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1 MATRIZ DE ATIVIDADE INDIVIDUAL PGO em Direito Empresarial FGV Enterprise Competition Estudante: Thayna Cristina Alexandrino Turma: 02-24 Data: 01/04/2024 1. Introdução A logo após será exposto um parecer técnico endereçado ao investidor estrangeiro, que possui interesses em realizar investimento na empresa Lojas Americanas. A empresa atualmente está em processo de Recuperação Judicial, autuado sob número 0803087-20.2023.8.19.0001, tramitando na 4ª Vara Empresarial da Capital do Rio de Janeiro. O parecer a seguir buscar fornecer informações e esclarecimento acerca da situação atual da empresa, as possibilidades de acontecimentos, entre riscos e vantagens dentro do processo de recuperar de crédito, para fins de auxiliar o investidor na tomada de decisão de seguir com o investimento ou não perante a empresa. 2. Parecer Vale deliberar brevemente sobre como e o que levou a companhia a este momento. A empresa Lojas Americanas S/A, em 11/01/2023, foi anunciado a saída de CEO e CFO, na qual ambos haviam assumidos no dia 02/01/2023, e a 2 justificativa para saída tão repentina, fora devido a inconsistências contábeis na dimensão de 20 bilhões de reais. Após tal anuncio, os credores começaram a pedir o vencimento antecipado das dividas da companhia, o que obrigou a mesma a requerer judicialmente em 13/01/2023, a tutela de urgência para suspensão por 30 dias dos vencimentos de quaisquer obrigação. Após 6 dias, em 19/01/2023, a empresa ingressou com o pedido de Recuperação Judicial, na qual atualmente, em 24/02/2024 houve a homologação do plano de recuperação judicial, aprovado em Assembleia Geral de Credores, no dia 19/12/2023. 2.1 Responsabilidade Civil de Diretores e Socios acionistas da empresa. Primeiramente cabe reforçar que a empresa Lojas Americanas é uma S/A, de acordo com a Lei 6.404/76 que rege essa categoria de empresa, de acordo com o artigo 158 da Lei 6.404/76, o administrador não será responsável pessoal pelos atos realizando no exercício da sua gestão. Dessa maneira, por exemplo no caso das americanas, a aprovação sem ressalvas das contas pelos acionistas em Assembleia Geral, apenas faz a anuência dos administradores dando a eles quitação e exonerando-os de qualquer responsabilidade. Esse ato é considerado irretratável e irrevogável. Ocorre que quando os acionistas aprovam as contas da empresa sem ressalvas, exime a responsabilidade dos administradores, contudo, vale ressaltar que toda regra há exceção, caso haja constatação de que houve por parte dos administradores erro mediante fraude, dolo ou simulação, os mesmos poderão ser 3 responsabilizados, conforme, inciso I e II do artigo 158, e seus § também trazem as exceções: Art. 158. O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão; responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder: I - dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo; II - com violação da lei ou do estatuto. § 1º O administrador não é responsável por atos ilícitos de outros administradores, salvo se com eles for conivente, se negligenciar em descobri-los ou se, deles tendo conhecimento, deixar de agir para impedir a sua prática. Exime-se de responsabilidade o administrador dissidente que faça consignar sua divergência em ata de reunião do órgão de administração ou, não sendo possível, dela dê ciência imediata e por escrito ao órgão da administração, no conselho fiscal, se em funcionamento, ou à assembléia-geral. § 2º Os administradores são solidariamente responsáveis pelos prejuízos causados em virtude do não cumprimento dos deveres impostos por lei para assegurar o funcionamento normal da companhia, ainda que, pelo estatuto, tais deveres não caibam a todos eles. § 3º Nas companhias abertas, a responsabilidade de que trata o § 2º ficará restrita, ressalvado o disposto no § 4º, aos administradores que, por disposição do estatuto, tenham atribuição específica de dar cumprimento àqueles deveres. § 4º O administrador que, tendo conhecimento do não cumprimento desses deveres por seu predecessor, ou pelo administrador competente nos termos do § 3º, deixar de comunicar o fato a assembléia-geral, tornar-se-á por ele solidariamente responsável. § 5º Responderá solidariamente com o administrador quem, com o fim de obter vantagem para si ou para outrem, concorrer para a prática de ato com violação da lei ou do estatuto. A Lei de recuperação judicial, Lei 11.101/2005, prevê a responsabilização dos administradores, nas hipóteses do artigo 64 da referida Lei, que engloba, quando do cometimento de crimes durante a recuperação judicial; houver cometido qualquer crime em lei; houver agido com dolo, simulação ou fraude, entre outros; 4 Dessa maneira, no presente caso, devido ao rombo financeiro precisa ser apurado eventual reponsabilidade do conselho de administração da mesma, uma vez que os administradores possuiam como obrigação ser transparente com investidores e acionistas, e pela situação financeira da empresa, não se sabe se realmente houve essas transparências. Assim sendo, como dito anteriormente, será necessário apuração dos eventos danosos, e demais elementos que ensejam a responsabilidade dos mesmos. 2.2 Do Direito dos Trabalhadores. De acordo com o artigo 83 da Lei. 11.101/05 o pagamento dos credores em recuperação judicial são: • Créditos trabalhistas ou de acidentes de trabalho; • Créditos garantidos por direitos reais; • Créditos tributários, exceto os créditos extraconcursais e as multas tributárias; • Créditos quirografários; • Demais créditos. Sob esse enforque, vejamos que o artigo 54 da Lei. 11.101/05: Art. 54. O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação judicial. § 1º. O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao pedido de recuperação judicial. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência) https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14112.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14112.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14112.htm#art7 5 § 2º O prazo estabelecido no caput deste artigo poderá ser estendido em até 2 (dois) anos, se o plano de recuperação judicial atender aos seguintes requisitos, cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência) I - apresentação de garantias julgadas suficientes pelo juiz; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência) II - aprovação pelos credores titulares de créditos derivados da legislação trabalhista ou decorrentes de acidentes de trabalho, na forma do § 2º do art. 45 desta Lei; e (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência) III - garantia da integralidade do pagamento dos créditos trabalhistas. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência) Ou seja, o artigo estabelece que, os créditos trabalhistas devem ser pagos em prazos não superior há 1 ano. Ademais, créditos salariais vencidos nos três meses anteriores ao pedido de recuperação, no limite de 5 salários-mínimos, deverão ser pagos no prazo de até 30 dias. Dessa maneira, os trabalhadores são os primeiros credores a receber os valor nos processos de recuperação judicia, isso se aplica as verbas indenizatórias, participaçãonos lucros e eventuais bônus. 2.3 Estratégia de pedir Recuperação Judicial. Prevista na Lei 11.101/2005 a recuperação judicial é utilizada para evitar a falência da empresa. Dessa forma, são tomadas medidas para a reorganização econômica, administrativa e financeira da empresa, feitas com a intermediação da Justiça. A empresa precisa passar por um processo de recuperação judicial quando está muito endividada e não consegue gerar lucro suficiente para cumprir suas obrigações, como pagar seus credores, impostos, fornecedores. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14112.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14112.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14112.htm#art7 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14112.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14112.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14112.htm#art7 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14112.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14112.htm#art7 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14112.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14112.htm#art7 6 Sendo assim, a recuperação interessa não só ao devedor, mas também às outras partes envolvidas com a empresa, como credores e empregados. Na recuperação judicial, são utilizados critérios e medidas para que haja uma reorganização econômica, administrativa e financeira da empresa, com a utilização da intermediação da Justiça. Conforme definido pela própria legislação: Art. 47 da LRE - A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. Dessa maneira um dos benefícios da recuperação judicial além de evitar a falência da empresa é claro, é também, repactuar dívidas, que por meio dessa tentar-se aproximação e renegociação com os credores, sem parar com a funcionalidade da empresa por ausência de pagamentos. Visando alternativa da recuperação judicial, existe a previsão legal na lei 11.101/2005 da recuperação extrajudicial que fora escolhida pela Saraiva antes das alterações trazidas pela 14.112/20, nesta modalidade ao invés do intermédio de juiz, e auxilio de administrador judicial, toda negociação é realizada com os credoresna qual é conduzido pelo devedor, e havendo a concordância dos credores, abre mão do judiciário para homologar o acordo. 2.4 A possibilidade de utilizar mediação e arbitragem para a elaboração do Plano de Credores; 7 A mediação e arbitragem são mecanismos que visam auxiliar e facilitar o consenso entre as partes. trazendo mais eficiência e celeridade aos processos. Conforme abarcado anteriormente, a recuperação judicial possui a finalidade de negociar com os credores, para possuir um acordo único, a mediação e a conciliação trazem o mesmo conceito na sua essência. Conforme dispõe Matheus Mota Martins em seu artigo*, “A eficácia dos mecanismos também é clara. O termo final do procedimento de mediação, uma vez bem-sucedida e alcançado o consenso das partes, constitui título executivo extrajudicial que pode ser homologado judicialmente como título executivo judicial. No caso da arbitragem, a própria sentença arbitral, como consta no atual CPC produz efeitos de uma sentença judicial e, consequentemente, constitui um título executivo judicial.” Vale ressaltar que a mediação e arbitragem somente começaram a ser incentivadas no âmbito da recuperação judicial, após a alteração da Lei, em 2020, atualmente a lei incentiva a conciliação e mediação em qualquer grau de jurisdição. Conclusão O investimento em empresas que estão tentando se reerguer é a base de toda a lei de recuperação judicial e falência, uma vez que visa evitar-se a falência da empresa, com desempregos, impactos na economia, entre outros prejuízo que a Falencia nesse porte poderá ocasionar. * https://www.jusbrasil.com.br/artigos/recuperacao-de-empresas-a-possibilidade-de-utilizacao-de- metodos-extrajudiciais-de-resolucao-de-conflitos-arbitragem-conciliacao-e-mediacao-no-procedimento- da-recuperacao-judicial/1569702259 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15 https://www.jusbrasil.com.br/artigos/recuperacao-de-empresas-a-possibilidade-de-utilizacao-de-metodos-extrajudiciais-de-resolucao-de-conflitos-arbitragem-conciliacao-e-mediacao-no-procedimento-da-recuperacao-judicial/1569702259 https://www.jusbrasil.com.br/artigos/recuperacao-de-empresas-a-possibilidade-de-utilizacao-de-metodos-extrajudiciais-de-resolucao-de-conflitos-arbitragem-conciliacao-e-mediacao-no-procedimento-da-recuperacao-judicial/1569702259 https://www.jusbrasil.com.br/artigos/recuperacao-de-empresas-a-possibilidade-de-utilizacao-de-metodos-extrajudiciais-de-resolucao-de-conflitos-arbitragem-conciliacao-e-mediacao-no-procedimento-da-recuperacao-judicial/1569702259 8 A viabilidade de soerguimento das Lojas Americanas S/A, sob uma análise técnica-jurídica, deve ser expostos os riscos do referido investimento: 1. Observa-se que houve a homologação do plano, e tal ação é positiva, no entanto, o plano sequer começou a ser cumprido, estando no período de carência (período entre a homologação do plano e o efetivo pagamento), não sendo certo que haverá o cumprimento do mesmo. 2. Ainda há de se observação que o rombo financeiro que deu start a recuperação judicial é de 20 bilhões de reais, e de acordo com o Padua Faria Advogados†, o valor de mercado da mesma é de R$ 11 bilhões. 3. A existência de débitos trabalhistas de alta monta a serem pagos, inclusive participações nos lucros da empresa, com as proteções previstas pelo artigo 54 e 83, I da 11.101/05. Desta maneira, diante de todo o exposto, entendo que o risco seja elevado de investimento na empresa antes do final do período de carência. Referências bibliográficas BRASIL. Lei n. 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm>. Acesso em: 01. Abr. 2024. MARQUES, Leonardo. Falências e recuperação de empresas. Rio de Janeiro: FGV, 2022 †https://www.paduafariaadvogados.com.br/post/caso-americanas-amer3-entenda-as- responsabilidades-dos-administradores-e-direitos-dos-investidores https://www.paduafariaadvogados.com.br/post/caso-americanas-amer3-entenda-as-responsabilidades-dos-administradores-e-direitos-dos-investidores https://www.paduafariaadvogados.com.br/post/caso-americanas-amer3-entenda-as-responsabilidades-dos-administradores-e-direitos-dos-investidores 9 BRASIL. LEI 6.404, 15 DE Dezembro de 1976 – rasília, DF: Presidência da República. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404compilada.htm. Acesso em: 01. Abr. 2024. GRUPO Americanas apresenta plano de recuperação judicial. Revista Consultor Jurídico, 20 mar. 2023. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2023-mar-20/grupo-americanas-apresenta- planorecuperacao-judicial. Acesso em: 01. Abr. 2024. AMERICANAS pede recuperação judicial. Migalhas, 19 jan. 2023. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/quentes/380295/americanas-pede-recuperacao-judicial. Acesso em: 01. Abr. 2024. Tudo sobre a Recuperação Judicial – Americanas S.A. XP, 04 Mar. 2024. Disponível em https://conteudos.xpi.com.br/renda-fixa/relatorios/tudo-sobre-a-recuperacao-judicial-americanas-s-a/. Acesso em: 01. Abr. 2024. CASO AMERICANAS(AMER3):ENTENDA AS RESPONSABILIDADES DOS ADMINISTRADORES E DIREITOS DOS INVESTIDORES. Pauda Faria. 12. Jan. 2023. Disponível em: https://www.paduafariaadvogados.com.br/post/caso-americanas-amer3-entenda-as- responsabilidades-dos-administradores-e-direitos-dos-investidores. Acesso em: 01. Abr. 2024. ‡ https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404compilada.htm https://www.conjur.com.br/2023-mar-20/grupo-americanas-apresenta-planorecuperacao-judicial https://www.conjur.com.br/2023-mar-20/grupo-americanas-apresenta-planorecuperacao-judicial https://www.migalhas.com.br/quentes/380295/americanas-pede-recuperacao-judicial https://conteudos.xpi.com.br/renda-fixa/relatorios/tudo-sobre-a-recuperacao-judicial-americanas-s-a/ https://www.paduafariaadvogados.com.br/post/caso-americanas-amer3-entenda-as-responsabilidades-dos-administradores-e-direitos-dos-investidores https://www.paduafariaadvogados.com.br/post/caso-americanas-amer3-entenda-as-responsabilidades-dos-administradores-e-direitos-dos-investidores