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REVISTA ENTRE SABERES - Vol VI, N 11

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Sistema Estadual de Bibliotecas Escolares - SIEBE / SEDUC – PA 
__________________________________________________________________________ 
Entre Saberes / Secretaria de Estado de Educação. Cefor. - v. 06. n. 11. Belém, PA: 
SEDUC, CEFOR, dezembro 2023. 
 
Semestral 
ISSN: 2596-0431 
Revista de relatos de experiência em foco do Centro de Formação dos Profissionais da 
Educação Básica do Estado do Pará (Cefor). 
 
1. Educação – Ensino e Aprendizagem. 2. Metodologia. I. Secretaria de Estado de 
Educação do Pará. Cefor. 
__________________________________________________________________________ 
 
CDD - 22. ed. 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Entre Saberes” é uma publicação online de periodicidade semestral, destinada à publicação de experiências 
educacionais exitosas, concebidas e realizadas por profissionais das escolas da rede de Educação Básica do 
estado do Pará, valorizando o profissional da educação e propiciando o efeito multiplicador dessas práticas na 
rede. 
 
 
 
GOVERNADOR 
Helder Zahluth Barbalho 
 
VICE-GOVERNADORA 
Hana Ghassan Tuma 
 
SECRETÁRIO DE ESTADO DE EDUCAÇÃO - 
SEDUC 
Rossieli Soares da Silva 
 
SECRETÁRIO ADJUNTO DE EDUCAÇÃO 
BÁSICA 
Júlio César Meireles de Freitas 
 
SECRETÁRIO ADJUNTO DE GESTÃO DE 
PESSOAS 
Marcelo Thiago França Roque Ribeiro 
 
SECRETÁRIO ADJUNTO DE PLANEJAMENTO 
E FINANÇAS 
Patrick Tranjan 
 
SECRETÁRIO ADJUNTO DE LOGÍSTICA 
Belmiro Soares Campelo Neto 
 
SECRETÁRIO ADJUNTO DE 
INFRAESTRUTURA 
Arnaldo Dopazo Antônio José 
 
DIRETOR DE FORMAÇÃO 
 
CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS 
DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO ESTADO DO 
PARÁ 
Francisco Augusto Lima Paes 
 
EQUIPE ENTRE SABERES 
Autor Corporativo: Centro de Formação dos 
Profissionais da Educação do Estado do Pará 
Endereço: Rua Gama Abreu, 256 - Bairro de 
Nazaré Belém – Pará CEP: 66.015-130 
Email: ceforrevista@gmail.com 
 
 
 
 
 
EDITORAS 
Nádia Eliane Cortez Brasil 
Sandra Lúcia Paris 
 
CONSELHO EDITORIAL 
Esther Maria de Souza Braga 
Francisco Augusto Lima Paes 
Nádia Eliane Cortez Brasil 
Sandra Lúcia Paris 
 
DIAGRAMAÇÃO 
Paulo Roberto Sousa David 
 
DESENHO DA CAPA 
Desenho de autoria de Letícia Alva Farias 
Rodrigues e Sophia Palheta Vieira 
(Alunas do 2º ano do Ensino Médio da E.E.E.F.M. 
Profa. Dilma de Souza Cattete) 
 
ARTE DA CAPA 
André Luís Pereira de Freitas 
 
PARECERISTAS AD HOC 
Profa. Ma. Ana Lúcia da Silva Brito 
Prof. Dr. Marcello Paul Casanova 
Profa. Dra. Melissa da Costa Alencar 
Profa. Dra. Missilene Silva Barreto 
Prof. Me. Roberto Pinheiro Araújo 
Profa. Ma. Salier Juliane dos Santos Castro 
Prof. Dr. Wandré Guilherme Campos Lisboa 
 
ORGANIZADORES DESTE NÚMERO 
Marcello Paul Casanova 
Salier Juliane dos Santos Castro 
 
REVISÃO GERAL 
Profa. Ma. Esther Maria de Souza Braga 
 
Periodicidade: semestral 
Endereço eletrônico: 
https://www.seduc.pa.gov.br/cefor/pagina/9186-
entre-saberes 
 
 
mailto:cefor.seduc@gmail.com
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................ 
 
5 
 
REFLEXÕES SOBRE ASSÉDIO E VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES: RELATOS DE UMA 
ESCOLA PÚBLICA DE BELÉM (PA) .............................................................................................. 
Ednei Silva Paiva, Juliete Miranda Alves e Rosangela Maia Ribeiro 
 
 
8 
 
EMPODERE-SER ............................................................................................................................. 
Cléa Magnólia Figueira Palha, João Batista Feitosa Machado e Nelma Suely Barros Freitas 
 
19 
 
UMA HISTÓRIA CONTADA EM BIOGRAFIA ................................................................................. 
Francinete de Jesus Pantoja Quaresma, Tânia Maria Cardoso dos Santos e Maria do Socorro 
Dias da Silva 
 
28 
 
REVELANDO SENTIMENTOS: DA DOR AO EMPODERAMENTO ............................................... 
Michelle Sadalla Naif Daibes 
 
39 
 
VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: ESCLARECER PARA COMBATER .......................................... 
Edival Rodrigues Prazeres, Josiane Tenório Souza e Miriam das Neves 
 
48 
 
MAS ELA SE QUER: ABORDANDO O EMPODERAMENTO FEMININO A PARTIR DA PRÁTICA 
EDUCATIVA COM QUADRINHOS ................................................................................................... 
Denise Santos de Figueiredo Vale, Márcio Alexandre Guedes Fernandes e Jorge Osvaldo 
Alcântara Peixoto Filho 
 
 
56 
 
TECENDO DIÁLOGOS PARA O EMPODERAMENTO FEMININO .................................................. 
Cleice do Socorro Abreu Maciel 
 
69 
 
MULHERES NA FILOSOFIA: O PENSAMENTO EMPODERADO ................................................. 
Isabel Cristiane de Mendonça Silva 
 
78 
 
EMPINANDO PIPAS: O PROTAGONISMO FEMININO NA CONSTRUÇÃO DE PIPAS E DO 
APRENDIZADO MATEMÁTICO ....................................................................................................... 
Thiago Diogo Dias Cardoso 
 
 
88 
 
ROSA DE CETIM: UM CORDEL QUE EMPODERA ....................................................................... 
Wilson Nascimento de Lima 
 
97 
 
ESTRATÉGIAS DE LEITURA NO ENSINO MÉDIO: UM OLHAR CRÍTICO À VIOLÊNCIA 
DOMÉSTICA NO CONTO DE MARINA COLASANTI “PARA QUE NINGUÉM A QUISESSE” ..... 
Sandra Regina Feiteiro e Hélio Castro do Nascimento 
 
104 
 
A ARTE E SUAS EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS EM CONEXÃO COM A SOCIOLOGIA PARA O 
EMPODERAMENTO FEMININO ....................................................................................................... 
Robelania dos Santos Gemaque, Sarah de Aviz Cardoso Rocha e Péricles Douglas Matos 
 
 
116 
 
DIVERSIDADE NO A.R: EMPODERAMENTO FEMININO NA PRÁTICA DOCENTE ..................... 
Ana Maria Raiol da Costa e Rita de Cássia Macedo Leal 
 
126 
 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 5 
 
 
 
 
 
A Revista Entre Saberes chega à sua 11ª edição e não tardiamente traz um tema de grande importância 
e relevância social, o Empoderamento Feminino, que nesta edição se apresenta diluído em variadas 
experiências e práticas pedagógicas desenvolvidas e vivenciadas no período de março de 2022 a março de 
2023 em 11 escolas de Tempo Integral de Ensino Médio e Fundamental da região metropolitana de Belém. 
A Entre Saberes é um periódico semestral organizado pelo Centro de Formação de Educação dos 
Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará, o CEFOR, que tem como principal objetivo dar visibilidade 
às produções escritas e compartilhar práticas de sala de aula entre os docentes da rede pública de ensino do 
Estado do Pará. 
Os relatos apresentados nesta edição são resultados do curso Educação de Gênero e Diversidade: 
formando para o empoderamento feminino ofertado pelo CEFOR, atendendo à implementação da lei estadual 
8.775 de outubro de 2018, que institui nas escolas públicas e privadas a Semana do Empoderamento Feminino. 
O curso foi estruturado em seis módulos, contemplando os temas de direitos humanos, educação, relação de 
gênero e literatura e a materialização das ações nas escolas foi desenvolvida a partir da Pedagogia de Projetos. 
Nesta edição, além do exercício de autoria, o leitor notará, que em todas as ações desenvolvidas houve 
a escolha consciente de trazer a/o estudante para o centro das ações, isso se deu pela escolha da Pedagogia 
de Projetos como estratégia, a proposta era que as ações fossem gestadas e produzidas em parceria com as 
alunas e os alunos, evidenciando o protagonismo dos atores envolvidos: docentes e discentes, dividindo a cena 
e o centro da sala de aula, num exercício freireano de mutualidade. 
Dialogando com a proposta da estratégia adotada, que tem em sua essência estimular o protagonismo 
da/do estudante e fazê-la/lo sentir-se parte da construção e da produção das aulas, Berth (2020) diz que a ideia 
de dar poder, presente no conceito de Empoderamento, está relacionada a estimular em alguém algum nível 
deaceitação, de modo que venha a desenvolver novas percepções sobre a realidade existente e sobre si 
mesmo. 
O empoderamento é um movimento de tomada de consciência e (ou) de despertamento de 
potencialidades que se inicia internamente, porém nunca haverá empoderamento se a percepção individual 
não sair em busca de alcançar a coletividade. 
Nesse contexto de desvelamento de potencialidades, buscou-se estimular a escrita autoral de alunas e a 
parceria entre alunas e alunos na produção de performances, vídeos, fotografias, folhetos informativos, teatro, 
dança e nas mediações de rodas de conversas, evidenciando que individualidade e coletividade são “faces 
indissociáveis” no processo de empoderamento (Berth, 2020), bem como evidenciam as bases da Pedagogia 
de Projetos. 
A temática sobre o Empoderamento Feminino foi abordada por todas as áreas de conhecimento, 
contemplando quase todos os campos de saberes do Ensino Médio e componentes do Ensino Fundamental. 
Quanto aos relatos desta edição temos a experiência intitulada Reflexão sobre assédio e violência contra 
as mulheres: relato de uma escola pública de Belém (Pa) de autoria das professoras Juliete Alves, do campo 
de saber da Sociologia, Rosangela Ribeiro, da Geografia e do professor Ednei Paiva, da Filosofia, da escola 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 6 
Temístocles de Araújo. As ações desenvolvidas visaram a esclarecer as formas de violência contra as 
mulheres, principalmente o assédio sexual e enfatizaram a importância das denúncias e dos mecanismos legais 
para a punição dos abusadores. Adotou-se como procedimento metodológico as rodas de conversa com alunos 
e alunas. 
A escola Souza Franco traz o relato Empodere-Ser de autoria das professoras Cléa Magnólia, do campo 
de saber da Arte, Nelma Barros, da Sociologia, e do coordenador pedagógico João Batista Feitosa. As 
atividades nasceram da sensibilização ao tema, por meio do contato com as histórias de vida de mulheres 
inspiradoras que contribuíram para a conquista da autonomia feminina em diversas áreas, a partir dessa 
proposta, as turmas foram divididas em equipes, cada uma responsável pela idealização e caracterização de 
personagens e a produção de figurinos que estivessem relacionados aos diálogos desenvolvidos em sala, 
resultando em uma série de performances relacionadas ao universo feminino. 
No texto Revelando Sentimentos: Da dor ao Empoderamento (Exposição Fotográfica), apresentado pela 
professora Michelle Daibes, do campo de saber da Língua Inglesa, da escola Placídia Cardoso, há o relato 
de um ensaio fotográfico buscando uma interface entre as Artes Visuais e a Língua Inglesa. Seis alunas 
retratam cenas de violência e de empoderamento feminino no intuito de fomentar reflexões sobre o tema. Para 
aflorar os sentimentos durante a produção das fotos, foi realizada uma discussão baseada nas frases em inglês, 
retiradas das mídias sobre mulheres empoderadas. 
Ainda na escola Placídia Cardoso, as professoras. Francinete Quaresma, do campo de saber da Língua 
Portuguesa e suas Literaturas, e Tânia Cardoso, da História, em parceria com a coordenadora pedagógica 
Maria do Socorro Dias, usaram o gênero textual biografia, em uma atividade interdisciplinar com produção 
autoral das/dos estudantes, aprendizagens de conceitos e realização de atividades de uso e reflexão linguística, 
além da apresentação de fatos históricos do cotidiano discente. A atividade foi desenvolvida no âmbito de uma 
intervenção pedagógica intitulada Uma história contada em biografia, realizada como parte das ações da 
Semana do Empoderamento Feminino na escola. 
O texto dos professores Marcio Alexandre Fernandes do campo de saber da Filosofia, Jorge Osvaldo 
Alcântara, da Sociologia, e da professora Denise Santos, da Língua Portuguesa e suas Literaturas, da escola 
Antônio Teixeira Gueiros, relatam a produção da HQ Para que ninguém a quisesse, mas ela se quer de 
autoria de duas estudantes, durante o desenvolvimento do projeto Empoderamento Feminino em Quadrinhos, 
alinhado à Lei estadual 8.775/2018 que institui a Semana do Empoderamento Feminino nas escolas. 
O relato de experiência da escola Dilma Cattete, de autoria da professora Cleice Maciel, do campo de 
saber da Arte, mostra que as/os estudantes tiveram oportunidade para exercer autonomia e protagonismo por 
meio de rodas de conversa, pesquisas, apresentações de seminários, aplicação de questionários, análise de 
dados estatísticos, oficinas e apresentações artísticas, envolvendo diferentes áreas do conhecimento com o 
projeto Escola: Tecendo Diálogos sobre o Empoderamento Feminino para o Enfrentamento das violências 
contra a mulher. 
A escola Dilma Cattete também participa com o texto Mulheres na Filosofia: o pensamento empoderado, 
da professora Isabel Cristiane Silva, do campo de saber da Filosofia, apresentando uma pesquisa bibliográfica 
sobre o tema, levando as alunas e os alunos a refletirem acerca das condições das mulheres em um espaço 
extremamente masculino, que é a Filosofia. O texto ratifica que pensar o empoderamento feminino é trazer 
contribuições para que a mulher possa ser e fazer tudo o que ela quiser. 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 7 
A ilha de Mosqueiro participa desta edição com três relatos da escola Padre Eduardo. O primeiro trata 
do trabalho do professor Thiago Cardoso, do campo de saber da Matemática, que deu prosseguimento ao 
projeto PIPAs, já existente na escola desde 2022, mas trazendo para a edição de 2023 a reflexão sobre 
Empoderamento Feminino, destacando a produção feminina e seu protagonismo na construção de papagaios 
e rabiolas. Usando a metodologia de Ilhas Interdisciplinares de Racionalidade, o professor de Matemática, junto 
com as/os estudantes visaram contribuir para a aprendizagem de Geometria em práticas sociais cotidianas. 
Já o professor Wilson Nascimento, do campo do saber da Língua Portuguesa e suas Literaturas, 
apresenta o relato Rosa De Cetim: um cordel que empodera, resultando na produção da literatura de cordel 
intitulada Rosa de Cetim, de autoria de duas alunas da escola; a produção do cordel se efetivou a partir da 
leitura compartilhada do conto Para que ninguém a quisesse, de Marina Colasanti, utilizando o método de 
produção escrita como atividade interativa. 
Encerrando a participação da escola, a partir da análise do mesmo conto Para que ninguém a quisesse, 
a professora Sandra Regina, do campo do saber da Língua Portuguesa e suas Literaturas, e o professor Hélio 
Castro, da Filosofia, trabalharam estratégias de leitura como oficina, roda de conversa e tertúlia literária com 
as alunas e os alunos do Ensino Médio, privilegiando a integração entre esses dois campos de saber - Literatura 
e Filosofia. 
A contribuição da escola Benjamin Constant se deu com a autoria das professoras Josiane Tenório, 
do campo de saber da História, Míriam das Neves, da Arte, e do professor Edival Prazeres, da Geografia. A 
escola abordou o tema do Empoderamento Feminino assegurando que todas as ações fossem desenvolvidas 
no horário das aulas, como exibição de filmes, roda de conversa relacionados ao tema, com foco na discussão 
sobre os tipos de violência descritas na lei Maria da Penha e debates que culminaram na produção de um 
folheto informativo sobre as violências contra a mulher. 
A escola Manoel Leite Carneiro, representada pelas professoras Robelania Gemaque, do campo de 
saber da Sociologia, Sarah de Aviz, da Arte, e pelo diretor Péricles Matos, apostou nas produções 
audiovisuais, propondo o diálogo entre esses campos de saberes a partir do tema A Arte e Suas Experiências 
Estéticas em Conexão com a Sociologia para o Empoderamento Feminino articuladas às obras de Shamsia 
Hassani e Marina Colasanti, em diálogo com as vivências compartilhadas pelas/pelos estudantes. 
 De Icoaraci vem o relato Projeto Diversidade no A.R.: tempo de abraçar produzido pelas professorasAna Maria Raiol, do campo de saber da Sociologia, e Rita Leal, da Língua Portuguesa e suas Literaturas, da 
escola Avertano Rocha. A proposta das ações tinha como finalidade oportunizar uma formação à comunidade 
acerca do tema educação de gênero e diversidade, em especial, no que tange à apropriação com relação ao 
Empoderamento Feminino. 
Neste breve menu degustativo, narramos as atividades desenvolvidas nas escolas, que tiveram como 
objetivos principais assegurar a unidade temática do Empoderamento Feminino e a implementação da lei 
8.775/2018 que institui a Semana do Empoderamento Feminino nas escolas públicas. Convidamos as leitoras 
e os leitores a conhecer, emocionar-se e refletir a partir das experiências compartilhadas nos relatos desta 
edição. 
 
 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 8 
 
 
REFLEXÕES SOBRE ASSÉDIO E VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES: RELATOS DE UMA 
ESCOLA PÚBLICA DE BELÉM (PA) 
 
Ednei Silva Paiva1 
Juliete Miranda Alves2 
Rosangela Maia Ribeiro3 
 
Resumo 
O objetivo central deste relato de experiência é destacar as ações desenvolvidas em uma escola pública de Ensino Médio 
Integral em Belém-PA, esclarecendo as formas de violência contra as mulheres, principalmente o assédio sexual. A 
finalidade dessas ações visa, além de esclarecer, a enfatizar a importância das denúncias e dos mecanismos legais para 
a punição dos abusadores. Consideramos neste relato que essas ações contribuem para o empoderamento feminino. As 
ações desenvolvidas na escola fazem parte do projeto “Empoderamento Feminino” desenvolvido pelo Centro de Formação 
dos Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará (CEFOR) da Secretaria de Estado de Educação do Pará 
(SEDUC). Adotamos como procedimentos metodológicos as rodas de conversa com alunos e alunas da 1ª, 2ª e 3ª série 
do ensino médio e, para subsidiar as rodas, elaboramos um questionário quantitativo e uma pesquisa qualitativa sobre o 
assédio sexual. Alguns resultados iniciais do questionário demonstram que, apesar dos avanços legais, o assédio contra 
as mulheres é praticado em espaços públicos e privados e o grande temor das mulheres entrevistadas é ser culpabilizada 
pelo assédio, dificultando a denúncia. As rodas de conversa foram momentos importantes de desnaturalização da violência 
contra a mulher, mostrando suas origens na sociedade patriarcal e a importância da informação e do conhecimento para 
o empoderamento feminino. 
 
Palavras-Chave: Assédio sexual. Violência contra as mulheres. Empoderamento feminino. 
 
Introdução 
A violência contra as mulheres nos revela em dados de 2021 da Ouvidoria Nacional dos Direitos 
Humanos que, no Brasil, 677 mulheres foram assassinadas em decorrência da violência de gênero. 
Para esta Ouvidoria, até julho de 2022, também foram registradas 31.398 denúncias de violência 
contra as mulheres. Em 2023, o Ministério Público do Trabalho registrou o crescimento das denúncias 
de assédio moral e sexual no Brasil. A entidade recebeu, de janeiro a julho, 8.458 denúncias em todo 
o país. Este número representa quase a mesma quantidade do total de denúncias de todo o ano 
passado, com o número de 8.5084. 
O assédio sexual tipificado é uma expressão da violência sexual, caracterizada como 
manifestação sensual ou sexual, alheia à vontade da pessoa a quem se dirige. De acordo com a 
pesquisa Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil, realizada pelo DataFolha e Fórum 
Brasileiro de Segurança Pública (2022), em março de 2023, o equivalente a 30 milhões de mulheres 
foram assediadas sexualmente no ano de 2022. A pesquisa chama a atenção para o perfil etário das 
1 Mestre em Educação e professor da SEDUC. 
2 Doutora em Sociologia e professora UFRA/FLACSO/SEDUC. 
3 Especialista em Ciências Políticas e professora da SEDUC. 
4 Disponível em: https://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2023/08/16/denuncias-por-assedio-moral-e-sexual-
disparam-no-brasil-em-2023.ghtml. Acesso em: 30 jun. 2023. 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 9 
vítimas de assédio sexual: 76,1% com idades entre 16 e 24 anos. E em 86% dos casos os agressores 
são conhecidos da vítima5. 
Esses números demonstram que, apesar dos avanços legais penalizando os diferentes tipos 
de agressões contra as mulheres, ainda temos um longo caminho de desconstrução de desigualdades 
históricas a combater. Esta preocupação com o avanço da violência contra as mulheres, em especial 
o assédio sexual, levou-nos a refletir a respeito de quais ações poderíamos considerar na intenção de 
contribuirmos para esclarecer, principalmente às meninas da escola, sobre a violência sexual. 
Para tais ações foi importante também identificar se as meninas da escola sofreram assédio 
sexual ou moral. Procedemos com um questionário em que alunos, alunas, professores e professoras 
puderam responder a algumas perguntas. Para os professores e professoras envolvidas/os neste 
projeto, o empoderamento é uma conquista também quando as mulheres se apropriam da origem 
desses problemas, da formação de uma sociedade patriarcal e das desigualdades de gênero. 
O relato exposto neste trabalho é o resultado desse esforço coletivo. Por outra, esse projeto faz 
parte de um Programa intitulado “Empoderamento Feminino” desenvolvido pelo Centro de Formação 
dos Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará (CEFOR) da Secretaria de Estado de 
Educação do Estado do Pará (SEDUC). 
As atividades desenvolvidas pelo CEFOR estão em consonância com a lei estadual 8775/2018 
(Pará, 2018, n.p.), expressas no artigo 1° “Fica instituído, no âmbito do Estado do Pará, a primeira 
semana do mês de março, como a semana dedicada a discutir a igualdade de gênero, como foco em 
ações que promovam o empoderamento”6. Segundo esta lei, o empoderamento feminino é o ato de 
estimular entre meninas, jovens e mulheres sua participação efetiva nas diversas esferas da 
sociedade, estimulando mudanças culturais, desconstruindo preconceitos e promovendo a equidade 
de gênero. 
O projeto iniciou em 2022 e está sendo desenvolvido em escolas de Ensino Médio Integral em 
Belém-PA7. Portanto, os dados e a pesquisa para este relato são resultados deste trabalho no período 
compreendido entre maio a dezembro de 2022, com alunos e alunas da 1ª, 2ª e 3ª séries de uma 
escola de Ensino Médio na cidade de Belém-PA. O objetivo central do projeto construído na escola foi 
esclarecer sobre as diferentes formas de violência contra as mulheres, principalmente o assédio 
sexual em espaços privados e públicos. Para isso, procuramos elaborar com as alunas e alunos um 
levantamento de dados e situações de violência contra as mulheres no Brasil. 
5 Disponível em: https://forumseguranca.org.br/publicacoes_posts/visivel-e-invisivel-a-vitimizaca o-de-mulheres-no-brasil-
4a-edicao/. Acesso em: 30 de junho de 2023. 
6 Disponível em: https://www.alepa.pa.gov.br/noticiadep/4870/106. Acesso em 30 de junho de 2023. 
7 A escola de tempo integral tem jornada diária de 9 ou 7 horas, dependendo do modelo adotado pela unidade. E neste 
período deverá ter aulas diversificadas e atividades práticas. 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 10 
Destacamos as formas de violência e os canais de denúncia, debatemos a origem e a formação 
de uma mentalidade patriarcal demarcadora dessas desigualdades e da violência. A partir destes 
levantamentos, fortalecemos ações e eventos organizados com as alunas, principalmente acerca da 
temática violência, mas também reforçamos as conquistas das mulheres em diversos setores da 
sociedade. 
Os procedimentos metodológicos adotados foram articulados no ano de 2022, incluindo a 
temática da violência, principalmente o assédio sexual e moral, nos componentes curriculares de 
Filosofia, Geografia, História e Sociologia. Fizemos um mapeamento das situações e dados de 
violência no Brasil. Realizamos um evento, intitulado “Ações humanas”, com debates e a produção de 
pequenos vídeossobre o empoderamento feminino, realizados pelas turmas do 1°, 2° e 3° séries do 
EM da escola. 
Em março de 2023, na semana dedicada ao Dia Internacional da Mulher, além da produção 
desses vídeos, houve também a aplicação de um questionário estruturado com perguntas a respeito 
do assédio em espaços públicos; acrescido a esses elementos, uma pesquisa qualitativa acerca dos 
relatos de assédio subsidiou as rodas de conversa, organizada por séries. Iniciamos com o primeiro 
ano. 
A cada roda de conversa, os dados dos questionários e os vídeos produzidos pelas turmas da 
escola fortaleciam as discussões. Optamos, neste relato, em transcrever as falas das 
meninas/protagonistas sem modificá-las, na intenção de mostrar essas experiências em seus 
cotidianos. 
É sobre esta experiência e os resultados alcançados que versa este relato. Este trabalho está 
assim organizado: primeiramente, destacamos alguns dados sobre a violência contra as mulheres 
referentes ao assédio sexual. No segundo momento, apresentamos a trajetória do projeto na escola 
e a organização em todos os momentos - ou o passo a passo. Por último, destacamos as rodas de 
conversa e os resultados iniciais alcançados pelo projeto em andamento. 
 
A violência contra as mulheres 
O levantamento de dados sobre a violência contra a mulher foi central na preparação do projeto 
e debatido em sala de aula. Dentre esses dados, um nos chamou a atenção, o Relatório do Programa 
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), intitulado “Índice de Normas Sociais de Gênero” 
(ONU, 2023). Esta pesquisa destaca os dados sobre o preconceito contra as mulheres. Foram 
utilizadas quatro dimensões para esta análise: educação, integridade física, política e economia. 
Segundo o PNUD, este estudo foi realizado em vários países da Europa, América do Norte e América 
do Sul. 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 11 
O levantamento revela que 90% dos entrevistados têm algum tipo de preconceito contra as 
mulheres e 25% dos entrevistados acreditam ser justificável agredir a parceira. Metade dos 
entrevistados preferem homens liderando na política do que as mulheres. Duas em cada cinco 
pessoas responderam que os homens são melhores em cargos executivos do que as mulheres. 
O Brasil foi o único país de língua portuguesa no estudo. O levantamento apontou que 84,5% 
dos brasileiros têm pelo menos um tipo de preconceito contra as mulheres. A pior avaliação foi no 
quesito integridade física. Em média, mais de 75% dos brasileiros entrevistados têm preconceitos em 
questões de violência e direito de decisão sobre ter filhos. 
Quanto à participação feminina na política, a pesquisa evidencia que mais de 39% dos 
entrevistados acreditam que as mulheres não desempenham esse papel tão bem quanto os homens; 
31% dos brasileiros consideram os homens com mais direitos a vagas de trabalho; e apenas 15,5% 
da população do Brasil afirmam não ter preconceito contra as mulheres. 
Os dados do PNUD revelam a espiral de desigualdade brasileira: o masculino em patamar 
superior e o feminino em posição de sujeição (Silva, 2010, p. 49). Esta desigualdade construída 
historicamente articula como sustentáculo de dominação o poder e a violência. Afigurando-se como 
“um mecanismo necessário à perpetuação do poder masculino sobre as mulheres” (Santos, 2008, p. 
46). 
Esta violência é uma forma de dominação patriarcal e histórica e encontra-se “impregnada de 
profundos conteúdos inconscientes” (Dias, 2010, p. 3) e presentes em diversas situações cotidianas 
taxadas como “normais”, seja pela linguagem ofensiva, pelas piadas machistas, pelo estereótipo do 
corpo da mulher, pela obstrução da liberdade sexual, pela intimidação, pelo assédio, pelo abuso, pelo 
estupro e pela morte (Santos, 2008, p. 23). 
A tentativa consciente de naturalizar formas de violência foi identificada inclusive nos relatos 
das meninas quando responderam ao questionário, se já haviam sofrido algum assédio sexual ou 
constrangimento. De 125 respostas, 124 meninas responderam que sim! E os espaços vão desde a 
casa, igreja, ônibus, trabalho e escola. E como relatou uma aluna do 1° ano: “não estamos livres nem 
em casa”. 
O Brasil ocupa o 2° lugar no ranking de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes 
(Instituto Liberta, 2023), com cerca de 500 mil vítimas, ficando atrás da Tailândia. A partir deste 
cenário, e apoiados por dados levantados nas aulas pelos próprios alunos e alunas, subsidiamos a 
condução do projeto8. 
 
 
8 Disponível em: https://liberta.org.br/entenda-2/. Acesso em 30 de junho de 2023. 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 12 
O desenvolvimento do projeto na escola 
Iniciamos o projeto no segundo semestre de 2022, após uma reunião do CEFOR na escola. O 
passo a passo incluiu o tema do assédio sexual e moral contra a mulher nos componentes curriculares 
de Geografia, Filosofia, História e Sociologia. Reforçamos como escola o debate em oficinas 
ministradas sobre a lei Maria da Penha (Brasil, 2006), coordenada pela professora de Geografia; e 
sobre o feminicídio e assédio sexual, coordenada pela professora de química com formação também 
na área do Direito. O projeto contou com o apoio de diferentes áreas para o esclarecimento - inclusive 
jurídico - dessas formas de violência. 
A constituição dessa proposta no componente curricular de Sociologia apresentou um 
diagnóstico realizado no início de 2022 sobre o tema assédio. O resultado destacou uma série de 
denúncias feitas principalmente pelas meninas (a maioria não se identificou) sobre assédio sexual e 
moral sofrida por elas. 
Motivados por essas situações, consideramos que a melhor forma de empoderar as alunas 
seria o esclarecimento ao propor os seguintes questionamentos: o que era o assédio? Quais canais 
de denúncias para esses crimes? Tal esforço é importante não somente para esclarecer como também 
por evidenciar as leis e as punições cabíveis nestas formas de violência. Inclusive, muitos alunos e 
alunas desconheciam os canais de denúncia ou mesmo as formas de assédio. 
Finalmente, no final do 2° semestre de 2022, esta atividade se tornou central dentro de um 
evento coordenado pelas professoras e professores de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHS), 
intitulado, “Ações Humanas”, norteada pelo tema do Empoderamento Feminino. Adotamos as 
seguintes ações em articulação com o objetivo do projeto: palestras e aulas sobre os dados de 
violência contra a mulher, o que é o assédio sexual e moral? a produção de vídeos por parte dos 
alunos e alunas, sobre a violência contra a mulher e o que é empoderamento feminino? 
A culminância desse projeto contou com a participação importante das professoras de 
Linguagens e suas Tecnologias, por meio de trabalhos a respeito de mulheres de destaque nas áreas 
das ciências e no campo artístico-literário, com as poetas e escritoras. O protagonismo negro por meio 
das mulheres foi um tema mostrado em cartazes, que contaram suas histórias de resistência. 
Realizamos também uma homenagem àquelas mulheres que muitas vezes são invisibilizadas 
nos seus trabalhos cotidianos dentro da escola: serventes, cozinheiras, secretárias da escola, mas 
também destacamos o trabalho das professoras. 
Finalizamos este evento com música e um chá9 de empoderamento com alunas e alunos da 1ª 
série; nesse chá, contamos com a contribuição de uma professora de linguagens contribuindo na 
organização e com músicas para despertar a vivência de e com mulheres. Consideramos importante 
9 O chá foi uma forma simbólica de mostrar o trabalho das mulheres, visibilizando suas ações na escola foco deste relato. 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 13 
a referência a essas contribuições, para demonstrar a interdisciplinaridade da temática e as diferentes 
formas de abordagem sobre a realidade vivenciada pelas alunas e alunos de uma escola pública. 
 
As rodasde conversa: do sentimento de injustiça ao empoderamento 
As rodas de conversas são dinâmicas importantes e muito utilizadas por professoras e 
professores para conduzir o aluno e aluna a falar e perder “o medo” de expor sua opinião. Iniciamos 
as rodas de conversas na semana alusiva ao Dia Internacional da Mulher (dia 8 de março). 
As rodas de conversa foram mediadas por professoras e professores da área de Ciências 
Humanas e Sociais Aplicadas. Apresentamos, inicialmente, os vídeos realizados no semestre anterior 
e instigamos as meninas e meninos a falarem sobre o assédio e se conheciam pessoas que sofreram 
essas violências. 
No início, o silêncio, mas pouco a pouco os relatos corajosos de meninas que sofreram abusos 
foram decisivos para uma série de denúncias. As falas foram muitas e os debates mostraram o 
desconhecimento sobre as leis, sobre as formas de assédio e constrangimentos sofridos no cotidiano 
e em diferentes espaços: na escola, na igreja, na casa. Abusos relatados e abusadores conhecidos, 
como parentes, amigos ou membros da igreja. Aqueles que deveriam proteger eram os algozes. 
Nas falas das meninas, ficou marcada a angústia e o sentimento de não saber o que fazer. A 
seguir, apresentamos algumas dessas narrativas, ocultando nomes. 
Desde criança o amigo da família me chamava de mulher e passava a mão no meu corpo, falei para 
minha família que não acreditou em mim. Os abusos continuaram e eu não tinha a quem recorrer, pois 
ninguém acreditava em mim. Até que finalmente fomos embora para outro bairro e pude dormir mais 
tranquila (Relato de uma aluna da 1ª série). 
 
Morava em uma vila e o marido de minha prima bebia, e ficava me olhando escondido me esperava 
trocar de roupa. Eu soube por que vi ele me espiando, fui falar com ele e me disse que eu era bonita e 
ficava me exibindo. Ele não achava que estava fazendo algo errado. Falei para minha prima e ela não 
fez nada, ela sofria violência, apanhava e justificava o fato dele estar bêbado. Vivia assustada e me 
escondendo. A minha família disse para eu não falar nada, para não magoar outros membros da família. 
Fiquei mais tranquila agora que eles foram embora da vila. (Relato de uma aluna da 2ª série). 
 
Eu conhecia o garoto, éramos amigos, mas ele me assediava sempre. Não conseguia falar, tinha medo. 
Medo da família, dos amigos de ficar sendo apontada. É a primeira vez que exponho essas questões. 
Guardei, pois além do medo, não sabia a quem recorrer sem ser apontada como a culpada. (Relato de 
uma aluna da 3ª série). 
 
As falas representam o medo, a insegurança e o desamparo por não saber a quem denunciar. 
Considerando as falas, percebemos que a família não dá suporte necessário e até impedem e 
intimidam. O primeiro movimento das meninas que sofrem assédio é procurar a família; e isto também 
foi narrado por outras meninas. Contudo, em grande parte, não são ouvidas ou levadas a sério. Muitas 
relataram que a família sabia, mas pediram para silenciar em nome da harmonia familiar. 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 14 
 Os relatos das rodas de conversa corroboram com os indicadores nacionais apontando que 
86,1% dos agressores são conhecidos, sendo 64,4 % familiares, conforme Anuário Brasileiro de 
Violência Pública (ABVP, 2023). Nas rodas, apresentamos os resultados do questionário respondido 
por 125 mulheres. Nomeamos este questionário de “O assédio em espaços públicos”. 
Os resultados foram destacados e orientados pelas seguintes perguntas: 
1. Você já recebeu cantadas? Nessa pergunta optamos por colocar um nome conhecido dos 
alunos e alunas, o termo cantada. 
2. Você acha que ouvir cantadas é algo legal? 
3.Voce já deixou de fazer alguma coisa por medo de assédio? 
4. Você responde aos assédios que ouve na rua? 
5. Você já foi ofendida porque disse não as cantadas de alguém? 
6. Quais cantadas você já ouviu em espaços públicos? 
7. Já passaram a mão em você? 
8. Se sim, onde? 
 A seguir apresentamos os dados do questionário, perpassados por narrativas das 
mulheres, demonstrando o medo, o controle e a mudança de comportamento. 
 
As respostas do questionário 
As respostas vieram, em sua maioria, das meninas. Não há respostas dos meninos ao 
questionário. Nossa hipótese, é de que os meninos consideravam o tema como “algo relativo às 
mulheres”. Essa hipótese precisa de uma outra pesquisa para analisar este silêncio masculino 
A seguir consideramos apresentar alguns destes dados e, em seguida, analisamos os 
resultados (Gráficos 1 a 5). 
 
Gráfico - 1: Você já recebeu cantadas? 
 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 15 
 
Gráfico - 2: Você acha que ouvir cantadas é algo legal? 
 
 
Gráfico - 3: Quais cantadas você já ouviu em espaços públicos? 
 
 
Gráfico - 4: Você já deixou de fazer alguma coisa com medo de assédio? 
 
Gráfico - 5: Você já foi ofendida porque disse NÃO às cantadas de alguém? 
Fonte: Elaborado pelo autor. 
 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 16 
As respostas correspondem ao cenário nacional, nenhuma mulher está segura; seja na rua, na 
casa, no transporte público, na igreja, no trabalho. No Gráfico 1 o assédio configura-se como rotina 
na vida das meninas, pois 85,5% responderam serem assediadas na rua. E o lugar que deveria ser o 
mais seguro, a casa da família, representa 41,9%. 
Não! As meninas não gostam de ouvir cantadas. É o que mostra o percentual de 93,7%. Nesse 
quesito, muitas relataram ficar caladas ou intimidadas. Já no Gráfico 3, 59,1% reagiram às cantadas 
e foram novamente agredidas. Nos relatos, a reação à agressão é vista pelos agressores como 
“vitimismo”; “coisa de mulher mal-amada”. As expressões “és uma delícia”, “gostosa”, “te pegava toda”, 
“senta aqui no meu colo”, “bora ali no canto”, “ô lá em casa” são comuns nas ruas e praças, segundo 
gráfico 2. 
Os olhares ao corpo feminino mostram um dispositivo de controle e de intimidação. Em um 
relato na pesquisa qualitativa, uma resposta chamou-nos atenção, “não sei o que dizer quando me 
dizem coisas que não gosto, até parece que estou nua, começo a olhar para ver se não estou com os 
seios aparecendo, se não estou rebolando, fico sem saber o que fazer. Me sinto culpada”. A fala 
sinaliza uma sociedade de controle, principalmente sobre as mulheres. Segundo Foucault (1999), a 
disciplina é interiorizada, esta é exercida fundamentalmente por três meios globais absolutos: o medo, 
o julgamento e a destruição. 
Sobre esta destruição moral, vários relatos expressam: “Não sei o que fazer”; “Saio correndo e 
se denuncio me dizem, deixe de passar por este lugar, evite!”; “Se coloco um short, tá curto demais, 
se acho graça, estou aceitando a cantada”. O medo do assédio é um sentimento comum em 92,8% 
das mulheres em resposta às perguntas do questionário, fazendo-as mudar inclusive o 
comportamento, falar menos, rir menos ou, como informou outra menina, “eu fico de cabeça baixa e 
sigo em frente, tenho receio de olhar para quem está me cantando”. O sentimento dessas mulheres é 
do seu corpo (ou comportamento) ser o responsável pelo assédio. 
Ao debatermos esses dados nas rodas de conversa, a escuta foi o primeiro passo; o segundo 
foi dar atenção a essas falas como vivências e experiências, aproximando-as dos dados nacionais; o 
terceiro passo foi desconstruir o julgamento do corpo e da culpa por ser mulher. A estas questões 
colocadas pelas meninas, seguiram-se o debate - mais entre meninas e meninos - mediado/mediadas 
pela reflexão de uma sociedade ainda moldada por discursos que naturalizam o machismo e o controle 
sobre o comportamento feminino. 
Nesse sentido, a preparação com antecedência dos componentes curriculares para a 
abordagem do tema foi oportuna e didática, pois as alunas e os alunos se sentiram mais seguros e 
protagonistas. A relação entre conteúdo, dados e debate aproximou-os de suas realidades. 
As rodas de conversas motivaram outras dúvidas: o quefazer diante de tantas denúncias? Qual 
o papel da escola e das professoras e professores? Primeiramente, não é fácil tratar deste assunto 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 17 
sem mostrar as dificuldades de enfrentá-los, posto ser a escola um lugar também de desigualdades 
de gênero e de violência. Em muitas situações, o tratamento dado em muitas escolas para o problema 
da violência contra a mulher é oferecer uma rosa ou lembrança no dia 8 de março. Em uma reunião 
para tratar acerca do mês das mulheres, um professor, questionando sobre esta data, alertou a 
respeito da romantização da violência contra as mulheres e, em vez de somente flores, dar-lhes 
oportunidade de falar, serem ouvidas e amparadas. 
A escola precisa ser um lugar seguro e seus componentes curriculares e suas ações devem 
referenciar a importância da diversidade, do respeito e a desconstrução de preconceitos. As perguntas 
no parágrafo acima ainda não foram completamente respondidas, compreendemos que outros passos 
deverão ser dados nas escolas, esbarrando no currículo engessado, no temor a certos assuntos, na 
formação dos professores, na ausência ou pouca visibilidade desses temas pela Secretaria de 
Educação. 
Consideramos que avançamos alguns passos (mesmo que ainda cambaleantes), mas ao ouvir 
o sentimento das meninas sobre a importância destas ações na escola, de terem perdido o medo e a 
culpa, de sentirem-se empoderadas e apoiadas em um espaço no qual passam grande parte da vida, 
sentimos um alento, reforçando o papel da escola nessas transformações. 
 
Considerações finais 
O projeto Empoderamento feminino não está finalizado. Apenas começando. A experiência no 
ensino médio integral em Belém-PA resultou em múltiplas possibilidades de trabalhar tal tema. A 
escola pública, tão necessária no Brasil, é um espaço que pode e deve ser da diversidade e do trato 
com as diferenças. Sabemos que ainda estamos sonhando. Contudo, experiências e relatos sobre as 
ações de empoderamento mostraram possibilidades conduzidas por professoras e professores em 
tratar deste assunto. 
Empoderar significa também dar o poder a quem foi apartado historicamente das decisões. 
Mostrar estes caminhos nada fáceis foi também um desafio. Na escola foco deste relato, as ações do 
projeto contaram com a participação de outras professoras e professores das áreas de Ciências 
Exatas e de Linguagens. Flexibilizamos as ementas de alguns componentes curriculares, na 
possibilidade de aproximar o conhecimento científico com a realidade vivenciada de meninas e 
meninos da escola. 
A escola foco deste projeto tem dificuldades infraestruturais, de recursos humanos 
especializados, como psicólogos. A merenda e o almoço não são constantes, dificultando ações 
contínuas e a longo prazo de temas delicados e importantes. O resultado destas lacunas possibilita o 
bullying, a insegurança e o número crescente de suicídios e depressão entre jovens. Os relatos 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 18 
destacados neste trabalho, apesar de pequenos, são representativos do quanto devemos conversar 
sobre assédio, violência contra as mulheres, homofobia, racismo. 
 
Referências 
ABVP. Anuário Brasileiro de Violência Pública. São Paulo: FBSP, 2023. 
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Trad. Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 
2012. 
BRASIL, Presidência da República. Lei nº 11.340 de 7 de agosto de 2006. Brasília: Presidência da 
República. Secretaria-Geral, 2006. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Lei/L11340.htm. Acesso em 30 jun. 2023. 
DIAS, Maria Berenice. Lei Maria da Penha – sentimento e resistência à violência doméstica. 30 ago. 
2010. Disponível em: <http://www.mariaberenice.com.br/manager/arq/(cod2_817) 
21_lei_maria_da_penha_sentimento _e_resistencia_a_violencia_domestica.pdf>. Acesso em: 30 jun. 
2023. 
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Nau, 1999. 
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, INSTITUTO DATAFOLHA. Visível e invisível: a 
vitimização de mulheres no Brasil. Brasília: Instituto DataFolha, 2022. 
ONDH. OUVIDORIA NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS. Relatório sobre a violência contra a 
mulher. Brasília, 2021. 
ONU. Relatório “Índice de Normas Sociais de Gênero”. Programa das Nações Unidas para o 
desenvolvimento.Genebra: ONU, 2023. 
SANTOS, Lígia Pereira dos. Mulher e violência: histórias do corpo negado. Campina Grande: 
EDUEP, 2008. 
Grande: EDUEP, 2008. SILVA, Luciana Santos. O que queres tu mulher? Manifestações de gênero 
no debate da constitucionalidade da “Lei Maria da Penha”. In: 5º PRÊMIO Construindo a igualdade 
de gênero – redações, artigos científicos e projetos pedagógicos premiados. 5. ed. Brasília: 
Presidência da República, Secretaria de políticas públicas para as mulheres, 2010. p. 48-68. 
 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm
http://www/
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 19 
 
EMPODERE-SER 
 
Cléa Magnólia Figueira Palha1 
João Batista Feitosa Machado2 
Nelma Suely Barros Freitas3 
 
Resumo 
Este presente trabalho tem o objetivo de relatar o projeto Empodere-SER, desenvolvido na Escola Estadual Visconde de 
Souza Franco, como implementação da lei nº 8.775, de 16 de outubro de 2018 (Pará, 2018), institui no âmbito do Estado 
do Pará, a primeira semana do mês de março como a semana dedicada a discutir a igualdade de gênero, com foco em 
ações que promovam o empoderamento feminino nas escolas públicas e privadas do Estado. Com o aumento dos casos 
de feminicídio e considerando a finalidade da educação escolar em formar cidadãos ativos, desenvolvendo sua consciência 
crítica, a equipe de professoras, coordenadoras do projeto Empodere-SER, concordam com a necessidade de 
engajamento da instituição escolar na luta contra a violência de gênero e a importância em sensibilizá-los para reconhecer 
e coibir atitudes de violência contra a mulher. As ações possibilitaram que as/os estudantes protagonizassem todo o 
processo, contribuindo de forma eficaz para a construção de sua consciência crítica. 
 
Palavras-Chave: Empoderamento. Violência feminina. Escola 
 
Introdução 
O presente trabalho tem o objetivo de relatar a experiência obtida, na Escola Estadual Visconde 
de Souza Franco, com o desenvolvimento do projeto Empodere-SER, iniciado com o Curso Educação 
e Diversidade de Gênero: formando para o empoderamento feminino, ofertado pelo Centro de 
Formação dos Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará (CEFOR) em parceria com a 
Secretaria de Estado de Educação (SEDUC). 
Foi apresentado às escolas em Tempo Integral (TI) como proposta piloto para implementação 
da lei nº 8.775, de 16 de outubro de 2018 (Pará, 2018), institui no âmbito do Estado do Pará, a primeira 
semana do mês de março como a semana dedicada a discutir a igualdade de gênero, com foco em 
ações que promovam o empoderamento feminino nas escolas públicas e privadas do Estado. 
Entende-se por empoderamento feminino o ato de estimular entre meninas, jovens e mulheres 
sua participação efetiva nas diversas esferas da sociedade, estimulando mudanças culturais, 
desconstruindo preconceitos e promovendo a equidade de gênero. 
1 Especialista em Arte na educação escolar pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Professora do componente 
curricular Artes da Secretaria de Estado da Educação (SEDUC-PA). Email: clea.palha@escola.seduc.pa.gov.br 
2 Especialista em Educação. Técnico pedagógico da Secretaria de Estado da Educação (SEDUC-PA). Email: 
joao.machado@escola.seduc.pa.gov.br 
3 Especialista em Políticas de Promoção da Igualdade Racial na Escola pela Universidade Federal do Pará (UFPA). 
Professora do componente curricular Sociologia da Secretaria de Estado da Educação (SEDUC-PA). Email: 
nelma.freitas@escola.seduc.pa.gov.br. 
Revista “EntreSaberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 20 
Um dos documentos que norteiam a educação básica, Lei nº 9.394/96, que estabelece as 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Brasil, 1996), um dos princípios para pensar a 
Educação é o vínculo entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. E, portanto, criar 
espaços de debates e discussões de temas que afetam a sociedade, por exemplo, igualdade de 
gênero e violência contra as mulheres, é desenvolver nos educandos práticas sociais. Torná-los 
cidadãos críticos, empoderados, capazes de reconhecer e denunciar a violência doméstica e todas as 
formas de violência. 
 
Discussão Teórica 
Joice Berth (2019) oferece parâmetros relevantes para entendimento e compreensão da noção 
de Empoderamento, dizendo que ele é 
[...] um fator resultante da junção de indivíduos que se reconstroem e descontroem em um 
processo contínuo que culmina em empoderamento prático da coletividade, tendo como resposta 
as transformações sociais que serão desfrutadas por todos e todas (Berth, 2019, p. 54). 
 
Compreendendo coletividade como resultado da junção de muitos indivíduos que apresentam 
algum – ou alguns – elemento comum. 
Para uma melhor compreensão, a autora faz uma simples analogia, “se o empoderamento fosse 
uma casa, os indivíduos seriam seus materiais de construção -, tijolos, argamassa, telhado, piso, 
pintura etc. Serão adquiridos e trabalhados para que a união de todos se transforme na tão sonhada 
moradia” (Berth, 2019, p. 54-55). Ressaltando que “esses elementos construtivos precisam ter uma 
qualidade individual para que o resultado seja igualmente qualitativo. Se isolados, não conseguem 
complementar a função inicial que é edificar a moradia”. 
Segundo a pesquisadora, são muitas as definições e literaturas que proferem sobre 
empoderamento e destaca algumas em sua obra, dentre elas a de Paulo Freire para o qual, a 
consciência crítica é condição indissociável do empoderamento. Em sua obra, Educação como prática 
de liberdade (Freire, 1982, 138), afirma que a opressão só poderá ser superada por meio da tomada 
da consciência crítica que é “a representação das coisas e dos fatos como se dão na existência 
empírica”; e a educação é um dos principais instrumentos para essa conscientização, cujo processo 
educativo deve possibilitar ao homem uma reflexão sobre si mesmo, sobre seu tempo e suas 
responsabilidades. 
Atualmente, as instituições escolares, que estão presentes em todos os setores e são parte 
constituinte da sociedade contemporânea, responsáveis pela formação de seus indivíduos, seguem 
orientações de documentos oficiais que reforçam a importância do pensamento crítico. 
 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 21 
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá 
como finalidades: 
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o 
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico (Brasil, 1996, n.p.). 
 
A escola tem o papel de viabilizar processos que possibilitem aos alunos e alunas condições 
para que se tornem capazes de problematizar as formas de vida, criando iniciativas que tratem dessa 
temática. Enquanto mulheres docentes envolvidas nesse contexto, temos consciência da importância 
dessas práticas no âmbito escolar e da emergência em discutir e sensibilizar a comunidade escolar 
para esse tema, envolvidas na esperança de que é possível uma transformação social a partir deste 
espaço geográfico, chamado escola, para que todo o conhecimento produzido nele ultrapasse os 
muros e sejam levados para outros espaços. Acreditamos que os docentes podem contribuir para a 
formação de cidadãs/ãos ativas/os compromissadas/os com mudanças sociais. 
No Brasil, os direitos humanos estão garantidos na Constituição de 1988, apresentados no seu 
1º artigo: 
[...] a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios 
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I 
- a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do 
trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos 
ou diretamente, nos termos desta Constituição’ (Brasil, 1988, n.p.). 
 
Apesar disso, existem inúmeros casos em que a República Federativa do Brasil, não garante 
esses direitos de fato. Foi o caso da farmacêutica Maria da Penha, que teve seus direitos garantidos 
após a condenação do Brasil por ineficiência de proteção às mulheres. 
Dessa trágica história, surge a lei 11.340 (Brasil, 2006), conhecida como lei Maria da Penha, 
sancionada em 7 de agosto de 2006, cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e 
familiar contra a mulher, determinando como violência doméstica qualquer ação ou omissão baseada 
no gênero que lhe cause anomorte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou 
patrimonial. Esta lei é considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) uma das três mais 
avançadas do mundo por ser um marco na luta contra a violência de gênero. Anterior a essa lei, as 
denúncias de casos de violência doméstica eram enquadradas como causas cíveis de menor 
complexidade. 
Outra conquista importante, é a inserção do crime de feminicídio no código penal brasileiro pela 
lei nº 13.104, de 9 de março de 2015 (Brasil, 2015). É qualificado como feminicídio quando o 
assassinato de mulheres for motivado por razões de violência doméstica e familiar, ou pelo 
menosprezo ou discriminação da condição de mulher, podendo ser incluído no rol dos crimes 
hediondos. 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 22 
Apesar desses avanços legais, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP)4, divulgou em 
março de 2023 dados estatísticos de crimes que vitimizam meninas e mulheres. Quase 30% das 
brasileiras relataram ter sofrido algum tipo de violência ou agressão no ano de 2022, o que 
corresponde a 18,6 milhões de mulheres acima de 16 anos. 
A organização ressalta que a quantidade de mulheres que experimentaram alguma forma de 
violência no ano passado foi a maior já registrada em quatro edições da pesquisa. E, continua, no 
primeiro semestre de 2023, 722 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil, crescimento de 2,6% 
comparado ao mesmo período do ano anterior, quando 704 mulheres foram assassinadas por razões 
de gênero. O FBSP afirma que os dados apresentados têm como fonte os boletins de ocorrência 
registrados pelas Polícias Civis dos estados e do Distrito Federal. 
Diante desse contexto lastimável, é imprescindível criar uma rede de diálogos para discutir e 
obter uma compreensão maior sobre os crimes que vitimizam as meninas e mulheres, dispondo de 
um engajamento, não apenas de meninas e mulheres, mas, também, de meninos e homens, na luta 
para mudança desses dados estatísticos, porque a violência contra a mulher não é um problema 
unicamente do gênero feminino e sim de todos, pois atinge as diversas camadas sociais. 
A violência contra a mulher constitui violação dos direitos humanos e liberdades fundamentais 
na Convenção de Belém do Pará, como ficou conhecida a Convenção Interamericana para prevenir, 
punir e erradicar a violência contra a mulher, adotada em 9 de junho de 19945 pela Assembleia Geral 
da Organização dos Estados Americanos (OEA). Nos dispositivos das diretrizes curriculares, os 
direitos humanos estão como princípio norteador e como um dos papéis fundamentais da escola em 
garanti-los, contribuindo para o conhecimento de direitos fundamentais. 
 
Empodere-SER 
A partir desse contexto, iniciou-se o desenvolvimento das atividades, coordenadas pelas 
professoras Cléa Magnólia Figueira Palha, componente curricular Artes; Nelma Suely Barros Freitas, 
componente curricular Sociologia;João Batista Feitosa Machado, coordenador pedagógico e a 
monitoria/consultoria da equipe de formadores do CEFOR para possibilitar o sucesso deste desafio. 
O espaço de desenvolvimento da proposta foi a Escola Estadual Visconde de Souza Franco que 
funciona, atualmente, com 9 turmas e divide um prédio público, na avenida Almirante Barroso, com 
outras organizações da SEDUC, a então USE 8 e o Centro de Atendimento Educacional Especializado 
4 O FBSP é uma organização não-governamental, apartidária, sem fins lucrativos, que se dedica a construir um ambiente 
de referência e cooperação técnica na área de segurança pública. Site: https://forumseguranca.org.br/. 
5 Convenção Interamericana Para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, “Convenção de Belém do 
Pará”. Adotada em Belém do Pará, Brasil, em 9 de junho de 1994, no Vigésimo Quarto Período Ordinário de Sessões da 
Assembleia Geral. Disponível em: https://www.oas.org/pt/ cidh/ mandato/basicos/belemdopara.pdf. Acesso em: 4 nov. 
2023. 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 23 
(CAEE). Nesse ambiente circulam diariamente cerca de 400 pessoas, entre estudantes, servidores do 
estado e a comunidade extraescolar. 
O projeto Empodere-SER foi desenvolvido ao longo do mês de março, com a apresentação 
aos/às discentes a Lei nº 8.775, de 16 de outubro de 2018 (Pará, 2018), que institui a semana do 
empoderamento nas escolas públicas e privadas do estado do Pará. As atividades foram 
desenvolvidas com a proposta de leitura do livro Empoderamento, de Joice Berth (2019), para 
entendimento e compreensão da noção do conceito de empoderamento; e compreender que o 
empoderamento individual e coletivo são duas faces indissociáveis do mesmo processo. 
Com a compreensão e sensibilização do tema, seguiu-se outro momento, em que as/os 
discentes davam exemplos de mulheres empoderadas e inspiradoras, que contribuíram para a 
conquista da autonomia feminina em diversas áreas, por exemplo, Carolina Maria de Jesus, Cora 
Coralina, Malala e várias outras mulheres de uma longa lista. 
Também foram realizadas pesquisas, no laboratório de informática da escola, sobre a obra e a 
vida dessas mulheres, cuidadosamente planejado, cada turma teve uma equipe para pesquisar a lei 
Maria da Penha e lei de Feminicídio, possibilitando acesso a mais informações e promovendo a 
construção do conhecimento para ampliar o poder de reflexão e argumentação. Este momento 
resultou na produção de cartazes e apresentação de seminários abordando o texto e a temática 
(Imagem 1). 
 
Imagem - 1: Produção de cartazes e apresentação de seminário 
Fonte: Arquivo pessoal (2022). 
 
O Cine Soufran6 apresentou o filme As Sufragistas, inspirados em fatos, um grupo militante, do 
Reino Unido, que luta por direitos ao voto, decide coordenar atos de insubordinação, quebrando 
vidraças e explodindo caixas de correio, para chamar a atenção dos políticos localiza; a série Maid 
nos mostra uma faceta diferente do relacionamento abusivo: a violência psicológica. 
6 O Cine Soufran é um projeto desenvolvido na escola pela área do conhecimento em Ciências Humanas e Sociais 
Aplicadas. 
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Nas aulas de Arte, foi realizada a oficina de colagem, que consiste em sobrepor recortes de 
jornais, revistas, pinturas e pedaços de tecidos. Utilizando esta técnica, das artes plásticas, os 
estudantes criaram, individualmente, em suas perspectivas, a imagem da mulher do século XXI. 
Para as turmas da 3ª série, foram ministradas aulas sobre performance, segmento artístico 
estudado na arte contemporânea. De acordo com Yasmim Abdalla (2017)7, esse estilo de arte passou 
a ser catalogada desde as décadas de 50 e 60 do século XX, um dos destaques deste segmento é a 
performista Marina Abramovic, que atua desde a década de 1970. 
A partir dessa iniciativa, as turmas foram divididas em equipes, cada uma responsável pela 
idealização, a caracterização de personagens e a produção de figurinos que estivessem relacionados 
aos diálogos desenvolvidos em sala. O que resultou em uma série de performances relacionadas ao 
universo feminino, pensadas pelas/pelos alunas/os, que apresentaram com brilhantismo e 
sensibilidade. 
Com a finalidade de socializar toda a produção elaborada e trazer o debate para toda a 
comunidade escolar, realizamos uma manhã de culminância, em alusão ao dia da mulher, celebrando 
os produtos dos alunos e alunas. A abertura desta celebração, no hall central da escola, foi realizada 
por nós, professoras Clea Palha, Nelma Freitas e a diretora Marilena Guimarães. Também, estavam 
presentes os formadores do Cefor, Marcello Casanova e Salier Castro, orientadores do projeto 
(Imagem 2). 
 
Imagem - 2: Professoras, estudantes, diretora e formadores 
Fonte: arquivo pessoal (2022). 
 
Neste espaço, foram expostos os cartazes, um varal com as colagens e a realização de quatro 
performances. A primeira, Mulher e o Padrão da Sociedade, duas alunas robotizadas, com um cartaz 
grande pendurado no pescoço escrito: ‘O que falta para ela ser perfeita para você?’ Os demais, 
7 é a plataforma digital da SP–Arte que tem por objetivo conectar as galerias participantes a colecionadores e amantes 
das artes. Disponível em: https://www.sp-arte.com/ 
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componentes da equipe, portavam maquiagens e canetas, e convidavam o público a maquiar os 
‘robôs’ e escrever uma resposta nos cartazes (Imagem 3). 
 
Imagem - 3: Segunda equipe 
Fonte: arquivo pessoal (2022). 
 
A segunda equipe abordou o tema da violência contra mulheres trans e travestis, Não é só Maria 
que sofre: Roberta da Silva sofreu também, um aluno estava caracterizado com um vestido todo 
confeccionado de jornais, tendo seu rosto coberto com uma peça circular, também de jornal, desfilava 
no hall seguido pelos demais componentes da equipe que seguravam pequenas placas com as 
seguintes frases, quem ama não bate, o feminismo nunca matou ninguém, o machismo mata todos 
os dias, uma vida sem violência é um direito das mulheres (Imagem 4). 
 
Imagem - 4: Segunda equipe 
Fonte: arquivo pessoal (2022). 
 
Mexeu com uma, mexeu com todas foi o tema da performance de outro grupo, tinham cartazes 
vermelhos pendurados no pescoço com frases não é não, assédio não é elogio, e a culpa não é da 
vítima. As alunas usavam capa de tecido branco manchado com tinta vermelha e o aluno tinha suas 
mãos pintadas de vermelho. 
Todos os grupos circulavam performando para os espectadores, no espaço de convivência da 
escola, usando seus corpos como manifestação artística para levantar questionamentos sobre o 
padrão de beleza imposto às mulheres, que exige uma determinada forma de corpo, comportamento, 
 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 26 
estilo de roupa, maquiagem, protestando contra a violência de gênero e os assassinatos de mulheres 
trans e travestis. 
Segundo o Dossiê de Mortes e Violências Contra LGBTI+8, em 2022, foram cerca de 273 casos 
de mortes violentas, sendo 58,24% de pessoas travestis e mulheres transsexuais. O Brasil foi o país 
que mais matou LGBTQI+ em todo o mundo, pelo 14º ano consecutivo. Sendo considerado um lugar, 
extremamente, inseguro para essa população. 
Uma terceira ação, surge a partir da solicitação dos alunos por um espaço que pudessem recitar 
poesias, fazer denúncias, desabafos, compartilhar experiências (Imagem 5). 
 
Imagem 5. Microfone aberto 
Fonte: arquivo pessoal (2022). 
 
Para atendê-los, havia um Microfone Aberto - um espaço disputado e bastante usado durante o 
evento. 
 
Considerações Finais 
No processo de ensino aprendizagem todos ensinam e, também, aprendem, e no planejamento 
e execução do projeto, Empodere-SER, não foi diferente. Houve um movimento constante envolvendo 
docentes, alunos e alunas, direção, equipe técnica e a equipe de formadores do CEFOR; o 
envolvimentodos discentes foi surpreendente, mergulharam nas discussões do tema, na produção e 
na execução das atividades propostas por eles. 
Durante as aulas e culminância do projeto, por diversas vezes, alunos e alunas relataram 
experiências, vividas ou testemunhadas, a respeito de crimes que vitimam meninas e mulheres. 
A escola foi palco não apenas de conteúdo, mas de vivências, trocas de experiências e 
transformações de saberes, diante do exposto, pode-se afirmar que alcançamos o objetivo de 
contribuir para a construção de uma consciência crítica para reconhecer e coibir atitudes de violência 
8 O Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil é uma instância da sociedade civil autônoma, 
protagonizada pela parceria entre Acontece LGBTI+, ANTRA e ABGLT. Nossa missão é a garantia do Direito à Vida da 
comunidade LGBTI+. Disponível em: https://observatoriomortes eviolenciaslgbtibrasil.org/slides/observatorio-mortes-lgbt/ 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 27 
contra a mulher; por certo, não estão formados completamente, isso irá acontecer no processo de 
socialização que designa aprendizagem e perdura por toda vida, entretanto sabemos que o processo 
iniciou para alguns, e se potencializou em outros. 
Esta primeira experiência, será relevante para as próximas etapas, foi um desafio e nem tudo 
o que foi planejado foi executado, mas entendemos que isso, também, faz parte do processo. Após 
uma avaliação, elaboramos novas estratégias para o desenvolvimento do projeto no próximo ano letivo 
que a lei 8.775/2018 (Pará, 2018) e sua implementação com os projetos desenvolvidos nas escolas 
sejam mais um instrumento de combate e enfrentamento de violências contra as mulheres existentes 
em nossa sociedade. 
 
Referências 
ABDALLA, Yasmin. Mas, afinal, o que é uma performance?. São Paulo: SP-Arte Editorial, 2017. 
Disponível em: <https://www.sp-arte.com/editorial/mas-afinal-o-que-e-uma-performance/>. Acesso 
em 26 nov. 2023. 
BERTH, Joice. Empoderamento. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019. 
BRASIL. Constituição Federativa do Brasil. Brasília: Presidência da República, 1988. 
BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Brasília, 
DF:Diário Oficial da União, 1996. 
BRASIL. Senado Federal. Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha e normas 
correlatas. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2019. Disponível em: 
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/496319/000925795.pdf. Acesso em: 3 nov. 2023. 
BRASIL. Casa Civil. Lei 13.104, de março de 2015. Brasília: Casa Civil, 2015. Disponível em: 
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_ 03/_ato2015-2018/ 2015/lei l13104.htm.> Acesso em: 5 nov. 
2023. 
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação – uma introdução ao pensamento 
de Paulo Freire. 3. ed. São Paulo: Cortez & Moraes, 1980. 
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. 
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. 
PARÁ. Lei Ordinária nº 8775, de 16 de outubro de 2018. Institui no âmbito das escolas públicas e 
privadas do estado do Pará a semana do empoderamento feminino. Belém, PA: Diário Oficial do 
Estado, 2018. 
 
https://www.sp-arte.com/editorial/mas-afinal-o-que-e-uma-performance/
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.340-2006?OpenDocument
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.340-2006?OpenDocument
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/496319/000925795.pdf
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13104.htm
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UMA HISTÓRIA CONTADA EM BIOGRAFIA 
 
Francinete de Jesus Pantoja Quaresma1 
Tânia Maria Cardoso dos Santos2 
Maria do Socorro Dias da Silva3 
 
Resumo 
Este relato de experiência objetiva compartilhar o desenvolvimento e o resultado da intervenção pedagógica intitulada 
“Uma história contada em biografia”, realizada como parte das ações da Semana do Empoderamento Feminino, instituída 
pela Lei 8775/2018 (Pará, 2018). Tomamos o gênero textual biografia como ponto de partida à produção de texto de 
alunas/os do 9º ano do Ensino Fundamental, da Escola E.E.F.M. Professora Placídia Cardoso, no ano letivo de 2023. Em 
uma atividade interdisciplinar, exploramos tanto os saberes da Língua Portuguesa quanto os da História, evidenciando o 
gênero em questão como um caminho para o ensino-aprendizagem de conceitos importantes, como o de Empoderamento 
Feminino; bem como à realização de atividades de uso e reflexão linguística, e de apresentação de fatos históricos do 
cotidiano do discente. Os pressupostos teóricos que fundamentam a atividade embasaram-se, dentre outros, em 
Marcuschi (2010), Koch (1992, 2011, 2012), Koch e Elias (2016), Silva (2010), Berth (2019) e Documento Curricular do 
Estado do Pará (Pará, 2021). 
 
Palavras-Chave: Empoderamento Feminino. Gênero Textual. Biografia. Língua Portuguesa. História. 
 
Introdução 
As atividades expostas no presente relato foram realizadas pelas professoras de Língua 
Portuguesa, Francinete Quaresma, e de História, Tânia Santos, junto a uma turma de 9º ano, da 
Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora Placídia Cardoso, localizada no Bairro 
do Jurunas. 
Esta intervenção pedagógica foi executada como parte do Projeto Trabalhando o 
Empoderamento Feminino na Escola, coordenado na referida instituição pela Especialista em 
Educação Maria do Socorro Silva, o qual integrou várias ações que fizeram parte da Semana do 
Empoderamento Feminino, instituída pela Lei 8775/2018 (Pará, 2018), do Deputado Carlos Bordalo. 
No âmbito do Estado do Pará, essa semana é designada à discussão da igualdade de gênero, visando 
realizar ações que promovam o Empoderamento Feminino dentro do contexto escolar, seja ele público 
ou privado. 
As professoras promoveram uma atividade interdisciplinar entre seus componentes 
curriculares, a qual resultou em produções textuais bibliográficas, em que os alunos puderam aplicar 
1 Professora de Língua Portuguesa e Francesa da Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc/PA). Doutora em 
Letras - Linguística pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestra em Letras - Linguística pela mesma Universidade. 
Especialista em Letras - Língua Portuguesa pela UFPA. Graduada em Letras pela referida Universidade. 
2 Professora de História e Estudos Amazônicos da Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc/PA). Graduada em 
História pela Universidade Federal do Pará. 
3 Especialista em Educação da Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc/PA). Graduada em Pedagogia pela 
Universidade Federal do Pará. 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 29 
conhecimentos obtidos tanto no âmbito da Linguagem quanto no das Ciências Humanas, lançando 
um novo olhar sobre o conceito de Empoderamento Feminino. 
Este manuscrito relata não somente as ações desenvolvidas em prol da realização da 
intervenção pedagógica supracitada, apontando um possível caminho metodológico para debater o 
tema Empoderamento Feminino e para abordar objetos de conhecimentos correspondentes aos 
componentes curriculares mencionados, como texto narrativo, marcadores discursivos, periodização 
histórica, conceito de Empoderamento Feminino; mas também os resultados alcançados ao 
trabalharmos a produção textual a partir do gênero a biografia. Nosso objetivo consistiu em levar as/os 
discentes a observarem que as histórias das mulheres de seu meio familiar, demonstram o quanto 
essas mulheres são empoderadas. 
Assim sendo, a fundamentação teórica que subsidia esta discussão se baseia nos 
pressupostos dos gêneros textuais, em especial o gênero biografia (Marcuschi, 2010; Silva, 2010), 
apontado aqui como uma alternativa para o ensino de objetos de conhecimentos da Língua 
Portuguesae da História. No campo específico das Ciências Humanas, buscamos subsídio em Berth 
(2019), com o propósito de fundamentar os saberes do componente curricular História, em especial, 
a história e a construção do conceito de Empoderamento Feminino. Não obstante, subsidiamos nossa 
discussão do Documento Curricular do Estado do Pará - DCE/PA (Pará, 2021). 
Nessa intervenção pedagógica, analisamos as produções textuais das/dos alunas/os 
envolvidas/os em uma perspectiva qualitativa (Thiollent, 1986). Percebemos que nosso público-alvo 
compreendeu o conceito de Empoderamento Feminino, demonstrando isso em seus textos, bem como 
produziu biografias utilizando-se dos objetos de conhecimentos abordados. 
A realização desta atividade junto a uma turma de 9º ano agregou uma grande experiência 
em relação ao trabalho interdisciplinar e à vivência narrada por nossas/nossos estudantes. As histórias 
compartilhadas enriqueceram nossa formação enquanto ser humano e educadoras, mostrando o 
quanto é importante, em nossa prática pedagógica, despertar no aprendiz os saberes e os sentimentos 
que ainda estão adormecidos. Por meio da biografia, as/os alunas/os tiveram a oportunidade de lançar 
um olhar mais atento ao seu ambiente familiar, percebendo que, nesse círculo, há mulheres com 
grandes histórias de vida, que podem ser vistas como Mulheres Empoderadas. 
 
Aporte Teórico 
Marcuschi (2010) introduz a noção de gênero textual, fundamentando-se nos postulados 
bakhtinianos (Bakhtin, 2003) de que os gêneros modelam a interação humana. Conforme Marcuschi 
(2010, p. 19), como “entidades sociodiscursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer 
situação comunicativa,” os gêneros textuais não somente ordenam, mas também organizam as 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 30 
atividades comunicativas do cotidiano. Assim sendo, o autor afirma não ser possível haver 
comunicação verbal sem se fazer uso de gêneros textuais, e ser impossível comunicar-se verbalmente 
sem se fazer uso de textos. 
Diante dessa compreensão, Marcuschi (2010) destacou a necessidade de tomar a noção dos 
gêneros textuais como abordagem de ensino-aprendizagem de línguas, visto se constituírem 
verdadeira oportunidade de estudá-las, em situação cotidiana, em seus usos autênticos. Marcuschi 
(2010, p. 37) destaca que “nada do que fizermos linguisticamente estará fora de ser feito em algum 
gênero”, fazendo uso de algum texto. O autor corrobora com os postulados de Dolz e Schneuwly 
(2004, p. 57), para quem os gêneros “devem constituir os ingredientes de base do trabalho escolar, 
pois, sem os gêneros, não há comunicação e, logo, não há trabalho sobre comunicação.” 
Há alguns anos, em contexto brasileiro, nas escolas da Educação Básica, os gêneros textuais 
servem de modelo didático para o ensino da Língua Portuguesa. Em outras palavras, no campo do 
ensino-aprendizagem das línguas, os gêneros textuais embasam currículos escolares, a exemplo do 
que acontece na educação pública do Estado do Pará. O DCE/PA (Pará, 2021), seguindo orientações 
presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (Brasil, 1998) e na Base Nacional Comum 
curricular - BNCC (Brasil, 2018), pauta a abordagem do ensino da Língua Portuguesa na concepção 
interacionista da linguagem, tomando o texto como objeto de ensino e os gêneros textuais como eixo 
de progressão e articulação para o Ensino da Língua Portuguesa. 
Assim, 
[...] o ensino por meio de diferentes gêneros permite a valorização das culturas específicas de 
cada lugar e da própria identidade, relacionando a forma do sujeito ser estar no mundo com 
outras formas diferentes da sua; logo, considerando aspectos como as necessidades e 
finalidades de aprendizagem, a faixa etária, a série, sugere-se um trabalho sistematizado e 
aprofundado com um gênero discursivo por bimestre (Pará, 2021, p. 108). 
 
Seguindo essas diretrizes do documento curricular paraense que orienta nossa prática 
pedagógica, na ação que desenvolvemos, optamos por trabalhar com o gênero textual biografia, 
realizando encaminhamentos didáticos sistematizados em sequência didática (Dolz; Noverraz; 
Schneuwly, 2004), conforme sugerido pelo DCE/PA (Pará, 2021). 
A palavra biografia significa, em diferentes línguas ocidentais, “a escrita de uma história de 
vida” (Silva, 2010, p. 13). O gênero textual biografia, portanto, consiste no “relato da vida de uma 
pessoa. Uma definição simples para um gênero de fronteira, que dialoga com diferentes áreas do 
saber, da História ao Jornalismo, passando pela Literatura e a Psicologia”. 
O gênero biografia possibilita ao professor realizar uma abordagem interdisciplinar, tornando-
se “um instrumento que oferece possibilidades para a sala de aula” (Silva, 2010, p. 13). Ademais, 
trabalhar a produção da escrita nesse gênero textual propicia às/aos alunas/os o “diálogo com o 
cotidiano e com o generalizado interesse pela vida privada, que reside em todos nós”. Por esse 
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 31 
aspecto, a autora afirma que a biografia sendo um gênero de caráter popular, torna-se atrativo utilizá-
la como instrumento de ensino do componente curricular História. 
[...] ela se apresenta como um meio que facilita a discussão histórica ao despertar a curiosidade 
dos alunos porque fornece nomes e faces aos processos históricos. Ou seja, a biografia 
personaliza a História que enfoca estruturas e processos amplos. E, em uma sociedade em quem 
a individualização está por toda parte, associar contextos históricos a personagens que os alunos 
possam nomear, dos quais possam se recordar, é fornecer as ferramentas mais importantes, se 
interessar por esses momentos históricos (Silva, 2010, p. 17). 
 
No campo da História, conforme a estudiosa, o gênero textual biografia possibilita ainda 
relacionar o interesse do professor com o das/dos alunas/os, tratando das realidades específicas 
desses como, por exemplo, as culturas de cada lugar, a identidade, o lugar de fala; realidades 
destacadas pelo DCE/PA (Pará, 2021) como possíveis de serem valorizadas por meio do ensino de 
diferentes gêneros textuais, dentre os quais a biografia. Não obstante, Silva (2010) também sugere 
que trabalhar com a biografia consiste em uma forma de fomentar a pesquisa, haja vista que as/os 
alunas/os precisam buscar informações sobre as personagens escolhidas a fim de biografá-las. 
No campo da Língua Portuguesa, compreendemos que produzir textos escritos, a partir do 
gênero textual biografia, pode constituir, para a/o aluna/o, uma oportunidade de fazer uso dos objetos 
de conhecimento aprendidos na escola, relacionando-os às suas reais necessidades comunicativas, 
a exemplo do que ocorreu quando as/os alunas/os precisaram utilizar marcadores discursivos de 
temporalidade (objeto de conhecimento de Língua Portuguesa) para organizar a linha do tempo (objeto 
de conhecimento de História) de sua biografia. A produção escrita do gênero em questão, nesse 
sentido, possibilita aos discentes, cumprirem uma função comunicativa específica, na qual se 
constituem sujeitos de fala, com objetivos definidos (Marcuschi, 2010). 
Dentro das ações realizadas na intervenção pedagógica Uma história contada em Biografia, 
a atividade consistiu em as/os alunas/os biografar uma mulher vista por elas/eles como empoderada, 
pertencente ao seu seio familiar. Nesse momento, as/os alunas/os tinham a palavra e escreviam 
conforme a sua interpretação dos fatos coletados em entrevista informal. O objetivo era mostrar a 
mulher empoderada que havia em sua família, a qual era digna de sua admiração. A atividade de 
escrita deu-se, portanto, de forma contínua, em que os estudantes escreveram e reescreveram seu 
próprio texto a fim de aperfeiçoá-lo quanto aos aspectos discursivo e formal. 
Na referida atividade, vimos o gênero textual biografia como uma possibilidade para a/o 
aluna/o apresentar sua compreensão

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