistema nervoso, cons tituição física, capacidade intelectual, etc.), psicomotor, intelectual, afetivo-social e as expe- riências transmitidas pelos agentes sociais (fa- mília, escola, sociedade)1. Falha em qualquer um desses fatores pode resultar em atrasos, disfunções ou transtornos neuropsiquiátricos di- versos e, como consequência, comprometimento na aprendizagem. Dentre os transtornos resultantes de fatores intrínsecos à criança que podem interferir no desenvolvimento e na aprendizagem infantil, destacam-se o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o transtornos de apren- dizagem (TA), a seguir sintetizados. o grupo com TDAH teve pior desempenho, porém diferença estatisticamente significativa foi encontrada apenas em esquema corporal (quando se com- parou o grupo TDAH com o grupo com TA). As autoras chamam a atenção para a relação entre baixo desempenho em habilidades psicomotoras com problema de aprendizagem e ressaltam a necessidade de se inserir a educação psicomotora na escola, com o objetivo de se prevenir e minimizar problemas acadêmicos. UNITERMOS: Desempenho psicomotor. Transtornos de aprendizagem. Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade TDAH é um termo utilizado para se referir a um transtorno mental crônico, cujas manifesta- ções essenciais são moduladas pelos estágios evolutivos por que passam os indivíduos. Ca- racteristicamente, portadores de TDAH têm dificuldade de prestar atenção e de mantê-la, de adaptar o nível de atividade e de moderar as ações impulsivas. Como resultado, condutas ina daptadas que não correspondem à idade e nem ao nível de desenvolvimento do sujeito são observadas2-4. Dados da literatura demonstram que o TDAH é mais frequente em meninos (três a quatro vezes mais), porém também há relatos de que as me- ninas não são devidamente encaminhadas para diagnóstico e, além disso, na adolescência a di- ferença entre os gêneros é menos pronunciada5. Com relação à prevalência, estima-se que 3% a 6% da população escolar tenha TDAH6. Entretanto, dependendo da metodologia utiliza- da, bem como do local de realização da pesquisa (Centros de Atenção Primária ou Centros de Re- ferência de Transtornos Psiquiátricos), os índices podem ser superiores ao mencionado. Do ponto de vista etiológico, ainda não é pos sível definir e estabelecer uma etiologia espe- cífica responsável pelo TDAH. Sabe-se, porém, que: a) se trata de um transtorno hereditário, com índices que variam de 80% a 90%5-7; b) não existe um único gene responsável pelo TDAH, já que vários genes associados e de pequenos efeitos levam à propensão do desenvolvimento do qua- dro8; c) estudos com neuroimagem demonstram desenvolvimento PsiComotor e ProBlemas de aPrendizagem rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 293-301 295 que há evidências de alterações em determina- das áreas cerebrais, sendo essas significativas nas regiões do córtex pré-frontal dorsolateral, regiões do gânglio da base e cerebelo5. Em relação ao último aspecto, o fato da região frontal do cérebro estar mais comprometida nos indivíduos com TDAH resulta em dificuldades acentuadas nas funções executivas. Tal termo engloba várias funções que são essenciais para o funcionamento normal dos indivíduos, tais como: elaboração do raciocínio abstrato, alter- nância de tarefas, planejamento e organização das atividades, elaboração de objetivos, geração de hipóteses, fluência e memória operacional; resolução de problemas; formação de conceitos; inibição de comportamentos, automonitoramen- to; iniciativa; autocontrole; flexibilidade mental; controle da atenção; manutenção do esforço sustentado; antecipação; regulação de compor- tamentos e criatividade. No referente ao transtorno de aprendizagem, as evidências mostram que se trata de um dis- túrbio do desenvolvimento, que afeta em torno de 5% a 15% da população escolar. Caracteris ti- camente, o TA está presente desde a fase precoce, persiste na vida adulta e é evidente a dis crepância entre o potencial cognitivo e desempenho aca- dêmico. Sinais neurológicos leves (soft signs) e/ou outras comorbidades (como o TDAH) podem (ou não) estar presentes9-11. Tanto no que se refere ao TDAH, quanto ao TA, é importante que se faça a distinção destes com um problema bastante comum em nosso meio, ou seja, com a dificuldade de aprendiza- gem secundária a fatores ambientais (pedagó- gico, por exemplo). Nesse caso, preferimos nos referir a estes como tendo quadro de dificuldade escolar (DE). Como o ato de aprender é extremamente com- plexo, há necessidade de abordagem interdisci- plinar, com o objetivo de se investigar todos os fatores envolvidos (cognitivo, acadêmico, fami- liar, comportamental, psicomotor) com a proble- mática e se realizar o diagnóstico diferencial. No referente ao aspecto psicomotor, a litera- tura demonstra que há íntima relação entre este com dificuldades no contexto acadêmico (leitura, escrita, matemática). A questão que se coloca, então, é se há relação entre etiologia da dificul- dade de aprendizagem com desenvolvimento psicomotor. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo geral avaliar o desempenho psi comotor de crianças com TA, DE e TDAH. Especificamente, pretendeu-se identificar se haveria diferenças nas habilidades psicomotoras dos grupos estudados e, com isso, verificar a pos- sibilidade de se estabelecer processo interven- tivo adequado. MÉTODO Contexto geral Trata-se de um estudo descritivo, que avaliou as habilidades psicomotoras de crianças com dificuldade de aprendizagem decorrente de dis- função do sistema nervoso central (transtorno de aprendizagem - TA), de ordem pedagógica (di ficuldade escolar - DE) e de transtornos de atenção (TDAH). Fizeram parte do estudo 25 sujei- tos, com idade entre 7 e 11 anos, sendo a maioria (19/25) do gênero masculino. Os sujeitos avaliados foram selecionadosno Laboratório de Distúrbio, Dificuldade de Apren- dizagem e Transtorno Atenção (DISAPRE), da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), da Uni versidade Estadual de Campinas. Rotineira- mente, as crianças chegam a esse laboratório com queixa de dificuldade de aprendizagem para avaliação diagnóstica, de modo a identificar se a dificuldade de aprendizagem tem origem funcional (transtorno de aprendizagem, aten- cional (relacionada ao transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), pedagógica (dificul- dade escolar), ou decorrente de outros fatores neuropsiquiátricos. Inicialmente, as crianças passaram por proto- colo do Serviço, que inclui avaliação neuropsico- lógica de base, constituída por dados objetivos e subjetivos (tais como anamnese, entrevista com a família, contato com a escola e observação clínica durante o processo de avaliação e discus- são do caso). Carvalho mC et al rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 293-301 296 Aquelas que receberam hipótese diagnóstica de TA, DE e TDAH foram selecionadas para o estudo. Os pais foram informados sobre o teor da pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Instrumento de avaliação Uma vez selecionadas, as crianças foram sub metidas à avaliação motora complementar, por meio da Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) de Rosa Neto12. Esta compreende um conjunto de provas diversificadas e de dificul- dade graduada, conduzindo a uma exploração minuciosa das seguintes áreas do desenvolvi- mento: motricidade fina (óculo manual); motri- cidade global (coordenação); equilíbrio (postura estática); esquema corporal (imitação de postura, rapidez); organização espacial (percepção do es- paço); organização temporal (linguagem, estrutu- ras temporais) e lateralidade (mãos, olhos e pés). A Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) é de aplicação individual, com duração média de 30 a 45 minutos, permitindo a classificação do desenvolvimento motor, desde o nível “Muito Inferior” até “Muito Superior”, traçando um per- fil motor que abrange todas as áreas avaliadas. Análise dos dados Os dados obtidos foram avaliados quantitati- vamente e qualitativamente. A análise estatística foi feita por meio do programa SAS System for Windows (versão 8.02) e SPSS for Windows (ver- são 10.0.5) e a escolha do teste para a avaliação dos resultados foi realizada segundo o tipo de variável analisada. Foi considerado significativo valor de p > 0, 05. RESULTADOS Por meio da Escala de Desenvolvimento Motor (EDM)12, constatou-se que todos os sujei- tos apresentaram idade motora inferior à idade cro nológica. Conforme se observa na Tabela 1, a maioria dos sujeitos teve desempenho motor abaixo do esperado, já que quando se comparou a idade cronológica à idade motora, foi observado que todos tiveram idade negativa. Com relação à classificação final, apenas 5/25 sujeitos foram classificados como normal médio. Os demais foram classificados como normal baixo (9/25), inferior (10/25) e muito inferior (1/25). Nenhum sujeito foi classificado como normal alto, supe- rior ou muito superior. Na Tabela 2, é apresentado o desempenho de todos os sujeitos, segundo as áreas motoras avalia- das. Como se nota, a organização espacial, seguida de equilíbrio, organização temporal e esquema corporal, foram as áreas mais comprometidas. Considerando-se o desempenho motor em função da etiologia da dificuldade de aprendi- zagem (DE, TA ou TDAH), verifica-se na Tabela 3 que: a) O grupo TDAH teve pior desempenho que o grupo TA em todas as habilidades motoras avaliadas (motricidade final, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, orientação espacial e orientação temporal), porém a diferença foi estatis- ticamente significativa apenas em uma habilidade motora (esquema corporal); b) Comparando-se os grupos DE e TA, nota- -se que o primeiro obteve pior desem- penho em todas as habilidades motoras avaliadas (motricidade final, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, orientação espacial e orientação tempo- ral), porém a diferença não foi estatisti- camente significativa; c) Comparando-se os grupos DE e TDAH, nota-se que o segundo obteve pior desem- penho, uma vez que ficou abaixo em 4/6 funções avaliadas (motricidade global, esquema corporal, orientação espacial e orientação temporal), porém a diferença não foi estatisticamente significativa; DISCUSSÃO Conforme se pôde observar na exposição dos resultados, a maioria das crianças avaliadas era do gênero masculino. Tal dado está de acordo com a literatura, que tem indicado que os meninos desenvolvimento PsiComotor e ProBlemas de aPrendizagem rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 293-301 297 Tabela 1 – Apresentação do resultado na Escala de Desenvolvimento Motor (Rosa Neto, 2002), em função da idade cronológica, idade motora, quociente motor geral, idade negativa e classificação geral. Sujeito Idade cronológica (meses) Idade motora (meses) Idade negativa Classificação 1 127 91 -36 i 2 108 98 -10 NB 3 127 100 -27 i 4 108 78 -30 i 5 132 118 -14 NB 6 95 77 -18 NB 7 120 101 -19 NB 8 96 81 -15 NB 9 102 80 -22 i 10 127 91 -36 i 11 120 107 -13 NB 12 132 100 -32 i 13 108 102 -6 Nm 14 120 84 -36 i 15 132 121 -11 Nm 16 132 119 -13 Nm 17 132 116 -16 NB 18 92 73 -19 i 19 120 110 -10 Nm 20 108 80 -28 i 21 108 100 -8 Nm 22 108 87 -21 NB 23 132 113 -19 NB 24 132 98 -34 i 25 108 74 -34 mi Legenda: mi = muito inferior, i = inferior, NB = normal baixo, Nm = normal médio. Tabela 2 – Síntese da classificação dos sujeitos na EDM, em função das áreas motoras avaliadas. Áreas avaliadas Classificação/no. de sujeitos MI I NB NM NA S MS motricidade fina 3 2 10 10 0 0 0 motricidade global 5 3 6 11 0 0 0 Equilíbrio 5 5 8 7 0 0 0 Esquema corporal/rapidez 3 6 10 6 0 0 0 organização espacial 9 6 3 7 0 0 0 Linguagem/organização temporal 3 7 7 8 0 0 0 Legenda: i = inferior, mi = muito inferior, NB = normal baixo, Nm = normal médio, NA = normal alto, s = superior, ms = muito superior. Carvalho mC et al rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 293-301 298 costumam ter mais transtornos de aprendizagem e da atenção do que as meninas13. Ciasca11,14 descreve a prevalência de meninos com dificuldades de aprendizagem quando comparados às meninas, numa proporção de 6:1. Este predomínio do sexo masculino tem sido explicado por hipóteses genéticas, anatômicas, de especialização hemisférica e devido a causas sociais, dependendo da população estudada. No referente à idade cronológica no momento da avaliação, observa-se que a média do grupo foi de 10 anos. A esse respeito é interessante destacar que, anteriormente, as crianças eram en- caminhadas mais precocemente13. Possivelmente, a progressão continuada explica esse fato, pois é mais comum se proceder à reprovação no 5º ano, quando as crianças têm em torno de 10 anos de idade. Assim, essas são encaminhadas nesse momento crítico, quando se constata que a apren- dizagem está aquém daquilo que é esperado. No presente estudo, foi constatado que a ida- de motora de todos os sujeitos foi inferior à idade cronológica. Tal dado reforça o que é mencionado por Fonseca15, de que a motricidade organiza as sensações e percepções que dão origem a apren- dizagens cada vez mais complexas. Depreen- de-se, então, que a desorganização psicomotora resulta em alterações na aprendizagem infantil. A esse respeito vale mencionar o trabalho de- senvolvimento por Moreira et al.16. Ao comparar escolares da 2ª e 3ª série do primeiro grau (com dificuldade de aprendizagem e com rendimento escolar normal), por meio do teste de proficiên- cia motora de Bruininks-Oseretsky, os autores encontraram que as crianças sem histórico de fracasso escolar tiveram desempenho motor su- perior, quando comparado àquelas que tinham dificuldade de aprendizagem. No que se refere às funções psicomotoras mais comprometidas, é importante citar o traba- lho desenvolvido por Rosa Neto12. Crianças de 4 a 12 anos com dificuldadesde aprendizagem, apresentaram perfil motor geral classificado como “inferior”, com maior comprometimento no equi- líbrio, esquema corporal, organização espacial e temporal. Os mesmos resultados foram encon- trados em estudo realizado com escolares de 5 a 14 anos com problemas na aprendizagem, tendo a organização temporal, o equilíbrio e a organi- zação espacial como áreas de maiores déficits. De fato, Fonseca15 menciona que as crianças com dificuldades de aprendizagem costumam ter mais deficiência na noção de corpo, orientação, adaptação e exploração espacial. No presente estudo, tais dados são compro- vados, já que as funções psicomotoras mais de- ficitárias foram organização espacial, equilíbrio, organização temporal e esquema corporal. No que se refere à relação entre funções psi- comotoras e TDAH, Bardy et al.17, utilizando a EDM12, encontraram que a defasagem mais Tabela 3 – Comparação do desempenho motor, em função da etiologia da dificuldade de aprendizagem. Grupos Funções motoras avaliadas Motricidade Fina Motricidade Global Equilíbrio Esquema corporal Orientação Espacial Orientação Temporal DE (n=11) TA (n=6) 97,6 105,0 p=0,36 105,2 106,0 p=0,44 91,6 104,0 p=0,20 96,5 109,0 p=0,16 91,6 94,0 p=0,95 95,4 109,0 p=0,18 DE (n=11) TDAH (n=8) 97,6 103;5 p=0,55 105,2 94.5 p=0,58 91,6 93,0 p=0,93 96,5 86,2 p=0,25 91,6 84,0 p=0,25 95,4 90,7 p=0,58 TA (n=6) TDAH (n=8) 105,0 103.5 0,84 106,0 94,5 0,17 104,0 93,0 0,29 109,0 86,2 0,05 94,0 84,0 0,28 109,0 90,7 0,08 Valor de p: Teste de mann-Whitney desenvolvimento PsiComotor e ProBlemas de aPrendizagem rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 293-301 299 considerável foi em esquema corporal, seguida da função de equilíbrio e organização espacial. No nosso estudo, encontramos mais defasagem em orientação espacial, seguida de esquema corporal e orientação temporal. Após realização da pesquisa, foi possível ava- liar o desempenho psicomotor de crianças com transtorno de aprendizagem (TA), dificuldade escolar (DE) e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). A análise dos dados demonstrou que todas as crianças apresentaram idade motora inferior à idade cronológica. Comparando-se as habilidades psicomoto- ras em função da etiologia da dificuldade de aprendizagem, constatou-se que o grupo TDAH teve o pior desempenho que o grupo DE em algumas habilidades (motricidade global, es- quema corporal e orientação espaço tempo- ral). Quando comparado ao grupo TA, o grupo TDAH apresentou pior desempenho em todas as habilidades, sendo estatisticamente signi- ficativo em esquema corporal. Surpreenden- temente, embora não tenha havido diferença estatisticamente significativa, o grupo DE teve pior desempenho que o grupo TA, em todas as habilidades motoras. Apesar do tamanho da amostra analisada, tais dados reforçam a ideia de que há relação entre desenvolvimento de habilidades psicomotoras com problemas de aprendizagem, independente da etiologia da mesma. Nesse sentido, chama-se a atenção para o pa pel da escola (notadamente educadores/professores) no que diz à necessidade de inserir no seu pla- nejamento pedagógico educação psicomotora, principalmente no ensino infantil e séries iniciais do ensino fundamental. Pelo fato da abordagem psicomotora integrar funções cognitivas, socioe- mocionais, simbólicas, psicolinguísticas e moto- ras, esta pode promover o desenvolvimento global do individuo e, ainda, minimizar a dificuldade de aprendizagem das crianças. CONCLUSÕES Neste estudo, foram avaliadas e comparadas as habilidades psicomotoras de indivíduos com transtorno do déficit de atenção e hiperativida- de, transtorno de aprendizagem e dificuldade escolar. Os dados demonstraram que todos os sujeitos apresentaram idade motora inferior à idade cronológica. Quando se comparou o de- sempenho em função dos diferentes diagnósticos (TDAH, TA e DE), verificou-se que o grupo com TDAH teve pior desempenho que o DE e o TA, porém diferença estatisticamente significativa só foi identificada em esquema corporal (em comparação ao grupo DE). As autoras chamam a atenção para a relação entre desenvolvimento psicomotor e aprendizagem e ressaltam a impor- tância da educação psicomotora na escola desde o ensino infantil, com o objetivo de se minimizar a dificuldade acadêmica das crianças. Carvalho mC et al rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 293-301 300 SUMMARY There is relationship between psychomotor development and learning disability? Comparative study in children with attention deficit hyperactivity disorder, school difficulties and learning disorder Introduction: The study aimed to evaluate psychomotor performance of children with learning disabilities, learning difficulties and attention deficit hyperactivity disorder (ADHD). The specific objective was to evaluate psychomotor skills in different types of learning disability. Methods: 25 children both genders were evaluated. The age at evaluation was 7-11 years. After evaluation at the DISAPRE/FCM/ UNICAMP the children received the following diagnoses: ADHD (8), learning disabilities (6) and learning difficulties (11). Motor Development Scale (Rosa Neto, 2002) was used to assess fine motor skills, gross motor skills, equilibration, body perception, spatial organization and temporal organization. Results and Conclusions: All children had lower motor age than expected for their chronological age. Children with ADHD had worst performance than children with learning disabilities and learning difficulties, but result statistically significant was found only in body perception This study show that there is relationship between poor performance on psychomotor skills in all children with different types of learning problem. So, it is important introduce psychomotor education at school in order to prevent and minimize academic problems. KEY WORDS: Psychomotor performance. Learning disorders. Attention deficit disorder with hyperactivity. REFERÊNCIAS 1. Barrigüete C. Afetividade: aspectos evoluti- vos e educacionais. In: Gonzáles E et al. Ne- cessidades educacionais específicas. Interven- ção psicoeducacional. Porto Alegre: Artmed; 2007. 2. Miranda-Casas A, Uribe LH, Gil-Llario MD, Jarque S. Evaluacion intervención em niños preescolares com manifestaciones de tras- torno por déficit de atención com hiperativi- dad y conducta disruptiva. Rev Neurol. 2003; 38(51):585-94. 3. Rappley MD. 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Transtorno de déficit de atenção e hipera- tividade. São Paulo: Revinter; 2010. p.23-36. 8. Children and Adult with Attention /Hyperac- tivity Disorder (CHADD). CHADD Educator’s desenvolvimento PsiComotor e ProBlemas de aPrendizagem rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 293-301 301 Manual on Attention-Deficit/Hyperactivity di- sorder (AD/HD). An in-depth look from an edu cational perspective. Lynchburg: Progress Printing; 2006. 136p. 9. Schulte-Körne G. Specific learning disabilities – from DSM-IV to DSM-5. Z Kinder Jungen- dpsychiatricPsychother. 2014;42(5):369-72. 10. American Psychiatric Association (APA). Ma- nual Diagnóstico e Estatístico de Transtor- nos Mentais (DSM-5). Porto Alegre: Artmed; 2014. 11. Ciasca SM. Transtornos de aprendizagem. In: Ciasca SM, Rodrigues SD, Azoni SCS, Lima RF, eds. Transtornos de aprendizagem: neurociência e interdisciplinaridade. São Pau- lo: BookToy; 2015. 12. Rosa Neto F. Manual de avaliação motora. Por- to Alegre: Artmed; 2002. 13. 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Trabalho realizado no Laboratório de Distúrbios e di - fi culdades da aprendizagem e transtornos da aten- ção – DISAPRE, da Faculdade de Ciências Médicas/ UNICAMP, Campinas, SP, Brasil. Artigo recebido: 5/9/2015 Aprovado: 12/11/2015 Pereira am et al. rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 302-13 302 ArTiGo oriGiNAL RESUMO – O presente estudo teve como objetivo avaliar e comparar a memória de crianças e adolescentes classificados como intelectualmente deficiente (grau leve), inteligência limítrofe e sem comprometimento intelectual. Especificamente, foram analisadas a memória operacional, memória de curto prazo imediata e memória de longo prazo (episódica e semântica) nos três grupos mencionados. Participaram deste estudo 38 sujeitos divididos em três grupos: deficientes intelectuais de grau leve (GDI), limítrofes (GL) e controle (GC), constituído por crianças com quociente de inteligência dentro da normalidade. Para avaliação dos diferentes tipos de memória foram utilizados os instrumentos: Figura Complexa de Rey, Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey (RAVLT), Blocos de Corsi (TBC) e os subtestes da WISC-IV dígitos, sequência de números e letras e vocabulário. Os dados obtidos demonstram que, quando comparado ao GC, o GDI apresentou prejuízo significativo na memória operacional e na memória de longo prazo semântica, mas não na memória episódica. Em teste que utiliza a repetição de informações, as crianças do GDI tiveram melhor desempenho. Tal dado é importante, pois remete à ideia de que estratégias de ensino embasadas nessa abordagem podem favorecer a aprendizagem dessas crianças. Quanto ao GL, constatou-se prejuízo significativo em todos Correspondência Amanda Morão Pereira Rua Padre Teixeira, 2670 – bloco Roma – apto. 153 – Vila Nery – São Carlos, SP, Brasil – CEP: 13560-210 E-mail: amanda.moraop@gmail.com Amanda Morão Pereira – Psicóloga, São Carlos, SP, Bra sil. Carolina Rabelo Araújo – Neuropsicóloga, mestre em Ciências Médicas pela FCM/UNICAMP, Campinas, SP, Brasil. Sylvia Maria Ciasca – Professora Livre-Docente do Departamento de Neurologia e Coordenadora do DISAPRE – Laboratório de Pesquisa em Distúrbios de Aprendizagem, Dificuldades de Aprendizagem e Trans- torno de Atenção – FCM/UNICAMP, Campinas, SP, Brasil. Sônia das Dores Rodrigues – Pedagoga, Psicopedagoga e Psicomotricista, Mestre e Doutora em Ciências Médi- cas pela FCM/UNICAMP, Campinas, SP, Brasil. avaliação da memória em Crianças e adolesCentes Com CaPaCidade inteleCtual limítrofe e defiCiÊnCia inteleCtual leve Amanda morão Pereira; Carolina rabelo Araújo; sylvia maria Ciasca; sônia das Dores rodrigues avaliação da memória em Crianças e adolesCentes Com CaPaCidade inteleCtual limítrofe e defiCiÊnCia inteleCtual leve rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 302-13 303 os tipos de memória avaliados, quando comparado ao GC. A comparação entre o GL e o GDI demonstrou que os primeiros tiveram melhor desempenho (estatisticamente significativo) apenas na memória semântica. Diante disso, considera-se importante que se discuta a necessidade de crianças com inteligência limítrofe receberem na escola o mesmo suporte educacional especializado oferecido às crianças intelectualmente deficientes. UNITERMOS: Memória. Aprendizagem. Inteligência. Deficiência in- telectual. INTRODUÇÃO O aprendizado pode ser definido como a mo- dificação de comportamentos em resposta ao meio, cuja principal característica é aquisição de informações. A base do aprendizado é composta por diversas funções cognitivas, como atenção, percepção, gnosias, memória, linguagem, pra- xia, inteligência e funções executivas, além de adequado aparato neuropsicológico. Interessa-nos, neste estudo, abordar a memória, função cogni- tiva responsável pela aquisição, formação, con- servação e evocação de informações1-3. Existem diferentes tipos e classificações de memória. No que se refere ao tempo, esta função é normalmente dividida em memória operacio- nal, memória de curto prazo (MCP), memória de longo prazo (MLP) e memória remota1,4. A memória operacional mantém a informa ção durante alguns segundos, no máximo poucos minutos, até que seja utilizada para solu cionar al- guma tarefa. Tem também como característica a possibilidade de atualizar as informações neces- sárias para a concretização de uma atividade, ou para realizar outra tarefa. Quatro componentes compõem a memória operacional: a alça fono- lógica, que armazena as informações auditivas; o esboço visuoespacial, que sustenta as infor- mações espaciais e visuais; o buffer episódico, que integra as informações auditivas, visuais e espaciais provenientes dos outros subsistemas; e o executivo central, que gerencia e controla o fluxo de informações e tem a capacidade de acessar a informação, manipulá-la e modificá-la5. Quanto à MCP, esta se estende dos primeiros segundos ou minutos seguintes ao aprendizado até 3 a 6 horas, o que representa o tempo de efeti- vação da MLP. O papel da MCP é permanecer tempo suficiente para que o indivíduo possa dar continuidade a alguma tarefa por meio de uma “cópia” momentânea da memória principal, que será gradativamente substituída pela MLP1. A MLP armazena grande quantidade de in- formações e permanece por muitas horas, dias ou até anos e, neste ultimo caso, tem o que se denomina de memória remota4. Quanto ao conteúdo, a memória costuma ser di vidida em declarativas, que registram fatos, eventos ou acontecimentos, e procedimentais, que estão relacionadas com procedimentos auto- máticos (motores) e com informações adquiridas por condicionamento e habituação4,6. A memória declarativa se subdivide ainda em função do tipo de conteúdo, ou seja, denominam- -se de memória episódica os eventos aos quais assistimos ou dos quais participamos e de me- mória semântica àquelas relacionadas a conhe- cimentos gerais, fatos, conceitos e vocabulário. É a memória operacional que define o que será guardado na memória declarativa ou procedi- mental e que memória deverá ser evocada em cada caso1. A memória operacional é um forte preditor da capacidade de raciocínio, ou seja, quanto maior o nível de agregação da memória operacional, maior a capacidade de raciocínio e inteligência geral. Nesse sentido, a memória operacional tem papel essencial na realização de tarefas complexas7. A literatura indica que o treinamento da memó- ria operacional pode melhorar a inteligência, já Pereira am et al. rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 302-13 304 que as tarefas desse tipo de memória necessitam de processos de execução variados, intimamente