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LIVRO DE RESUMOS EXPANDIDO Andrea Silva Domingues Benedita Celeste de Moraes Pinto Raryson Maciel Rocha (Organizadores) Labour Editora BCMP Editora Campinas 2021 Andrea Silva Domingues Benedita Celeste de Moraes Pinto Raryson Maciel Rocha (Organizadores) III COLÓQUIO NACIONAL DA LINHA DE PESQUISA DE CULTURAS E LINGUAGENS: DIVERSIDADE E EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE RESISTÊNCIA LIVRO DE RESUMOS EXPANDIDO Labour Editora BCMP Editora Campinas- 2021 Universidade Federal do Pará Reitor Emmanuel Zagury Tourinho Vice-Reitor Gilmar Pereira da Silva Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação Maria Iracilda da Cunha Sampaio Campus Universitário do Tocantins/Cametá Coordenador Doriedson do Socorro Rodrigues Vice-Coordenador Adalberto Portilho Costa Programa de Pós-Graduação em Educação e Cultura Universidade Federal do Pará Coordenadora Gilcilene Dias da Costa Vice-Coordenador Eraldo Souza do Carmo Conselho Editorial Andrea Silva Domingues (UFPA/PROCAD AMAZONIA– Brasil) Benedita Celeste de Moraes Pinto (UFPA- Pará - Brasil José Roberto Gonçalves (GP: DISENSOL, CNPq- São Paulo Brasil Marcos Montysuma (UFSC- Santa Catarina - Brasil) Susana A. C. Rodríguez (Facultad de Humanidades de la Universidad Nacional de Salta. Investigadora Ciunsa-Argentina) Cleberson Disessa (UNA – Minas Gerais - Brasil) Elizabete Maria Espindola (GP:DISENSOL-CNPq-Santa Catarina - Brasil) Lucas Lopes (UFPA- Pará - Brasil) Marilda de Castro Laraia (IFSUL- Minas Gerais- Brasil) Marisa Montrucchio (Colégio Viver – São Paulo - Brasil) Mónica Gatica (INSHIS-UNP-Ahora – Patagônia Argentina) Rita de Cássia Paiva (UFPA- Pará - Brasil) Conselho Consultivo Membros da linha de Pesquisa Culturas e Linguagens PPGEDUC/CUNTINS – Cametá/UFPA Andrea Silva Domingues Benedita Celeste de Moraes Pinto Cezar Luís Seibt Francilene de Aguiar Parente Gilcilene Dias da Costa Jorge Domingues Lopes José Valdinei Albuquerque Miranda Luís Augusto Pinheiro Leal Raimundo Nonato de Oliveira Falabelo Vilma Aparecida de Pinho Todos os textos aqui apresentados são de total responsabilidade dos autores (as) Informações sobre os organizadores (as) da obra Andrea Silva Domingues - Possui Pós-doutorado pela Universidade Estadual de Campinas no Laboratório de Estudos Urbanos - LABEURB. Doutorado e Mestrado em História: História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Graduação em História Licenciatura Plena pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Atua como professora, pesquisadora visitante sênior (Bolsista PVNS CAPES) no Programa de Pós-graduação em Educação e Cultura do Campus Universitário do Tocantins - Cametá, da Universidade Federal do Pará, pelo PROCAD AMAZÔNIA (UPA / UFAM / UFMT). Atua como líder do Grupo de Pesquisa Discurso, Sentido, Sociedade e Linguagem (DISENSOL); participa como membro do Grupo de Pesquisa liderado pela Dra Benedita Celeste de M. Pinto Quilombos e Mocambeiros: história da resistência negra na Amazônia (QUIMOHRENA), ambos vinculados ao PPGEDUC - CUNTINS -Cametá. Integra a equipe do projeto RedeBRASIL de Gestão da Informação e Tradução do Conhecimento em Saúde à Ciência Cidadã: ações estratégicas de informação, educação e comunicação frente à Covid-19 e outras síndromes respiratórias agudas graves (SARS), coordenado pela Dra Ana Valéria Machado Mendonça. Email: andrea.domingues@gmail.com - LATTES: http://lattes.cnpq.br/2400924000241808 - ORCID: https://orcid.org/0000- 0002-9264-7754 Benedita Celeste de Moraes Pinto - Doutorado em História: História Social pela PUC/SP (2004), Mestre em História: História Social pela PUC/SP (1999); Licenciada plena e Bacharel em História pela UFPA (1995). É professora Adjunto da Universidade Federal do Pará, lotada no Campus Universitário do Tocantins/Cametá, onde atua na Faculdade de História e no Programa de Pós-Graduação em Educação e Cultura (PPGEDUC). Líder dos Grupos de Pesquisa: História, Educação e Linguagem na Região Amazônica (HELRA); Quilombos e Mocambeiros: história da resistência negra na Amazônia (QUIMOHRENA); é coordenadora da Pesquisa História, Educação, Cultura e Saberes Afro Indígena na região Amazônica. Integrante do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia PROCAD- AM UFPA/PPGEDUC-UFMT/PPGE-UFAM/PPGE: Políticas Educacionais, Linguagens e práticas culturais na Amazônia. E-mail: celpinto18@gmail.com LATTES:http://lattes.cnpq.br/7489392738166786 http://lattes.cnpq.br/7489392738166786 - ORCID: https://orcid.org/0000- 0001-9450-5461 mailto:andrea.domingues@gmail.com http://lattes.cnpq.br/2400924000241808 https://orcid.org/0000-0002-9264-7754 https://orcid.org/0000-0002-9264-7754 mailto:celpinto18@gmail.com http://lattes.cnpq.br/7489392738166786 https://orcid.org/0000-0001-9450-5461 https://orcid.org/0000-0001-9450-5461 Raryson Maciel Rocha - Mestrando em Educação pelo Programa de Pós- Graduação em Educação e Cultura (PPGEDUC/UFPA), tendo como orientadora a professora Dra Andrea Silva Domingues. Possui pós-graduação Lato Sensu em Filosofia e Ensino de Filosofia pelo Centro Universitário Católico Claretiano (2016). É graduado em Pedagogia pela Universidade Federal do Pará (2015). É pesquisador do Grupo de Pesquisa Discurso, Sentido, Sociedade e Linguagem cadastrado no CNPq. Exerce função de secretário na Faculdade de Letras da UFPA (FALE), do Campus Universitário do Marajó-Breves (CUMB). É membro do Conselho deliberativo da Faculdade de Letras, assim como membro do Conselho deliberativo do Campus Universitário do Marajó-Breves. Exerce função de secretário na Faculdade de Letras da UFPA (FALE), do Campus Universitário do Marajó-Breves (CUMB). Link do Lattes: http://lattes.cnpq.br/1746399972507887 Orcid: https://orcid.org/0000-0003- 3058-6949 E-mail: raryson@ufpa.br http://lattes.cnpq.br/1746399972507887 https://orcid.org/0000-0003-3058-6949 https://orcid.org/0000-0003-3058-6949 REALIZAÇÃO Programa de Pós-Graduação em Educação e Cultura (PPGEDUC/UFPA) Linha de Pesquisa Culturas e Linguagens (PPGEDUC/UFPA) COORDENAÇÃO GERAL DO EVENTO Andrea Silva Domingues Benedita Celeste de Moraes Pinto Gilcilene Dias da Costa PARCERIAS Campus Universitário do Tocantins/UFPA-Cametá PROCAD AMAZÔNIA - UFPA/PPGEDUC-UFMT/PPGE- UFAM/PPGE Convenio Marco entre la Universidad Nacional de la Patagonia San Juan Bosco (UNPSJB) y la Universidad Federal do Pará (UFPA – CUNTINS CAMETÁ) GP: História, Educação, Linguagem na Região Amazônica (HELRA) GP: Quilombos e Mocambeiros: história da resistência negra na Amazônia (QUIMOHRENA) GP: Discurso, Sentido, Sociedade e Linguagem (DISENSOL) Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................. 16 EDUCAÇÃO, CULTURA E MOVIMENTOS SOCIAIS .. 19 Valem as humanidades ou é por quilo? ........................ 20 Adolfo Miranda OLEARE; Antelmo da SILVA JÚNIOR Práticas pedagógicas em comunidades ribeirinhas no Município de Cachoeira do Piriá: Um estudo sobre a formação em classes multisseriadas .............................. 27 Ana Paula SOUSA et al. Ensino de Sociologia e Formação Cidadã: a luta pela equidade de gênero no acesso ao direito à educação ...... 32 Amanda Gomes PEREIRA et al Concepções de professores/as sobre inclusão de estudantes público-alvo da educação especial: percepções sobre a diversidade e a diferença ............................................. 40 Ana Luísa ALVES; Maria Carolina da Silva CALDEIRA Língua, Discurso e Memória: Diversidade Linguística no Baixo Tocantins ..........................................................48 Ana Ruth de Sena NUNES; Andrea Silva DOMINGUES Inserção de crianças público-alvo da educação especial em uma escola de tempo integral: cultura escolar e cultura da infância ....................................................................... 53 André Henrique Faria MARQUES; Maria Carolina da Silva CALDEIRA O meio social como influenciador da perda pedagógica nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental (séries finais) numa escola pública de Feira de Santana- BA .... 62 Belardino Souza PEDREIRA NETO O estágio supervisionado em destaque, a realidade da escola pública em contraste com a realidade social de seus alunos ......................................................................... 69 Belardino Souza PEDREIRA NETO A música no processo de ensino e aprendizagem no Ensino Fundamental............................................................... 77 Carla Garcia MEDEIROS et al. O território quilombola no Baixo Tocantins (PA): entre novos e velhos desafios................................................. 84 Carla Joelma de Oliveira LOPES; Daniela de Oliveira SENNA O ensino da matemática a pessoas com deficiência: a função assistiva de Ambientes Virtuais de Aprendizagem ................................................................................... 92 Carlos Alan Vieira do NASCIMENTO; Carla Adriana Vieira do NASCIMENTO Saberes culturais dos ribeirinhos na Amazônia marajoara das florestas .............................................................. 102 Debora Elayne Costa MORAES; Andrea Silva DOMINGUES Os aspectos da cultura popular presentes no Auto da Padroeira: Um estímulo à valorização da memória e identidade local ao aluno da educação básica de Abaetetuba-PA ......................................................... 108 Edgar Ferreira CARDOSO Contribuições dos estudos da educação básica: histórias em imagens como forma de olhar para escola pública e seus desafios ..................................................................... 117 Glasiely Virgilio SILVA Inovações no Ensino Médio Modular: saberes linguageiros e prática pedagógica .................................................. 124 Gleno dos Santos BATISTA; Doriedson do Socorro RODRIGUES Mídia e Educação: Uma Análise de Práticas Pedagógicas na Construção da Representatividade e do Protagonismo Juvenil Periférico ...................................................... 133 Joyce Raphaelly Modesto da COSTA; Milene Vasconcelos Leal COSTA Os principais marcos do percurso histórico de constituição da mulher como profissional docente da educação ...... 139 Juliane Sanches SILVA; Andrea Silva DOMINGUES Trajetórias e desafios: estudantes da EJA no Ensino Superior ................................................................... 145 Karolaine HORBACK et al. Estratégias em/de saúde no povoado de Bailique Centro Baião-PA .................................................................. 151 Lediane da Silva BORGES; Benedita Celeste de Morais PINTO Engajamento e participação militante no curso popular TFLivre .................................................................... 157 Luana Barroso de SOUZA; Edivania Santos ALVES Atendimento da comunidade LGBTQIA+ na atenção primária à saúde: revisão integrativa no período de 2011 a 2019 .......................................................................... 165 Lucas Rodrigues CLARO et al. Entre memes e stickers: a circulação de fotografias clandestinas de professores na cultura midiática......... 170 Marcelo Rodrigo da SILVA; Graciene Silva SIQUEIRA Educação e práticas de cura: um discurso e uma prática além do “popular” e do formal .................................. 178 Márcia de Jesus Oliveira VALENTE; Andrea Silva DOMINGUES Caracterização socioespacial de uma vila marajoara por estudantes do ensino médio ........................................ 186 Marcos Paulo de Oliveira BARROS; Jorge Domingues LOPES Linguagem cultura e diferença: Demarcações Linguísticas e Pedagógicas no Ensino- Aprendizagem na Constituição de Subjetividades na Educação Inclusiva ................... 191 Merian de Cristo LOBATO; Raimundo Nonato de Oliveira FALABELO A violência doméstica sofrida por crianças e suas consequências no desenvolvimento escolar ................. 196 Milene Vasconcelos Leal COSTA et al O Que Vivenciamos na Pandemia com a Tecnologia? . 201 Sabrina Guedes de OLIVEIRA; Mônica Ramos da Costa MACEDO Paulo Freire e Hannah Arendt: Um diálogo sobre liberdade .................................................................. 205 Rafael Furtado da SILVA; Francisco Danilo dos Santos OLIVEIRA O ensino de filosofia na ilha do Marajó-Pa: uma proposta discursiva de análise .................................................. 212 Raryson Maciel ROCHA; Andrea Silva DOMINGUES Docência como Resistência ........................................ 217 Rita de Cássia PAIVA; Ana Maria de Jesus Ribeiro da SILVA Discurso e Memória: uma discussão necessária para as "Vozes do Quilombo" ............................................... 223 Sílvia de Lima BATISTA; Andréa Silva DOMINGUES O carnaval chiquitano: um espaço-tempo de educação intercultural na Vila Bela da Santíssima Trindade ..... 228 Stephany Paipilla FERNÁNDEZ A linguagem no ensino fundamental: Perspectiva histórico- cultural de Vigotski. ................................... 234 Talia Balieiro da SILVA; Raimundo Nonato de Oliveira FALABELO Educação Sexual em Escolas de Ensino Médio de Breves/Marajó: percepções de alunos e profissionais da educação ................................................................... 240 Valéria de Oliveira Pena BORGES; Benedita Celeste Moraes PINTO O Ensino de Línguas para Alunos Surdos Interligados a Transversalidades Culturais no Atendimento Educacional Especializado ............................................................ 249 Wanessa Suely C. RODRIGUES; José Orlando F. de MIRANDA JÚNIOR RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E EDUCAÇÃO ........... 257 Capoeiras Versus Sistema CONFEF/CREF’S: negociação e conflitos no Norte do Brasil? ................................... 258 Antonio ALENCAR FILHO; Luiz Augusto Pinheiro LEAL Obax, uma pedra e um caminho de imaginação: as possibilidades pedagógicas das narrativas afrocentradas à luz da interdisciplinaridade ....................................... 267 Claudia Cristina FERREIRA et al. Invisibilidade Racial no Espaço Escolar ..................... 274 Dulcineia Beatriz OLIVEIRA As representações do negro no Livro Didático de Língua Portuguesa: uma leitura crítica da relação entre a negritude pedagógica e a realidade dos jovens negros à luz de Adolescer ............................................................. 279 Eduardo HENRIQUES; Guilherme BARBBOSA Do passado ao presente: um percurso sobre as memórias da literatura indígena latino-americana ..................... 287 Francelina Barreto de ABREU Educação: um caminho para a liberdade e respeito à diversidade religiosa afro-brasileira ........................... 293 Galbanéa Luciano SIDRIM O Livro, a criança e a relações étnico-raciais na escola301 Janmily Dantas de Lima ROCHA et al. Luta anticolonial em Angola: Literatura política e mentalidade colonial ................................................. 308 Jeremias de Oliveira SANTOS; Luiz Augusto Pinheiro LEAL Em busca de produções sobre literatura infantil e relações étnicos raciais ........................................................... 316 Jéssica de Oliveira PINHEIRO et al. Educação do Campo: identidades que se constroem,sujeitos que se afirmam ............................................. 324 Joana Laura Cota CORRÊA; Hellen do Socorro de Araújo SILVA Vozes de mulheres negras: ecos para a decolonialidade do currículo e a educação étnico-racial ........................... 333 Josimere Serrão GONÇALVES; Joyce Otânia Seixas RIBEIRO O Terreiro de Candomblé como proposto de ensino em geografia para as relações étnico-raciais ..................... 342 Laércio da Silva FERREIRA O desenvolvimento acadêmico-social dos discentes do campus de Cametá: um estudo a partir das oficinas PCNA Língua Portuguesa .................................................... 351 Larissa Serrão RIBEIRO et al. A capoeira e os cotidianos de uma educação antirracista ................................................................................. 358 Lindinalvo NATIVIDADE; Mailsa Carla Pinto PASSOS Cultura acústica aplicada ao ensino de história da África: ações de docência no Pará .......................................... 363 Luiz Augusto Pinheiro LEAL A política de cotas como instrumento de inclusão social e democratização do acesso ao ensino superior público: as experiências dos cotistas negros do curso de licenciatura em pedagogia do ISEPAM ......................................... 369 Luiz Gustavo Borges do ROSARIO; Josete Pereira Peres SOARES Uma experiência de inclusão de alunos indígenas surdos na Escola Wararaawa Assurini na aldeia Trocará no município de Tucuruí-PA .......................................... 377 Maria Gorete Cruz PROCÓPIO; Benedita Celeste de Moraes PINTO Relações étnico-raciais e a educação em espaços não formais: contribuições do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmém Bascarán ........................ 385 Matheus Carvalho LIMA et al. Remando contra corrente: pobreza, diferença e resistência na educação básica em escolas quilombolas em Portel/Marajó – Pará ................................................ 394 Mhirlla de Cássia Gonçalves da COSTA; Pedro Cabral da COSTA Relações étnico-raciais no currículo: “o que eu tenho a ver com isso?” ................................................................. 403 Polyana Camargos Barbosa VIEIRA Universidade Indígena Autônoma Aldeia Maraka’Nà: Práticas de rexistência e pluriversidade no centro urbano ................................................................................. 411 Renata Daflon LEITE Percepção de crianças do Ensino Fundamental I sobre questão étnico-raciais ................................................ 417 Rita de Kássia Cândido CARNEIRO et al Educação: a política de identidade e igualdade como processo de emancipação ........................................... 428 Rosana Malato de SOUZA; Raimundo Nonato de Oliveira FALABELO A criança negra na escola: discutindo a representatividade a partir dos estereótipos negativos atribuídos as bonecas pretas ....................................................................... 436 Sheila Gomes de MELO A Bonequinha Preta, Carmen: Educação Infantil e diversidade ............................................................... 440 Tatiana Morais de Souza BERNARDO et al. Universidade e relações étinico-raciais: Percepções de futuros professores sobre o debate de questões raciais em cursos de licenciaturas ............................................... 449 Thaís da Silva Mendonça COPELLI; Lucélia de Moraes Braga BASSALO Representações da “mulher negra” no discurso dos Novos Intelectuais de Angola (1948-1961) ............................. 459 Yasmim Fonseca AMARAL CORPO GÊNERO E LINGUAGENS ................................ 465 Feminismo: Equidade e Educação da Mulher Surda ... 466 Athayse Raiana Wanzeler TELES Arranjos matrimoniais: experiências de mulheres nordestinas em Pouso Alegre-MG .............................. 472 Bárbara Cristine Casallechi Fonseca SIMÕES; Andrea Silva DOMINGUES Protagonismo de mulheres indígenas Assuriní através da confecção de artesanatos............................................ 477 Bárbara de Nazaré Pantoja RIBEIRO; Benedita Celeste de Moraes PINTO Iniciando uma abordagem sobre diversidade de corpos e sexualidades indígenas na aldeia Assuriní do Trocará . 483 Bárbara de Nazaré Pantoja RIBEIRO Escrevivências Educativas nas Tramas Cartográficas de Vozes-mulheres... ...................................................... 489 Christiane Costa LIRA; Gilcilene Dias da COSTA O quantificador mina na língua falada de Oeiras do Pará: do concreto ao abstrato ............................................. 496 Danielle de Melo VIANA Suicídio e Corporeidade: corpos reprimidos ou rebeldes? ................................................................................. 502 Derijones Leandro SILVA JÚNIOR Relações de Gênero na Escola Agrícola ...................... 509 Franciele Thais SCHEUER et al. Sem imprensa livre não haverá povos livres: Liberdade de imprensa no início do século XX, concepções de Dalcídio Jurandir, o repórter .................................................. 518 Gissandra Diovana Dias TEIXEIRA; Ivone dos Santos VELOSO Contos de fadas e a opressão da mulher ..................... 523 Jaqueline Castilho MACHUCA Mulheres, cooperativismo e gênero ............................ 529 Karlyane Mayra Brito WANZELER; Benedita Celeste de Moraes PINTO Uma linguagem artística componente curricular música como conhecimento de mundo e mediação para o ensino da história social brasileira: experiência da escola Cristo Redentor ................................................................... 534 Lourdileny Bispo MACIEL Educação e a sexualidade insurreta em Frida Kahlo ... 543 Maria Durcilene Freitas CORRÊA; Gilcilene Dias da COSTA Pedagogias culturais e o feminino nas visualidades contemporâneas ........................................................ 550 Maristani Polidori ZAMPERETTI et al. Protagonismo Feminino no Movimento Operariado na Amazônia Marajoara ................................................ 556 Núbia Lafaete dos Santos CORRÊA; Benedita Celeste de Moraes PINTO Educação Sexual na Pedagogia da Alternância: Percepções de uma Escola Família Agrícola com Sistema de Internato ................................................................................. 565 Patrick PEREIRA et al. A função do desenho como representação do mundo Infantil e expressão da subjetividade humana ............ 575 Rafaella Andrade VIVENZIO A importância da arte para as pessoas representadas pela teoria Queer .............................................................. 581 Tuty Veloso Coura GUIMARÃES Rizomas do corpo e a arte Queer na educação ............ 589 Warllen barros de SOUZA; Gilcilene dias da COSTA INDICE REMISSIVO..........................................................592 16 APRESENTAÇÃO Em tempo da pandemia do novo Coronavirus- COVID-19, o III Colóquio da linha de pesquisa Culturas e Linguagens, do Programa de Pós-graduação em Educação e Cultura da Universidade Federal do Pará, em sua terceira edição, objetivou promover um amplo diálogo sociocultural e acadêmico envolvendo troca de saberes e socialização de pesquisas. Esta edição foi realizada em formato online, o colóquio contou com uma participação diversificada de pesquisadores do PPGEDUC (docentes, discentes e egressos) e de instituições nacionais e internacionais em torno da temática “Diversidade e Educação em Tempos de Resistência”, tendo um total de 1.138 (um mil e cento e trinto e oito) inscritos, destes 183 (cento e oitenta e três)com apresentação de trabalhos de pesquisas no evento. A proposta do evento visou contemplar diferentes abordagens teórico-metodológicas no âmbito da pesquisa em educação, cultura, linguagem, práticas culturais das populações tradicionais indígenas e negras na / da 17 Amazônia, questões de gênero e sexualidade, literaturas, artes entre outras. Pensar a educação em tempos de pandemia constituiu um dos desafios do III Colóquio da linha de pesquisa Culturas e Linguagens do Programa de Pós- Graduação em Educação e Cultura, pois, o contexto do ano de 2020 no Brasil, por questões políticas e por conta da pandemia, desafiou as instituições de ensino e os programas de pós-graduação a pensar e propor alternativas à uma educação pública no tempo presente, com qualidade, equidade e responsabilidade social. O terceiro colóquio convidou a comunidade em geral para dialogar sobre “Diversidade e Educação em Tempos de Resistência”. Ao propor como tema “DIVERSIDADE E EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE RESISTÊNCIA”, o III Colóquio da Linha de Pesquisa Culturas e Linguagens do PPGEDUC reafirmou a importância de fomentar o debate acadêmico qualificado entre estudantes, professores, egressos e pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Educação e Cultura da Universidade Federal do Pará, e participantes dos cursos de licenciaturas e áreas afins, com 18 o intuito de discutir as realidades socioeducacionais e divulgar a produção científica local, nacional, internacional e promover o intercâmbio de ideias, profissionais (discentes e docentes), contribuindo para a solidificação das pesquisas. Dentro de seu espírito de renovação e incentivo aos sujeitos sociais envolvidos nas atividades, o evento ofereceu debates dirigidos, espaços para apresentações de trabalhos de pesquisa, convidando a todos, todas e todxs a problematizar temas de pesquisas, práticas pedagógicas em tempos em que ser professor / pesquisador também é resistir pela e na educação e a ciência do Brasil. Andrea Silva Domingues Benedita Celeste de Moraes Pinto Raryson Maciel Rocha 19 EDUCAÇÃO, CULTURA E MOVIMENTOS SOCIAIS 20 Valem as humanidades ou é por quilo? Adolfo Miranda OLEARE Instituto Federal do Espírito Santo Antelmo da SILVA JÚNIOR Instituto Federal do Espírito Santo E-mail do autor principal: pestrats666@yahoo.com INTRODUÇÃO O trabalho se insere na temática “educação e movimentos sociais” e estabelece um debate acerca de esforços empreendidos no sentido da democratização da educação no Instituto Federal do Espírito Santo, por meio de projetos de extensão em parceria com movimentos sociais populares como o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Município da Serra (ES), o Levante Popular da Juventude, o Coletivo Negrada, o Círculo Palmarino, o Movimento Nacional de Luta pela Moradia, entre outros, protagonistas do debate público em torno de questões de classe, raça, gênero, diversidade sexual, diversidade cultural, meio ambiente etc. Trata-se do primeiro trabalho a abordar criticamente o Seminário de Humanidades do Ifes campus Linhares, o que se faz por meio de um diálogo com Saviani (2008), em Escola e democracia. A partir das considerações de Saviani (2008) sobre as relações entre política e educação, o texto enseja uma mailto:pestrats666@yahoo.com 21 reflexão acerca de questões concretas que envolveram a realização do evento, entre 2010 e 2016, com destaque para o peso atribuído por setores conservadores ao fortalecimento que a área de humanidades no Ifes campus Linhares experimentou com as parcerias efetivadas com movimentos sociais populares. Nesse sentido, colocam-se em pauta as tensões vigentes na disputa social pela educação da juventude. Numa investigação acerca dos efeitos possivelmente produzidos pelo slogan segundo o qual a educação é sempre um ato político, Saviani insiste em que não se deve indiferenciar a prática educativa da prática política, pois isso levaria ao apagamento de ambos os campos, ou de um campo no outro, fazendo-os perderem o que lhes é próprio, o que lhes faz ser o que são. Saviani nomeia esse apagamento por meio dos termos “politicismo pedagógico” e “pedagogismo político” (SAVIANI, 2008, p. 67). De acordo com o autor, enquanto a política não pode deixar de ser partidarizada, pois é exercida entre contrários antagônicos que pretendem a submissão do adversário, a educação não pode ser partidarizada, pois é exercida entre contrários não-antagônicos e cumpre sua função justamente ao socializar o conhecimento culturalmente acumulado e não ao privar dele certas parcelas da sociedade. A privação educacional em curso na sociedade de classes é obra da política, que atua no sentido de esvaziar a tematização do antagonismo inerente ao relacionamento entre as classes e da dominação exercida por umas sobre outras. Desse modo, inscreve-se a dimensão política da educação no processo de desnaturalização do relacionamento classista, pautado pela dinâmica de 22 dominação e submissão. Enquanto educadores, sabemos que não é incomum encontrar entre alunos e alunas das classes médias e trabalhadoras a defesa de concepções produzidas pelo discurso da classe dominante. De modo geral, ao cultivar elementos simbólicos confusos e excludentes como neutralidade, meritocracia e talento, por exemplo, a escola não promove a cooperação entre membros das classes não-dominantes, mas, ao contrário, produz a expectativa de que estas classes haverão de ser dirigidas e comandadas justamente pela parcela que acumulou riquezas às custas da exploração de sua força de trabalho. É corriqueiro que alunos e alunas submetidos e submetidas a rotinas de trabalho altamente precarizadas expressem a opinião de que a estrutura produtiva baseada na relação entre patrão e empregado é algo “natural”, como se as classes sociais e a hierarquização classista fossem algo “natural”. A experiência em sala de aula tem mostrado que as insistentes naturalização e biologização (o dominador e o serviçal; o sexo biológico; a tipificação racial) das opressões manifestadas nas relações de poder construídas socialmente se apresentam como alvos principais de abordagem teórica pelas disciplinas do campo das humanidades. Desfazer a teia resistente dessa ideia hegemônica de que não há outras possibilidades de articulação da dinâmica produtiva e, de modo amplo, da vida social, é algo que se impõe como função elementar das humanidades no ensino médio. Inserir as pessoas no fluxo do estranhamento dessa naturalização e dessa biologização, enfatizando que a lógica das ciências da natureza não é mais o espelho da articulação epistemológica das ciências humanas não é tarefa das mais 23 tranquilas, nós sabemos, sobretudo em função das exigências conceituais e teóricas desse processo. Para além do espaço da sala de aula, os praticantes críticos das humanidades encontram também dificuldades dessa natureza na lida com colegas de trabalho conservadores, alguns das humanidades, inclusive. Na rotina dos questionadores não faltam tensionamentos internos. De forma empírica, parece-nos que o perfil médio das pessoas que trabalham hoje com docência, gestão e administração educacional acompanha o movimento de reprodução dos valores priorizados em nossa sociedade de classes e de consumo, na ambiência de um capitalismo dependente-tutelado. Há muita gente egressa da iniciativa privada trabalhando hoje em institutos e universidades federais, profissionais acostumados à castração inerente ao totalitarismo da ordem empresarial e sem nenhumaexperiência de participação social e de luta em causas coletivas, populares. Nesse panorama, que princípios para a conduta pessoal são comumente repetidos, promovidos e ensinados? Arrisquemos alguns dos itens da lista: individualismo, consumismo, consumo de luxo, colonialismo, aversão ao debate sobre temas sociais e políticos, conservadorismo moral, baixa disposição para a leitura teórica, aversão ao debate conceitual, baixa abertura para o acolhimento das diferenças; espírito dogmático e antidemocrático (a noção geral de democracia se deixa infectar radicalmente pelo moralismo, de modo que não alcança sequer o postulado liberal das liberdades individuais), orientação discursiva limitada aos parâmetros do senso comum etc. 24 Desse modo, a concepção de escola e grande parte das pessoas envolvidas profissionalmente com educação acompanha essa bitola tacanha e alienada, restrita à reprodução superficial de conteúdos, à tutela de adolescentes, à promoção da obediência, à repressão das ações contestatórias; ao enquadramento disciplinar moralista e ao silenciamento de alunos e alunas quanto aos temas polêmicos referentes a classe, raça/etnia, gênero, devastação ambiental, modelo hegemônico de desenvolvimento etc, e também quanto ao movimento intelectual de pensar o real a partir do movimento de autossuperação, para além do hábito. Os cultivadores críticos das humanidades (não nos esqueçamos de que há conservadores nas ciências humanas) invariavelmente desgastam-se com a permanente tentativa de sabotagem por parte dos colegas de trabalho que se mantêm no cordão da acriticidade, do conservadorismo, do moralismo, do preconceito carente de problematização teórica. Diante dos temas que tratam das contradições elementares da sociedade capitalista, parece se instalar uma atmosfera pesada, formada por constrangimento, medo e censura, como se a escola tivesse obrigatoriamente que viver isolada, funcionando de modo auto-referente, impermeável à agenda sociopolítica. OBJETIVOS O trabalho objetiva refletir sobre o peso da formação em humanidades nos processos de politização de estudantes do ensino médio, considerando a recepção dessa formação por setores conservadores da sociedade. 25 METODOLOGIA O trabalho se constitui em uma interpretação crítica da prática extensionista realizada no Ifes campus Linhares, com movimentos sociais populares, a partir de ideias apresentadas em Escola e democracia, de Saviani (2008). RESULTADOS E DISCUSSÃO Do diálogo com Saviani, em torno das relações entre política e educação, resulta a reflexão acerca da importância da extensão na formação em humanidades no ensino médio do Instituto Federal do Espírito Santo. A atividade extensionista possibilita a associação da instituição com movimentos sociais populares que vivificam os conteúdos de disciplinas como Filosofia, Geografia, História e Sociologia, oferecendo ao corpo discente a possibilidade de experimentar o exercício do debate público com atores sociais que protagonizam os enfrentamentos pela igualdade de direitos e pela democratização da vida comum. CONCLUSÕES O trabalho conclui que que a extensão realizada por meio de parcerias com movimentos sociais populares contribui de forma determinante para o ensino de humanidades, fomentando também a identificação de projetos de pesquisa que abrem novos espaços para os estudantes. Para o ensino de humanidades é altamente produtivo cultivar um espaço de debate que trate 26 especificamente da prática de organização social e política, a partir da experiência de agentes ativos nesses processos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. 27 Práticas pedagógicas em comunidades ribeirinhas no Município de Cachoeira do Piriá: Um estudo sobre a formação em classes multisseriadas Ana Paula SOUSA Faculdade Maurício de Nassau - UNINASSAU Vitoria CARVALHO Faculdade Maurício de Nassau – UNINASSAU Milene Vasconcelos Leal COSTA Faculdade Maurício de Nassau - UNINASSAU E-mail do autor principal: anapaullasousa020@gmail.com INTRODUÇÃO No Brasil historicamente a população do campo sempre esteve a nível de carência ao acesso à educação. Foi então que surgiu a idéia da junção de crianças em um mesmo ambiente em meados dos anos 90, para que fosse possível a democratização da Educação. As classes multisseriadas surgem como uma solução de acesso à educação formal dentro dos setores rurais, onde haveria alunos de diversos níveis de ensino em uma mesma sala com um único professor. (apud LOIOLA, 2017) “ressalta que as aulas são ministradas em um espaço de tempo de 4 horas, com conteúdos que se adéquam a cada ano escolar no qual se encontra o educando”. 28 Como resultado mostra-se então o contexto da Educação do campo no Pará, bem como a realidade de escolas com classes multisseriadas e como são caracterizadas as escolas do campo. A educação do campo tem grande importância uma vez que nossa territorialidade mostra uma realidade que interfere tanto na mobilidade dos alunos, quanto no tempo que estão na escola, pois são grandes as dificuldades enfrentadas. Especificamente no município de Cachoeira do Piriá, a implementação da modalidade de ensino multissėrie foi vista como melhoria para a comunidade, porém, no decorrer dos anos vem apresentando uma vasta desvalorização do ensino da rede pública exatamente por alunos e educadores serem deixados à margem dos suportes e da falta de recursos que deveriam ser repassados por órgãos responsáveis para o pleno desenvolvimento da educação básica (Secretaria de Educação) às instituições do campo, pressupondo que a ausência dos ditos suportes acarretam em precariedades físicas, nas quais impossibilita uma educação de qualidade, transformando então a educação do meio rural em uma notória exclusão social. O artigo 205 da constituição federal diz que: “A educação, é um direito de todos e dever do estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. A proposta deste trabalho é compreende as práticas pedagógicas dos docentes que atuam em turmas multisseriadas, com intuito de aprofundar conhecimentos e esclarecer como pode ser o ensino mediante a realidade e dificuldade que pode ser encontrada no ensino do meio 29 rural. Pressupondo, que os educadores têm sob sua responsabilidade o auxílio do desenvolvimento cognitivo de todos os alunos da turma. OBJETIVOS Geral • Compreender as Práticas Pedagógicas desenvolvidas com os educandos no contexto das salas multisseriadas no município de Cachoeira do Piriá Específicos • Identificar as práticas pedagógicas usadas pelos educadores na modalidade de ensino multissérie/multisseriada. • Verificar as dificuldades existentes, para o desenvolvimento do trabalho docente na classe multissérie. • Refletir sobre a precarização do ambiente escolar e os desafios de ensinar em salas de aulas. METODOLOGIA Iniciamos o desenvolvimento metodológico deste trabalho com um levantamento bibliográfico, através do qual fizemos leitura e análises de dissertações de mestrado no banco de dados da Universidade do Estado do Pará e Universidade Federal do Pará, e outras informações disponíveis na internet (Livros). Sentimos a necessidade de compreender de maneira especifica a modalidade de ensino multisserie das escolas 30 ribeirinhas do campo situadas em Cachoeira do Piriá localizado no Estado do Pará lócus campus da pesquisa. Participaram como principaissujeitos- colaboradores da pesquisa, 01 (uma) professora e 1(uma) diretora de ensino do sexo feminino. Como critério de escolha ser professor da classe multisserie e fazer parte da gestão das escolas ribeirinha pertencente a essa modalidade de ensino. Portanto a pesquisa aponta para uma pesquisa de natureza qualitativa que possui algumas características básicas, comentadas por GODOY (1995, p. 62-63), tais como: o estudo empírico é realizado no seu ambiente natural, pois os fatos sociais têm que ser observados e analisados inseridos no contexto ao qual pertencem, através de contato direto, desempenhando o pesquisador um papel fundamental na observação, seleção, consolidação e análise dos dados gerado. RESULTADOS E DISCURSSÃO Essa pesquisa encontra-se em andamento mas cabe destacar que existem resultados parciais evidentes até o dado momento, entre os quais podemos citar, a É necessário problematizar o atual cenário que se inserir as classes multisseriadas pensando em uma junção de fatores que vão contribuir ou prejudicar no processo de evolução dos discente que estão sendo atendidos nesse espaço escolar e as Práticas Pedagógicas usadas pelos docentes; buscando dialogar principalmente com os saberes desses alunos bem como todo seu contexto social, ético e cultural. Segundo Hage (2005) que busca entender melhor a realidade das classes multisseriadas e destaca as dificuldades que os educadores e educandos enfrentam no 31 processo de ensino-aprendizagem no sistema seriado urbano de ensino. A autora retrata as mais diversas dificuldades dentre as quais podemos citar o severo processo de exclusão social e educacional que ainda se apresenta em dados alarmantes apresentados periodicamente pelos meios de comunicação em massa. CONCLUSÕES Concluímos então, que existe muito a se percorrer até atingir um nível de inclusão social e educacional que faça valer as tantas leis que garantem constitucionalmente o processo inclusivo do público atendido pela educação do campo. Cabe então finalizar analisando criticamente as condições em que a educação rural continua existindo e as possibilidades da emergência e consolidação da educação do campo, que se faz e refaz na luta concreta dos milhares de trabalhadores rurais pelo direito ao trabalho, a terra e à educação. REFERÊNCIAS LOIOLA, Hélio dos Santos Júnior. As Classes Multisseriadas no contexto da Educação do campo. (FAI), Itaituba – PA, 2014. 32 Ensino de Sociologia e Formação Cidadã: a luta pela equidade de gênero no acesso ao direito à educação Amanda Gomes PEREIRA Universidade Federal do Maranhão Lucas Oliveira dos SANTOS Universidade Federal do Maranhão Maria da Conceição Portela ROCHA Universidade Federal do Maranhão E-mail do autor(a) principal: ag.pereira@ufma.br INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo desenvolver um relato sobre a realização do Projeto de Ensino “Cinema e Educação: linguagens, mídias sociais e performances no Ensino de sociologia na rede pública de São Bernardo/MA”, vinculado ao Programa Foco Acadêmico da Universidade Federal do Maranhão. O projeto teve por intuito se valer de recursos metodológicos diversificados na elaboração de atividades de ensino de Sociologia, tendo como público alvo estudantes da escola Déborah Correia Lima, no município de São Bernardo/MA. A proposta esteve sob a coordenação da professora Dra. Amanda Gomes Pereira e contou também com a participação de discentes do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas/Sociologia da Universidade Federal do Maranhão mailto:ag.pereira@ufma.br 33 (Campus São Bernardo), que atuaram como bolsistas e voluntários. Para sua realização, o projeto foi dividido em várias etapas. Essas etapas metodológicas foram escolhidas em reuniões realizadas no Campus da UFMA/ São Bernardo. Nesses momentos, debateu-se acerca das ações a serem empreendidas que fomentassem o interesse na disciplina de Sociologia pelos estudantes da educação básica. Na primeira reunião a coordenadora do projeto sugeriu utilizarmos como material didático – e base para o desdobramento das ações do projeto –, o livro escrito pela ativista paquistanesa Malala Yousafzai, uma vez que ela, em uma das suas atividades de supervisão de estágio, encontrou vários exemplares desta autobiografia no chão da escola citada (uma preciosidade a ser compartilhada). Desse modo, foi então que optou-se por utilizar o livro da Malala, vendo que havia vários exemplares e pelo fato da história de vida da ativista possibilitar debates sobre a questão da luta pelo direito a educação de meninas em sua terra natal, possibilitando diálogos profícuos acerca do acesso a educação no estado maranhense, principalmente na região Leste. Assim, a partir dos desafios enfrentados por Malala na luta pelo direito de meninas e adolescentes frequentarem às escolas, conceitos, teorias e temas sociológicos foram apresentados de maneira transversal às histórias narradas no livro. A seguir serão expostos os objetivos, metodologia, os resultados e discussões provocados, finalizando com algumas conclusões. O que se espera ao delinearmos nossa trajetória de realização desse projeto de ensino é que ele possa inspirar atividades semelhantes, destinadas a promoção do ensino de Sociologia. 34 OBJETIVOS Geral • Apresentar os passos traçados no desenvolvimento do projeto de ensino “Cinema e Educação: linguagens, mídias sociais e performances no Ensino de sociologia na rede pública de São Bernardo/MA”, destacando os êxitos e desafios enfrentados na execução das atividades no Centro de Ensino Déborah Correia Lima. Específicos • Descrever as etapas e as atividades elaboradas pela equipe da UFMA e da Unidade Escolar; • Destacar como a realização do projeto estreitou laços entre a universidade e a comunidade bernardense, abrindo possibilidades para futuras parcerias; • Analisar os resultados das ações e atividades desenvolvidas no espaço escolar, em diálogo com os diferentes atores integrantes desse espaço (gestores) METODOLOGIA No primeiro momento realizou-se a observação para compreendermos e entendermos as dinâmicas presente no respectivo ambiente escolar. Com o fim da observação, deu-se início ao segundo momento que foi o contato direto com os alunos em que realizou-se uma aula para apresentação do Projeto, a aula abordou sobre a história de 35 Malala para a realização da aula utilizou-se um banner e o livro da jovem Malala. É importante destacar que este segundo momento constitui-se fundamental, visto que ele foi utilizado para explicar sobre como funcionaria o projeto, apresentação sobre a história de Malala e seu país. No decorrer do projeto optou-se por utilizar as dinâmicas do lápis magico e a das cartas para Malala como forma de propiciar uma maior interação dos alunos no projeto. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em nosso encontro para apresentar o projeto e como ele seria desenvolvido, foi utilizado um banner. Nele se encontrava os objetivos prospostos que buscaríamos alcançar, além da equipe. Nessa apresentação, abordamos também o fato de que o livro da Malala seria usado e explicamos quem era ela, contando sua história. Os livros foram entregues aos estudantes e, durante, a conversa estabelecida com eles, ficamos sabendo que muitos nunca tinham tido contado com um livro, além da Bíblia. Cabe ressaltar que, na cidade, a única biblioteca que existe é a da UFMA e que não é vista como aberta ao público pela comunidade bernardense. Não há livraria e a compra de livros pela rede mundial de computadores é dificultada pelo elevado valor do frete. Em contrapartida, existe o projeto do estado do Maranhão de fundação da Rede de Bibliotecas Faróis do Saber em94 municípios, mas que, na prática, está inativo em muitas dessas cidades. Assim, como o que acontece com relação a outros serviços públicos, em São Bernardo há o espaço físico, mas não existe recursos materiais e humano. 36 É importante, desse modo, chamarmos atenção para importância de projetos como realizados em escolas da rede pública que, mesmo diante das dificuldades apresentadas durante sua realização, teve seus êxitos ao tocar aspectos que envolvem as vivências e experiências dos educandes, além de convidá-los a serem parte integrante do processo educativo. A partir das aprendizagens advindas dessa dinâmica, no último dia do projeto, desenvolvemos a atividade da escrita de cartas, em que os alunos e as alunas detacavam como a vida da Malala e a deles se entrelaçavam em vários aspectos, apresentando as semelhanças. CONCLUSÕES Será que as mulheres tem o mesmo direito que os homens, utilizado a realidade enfrentada por Malala, e das mulheres de um modo geral do Brasil e em São Bernardo. Quando perguntamos aos alunos, que se por exemplo, uma aluna engravidasse, quem ia parar de estudar? Essas são questões que abordamos em nosso encontro com os alunes quando fomos apresentar o projeto a eles, além de apresentamos Malala, falamos também sobre sua terra natal, o Paquistão, para os alunos. Quando os discentes do projetos fizeram sua observação, na sala onde seria realizada o projeto, notou-se que apressar da professora ter o domínio do conteúdo, percebia-se que na sala tinha alguns alunos prestado a atenção a aula, enquanto que grande maioria os alunos ficavam conversado entre si, como se a professora não estivesse na sala de aula, ministrado sua aula, a professora pedia para os alunos ficarem em silencio, mais não adiantava. 37 Recentemente, jovem professor universitário, de opção democrática, comentava comigo o que lhe parecia ter sido um desvio seu no uso de sua autoridade. Disse, constrangido, ter se oposto a que aluno de outra classe continuasse na porta entreaberta de sua sala, a manter uma conversa gesticulada com uma das alunas. Ele tivera inclusive que parar sua fala em face do descompasso que a situação provocava. Para ele, sua decisão, com que devolvera ao espaço pedagógico o necessário clima para continuar sua atividade especifica e com a qual restaurara o direito dos estudantes e o seu de prosseguir a prática docente, fora autoritária. Na verdade, não. Licencioso teria sido se tivesse permitido que a indisciplina de uma liberdade mal centrada desequilibrasse o contexto pedagógico, prejudicando assim o seu funcionamento (FREIRE, 1996, p.117-118). Nota-se que as vezes os professores tem que ser autoritários para manter, a “turma” sobre controle, visto que quando não exerce essa autoridade os se ver no direito de conversa a vontade, mesmo em pleno horário de aula. Alguns atividades também foram feitas, o lápis magico e a carta para Malala, o primeiro foi espirado em um programa que a Malala, assistia. Contra a história de garoto que tem um lápis magico que tudo que ele escreve se realiza, então foi feito com a turma a seguinte dinâmica, tinha uma música rolado e enquanto isso estava em um ciclo entre alunos da turma e os discente do projeto, que contou com a participação das duas professora tanto a 38 coordenadora do projeto e a preceptora do projeto, visto que se ela participante os alunos também ai querer fazer parte dessa dinâmica, quando parava a música a pessoa que estava com o lápis na mão ai contra seu sonho ou um desejo que ele queriam que realizasse, essa dinâmica tinha o intuito de conhecemos mais um pouco sobre os alunos e seus sonhos. Outra dinâmica foi a carta para Malala, como o nome sugere essa carta tinha o intuito de compara as realidade com a realidade da Malala, visto que o contato que os integrantes do projeto tinha com os alunos era só naquele momento, não conheciam a realidade que cada aluno tinha ou enfrentava em suas casas, as carta foram surpreendente visto que muito enfrentam uma realidade que os professores não imaginam, visto que a turma que foi realizada o projeto 1° C, era tida pelo professores com a turma onde tinha o maior número de reprovados e alunos que não ligava para os estudos. Esse também foi o dos motivos pelo qual a turma foi escolhida, pois o projeto queria adentra a realidade desses alunos, que foi possível, nos depararmos com diversa realidade. Foi um aprendizado multou pois enquanto estava ensinado também estávamos aprendendo com eles. Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educado que, ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os “argumentos de autoridade” já não valem. Em que, para ser-se, funcionalmente, autoridade, se necessita de estar sendo com 39 as liberdades e não contra elas (FREIRE, 1996, p.79). O projeto proporcionou, uma grande experiência, visto que conhecemos um pouco da realidade de cada aluno, pois as vezes não conhecemos a realidade daquele aluno que está sentado diante de nós, não sabemos sua realidade ou o que o mesmo enfrenta, visto que alguns alunos trabalha no contra turno para ajuda na despesa da casa, e muitos são da zona rural onde a realidade é completamente diferente do alunos que mora na zona urbana. Pois muitas vezes o professor por essa falta do conhecimento do alunos acaba por tirar conclusões precipitadas, tais como os professores falar que aquelas turma era a difícil de lidar, mais os mesmo não paravam para fazer uma simples pergunta, sobre a vida daquele aluno. REFERÊNCIAS FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Paz e Terra: São Paulo, 1996. 40 Concepções de professores/as sobre inclusão de estudantes público-alvo da educação especial: percepções sobre a diversidade e a diferença Ana Luísa ALVES Universidade Federal de Minas Gerais Maria Carolina da Silva CALDEIRA Universidade Federal de Minas Gerais E-mail do autor principal: analuisazxc@gmail.com INTRODUÇÃO Este artigo baseia-se em informações produzidas em uma pesquisa desenvolvida pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Inclusiva e Diversidade (NEPED), do Centro Pedagógico (CP) da UFMG. O CP é um Colégio de Aplicação que atende ao ensino fundamental (1º ao 9º ano) e desenvolve suas atividades em tempo integral. O ingresso na escola se dá por meio de sorteio público de cinquenta vagas para crianças ingressantes no Ensino Fundamental (1º ano). Dessas, há uma reserva de 5% das vagas para estudantes público-alvo da educação especial (PAEE), ou seja, três vagas. Conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/1996), são estudantes PAEE aqueles que apresentam deficiências, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Além da reserva de vaga, há ingressantes pela ampla concorrência que podem ter alguma deficiência ou que descobrem essa deficiência mailto:analuisazxc@gmail.com 41 posteriormente ao ingresso na escola, fazendo com que o número de educandos PAEE nessa escola seja bastante significativo. Para compreender o processo de inclusão desses educandos, é desenvolvido o estudo “Inclusão na Escola Regular de Tempo Integral: principais desafios para o cotidiano escolar e para a formação docente”. Uma ação desenvolvida nesta pesquisa refere-se à realização de grupos focais com os/as docentes da escola para investigar suas concepções a respeito da inclusão. Este artigo analisa alguns excertos desses grupos focais, para compreender como esses/as docentes narram suas percepções sobre a diversidade e adiferença. A análise dos dados evidencia que há concepções conflitantes na escola a respeito da inclusão, da diversidade e da diferença. OBJETIVOS O CP, por ser um colégio de aplicação, tem na sua essência a produção de pesquisas. Nesse intuito criou-se o NEPED com o objetivo maior de estimular a produção e divulgação de pesquisas sobre educação inclusiva e diversidade, relacionando-as ao papel da escola de tempo integral, à formação docente e à garantia da permanência bem-sucedida de todos/as os/as estudantes. O presente trabalho tem por objetivo analisar as concepções que os/as professores/as do Centro Pedagógico têm a respeito da inclusão de estudantes PAEE, por meio de suas falas expressas em grupos focais. A partir das análises, pretende- se mostrar de que forma a diferença e a diversidade são narradas por esses docentes no que se refere à inclusão desses educandos. 42 METODOLOGIA O estudo foi desenvolvido, em 2019, no CP localizado no campus Pampulha da UFMG, em Belo Horizonte/MG. Os grupos focais se caracterizam por se constituírem de “um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema, que é objeto de pesquisa, a partir de sua experiência pessoal” (POWEL; SINGLE, 1996 apud GATTI, 2005, p.7). É considerado mais eficaz que outros métodos, pois cruza diferentes pontos de vistas e gera pensamentos e discussões que em uma entrevista ou questionário, por exemplo, não seriam possíveis. No ano de 2019, o CP contava com uma equipe de 64 professores/as e os grupos focais tinham o objetivo de atingir pelo menos 20% da equipe. Em sua fase inicial, foi feito um convite a todos/as os/as professores/as do CP para participação nos grupos focais e definidos dias e horários diferentes para atingir um público maior. Foram realizados cinco grupos focais, que atingiram 40% do corpo docente da escola. O número de participantes variou de três a sete, além dos/as moderadores/as e da bolsista de iniciação científica. Em todos os encontros, foi feita uma breve apresentação do grupo de pesquisa, a caracterização do estudo e cada professor/a contou sua experiência com inclusão e como isso o afetou como pessoa. Após a coleta de dados, os grupos focais foram transcritos e enviados a cada um dos professores/as participantes que revisaram e aprovaram o texto, para assim partir para uma categorização que aconteceu no primeiro semestre de 2020. Os membros do NEPED dividiram-se em 43 duplas e trios e cada um dos grupos propôs categorias emergentes que foram discutidas e unificadas em uma planilha subdividida em categorias, subcategorias e unidades de contexto. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da análise dos grupos focais foi possível identificar falas que mostram a percepção que os/as docentes têm no que se refere à inclusão de estudantes público-alvo da educação especial. As diferentes falas foram agrupadas em três grandes grupos que mostram concepções distintas em torno da inclusão. O primeiro desses grupos é composto por docentes que dizem acerca da neurodiversidade e da diferença dentro da diferença. O segundo grupo é composto por falas que negam as possibilidades da inclusão na instituição escolar. O terceiro engloba falas que dizem da importância de mudar a lógica escolar para atender à diferença. No primeiro grupo, percebe-se a constatação de que a diferença é constitutiva do ser humano. Nesse sentido, todas as diferenças devem ser acolhidas no espaço escolar e consideradas em sua singularidade. Seguindo essa perspectiva, uma das professoras afirma que: A gente precisa criar uma outra cultura humana, mas nós que estamos na ponta dessa história, é puxado pra nós, muito puxado. Eu considero um aprendizado enorme aqui no CP, tenho lido, desde o meu irmão, o que é neurodiversidade, procurei ler uns livros. O que me ajudou muito foi "Quem disse que é bom ser normal?". Então eu não chamo mais 44 de especificidades, é uma neurodiversidade que eles têm. (Professora 1) A “neurodiversidade” surgiu como um movimento dos autistas que lutam defendendo que o autismo “não é uma doença a ser tratada e, se for possível, curada. Trata-se antes de uma diferença humana que deve ser respeitada como outras diferenças (sexuais, raciais, entre outras)” (ORTEGA, 2008, p. 477). Assim como a professora aborda no trecho acima, essa perspectiva considera que todas as deficiências devem ser entendidas como algo constitutivo do ser humano. Todos/as devem ter suas características respeitadas no ambiente escolar, que se torna mais rico e diverso no contato com a diferença. Um outro exemplo de professores que têm uma concepção articulada à perspectiva da neurodiversidade pode ser visto no excerto a seguir, quando a professora diz a respeito da diversidade que existe mesmo em grupos tidos como iguais, como os autistas. O que eu aprendo com isso, principalmente de ter tido vários alunos autistas *confuso*, é cada um com seu autismo, é cada um. [...] Se tem alguma razão de ser, nesse mundo que a gente tá binário, das coisas serem aqui ou aqui, de ter tanto autista na escola é pra gente perceber que a diversidade é natural e da singularidade do ser humano. O autista te obriga a olhar pra singularidade, porque cada um é singular. Você pode ter experiência com 10 autistas em 10 anos que no final de 10 anos vão ter 10 diferentes. (Professora 2) O segundo grupo apresenta uma concepção de inclusão que considera que nem todos/as podem ser 45 incluídos. Nesse sentido essa concepção nega o fato de que a “escola pública brasileira é uma escola para todos” (LIMA; MANTOAN, 2017, p. 825). São bem radicais e desacreditam na capacidade do CP como uma escola inclusiva, podemos perceber isso na fala de uma professora: Eu acho que nós não vamos dar conta de determinadas inclusões. Eu acho que ultrapassa a nossa competência, a nossa condição. Será que determinados alunos vão ficar conosco 1, 2, 3, 4 anos e vão ter que sair? Eu acho que não tem jeito, acho que não vamos conseguir avançar com crianças que a gente viu hoje que estão chegando aqui, essa criança que está na cadeira de rodas. Será que a gente vai ajudar até quando? Eu não sei se a gente, pra determinadas situações, tem condições. (Professora 3) Por fim, no terceiro grupo temos aqueles/as professores/as que consideram a necessidade de repensar a lógica escolar para que a instituição se torne, de fato, inclusiva. O apoio ao sistema de cotas e a mudança do olhar do professor para a inclusão, para que aquilo se torne algo natural, rotineiro, aparecem nas falas agrupadas conforme essa concepção. Eles/as consideram que é preciso “promover experiências, com vistas à interpretação e criação de novos sentidos e significados” (LIMA; MANTOAN, 2017, p. 831), como mostra o excerto a seguir. [...] se a gente não mudar enquanto concepção de ensino, acho que não adianta ter mais professores em sala, não adianta ter 46 os monitores envolvidos, que a nossa inclusão vai ser sempre muito pontual, vai ser pra casos específicos. (Professora 4) CONCLUSÕES A análise das falas dos/as docentes mostrou que há diferentes concepções em torno da inclusão de estudantes PAEE. Essas concepções passam tanto por ideias de que a inclusão na escola não é possível como por perspectivas que defendem a singularidade de cada indivíduo e a necessidade de mudança da escola para acolher a diferença. Nesse sentido, percebe-se a necessidade de investimentos na formação docente voltada para a diferença, a fim de que se avance a fim de promover uma escola que seja inclusiva, democrática e, de fato, para todos/as. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Lei 9394, de 20 de dezembro 1996.Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm>. Acesso em: 15 ago. 2020. GATTI, B. A. Grupo Focal na Pesquisa em Ciências Sociais e Humanas, v. 10, p. 7-41, 2005. ORTEGA, F. O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade. Mana, v.14, n.2, p. 447-509, out. 2008. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm 47 LIMA, N. S. T. DE; MANTOAN, M. T. E. Notas sobre inclusão, escola e diferença. ETD - Educação Temática Digital, v. 19, n. 4, p. 824-832, out. 2017. 48 Língua, Discurso e Memória: Diversidade Linguística no Baixo Tocantins Ana Ruth de Sena NUNES Universidade Federal do Pará Andrea Silva DOMINGUES Universidade Federal do Pará/PPGEDUC/PROCAD- Amazônia CAPES E-mail do autor principal: ruthnunes999@gmail.com INTRODUÇÃO As pesquisas nos domínios da linguística, da Análise do Discurso e dos estudos culturais são beneficiadas quando há uma preocupação de produzir um material didático de base linguística cultural com a participação de sujeitos sociais de grupos diversos da sociedade. O estudo nos possibilita compreender parte dos saberes culturais e tradicionais da Vila do Juaba, Cametá – Pará; localidade que possui influência de povos remanescentes de quilombolas que se faz presente em suas formas de falar. Compreender as diversas línguas da e na Amazônia, especialmente na região do Pará é produzir um conhecimento linguístico importante para a preservação das práticas culturais e da memória destes povos que buscam diferentes formas de viver e se fazer na sociedade contemporânea como sujeitos em movimento, significando sentidos cotidianamente, porém mantendo traços culturais que se materializam na língua, constituindo processos mailto:ruthnunes999@gmail.com 49 identitários para as novas gerações como um movimento de resistência presente em todos espaços desta localidade, inclusive no espaço escolar, assim pensar a relação de língua, memória e discurso se faz uma tarefa fundamental para compreensão da Amazônia brasileira. OBJETIVO (S) Considerando que “o campo da cultura não é homogêneo, e sim atravessado por contradições e pelos conflitos de classe na disputa pela hegemonia” (DOMINGUES, 2017, p.17), e que por conta destas disputas muitos povos tiveram suas terras, suas vidas invadidas de forma cruel desde tempos remotos. A população amazônica é composta por povos diversos, que constituíram seus traços, práticas culturais e processos identitários, podendo ser evidenciado nas formas de viver, de falar de trabalhadores e trabalhadoras que vivem entre as matas e as águas; comunidades estas que foram fortemente violentadas por invasões e muitas permanecem até os dias atuais correndo riscos, por conta dos interesses do capitalismo. ´Que surgiu nosso objetivo de central deste estudo: analisar as formas linguísticas dos moradores da Vila de Juába, que se localiza no Município de Cametá- Pará, a margem esquerda do rio Tocantins que permanecem até o tempo presente se manifestando em suas práticas culturais e como elas são transmitidas de geração a geração. METODOLOGIA Neste estudo propomos realizar uma pesquisa qualitativa-interpretativa, utilizando da Análise de Discurso 50 para interpretação de nosso corpus de análise, entendendo- a como uma disciplina de interpretação, que trabalha com o funcionamento do discurso; que envolve toda conjuntura política, social e ideológica que constitui cada acontecimento, para desta forma interpretarmos o funcionamento do discurso, a começar de suas articulações ideológicas (ORLANDI, 2010). O corpus de análise é composto de narrativas orais e imagens disponíveis em vídeos disponíveis no youtube que tratam das práticas culturais dos moradores da Vila Juaba – Cametá, Pará. Nesta materialidade discursiva nos é oportunizado trabalhar com a língua, a cultura, o discurso e a memória, observando nas variações linguísticas como é o funcionamento da linguagem desses sujeitos sociais. RESULTADOS ALCANÇADOS Iniciamos nosso estudo dialogando os dispositivo teóricos analíticos da Análise do Discurso, para que no momento da interpretação das fontes possamos entender que os sentidos do funcionamento dos discursos não estão soltos, que sempre estão em meio a “um jogo da memória: o da memória institucional que estabiliza, cristaliza, e, ao mesmo tempo, o da memória constituída pelo esquecimento que é o que torna possível ou diferente, a ruptura, o outro” (ORLANDI, 2010, p. 10) Como resultado parcial observamos que a categoria memória é fundamental para a manutenção dos saberes de cada comunidade tradicional, e entre estes a língua, como prática de linguagem é um fator predominante para as manutenções linguísticas, pois como nos afirma Orlandi (2010) o discurso é a palavra em movimento, 51 prática de linguagem, é a língua fazendo sentido, é o sentido do discurso e seu funcionamento, a partir de suas articulações ideológicas. CONSIDERAÇÕES FINAIS No levantamento bibliográfico realizado foi possível perceber que nas últimas décadas os estudos linguísticos vêm se dedicando com mais ênfase aos estudos com as narrativas orais como corpus de análise e os dispositivos teóricos analíticos da Análise de Discurso vêm oportunizando um olhar histórico e político, que nos permite compreender a língua como materialidade do discurso, que está em constante movimento, entrelaçado com a memória, com a história e produzindo sentidos. Língua, Cultura, Discurso e Memória são dispositivos teóricos fundamentais para compreensão e investigação das práticas linguísticas das comunidades tradicionais da Amazônia Tocantina. É pela oralidade, pelo corpo que muitos saberes tradicionais resistem até o tempo presente, e entre estes estão as formas de se dizer, de falar que mantém especificidades linguísticas de cada comunidade, que mesmo em tempos “modernos” através de cantorias, festejos, rezas mantem os seus trejeitos presente em seu cotidiano se (re)significando. REFERÊNCIAS DOMINGUES, Andrea Silva. Cultura e memória: A festa de Nossa Senhora do Rosário na cidade de Silvianópolis- MG. Pouso Alegre-MG:UNIVAS, 2017. 52 ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP: Pontes 2010. 53 Inserção de crianças público-alvo da educação especial em uma escola de tempo integral: cultura escolar e cultura da infância André Henrique Faria MARQUES Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte/MG Maria Carolina da Silva CALDEIRA Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte/MG E-mail do autor principal: andre8faria@gamil.com INTRODUÇÃO A inserção de crianças de seis anos no Ensino Fundamental (EF) representa um grande desafio para as instituições de ensino, que, de modo geral, não estão preparadas para lidar com as características da cultura da infância. Dantas e Maciel (2010) afirmam que é necessário atenção ao processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças que ingressam no EF haja vista que essa introdução é complexa e as mudanças exigem uma adaptação, que, por consequência, requer tempo. De acordo com Corsino et al. (2011) a interação forma e transforma as crianças em sujeitos ativos. Nesse sentido, acompanhar suas interações e relações com os demais sujeitos do ambiente escolar ajuda a compreender a gênese de uma formação cultural que articula elementos da cultura escolar com a cultura da infância. No que se refere às crianças público-alvo da educação especial(PAEE), o desafio da inserção no EF é mailto:andre8faria@gamil.com 54 ainda maior, pois tradicionalmente a escola não está adaptada para atender à diversidade que estes/as estudantes trazem para a instituição escolar. Essas crianças, quando ingressam no Ensino Fundamental, têm contato com as demandas diversas que essa nova etapa de escolarização implica, como, por exemplo: espaço físico, rotina, disciplinas, pessoas e ambientes novos. Lima e Mantoan (2017) apontam como a inclusão dessas crianças na escola é fundamental, pois ela faz eclodir vozes dissonantes. Contudo, tecem críticas ao currículo e à sua lógica binária, que prejudica outros saberes e representações cujos valores não são apreciados na hierarquização do conhecimento. Sendo assim, é necessário que as práticas pedagógicas e o currículo se envolvam em processos que “assegurem de forma efetiva o direito à diferença” (LIMA; MANTOAN, 2017, p.824). A respeito de currículo, Caldeira e Paraíso (2017) afirmam que ele articula dispositivos, conhecimentos, saberes e práticas. De modo geral, o currículo do primeiro ano do EF tem como principal objetivo formalizar aspectos relativos à alfabetização para as crianças, além de construir determinados elementos relativos à cultura escolar. Isso geralmente representa um novo desafio para as crianças. Considerando este contexto, a pesquisa de que este artigo resulta procurou analisar, no ano de 2020, as práticas curriculares desenvolvidas com crianças do primeiro ano do ensino fundamental (EF), que estavam ingressando no Centro Pedagógico da UFMG para compreender como as questões relativas à inclusão se apresentavam nesse primeiro contato das crianças com uma escola de tempo integral. O CP/UFMG é uma escola de tempo integral, com horário de funcionamento de 07h30 as 14h30, que oferta do 55 1° ao 9° ano do EF, dividindo essas fases em 3 ciclos, com 3 anos de duração cada. A turma acompanhada tinha três estudantes PAEE e 22 estudantes neurotípicos. O foco principal da observação se deu nas interações desses estudantes com o currículo e com as outras crianças. Para isso, a pesquisa utilizou técnicas etnográficas de observação e registro. Entretanto, com a pandemia de COVID-19 e a necessidade do isolamento social, a pesquisa precisou se adequar a novos objetivos, tendo em vista que as crianças do primeiro ano ainda não haviam iniciado o horário integral até a suspensão das atividades. Com isso, a principal questão analisada: como se dão os contatos iniciais dos estudantes público-alvo da educação especial (PAEE) com o EF, além das interações entre os sujeitos, com maior enfoque nas relações entre alunos atípicos e alunos neurotípicos. OBJETIVOS A pesquisa teve como objetivo geral acompanhar os estudantes que ingressaram no ensino fundamental, no primeiro ano de escolarização, particularmente aqueles que se constituem como público-alvo da educação especial, ou seja, estudantes que têm deficiência, transtorno global de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (BRASIL, 1996). Como objetivo específico, o estudo procurou investigar como se dão as interações e relações entre sujeitos público-alvo da educação especial e os alunos típicos de uma turma de primeiro ano do ensino fundamental em uma escola de tempo integral, para compreender de que modo a diferença e a diversidade são 56 tratados nesse currículo. O objetivo deste trabalho é narrar como a diferença é percebida e tratada em dois episódios específicos: o primeiro dia de aula e o primeiro almoço na escola. METODOLOGIA A pesquisa usou como base elementos da etnografia escolar. Sobre etnografia escolar, Caldeira e Paraíso (2016) explicam como essas análises ajudam na compreensão das relações em sala de aula e na análise do currículo, mostrando como marcas culturais podem aparecer nesse contexto. Partindo dessa afirmação, elas estabelecem que “a etnografia é definida como a elaboração de uma descrição densa [...], ou seja, procura entender os sentidos atribuídos a um determinado fato pelos viventes de uma dada cultura” (CALDEIRA; PARAÍSO, 2016, p.1508). A etnografia se vale de registros, observações e descrições detalhadas para explicar tais vivências. Na pesquisa em questão, o registro se deu a partir de um diário de campo, onde o pesquisador anotava a rotina dos estudantes em relatórios diários. As anotações continham as ações de todos os envolvidos em sala de aula em diversos momentos do dia. Além das ações, o fato e as consequências implicadas a partir dele também foram levados em consideração para a realização das análises. O trabalho em campo se iniciou no dia 06/02/2020 e encerrou no dia 18/03/2020, em função da suspensão das aulas. A princípio, a ideia era acompanhar a turma durante todo o 1º semestre. A turma pesquisada é do 1° ano e conta com 25 alunos com a faixa etária de 6 a 7 anos, desses, 3 alunos são público alvo da educação especial com especificidades diferentes, com um estudante com Paralisia 57 Cerebral e dois estudantes no Transtorno do Espectro Autista. A sala conta ainda com 4 monitores, sendo 3 deles para acompanhamento de crianças da educação especial. RESULTADOS E DISCUSSÃO O ingresso no EF se mostrou um desafio para todos os sujeitos envolvidos. Enquanto a pesquisa foi realizada, muitos desafios foram presenciados. O principal deles, foi como conseguir construir o currículo do primeiro ano garantindo que a diferença fosse assegurada. Em observação mais minuciosa sobre os estudantes público- alvo da educação especial, percebe-se que muitas questões ainda estão presentes no modo de lidar com esses alunos, sendo necessário pensar em uma estrutura pautada na própria diferença para conseguir atender a todos. De maneira geral, foi possível testemunhar muito empenho por parte dos profissionais da escola em questão, muita vontade em fazer com que essa entrada no Ensino Fundamental ocorresse de forma a considerar a cultura da infância, levando em consideração todas as questões que a transição entre educação infantil e ensino fundamental envolve. A partir das análises realizadas pela pesquisa, destacamos dois episódios emblemáticos para pensar a forma como a escola lida com a diferença no ingresso no primeiro ano: o primeiro dia de aula e o primeiro almoço dos alunos na escola, tendo em vista sua importância para compreender como a escola acolhe a diferença. O registro em diário de campo do primeiro dia de aula é transcrito a seguir: 58 O primeiro dia de aula foi bastante agitado, muitas novidades em um curto espaço de tempo. Dois pontos importantes desse primeiro contato com a escola e com o Ensino Fundamental emergiram nessa análise. No primeiro dia os alunos tiveram que fazer atividades onde eles deveriam escrever seus nomes e fazer desenhos. Essa questão da escrita mostra como a preocupação com a alfabetização já é inserida no currículo logo no primeiro dia. Além disso, outro fato que deixou os estudantes inquietos foi à presença dos monitores em sala por serem quatro adultos, além da professora. Dois alunos da Educação especial agiram de forma distintas a este momento. O aluno com TEA fez barulhos com a boca e batia um carrinho em sua mesa. Já a aluna com Paralisia Cerebral interagiu de imediato com as duas monitoras que vieram conversar com ela. (Excerto do diário de campo,05/02/2020) A preocupação com a alfabetização no Ensino Fundamental observada em outros estudos que lidam com este tema foi observada na pesquisa. A questão de letramento/ alfabetização no primeiro ano do ensino fundamental é tratada por Caldeira e Paraíso (2017, p.771) ao dizerem que “o currículo articula, então, dispositivos, conhecimentos, saberes e práticas” que visam a atingir a alfabetizaçãoo quanto antes. Essa meta de alfabetizar pode ser prejudicial à medida em que o currículo de torna “adultocêntrico”, não levando em considerações as demandas e especificidades da cultura infantil. Além disso, o excerto acima mostra como as crianças PAEE apresentam 59 modos distintos de lidar com as demandas escolares. Enquanto uma das crianças parece ter se isolado, outra buscou a interação com adultos para realizar a tarefa escolar proposta. Esses diferentes modos de lidar também foram notados no primeiro almoço realizado na escola, como narrado a seguir: O primeiro almoço ocorreu após 30 dias dos alunos na escola. Dos 25 alunos da turma apenas um não conseguiu almoçar no primeiro dia. Essa criança tem TEA e, mesmo com o suporte da professora e de um monitor, a intervenção realizada não surtiu efeito. A professora de Português fez uma espécie de rosto com a comida, eu [pesquisador] e o monitor ficamos com o aluno conversando enquanto ela realizava essa intervenção, mas, mesmo sentado e mais calmo, o aluno não comeu. (Excerto do diário de campo, 09/03/2020) Durante o trabalho de campo, foi notável o empenho de todos os profissionais envolvidos em garantir com que a diferença fosse acolhida. Ainda existe um longo caminho a ser percorrido, pensar a diferença pautada em si mesma seria o ideal para mudar de forma gradativa a estrutura educacional que ainda é muito excludente (LIMA; MANTOAN, 2017). CONSIDERAÇÕES FINAIS Por fim, o trabalho nos leva a pensar que a inclusão deixa um campo favorável onde vozes que antes não eram ouvidas sejam finalmente escutadas. Pensar novas práticas 60 pedagógicas é fundamental para todas as ações que este contexto propõe. A subjetividade de cada indivíduo deve ser respeitada, o aprendizado a partir de suas capacidades e sem hierarquização do conhecimento, em uma nova escola pensada para todos. Todavia, a pesquisa mostrou também a necessidade de pensar em estratégias próprias para lidar com os educandos PAEE em sua inserção no Ensino Fundamental, o que exige um outro olhar para o currículo e a diferença. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. Brasília, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 15/07/2020 às 15h41. CALDEIRA, M. C. S; PARAÍSO, M. A. Currículo e relações de poder-saber: conflitos e articulações entre o dispositivo de antecipação da alfabetização e o dispositivo da infantilidade. Currículo sem Fronteiras, v. 17, n. 3, p. 769-794, set./dez. 2017. ______; ______. Etnografia educacional e análise de discurso: uma bricolagem metodológica para pesquisar currículos. Revista e-Curriculum, São Paulo, v.14, n.04, p. 1499 – 1526 out./dez.2016. CORSINO, P.; KRAMER, S.; NUNES, M. F. R. Infância e crianças de 6 anos: desafios das transições na educação http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm 61 infantil e no ensino fundamental. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.37, n.1, 220p. 69-85, jan./abr. 2011. DANTAS, A.G; MACIEL, D.M.M.A. Ensino fundamental de nove anos e a inserção de crianças de seis anos na escolarização obrigatória no Distrito Federal: estudo de caso. Educação e Sociedade, Campinas, v. 31, n. 110, p. 157-175, jan./mar. 2010 LIMA, N. S. T; MANTOAN, M. T. E. Notas sobre inclusão, escola e diferença. ETD - Educação Temática Digital, Campinas, SP, v.19 n.4 p. 824-832 out./dez.2017. 62 O meio social como influenciador da perda pedagógica nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental (séries finais) numa escola pública de Feira de Santana- BA Belardino Souza PEDREIRA NETO Universidade Estadual de Feira de Santana-BA E-mail do autor principal: netosouza@hotmail.com INTRODUÇÃO O presente texto é um relato de experiência vivenciada em um estágio curricular não- obrigatório com a intenção de relatar e evidenciar experiências que influenciaram em dificuldades para a realização das aulas de Educação Física e como o meio social influenciou nessa perda pedagógica no ensino fundamental (séries finais) em uma escola pública na cidade de Feira de Santana – BA. A realidade apresentada foi alarmante devido ao meio social em que a escola está inserida, a realidade social como a violência, o tráfico de drogas e a falta de materiais e segurança sem dúvidas atrapalhou o andamento das aulas .A experiência vivenciada no estágio nos leva a entender a importância dos estágios na formação do profissional de Educação Física, pois essa aproximação da realidade e das diversas dificuldades do campo de atuação, auxilia na preparação do mesmo para intervir com maior qualidade. A escola é um espaço de aprendizagem dos conhecimentos construídos ao longo do tempo pela mailto:netosouza@hotmail.com 63 humanidade e também um lugar onde as crianças e adolescentes podem socializar e construir seus próprios conhecimentos de acordo com suas experiências e o meio social em que vivem. Assim entendemos a escola como um espaço social e cultural fundamental para aprendizados e desenvolvimento de seus alunos, segundo Dayrell (1996, p. 1): [...] a escola como espaço sociocultural significa compreendê-la na ótica da cultura, sob um olhar mais denso, que leva em conta a dimensão do dinamismo, do fazer-se cotidiano, levado a efeito por homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras, negros e brancos, adultos e adolescentes, enfim, alunos e professores, seres humanos concretos, sujeitos sociais e históricos, presentes na história, atores na história. Falar da escola como espaço sociocultural implica, assim, resgatar o papel dos sujeitos na trama social que a constitui, enquanto instituição. É inegável a importância da escola para a sociedade, e as suas contribuições para a mesma, mas quase sempre em meios de comunicação são mostradas as escolas públicas brasileiras situadas em zonas marginalizadas que sofrem com falta de materiais, às vezes de merenda, depredação do patrimônio, tráfico de drogas, prostituição e outros fatores que atrapalham o andamento do dia a dia dessas escolas. E nas aulas de Educação Física não é diferente, mais precisamente em uma escola pública de Feira de Santana- BA onde pude vivenciar a experiência do estágio que possibilitou aproximação com o campo de atuação 64 profissional, e infelizmente a mesma escola citada não havia quadra, nem materiais didáticos para a realização das aulas que muitas vezes aconteciam no meio da rua ou eram suspensas por conta da violência ou do tráfico que infelizmente refletiam no comportamento dos alunos da escola. Sobre esse comportamento: Em relação ao comportamento violento, muitos dos alunos que se queixaram de ser humilhados na família, na escola e na comunidade, também disseram agir da mesma forma com seus semelhantes, reproduzindo o comportamento censurado. (NJAINE, MINAYO, 2003, p.3). OBJETIVO(S) O relato de experiência teve como objetivo relatar os desafios encontrados, a importância de para além de conhecer e criticar a realidade, mas intervir em busca de soluções. METODOLOGIA Na citada escola funciona o ensino fundamental (séries finais), está localizada em um bairro considerado com grande índice de violência em Feira de Santana, a sua estrutura é pequena e atende em sua grande maioria pessoas que moram pela região, e sem grande poder aquisitivo, assim o nome da escola e o bairro ficarão em anonimato respeitando a autonomia e a privacidade dos envolvidos. Durante todo o ano letivo as aulas foram adaptadas com os alunos que participaram através de produções textuais, 65 seminários que ajudaram na produçãodo relato de experiência. RESULTADOS E DISCUSSÃO Apesar de algumas estruturas deixarem a desejar, a escola acaba sendo bem organizada na realização das suas funções de atender alunos do ensino fundamental (séries finais), porém a grande maioria dos professores sempre se queixavam do perigo do lugar em que a escola está implantada. A localidade apresenta riscos devido os grandes índices de criminalidade e tráfico de drogas, e esses fatores atrapalham a execução das aulas de Educação Física na escola, assim podemos citar alguns fatores além do meio social como influenciadores da perda pedagógica nas aulas da respectiva disciplina. O primeiro fator que podemos citar é a falta de uma quadra o que dificulta algumas aulas como as de futsal, basquete, e handebol que precisam explicitamente das marcações e linhas para o entendimento de algumas regras na prática, infelizmente pela falta dessa ferramenta pedagógica há uma perda na qualidade de ensino tanto pelas aulas acontecerem no meio da rua quanto pelos alunos estarem expostos ao sol e ou a chuva, mas o que evidentemente não atrapalhou a realização das aulas que quase sempre foram adaptadas. O segundo fator foi a falta de materiais didáticos pedagógicos para a realização das aulas de Educação Física, tais como bolas, cordas, cones, entre outros materiais, porém só havia uma única bola de futebol que já estava desgastada e uns poucos cones quebrados, e como dito anteriormente muitas das aulas foram adaptadas. O 66 handebol por exemplo, as linhas de seis metros foram feitas com os cones deitados, o basquete foi feito com cestas humanas, o vôlei foi feito com uma rede e linhas imaginárias, mas dois conteúdos foram trabalhados de forma mais eficaz sem grandes dificuldades, a luta e o jogo, sendo que estes não precisam de tanto materiais ou nenhum. O terceiro fator, o meio social em que a escola está inserida. Os bairros ao redor da escola são conhecidos na cidade pelo alto índice de violência o que diversas vezes vimos influenciar no comportamento dos alunos, isso quer dizer que em vários momentos ao decorrer do ano vimos diversos tipos de apologia ao crime ou como "deve ser legal ter uma arma" ou "bora ali fumar um", infelizmente essas influências do meio acabaram sendo extremamente negativas para o andamento das aulas de Educação Física. Muitas vezes as aulas que aconteciam na rua tinham que ser remanejadas para dentro da escola por causa de algumas pessoas usando drogas, ou muitas vezes chamando os alunos no meio da aula para ir em algum lugar, o que muitas vezes deixavam todos os professores coagidos a não interferir por medo de que algo ruim lhes pudesse acontecer. E vale destacar as brigas entre facções próximas onde muitos alunos ostentavam esses títulos com maior orgulho e o que atrapalha as aulas justamente pelas brigas e ameaças constantes, e de fato foi possível entender como o meio social influenciava tanto no comportamento dos alunos. E o quarto e último fator, as aulas de Educação Física por acontecerem no meio da rua sempre acabava quase sempre sendo interrompida pelo grande fluxo de carros que passam toda hora e além de termos que estar atentos o tempo todo para que não acontecesse algum 67 acidente, infelizmente isso atrapalhava bastante porque perdíamos muito tempo tendo que parar a aula e o que gerava diversas reclamações por parte dos motoristas que passavam criticando os alunos e os mesmos devolviam as críticas. Em alguns casos as aulas tinham que ser canceladas como uma forma dos alunos entenderem que não tinham o direito de agredir verbalmente as pessoas que passavam de carro, assim como os motoristas também não tinham, esses episódios de cancelamento das aulas muitas vezes aconteciam porque algum aluno pegava uma pedra e ameaçava jogar no carro de alguém, apesar disso nunca ter acontecido pelas minhas incansáveis interferências, foi preciso cancelar as aulas em que isso chegava acontecer. CONCLUSÕES Apesar de tantos fatores que influenciam na perda pedagógica nas aulas de Educação Física, nem tudo foram perdas. Para que o planejamento fosse executado foi diversas vezes adaptado e modificado para que conhecendo a realidade a atuação naquela escola tivesse um sentido e significado, com isso algumas atitudes foram tomadas como conversar em particular com cada aluno para poder entender seus problemas e como era a relação em casa, modificar as aulas na rua como colocar cones e pedras para que os carros não passassem o que de certa maneira ajudou para que a aula não fosse interrompida constantemente, e em relação às violências no meio social foi conquistada a diminuição visto que alguns alunos após as conversas, e reuniões passaram a contribuir para o bom andamento da aula e até atuando como monitores ajudando para que os demais não saíssem com pessoas estranhas da aula, ou 68 pedindo para o pessoal que estava fumando que na maioria das vezes eram seus conhecidos fossem para outro lugar. Essa é mais uma das diversas realidades das escolas públicas brasileiras, e esse relato de experiência expõe algumas das dificuldades do dia a dia do professor, mais especificamente do professor de Educação Física e como o meio social pode interferir no andamento das suas aulas tanto com dificuldades internas quanto externas. São inúmeros os desafios que se apresentam, mas para além do que só mostrar os problemas e criticar, mas sim para além disso trazer propostas e colocar em prática as soluções encontradas porque só conhecer e criticar a realidade não muda nada. E com a realização desse estágio curricular não obrigatório foi possível ter aproximações com o campo de atuação e com a realidade do mesmo, entender e vivenciar o dia a dia da escola pública, observar e intervir tentando sempre dar uma melhor qualidade às aulas, apesar das dificuldades encontradas. REFERÊNCIAS DAYRELL, J. A escola como espaço sócio-cultural: Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: UFMG, v. 194, p. 136-162, 1996. NJAINE, K.; MINAYO, M. C. de S. Violência na escola: identificando pistas para a prevenção. Interface- Comunicação, Saúde, Educação, v. 7, p. 119-134, 2003. 69 O estágio supervisionado em destaque, a realidade da escola pública em contraste com a realidade social de seus alunos Belardino Souza PEDREIRA NETO Universidade Estadual de Feira de Santana - BA E-mail do autor principal: netosouza@hotmail.com.br INTRODUÇÃO A disciplina de Estágio III (sétimo semestre) do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), tem como objetivo aproximar os discentes do curso ao ensino fundamental (séries finais), para com isso, formar profissionais que sejam capazes de ocupar de forma qualificada esse espaço de atuação, assim, intervindo levando em consideração a realidade da escola pública atual e de seus alunos. Sobre o estágio supervisionado: O Estágio Curricular Supervisionado, indispensável na formação de docentes nos cursos de licenciatura é um processo de aprendizagem necessário a um profissional que deseja realmente estar preparado para enfrentar os desafios de uma carreira e deve acontecer durante todo o curso de formação acadêmica, no qual os estudantes são incentivados a conhecerem espaços educativos entrando em contato com a realidade sociocultural da população e da mailto:netosouza@hotmail.com.br 70 instituição (SCALABRIN; MOLINARI, 2013, p. 1). Entendendo a importância do papel do estágio curricular na formação docente e as responsabilidades frente a atuação na escola pública é possível analisar e evidenciar as diversas realidades que residem na mesma e as possibilidades de atuação em Educação Física que ao trabalharseus conteúdos possibilita um auxílio nas discussões referente ao próprio conteúdo que foi trabalhado na regência como a capoeira fazendo analogias e associações com a realidade. Materiais como cones, cordas, bolas, bambolês e textos foram primordiais para se trabalhar o conteúdo a cima citado onde foi possível estudar algumas problemáticas como o racismo que ainda persiste nos dias atuais, a violência, o preconceito, a falta de interesse pelas aulas de Educação Física por parte dos alunos, mas também a importância da capoeira como uma luta (símbolo de resistência e superação) pela liberdade e seu valor social dentro da escola pública. A educação de forma geral é responsável pela transformação social e por isso a importância do professor de Educação Física ter a consciência da realidade que irá enfrentar e intervir da melhor forma possível. OBJETIVOS O relatório de estágio tem como objetivo mostrar e analisar a importância do estágio para a formação docente evidenciando a aproximação do mesmo no campo de atuação no ensino fundamental (séries finais) levando em 71 consideração a realidade social da escola, de seus alunos e das dificuldades encontradas. METODOLOGIA A regência aconteceu no Centro Integrado de Educação Municipal Professor Joselito Falcão de Amorim no ano de 2020 com a turma do 8º ano A. O objetivo foi cumprido ao seguirmos as orientações da escola que naquele dado momento estava trabalhando com o conteúdo capoeira nas aulas de Educação Física, assim planejamos cinco aulas com o conteúdo onde foi trabalhado desde os aspectos históricos aos fundamentos. Ao final das regências os alunos já conseguiam discutir a respeito do conteúdo trabalhado e a dominar o que haviam aprendido durantes as aulas, porém foi possível identificar algumas possibilidades e problemáticas para a realização das aulas como trabalho pedagógico, rendimento escolar, inclusão e a falta e ou sucateamento de recursos pedagógicos para a realização das aulas. Em relação ao trabalho pedagógico, foi possível identificar o desenvolver do planejamento, se não na sua plenitude, muito próximo daquilo que o professor regente havia proposto com o conteúdo capoeira sob a teoria pedagógica histórico crítica e a metodologia de ensino da Educação Física a crítico superadora, sobre o trabalho pedagógico: O trabalho pedagógico é uma prática social que atua na configuração da existência humana individual e grupal para realizar nos sujeitos humanos as características de seres humanos. Essa prática social é 72 munida de forma e conteúdo, expressando dentro das suas possibilidades objetivas as determinações políticas e ideológicas dominantes em uma sociedade (FRIZZO, 2008, p. 163). RESULTADOS E DISCUSSÃO Encontrei uma escola muito bem organizada, desde a direção até a segurança para o trabalho dos professores. Claro, houve dificuldades no início do trabalho desde as observações até as regências o que de fato atrapalhou a concretização do trabalho pedagógico devido à falta de materiais onde muitas vezes eram improvisados, apesar da perda pedagógica em alguns momentos, os estudos do conteúdo tiveram o alcance esperado ao constatar o conhecimento dos alunos nas discussões e avaliações. Em relação ao rendimento escolar foi evidenciado um grande problema onde alunos muitas vezes desmotivados no seio de famílias desestruturadas que demandam atendimento especializado, chegam à escola reproduzindo situações que vivenciavam no âmbito familiar e social o que muitas vezes ficava explicito durante as aulas tendo em vista atitudes como xingamentos e agressões que refletia diretamente no rendimento escolar sendo que em diversas situações a aula tinha que ser parada para chamar atenção de alguns alunos onde às vezes entendiam a importância da escuta e do respeito e em outras já se recusavam a participar das aulas, um problema, pois a assimilação do conhecimento não depende somente do professor. O processo de aprendizagem ocorre quando o aluno também tem disposição e se esforça, onde ele cria um hábito que é quando ele é capaz de exercer livremente o que 73 aprendeu, ou seja, a assimilação do saber sistematizado (SAVIANI, 2015). A escola recebe muitos alunos com deficiência, principalmente deficiência auditiva, o que é um grande desafio para os professores, no sentido de conseguir incluir todos nas atividades, mas antes: Com o princípio da Inclusão, a Educação Física escolar deve ter como eixo fundamental o aluno e, sendo assim, deve desenvolver as competências de todos os discentes e dar aos mesmos condições para que tenham acesso aos conteúdos que propõe, com participação plena, adotando para tanto estratégias adequadas, evitando a exclusão ou alienação (AGUIAR; DUARTE, 2005, p. 228). O ponto positivo é que a escola possui interpretes em todas as turmas que possuem alunos com deficiência auditiva e trabalha com atividades adaptadas e inserindo os mesmos com apoio da comunidade escolar. Essa informação trago com base nas informações da direção e do professor da escola que sinalizaram que foi um grande desafio pensar propostas de aulas que tivessem o cuidado de incluir todos os alunos onde segundo os mesmos aconteceram muitas adaptações que ajudaram, mas saliento também a necessidade de promover atividades formativas que contribuam para o trabalho dos professores no trato com o conhecimento com alunos com deficiência e os com demais alunos também. A falta de recursos materiais para as aulas foi uma outra problemática encontrada, a escola necessita de materiais para trabalhar muitos conteúdos da Educação 74 Física como colchonetes, bolas de vários esportes, bambolês, cones, fitas e etc. Nos momentos que eram possíveis o professor da escola confeccionava os materiais na tentativa de trazer uma aula de qualidade para os alunos o que não é o ideal sendo que a escola deveria dispor de tais materiais para a boa realização do trabalho, mas infelizmente o professor de Educação Física já havia relatado que estava encontrando dificuldades ao longo dos anos no processo de ensino aprendizagem de seus alunos, principalmente nas escolas públicas (CANESTRARO et al, 2008). E a falta de uma quadra de esportes também é um agravante que confirma que as condições de trabalho na prática pedagógica do professor aparecem com certa frequência (CANESTRARO et al, 2008). Apesar da escola ter um espaço amplo para desenvolver as atividades, a falta da quadra dificulta o trabalho com os conteúdos específicos da Educação Física trazendo uma grande perda pedagógica: A Escola Pública dispõe precariamente de infraestrutura para os conteúdos hegemônicos da Educação Física (dentre estes, os esportes), mas inexiste infraestrutura para os conteúdos que advém da cultura da comunidade escolar ou da produção de diferentes contextos. Adaptar tem sido um caminho para garantir tais conteúdos, todavia não com a qualidade desejável (CEZAR et al, 2015, p. 5). CONCLUSÕES Apesar das problemáticas encontradas e de algumas perdas pedagógicas foi possível vivenciar o ambiente da escola pública interagindo com sua realidade e intervindo 75 para uma melhor contribuição. As dificuldades não podem ser empecilhos para o trabalho do professor de Educação Física, pelo contrário, devem ser combustível para a busca de melhorias da escola pública e das suas condições de trabalho, mas isso perpassa pela sua autovalorização e da luta coletiva da categoria. É necessário cobrar do poder público, as verbas necessárias para a compra dos materiais pedagógicos e exigir maiores investimentos na educação básica. REFERÊNCIAS AGUIAR, João Serapião de; DUARTE, Édison. Educação inclusiva: um estudo na área da educação física. RevistaBrasileira de Educação Especial, 2005, 11.2: 223-240. CANESTRARO, Juliana de Félix; ZULAI, Luiz Cláudio; KOGUT, Maria Cristina. Principais dificuldades que o professor de educação física enfrenta no processo ensino- aprendizagem do ensino fundamental e sua influência no trabalho escolar. In: VIII Congresso Nacional de Educação-EDUCERE. 2008. CEZAR, Rocha et al. Educação física escolar e aprendizagem social: Proposição e materialização realizada na escola pública. In: 11 Congreso Argentino de Educación Física y Ciencias, 28 de septiembre al 2 de octubre de 2015 Ensenada, Argentina. Universidad Nacional de La Plata. Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación. Departamento de Educación Física, 2015. 76 FRIZZO, Giovanni. O trabalho pedagógico como referência para a pesquisa em educação física. Pensar a prática, 2008, 11.2: 159-167. SAVIANI, Dermeval. Sobre A Natureza E Especificidade Da Educação. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 7, n. 1, p. 286-293, jun. 2015. SCALABRIN, Izabel Cristina; MOLINARI, Adriana Maria Corder. A importância da prática do estágio supervisionado nas licenciaturas. Revista Unar, v. 7, n. 1, p. 1-12, 2013. 77 A música no processo de ensino e aprendizagem no Ensino Fundamental Carla Garcia MEDEIROS Universidade Leonardo da Vince – UNIASSELVI Luiza Madalena Mendes da VERA CRUZ Universidade Federal do Pará Crislyne Mendes da VERA CRUZ Universidade Federal do Pará E-mail do autor principal: carlagarcia81428@gmail.com INTRODUÇÃO A música deve estar presente em algumas atividades na escola, pois é uma prática que faz parte das Diretrizes Curriculares Nacionais e favorece o desenvolvimento de diversas linguagens. Todavia, existe a preocupação por parte dos profissionais em atender o aluno amplamente em todos os aspectos seja o cognitivo, o social ou motor. Como ainda diversas escolas não oferecem uma estrutura necessária para o enriquecimento e uma melhor estimulação que influencie o aprendizado, cabem aos professores mesmo sem ter uma formação musical, buscar conhecimentos em cursos ou em projetos que tragam essa qualificação para inserir a musicalidade no ambiente escolar. Sendo assim, trabalhar esse tema é um grande desafio, pois, como podemos trabalhar a música no ensino fundamental? mailto:carlagarcia81428@gmail.com 78 Através de sons, ritmos e movimentos será explorado a criatividade de maneira crítica e livre, pois a música é uma linguagem universal, estando presente em todos os povos, independentemente do tempo e do espaço em que se localizam, sendo assim, indispensável na formação da alunos. De fato, a música é um elemento sempre presente na cultura humana, sendo importante para o desenvolvimento do aluno, fazendo com que ele tenha a capacidade de pensar e exercer mais atividades por conta própria, uns obtendo maiores resultados e outros com um pouco de dificuldades. Então, como será incluído as atividades educativas usando a música? Nessa direção, é importante ressaltar a inserção de cantigas de rodas, dinâmicas em sala de aula ou em ambientes diferenciados, utilizando instrumentos confeccionados pelos próprios alunos em sala com auxílio do professor, como por exemplo: chocalho, pandeiro, tambores, entre outros, transmitindo assim mais conhecimento. OBJETIVO(S) Objetiva-se favorecer uma educação melhor através da música, deve-se despertar no aluno um desenvolvimento contínuo. Seja de forma cognitiva, linguística, psicomotora e sócio afetivo, possibilitando assim, a interação entre os indivíduos como uma melhor inclusão no ambiente familiar, na escola e na sociedade de forma geral. Ou seja, através dos sons é possível estimular os alunos a uma percepção de mundo ainda não explorada, aguçando a sua criatividade, a coordenação motora e a interação social, 79 sendo muito importante nessa fase. E assim, fazer com que crianças e adolescentes tenham o prazer em trabalhar com a musicalidade e entender que a mesma também é conhecimento. METODOLOGIA Para a construção desse trabalho, foi utilizado a estratégia da pesquisa qualitativa e a revisão bibliográfica, que busca apreender os fatos e fenômenos e não apenas registrá-las (MINAYO 1993). A escolha da pesquisa qualitativa se justifica pela possibilidade de entender a relevância dos procedimentos metodológicos que um professor não especializado pode obter condições de pôr em sua prática diária. A revisão bibliográfica é importante para definir a linha limítrofe da pesquisa que se deseja desenvolver, considerando uma perspectiva científica, afirma Dane (1990). Ainda segundo o autor, é preciso definir os tópicos chave, autores, palavras, periódicos e fontes de dados preliminares. Nesse sentido, a revisão bibliográfica é considerada um passo inicial para qualquer pesquisa científica (WEBSTER; WATSON, 2002). RESULTADOS ALCANÇADOS Certamente, várias áreas do conhecimento podem ser estimuladas com musicalização. Apontam diferentes aspectos do desenvolvimento humano como físico, mental, social, emocional e espiritual, a música é considerada um agente facilitador no processo educacional, pois contribui 80 com desenvolvimento social, o respeito e consideração pelo outro. A educação vai além do âmbito escolar é conhecer o mundo, a convivência em sociedade e sua organização. No caso da música, essa possibilita o desenvolvimento social como ponto de partida na construção de ensino- aprendizagem. Além disso, a música pode provocar um melhor relacionamento entre os alunos, facilitando trabalhos em grupos e contribuindo com a perda da timidez, favorecendo também a linguagem corporal. A música desenvolve muitas habilidades, expande a capacidade de aprender, estimula a concentração, abre habilidades lógicas e matemáticas, facilita para o aluno a leitura e interpretação de textos. Junto a isso, a música pode fazer o jovem mudar seu comportamento em relação aos estudos, pois ele precisa seguir determinadas regras, ter uma conduta com o professor quando interage em sala de aula, aprende a se relacionar em conjunto, respeitando o espaço do outro. Para Weigel (1988, p. 15) ele assegura que o trabalho com a música pode proporcionar essa integração social, já que as atividades geralmente são coletivas e o trabalho em grupo produz compreensão, cooperação e participação. A presença da música na escola não serve para formar instrumentistas, músicos ou musicistas, é claro que pode favorecer se houver algum interesse do aluno. No entanto, o objetivo é despertar uma série de outras habilidades e possibilidades do nosso corpo, na nossa mente, que vão além do fato de querer se tornar um instrumentista. O aluno precisa apreciar a música, com o intuito de crescimento cultural, tendo em vista que a música é 81 histórica, tudo que se traz de acordes, de notas, de sons ou de músicas, vem de uma história de um povo. Dessa forma, o professor precisa tentar sempre oferecer a maior possibilidade sonora possível para que os jovens possam ter uma referência gratificante, colocando como objetivos específicos aulas lúdicas, alegres, divertidas, sempre focando para uma melhor interação nesse ambiente escolar. Vale ressaltar que a influência da música no desenvolvimento neurológico é um estimulo muito forte para ativar os circuitos cerebrais, além disso o indivíduo ganha segurança emocional e confiança. Em algumas escolas alunos com dislexia já são tratadas com aulas de música, então para o cérebro é uma grande vantagem, por isso não somente irá ajudar o aluno em outras disciplinas, mas também estimular o senso estético. Desse modo, os alunos aprendem a se comunicar expressando ascoisas de outras maneiras que não envolvem apenas palavras e já que se envolvem com um universo de linguagens diferentes. Cientificamente já é comprovado que o aprendizado da música tanto formal como informal, ou seja, tanto na escola quanto em casa, traz benefícios muitos maiores que são estendidos para uma vida, são benefícios de memória, de cognição motora, desenvolvimento da fala propriamente dita. A aprendizagem musical desenvolve o ato de ouvir que é importante para criar ouvintes mais críticos e também contribuir na disciplina. Assim, a música traz benefícios significativos para as crianças e jovens, porque traz uma formação humanística, esses alunos serão mais éticos, por saberem a dimensão do eu e do coletivo, definir a hora própria e a hora do outro, por não invadirem o espaço alheio e por saberem que tudo tem um momento. O que o compasso musical 82 ensina e contribui é que a música pode trazer as crianças, aos adolescentes e aos adultos é o fato do equilíbrio entre a razão e a emoção. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através desta pesquisa, conclui-se que apesar de amplas referencias teóricas sobre este tema, ainda faltam trabalhos a serem desenvolvidos nas escolas. A música é uma linguagem que necessita ser ampliada no âmbito escolar, e os professores devem estar atualizados as mudanças e ao surgimento de novos ritmos e estilos musicais, levando os repertórios que contribuam para uma melhor aprendizagem e desenvolvimento de maturação cognitiva, intelectual, social e corporal dos alunos. Com isso, observa-se a importância da aprendizagem através da musicalização na Educação Básica. Portanto, é essencial que nos projetos pedagógicos das escolas estejam inseridos o trabalho com a música como instrumento pedagógico para o professor, e também de uma maneira mais ampla e continua. Assim, professores e pais tem um papel importante em contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem da criança a partir da música. REFERÊNCIAS DANE, F. Research methods. Brooks/Cole Publishing Company: California, 1990. 83 MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001. WEIGEL, A. M. G. Brincando de Música: Experiências com Sons, Ritmos, Música e Movimentos na Pré-Escola. Porto Alegre: Kuarup, 1988. WEBSTER, J.; WATSON, J.T. Analyzing the past to prepare for the future: writing a literature review. MIS Quarterly & The Society for Information Management, v.26, n.2, pp.13-23, 2002. 84 O território quilombola no Baixo Tocantins (PA): entre novos e velhos desafios Carla Joelma de Oliveira LOPES Universidade Federal do Pará Daniela de Oliveira SENNA Universidade Federal do Pará E-mail do autor principal: carlajoelma@gmail.com INTRODUÇÃO As margens do rio Tocantins, que correspondem ao Baixo Tocantins, configuram uma das áreas de ocupação mais remotas da Amazônia Paraense, recorte territorial que foi palco de intenso processo de formação de quilombos e mocambos durante os séculos XVII a XIX. Esses lugares constituíam arranjos espaciais habitados, em geral, por africanos, indígenas e brancos pobres, consolidando, ao longo do tempo, uma vasta população ribeirinha atrelada étnica e socialmente. Os quilombos do Baixo Tocantins (PA) representam arranjos espaciais ancestrais e exemplos ímpares de como a resistência negra ganhou dimensão territorial. Entretanto, a trajetória desses lugares foi/é marcada por intensa disputa indicando que sua permanência na configuração espacial da região tem relação com a força que o quilombo adquiriu ao longo do tempo e com aquilo que ele passou a representar, entre outras, um conjunto de possibilidades para a garantia e reprodução da existência. Mas esse modo de vida vem mailto:carlajoelma@gmail.com 85 sendo constantemente tensionado por interesses exógenos aos lugares. De tempos, em tempos, ocorrem reedições de incursões do capital sobre as terras-territórios e seus povos provocando verdadeiros desmontes no cotidiano quilombola. A Operação Amazônia, deflagrada em 1966 pelos governos militares, reedita novos processos de incursão ao Baixo Tocantins, recuperando no imaginário nacional a ideia de Amazônia intocada, espaço areal e inerte, ávido por investidores e investimentos. Os moradores da região, habituados a labutar segundo o ritmo dos ciclos naturais são apresentados a outras racionalidades e práticas, posto que, o Estado, a partir de seus modelos de desenvolvimento, impõe novas lógicas aos territórios, ressignificando os lugares, promovendo as condições espaciais necessárias para assegurar a reprodução ampliada do capital e fazendo com que as terras locais passem a ser alvo de cobiça. Destacamos neste cenário o quilombo de Araquembaua, localizado no município de Baião (PA), terra de nossos ancestrais e parentes. No ano 2000 foi encaminhado ao ITERPA (Instituto de Terras do Pará) um processo coletivo de titulações de terras quilombolas, num total de 26 requerimentos, entre eles, o de Araquembaua. A luta pela titulação esteve associada a diversas questões – ameaça da posse/domínio sobre o uso, o avanço do agronegócio, dos grandes projetos, a desterritorialização evocada pela atratividade que os empreendimentos suscitaram em contraste com as precárias condições de trabalho e renda experimentadas no cotidiano rural, além dos intensos impactos ambientais provocados pelos projetos que se instalaram nos lugares. 86 O quilombo foi titulado em 2002, de lá para cá se passaram 18 anos, tempo em que novos desafios se juntam aos velhos, demandando constante organização e protagonismo de sua população, realidade que acreditamos é partilhada em todo o Baixo Tocantins. Escolhemos as lentes de Araquembaua para entender esse cenário. OBJETIVOS Geral • Compreender as estratégias de organização, resistência e enfrentamento ao capital, acionadas por esses quilombolas que habitam as margens do majestoso rio Tocantins. Específicos: • Refletir sobre os processos de incursão do capital no Baixo Tocantins, sobretudo a partir da década de 1960; • Compreender o cenário territorial que mobiliza as forças de resistência ao avanço do capital em Araquembaua; • Pensar nas estratégias de resistência acionadas pelos moradores de Araquembaua, em particular, a educação do quilombo. METODOLOGIA Do ponto de vista operacional, recorremos a pesquisa documental e bibliográfica para composição do texto teórico. Acionamos, ainda a pesquisa de campo para tentar compreender as dinâmicas territoriais desenvolvidas 87 pelos quilombolas de Araquembaua diante do avanço do capital, tentando enxergar as estratégias utilizadas por eles para resistir e enfrentar as ameaças que se exibem no cotidiano quilombola a partir de 1960. Do ponto de vista analítico, adotamos a proposição do território usado, uma vez que, partilhamos a premissa de que “[...] o território em si mesmo não constituiu uma categoria de análise [...]. A categoria de análise é o território utilizado” (SANTOS; SILVEIRA, 2013, p. 247). É a compreensão dos usos do território que nos permitem enxergar a novidade e a herança, compreender o movimento territorial em seu dinamismo, enxergando dentro dos novos desafios aquilo que dos “velhos”, não foi superado, apenas ganhou outros significados, as mudanças e permanências. RESULTADO E DISCUSSÕES O interesse pelas terras amazônicas remonta o período colonial. Como “[...] toda sociedade é espacialmente determinada” (NAHUM, 2019, p. 25), a Amazônia serviu de palco, produto e condição para a produção e reprodução da sociedade mercantil, dessa forma, mobilizaram-se técnicas e sistemas técnicos,regulação espacial, políticas e usos específicos das terras para garantir a interlocução com as intenções do capital. Transformou-se muito precocemente em área exportadora de produtos e riquezas, em detrimento de suas populações e de seus ambientes. Ao longo do tempo ocorreram reedições de incursões do capital sobre a região. Destacamos a década de 1960, marcada por políticas 88 públicas que viam a Amazônia como espaço areal a ser utilizado. O impacto desse processo na região do Baixo Tocantins foi intenso. Terras e recursos locais foram associados a oportunidades de financiamento, geração de emprego, renda e inclusão social, o lugar passou a ser representado como um conjunto de possibilidades atrativas ao capital, mecanismo que atualizou formas de expropriação e espoliação de suas populações e riquezas. O planejamento estatal, contudo, desconsiderou as especificidades relativas as condições espaciais, povos e trajetórias locais, como se o espaço não fosse dotado de intencionalidade e não pudesse expressar suas lógicas vitais e possibilidades, assim, na contramão do que foi apresentado no plano discursivo, houve a intensificação de tensões, conflitos, disputas e violência resultando, na prática, no adensamento de antigos problemas e no surgimento de novos. Araquembaua dialogava intensamente com essas mudanças e vivia seus rebatimentos, inclusive, porque assim como várias outras comunidades baionenses, alimentou expectativas positivas em relação aos projetos alardeados pelo poder público. Mas, em direção contrário, o que ocorreu foi o adensamento do cenário de disputas territoriais. A defesa territorial, que é sobre a terra e seus usos, ganhou força imperativa. Dessa forma, vimos emergir no solo araquembauense um processo de ressemantização das lutas indicando o surgimento de novas arenas políticas trazendo forças sociais de resistência a reprodução das relações de produção capitalistas no campo (CRUZ, 2014), fenômeno que responde a um quadro de transformações na 89 dinâmica política dos conflitos sociais do mundo rural na América Latina. De tal forma, um pedido de titulação coletiva de terras quilombolas foi encaminhado ao ITERPA em 2000 expressando, principalmente, o complexo grau de articulação das comunidades negras rurais diante do imperativo de defesa territorial. Mas não apenas. No caso particular de Araquembaua, sinalizou, também, a constituição de um processo de autorreconhecimento, de aprender de si mesmo, de retirada da invisibilidade compulsória que manteve por tempos a fio, o passado quilombola apagado da memória. Foi no movimento de introspecção, do aprender de si mesmo através da educação do quilombo, que Araquembaua vislumbrou sua tradição de lutas. CONCLUSÕES Araquembaua é uma comunidade quilombola que enfrenta, a semelhança de outras localizadas no município de Baião, Baixo Tocantins, inúmeros desafios. Desde a década de 1960, respondendo a um conjunto de transformações, comandadas pelo Estado brasileiro, que a população vê seu território ser atravessado pelos interesses do capital materializado em meio técnico e na chegada de outras racionalidades. O avanço desse processo foi acompanhado de ameaça territorial, posto que, suas terras passaram a ser reclamadas pelos interesses de diversos empreendimentos a serviço de distintos paradigmas e projetos de desenvolvimento. As respostas, entretanto, têm sido contundentes. Diante dos novos desafios, os quilombolas de 90 Araquembaua vem refletindo e dialogando com a dimensão da sustentabilidade, da segurança alimentar, do controle territorial, do empoderamento do grupo, da identidade territorial, da educação e da cultura. Agenda de lutas profícua que convida a revisão das políticas públicas destinadas aos quilombos de toda a região e da Amazônia, em geral. Mas, sua principal forma de resistência tem sido o uso do conhecimento tradicional, a educação do quilombo. Educação que desafia as políticas de extermínio que a ele são destinadas, que sinaliza os mecanismos de gestão territorial adotados ao longo do tempo e que exibe a tradição de luta quilombola. Neste sentido, nossa reflexão considera e compartilha as contribuições de Reis e Gomes (2012, p. 9) ao recordarem que “[...] onde houve escravidão, houve resistência”. Assim, sempre que ocorrem reedições de tentativas de subordinação, de assujeitamento, de espoliação ou de qualquer que seja a forma ou mecanismo de morte destinadas ao quilombo, ele luta por justiça. Kaô Kabecilê Xangô! REFERÊNCIAS CRUZ, Walter do Carmo. Movimentos sociais, identidades coletivas e lutas pelo direito ao território na Amazônia. In: SILVA, Onildo Araújo da; SANTOS, Edinusia Moreira Carneiro; NETO, Agripino Souza Coelho (Orgs). Identidade, território e resistência. 1 ed. Rio de Janeiro: Consequência, 2014, p. 37-72. NAHUM, João Santos. Notas sobre a Formação Territorial da Amazônia Paraense: do meio natural ao meio técnico. In: 91 SILVA, Christian Nunes; PAULA, Cristiano Quaresma de; SILVA, João Márcio Palheta da. (Orgs). Produção Espacial e Dinâmicas Socioambientais no Brasil Setentrional. 1ed. Belém: GAPTA/UFPA, 2019. p. 23-42. REIS, João José; GOMES, Flávio. Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. 1 ed., São Paulo: Claro Enigma, 2012. SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. 17º ed., Rio de Janeiro: Record, 2013. 92 O ensino da matemática a pessoas com deficiência: a função assistiva de Ambientes Virtuais de Aprendizagem Carlos Alan Vieira do NASCIMENTO Universidade Federal do Pará Carla Adriana Vieira do NASCIMENTO Universidade Federal do Pará E-mail do autor principal: carlosalan1414@gmail.com INTRODUÇÃO Durante a chegada do período de isolamento social e de vários cuidados extremos com nossa saúde devido a pandemia, fez-se necessário mudanças e adaptações em quase todas as áreas da sociedade, inclusive na Educação (SILVA et al., 2020; TEIXEIRA; DAHL, 2020). O prolongamento das repercussões da Pandemia impôs a necessidade de adoção de novas reflexões e estratégias para a (re) orientação do trabalho educativo a qual acarreta uma série de desafios a serem enfrentados por professores e alunos em todos os níveis de ensino (SILVA et al., 2020; INSTITUTO AYRTON SENNA, 2020). Dentre estes desafios, tem-se o Ensino da Matemática para alunos com deficiência em ambiente remoto, nesse cenário verifica-se a buscar por soluções e estratégias que contribuam para o processo de ensino- aprendizagem da Matemática para esses alunos frente a pandemia do COVID-19. Teixeira e Dahl (2020, p.512), mailto:carlosalan1414@gmail.com 93 referem que pode ser “possível construir estratégias de adaptação das propostas às diferentes realidades dos estudantes” no período de pandemia. Assim, considerando que parte dos estudantes com deficiência mesmo com acesso a internet e as tecnologias da informação, possivelmente, não acessariam com qualidade o ensino remoto sem o atendimento de suas especificidades, é imprescindível um olhar atento às ajudas técnicas ou Tecnologia Assistiva que docentes e alunos podem fazer uso no ambiente remoto. OBJETIVO Identificar e analisar as publicações científicas ensino da matemática a pessoas com deficiência em ambiente online/virtual. METODOLOGIA A presente pesquisa segue uma abordagem quanti- qualitativa, exploratória e descritiva através do processo de revisão sistemática de literatura cujas etapas foram: a) Construção do protocolo: definição das questões de pesquisa, dos critérios de seleção e exclusão das publicações, os procedimentos de busca e a análise dos estudos.b) Definição das questões que guiaram esta revisão sistemática: Há publicações científicas sobre o ensino da matemática a pessoas com deficiência em ambiente online, virtual ou a distância? Qual (is) estratégias, dispositivos ou recursos de Tecnologia Assistiva têm sido utilizados no Ensino Online, 94 virtual ou a distância da matemática para pessoas com deficiência? c) Busca das publicações: A busca foi realizada no mês de agosto de 2020 nas bases de dados 1) Scientific Electronic Library Online (SciELO), 2) Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e 3) Google Acadêmico. Elencou-se os termos de busca a partir da consulta ao vocabulário Thesaurus Brasileiro da Educação (Brased) e no índice de Descritores em Ciências da Saúde (DECS), a saber: “Pessoas Com Deficiência”, “Pessoas Com Necessidades Especiais”, “Matemática”, “Aprendizado Online”, “Aprendizagem Online”, “Ensino Online”, “Ensino a Distância”, “Ensino por Correspondência”, “Ambiente Virtual”, “Tecnologia Assistiva” e “Dispositivos Assistivos”. d) Seleção dos estudos: Incluiu-se na revisão - Publicações em qualquer ano; Publicações que abordem os constructos Ensino da Matemática, Pessoas com Deficiência (PcD), ensino online/virtual no idioma português; Publicações empíricas com situações de ensino da matemática de forma online, virtual ou a distância para PcD. Excluiu-se publicações que não faziam referência as temáticas relacionadas ao ensino da matemática online, virtual ou a distância para PcD, estudos que apresentam dados do ensino da matemática de modo presencial, e também, estudos publicados apenas na forma de resumos, editoriais, carta ao editor, anais de congressos, livros, capítulos de livro, assim como, artigos que tratam de revisão de literatura e ensaios 95 teóricos, artigos repetidos ou não disponíveis na íntegra nas fontes consultadas. e) Triagem Inicial: os termos de busca foram combinados entre si por operadores booleano ‘AND’ e ‘OR’. Cada fonte de dados foi consultada individualmente considerando os formulários e filtros de busca disponibilizado por cada fonte de indexação. O rastreio dos estudos considerou os títulos e resumos. f) Avaliação crítica: realizou-se a varredura do artigo na íntegra obedecendo aos critérios de inclusão e exclusão. As informações coletadas foram tabuladas em planilha Microsoft Excel®. Realizou-se inferências de indicadores quanti-qualitativos por meio da técnica de análise de conteúdo e pela análise estatística descritiva simples, para o cálculo de frequência das categorias obtidas na tabulação dos dados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Aspectos gerais e metodológicos dos estudos No processo de triagem foram encontrados vinte e um (21) artigos que foram submetidos aos critérios de inclusão e exclusão, destes três estudos estavam repetidos, 12 foram excluídos pelas seguintes razões: não referiam pessoas com deficiência, ensino da Matemática ou não abordavam o ensino de forma online, virtual ou a distância. A amostra selecionada para esta revisão sistemática da literatura foi composta por seis (06) estudos publicados no período de 2012 a 2020 que se enquadravam nos critérios 96 de inclusão da seleção dos estudos. A tabela quadro 1 a seguir apresenta a lista dos estudos incluídos. Tabela 1. Lista de artigos por ano, autor (es), tipo de pesquisa e objetivo. A n o Título/Autor(es) Revista Tipo de Pesquisa Objetivo 2 0 1 2 VirtualMat: um ambiente virtual de apoio ao ensino de matemática para alunos com Deficiência Mental MALAQUIAS et al R ev is ta B ra si le ir a d e In fo rm át ic a n a E d u ca çã o Q u al it at iv a e Q u an ti ta ti v a Avaliar o conhecimento dos alunos antes e depois da utilização do software VirtualMat 2 0 1 3 Objetos de Aprendizagem como recurso pedagógico em contextos inclusivos: subsídios para a formação de professores a distância BARDY et al R ev is ta B ra si le ir a d e E d u ca çã o E sp ec ia l E x p lo ra tó ri a d e n at u re za an al ít ic o -d es cr it iv a Verificar se os Objetos de Aprendizagem são ferramentas eficientes na construção do processo de ensino e aprendizagem de conteúdos disciplinares, na perspectiva da educação inclusiva 2 0 1 5 Um Ambiente Virtual onde a Educação a Distância Encontra-se com a Educação Matemática Inclusiva SANTOS, C.; FERNANDES, S. R ev is ta C ie n ti fi ca d e E d u ca çã o a D is ta n ci a Q u al it at iv a, p es q u is a -a çã o Apresentar um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) que seja acessível e que possa atender principalmente pessoas com necessidades especiais no campo sensorial da visão e da audição 97 2 0 1 9 Um Ambiente Virtual de Aprendizagem Matemática Inclusivo SANTOS, C.; FERNANDES, S. R ev is ta B ra si le ir a d e A p re n d iz ag em A b er ta e a d is tâ n ci a E x p er im en ta l Verificar a possibilidade de interação entre pessoas com algum tipo de limitação sensorial e pessoas que não possuíam limitações no ambiente virtual de aprendizagem (AVA) Moodle, que foi devidamente adaptado para se tornar acessível 2 0 2 0 Math2Text: Software para geração e conversão de equações matemáticas em texto - limitações e possibilidades de inclusão JUNIOR; MENDES; SILVA R ev is ta I b ér ic a d e S is te m as e T ec n o lo g ia s d e In fo rm aç ão D es ig n c en tr ad o n o u su ár io Auxiliar na interpretação de símbolos matemáticos para estudantes com baixa ou nenhuma visão, bem como professores no desenvolvimento de materiais acessíveis 20 20 A Utilização do Moodle no Ensino da Matemática para alunos com Deficiência ROSSI; AMORIM; SANTOS R ev is ta R E A M E C Q u al it at iv o Criação de uma sala virtual e experiência envolvendo o ambiente virtual de aprendizagem Moodle como recurso tecnológico no ensino de Matemática, para alunos com deficiência nos anos finais do Ensino Fundamental. Verificou-se que 67% delas estão situadas na região sudeste mais precisamente em São Paulo (03) e em Minas 98 Gerais (01), as outras publicações são do Estado do Mato Grosso (região centro-oeste) e Paraná (região sul) verifica- se uma lacuna de publicações nas regiões norte e nordeste do Brasil. Na categoria nível de ensino 67% (n=4) das publicações abordavam estratégias de adequações para ensino da matemática em ambiente virtual de aprendizagem à alunos com deficiência no ensino básico, as demais pesquisas não especificaram o nível de ensino dos alunos participantes. A maioria dos artigos investigou estudantes com deficiência visual e/ou surdez (n=3), quanto as demais publicações 01 voltou-se as especificidades da pessoa com deficiência intelectual, 01 falavam de pessoas com deficiência de maneira geral e 01 procurou atender a deficiência auditiva, física e o autismo. Aspectos sobre a função assistiva dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem para o Ensino da Matemática às pessoas com deficiência Na amostra de 06 publicações analisadas, 50% (03) descrevem as possibilidades de uso ou as adaptações realizadas em Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) não específicos da área da matemática para o ensino de pessoas com deficiência. Dos demais trabalhos, 50% utilizaram softwares específicos para a área da matemática, 01 utilizou o software denominado VirtualMat, o outro artigo (01) utilizou o software Math2Text para a geração e conversão de equações matemáticas em texto, e também, houve a utilização por Rossi,Amorim e Santos (2020), da plataforma virtual Moodle como recurso tecnológico no ensino de Matemática. 99 A partir da análise crítica das publicações encontradas nesta revisão sistemática identificou-se um impacto positivo do AVA e dos softwares utilizados para o ensino-aprendizado da matemática às pessoas com deficiência. No contexto educacional há recursos e dispositivos de Tecnologia Assistiva especialmente desenvolvidas para favorecer e simplificar as atividades educativas de pessoas, mas também podemos realizar adaptações e associar estratégias de metodológicas e de uso em recursos já existentes que permitirão exercer a função assistiva para apoiar pessoas com deficiência em uma tarefa educacional proposta, como é o caso dos Softwares e AVAs das publicações analisadas. Dessa maneira, os resultados mostram que a utilização de um ambiente virtual como ferramenta de aprendizagem é bem aceita pelos estudantes com deficiência, pois eles se sentem mais motivados a participar do processo de ensino, achados também apontam o potencial da função assistiva dos AVAs para o processo de ensino aprendizado para pessoas com deficiência desde que sejam realizadas as adaptações necessárias considerando às necessidades específicas de cada pessoa com deficiência e os níveis de complexidade do conteúdo. CONCLUSÕES Conclui-se, considerando os bancos de buscas utilizados na presente pesquisa, que as adaptações e Tecnologia Assistiva para o ensino da matemática às pessoas com deficiência em ambiente online, virtual ou a distância pouco é abordada no âmbito brasileiro, com exceção da região sudoeste, assim, infere-se a necessidade 100 de maior visibilidade da temática no contexto nacional, garantindo a equidade de oportunidades ao acesso à informação e ao conhecimento de alunos com deficiência ao ensino da matemática no ambiente virtual cada vez mais incorporando a este novo cotidiano em torno da pandemia. Ressalta-se que o exercício da equidade de oportunidades nos provoca a repensar nossas práticas em relação ao ensino ou aprendizagem da Matemática, desse modo, esperamos que este estudo de revisão incentive a produção de conhecimento sobre Tecnologia Assistiva ou outras possibilidades de adaptações que garantam o acesso e participação com qualidade de estudantes com deficiência no âmbito do ensino remoto, virtual ou a distância. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS INSTITUTO AYRTON SENNA. De volta à escola: estratégias para a acolhida pós-isolamento social. Disponível em: https://institutoayrtonsenna.org.br/content/dam/institutoa yrtonsenna/documentos/instituto-ayrton-senna-de-volta- a-escola-estrategias-para-a-acolhida-pos-isolamento- social.pdf. Acesso em: 7 ago. 2020. SILVA, Carla Regina; et al. Terapia ocupacional na universidade pública e ações de enfrentamento à Covid- 19: singularidades e/nas multiplicidades. Rev. Interinst. Bras. Ter. Ocup. Rio de Janeiro, v.4, n.3, p. 351-370, 2020. TEIXEIRA, Melissa Ribeiro; DAHL, Catarina Magalhães. Recriando cotidianos possíveis: construção de 101 estratégias de apoio entre docentes e estudantes de graduação em terapia ocupacional em tempos de pandemia. Rev. Interinst. Bras. Ter. Ocup. Rio de Janeiro, v.4, n.3, p. 509-518, 2020. 102 Saberes culturais dos ribeirinhos na Amazônia marajoara das florestas Debora Elayne Costa MORAES Universidade Federal do Pará Andrea Silva DOMINGUES Universidade Federal do Pará/PPGEDUC/PROCAD- Amazônia CAPES E-mail do autor principal: deboraelaynne07@gmail.com INTRODUÇÃO A população amazônica é composta por povos diversos, que constituíram seus traços, práticas culturais e processos identitários, podendo ser evidenciado nas formas de viver, de falar de trabalhadores e trabalhadoras que vivem entre as matas e as águas. Contudo, importante destacarmos que a exploração, a invasão das terras amazônicas foi um acontecimento brutal, como permanece até os dias atuais, no entanto nos faz compreender que “o campo da cultura não é homogêneo, e sim atravessado por contradições e pelos conflitos de classe na disputa pela hegemonia” (DOMINGUES, 2017, p.17). O estudo caminha no sentido de não valorizar somente o passado, e sim, admitir que homens e mulheres passem por mudanças, e que sua cultura se constrói de acordo com suas necessidades, expressando os desejos e lutas dos trabalhadores e trabalhadoras das águas e das florestas da/na educação marajoara. Reforça-se esta análise, mailto:deboraelaynne07@gmail.com 103 a partir da discussão proposta por Domingues (2017, p.22), quando nos mostra que, “espaço e tempo são categorias fundamentais da experiência e da percepção humanas, mas longe de serem imutáveis, elas estão sempre sujeitas às mudanças históricas”. As diferentes experiências, hábitos, práticas, valores da cultura dos ribeirinhos estão em conflito com o discurso moderno, a partir das relações culturais do século XVIII. Nesse sentido, Canclini (2003) propõe o conceito de Hibridismo Cultural para “expressar os processos socioculturais nos quais as estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas” (CANCLINI, 2003, p.19). A categoria cultura assume desta forma neste estudo um papel fundamental, no processo de entrelaçamento de construção do conhecimento do ensino formal e informal da população ribeirinha do município de Breves, quando é compreendida como um termo em movimento, que é constituído de disputas, saberes e práticas cotidianas. OBJETIVO(S) A pesquisa tem como objetivo interpretar o funcionamento do discurso e o sentido dos saberes culturais dos ribeirinhos no processo de ensino-aprendizagem do/no município de Breves da Amazônia marajoara dentro do espaço escolar ribeirinho, bem como compreender estes saberes se entrelaçam entre o ensino institucionalizado e o saber cotidiano. METODOLOGIA 104 Metodologicamente adotamos a prática da história oral, que se baseia na arte da escuta do outro, em aprender aquilo que o próximo tem a ensinar, não importando o lugar que ocupa na sociedade, considerando sempre que todos os sujeitos são iguais, e possuem a mesma importância na narrativa dos acontecimentos, pois “quando fazemos uma entrevista invadimos a privacidade de outra pessoa e tomamos seu tempo. Sendo a arte essencial do historiador oral a arte de ouvir” (PORTELLI, 1997, p. 21). A arte de ouvir é então uma função essencial do pesquisador da história oral e da educação, que trabalha não apenas com fontes de informações, mas sim com sujeitos sociais, com linguagem, discurso, memoria que vive em constante movimento. Gostaríamos de destacar que a História Oral tem sido uma das grandes contribuições no estudo das experiências de homens e mulheres em diversos e diferentes setores da sociedade, abrindo um caminho de conhecimento e possibilidades de valorização a grupos sociais até então invisíveis na documentação escrita (AMADO,1995). Por meio da História Oral nos é oportunizado conhecermos de uma forma muito especial sujeitos sociais que vivenciam, experimentam o ser viver ribeirinho diariamente. A oralidade será o principal corpus de análise deste estudo, não em substituição do escrito, mas sim por ser um instrumento de formulação e de construção de memória social, do discurso, como produção de consciências e formulação de referências identitárias dos ribeirinhos da/na cidade de Breves. RESULTADOS PARCIAIS 105 Cultura e Educação sempre foram e serão categorias fundamentais para compreensão das práticas cotidianas e dos sentidos do ensino para o sujeito aluno e sujeito professor. Nesta perspectivapara realizar este estudo nos propomos trabalhar com um referencial teórico da História Social e da Educação, em uma perspectiva discursiva, ou seja da interpretação do discurso, onde seja possível observar o funcionamento do discurso e como este é interpelado pelas questões ideológicas, econômicas e políticas; e desta maneira compreendermos as práticas culturais do passado e o entendimento destas no presente. A partir do corpus de análise que será composto de recortes de narrativas orais de professores e alunos de escolas da Rede Pública Municipal, situada na zona rural do Município de Breves - Pará, que oferece o Ensino Fundamental I e II (Anos Iniciais - 1º ao 5º ano e Finais – 6º ao 9º ano), realizaremos a análise/interpretação do discurso e do sentido de como os saberes cotidianos do sujeito aluno é utilizado dentro da sala de aula pelo sujeito professor, ou seja como o saber institucionalizado, o saber tradicional das matas e das águas são incorporados no saber escolar e vice versa. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste estudo nos propomos a problematizar os saberes dos ribeirinhos e seus usos no ensino institucionalizado, foi partir desta discussão que estas pesquisadoras concluem que o currículo escolar dentro do sistema de ensino formal deve ser um documento norteador para a formalização dos conteúdos a serem desenvolvidos, 106 porém não estático, e sim um espaço de discurso, de memória e de culturas, onde seja possível compreender os diferentes saberes culturais e formas de dizer, aprender, significar e fazer do sujeito aluno. O saber pedagógico e as estratégias de aprendizado devem ser (re)significadas constantemente, pois se diferenciam em cada região brasileira e para cada sujeito aluno, devido as suas especificidades cotidianas, principalmente quando falamos do aluno da Amazônia marajoara que se torna um navegante e caminhante entre matas, rios e igarapés, para frequentar o espaço escolar, encontrando assim o educador desafios na interpretação da linguagem de ensinar e aprender. Dentro dessa dinâmica, observamos que o processo educacional não pode desconsiderar as práticas cotidianas, o saber tradicional dos ribeirinhos, pois no ir e vir das memórias do sujeito aluno o saber se constitui mesclando saberes e essas “hibridações nos levam a concluir que hoje todas as culturas são de fronteira” (CANCLINI, 2003, p.348), é nessa fronteira de saberes entre natureza e cidade, entre formal e não formal que o sujeito aluno adentra no espaço escolar. A escola faz parte do cotidiano do aluno, tornando- se assim um espaço de significância, um espaço de memória, de discurso, que coloca a linguagem, as práticas discursivas em funcionamento se aliando a história e produzindo sentindo; assim destacar os saberes tradicionais, as formas de se viver e fazer entre as matas, os rios e igarapés é uma nova oportunidade de dar vida e sentindo no currículo formal com um verdadeiro aprender. REFERÊNCIAS 107 AMADO, Janaína. A culpa nossa de cada dia: Ética e história oral. Projeto História. São Paulo: PUC-SP, nº 15, 1995. CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas híbridas: estratégia para entrar e sair da modernidade. São Paulo: USP, 2003. DOMINGUES, Andrea Silva. Cultura e memória: A festa de Nossa Senhora do Rosário na cidade de Silvianópolis- MG. Pouso Alegre-MG:UNIVAS, 2017. PORTELLI, Alessandro. Tentando aprender um pouquinho. Algumas reflexões sobre a ética na História Oral. Revista Projeto História. São Paulo: EDUC, n. 10, 1997, p. 21-22. 108 Os aspectos da cultura popular presentes no Auto da Padroeira: Um estímulo à valorização da memória e identidade local ao aluno da educação básica de Abaetetuba-PA Edgar Ferreira CARDOSO Universidade Federal do Pará E-mail do autor principal: professoredgarferreira@gmail.com INTRODUÇÃO Na atualidade, percebe-se que a cultura popular vem sendo subvalorizada graças aos valores impostos pela cultura globalizada (também conhecida como cultura de massa). Esse processo é cada vez mais evidente especialmente nas pequenas comunidades, já que estas não possuem meios econômicos e políticos para sobrepor-se às culturas dominantes, travando assim, uma luta desigual por espaço e afirmação social. Sobre isso, os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) apontam que Em um mundo globalizado em que culturas e processos políticos e econômicos parecem fugir ao controle e ao alcance, a construção de identidades socialmente alicerçadas em conhecimentos organizados nas ciências humanas [...] constitui condição, imprescindível ao prosseguimento da vida social, evitando-se o risco da fragmentação ou da perda de mailto:professoredgarferreira@gmail.com 109 referências existenciais (BRASIL, 1997, p. 245). A partir do exposto, vemos que os aspectos da cultura popular são importantes para a preservação das raízes de uma sociedade, fazendo com que os indivíduos percebam que sua história é importante diante do mundo, contribuindo, dessa maneira, para sua identidade e cidadania. Em relação a cultura popular e os aspectos educacionais, estudos referentes à temática vem constituindo-se de um importante objeto de pesquisa nos meios acadêmicos e, desde que sua importância foi alicerçada neste meio a partir das ideias de Canclini (1989) e Hall (2009), nota-se o crescente número de bibliografias referentes à temática. Vale salientar, ainda, que na educação básica (particular ou pública), para que haja uma conservação dos elementos populares de um determinado local pelas futuras gerações, é necessária uma nova visão dos processos educativos, e que sejam adicionados neste, aspectos históricos e socioculturais do meio em que se está inserido. Por fim, não queremos negar o fato de que estas pessoas não possam ser indivíduos do mundo globalizado, mas sim que possam ser valorizados e conservados, também, os aspectos de sua própria cultura, pois a cultura popular e historicidade regional contribuem no desenvolvimento da individualidade, ao mesmo tempo que promove a coletividade entre as pessoas, pois como afirmam os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1997, É parte da estratégia de autoconstrução e autorreconhecimento, que permite ao 110 indivíduo situar-se histórica, cultural e socialmente na coletividade, envolvendo seu destino pessoal no destino coletivo. Na perspectiva formativa, isso não implica negar a individualidade, mas combate os excessos do individualismo, Frente às imposições de uma economia e de uma rede de informações cada vez mais globalizadas, urge assegurar as identidades territoriais e culturais, não como sobrevivências anacrônicas, mas como realidades sociais constitutivas de sentido vivencial para os diversos grupos humanos. Nesse sentido a História tem um significativo papel a desempenhar na formação dos futuros cidadãos, entendendo-se estes quer como cidadãos de uma nação, quer como cidadãos do mundo (BRASIL, 1997, p. 244). De acordo com o que fora dito anteriormente, enfatizamos que as instituições escolares e profissionais envolvidos precisam se apropriar dos estudos e pesquisas referentes ao assunto proposto para trabalhar de maneira mais inclusiva os aspectos culturais de um determinado local, respeitando a cidadania e identidades locais. Em suma, compreendemos a importância de estudos e pesquisas voltados ao ensino e propagação da cultura popular nos municípios, em especial ao de Abaetetuba-PA, que constitui-se de uma história com características voltadas à preservação dos seus aspectos culturais únicos e peculiares e que, por essa razão, não pode sucumbir aos aspectos marcados pela cultura de massa, demasiadamente presente e crescente em todo o país.111 OBJETIVOS Geral: • Demonstrar como os aspectos da cultura popular presentes no espetáculo religioso e cultural denominado “Auto da Padroeira” podem ser um estímulo à valorização da memória e identidade local ao aluno da educação básica, especificamente aos discentes do ensino fundamental maior, do município de Abaetetuba-PA. Específicos: • Evidenciar o Auto da padroeira como aspecto importante para a valorização e o fortalecimento da cultura local; • Analisar a partir dos aspectos da cultura popular inseridos neste espetáculo, de que forma este pode contribuir para a formação dos alunos da educação básica, especificamente aos discentes do ensino fundamental maior; • Estimular os discentes do ensino fundamental maior, demonstrando a importância da valorização da memória, identidade da cultura local para sua formação sócio-educacional. METODOLOGIA A proposta teórico-metodológica deste trabalho utilizar-se-à de observações do fenômeno social presente no campo da cultura popular, no festejo artístico, cultural e religioso denominado “Auto da Padroeira”, e de como este evento pode ser relacionado e envolvido no campo 112 educacional. Para isso, faremos uso de uma pesquisa qualitativa que, de acordo com Lima (2004), tem como objetivo explicar aspectos da realidade, identificando problemas, formulando hipóteses, avaliando e aperfeiçoando soluções alternativas com a intenção de contribuir para o aprimoramento dessa realidade como objeto de investigação. Assim, primeiramente será realizado um levantamento bibliográfico de trabalhos e estudos referentes à temática abordada, que é definida, de acordo com Lima (2004, p. 38), como “a atividade de localização e consulta de fonte diversas de informação escrita orientada pelo objetivo explícito de coletar materiais mais genéricos ou mais específicos a respeito de um tema". Posteriormente, será desenvolvida uma pesquisa de campo, onde serão realizadas observações diretas, seguido de aplicação de questionário e entrevista com os colaboradores, criadores e personagens históricos importantes da manifestação em questão. Concordamos com Lima (2004) quando afirma que este tipo de investigação busca a compreensão dos fatos e variáveis de uma pesquisa, exatamente onde, quando e como eles ocorrem. este tipo de levantamento correspondente à dados de observação, análise e interpretação dos fatos e fenômenos no ambiente onde a pesquisa foi realizada. Por fim, as informações obtidas mediante observações e aplicabilidade da pesquisa serão analisadas, interpretadas e apresentadas no decorrer do estudo. RESULTADOS E DISCUSSÃO 113 Quando se fala em cultura popular, percebemos que muitas pessoas remetem o termo às manifestações urbanas (já consagradas como manifestações folclóricas). No entanto, a cultura popular não limita-se apenas a estes estereótipos, visto que, podemos citar diversos comportamentos que ocorrem no cotidiano das pessoas como os ditos populares, jogos e brincadeiras, a culinária, os meios de saudações entre as pessoas, manifestações artísticas, etc. Bem como no conceito de cultura geral, diferentes autores apresentaram diferentes concepções críticas a respeito do conceito de cultura popular, realizados no século passado, entre eles Canclini (1989) que defende a desconstrução do conceito de popular para que possa ser reconstruído posteriormente. No entanto, o autor ressalta que essa nova visão não deve ser vista por apenas uma ou outra disciplina das ciências sociais, como a sociologia, mas sim, por todas elas. Desse modo, reiteramos que a união entre educação e cultura popular é importante no sentido de valorizar os aspectos históricos e a memória de cada sociedade. O auto da Padroeira é uma manifestação de fé cristã organizada pelos artistas de Abaetetuba e idealizado pela professora Neusa Rodrigues, que envolve as mais diversas representações artísticas e abarca os mais diversos campos da sociedade, como escolas, grupos folclóricos, escolas de samba, grupos religiosos, entre outros. O interesse pelo tema em questão parte da experiência e observações no período da graduação no curso Licenciatura em Letras – Língua Espanhola da Universidade Federal do Pará (UFPA), o que nos levou a constatar que existe na cultura popular um enorme e 114 essencial instrumento de afirmação dos aspectos da vida cidadã, além de mostrar como os diversos povos estudados valorizam a sua identidade, história e cultura. Outro ponto importante para a escolha da temática em questão é que as comunidades católicas, grupos folclóricos e líderes de diversas denominações religiosas elaboram na noite do Auto em homenagem à padroeira do município, espetáculos que envolvem diversos tipos de manifestações artísticas (teatro, dança, poesia, entre outros) que envolvem as características da cultura local. Por fim, a partir das observações enquanto educador, percebemos a necessidade de verificar a possibilidade da inserção da cultura popular abaetetubense (em especial a história e cultura presentes no Auto da Padroeira) na integração do currículo da educação básica municipal, visando a preservação e a valorização da cultura popular local, contribuindo assim para o fortalecimento da identidade e cidadania dos envolvidos. A pesquisa em questão tem um prazo de início e finalização de dois anos, onde o primeiro será voltados ao cumprimento das disciplinas propostas na matriz curricular do Programa de Pós-Graduação em Educação e Cultura (PPGEDUC), além de levantamentos e leituras de material bibliográfico. A partir disso, serão realizados levantamentos, pesquisas históricas e entrevistas a respeito da manifestação artístico religiosa e sua aplicação no ensino fundamental maior da cidade de Abaetetuba-PA. OLHARES (IN)CONCLUSOS De acordo com o que foi apresentado, vimos que a cultura popular vem sendo subvalorizada pela cultura de 115 massa especialmente nas pequenas comunidades e que a manifestações populares são importantes para a preservação das raízes de uma sociedade, pois fazem com que os indivíduos percebam que sua história também é importante. Com o andamento das pesquisa e discussões acerca da temática, esperamos discorrer sobre os conceitos de cultura popular e como este é confundido com o folclore e como os conceitos se relacionam; apontar estudos que reiteram a importância da inserção da cultura de um povo para a construção da identidade dos alunos da educação básica, em especial aos discentes do ensino fundamental maior e como estas características possam ser convertidas uma importante ferramenta no processo de ensino- aprendizagem do aluno já que vivemos numa sociedade com diversas culturas e etnias. Em suma, espera-se de acordo com o andamento das pesquisas evidenciar, a partir das investigações que serão realizadas, que o aluno do ensino fundamental maior (6° ao 9° ano) possa se (re)conhecer enquanto agente transformador do meio em que vive e, a partir do contato com sua história e, ao mesmo tempo, se aproprie da mesma e a transforme. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, DF, 1997. CANCLINI, N. Culturas híbridas. São Paulo, Edusp, 1989. 116 HALL, Stuart. Da Diáspora: Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte: Humanitas, 2009. LIMA, Maria do Socorro Lucena. Entre o escrito e o vivido. 2a ed. rev. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2004. 117 Contribuições dos estudos da educação básica: histórias em imagens como forma de olhar para escola pública e seus desafios Glasiely Virgilio SILVA Secretaria da Educação do Estadode São Paulo – SEE/SP E-mail do autor principal: glasiely.virgilio@gmail.com INTRODUÇÃO A escola como objeto de estudo aborda conhecimentos educacionais e históricos. Nas investigações sobre sua história constatamos que a instituição escolar foi inaugurada como o segundo Grupo Escolar (GE) de Valinhos – denominação da escola em 1966, atualmente conhecida como Escola Estadual Professor José Leme do Prado – e em suas relações no ensino público paulista, nos deparamos com muitos desafios relativos às fontes de pesquisa. A partir dos processos históricos construídos ao longo de sua trajetória, a história da instituição escolar aqui apresentada revela uma relação dialética entre o vivido e a interpretação do passado. Por meio do conceito da narrativa articulado ao conceito de memória na concepção benjaminiana de rememoração, na qual Benjamin “nos oferece um dado conceito de memória, capaz de ampliar a dimensão de ser sujeito”, potencializando “a visão de produção de conhecimentos, entrecruzando diferentes espaços, diferentes temporalidades, diferentes sujeitos, diferentes mailto:glasiely.virgilio@gmail.com 118 visões do mundo” (GALZERANI, 2008a, p. 21). Sendo que, a experiência concebida pela transmissão de saberes entre as gerações, na relação do narrado com o vivido, não existe sem a memória e sua vinculação com a temporalidade. “Por sua vez, a recuperação da memória benjaminiana pressupõe a narrativa das experiências vividas entre diferentes gerações” (GALZERANI, 2008b, p. 230). OBJETIVO(S) Entre a memória e a história as autoras Schueler e Magaldi (2009), externam que o pesquisador da educação, deve sempre problematizar e até desconstruir, na sua operação historiográfica, no diálogo e confronto permanente entre a empiria e os instrumentos/categorias teóricas de compreensão de uma dada realidade histórica. Com uma das perspectivas da História Cultural em relação à memória, “próprias do jogo de construção/reconstrução de memória, lembranças e esquecimentos, luzes e sombras, estas representações em disputa permanecem circunscritas ao âmbito das clássicas análises diagnósticas e prognósticas” (SCHUELER; MAGALDI, 2009, p. 33). O segundo GE de Valinhos representava um dos símbolos da identidade local, referência importante no bairro e na cidade na década de 1960, e, portanto, representação de um espaço/tempo vivido. Entendemos esta instituição escolar “como espaço de expressão das relações dos sujeitos históricos com a temporalidade, a cultura, a história, a memória e os processos de identificação” (FERREIRA, 2015, p.19), no cenário sociocultural de Valinhos. 119 METODOLOGIA Nesse sentido, privilegiamos como categoria de análise a trajetória desta história e da memória, a partir de seus elementos fundamentais: o tempo, o espaço, a materialidade escolar, os conhecimentos escolares, os métodos de ensino e disciplinamento dos sujeitos escolares, suas sensibilidades, seus conflitos e valores. Seguindo o exemplo de (CERTEAU, 1998, p. 98) “para dar conta dessas práticas, recorri à categoria de trajetória”. Portanto, a abordagem metodológica para o desenvolvimento deste estudo, de caráter qualitativo, é a História Oral, metodologia de pesquisa que privilegia os testemunhos não escritos, as fontes não hegemônicas e, ao mesmo tempo, dialoga com uma multiplicidade de outras fontes, como as escritas, as iconográficas e inclusive com os documentos oficiais. Algumas entrevistas foram realizadas ao longo da pesquisa ampliando a compreensão do objeto estudado. Ao selecionar fatos e formalizar interpretações devemos ter consciência de que são mutáveis e condicionáveis aos contextos nos quais se movimenta. Entre fontes documentais, memórias, histórias vividas e narrativas, está a cultura local produzindo suas reinvenções, seus silêncios e saberes. Assim, este movimento de análise e construção de uma das possíveis versões da história da escola, reverbera, sobretudo por meio das vozes dos seus ex- alunos, e procura ser um espaço privilegiado de fontes e registros de um saber, proveniente de experiências vividas e ressignificadas pelos sujeitos. Por esse ângulo, a escola é um espaço vivido permeado por muitas vozes em diferentes 120 tempos, e sua narrativa é um convite para novos olhares, versões e leituras da história local. RESULTADOS ALCANÇADOS De acordo com Burke (2004) o significado das imagens é ampliado pelo contexto em está inserido, são representações e tornam-se testemunhos de uma época e documento histórico quando revela valores, costumes, sentimentos de um certo período. O pesquisador necessita ler nas entrelinhas, observar os detalhes, perceber as ausências, “usando-os como pistas para informações que os produtores de imagens não sabiam que eles sabiam, ou para suposições que eles não estavam conscientes de possuir” (BURKE, 2004, p. 236-238). Analisar a história da escola a partir de fotografias pressupõe a busca de indícios, para refletir sobre como as práticas foram se constituindo na escola estabelecendo novos comportamentos e percepções sociais. A fotografia na temática escolar envolve a imagem produzida pela escola e sobre a escola, abrangendo os prédios e as atividades ali desenvolvidas, mas fundamentalmente as fotografias estabelecem uma relação de identificação entre o aluno, a sociedade e a escola. Diante disso, Kossoy aponta que a utilização das imagens, principalmente a fotografia na área da educação permite a leitura dos indícios, pois “toda fotografia é um resíduo do passado” (KOSSOY, 1995 p. 45). Um artefato que serve de fonte histórica para historiadores, cientistas sociais e outros estudiosos de “diferentes vertentes de investigação, disso resultando uma retroalimentação continua de informações, na medida que consideramos a interdisciplinaridade das abordagens” (KOSSOY, 2007 p. 35). 121 Em tal caso, os primeiros alunos da escola que tiveram sua formatura, missa e colação de grau em 19 fevereiro de 1976, encerrando pela primeira vez o ciclo de conclusão de curso de oito anos, a partir desta data trilharam seus caminhos. Mas as memórias são inquietas e um conjunto de fotografias foram encontradas em 2015, neste montante havia três fotos específicas da formatura entre outras que deram início a pesquisa com as entrevistas. Essas imagens foram disparadoras de memórias para os ex- alunos. Percebemos que o uso da fotografia apresenta problematizações, mas também agem como “testemunhas de etapas passadas do desenvolvimento do espírito humano”, objetos “através dos quais é possível ler as estruturas de pensamento e representação de uma determinada época” (BURCKHARDT apud BURKE, 2004, p. 13). CONSIDERAÇÕES FINAIS As imagens servem de elementos constitutivos da narrativa histórica, em relação a rememoração como disparadores da memória, suporte e meio de conhecimento, por esse motivo os “registros visuais que gravam micro aspectos dos cenários, personagens e fatos; daí sua força documental e expressiva, elementos de fixação da memória histórica individual e coletiva” (KOSSOY, 2007, p. 35). Portanto, para a reconstrução histórica “constituem valiosa contribuição para recuperação das informações, pela força documental” (KOSSOY, 2007, p. 41). No diálogo com a História Cultural, as trajetórias históricas dos ex-alunos representados nas fotografias, potencializaram novas leituras sobre os espaços vividos. Essa perspectiva 122 considera a construção e reconstrução de experiências, como também os processos de recepção e os significados partilhados pelos grupos sociais. REFERÊNCIAS BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Tradução Vera Maria Xavier dos Santos; revisão técnica Daniel Aarão Reis Filho. Bauru, SP: EDUSC, 2004.CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 3º ed. Petrópolis: Vozes, 1998. FERREIRA, Marcia Regina Rodrigues. História, memória e educação das sensibilidades: o processo de patrimonialização da Casa Lambert de Santa Teresa-ES. 2015. f. 190. Dissertação (Mestrado em Educação). Centro de Educação. Universidade Federal do Espírito Santo, Espírito Santo, 2015. GALZERANI, Maria Carolina Bovério. Memória, tempo e História: perspectivas teórico-metodológicas para a pesquisa em ensino de história. In: Cadernos CEOM, n. 28, Chapecó, SC: Unochapecó, 2008a. ______. O historiador e seu tempo: A produção dos saberes históricos escolares: o lugar das memórias. São Paulo: Unesp. 2008b. p. 223-235. KOSSOY, Boris. Fotografia e História. São Paulo: Ática, 1995. 123 ______. Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo. São Paulo: Ateliê Editorial, 2007. SCHUELER, Alessandra Frota Martinez de; MAGALDI, Ana Maria Bandeira de Mello. Educação escolar na Primeira República: memória, história e perspectivas de pesquisa. Tempo, Rio de Janeiro, v. 13, n. 26, p. 32-55, 2009. 124 Inovações no Ensino Médio Modular: saberes linguageiros e prática pedagógica Gleno dos Santos BATISTA Universidade Federal do Pará Doriedson do Socorro RODRIGUES Universidade Federal do Pará E-mail: glenosantosbatista@gmail.com INTRODUÇÃO Este trabalho traz reflexões sobre a questão de inovação em educação, para assim, analisar o Ensino Médio Modular-SOME, no município de Cametá-Pará, com o intuito de compreender como essa modalidade de ensino vem assegurando o direito ao acesso do Ensino Médio nas zonas rurais e propor processos de integração de saberes das práticas linguageiras e conhecimentos curriculares, tendo em vista uma educação emancipadora que valorize a riqueza de sabres em termos de linguagem e contexto de fala. OBJETIVOS Este trabalho tem por objetivo expor o levantamento teórico e de documentos oficias para discutirmos a questão da inovação em educação, para então, construir analises sobre as formas e condições em que o Ensino Médio Modular está sendo ofertado para a população das zonas mailto:glenosantosbatista@gmail.com 125 rurais. Logo propomos que as análises partam da integração de saberes das práticas linguageiras com os conhecimentos das práticas pedagógicas no Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME. METODOLOGIA Em termos metodológicos, a presente pesquisa se configura como qualitativa na perspectiva do materialismo histórico dialético, fundamentada nos principais autores que discutem as categorias abordas nesta produção, dentre eles desacam-se: Saviane (1980) Habermas (2012); documentos oficias como Pará (2014). RESULTADOS E DISCUSSÃO Inovação em educação e Ensino Médio Modular A inovação em educação tem sido objeto de estudo de diferentes correntes de pesquisa, bem como, tema dos principais assuntos em debates e palestras, no que diz respeito à discussão acerca do conceito de inovação. Com base em um estudo histórico em filosofia da educação o teórico Dermeval Saviani (1980) em seu texto intitulado: “A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO E O PROBLEMA DA INOVAÇÃO EM EDUCAÇÃO”, problematiza as concepções de inovação decorrentes das concepções filosóficas, dentre elas destaca-se a concepção dialética. A concepção dialética, “se recusa a colocar no ponto de partida determinada visão de homem. Interessa- lhe o homem concreto, isto é, o homem como síntese de múltiplas determinações, vale dizer, o homem como 126 conjunto de relações sociais” (SAVIANI, 1980, P. 22). Trata-se de uma concepção revolucionária, em que o homem é tido como resultado de suas relações sociais, onde o problema do processo educacional é identificado e compreendido em seu percurso e contexto histórico. Nessa perspectiva a concepção dialética defende, que inovar significa mudar a educação desde sua estrutura base. Inovar é colocar o processo de educação a serviço da sociedade, dessa forma, a inovação em educação não se restringe apenas em alterar seja superficial, essencialmente ou introduzir aos métodos tradicionais novas formas de educar, inovar é reformular a educação no que concerne sua finalidade, deixando-a a disposição da evolução e revolução humana, buscando, dessa forma, resolver os problemas que afetam o processo educacional, bem como exercer o seu papel de mudança social. Com base nos pressupostos apresentados no que concerne as perspectivas da Concepção Dialética, busca-se analisar o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, enquanto lei, finalidade, currículo e forma de funcionamento, bem como, esboçar processos formativos integrado e comprometido com a formação humana. O Sistema Modular de Ensino – SOME constrói-se em 1980, porem é somente em abril de 2014, que a Lei Estadual nº. 7.806 dispôs a regulamentação e funcionamento dessa modalidade de ensino. Esse documento trata ainda sobre os objetivos sob qual se deve ater essa modalidade de oferta de nível médio, que garante “[...] aos alunos acesso à educação básica e isonomia nos direitos, assegurando a ampliação do nível de escolaridade e a permanência dos alunos em suas comunidades, 127 observando as peculiaridades e diversidades do Pará”, Pará (2014, p. 5). Contudo, para que esse sistema funcione, os desafios são muitos, desde sua infraestrutura física de funcionamento, que em muitas localidades são levados a buscar alternativas, como a utilização de barracões das comunidades como salas de aula, e quando necessário, até as arvores servem para abrigar os alunos e professores. São situações fruto de descumprimento de parcerias entre o estado e o município, que antes fora estabelecido, mas que não se materializa concretamente. Os desafios então do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, é promover nessa educação processos formativos da educação do campo, da floresta e das águas, no que se refere aos procedimentos de ensino, as avaliações e nas perspectivas curriculares, elementos que busquem na vida das comunidades, formas de representar os processos educativos que potencializem metodologias docentes, capazes de trazer da realidade vivida pelos alunos, elementos que possam desenvolver e se vincular no sistema educacional, fazendo da realidade mecanismos com evidências mais claras ao entendimento do estudante. Portanto, só é possível desenvolver um Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, na perspectiva de uma educação que integre, quando os processos educacionais estiverem presentes na vida das comunidades, ou seja, quando de fato, exista um currículo formulado com o propósito de formar com respeito as diversidades culturais e a vida dos sujeitos da zona rural. Ao fazermos isso, pedimos que a escola primeiro olhe para a realidade e depois elabore os processos formativos, que tragam como 128 referência os povos de comunidades tradicionais (campo, floresta e águas) e suas particularidades. Saberes linguageiros e prática pedagógica Ao se falar da inovação em educação e sobre o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, constata-se que um conjunto de medidas precisam ser tomadas, porém destacamos a primazia do papel do professor, no que tange suas práticas pedagogias, na promoção da integração dos sabres das práticas linguageiras de jovens estudantes trabalhadores, atendidos pelo Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME. Para compreendermos, com exatidão esse processo de integração, faz-se necessário conhecermos alguns termos de práticas linguageiras. Por muitos anos a língua era vista como um sistema de código fechado guiado por regras e normatizações, no entanto com os avanços nos estudose pesquisas, a língua, segundo Charlot (2000), na perspectiva da linguagem não é apenas um conjunto de palavras e um sistema sintático, mas também uma cultura, um conjunto de costumes sociais, valores e saberes. O que se diz numa língua é também uma certa maneira de viver, de entender o mundo, de relacionar- se com os outros e consigo mesmo. Ou seja, a língua é considerada um conjunto de palavras, um sistema lexical e sintático e a linguagem é a prática que pode dar novos aspectos para a língua, é uma espécie de materialização da língua, mas que não se restringe a própria. Para essa materialização da língua que constitui o processo de linguagem dar-se o nome de prática linguageira. A palavra "linguageira" é o feminino de 129 “linguageiro” que significa relativo a linguagem, é um termo utilizado pelos pesquisadores por questões teóricas. De acordo Bronckart (1996, p. 101), a ação linguageira [...] recebe duas definições que correspondem a dois pontos de vistas distintos: sociológico (“parte da atividade linguageira do grupo, delimitada pelo mecanismo geral das avaliações sociais e imputada a um organismo humano singular”) e psicológico (“o conhecimento, disponível no organismo ativo, das diferentes facetas de suas próprias responsabilidades na interação verbal”). Observa-se que a atividade linguageira segundo a concepção de Bronckart (1996) é definida a partir de duas visões, uma está no plano sociológico em que a atividade linguageira está vinculada a um determinado grupo social e é atribuída a um ser, um sujeito; e psicológico vinculado a um conhecimento singular do indivíduo utilizado no processo de interação verbal. Para Habermas (2012), o agir comunicativo acontece nos eixos cultural, social e subjetivo diversos nos quais os sujeitos buscam reconhecer-se na sua individualidade e, ao mesmo tempo, como um ser coletivo que se comunica e interage com seus pares. Percebe-se, que por meio da prática linguageira o sujeito revela muito de sua cultura – identidade, costumes, valores e trabalho; sociedade – pertença social; personalidade – expressa emoções, sentimentos, exibi seu modo de agir, pensar e opinar. Observa-se que cada indivíduo pertencente a um determinado grupo social e a uma comunidade de fala que recebe influências desse meio e revela em sua ação 130 linguageira aspectos característicos e específicos desse meio, que dar-se o nome de saberes da praticas linguageiras que envolve a linguagem em si, o meio que contribui para sua formação e realização. Entende-se que os jovens estudantes trabalhadores atendidos pelo Ensino Médio Modular – SOME, possuem saberes das práticas linguageiras, que são peculiares a sua comunidade de fala e que precisam ser identificadas e valorizadas em sala de aula por meio das práticas pedagógicas, para que esse discente seja formado por uma educação dialética que, segundo Saviani (1980), tem o homem como síntese de suas múltiplas determinações, como um conjunto de suas relações interpessoais no meio em que vive, dessa maneira a educação deve ser revolucionaria e inovadora, que esteja a dispor da evolução humana. Para tanto, faz-se necessário a elaboração de práticas pedagógicas que estabeleça uma relação com o meio social dos discentes, promovendo desse modo a integração no processo de ensino e aprendizagem. CONCLUSÕES Em virtude do exposto observa-se que esta produção traz importantes reflexões e discussões teóricas sobre definições e concepções de inovação em educação, para pensarmos na integração de saberes das práticas linguageiras com os conhecimentos das práticas pedagógicas no Ensino Médio Modular - SOME, no município de Cametá-Pará, bem como, a partir de documentos oficiais, analisar como essa modalidade de ensino vem assegurando, o direito ao acesso do Ensino Médio nas zonas rurais. 131 Tendo em vista a noção de educação que integre o sujeito de comunidades e povos tradicionais distantes dos centros urbanos, o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME pautado pela lei n° 7. 806/2014 oportuniza o acesso à educação de Ensino Médio no meio rural, no entanto, por mas que a lei ampare a noção de educação que integre, na prática essa modalidade de ensino assume uma postura das propostas curriculares das escolas urbano- cêntrica. Portanto, este trabalho reflete sobre a importância do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME trazer como processos formativos a perspectiva de educação dialética (revolucionária), utilizando como potência para as práticas pedagógicas o reconhecimento dos saberes das práticas linguageiras dos sujeitos atendidos pelo SOME, para que, desse modo, cumpra-se o previsto por lei, o exercício de uma educação que valorize e potencialize a riqueza de saberes sociais que abrange diversas vertentes dentre elas a linguagem. REFERÊNCIAS BRONCKART, J.P. Atividade e linguagem, textos e discursos: Por um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: Educ, 1999/1997. CHARLOT, B. Práticas linguageiras e fracasso escolar. Estilos da Clínica, v. 5, n. 9, p. 124-133, 1 dez. 2000. HABERMAS, J. Teoria do agir comunicativo: sobre a crítica da razão funcionalista. Tradução de Flávio Beno 132 Siebeneichler. 1º ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. 2 v. PARÁ. Lei nº. 7.806, de 29 de abril de 2014. Dispõe sobre a regulamentação e o funcionamento do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, no âmbito da Secretaria de Estado de Educação – SEDUC, e dá outras providências. Diário Oficial do Estado do Pará. Belém, PA, 30 abr. 2014. Cad. 1, pp. 5-6. 133 Mídia e Educação: Uma Análise de Práticas Pedagógicas na Construção da Representatividade e do Protagonismo Juvenil Periférico Joyce Raphaelly Modesto da COSTA Faculdade Maurício de Nassau - UNINASSAU Milene Vasconcelos Leal COSTA Faculdade Maurício de Nassau – UNINASSAU E-mail do autor principal: joyceraphaelly@gmail.com INTRODUÇÃO As mídias, juntamente com as demais instituições, são agentes de socialização que podem influenciar nossas ações, elas moldam nossos padrões, valores, normas de comportamento, também nos auxiliam na formação de opiniões e na organização de nossas vidas e ideias, servindo também como referência identitária, ou seja, elas agem simultaneamente em nossa formação moral e cognitiva. Portanto, precisamos enxergar as mídias como espaços educativos, onde a sociedade constrói uma nova forma de fazer cultura. E por serem espaços onde se produz cultura, há uma reciprocidade (uma troca constante) de mensagens, de códigos e saberes, informações que são negociadas entre seus usuários. Sendo assim, as mídias possuem um potencial pedagógico, pois elas falam com alguém, proferem ideias, conteúdos que têm intenção de divulgar e mailto:joyceraphaelly@gmail.com 134 transmitir conhecimento, elas são repletas de habilidades e competências. A escola é uma das instituições responsáveis pela socialização de informações, e aliada às mídias, podem promover mudanças no contexto escolar e social. O acesso às mídias dentro da escola estimula a criatividade, a percepção sobre a necessidade de buscar novos conhecimentos. A educação midiática levanta questionamentos, analisa narrativas, conecta ideias, levando o educando a fazer relações e elaborações pessoais sobre a sua realidade, compartilhando-as em sala de aula, portanto, ressignificando o processo de ensino- aprendizagem. Segundo Setton (2010. p. 23-24): [...] o aprendizado das gerações atuais se realiza pela articulação dos ensinamentos das instituições tradicionais na educação – família e escola (entre outras) – com os ensinamentos das mensagens, recursos e linguagens midiáticos.A educação contemporânea está vivendo um conjunto de transformações que influenciam a natureza de nossas relações pessoais e sensibilidade e, consequentemente, passam a condicionar as instituições que regulam nosso aprendizado, nossa formação cognitiva, afetiva, psicológica, portanto, nossas percepções sobre o mundo. A escola aliada às mídias pode dar sentido ao mundo dos educandos, tornando-os seres autônomos, críticos, politizados, empoderados. Ou seja, juntas, elas abrem espaço para uma aprendizagem mais significativa. E é dentro deste intercâmbio de sentidos entre a escola e as 135 mídias, que nasceu o projeto Cine Clube TF, sobre o qual, nesta pesquisa, iremos fazer uma análise de suas práticas pedagógicas que servem como base na construção da representatividade e do protagonismo juvenil periférico, dos alunos de uma escola pública, localizada no bairro da Terra Firme, periferia de Belém-PA. Para dar início ao projeto a professora Lília Melo (professora de Língua Portuguesa) reservava alguns minutos das suas aulas para a sondagem oral, uma roda de conversa, para saber como os seus alunos se identificavam dentro do contexto socioeconômico e político do bairro. Aos poucos foi percebendo que aqueles que exerciam uma maior interação em sala de aula, eram os que praticavam ou tinham contato com alguma forma de arte fora do ambiente escolar. A professora usava a fala dos mesmos para lançar inquietações e provocar reflexões, questionando-os se a arte que eles praticavam poderia intervir de forma positiva e mudar a realidade da comunidade, e depois lançava a proposta de unir esses talentos. Foi necessário montar Grupos de Trabalho, onde os alunos foram inclusos conforme sua aptidão artística. São coordenados pelos próprios alunos, eles têm autonomia para criar conteúdo, elaborar as apresentações, montar os saraus, tudo de forma articulada entre os Grupos de Trabalho. Todas as produções são com o intuito de proporcionar o reconhecimento e a valorização da identidade sociocultural afro, indígena e ribeirinha, as quais são expressivas dentro da comunidade, e a quebra de estereótipos negativos criados pelas grandes mídias sobre o cotidiano da periferia. Entre os Grupos de Trabalho o eleito mais importante pelos alunos é o do audiovisual, que reúne todo 136 o conteúdo produzido, transformando-os em clipes, documentários e filmes de curta-metragem, que são enviados/postados nas redes sociais e nas plataformas digitais, difundindo a arte produzida pelos Grupos de Trabalho, com isso, fortalecendo uma cultura de resistência e um senso de pertencimento nos alunos e na comunidade. OBJETIVOS Geral • Analisar as práticas pedagógicas utilizadas dentro do Projeto Cine Clube TF, que têm as mídias como agentes socializadores da educação e como espaço educativo de formação, onde a leitura de mundo, os diálogos, reflexões e o intercâmbio de sentidos, são bases para a construção da representatividade e do protagonismo juvenil periférico Específicos • A importância das mídias atualmente; • Compreender que escola aliada às mídias podem promover mudanças no contexto escolar e social. METODOLOGIA O trajeto metodológico iniciou-se a partir do levantamento bibliográfico e documental, em seguida com a pesquisa de campo, para conhecer mais sobre o Projeto Cine Clube TF e vivenciar suas práticas pedagógicas, que têm as mídias como agentes socializadores da educação e como espaço educativo de formação, onde a leitura de mundo, os diálogos, reflexões e o intercâmbio de sentidos, 137 são bases para a construção da representatividade e do protagonismo dos educandos. RESULTADOS E DISCURSSÃO O projeto Cine Clube TF nos apresenta propostas de práticas pedagógicas necessárias à educação, como forma de construir a autonomia nos estudantes, sempre valorizando e respeitando sua cultura e seu acervo de conhecimentos empíricos. Sendo assim, o Projeto já nasceu alinhado à nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), pois as competências estabelecidas na Base entrelaçam-se com as práticas pedagógicas do projeto. Então, já não é um projeto voltado apenas para as aulas de Língua Portuguesa, é um projeto que atravessa as demais disciplinas, pois através dos seus Grupos de Trabalho, o conhecimento é mobilizado, as habilidades, atitudes e os valores que são imprescindíveis para resolver as demandas complexas da vida cotidiana. O Cine Clube TF valoriza a autonomia do estudante, estimulando-o a exercer sua plena cidadania, para transformar a sociedade na qual ele está inserido. CONCLUSÕES A presente pesquisa mostrou a importância da atuação do projeto Cine Clube TF no bairro da Terra Firme. O projeto que aponta para uma pedagogia social, e através das mídias conseguiu uma nova articulação entre escola e comunidade, que vai na contramão da violência ressignificando a periferia, recontado sua história, quebrando os estereótipos negativos que outrora rotulavam 138 o bairro. Um projeto que dialoga com a comunidade, que valoriza a troca de saberes e o intercâmbio de sentidos. O Cine Clube TF encontrou na arte e na mídia os pilares para imprimir no coração dos educandos e da comunidade o sentimento de pertencimento, representatividade e protagonismo. REFERÊNCIA BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Médio. Brasília: MEC/Secretaria de Educação. SETTON, Maria Graça. Mídia e Educação. São Paulo: Editora Contexto, 2010, versão digitalizada. 139 Os principais marcos do percurso histórico de constituição da mulher como profissional docente da educação Juliane Sanches SILVA Universidade Federal do Pará Andrea Silva DOMINGUES Universidade Federal do Pará/PPGEDUC/PROCAD- Amazônia CAPES E-mail do autor(a) principal: juhsanches05@gmail.com INTRODUÇÃO O texto aqui apresentado é um recorte da pesquisa de mestrado intitulada Gênero, Educação e Discurso: Educação do Campo na Amazônia Marajoara, que vem sendo desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Educação e Cultura, da Universidade Federal do Pará, especialmente na linha de pesquisa Culturas e Linguagens. Entendemos que em função de nossa sociedade ser orientada pelos pressupostos do patriarcado, o silenciamento e a invisibilidade da mulher são estratégias de manutenção da subalternidade feminina, pois como afirma Michelle Perrot (1988) o feminino foi construído historicamente no mundo ocidental sob a ótica do masculino, cujo olhar definiu os lugares que a natureza de cada gênero permitiria ocupar: o espaço público para os homens e o privado, como condição de submissão, para as mulheres. Enquanto aos homens caberia definir o rumo da mailto:juhsanches05@gmail.com 140 humanidade, às mulheres restaria o silêncio reservado à sua posição como espectadoras da história. Na tentativa de romper com essa realidade que cada vez mais tem se tornado essencial conhecer a história das mulheres como sujeitas ativas na sociedade, já que elas constituem discurso, memória e histórias. Segundo Louro (1997, p.25), deve-se buscar através do conhecimento de uma “trajetória histórica específica construir o lugar social das mulheres”, para isso o presente texto aborda a problemática da inserção da mulher na educação brasileira como profissional docente, pois almeja com este estudo auxiliar na construção de outros discursos sobre e a mulher. OBJETIVOS Temos, assim, por objetivo historicizar o sujeito mulher como trabalhadora da educação, abordando apenas os principais marcos dessa trajetória. Procuramos ainda, descrever de que forma se deu sua entrada no mercado de trabalho brasileiro; evidenciar os principais marcos históricos desse processo e identificarcomo as transformações e políticas educacionais que surgiram ao longo da educação brasileira modificaram o perfil dessa trabalhadora e suas condições de trabalho. METODOLOGIA Quanto à metodologia adotada, o estudo segue pelo viés da abordagem qualitativa, por lidar com um objeto apreendido no ambiente natural e não ser possível reduzi-lo a padrões fixos (MINAYO, 2001). O corpus de análise será composto por narrativas orais e documentos oficiais, além 141 de um levantamento realizado na base de dados de periódicos Capes. RESULTADOS E DISCUSSÃO A presença da mulher na escola, como profissional da docência resulta de um histórico processo que se deu de forma lenta e conflitiva em conformidade com a organização, social, política e econômica de nosso país. Essa inserção representou à mulher um importante passo na busca da emancipação feminina. Daí dizer que a educação escolar e o trabalho docente são instrumentos de fortalecimento da mulher como sujeita1 histórica. Essa situação excludente relegada a mulher passou a se transformar a partir de um processo de inserção da mesma na educação, inicialmente como aluna, ocasionado pela permissão concedida através das transformações sociais resultantes das reformas pombalinas. Nesse sentido, a mulher passa a frequentar a escola e por consequência torna-se necessária como profissional. Nos Anos de 1827 foi elaborado o Decreto Imperial que trata da primeira Lei Geral relativa ao Ensino Elementar, Decreto de 15 de outubro de 1827, outorgado por Dom Pedro I na tentativa de regular a educação brasileira e a docência como profissão. Assim, o referido decreto em seus Art. 6 e 11 são definidas as incumbências de professores e mestras. 1 Adotar o termo sujeita é fundamental para questionar a submissão feminina, que vai muito além da diferença de sexos, é fruto de um projeto societal que invisibiliza a mulher em todas as dimensões, inclusive com o uso de uma gramática masculinizada. 142 Somente em 1946 passou-se a observar legalmente a presença feminina no magistério, quando ocorreu a formalização do ensino e do currículo através da Lei Orgânica do Ensino Normal - Decreto n° 8530/46. Neste decreto observamos princípios básicos da profissão docente que vão desde a formação profissional, o currículo e a administração escolar, além de contemplar outras questões como a organização dos tipos de Ginásios de Educação Normal referente a cada ciclo, a concessão de bolsas com critérios específicos de atuação em zonas em que há a carência de docentes como compromisso para a concessão do beneficio e o favorecimento ao setor privado visando o lucro. (BRASIL, 1946). Nesse contexto, as mulheres passaram a compor a maior parcela de estudantes das Escolas Normais fato que ocorreu em todas as províncias. Os homens aos poucos abandonaram à docência, esse abandono deu-se devido à industrialização e, por consequência, o surgimento de novos postos de trabalhos, com salários mais atrativos que do magistério, esse processo de abandono originou e fortaleceu a feminização do magistério. (LOURO, 1997). O magistério nessa dinâmica passou a representar uma extensão da maternidade, pois dessa forma à docência não corromperia a função fundamental da mulher, isto é, ser esposa e mãe, além de justificar a saída dos homens da sala de aula. A partir da difusão desse discurso passa-se a associar ao magistério características tidas como femininas ligadas a tradição religiosa da atividade docente surgindo a ideia de sacerdócio (FREIRE, 2011). Ao longo da segunda metade do século XIX, foi construído um perfil social da professora do magistério, composto por algumas características que representam a 143 imagem de mulher ideal, dentre elas temos a professora como uma mãe espiritual dos seus alunos e pseudo trabalhadora a submissa, dócil, dedicada e submissa. Este primeiro perfil docente é compreendido como uma estratégia de dominação, na qual estas características tidas socialmente como femininas são representantes da inferioridade da mulher e funcionam adequadamente para mantê-la sobre o julgo masculino. No entanto, mesmo com essa construção social e ideológica do perfil docente feminino, também é possível observar em sua entrada no mercado de trabalho como uma possiblidade de transitar nos espaços públicos que até então lhes foi negado. Ao final dos anos de 1960 aos anos de 1970 emergi um discurso de profissionalização do ensino. Nesse período, o Brasil vivenciava os anos mais rígidos da ditadura militar com a repressão aos movimentos sociais e controle sobre as atividades culturais, educacionais, políticas e religiosas. A política educacional da ditadura possuía caráter elitista, pois beneficiava alguns em detrimento do maior número da população. Desse novo cenário social nasceu um novo perfil de docente, isto é, a professora sindicalizada, trabalhadora da educação, representada por uma mulher aguerrida e militante que iam às ruas lutar por salários melhores e condições de trabalho dignas. Essa nova sujeita histórica, ciente de seu papel, deve ser capaz de paralisar suas aulas, gritar palavras de ordem em frente a sedes prédios públicos, expor publicamente sua condição de assalariada e exigir que suas reivindicações sejam atendidas. Nos anos de 1990, ocorreram as reformas educacionais no Brasil, reguladas pela intensa influência 144 das agências multilaterais de financiamento. Para compreendermos a influência que essas mudanças causaram no perfil docente feminino é importante compreender que as configurações da política educacional brasileira, nessa última década do século XX, estavam ligadas diretamente as relações socias estabelecidas entre Estado e sociedade. Nesse sentido, que tais reformas provocaram a reestruturação do trabalho docente e a precarização das condições de trabalho. Essa precarização pode ser facilmente identificada no rebaixamento salarial, no aumento da contratação de professores temporários, assim como resulta na perda da identidade profissional do docente. Dessa forma, temos hoje um perfil de professora fruto de uma construção histórica que é desvalorizada pelo Estado e pela sociedade. Porém, constatamos, também, a existência de uma docente capaz de lutar por suas reivindicações e sua emancipação, uma mulher mais livre e consciente de sua condição social e profissional. O exposto até aqui, nos mostra que a história da educação brasileira é feita de avanços e retrocessos e, nessa dinâmica, a história da docência feminina segue a mesma fluidez. Assim sendo, observa-se que, no final do século XX e do início XXI, à docência em função das novas reformas educacionais foi submetida novamente à precarização e desvalorização tão intensa que provocará mudanças no quadro atual da Educação Básica brasileira e do atual perfil docente feminino. CONCLUSÕES 145 Diante das reflexões aqui explicitadas, buscou-se historicizar a mulher como profissional docente da educação. Para isso, procurou-se descrever de que forma se deu a imersão da mulher no mercado de trabalho, identificando e evidenciando seus principais marcos históricos ligados diretamente as transformações ocorridas na educação brasileira e como essas alterações mudaram o perfil dessa trabalhadora e suas condições de trabalho. Dessa forma, ao fim desse percurso pela história da mulher como trabalhadora da educação compreendemos que com o passar dos anos foram surgindo discursos que transformaram a mulher e o seu trabalho. Essas mudanças, quase sempre, atendiam aos interesses daqueles que ocupam a situação de dominantes, permanecendo assim a submissão e as desigualdades sobre a mulher. O enredo histórico tecido até aqui, permite observar que a mulher brasileira, na condiçãode professora foi inserida no mercado de trabalho como mão de obra barata e desqualificada, tal como a mulher operária europeia, introduzida nas fábricas. Nessa perspectiva, percebemos que o trabalho é um dos aspectos que demarca a desigualdade da mulher. De acordo com Toledo (2017, p.56) “no fundo de qualquer um dos aspectos em que se manifesta a desigualdade, está o trabalho”, que, em nosso entender deveria ser um instrumento de fortalecimento do processo de emancipação feminina. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto n° 8530/46. Lei Orgânica do Ensino Normal, Rio de Janeiro, 2 de janeiro de 1946. 146 LOURO, G. Gênero, sexualidade e educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. MINAYO, M.C.S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 19. Ed. Petrópolis: Vozes, 2001. PERROT, Michelle. Os Excluídos da história: operários, mulheres, prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 4ª Ed, 1988. TOLEDO, Cecília. Gênero & Classe. São Paulo: Sundermann, 2017. SILVA, G; AMORIM, S. Apontamentos sobre a educação no Brasil Colonial (1549 - 1759). Interações, Campo Grande, MS, v. 18, n. 4, p. 185 – 196, out. dez. 2017. STAMATTO, I. Um olhar na história: a mulher na escola (Brasil: 1549- 1910). 1999. 145 Trajetórias e desafios: estudantes da EJA no Ensino Superior Karolaine HORBACK Universidade Estadual do Rio Grande do Sul Franciele Thais SCHEUER Universidade Estadual do Rio Grande do Sul Rita Cristine Basso Soares SEVERO Universidade Estadual do Rio Grande do Sul E-mail do autor(a) principal: karolaine-horback@uergs.edu.br INTRODUÇÃO Atualmente, vivenciamos o processo de democratização do Ensino Superior público no Brasil, evidenciado pela expansão das universidades públicas e pelas políticas de ingresso. Diante deste cenário, o presente trabalho chama a atenção para o ingresso de jovens estudantes no Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS, unidade universitária em São Luiz Gonzaga, que cursaram a parte final da Educação Básica na Educação de Jovens e Adultos. Muitos desses jovens apresentam um processo educacional segmentado, muitos desses jovens marcados pelo fracasso escolar, fraturas de aprendizagens, reprovação, evasão, entre outros. Portanto, neste contexto educacional é fundamental o olhar atento da Universidade sobre esses sujeitos. Dessa forma, este trabalho trata-se de um recorte mailto:karolaine-horback@uergs.edu.br 146 do projeto de Pesquisa intitulado Juventudes contemporâneas: Tempos escolares e tempos de vida.1 OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivos conhecer quem são os jovens estudantes oriundos da Educação de Jovens e Adultos que chegam ao Curso de Pedagogia; e quais os desafios que encontram no Ensino Superior. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que teve como sujeitos de pesquisa alunas matriculadas no Curso de Pedagogia- Licenciatura do 1° semestre ao 7° semestre, da Universidade Estadual do Rio Grande do sul, unidade em São Luiz Gonzaga-RS, que são egressas da Educação de Jovens e Adultos. Para obter os dados da pesquisa foram utilizados como instrumentos de investigação: entrevistas semiestruturadas e rodas de conversa, tendo em vista que esses instrumentos promovem a interação entre o pesquisador com o pesquisado promovendo assim resultados e informações consistentes além de promover a experiência de troca e aprendizagens. RESULTADOS E DISCUSSÃO 1 Projeto INICIE/2018. Vinculado a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) e ao Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Integral e Currículo: dispositivos e configurações dos tempos e espaços escolares – GPEIC (registrado no CNPQ) – Área das Ciências Humanas – Educação. 147 São muitos os desafios, hoje o maior é na construção de projetos. Mas no início da inserção no ensino superior os desafios eram diários, desde uma escrita correta, redações, resumos e até conteúdos mais complexos acredito que os fatores que influenciaram nessa dificuldade foram devido a educação fragmentada e precária, principalmente no ensino fundamental. (Estudante C) Para as análises iniciais apresentamos um excerto de fala de uma das estudantes, onde ela relata seus desafios no Ensino Superior vindo ao encontro das reflexões feitas por Alain Coulon (2008), em que o sociólogo chama a atenção no período de ingresso de estudantes na universidade no qual o estudante se vê diante de um ambiente acadêmico, até então desconhecido, com normas, trabalhos científicos, projetos, estudos que fazem parte da vida acadêmica, os quais precisam ser assimilados e incorporados ao cotidiano do ingressante. A vida universitária exige de seus ingressantes um ofício de estudantes, que visa o domínio de conteúdos vivenciados no Ensino Fundamental e Médio para então assimilar os saberes científicos da graduação, nesse sentido é preciso pensar nos estudantes egressos de um ensino fragmentado, com fraturas em suas aprendizagens. Outras estudantes também relataram dificuldades enfrentadas no Ensino Superior, destacando dificuldades com a escrita acadêmica e falta de conhecimentos básicos do Ensino Médio: 148 Muitas dificuldades, pois o fato de ter pouca aprendizagem dificuldade na expressão da escrita, e na parte de desenvolver as atividades. (Estudante A) [...]no entendimento de algumas palavras que os professores utilizam, na escrita acadêmica, a falta de conhecimentos oriundos do ensino médio. No início da graduação tinha timidez para apresentar trabalhos orais. (Estudante B) Além de destacar a dificuldade na escrita, a Estudante B, também destaca as dificuldades de interpretação e apresentação oral, no qual afirma ser consequência da falta de conhecimentos do Ensino Médio. A partir das falas das estudantes, é possível identificar as fases de um processo denominado por Coulon (2008) por “afiliação” dos estudantes ingressos na universidade, sendo a primeira a fase da estranheza, pois estes estudantes estão imersos em um novo universo com ritmos diferentes, novas regras e normas, trabalhos acadêmicos, ao ponto de que certos estudantes entram em conflito interno sobre o que realmente devem fazer, resultante de uma educação fragmentada. Nesse sentido, Silva (2015) destaca que o processo de democratização do acesso ao ensino superior, configura- se em uma dinâmica de “exclusão dos incluídos”. Ou seja, podemos inferir que os estudantes egressos da EJA, à medida que ingressam na universidade – são incluídos, mas instantaneamente se configuram em “excluídos”, uma vez que só aumenta a chances de insucesso e muitas vezes a evasão, em razão dos diversos desafios que enfrentam no cotidiano universitário. Podemos, de fato, observar que a 149 democratização do acesso ao ensino superior não acompanha a democratização do acesso ao saber principalmente àqueles que tiveram em sua trajetória escolar um ensino precário. Portanto a desigualdade das chances de acesso ao saber é um fenômeno persistente que precisa ser pensado. (COULON, 2008) CONCLUSÕES Durante a realização da pesquisa, foi possível concluir que essas estudantes escolheram cursar a Educação de Jovens e Adultos e posteriormente o Ensino Superior para poder aumentar as chances de conseguir emprego e assim melhorar as condições de vida. Entretanto, os estudos permitiram perceber que estes estudantes trazem em suas trajetórias escolares diversas dificuldades relacionadas à aprendizagem em geral, questões consideradas pelos estudantes como “desafios diários”, resultantes de uma educação fragmentada. Portanto, é fundamental o olhar atento da Universidade sobre esses sujeitos egressos da EJA, a fim de proporcionar uma práticapedagógica significativa e que atenda as necessidades de seus educandos, garantindo assim a permanência e a qualidade do ensino REFERÊNCIAS COULON, A. A condição de estudante: a entrada na vida universitária. Tradução de Georgina Santos e Sônia Sampaio. Salvador: Edufba, 2008. 150 SILVA, Neilton. Processo de afiliação de egressos da EJA no Ensino Superior: desafios e propostas à docência universitária. Revista Brasileira de Educação de Jovens e Adultos, vol. 3, nº 5, 2015 151 Estratégias em/de saúde no povoado de Bailique Centro Baião-PA Lediane da Silva BORGES Universidade Federal do Pará Benedita Celeste de Morais PINTO Universidade Federal do Pará E-mail do autora principal: ledianestumano@gmail.com INTRODUÇÃO O presente estudo faz parte de uma investigação realizada com os moradores do povoado de Bailique Centro, residentes de área quilombola do município de Baião, Estado do Pará, tendo como questão central saberes, vivências, práticas e estratégias de saúde, que são construídas e praticadas ao longo da história de constituição deste povoado, as quais, como afirma Oliveira (2014) estão “vinculadas a vida desses sujeitos, de tradições orais, traduzidas nas expressões concretas do cotidiano”. Este texto é um recorte de trechos dos capítulos da Dissertação em processo de construção cujo título centra-se “NAS TRAMAS DAS RESISTÊNCIAS: SABERES E FAZERES DO QUILOMBO DE BAILICENTRO, BAIÃO PARÁ, o qual se desenvolve um estudo dos saberes tradicionais, visando refletir a respeito de resistências, saberes e fazeres, identificando a construção, constituição e transmissão ao longo da história, por meio de lembranças coletivas e das histórias orais, bem como as estratégias de sobrevivência e mailto:ledianestumano@gmail.com 152 resistências para a permanência e manutenção dos saberes tradicionais. Dessa forma as estratégias em/de saúde no povoado, tece um estudo nos conhecimentos e nas práticas culturais e religiosas, como forma resistência para a promoção de saúde e vida dos habitantes de Bailique, assim tornou-se importante compreendermos como é constituído o povoado, bem como os saberes tradicionais desses sujeitos, as formas como cria e recria suas práticas de cura, observados através das transmissões ao longo das gerações. Assim o espaço físico social que foi realizada a pesquisa centra-se na comunidade remanescente quilombola de Bailique Centro, localizado na Br. 422 km 85 a margem direita do rio Tocantins entre os municípios de Oeiras do Pará e Baião-PA. A comunidade quilombola estudada, ainda apresenta traços culturais afro brasileiros herdados pelos primeiros moradores. Seus costumes, valores, respeito, crenças, danças, comidas, linguagem, lendas, artesanatos e outras estão gravadas na memória como forma de “simbologia, valorização cultural e resistência repassadas as novas gerações, herdado de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência resultando no esforço da comunidade” (Laraia, 2009). Assim sendo analisamos e interpretamos as narrativas e a memória oral de colaboradores (as) da pesquisa, a respeito dos saberes e estratégias em/de saúde, bem como a transmissões desses saberes no cotidiano dos habitantes ao longo da história. OBJETIVO 153 A pesquisa objetiva analisar as estratégias de saúde, que se caracterizam como resistências dos saberes tradicionais desempenhadas pelos moradores da Comunidade Quilombola de Bailique Centro, no Município de Baião, Estado do Pará, bem como discutir a respeito das transmissões dos saberes tradicionais ao longo da história dos sujeitos envolvidos. METODOLOGIA Metodologicamente o trabalho se desenvolve por meio da pesquisa de campo, mediante observação em lócus, conversas informais e realização de entrevistas semiestruturada. Pois trata-se de uma pesquisa qualitativa com utilização de técnicas da história oral, que visam estabelecer procedimentos do trabalho investigativo, possibilitando reconstituir a história, os saberes culturais, a luta por sobrevivência e saúde, melhores condições e qualidade de vida, reconhecimento e valorização de sua identidade cultural. Dessa forma dialogamos com autores que se ocupam da temática em estudo, entre os quais destaca-se: CHAUÍ (1993), LARAIA (2009), MINAYO (1988), MUÑOZ (2007), PINTO (2010), afim de compreendermos as práticas em/de saúde, além das transmissões dos saberes tradicional através da oralidade ao longo da história dos moradores. RESULTADOS E DISCUSSÕES De acordo com os dados obtidos da entrevista e os diálogos realizados com os habitantes de Bailique Centro, os quais criam, recriam e praticam as estratégias de como 154 obter saúde, buscamos compreender o processo histórico e as transmissões dos saberes, a fim de caracterizar essas práticas como formas de resistências. Ao nos referirmos dos conhecimentos e das práticas de saúde, desempenhadas pelos habitantes de Bailique Centro, a análise dos dados permitiu identificar que na satisfação das necessidades dos moradores no campo saúde doença, utiliza-se de um conjunto variados de estratégias para a promoção da saúde no convívio familiar ou no povoado. Tais estratégias incluem a utilização da medicina caseira, as práticas religiosas e a busca de orientação a agentes de saúde, bem como a autodefesa em períodos de pandemias, principalmente no que tange ao surto do Covid- 19. A partir desse estudo acreditamos que os moradores do povoado de Bailique Centro, utilizam de diversos conhecimentos e estratégias para a manutenção e recuperação de sua saúde, da família e do grupo de convivência, os quais se incluem em medidas tradicionalmente utilizadas pelos antigos moradores e que ao serem repassadas de geração em geração através da oralidade exemplificam formas de resistências. CONCLUSÃO A pesquisa apresenta e dialoga com as experiência e saberes da ancestralidade, no que se refere a estratégias de cura para obtenção da saúde, assim traçou-se a compreensão sobre o processo de transmissões de saberes e práticas de curas no povoado. Assim, os saberes, as práticas e estratégias dos moradores relativos aos cuidados em saúde revelam 155 características de resistências frente as contradições do sistema capitalista, onde os conhecimentos e vivências em saúde desse grupo expressa elementos dominantes no setor, não se limitando, porém, a sua reprodução, mas abrangendo assimilações, reelaborações, recusa e oposição ao saber/ fazer médico (Minayo e Souza, 1989). Dessa maneira o modo como enfrentam os problemas de saúde e cura, assim como os recursos utilizados por eles, leva a justificar a importância dos saberes tradicionais e práticas de cura no povoado. No entanto a medicina caseira, assim como as práticas religiosas de benzenção e curanderias, estão em primeiro plano no que tange a tratamento e cura de enfermidades. Há, no entanto, determinados problemas em que somente a medicina oficial pode resolver, mais não deixam de executarem suas práticas e saberes com as plantas medicinais e com o sagrado, apesar de receberem informações e assistência da agente de saúde. Em períodos de pandemia, principalmente a do corona vírus, as estratégias de resistências relacionadas a saúde se fortaleceram, os moradores buscaram ainda mais os tratamentos e curas de diversas doenças, através do uso intensivo de remédios caseiros e das benzenções, no próprio povoado, pois foram as formas de garantir saúde. Dessa forma as práticas, saberes e experiências não ficaram estagnadas no passado, elas continuam se renovando, se modificando, se reconstituindo e sendo repassada de uma geração aoutra nesta região (PINTO, 2010). REFERÊNCIAS 156 CHAUÍ, Marilena. Conformismo e resistência: aspectos da cultura popular no Brasil. 5ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. MINAYO, M. C. de S. Saúde-doença: uma concepção popular da etiologia. Cadernos de saúde Pública, Rio de Janeiro, v4, n4, 356-362, out/dez, 1998. MINAYO, M. C. de S; SOUZA, H de O. Na dor do corpo, o grito da vida. In COSTA, N, do R, et al. (org.). Demandas populares, políticas públicas e saúde: movimento sociais e cidadania. Petrópolis: vozes, 1989. v.2, p 75-101. (Coleção saúde e realidade). OLIVEIRA, Hermam Hudson de, SATO, Michele. Dança do congo: expressão, identidade e educação ambiental. Mato Grosso: Novas edições acadêmicas, 2014. PINTO, Benedita Celeste de Moraes. Filhas das matas: práticas e saberes de mulheres quilombolas na Amazônia Tocantina. Belém: Açaí, 2010. 157 Engajamento e participação militante no curso popular TFLivre Luana Barroso de SOUZA Universidade Federal do Pará Edivania Santos ALVES Universidade Federal do Pará E-mail da autora principal: luanabarroso138@gmail.com INTRODUÇÃO O trabalho acadêmico ora apresentado é parte do projeto de extensão (Edital PROEX Nº01/2020) “ENTRE CONTAS E CONTOS: narrativas e linguagens do bairro da Terra Firme”, coordenado pela professora doutora Edivania Santos Alves e está sediado no Instituto de Educação Matemática e Científica – IEMCI. O Curso Popular TFLivre, criado no ano de 2017, resulta de uma iniciativa organizada por moradores do bairro da Terra Firme, na cidade de Belém, estado do Pará. O objetivo principal do TFLivre é oferecer à juventude em situação de vulnerabilidade social maiores possibilidades de ingresso nas universidades públicas, por meio de encontros e atividades presenciais com os professores colaboradores integrantes do projeto. Contudo, o TF livre tem como centralidade propor uma educação de luta e resistência, ensinando os conteúdos exigidos para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) combinado à discussão de temáticas socioambientais, de gênero e étnico-raciais de mailto:luanabarroso138@gmail.com 158 grande relevância por estarem presentes na realidade do bairro a exemplo de violência contra as meninas e mulheres (estupro e feminicídio). Orientado pelo ideário de Paulo Freire, o perfil do TFLivre não está limitado a um cursinho nos moldes tradicionais. Sendo assim, seus coordenadores realizam anualmente uma formação político-pedagógica por meio de palestras, oficinas e rodas de conversa tratando de temas sociais e políticos, voltada aos seus professores no intuito de promover reflexões acerca dos desafios e possibilidades em construir uma democracia que promova a igualdade para todos, sem exclusão dos menos favorecidos ainda que cientes que ao capitalismo somente interessa o lucro incessante e desmedido do capital que orienta uma dinâmica de extremo individualismo, competição e consumismo. Os momentos de grandes incertezas agudizados pela pandemia do novo Coronavírus atingem violentamente as populações periféricas de maioria negra em nosso país, desprezadas e negligenciadas pelo Estado, acarretando na ausência ou precariedade no atendimento de políticas públicas. Situação análoga é vivenciada no bairro da Terra Firme onde os negros e negras registram baixa escolaridade e poder aquisitivo. Para socorrer famílias de alunos e outras que lhe acionaram, o TFLivre em parceria com a COOPERFirme e o Boi Marronzinho lançaram no mês de Abril a “Campanha de arrecadação solidária” com o lema “A palavra de ordem é solidariedade” para colaborar na segurança alimentar por meio da doação de cestas básicas, máscaras. As demandas de saúde física e psicológica se avolumaram e o TFLivre organizou um consultório médico 159 virtual com as especialidades (Clínico Geral, Psicanalista, Pediatra e Otorrinolaringologista) para atendimento dos cadastrados e doação de medicamentos. Além de um espaço de atendimento feminino com a centralidade na escuta de mulheres vítimas de violência doméstica, oferecendo-lhes orientação e apoio emocional e social. Há ainda apoio pedagógico possibilitado pelo aplicativo WhatsApp em que os professores enviam materiais e os alunos interagem com suas dúvidas e outras intervenções mais entrega de material impresso. OBJETIVOS O objetivo deste texto é apresentar, discutir e analisar os pressupostos teóricos e pedagógicos definidos pela coordenação do Curso Popular TFLivre ao organizar e realizar anualmente o Encontro de Formação direcionado aos professores colaboradores. METODOLOGIA A metodologia empreendida nesta pesquisa está dividida basicamente em três momentos: 1. Pesquisa bibliográfica e documental; 2. Participação no encontro de formação e 3. Entrevistas com coordenadores. Destacamos os prejuízos decorrentes da pandemia que impediram os encontros presenciais, prejudicando verificações e consequentemente apontamentos mais elaborados, considerada a interdisciplinaridade inerente ao próprio curso de Licenciatura Integrada. Um trabalho de extensão exige dedicação, envolvimento e participação junto à comunidade 160 pesquisada; sendo assim, a metodologia está orientada, entre outros aspectos, pela pesquisa ação na definição e execução participativa de projetos de pesquisa, envolvendo as comunidades e organizações sociais populares com problemas cuja solução pode beneficiar dos resultados da pesquisa. Os interesses sociais são articulados com os interesses científicos dos pesquisadores e a produção do conhecimento científico ocorre estreitamente ligada à satisfação de necessidades dos grupos sociais que não tem poder para por o conhecimento técnico e especializado ao seu serviço pela via mercantil (SANTOS, 2005, p. 75). Conforme o planejamento anual do TF Livre, o mês de Julho é dedicado aos processos específicos de formação dos professores colaboradores. Assistimos na condição de ouvinte a programação temática sempre no horário de quinze horas às dezessete horas e transmitidas pela plataforma do Google Meet. A primeira mesa aconteceu no dia 15 e teve como como tema “As transformações no mundo do trabalho: ainda se pode falar em classe trabalhadora?. Sua expositora foi Zaíra Valeska (Doutora e Mestra em Educação/ PPGED UFPA, Especialista em Lazer pela UFMG e Licenciada Plena em Educação Física pela UEPA e coordenadora Geral do Sindicato dos Docentes da UEPA (SindUEPA). A segunda mesa ocorreu no dia 23 e abordou o tema “Conservadorismo, Fascismo, Neofascismo e Bolsonarismo: uma aproximação aos conceitos, tendo como expositor Tony Leão (Doutor em História, professor 161 da UEPA e Coordenador do TF Livre). A terceira mesa realizou-se no dia 29 com o tema: "As TIC's e novas sociabilidades geradas na globalização neoliberal", tendo como expositores Edivania Alves (professora doutora da Faculdade de Educação Matemática e Científica FEMCI/UFPA e coordenadora adjunta da Associação Docente - ADUFPA) e o Andrés Ortiz (Mestre, Colômbia - Proyecto CEIS/MAD/TFLivre). A última mesa ocorreu no dia 30 e o tema foi “Democracia: qual e para quê?, tendo como palestrante, Fernando Carneiro (Especialista em História e Vereador de Belém). Todos os temas abordados foram de grande relevância para compreender os assuntos vivenciados na nossa sociedade, e refletir sobre as mudanças que precisam ser feitas para alcançarmos um país mais justo, igualitário e democrático. Realizei entrevistas por meio de celular com João Malcher e Regina Silva, integrantes da coordenação do curso Popular TF Livre, a partir de um questionário com as perguntas:a) qual é o intuito do encontro de formação para os professores colaboradores do TFLivre?; b) os temas debatidos na formação foram relevantes e qual é a finalidade dos temas?; c) o curso TFLivre promove anualmente o encontro de formação político-pedagógica, mas devido o COVID-19 não foi possível realizar o encontro presencial pelo fato de ter o isolamento social. Vocês conseguiram ter um resultado do encontro de formação virtual? RESULTADOS E DISCUSSÃO 162 Indagada sobre a primeira questão, Regina Silva respondeu que os encontros representam “um movimento de formação continuada, e o intuito dessa formação é fazer com que o conhecimento seja o máximo, original e amplo para as pessoas.” Destacou a preocupação com o “nivelamento de informação e nivelamento de conteúdo para que todos os grupos possam está discutindo o mesmo conteúdo, e todos tenham domínio do assunto discutido.”. Em resposta à segunda pergunta, a coordenadora afirmou “os temas abordados na formação são sugeridos pelo grupo”, derivam também de “uma pesquisa de opinião no bairro, os temas que foram mais relevantes da pesquisa”. Antes da pandemia os encontros eram presenciais, e foram realizados “debates sobre a reforma da previdência, violência, abuso de álcool e drogas e fora os temas mais voltados para educação, e são debatidos pelos moradores, pais e mães, pois geralmente são eles que mandam no processo da escolha dos temas.”. A terceira questão está sendo que durante a COVID- 19 o processo de formação tanto o acompanhamento pedagógico dos alunos tanto o processo de formação foi feito de forma virtual, então surgiram temas diferentes como o papel e os impactos da tecnologia na sociedade, sobre a democracia, a classe trabalhadora e o fascismo. Os palestrantes geralmente são escolhidos entre “os parceiros do projeto, e são dirigentes sindicais e também professores de escolas e universidades públicas, tanto da Estadual e da Federal.”. Pelas palavras de João Malcher foi possível conhecer um pouco do histórico do TFLivre, destacando alguns dos objetivos ansiados: empoderar a comunidade em geral sobre o papel da educação na emancipação individual 163 e coletiva; proporcionar a compreensão e transformação de realidades no bairro e formar cidadãos críticos e participativos que possam contribuir na construção de uma sociedade justa, humana e solidária. Há nas falas desses coordenadores, com as discussões de temas transversais de altíssima potência política, a evidente preocupação, com uma formação político-pedagógica que estimula um engajamento político com vistas a retroalimentar a militância em resposta aos desafios específicos do bairro. O Curso Popular TFLivre enquanto um movimento social pode então ser encarado “ultrapassagem de uma visão antropocêntrica em direção a uma visão antropológica.” (STRECK, 2009, p. 171) CONCLUSÕES De acordo com as observações feitas e os relatos coletados verificamos que as discussões promovidas a partir de temas geradores como a política, a democracia, o mundo do trabalho e a globalização foram escolhidos com base em uma perspectiva crítica, além de comprovar atenção a conjuntura social, política, econômica e cultural vivenciada no país e, sobretudo seus impactos sobre a população do bairro estudado. Entendemos que a pretensão da coordenação do TFLivre com os encontros de formação evidenciam a adoção do caráter de movimento social que por meio da práxis e da linguagem militante almeja um engajamento político como advertido nas palavras de Paulo Freire (1979, p. 30) “Quando o homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la e o seu 164 trabalho pode criar um mundo próprio, seu Eu e as suas circunstâncias.”. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 15 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. SANTOS, Boaventura de Sousa. A universidade no século XXI: Para uma reforma democrática e emancipatória da universidade - 2. Ed. – São Paulo: Cortez, 2005 (Coleção Questões da nossa época, v. 120) STRECK, Danilo R. Uma pedagogia do movimento: Os movimentos sociais na obra de Paulo Freire. R. Educ. Públ., Cuiabá, V. 18, N. 36, p. 165-177, jan./abr. 2009. 165 Atendimento da comunidade LGBTQIA+ na atenção primária à saúde: revisão integrativa no período de 2011 a 2019 Lucas Rodrigues CLARO Universidade Federal do Rio de Janeiro Eduardo Alexander Júlio César Fonseca LUCAS Universidade Federal do Rio de Janeiro Lucas Lima de CARVALHO Universidade Federal do Rio de Janeiro Bruna Liane Passos LUCAS Centro Universitário Celso Lisboa Amanda dos Santos CABRAL Universidade Federal do Rio de Janeiro Ravini dos Santos Fernandes Vieira dos SANTOS Universidade do Estado do Rio de Janeiro E-mail do autor principal: lucasclaro222@gmail.com INTRODUÇÃO No ano de 2008 é iniciada uma tentativa de trazer às populações marginalizadas para o Sistema Único de Saúde, com o Programa Mais Saúde – Direito de Todos (BRASIL, 2008). Esse programa tinha como objetivo aproximar a comunidade LGBTQIA+ das políticas públicas já mailto:lucasclaro222@gmail.com 166 existentes. Porém somente em 2011 foi lançada a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis E Transexuais. Esta tem como base a constituição Federal de 1988, que garante a cidadania e dignidade da pessoa humana (BRASIL, 1988, art. 1.º, inc. II e III), enfatizado pelo objetivo fundamental da República Federativa do Brasil de “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (BRASIL, 1988, art. 3.º, inc. IV). A política foi incorporada aos princípios constitucionais do Sistema Único de Saúde que certificam a universalidade do acesso, a integralidade e a equidade. Este estudo trata-se de uma revisão integrativa acerca da produção científica disponível sobre a temática da assistência à população LGBTQIA+ no contexto da Atenção Primária à Saúde (APS). Esta revisão tem como questões norteadoras: a) Que evidências existem na literatura científica sobre a assistência de pessoas LGBTQIA+? B) Quais fatores favorecem e dificultam o acesso de pessoas LGBTQIA+ ao Sistema Único de Saúde? OBJETIVOS I. Caracterizar a produção científica no período de 2011 a 2019, acerca da assistência em saúde a pessoas LGBTQIA+, na temática Gênero e Sexualidade. II. Discutir as implicações dos principais resultados evidenciados na produção científica a luz da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais e dos Princípios do SUS. 167 METODOLOGIA A pesquisa foi elaborada a partir das seguintes etapas: a) escolha do tema e questões de pesquisa; b) definição dos objetivos; c) determinação dos critérios de inclusão e exclusão para a busca de estudos científicos; d) levantamento bibliográfico nas bases virtuais selecionadas; e) interpretação e análise dos dados encontrados; e, f) apresentação dos resultados. A Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) foi optada como ponto de partida para a busca de estudos científicos referentes à temática estudada. Por meio dessa base de dados, foi possível o acesso a outras bases. Sobressaem a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline) e a Base de Dados de Enfermagem(BDENF). Os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) selecionados foram “Gênero”, “Sexualidade” e “Sistema Único de Saúde”, os quais foram cruzados entre si de modo a possibilitar um refinamento da busca, utilizando o operador booleano “and”.RESULTADOS E DISCUSSÃO Os critérios de inclusão de estudos estabelecidos para a revisão foram: Artigos científicos, teses, dissertações de mestrado, monografias e anais de congresso; Publicações com texto completo disponível nas bases de dados consultadas; Publicações nos idiomas português, inglês e espanhol; Limitação de estudos com Humanos; Publicações dos últimos oito anos, a partir do marco da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, 168 Bissexuais, Travestis e Transexuais (Política Nacional de Saúde Integral LGBT), perfazendo o período compreendido entre 2011 e 2019. Foram estabelecidas nos critérios de exclusão as seguintes produções intelectuais: notas prévias, relatórios parciais (pesquisas em andamento), entrevistas, resenhas, artigos de opinião, conferências e manuais. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, das 238 produções encontradas foram excluídas 223, destas 210 não tinha relação com a temática estudada, 8 eram repetidas, 4 estavam indisponíveis, 1 era paga. A amostra final foi composta pelo total de quinze estudos. Destaca-se na maioria dos artigos a evidente resistência da comunidade LGBTQIA+ a buscar atendimento em saúde. Isto se sucede devido a discriminação que sofrem habitualmente dos profissionais das Unidades Básicas de Saúde, que não chamam seus pacientes trans pelos nomes sociais. Dentre os causas para este erro, aponta-se a falta de conhecimento destes profissionais sobre as temáticas de gênero e sexualidade, na qual esta falha está presente desde sua formação profissional. Além disso, foi evidenciado que esta população não tem compreensão sobre seus direitos no SUS, o que atrapalha ainda mais seu acesso à saúde. Dentre os conteúdos examinados, foi explicitada a importância da existência de políticas públicas para salvaguardar os direitos dessa população vulnerável no SUS. No entanto, aflorou uma reflexão sobre o recuo nessas políticas imposto pelo avanço do conservadorismo dentro do poder Executivo e Legislativo. CONCLUSÕES As entidades de ensino e o governo do país tem 169 papel fundamental na diminuição da evasão da população LGBTQIA+, ao oferecer a instrução precisa aos profissionais e estudantes da área da saúde, quanto ao suporte à essa população. Esta qualificação é de suma importância para que as diretrizes instituídas pelo SUS sejam atendidas. Incluindo essa comunidade vulnerável visando a Integralidade, Universalidade e Equidade deste indivíduo, para uma maior adesão desses indivíduos nos serviços de saúde. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. BRASIL, Ministério da Saúde. MAIS SAÚDE - DIREITO DE TODOS. República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2008. BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 2.836 de 1º de dezembro de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Política Nacional de Saúde Integral LGBT). República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2011. 170 Entre memes e stickers: a circulação de fotografias clandestinas de professores na cultura midiática Marcelo Rodrigo da SILVA Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Parintins, AM, Brasil Graciene Silva SIQUEIRA Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Parintins, AM, Brasil E-mail do autor principal: prof.marcelorodrigo@gmail.com INTRODUÇÃO A introdução das tecnologias midiáticas no cotidiano das pessoas tem forjado o que SANTAELLA (1992) chama de cultura das mídias, que concedeu a seus usuários maior liberdade de escolha e consumo de conteúdos canais de troca de informações, transfigurando o ambiente hegemonicamente dominado pela cultura de massa. Para PAIVA (2008), quando falamos em cultura midiática apreciamos as conexões entre a oralidade, visibilidade e tecnicidade, num momento em que deixamos de ser meramente agentes passivos numa comunicação e formação cultural massiva, excludente e vertical, e passamos à condição de agentes ativos num processo mais participante, interativo, literalmente comunicacional. É sobre os hábitos que se desenvolvem nos meandros das práticas comunicacionais envolvidas na cultura midiática mailto:prof.marcelorodrigo@gmail.com 171 que lançamos o nosso olhar. Compreendemos que os processos de criação de memes e stickers faz parte de um vasto repertório técnico e tecnológico midiático que se diversifica na medida em que são exploradas novas ferramentas de comunicação e que lhe são atribuídos novos usos. As fotografias de professores usadas em memes e stickers observadas neste artigo foram capturadas clandestinamente, mas também há casos de imagens feitas com consentimento dos professores. O que se percebe, até então, é que essa prática tem acontecido amigavelmente, em tom de brincadeira e descontração entre alunos e professores, mesmo quando há pequenos sinais de constrangimento de algum docente por não ter gostado de como figurou nas imagens utilizadas. Os casos envolvem, pelo menos, quatro professores do curso de Jornalismo do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia da Universidade Federal do Amazonas (ICSEZ/UFAM), que tiveram suas identidades e imagens preservadas. Contudo, esta prática já foi verificada entre os próprios alunos e também em ambientes externos à universidade, como em escritórios de empresas privadas e entre grupos informais de amigos e familiares. OBJETIVOS(S) Há que se salientar, entretanto, que, longe de intencionar conduzir a discussão à uma esfera jurídica a respeito das consequências dessa prática ou a respeito de uma avaliação das intenções que as motivaram, o que ponderamos é a necessidade de observação a partir do campo da comunicação e dos processos midiáticos, lançando olhar sobre o reflexos dessas práticas no campo 172 da linguagem e, principalmente, na produção e circulação simbólica. METODOLOGIA A reflexão aqui proposta parte de uma observação empírica e leva em consideração relatos informais de colegas professores sobre o tema, além da coleta de memes e stickers compartilhados com os autores deste artigo. Partimos da conceituação dos gêneros meme e sticker, enquanto recursos midiáticos oferecidos pelo aplicativo de mensagens instantâneas Whatsapp para, então, expandirmos a discussão sobre o conceito de fotografias clandestinas e de circulação. RESULTADOS ALCANÇADOS O termo meme tem origem no campo da genética, quando o biólogo e escritor Richard Dawkins, em 1976, relacionou a palavra à capacidade de multiplicação dos genes (CANDIDO; GOMES, 2015). O pesquisador usou o argumento de que ambos funcionam como replicadores, criando cópias de si. Enquanto os genes são replicadores biológicos, repassando para gerações futuras informações, os memes funcionariam como outro tipo de replicador, mas de ideias, que podem levar a outros tipos de evoluções. Nas palavras do autor, o meme é uma “unidade de transmissão cultural, ou unidade de imitação” (DAWKINS, 2007, p. 330). Shifman (2013) discute três dimensões culturais que permitem às pessoas interagirem por meio de memes: conteúdo (ideias e ideologias), forma (percepção sensorial) e postura (posição dos usuários). Para a autora, embora os 173 memes se espalhem e um ambiente micro, seu impacto está no ambiente macro, pela velocidade e alcance de difusão e divulgação cultural. Knobel e Lankshear (2007, p. 202) conceituam meme como “um termo popular para descrever a rápida aceitação e propagação de uma ideia particular apresentada como um texto, imagem, linguagem, ‘movimento’, ou alguma outra unidade de ‘material’cultural”. Já os stickers, de acordo com PAIVA (2015), são tipos de pictogramas semelhantes aos emojis, disponibilizados pelas plataformas digitais. Nas palavras de MELO (2019, p. 12), tratam-se de “imagens estáticas para representar emoções de forma diferente dos emojis, palavras ou áudios, em que o usuário pode criar as suas próprias ou baixar através de aplicativos”. Essas figurinhas, como são popularmente conhecidas, podem funcionar também como ideogramas e, ainda segundo PAIVA (2015), têm cinco funções discursivas: substituir palavras, expressar emoção, indicar afeto, função de intensificador e expressar ironia. A adoção do termo fotografia clandestina não visa introduzir um viés legalista à discussão. A ideia de clandestinidade proposta reside na operação de um processo midiático que se estabelece à revelia da ciência ou consentimento das pessoas fotografadas, mesmo que as envolvam diretamente. Uma vez divulgadas pelas mídias digitais, essas imagens entram em um processo de circulação imprevisível, por meio de uma difusão sem controle. Qualquer pessoa que as receber pode salvá-las e reproduzi-las, sem que o professor fotografado tenha ciência da circulação de sua imagem. Isso traz reflexos diretos sobre os processos de produção simbólica e cultural dentro do universo acadêmico onde ambos – professor e aluno – estão inseridos. Segundo o autor, o processo de 174 circulação tem como base a formação de circuitos, definidos por ele como “a base objetivada para aquilo a ser repassado como circulação “de mãos em mãos” (BRAGA, 2017, p. 45). É a respeito do fluxo comunicacional que se desenvolve com a circulação que refletimos. Mais do que respostas, compartilhamos questionamentos sobre as implicações da circulação das fotografias clandestinas de professores. Entre tantas outras, são questões como: quais os riscos ou vantagens decorrentes do processo de circulação dessas imagens? Qual o resultado dos processos de produção simbólica decorrentes dessa prática? Como otimizar o emprego dessas mídias a favor da docência? CONSIDERAÇÕES FINAIS Inicialmente, percebe-se que a diversidade de abordagens e o conteúdo de cada meme ou sticker irá interferir diretamente no processo de produção simbólica envolvendo o professor e, consequentemente, os riscos que podem oferecer e o potencial de aplicabilidade no exercício da atividade docente. Também se nota que o perfil da relação que o aluno mantém com o professor fotografado interfere diretamente no tom da mensagem construída e veiculada. Entretanto, pelo processo de circulação, como prever a produção simbólica a partir de outros usuários interconectados que receberem os memes e stickers e não possuírem o mesmo perfil de relação? E os demais usuários que receberem a partir destes últimos? Este artigo não pretende encerrar as discussões que apresenta. Ao contrário, apresenta-se como um embrião que busca ampliá-la e estimular discussões sobre inquietações que envolvem novas práticas cotidianas de uso das tecnologias 175 de comunicação no ambiente docente e as formas de produção midiática em constante mutação. REFERÊNCIAS BERGSON, Henri. O riso: Ensaio sobre o significado do cômico. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. BRAGA, José Luiz; CALAZANS, Regina; RABELO, Leon. (org). Matrizes interacionais: a comunicação constrói a sociedade. Campina Grande-PB, EDUEPB: 2017. ______. A sociedade enfrenta sua mídia: dispositivos sociais de crítica midiática. São Paulo: Editora Paulus, 2006. BRAGA, José Luiz. 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Culturas Midiáticas, Paraíba, Ano 1, n. 1, jul./dez., 2008. PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira e. A linguagem dos emojis. Trab. linguist. apl., Campinas , v. 55, n. 2, p. 379-401, Ago. 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S0103-18132016000200379&lng=en&nrm=iso>. Accesso em 8 mai. 2020. SANTAELLA, L. Cultura das Mídias. S. Paulo: Experimento, 1992 SHIFMAN, Limor. Memes in a digital world: reconciling with a conceptual troublemaker. Journal of Computer- Mediated Communication, State College, PA, v. 18, n. 3, p. 362-377, 2013. 178 Educação e práticas de cura: um discurso e uma prática além do “popular” e do formal Márcia de Jesus Oliveira VALENTE Universidade Federal do Pará Andrea Silva DOMINGUES Universidade Federal do Pará/PPGEDUC/PROCAD-Amazônia CAPES E-mail da autora principal: jesusvalente100@hotmail.com INTRODUÇÃO O texto apresentado é um recorte do terceiro capítulo da dissertação em construção, intitulada de “Saúde, Cultura e Sociedade: Práticas de Cura no Cupijó/Cametá-PA”, que busca realizar um estudo acadêmico, científico com mulheres e homens ribeirinhos das matas, dos rios e igarapés do Cupijó, frente a necessidade de se realizar uma discussão sobre as repercussões dos saberes ancestrais dos habitantes da vila Baia, no que tange as vivências de cura para o corpo, e sua utilização no processo de ensino e aprendizagem, nas escolas onde os (as) filhos (as) dos sujeitos da pesquisa buscam estudar os conhecimentos formais. Diante dos distintos itinerários terapêuticos recorridos pelos habitantes do Cupijó, uma das alternativas recorrente para curar as moléstias do corpo, condiz ao uso de plantas medicinais, que entre suas inúmeras funções são utilizadas como chás, para servir de instrumento de mailto:jesusvalente100@hotmail.com 179 benzeção, ou para compor misturas destinadas a realização de massagens, entre outras aplicabilidades. Olhar politicamente os saberes, as práticas culturais em torno do uso das plantas medicinais, como forma de uma medicina tradicional1 na vida dos (as) moradores (as) do Cupijó foi fundamental que pudéssemos compreendercomo é constituído esta região; bem como as muitas memórias e discursos que constituem os saberes desses sujeitos; as formas de tratar, ensinar e aprender as práticas de cura, observando o presente, o passado, para melhor compreender os discursos produzidos na contemporaneidade pelos narradores (as) que dialogamos. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, Cametá, um dos municípios do Estado do Pará, região que faz parte da Amazônia brasileira, situado na região do baixo Tocantins teve sua população estimada em 137.890 habitantes, com uma área de 3.081.367 quilômetros quadrados; possui como via de deslocamentos para outras cidades as vias Transcametá, Arapari e Alça Viária. A cobertura vegetal é classificada como floresta equatorial densa, e a população é estrategicamente dividida em população rural (distritos e ilhas) e população urbana (centro/sede-urbano). A população rural conta com distinto solo para sua produção vegetal: 1 O estudo aqui apresentado se refere aos saberes ancestrais de uma das comunidades da Amazônia Tocantina; saberes estes reconhecidos pela OMS como medicina tradicional, vinculada aos conhecimentos transmitidos de geração a geração de povos afro-brasileiros; o que diferencia da medicina alternativa que trata dos tratamentos alopáticos. 180 terra firme e região das ilhas. Na primeira predomina o cultivo da mandioca para a produção da farinha e extração de frutas e hortaliças nativas; já na segunda, nas ilhas, o açaí é o principal produto de extração (IBGE, 2019). Frente a isso, somos oportunizados a efetuarmos análises e interpretações a partir dos discursos, da memória oral, imagética e escrita, dos (as) colaboradores (as) da pesquisa, a respeito do uso dos saberes ancestrais, consubstanciados nas escolhas realizadas para aliviarem ou sanarem seus problemas de saúde, nas práticas educativas escolares da vila Baia. OBJETIVO A pesquisa objetiva compreender e interpretar as práticas de cura e as formas de tratamento de saúde vividas no cotidiano da Vila Baia uma das comunidades do Cupijó, da cidade de Cametá-PA, bem como discutir como o espaço escolar, o sistema de ensino do estado lida com os saberes tradicionais de cura nesta localidade, bem como está em funcionamento o discurso sobre estes saberes dentro da Escola. METODOLOGIA Metodologicamente, o trabalho está sendo desenvolvido por meio de diálogo entre História e a teoria da Análise do Discurso, tendo como corpus de análise, narrativas orais, portaria do Ministério da Saúde e fotografias. Diante disso, estamos dialogando com autores que trabalham as categorias cultura, memória e discurso, 181 tais como: HALL (2008), PORTELLI (1997), PÊCHEUX (2019) e ORLANDI (2015), a fim de que desse modo possamos ter condições de compreender os sentidos e significados que permeiam as práticas de cura presentes no âmbito escolar dos (as) moradores (as) do e no Cupijó. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com base nos diálogos realizados com os sujeitos envolvidos na pesquisa, os quais praticam e/ou vivenciam as artes de cura, buscamos entender, a partir de um olhar político e histórico na leitura e interpretação das fontes utilizadas, esse movimento interativo entre saberes ancestrais e educação sob uma perspectiva discursiva e intercultural. No tocante a abordagem sobre a educação, referente ao ensino formal, conhecimento adquirido em instituições escolares, destacamos a importância que essas representam a esses (as) moradores (as). Para tanto, mencionamos algumas delas como EMEF de Quatro Bocas, EMEF Padre Cornélio Werman, erguidas na rodovia Transcametá, a EMEF Igarapé da Prata, construída no ramal do livramento, e a EMEF Ilha Grande de Cupijó, existentes nas proximidades do vilarejo, onde alguns moradores do Cupijó realizam o processo de educação escolar. Essas escolas constituem-se em ambientes de construção do saber, podendo oportunizar aos alunos do Cupijó o interagir do saber formal com o informal provenientes das práticas do cotidiano, dos saberes tradicionais, das formas de se viver o cotidiano entre matas, rios e igarapés. 182 Ao nos referirmos as práticas de cultura e educação, buscamos compreender a importância desse acontecimento e sua trajetória ao longo do tempo, a sua contribuição para a cultura popular e para a memória dessa comunidade a beira do Cupijó uma vez que esses sujeitos sociais, caminhantes das matas, navegantes das aguas (re) significam valores e costumes, pois cultura é movimentos não é estagnada no passado, “as práticas e as normas se reproduzem ao longo das gerações na atmosfera lentamente diversificada dos costumes. As Tradições se perpetuam em grande parte mediante a transmissão oral, com seu repertório de anedotas e narrativas exemplares” (THOMPSON, 1998, p.18). Como pesquisadoras sociais e educadoras percebemos possíveis disputas de poder, tensões instauradas, pois compreendemos ser ribeirinho, praticar a medicina tradicional e viver na Amazônia Tocantina entre matas e rios, é demarcar territórios de afirmações e reafirmações, uma manifestação da cultura popular num lugar determinado em que vários sujeitos se relacionam, resistem e misturam seus saberes ancestrais com a chamada “modernidade” capitalista. A partir deste estudo acreditamos que as discussões acerca da cultura deveria compor os currículos escolares desde as séries iniciais, para desde cedo, se fomentar a compreensão, o respeito e valorização das culturas regionais diferentes daquelas propostas e homogeneizadas no material didático, que mantem um discurso fundador de cultura dominante, em detrimento de uma inferior, não valorizando o plural, culturas diferentes que agregam características e valores peculiares a um dado povo. 183 CONCLUSÕES A pesquisa perpassa por uma abordagem que contempla a educação intercultural que dialoga com as experiências da ancestralidade, no que diz respeito as práticas de cura, memória, e discurso que avançam nas várias possibilidades de interdisciplinaridade, no âmbito escolar, que buscou traçar reflexões sobre a interação desses saberes no processo de ensino e aprendizagem. Conhecer as muitas memórias e outras histórias pelos discursos produzidos por diferentes corpora documentais e sujeitos é ir além da história, pois segundo nos diz Orlandi (2009) é pelo discurso que podemos compreender os modos pelos quais se dá a individuação do sujeito. Nessa perspectiva, entendemos que os processos identitários se fazem em diferentes espaços de memória, onde as artes da cura assumirão o meio pelo qual o sujeito se constituirá como ser participante da construção de sua história, que possui historicidade que compõe a memória, pois: A intenção de superar a análise histórica, sob o ponto de vista das totalidades, tem conduzido cada vez mais historiadores à investigação da micro-história e ao uso da Análise de Discurso de linha francesa, que propõe a compreensão dos nexos e das relações sociais imbricadas nas formas de significar da atividade humana em todas as suas manifestações. É a partir desta intenção que se fala em totalidade, traduzida na compreensão de novos temas de pesquisa relacionados 184 com as particularidades da vida cotidiana e que vêm sendo discutidos entre analistas de discurso e historiadores. (DOMINGUES; CARROZA, 2013, p.08) Portanto, para que se possa construir um olhar crítico, sobre os saberes voltados a análise do discurso de moradores do Cupijó a respeito das práticas de cura e sua relação com o ensino formal, é necessário que o pesquisador busque compreender o cotidiano desses moradores, colocando-se diante da problemática do presente como protagonista, a fim de que possa iralém do dito. REFERÊNCIAS DOMINGUES, Andrea Silva; CARROZZA, Newton Guilherme. Algunas cuestiones metodológicas: Historia Oral, discurso y memoria. In: Anais de artigos completos de XIV Jornadas Interescuelas/Departamentos de Historia. Mendoza-Argentina. UNCUYO, 2013. IBGE. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/cameta/panorama. Acessado em 10 de jun de 2020. IBGE. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/cameta/pesquisa/23/2 5207?tipo=ranking&indicador=25199. Acessado em 13 de jun de 2020. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/cameta/panorama https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/cameta/pesquisa/23/25207?tipo=ranking&indicador=25199 https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/cameta/pesquisa/23/25207?tipo=ranking&indicador=25199 185 IBGE. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/cidades-e- estados/pa/cameta.html. Acessado em 08 de jun de 2020. THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/pa/cameta.html https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/pa/cameta.html 186 Caracterização socioespacial de uma vila marajoara por estudantes do ensino médio Marcos Paulo de Oliveira BARROS Universidade Federal do Pará Jorge Domingues LOPES PPGEDUC – Universidade Federal do Pará E-mail: marcospaulooprofessordagalera@gmail.com INTRODUÇÃO O trabalho ora apresentado foi desenvolvido a partir da seguinte problemática de investigação: Como se dá a caracterização socioespacial da vila de Corcovado/Breves- PA pelos estudantes do ensino médio da Escola Elizete Fona Nunes? A partir desta problematização foi estabelecido como objetivo geral analisar os aspectos socioespaciais da vila de Corcovado/Breves- PA, a partir da caracterização feita pelos alunos do ensino médio, em razão da importância dos espaços que fazem parte do cotidiano dos participantes desta investigação. A presente pesquisa foi realizada com base nos objetivos específicos a seguir: reconhecer o papel dos estudos socioespaciais no âmbito científico, em função da possibilidade de ampliar as investigações sobre as relações sociais que se desenvolvem nos múltiplos espaços existentes num determinado lócus de investigação. mailto:marcospaulooprofessordagalera@gmail.com 187 Posteriormente, o trabalho em questão procurou identificar os espaços ligados ao cotidiano dos moradores da vila de Corcovado, pois, a partir da percepção dos alunos é possível compreender a notoriedade daqueles lugares nas relações interpessoais na vida dos que residem na referida localidade. Esta incursão objetivou conhecer a definição teórica de espaço e a relação deste com a atividade enunciativa, face a importância de compreender o referido conceito no tocante a seus aspectos intrínsecos, e como o espaço permeia a estrutura dos enunciados dos sujeitos sociais nas práticas de linguagens diárias. OBJETIVOS Geral • Analisar os aspectos socioespaciais da vila de Corcovado/Breves- PA; Específicos • Reconhecer o papel dos estudos socioespaciais no âmbito científico; • Identificar os espaços ligados ao cotidiano dos moradores da vila de corcovado; • Conhecer a definição teórica de espaço e a relação deste com a atividade enunciativa; METODOLOGIA É relevante compreender que os caminhos metodológicos da pesquisa fornecem insumos para o processo de coleta de dados, ao ressaltar que: “Os dados 188 relevantes conseguem alcançar aquilo que está sob a superfície da vida social e subjetiva” (CHARMAZ 2009, p. 29), pois, estas informações estão intrinsecamente ligadas a vivências sociais humanas, individuais ou coletivas e internalizadas nos próprios indivíduos. O lócus desta investigação foi a Vila de Corcovado, localizada na zona rural do município de Breves, cujo acesso pode ser feito por uma rota terrestre e outra fluvial, a primeira via PA-159 cumpre a distância de 14, 4 KM, a segunda percorre o Rio Parauaú. A comunidade abriga aproximadamente setenta e duas famílias. Historicamente está ligada ao período do extrativismo da borracha no século XX, e abrigava uma fábrica de beneficiamento da referida matéria-prima, com o declínio da produção, a infraestrutura foi abandonada e os moradores tiveram que buscar outras atividades econômicas para sobreviver. Os participantes da pesquisa são estudantes da primeira e segunda série do nível médio, da Escola Maria Elizete Fona Nunes, situada na zona urbana de Breves, com faixa etária entre 17 e 22 anos, sendo relevante frisar que estes estudam numa escola urbana porque o ensino na vila de corcovado vai até o 9º ano do ensino fundamental, e se deslocam para a sede do município para concluir a última etapa da educação básica. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em linhas gerais, a caracterização socioespacial da vila de Corcovado pelos três estudantes do ensino médio dispõe quatro espaços importantes no dia-a-dia dos moradores da comunidade. 1- O Rio: este é considerado pelos participante como local de lazer para o banho e a 189 prática da natação; 2- O Bar do Pathaca: lugar de entretenimento e encontro das pessoas; 3- Igrejas: espaço representante da religiosidade dos moradores, onde são realizadas programações importantes; 4- O campo de futebol: espaço de lazer por intermédio das práticas esportivas. O bar, localizado numa rua que dá acesso ao trapiche principal da vila, sempre era acompanhado de risadas e do bom humor dos participantes, deixando o relato mais descontraído, visto que o encontro de amigos para beber e conversar, e a consonância nos três relatos sobre o Bar do Pathaca, já demonstra uma relação mais próxima e intima com o lugar. É pontual dizer que os espaços visitados além da comunidade são outras três comunidades rurais próximas (Magebrás, Intel e o Tauaú), cujo acesso possa ser realizado via fluvial, uma vez que o principal meio de locomoção é o rio, e para o transporte são empregados os motores rabudos ou simplesmente rabetas (canoas motorizadas). Sobre os lugares mais distantes visitados pelos participantes do estudo estão Belém (capital do estado) e o município de Melgaço, este último também localizado na ilha do Marajó, quando interpelados sobre tais lugares, os estudantes salientaram o tempo da visita, ainda que de forma bem limitada. Convém colocar que durante os relatos, houve piadas bem humoradas sobre outros lugares do Brasil e do mundo, demonstrando a aspiração de todos em conhecer lugares mais distantes, situados num plano ideal. CONCLUSÕES 190 Portanto, esta investigação alcançou constatações importantes por intermédio dos relatos dos estudantes do ensino médio, que resultaram na caracterização socioespacial da vila marajoara de Corcovado, problema de pesquisa que orientou as ações realizadas nesta incursão científica pela zona rural do município de Breves. A priori, o problema de pesquisa foi respondido em razão dos alunos terem citado espaços naquela vila onde são desenvolvidas relações sociais de caráter interpessoal, cuja relevância para o cotidiano da comunidade é inegável enquanto opções para o lazer, entretenimento e a realização de práticas econômicas e religiosas. REFERÊNCIAS CHARMAZ, Kathy. A construção da teoria fundamentada [recurso eletrônico]: uma guia prático para análise qualitativa / Kathy Charmaz; tradução Joice Elias Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2009. 191 Linguagem cultura e diferença: Demarcações Linguísticas e Pedagógicas no Ensino- Aprendizagem na Constituição de Subjetividades na Educação Inclusiva Merian de Cristo LOBATO Universidade Federal do Pará RaimundoNonato de Oliveira FALABELO Universidade Federal do Pará E-mail do autor principal: mlobatto96@gmail.com INTRODUÇÃO A proposta de pesquisa intitulada “Linguagem Cultura e Diferença: demarcações linguísticas e pedagógicas no ensino aprendizagem na constituição de subjetividades na educação inclusiva”. Propõe-se no âmbito da educação inclusiva, investigar como o ensino- aprendizagem no campo da linguagem, estabelece as demarcações Linguísticas e Pedagógicas a educandos nos anos iniciais do 1º ao 5º ano. A problematizar, os processos sócio culturais em que as crianças estão envolvidas e a saber como atravessam os processos de escolarização em face à constituição de subjetividades, considerando as diferenças culturais existentes nesse processo. A relevância da pesquisa se dá por evidenciar o desenvolvimento humano de pessoas singulares no contexto da inclusão ao qual estão vinculados, e nessas perspectivas, vislumbrar a partir da subjetividade do sujeito mailto:mlobatto96@gmail.com 192 social no processo de aquisição identitária, como ele se desenvolve em meio às demarcações linguísticas estabelecidas nas práticas pedagógicas de ensino, como são construídas as subjetividades desses aprendizes que são atravessados por processos de exclusão/inclusão, considerando os processos de relação sócio comunitária de ensino e educação escolar e não-escolar. Sabe-se, que ao se adotar a inclusão no sistema regular, haverá diversidades de aprendizagens, alunos com peculiaridades diferentes de construção do conhecimento, e que, os conteúdos e metas de condições pedagógicas enunciam que se deve ensinar a todos sem distinção. O interesse em desenvolver essa pesquisa surgiu dessas inquietações, por esse motivo, busco vislumbrar nas tessituras do ensino aprendizagem na educação inclusiva, as nuances do ensino que hoje é promulgado pelas leis de inclusão, pela LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996), pelas políticas educativas, instituídas à educação para a diversidade, que prima pela igualdade de condições e direitos. OBJETIVOS Pretende-se analisar como as demarcações linguísticas e pedagógicas influenciam o processo de ensino aprendizagem em meio a processos identitários mesclados por diferenças sócio culturais na escola inclusiva de modo a vislumbrar por meio do olhar das crianças no seio da inclusão como elas constituem suas subjetividades. METODOLOGIA 193 O projeto de pesquisa é proposto com base em diagnósticos qualitativos, através de um estudo de caso, que acontecerá por meio de observação, de maneira a compreender a realidade estudada, ensejando-se o rigor metodológico, traduzido pela capacidade do pesquisador em acompanhar o processo investigativo e constituir os fundamentos epistemológicos de que a pesquisa necessita (SILVA, 2011). Dentro da realidade estudada, utilizar a vertente metodológica etnográfica, por ser uma análise de cunho antropológico pois a etnografia vai além de realizar pesquisas e seguir seus métodos à risca, mas requer do pesquisador a capacidade de realizar o que Geertz (2000) chama de “descrição densa”. Estes eixos metodológicos fomentam e aguçam novos olhares para o objeto a ser estudado, dando bases organizacionais que norteiam o processo de desenvolvimento da pesquisa, bem como seus princípios éticos. O levantamento dos dados se dará por meio de entrevistas semiestruturadas, para saber sobre a percepção dos educandos um com relação à aprendizagem e a constituição de suas subjetividades no seio da educação inclusiva. RESULTADOS E DISCUSSÃO As análises serão feitas por meio de observações e registros em diário de campo (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Ressaltando-se que, a função de ensinar requer uma integração de conhecimentos, para fins de facilitar (mediar) a constituição da subjetividade dos alunos, isto é, essa função não deve ser entendida, simplesmente, como 194 transmissão de conhecimentos, mas sim como um apoio para fornecer estratégias e recursos aos alunos, a fim de que eles possam interpretar o mundo em que vivem, por meio de sua própria história (HERNANDES, 1998 apud OLIVEIRA Et all, 2015 p. 66). CONCLUSÃO Esta proposta de pesquisa evidencia-se, portanto, com uma missão a favor do diagnóstico de subjetividades que permeiam a educação inclusiva no contexto do ensino regular, em uma escola pública interiorana, plural, com classes sociais distintas, marcada por multiplicidades culturais que desvela linguagens e discursos que constituem sujeitos sociais. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF, 1966. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/5442 83/lei_de_diretrizes_e_bases_2ed.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2019. SILVA, Graça [Et all]. Cartografias e métodos: outros traçados. In: MARCONDES, Maria Inês; OLIVEIRA, Ivanilde; TEIXEIRA, Elizabeth. Caminhos metodológicos para a pesquisa em educação. Belém: EDUEPA, 2011. (p. 59 – 78). 195 GEERTZ, Clifford. O saber Local. Tradução de Vera Mello Joscelyne. 3 Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. OLIVEIRA [Et. All.]. Algumas questões sobre a formação de professores para atuar com alunos surdos no contexto da educação inclusiva. In: BAGAROLLO, Maria Fernanda; FRANÇA, Denise Maria Vaz Romano. Surdez, escola e sociedade: reflexões sobre Fonoaudiologia e Educação (Org.). Rio de Janeiro: Wak Editora, 2015. 196 A violência doméstica sofrida por crianças e suas consequências no desenvolvimento escolar Milene Vasconcelos Leal COSTA Faculdade Maurício de Nassau – UNINASSAU Marcela Santos SOUTO Faculdade Maurício de Nassau - UNINASSAU Vanessa Cristina de Souza BRANDÃO Faculdade Maurício de Nassau - UNINASSAU E-mail de do autor principal: milenelealuepa@gmail.com INTRODUÇÃO De acordo com o levantamento da Agência Brasil (Agência de notícias brasileiras) 16 de Dezembro 2019, “Brasil regista diariamente 233 agressões a crianças e adolescentes” em consequência desses dados a violência doméstica acredita-se que os atos cometidos por esses pais contra os filhos podem ser entendidos como uma forma de discipliná-los e educá-los, nessa perspectiva entende-se que é um direito de uso dos pais que se utilizam durante o processo de educação. Para começarmos a tessitura desse projeto de pesquisa é necessário percebermos que a violência com crianças é considerada em sua maioria um fenômeno da violência doméstica e também apontado como um problema social e de saúde pública. No entanto o estatuto da criança e do adolescente reconhece no Art.18 a criança e o adolescente ter direito a mailto:milenelealuepa@gmail.com 197 ser cuidado e tratado sem nenhuma lesão física, ou seja, sobe nenhum tipo conhecido como violência. Afirma Petrúcia de Melo Andrade, secretária nacional dos direitos da criança e do adolescente do Ministério da família “Há uma cultura dos maus-tratos no país, e a gente precisa implementar a cultura dos bons tratos em família”. Com base nessas constatações, trazidas por este estudo nos possibilita compreender que a violência doméstica ao longo dos anos se da continuidade desse pensamento ultrapassado cujas crianças precisam sofrer agressões como forma de punição para serem doutrinados, nas palavras de Azevedo e Guerra. A violência física corresponde ao uso de força física no relacionamento com a criança ou adolescente por parte de seus pais ou por quem exerce a autoridade no âmbito familiar. Está relação de força baseia-se no poder disciplinador do adulto e na desigualdade adulto-criança(Brasil, 1993, p.11). Podemos dizer que seja qual for à lesão causada por seus responsáveis ou qualquer ente da família é considerado violência física, entende-se que é desigual esta relação adulto-criança. Contudo, a violência doméstica envolve um agressor e uma criança coagida e com emocional abalado, que precisa da população e de pessoas próximas para denunciarem tais casos e diminuírem ou finda-los. OBJETIVOS Geral 198 • Compreender como podemos prevenir nossas crianças com a intenção de diminuir os casos de violência doméstica no sentindo de impedir a consequência no seu desenvolvimento Específicos • Compreender de que forma o conselho tutelar exerce o trabalho • Analisar de que forma o conselheiro tutelar resolve o conflito dos alunos dentro da escola • Descrever o papel e procedimento que o professor deve adotar quando perceber um caso de vulnerabilidade da criança METODOLOGIA O percurso metodológico iniciou a partir do levantamento bibliográfico, com pesquisa de campo para conhecer mais sobre a violência doméstica sofrida por crianças, no bairro do Benguí, locus da pesquisa é um anexo social que atende crianças e adolescentes diante de situações de violação de direitos, localizado em Belém/PA; Avenida. Maj. Aviador Seda, nº 72-, Benguí 66640-210. É uma pesquisa qualitativa que visa compreender o processo que ocorre quando o conselho é acionado e de que forma o conduz; e como introduz no espaço escolar podendo agir com o auxílio de uma equipe pedagógica ou do professor; e que medidas serão adotadas para que o professor(a) possa agir nesses casos, os procedimentos que devem ser aplicados. RESULTADOS E DISCURSSÃO 199 A violência ocorre no ambiente familiar onde às vítimas não sabem na maioria das vezes entender que está sendo agredido com uma intensidade onde não sabe classificar que está acontecendo uma violência, e nosso intuito é que a criança não sofra de forma física e psicológica. É preocupante a forma de como foram ocorrendo maiores números de casos existentes na sociedade sobre a agressão às crianças; o que chamou nossa atenção está justamente relacionado de como a comunidade enfrenta esse tipo de violência, as medidas que o governo ampara essas vítimas, as leis de proteção às crianças que estão em vulnerabilidade. Helleieth Saffiot,1993 nos diz a respeito da violência doméstica “pais que praticam violência contra os filhos estão criando filhos violentos quando adultos” isso reflete em uma sociedade violenta, que se atende por uma educação coercitiva adotada por pais/responsáveis que também vivenciaram esses acontecimentos. Nossa pesquisa encaminha-se para um foco no qual de como as escolas e as próprias crianças podem dar sinais e denunciar quando se sentirem maltratadas, temos como estimulo as milhares de vida que podem ser beneficiadas, quanto menos crianças sofrerem violência física menos adultos violentos teremos. CONCLUSÕES A pesquisa encontra-se em andamento, porém cabe destacar que partindo de uma análise cientifica e epistemológica e o levantamento de dados, podemos descrever as seguintes conclusões. Entender a respeito da violência se torna um pouco embaraçoso, pois é difícil 200 conceituar o que acontece com a ordem de sentimentos e emoções de quem sofreu e de quem cometeu as agressões. REFERÊNCIA AZEVEDO, M.A. (Org). Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2000. AZEVEDO, M.A.; GUERRA, V. N. A. . Violência doméstica na infância e adolescência. São Paulo: Robe, 1995. GUERRA, V.N.A, Violência de país contra filhos: a tragédia revisada, 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2005. PETRÚCIA M. A. Secretaria nacional da criança e do adolescente do ministério da família; Agencia Brasil (Agência de notícias brasileiras). 201 O Que Vivenciamos na Pandemia com a Tecnologia? Sabrina Guedes de OLIVEIRA SME/Rio – Rio de Janeiro - RJ Mônica Ramos da Costa MACEDO SME/Rio – Rio de Janeiro - RJ E-mail do autor principal: sabrina.guedes@gmail.com INTRODUÇÃO Em se tratando dessa experiência inusitada que a humanidade está vivenciando através da pandemia, as reflexões não se esgotam num universo de certezas. Todos os campos da vida foram afetados, desde os minúsculos e invisíveis seres até às galáxias desse universo. Talvez ainda seja prematuro dizer que mudaremos ou voltaremos a uma realidade anterior. Parece que temos exercitado a reflexão com alguma dificuldade, pois são muitas as direções e sentidos que a realidade tem nos apresentado. São pontos que precisamos pensar nesse momento. E justificam e confirmam a importância desse Relato de Experiência, que tem por objetivo evidenciar conflitos, potencialidades diante de normativas institucionais e de reflexões a respeito de como estas normativas materializaram-se na prática. Uma coisa é certa: a pandemia acelerou os processos tecnológicos, no sentido de uma imersão maior e urgente nas tarefas mais corriqueiras que até então, realizávamos presencialmente. E nesse movimento, fomos sendo mailto:sabrina.guedes@gmail.com 202 engolidos da forma que estávamos, com nossos níveis diferenciados de habilidades para lidarmos com o digital, o virtual, com a inteligência artificial. Muitas ocupações, diferentes atividades, quase todas as gentes e idades de uma hora para outra tiveram que tentar se adaptar a esse “novo mundo”. A utilização das tecnologias, em todos os contextos, faz emergir novas práticas sociais, principalmente na forma de se produzir e consumir informação. Tais práticas interferem diretamente nos modos de pensamento e de valores, nas técnicas e atitudes dos indivíduos (LEVY, 1999). OBJETIVOS Temos por objetivo elucidar as experiências vivenciadas por professores, na utilização das novas tecnologias educacionais digitais, no período de pandemia do Covid-19. METODOLOGIA Como Metodologia, utilizamos o Relato de Experiência, evidenciando assim os conflitos, as potencialidades, momentos de enriquecimento profissional, mas principalmente, um aprendizado diante de normativas institucionais e alunos/professores com dificuldades no acesso às aulas remotas. Um desequilíbrio entre o ensino presencial e o ensino à distância. RESULTADOS E DISCUSSÃO 203 A pandemia acelerou o uso da tecnologia de forma complexa sem de fato capacitar ou mesmo disponibilizar um processo formativo com os professores. O ensino remoto tornou-se a alavanca das atividades disponibilizadas pelas instituições educacionais. Movimento diferente de se ter uma Educação à Distância (EAD). Para a implementação desse mais novo formato de educação, que acabou por ser considerado o salvador da educação da atualidade, muitos educadores simplesmentes transpuseram as normativas do ensino presencial para as telas digitais. Não foi a melhor solução, mas é a alternativa que vem caminhando e passou a fazer parte da rotina de muitos educadores brasileiros. CONCLUSÕES O tempo corre e cada vez mais nos apresenta desafios que tentamos dar conta da melhor maneira possível. Como educadores, essa equação faz parte das nossas ações, pois os desafios vão nos impulsionando a avançar, a melhorar e a trabalharmos com as realidades que se apresentam historicamente. Porém, os últimos anos têm se mostrado com situações para além dos desafios: as incertezas e suas consequências para se repensar o social, o cultural e o ético. Vivemos no momento uma pandemia que em pouco tempo, nos apresenta muitas esquinas, de direções turvas, que estão nos oportunizando muitas reflexões. Uma delas é 204 o papel da tecnologia em nossas práticas pedagógicas daqui para frente. Comoequacionar o uso cada vez mais intenso e as cobranças que o mundo nos impõe acerca da utilização das novas tecnologias educacionais digitais com a formação docente e as possibilidades ou não da apropriação financeira de todo esse ferramental e linguagem? Uma pergunta válida para os dias atuais, principalmente no planejamento das políticas públicas de ampliação da inserção das tecnologias nos espaços educacionais. O universo tecnológico se expandirá e adentrará cada vez mais inúmeros espaços, mas é preciso que a formação adequada esteja presente se fazendo militante e questionando os saberes, os “modus operandi”. REFERÊNCIAS LEVY, P. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. 205 Paulo Freire e Hannah Arendt: Um diálogo sobre liberdade Rafael Furtado da SILVA Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC/PR Francisco Danilo dos Santos OLIVEIRA Universidade Vale do Acaraú – UVA, Sobral - CE E-mail do autor principal: rafhasil6@gmail.com INTRODUÇÃO No século XX, foram formuladas diversas reflexões acerca de problemas sociais, culturais, políticos e educacionais. Alguns pensadores, entre eles Hannah Arendt e Paulo Freire, escreveram criticamente sobre tais problemas. Arendt viveu durante o período do surgimento do nazismo na Alemanha, enquanto que Paulo Freire, o regime militar brasileiro. Os dois pensadores tiveram experiências semelhantes, como, por exemplo, o exílio. A partir dessa realidade, surgem obras e reflexões sobre vários temas, como a democracia, totalitarismo, liberdade, educação, opressão e tantos outros. Nesta pesquisa, buscamos uma aproximação dialógica entre o pensamento freireano e arendtiano. Segundo Correia (2010, p. 819), “para Arendt, o impulso para a ação brota do desejo de estar na companhia dos outros, do amor ao mundo e da paixão pela liberdade”. No que diz respeito ao tema da liberdade, Freire (1996) reflete sobre a opressão e a “cultura do silêncio” das oprimidas e mailto:rafhasil6@gmail.com 206 dos oprimidos nascendo, desta forma, um novo pensamento educacional, fundamentado no diálogo e na consciência crítica dos sujeitos. O Pedagogo apresenta uma educação que coopera com o desvelamento do sistema de opressão presente no mundo. Freire, nas obras Ação cultural para Liberdade (2006), Educação e Atualidade Brasileira (2003), Pedagogia da Indignação (2016), Pedagogia do Oprimido (2013) e Educação como Prática da Liberdade (1996), considera que o contexto histórico e sociopolítico brasileiro, centrado em um sistema colonizador, contribue para a opressão das mulheres e homens. Arendt (2011) ao refletir criticamente a respeito dos diversos temas da filosofia e da sua realidade escreve sobre questões que envolvem a política, a educação, e os modos de vida da sociedade. Sendo assim, a liberdade é, para Arendt, um dos temas que mais interessa pela sua dimensão política. Compreender a liberdade no pensamento aredtiano exige um esforço devido a sua complexidade. Isso posto, nessa pesquisa buscamos analisar o termo liberdade, principalmente, por meio das obras Entre o Passado e o Futuro (2011) e A Condição Humana (2018), visto que a teórica e filosófa política pondera de forma mais explicita o significado do vocábulo. Nota-se que a liberdade, segundo Arendt (2011), implica uma ação humana livre das necessidades biológicas (manutenção da vida) para estar entre os demais no mundo. A principal afirmação de Arendt acerca da ideia de liberdade basea-se no pensamento de Santo Agostinho. Conforme Arendt, 207 em A cidade de Deus, Agostinho, como é mais que natural, fala mais do pano de fundo das experiências especificamente romanas do que em qualquer outra de suas obras, e a liberdade é concebida aqui não como disposição humana íntima, mas como um caráter de existência humana no mundo. Não se trata de que o homem possua a liberdade como de equacioná-lo, ou melhor, equacionar sua aparicação no mundo, ao surgimento da liberdade no universo; o homem é livre porque ele é começo e, assim, foi criado depois do universo passara a existir (ARENDT, 2011, p. 215). Tendo como base a tese agostiniana de que o homem é o início de tudo, Arendt utiliza do pensamento de Santo Agostinho para compreender a política. Daí surge o conceito de natalidade presente em vários textos da filósofa, que por conseguinte tornou-se uma categoria importante no âmbito filosófico. A partir desse conceito, Arendt reflete sobre a liberdade, a cultura, a política e a educação. Desse modo, percebemos que o conceito de liberdade arendtiano e freireano compreende o ser humano como sujeito de reflexão – ação no mundo e com o mundo. Como já mencionado, para Freire (1996), a liberdade está relacionada à consciência crítica e ao desvelamento da opressão. A liberdade, no pensamento freireano, significa um outro nascimento dos sujeitos. Nessa perspectiva, os homens e mulheres no processo de esclarecimento crítico da opressão, resgatam sua humanidade inicialmente negada pelos opressores. Segundo Freire, 208 [...] enquanto o animal é essencinalmente um ser da acomodação e do ajustamento, o homem o é de integração. A sua grande luta vem sendo , através dos tempos, a de superar os fatores que o fazem acomodado ou ajustado. É a luta por sua humanização, ameaçada constantemente pela opressão que o esmaga, quase sempre até sendo feita – e isso é o mais doloroso – em nome de sua própria libertação (FREIRE, 1996, p. 51). Freire (2006) relata que o processo de libertação dos sujeitos oprimidos acontece, por intermédio da “leitura do mundo e da palavra”, principalmente, quando eles têm consciência da opressão e da presença do opressor. Por isso, a educação humanizadora e libertadora contribui coletivamente para o esclarecimento do fenômeno do sistema de opressão, o qual, busca introjetar nos sujeitos uma falsa consciência e eliminar a possibilidade dos sujeitos de sempre começar algo novo no mundo. OBJETIVO(S) O objetivo desta pesquisa é refletir sobre o conceito de liberdade em um contexto social de opressão e de invisibilidade dos sujeitos oprimidos e oprimidas, tendo Arendt e Freire como base teórica para tal reflexão. METODOLOGIA A partir de uma análise bibliográfica e uma reflexão crítica das obras de Paulo Freire, Ação cultural para 209 Liberdade (2006), Educação e Atualidade Brasileira (2003), Pedagogia da Indignação (2016), Pedagogia do Oprimido (2013) e Educação como Prática da Liberdade (1996) e de Hannah Arendt, Entre o Passado e Futuro (2011) e A Condição Humana (2018). A exemplos dos nossos autores, essa pesquisa suscita uma reflexão centrada na práxis, isto é, na capacidade humana de pensar e agir na transformação do mundo e com o mundo. RESULTADOS ALCANÇADOS Como resultado da pesquisa, ao aproximar o pensamento arendtiano e freireano compreendemos que o conceito de liberdade nesses autores está veiculado a condição humana de aparecer no mundo- ambiente público- e agir entre os demais. Freire apresenta uma liberdade como resultado de um processo educacional libertador fundamentado na conscientização crítica, na humanização e no diálogo. Tal processo representa o início da liberdade do sujeito. Arendt, de maneira similar, considera que a liberdade coloca o ser humano em contato com os outros, conserva um espaço que possibilita o diálogo e recolhesse a singularidade e a pluralidade dos sujeitos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação torna-se, na pespectiva do nossos autores, o principal caminho de libertação e responsabilidade com o mundo e com os outros. O ambiente educacional é o lugar do cultivo da liberdade e da autonomia dos sujeitos ante ao autoritarismo. Nesse sentido,ela resgata a humanidade dos homens e das 210 mulheres e possibilita uma formação crítica e transformadora fundamentada na reflexão e ação. A práxis é pensada por Arendt e Freire como o lugar da visibilidade, onde os sujeitos estabelecem possibilidades de diálogos e reconhecimento mútuo. Portanto, a educação tem suas bases na ação humana e na sua pontência geradora do novo. REFERÊNCIAS ARENDT, Hanna. Entre o passado e o futuro. Tradução Mauro W. Barbosa. 7ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2011. ARENDT, Hanna. A Condição Humana. Trad. Roberto Raposo. Rev. Adriano Correia. 13ª. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2018. CORREIA, Adriano. Natalidade e amor mundi: sobre a relação entre educação e política em Hannah Arendt. In: Educação e Pesquisa, São Paulo, v.36, n.3, p. 811-822, set./dez. 2010. Disponìvel em: <https://www.scielo.br/pdf/ep/v36n3/v36n3a11.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2020. FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 11ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2006. FREIRE, Paulo. Educação e atualidade brasileira. 3ª ed. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2003. FREIRE, Paulo. Educação como prática da libertação. 22ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. 211 FREIRE Paulo. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. 3ª ed. São Paulo: Paz e Terra,2016. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 55ª ed. ver. e atual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013. 212 O ensino de filosofia na ilha do Marajó-Pa: uma proposta discursiva de análise Raryson Maciel ROCHA Universidade Federal do Pará Andrea Silva DOMINGUES Universidade Federal do Pará/PPGEDUC/PROCAD- Amazônia CAPES E-mail do autor principal: raryson@ufpa.br INTRODUÇÃO Desde seu início, a filosofia é identificada “[...] enquanto concepção de mundo, que formula e encaminha a solução dos grandes problemas postos pela época que ela se constitui”, assim, a filosofia deve estimular uma educação que questione a realidade vivida e estimule uma transformação social (SAVIANI, 1990, p. 7). Por esta razão, entendemos seu ensino como necessário à formação do ser humano, pois lhe permite compreender e, de forma prática, transformar a sociedade. Contudo, mesmo sendo tão importante para a formação humana – para o desenvolvimento do pensamento crítico, político e ético – para o desenvolvimento de um conhecimento capaz de garantir a emancipação do sujeito, a Filosofia, como disciplina do currículo obrigatório da educação básica de nível médio brasileira, é aprovada somente pela Lei nº 11.684/2008. Na Amazônia marajoara a política de implementação do ensino de Filosofia seguiu a mesma mailto:raryson@ufpa.br 213 direção de outras redes públicas estaduais de ensino no Brasil, o que já revela uma padronização da forma de implementação do ensino, assim como dos conteúdos a serem ministrados, não atentando-se à cultura e especificidades regionais. Em razão disso, esse estudo se faz fundamental para compreendermos o funcionamento do discurso sobre o ensino de filosofia, como componente curricular obrigatório, e como este pode se materializar para o sujeito aluno, em especial o sujeito aluno marajoara, assim como qual o seu impacto no processo de identificação do mesmo. O presente trabalho apresenta resultados parciais da pesquisa, mais especificamente no que cabe ao discurso fundador presente nas leis que regem seu ensino durante a história da educação brasileira. OBJETIVO(S) Para compreensão das leis que regem o ensino de filosofia no Brasil, e qual o sentido destas nas escolas da cidade Breves-Marajó-Pará, temos como objetivo em nossos estudo historicizar o ensino de filosofia e interpretar o funcionamento do discurso fundador na legislação brasileira, compreendendo como estes discursos são materializados na construção do material didático utilizado nas escolas públicas e perceber o sentido que a filosofia possui na construção do processo de identificação do sujeito aluno na Amazônia marajoara. METODOLOGIA Neste estudo, procuramos historicizar o ensino de filosofia, assim como buscar o sentido e processo de 214 identificação do aluno para com este componente curricular; sem deixar de observar que “a história, por mais distante que seja, tem por objetivo provocar reflexões sobre o mundo atual” (PORTELLI, 1997, p. 15). Partindo deste pressuposto nos propomos realizar uma Análise de Discurso (AD) para interpretação de nosso corpus de análise, entendendo a AD como uma disciplina que trabalha com o funcionamento do discurso e toda conjuntura política, social e ideológica que constitui cada acontecimento, para desta maneira compreendermos o funcionamento do discurso a começar de suas articulações ideológicas (ORLANDI, 2010). Metodologicamente realizamos uma pesquisa qualitativa, tendo como corpus de analise leis, pareceres, livros didáticos e narrativas orais, para que a partir dessa multiplicidade de fontes, possamos ter a oportunidade de interpretar o funcionamento da linguagem na constituição da história do ensino de filosofia na escola básica, e refletir sobre os efeitos produzidos nos discursos legislativos, no texto/imagens do material didático e nas narrativas orais coletadas, observando os diferentes sentidos de um mesmo enunciado, ou de uma mesma palavra. RESULTADOS ALCANÇADOS Iniciamos nossa pesquisa com a interpretação da historicidade do ensino de Filosofia, tendo como materialidade discursos oficiais como pareceres e leis que controlam o funcionamento do ensino deste componente curricular. A interpretação das fontes/corpus de análise ocorre de diferentes maneiras e os sentidos não estão soltos, e, para compreender o funcionamento destes discursos, 215 pensamos nestes como “um jogo da memória: o da memória institucional que estabiliza, cristaliza, e, ao mesmo tempo, o da memória constituída pelo esquecimento que é o que torna possível ou diferente, a ruptura, o outro” (ORLANDI, 2010, p. 10). Assim, como resultado parcial, através da análise do discurso fundador das leis, podemos afirmar que, no Brasil, a educação filosófica sempre se presentou ora como um ensino infértil, deslocado da realidade, ora ausente, por sua exclusão do currículo. No primeiro caso, usado como educação ideológica servindo a igreja e/ou ao Estado elitista, sua educação era sinônimo de “alta cultura” para os de elevada classe social; no segundo caso, sua ausência se deu pela visão prática e tecnicista de educação de governos que propunham um processo desenvolvimentista ao país, priorizando a formação da mão-de-obra, na qual a filosofia não se encaixava. Nos pós- obrigatoriedade, mesmo presente em todo o nível médio, seu currículo não conta com uma diversidade ideológica e epistemológica. A educação filosófica continua presa às ideias europeias e ocidentais limitando-se, com frequência, a autores masculinos, ou seja, ainda se apresenta como educação livresca que trabalha temas gerais, com o agravante do deslocamento cultural e regional de cada aluno, em específico o sujeito aluno da Amazônia- marajoara. CONSIDERAÇÕES FINAIS Educação e Discurso são categorias que caminham paralelamente, pois juntas formam o processo de ensino e aprendizagem. Assim faz-se fundamental compreender o que significa o discurso e as formas de interpretação, pois 216 muitas inquietações, no que tange a interpretação das leis, surgem quando essas produzem diferentes sentidos e interpretações para os educadores, sendo afetadas por discursos políticos, sociais e econômicos que interferem na constituição da produção dos sentidos para os diferentes sujeitos sociais do espaço escolar.Podemos, a partir Análise de Discurso, da Educação e da História Social, construir um olhar histórico, político e crítico dos acontecimentos educacionais referente ao ensino de filosofia e da forma que estes afetam cada sujeito. REFERÊNCIAS PORTELLI, Alessandro. O que faz a história oral diferente? Revista Projeto História. São Paulo: EDUC, 1997. SAVIANI, Demerval. Contribuições da filosofia para a educação. Em aberto. Brasília, 1990. ano 9, n. 45, p. 3-9, jan/mar. 1990. ORLANDI, Eni O. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 9.ed. Campinas: Pontes, 2010. 217 Docência como Resistência Rita de Cássia PAIVA Universidade Federal do Pará Ana Maria de Jesus Ribeiro da SILVA Universidade Federal do Pará E-mail da autora principal: cassia@ufpa.br INTRODUÇÃO Esse trabalho busca apresentar o único projeto extensionista de educação em língua espanhola que acontece na UFPA, doravante UFPA, desse 2010. A partir daí, será mostrado que o objetivo do projeto, conforme texto encontrado no site, é reduzir a violência e o preconceito social por meio da educação. Considera-se também, o desejo de produzir letramento crítico, usando o ensino de espanhol como instrumento para tanto. Isso porque a educação, como agente transformador, pode iniciar um ciclo de mudanças positivas que culminem numa relação mais produtiva tanto para a Universidade quanto para os alunos. Além disso, o Guamá Bilíngue tem sido o único projeto de extensão do curso de Letras/Espanhol e serve como laboratório de formação docente para qualquer aluno de qualquer curso que deseje participar. Também serão estimados pontos e observações abstratas sobre educação e resistência no ensino/aprendizagem de idiomas. mailto:cassia@ufpa.br 218 OBJETIVOS Apresentamos o projeto Guamá Bilíngue, explicando que o ele surgiu da necessidade de integrar o bairro do Guamá a Universidade Federal do Pará. Oriundos de duas escolas do bairro, eram, originalmente, 30 alunos escolhidos pela direção das escolas e aprovados pela equipe do projeto que deveriam cumprir os seguintes critérios: estar entre 15 e 18 anos; matriculados e frequentes no ensino médio, serem carentes no âmbito social (não incluindo o financeiro) e estarem em situação de risco/vulnerabilidade social, a saber, terem atitudes/comportamentos que bordeiem a marginalidade. A partir daí, foi proposto o projeto que, usando uma metodologia diferenciada, permitiu que fossem montadas, em 2010 três turmas e posteriormente o número de turmas possível: anualmente (até 2019) houve entre uma e onze turmas, quer fossem na UFPA quer fossem em escolas ou outros locais que solicitaram, todos receberam o projeto. É difícil falar sobre educação em tempos pandemia, porque todos estamos em um período de adaptação. Infelizmente, em 2020, devido à pandemia de Covid-19, no 11° aniversário do projeto, estamos em stand by, como toda a educação no Brasil. Igualmente difícil, é expressar opiniões sobre docência como resistência. No caso do projeto, utilizando de premissas linguísticas, discursivas e sociais, bolsistas, voluntários e materiais ajudam a cumprir com finalidade central do projeto: a emancipação do sujeito, ajudando os/as estudantes a se tornarem pessoa autônomas, capazes de analisar seu entorno e descobrir seu papel na teia social. 219 Com isso, o termo “resistência” deixa de ser apenas mais uma palavra ou um meme e se transforma em um lugar enunciativo a partir do qual os alunos se manifestam e passam a localizar-se, exigir direitos e questionar o status quo. METODOLOGIA Em termos da metodologia de ensino escolhida, múltiplos estudos já afirmaram que o processo de descoberta científica é um processo de insight analógico (diversos autores apud Lawson & Lawson). Daí, partiu-se da premissa que, sobrepor conhecimentos através do pensamento analógico e análogos estruturais, léxicos e semânticos interlinguais, conduzem à aprendizagem significativa e ao melhor manejo dos conteúdos aprendidos pelos alunos, e foi delineado o enfoque metodológico para a criação do material. A educação e a cultura estão intrinsecamente ligadas pois através da educação podemos perpetuar a cultura de um povo, uma nação, um país; a nossa própria cultura, nossas raízes, costumes, hábitos que adquirimos. Podemos descobrir e redescobrir outras culturas; aprendendo a valorizar, respeitar e ampliar a nossa própria cultura, já que em muitas vezes não a conhecemos e outras vezes passamos a valorizar a cultura do outro e desvalorizar a nossa. Assim, considerando que lecionar é lançar alicerces para o futuro, é que Guamá Bilíngue busca incentivar os alunos do projeto bem como os bolsistas/voluntários a conhecer diversos aspectos de diversas culturas, em um primeiro momento, dos países de fala espanhola. A partir 220 daí, “resistência” passa a ser a linguagem comum que formata o futuro dos envolvidos no projeto. Aliás, existe maior expressão de resistência que a docência? Não apenas a resistência física, intelectual e ideológica, mas a resistência ao clientelismo, aos grupos de WhatsApp e às infinitas cobranças das escolas, das redes educacionais, dos alunos, seus pais, divino Espírito Santo e amém... Falando sobre o papel da cultura no ensino de idiomas, todo professor de idiomas vê (ou deveria ver), no seu processo docente, a redescoberta dos seus próprios valores, culturais, familiares, bem como o seu papel como educador em uma sociedade que muitas vezes marginaliza aqueles que vêm de áreas menos favorecidas, aqueles que são julgados incapazes de vencer na vida ou incapazes intelectualmente falando. RESULTADOS E DISCUSSÃO Identificando o bairro Guamá, é importante informar que ele é considerado a segunda maior favela do Brasil. A primeira é a Rocinha, RJ. A enorme população de famílias que não sabem o que fazer com seus adolescentes, no período em que não estão na escola, fez com que pudéssemos levar alunos em situação de risco social para estudarem dentro da FALEM, ou seja, na UFPA: dentro da maior universidade da panamazônia. A seguir algumas imagens do material do projeto Guamá Bilíngue: 221 Figura 1 Figura 2 Fonte: material do projeto Fonte: material do projeto CONCLUSÕES Em educação, as conclusões nunca são conclusivas, especialmente em 2020 e com o Guamá Bilíngue, não seria diferente. Que haja liberdade ainda que à tardinha nesse país dos tristes trópicos com tucanos misturados aos sabiás laranjeiras; que haja educação libertária, justiça social e luta pelo direito à educação pública, gratuita e de qualidade. REFERÊNCIAS Bairro do Guamá. Disponível em: https://www.bing.com/images/search?q=bairro+do+guam %c3%a1&form=HDRSC2&first=1&scenario=ImageBasic Hover Acesso em: 16 ago 2020. 11:50. 222 DOMINGUES, Andrea S., PINTO, Benedita C. M., RODRIGUES, Doriedson S., COSTA, Gilcilene D. & MIRANDA, José V. A. (orgs). Linguagens e resistência. Cametá: Editora do campus de Tocantins/Cametá UFPA, 2018. GUAMÁ BILÍNGUE. Disponível em: http://www.ufpa.br/beiradorio/novo/index.php/2010/116- edicao-86setembro/1084-guamá-bilingue-em-10-anos e http://www.sisprol.ufpa.br/view/projeto/index.php?view=p rojeto&action=consultarStatus Acesso em: 16 set 2010. 17:05. LAWSON, David I. & LAWSON, Anton E. Neural Principles of Memory and a Neural Theory of Analogical Insight. Journal of Research in Science Teaching, v30 n10 p1327-48/Dec 1993. LEFFA, Vilson J. Aspectos políticos da formação do professor de línguas estrangeiras. In: VILSON J. Leffa. (Org.). O professor delínguas estrangeiras: construindo a profissão. 2ed Pelotas: Educat, 2008, v. 1, p. 353-376. PAIVA, Rita de Cássia & LEAL, Anna Margarida Mendes. Proyecto Guamá Bilingüe. In: IV ENCUENTRO DE LA HISPANIDAD: TRANS-ACCIONES INTERCULTURALES. Boa Vista: EDUFRR, 2011, p. 166-173. 223 Discurso e Memória: uma discussão necessária para as "Vozes do Quilombo" Sílvia de Lima BATISTA Universidade Federal do Pará Andréa Silva DOMINGUES Universidade Federal do Pará/PPGEDUC/PROCAD- Amazônia CAPES E-mail da autora principal: silviadelima307@gmail.com INTRODUÇÃO Este artigo é um recorte da minha pesquisa de mestrado neste vou trabalhar pela interpretação discursiva com o objetivo de debater a relevância do discurso e memória da comunidade quilombola de Igarapé Preto/Oeiras do Pará. Com a metodologia de pesquisa qualitativa a partir da Análise de Discurso, que é uma disciplina que se dedica ao funcionamento do discurso. Nesta comunidade encontramos homens e mulheres carregados de saberes, sonhos, memória e uma profunda diversidade cultural, que inevitavelmente, marcam com vozes que trazem informações que necessitam de cuidados para salvaguardar a memória de um povo com características identitárias nas suas vivências, simbolismo e imaginário. OBJETIVO(S) mailto:silviadelima307@gmail.com 224 A concretização desta pesquisa tem como objetivo discutir a acuidade do discurso e a memória que determinam a busca de afirmação de identidade da cultura afro-brasileira e Africana de homens e mulheres dentro da comunidade de Igarapé Preto/Oeiras Pará, bem como analisar as diferentes discursos dos sujeitos dentro da comunidade na transmissão de saberes tradicionais e como esta ocorre no tempo presente; compreender a relação do ensino formal dentro da comunidade e o uso da memória na transmissão dos saberes tradicionais dentro do espaço escolar institucionalizado. METODOLOGIA Com o objetivo de compreender o discurso em funcionamento nas diferentes manifestações de linguagem apresentadas nas práticas culturais vivenciadas dentro da comunidade de Igarapé Preto, metodologicamente o trabalho será desenvolvido por meio da técnica da história oral, que busca as histórias de vida de cada narrador, possibilitando entender as diferentes memórias, discursos e sentidos sobre o ensino-aprendizagem e a constituição do processo de identificação dos sujeitos sociais nele envolvidos. As entrevistas serão realizadas através de um diálogo com moradores mais antigos do quilombo homens e mulheres com idades de 70 a 90 anos, e cada narrador (a), a partir de perguntas abertas falam de suas histórias de vidas da maneira que quiserem; desta forma realizam um ir e vir na memória, possibilitando marearmos por diferentes tempos. 225 Com os discursos falados pelos narradores (a), será possível compreender aspectos que não poderiam ser entendidos de outra forma, principalmente quando se refere à história de grupos excluídos dessa sociedade, pois, conforme Amado (2002, p.16), ressalta que: O uso do testemunho oral possibilita à história oral esclarecer trajetórias individuais, eventos ou processos que às vezes não tem como ser entendidos ou elucidados de outra forma: são depoimentos de analfabetos, rebeldes, mulheres, crianças, miseráveis, prisioneiros, loucos [...] São histórias de movimentos sociais populares, de lutas cotidianas encobertas ou esquecidas, de versões menosprezadas; essa características permitiu inclusive que uma vertente da história oral se tenha constituído ligada à história dos excluídos. Com o ir e vir da memória, as muitas histórias contadas; é possibilitado a estas pesquisadoras um contato com diferentes formações discursivas que nos conduz aos diferentes sentidos de ser e estar na comunidade de Igarapé Preto / Oeiras do Pará. A pesquisa é uma pesquisa qualitativa e a partir da Análise de Discurso, que é uma disciplina que se dedica ao funcionamento do discurso. RESULTADOS ALCANÇADOS A pesquisa está em sua fase inicial, porém fez-se uma breve abordagem sobre o que se pretende neste estudo sobre o quilombo de Igarapé Preto. Ouvir os moradores 226 mais antigos homens e mulheres carregados de discursos e memórias. No percurso desta pesquisa é fundamental analisar tomando como referência as orientações das leis 10.639/03 e 11.645/08, que versa a valorização dos saberes culturais dos quilombolas soma-se saber quem são esses “guardiões e detentores”, mestre dos seus saberes que se destacam como protagonistas deixando de ser figurantes e passando a serem sujeitos da sua própria história, na pesquisa o trabalho da memória contribui sobre maneira para percebemos as mudanças a partir do olhar do próprio sujeito que no processo de narrar-se. POSSÍVEIS CONSIDERAÇÕES A reflexão sobre o discurso e memória tem representatividade em que os acontecimentos do seu processo formativo, permite a reflexão sobre sua própria prática cotidiana podem contar como veem as mudanças a partir do tempo e também reflete sobre sua relação com os sujeitos de sua comunidade os novos sujeitos que estão se formando a partir do advento da modernidade será discutido teoricamente as duas categorias pelo viés da AD que é importante para o desenvolvimento pesquisa. A tradição é a transmissão de costumes, comportamentos, memórias, rumores, crenças, lendas, para pessoas de uma comunidade, sendo que os elementos transmitidos passam a fazer parte da cultura. Os mais velhos são os guardiões dos saberes culturais, responsáveis por ensinar aos mais novos a viver segundo suas tradições, a cultivar plantas, a ler a natureza, a entender os sinais da terra, e a manter vivos os 227 antepassados que fundaram a comunidade e os seres folclóricos que habitam o imaginário de cada um. REFERÊNCIAS AMADO, J. (Org.). Usos e abusos da história oral. 5. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2002. BRASIL. Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura AfroBrasileira", e dá outras providências. Brasília, DF, 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/2003/L10.639.ht m 100 http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/2003/L10.639.htm%20100 http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/2003/L10.639.htm%20100 228 O carnaval chiquitano: um espaço-tempo de educação intercultural na Vila Bela da Santíssima Trindade Stephany Paipilla FERNÁNDEZ Universidade Federal de Mato Grosso E-mail do autor principal: spaipillaf@gmail.com INTRODUÇÃO Os indígenas chiquitanos, no estado de Mato Grosso, habitam espaços hoje em dia posicionados como áreas de investimento estratégico. As dinâmicas cotidianas dos indígenas estão marcadas pela interlocução com diversos atores aqueles com os que coabitam uma contextura de sentires e perspectivas da cultura e a terra. Neste artigo, fazemos uma análise do Carnaval chiquitano na ruralidade da Vila Bela da Santissima Trinidade desde a aproximação da pesquisa etnográfica no fevereiro do 2020. Chegamos à conclusão de que o Carnaval é um espaço- tempo de educação intercultural, imerso numa complexa rede de relações sociais e formas de exclusão dos saberes e práticas na divisa entre o Brasil e a Bolívia. OBJETIVOS O objetivo geral é entender o carnaval chiquitano como um espaço-tempo de educação intercultural na comunidade de Nova Fortuna, no município da Vila Bela mailto:spaipillaf@gmail.com 229 da Santíssima Trindade. Durante três momentos centrais desenvolvemos as premissas que suportammetodicamente o objetivo central e que correspondem aos objetivos específicos: descrever sócio-historicamente as diferentes perspectivas dos atores que convivem no cotidiano dos indígenas chiquitano, caracterizar o carnaval chiquitano e a dança do Curussé na Aldeia Vila Nova Barbecho como referente do movimento chiquitano e finalmente citar o Carnaval Chiquitano da comunidade Nova Fortuna como reivindicação de educação chiquitana. METODOLOGÍA O desenvolvimento metodológico do texto está fundamentado no giro decolonial como opção cognitiva- interpretativa para posicionar diversas epistemologias no entendimento da realidade. No estudo, a etnografia é central para o afastamento formas de educar hegemônicas e para caminhar as epistemologias chiquitanas paralelas aos modelos de ensino da modernidade/colonialidade. Como método de corte qualitativo, se precisamos de ferramentas como: revisão bibliográfica, observação participante e o registro no diário de campo. A sistematização e rigor da pesquisa, permitiram dar conta da profundidade na análise que conecta as informações e reflexões da pesquisadora em sua participação no carnaval chiquitano, em fevereiro de 2020, que permitiu a apresentação de interesses da pesquisa como o diálogo com os participantes da atividade cultural, política e educativa. RESULTADOS 230 Este escrito faz parte de uma pesquisa coletiva em andamento liderada pelas inquietudes da pesquisadora, pelos estudos com o grupo de pesquisa Corpo, Educação e Cultura (COEDUC) sobre educação intercultural e os povos indígenas do Brasil e pela confiança e organização das comunidades rurais e urbanas em Vila Bela da Santíssima Trindade aquelas com as que continuamos trocando conhecimentos sobre a formação das crianças no meio da crises epidemiológica mundial. Segundo com os objetivos e a metodologia de trabalho, colocamos uma analises bibliográfico de artigos (Santana & Duck-Cintra, 2009; Urupe, 2017; Queiroz & Grando, 2013; Pacini, 2019), dissertações de mestrado (Queiroz, 2013) e teses de doutorado (Da Silva, 2015) e na investigação em curso para falar, primeiro das relações sócio-históricas estabelecidas pela etnia do Brasil com chiquitanos bolivianos, quilombolas, fazendeiros e militares no contexto local dos chiquitanos no Mato Grosso. Em segundo lugar, e desde a mesma revisão bibliográfica, apresentamos as particularidades do Carnaval chiquitano na aldeia Vila Nova Barbecho desde a simbologia e a dança do Curussé para os chiquitanos, aqueles que reivindicam na escola o carnaval como parte da luta na Terra Indígena Portal do Encantado; para finalmente aprofundar pelo trabalho etnográfico da pesquisadora junto com os participantes do Carnaval Chiquitano da comunidade Nova Fortuna, no município de Vila Bela da Santíssima Trindade, na centralidade da dança e da alegria nos processos de aprendizagem da cultura e sua resistência na relação com os atores locais, regionais, e nacionais frente a colonialidade do saber e do poder que coloca a epistemologia indígena na última escada da hierarquia de conhecimento. 231 CONCLUSÕES • Do carnaval como espaço-tempo de educação intercultural é uma leitura crítica e decolonial para possibilitar uma educação intercultural crítica, que segundo Walsh (2007, 2009) é parte da prática descolonial do saber e do poder. • A alegria como ensinamento para as crianças chiquitanas, faz parte da identidade coletiva e do reconhecimento da subjetividade pessoal, é parte de uma epistemologia ancestral que tem resistido na festa as dualidades conceituais do sujeito/objeto e mente/corpo da modernidade/colonialidade. • Os carnavais de aldeia indígena de Vila Nova Barbecho, na Terra Indígena do Encantado, e os de a cidade e ruralidade de Vila Bela da Santíssima Trindade são diferentes pelas relações estabelecidas com diferentes grupos sociais e etnias do Brasil. • Em geral o carnaval chiquitano, tem o papel educativo e político na luta pelos direitos cidadãos, só que dá-se em diferente medida pelas possibilidades afirmação da identidade étnica, num espaço de desigualdades entre grupos étnicos. • Como espaço de educação o carnaval é a resistência cotidiana das epistemologias indígenas que foram simultâneas as perspectivas de desbravamento e especulação da terra e dos corpos dançantes • A pluriculturalidade, e diferencia da multiculturalidade, promove as diferentes formas de ver o mundo e é uma prática que pode ser incluída 232 iniciando no reconhecimento das históricas desigualdades na hierarquia do saber. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA SILVA, V. Carnaval alegria dos inmortais: Ritual, pessoa e cosmologia entre os Chiquitano no Brasil. 2015. Tese (doutorado em antropologia social). Faculdade de filosofia, letras e ciencias humanas. Departamento de Antropologia, Programa de Pós-graduação em antropologia social. Universidade de São Paulo, 2015. GRANDO, B. S. (org.) Cultura E dança em Mato Grosso. Catira, Curussé, Folia de Reis, Siriri, Cururu, São Gonçalo, Rasqueado e Dança Cabocla, na Região de Cáceres. Cuiabá: Unemat Editora, 2005. GRANDO, B; QUEIROZ, L. A educação do corpo em Vila Nova-Barbecho: o Curussé chiquitano na educação da criança. Revista Educação Pública, Cuiabá, v. 22 n. 49/2, p. 453-470, maio/ago. 2013. PACINI, A. As identidades chiquitanas em perigo nas fronteiras. Cadernos IHU ideias. Instituto Humanitas Unisinos, ano 17, n. 292 v 17. p 3-30, 2019. QUEIROZ, L. Educação da criança chiquitano: O curussé como expressão das práticas corporais educativas. Dissertação (Mestrado em educação). Programa de Pós- Graduação em Educação. Universidade do Estado de Mato Grosso, 2013. 233 SANTANA, A; DUCK-CINTRA, E. Estudos da língua Chiquitano do Brasil: Trajetória e perspectivas. Periódico Polifonia. Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso, n. 17. p 91-109, 2009. URUPE, S. Espaço da infância na Cultura Chiquitano. Revista Humanidades e Inovação, v.4, n. 3. 2017. p 161- 173 WALSH, C. Interculturalidad, colonialidad y educación. Revista Educación y Pedagogía, V. XIX, n. 48, maio-ago, p. 25-35, 2007 WALSH, C. Interculturalidade Crítica e Pedagogia Decolonial: in-surgir, re-existir e re-viver. In: CANDAU, Vera (org.) Educação Intercultural na América Latina: entre concepções, tensões e propostas. Rio de Janeiro: 7 Letras. 2009, p. 12-42. 234 A linguagem no ensino fundamental: Perspectiva histórico- cultural de Vigotski. Talia Balieiro da SILVA Universidade Federal do Pará Raimundo Nonato de Oliveira FALABELO Universidade Federal do Pará E-mail do autor principal: balieiro.s.lia@gmail.com INTRODUÇÃO Ao tratarmos da linguagem no ensino fundamental é importante compreender de que forma ocorrem as funções psicológicas superiores bem como as relações estabelecidas no meio social, pois as inter-relações de troca são mediadas pela linguagem que é um dos fatores contribuintes na construção epistemológica do ser humano. Segundo Oliveira (2001, p. 45) “O surgimento do pensamento verbal e da linguagem como sistema de signos é um momento crucial no desenvolvimento da espécie humana, momento em que o biológico transforma-se no sócio histórico”. Pois a partir desse momento as potencialidades do indivíduo estão sendo desenvolvidas saindo do aspecto biológico para sócio histórico, logo o ser humano vai se constituindo cada vez mais na sociedade, através das relações sociais. A pesquisa elaborada a respeito da linguagem no ensino fundamental na perspectiva histórico-cultural de Vigotski foi relevante para que houvesse a compreensão do desenvolvimento dos mailto:balieiro.s.lia@gmail.com 235 alunos em relação a linguagem, bem comoa importância da intervenção pedagógica no âmbito escolar, momento este que é de extrema relevância já que é a partir dessas intervenções que o aluno tende a aperfeiçoar as suas potencialidades no momento da aprendizagem. Dessa forma, notou se o quão é importante o trabalhar os aspectos da afetividade durante esse processo, uma vez que foi possível identificar que a mesma interfere positivamente e negativamente no processo de aquisição do conhecimento dos alunos no âmbito escolar. OBJETIVOS Identificar as manifestações afetivas, emocionais e o conhecimento nos processos de leitura e escrita, buscando compreender sobre quais fatores levam a este desenvolvimento e aprendizagem dos alunos e de forma ocorre a mediação afetiva entre o aluno, o conhecimento e o professor. METODOLOGIA Nesta pesquisa, foi utilizado o diário de campo, no qual se registrou inúmeras relações envolvendo os alunos, a professora e eu, bem como as manifestações afetivas, emocionais e o conhecimento nos processos de leitura e escrita, apresentando evidências a respeito dos fatores que levam a este aprendizado e como ocorre a mediação afetiva entre o aluno, o conhecimento e o professor. Como embasamento teórico utilizou-se os estudos realizados por L.S Vigotski um autor sociointeracionista, que leva em consideração as aspectos biológicos e sociais do indivíduo 236 bem como a importância do professor mediador no processo de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, pois seus postulados teóricos foram fundamentais para relevância dessa pesquisa que durante esses 12 meses com as análises do trabalho de campo coincidiram com as práticas dentro do âmbito escolar. Uma vez que é através do conhecimento que há a troca de valores, experiências, culturas e inúmeras formas de significação pois o mesmo se constrói coletivamente e socialmente, sendo que é no ambiente escolar que haverá o aperfeiçoamento dos saberes, trocas de informações e conceitos para que assim a criança obtenha um bom aprendizado, pois é nesse ponto que se é aprimorada as bases do conhecimento humano. RESULTADOS E DISCUSSÕES A cognição e a palavra estão de certa forma interligadas, pois é a partir dessa união que se forma os conceitos básicos para o entendimento (Vigotski 1998b, p.1) “enquanto não compreendermos a inter-relação pensamento e palavra, não podemos responder, e nem mesmo colocar corretamente qualquer uma das questões mais especificas desta área”. Sendo que, durante a investigação ficou claro que a significação e a linguagem encontram-se intrínsecas no processo de assimilação do conhecimento relacionado à leitura e a escrita e que a missão precípua de investigação do plano de trabalho foi relevante para que houvesse a constituição da pedagogia da significação que seria essa preocupação em ensinar a linguagem, a leitura e a escrita em sala de aula, de maneira contextualizada, transformando a relação de conhecimentos também em uma relação afetiva. 237 Ademais foi trabalhado o papel da linguagem e da significação no ensino fundamental, sobre as perspectivas de Vigotski, pois a linguagem é um dos fatores primordiais de comunicação na qual o indivíduo se expressa, estabelecendo suas relações na sociedade. Visto que o pensamento e a linguagem estão interligados e não se pode pensar em um sem o outro, pois o processo de significação se faz na junção desses fatores, não se pode pensar em pensamento sem a fala. Na construção do significado se forma as bases para compreender a significação da palavra, onde se forma o pensamento verbal, sendo que é nele que presenciaremos a junção de pensamento e fala. Pois segundo Vigotski (1998b, p. 5): “É no significado da palavra que o pensamento e a fala se unem em pensamento verbal. É no significado então, que podemos encontrar as respostas às nossas questões sobre a relação entre pensamento e a fala”. De acordo com os trechos citados acima é evidente que o pensamento e a linguagem estão interligados e não há dissociação de ambos, uma vez que são os elementos que originam a fala. Pois o significado das palavras é algo extremamente estreito que fica difícil de ser identificado como um fenômeno do pensamento ou da fala. Para Vigotski (1998b, p. 47): “Quando os processos de desenvolvimento do pensamento e da linguagem se unem, surgindo, então, o pensamento verbal e a linguagem racional, o ser humano passa a ter a possibilidade de um modo de funcionamento psicológico mais sofisticado, mediado pelo sistema simbólico da linguagem”. Ou seja, a partir do momento em que há a junção entre o pensamento e linguagem o indivíduo passa a transitar por meios simbólicos, originando um funcionamento psicológico 238 sofisticado, uma vez que a mediação ocorre através da linguagem que passa a ser um instrumento, onde o ser humano começa a pensar inteligentemente sobre suas ações no mundo, sua relação para com os outros indivíduos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Portanto, foi possível evidenciar que somos sujeitos simbólicos e que nos constituímos nas relações sociais mediadas pela linguagem e significação onde se encontra a interação diversificada da criança com a cultura escolar e com o conhecimento de forma significativa. Ao analisar o desenvolvimento da linguagem nos anos iniciais do ensino fundamental a partir dos estudos de Vigotski, foi possível conhecer as dimensões afetiva, emocional e os conhecimentos da leitura e da escrita, a partir desses aspectos foi possível analisar a respeito dos fatores levam até este aprendizado por meio da mediação afetiva entre aluno, conhecimento e professor. Foi identificado que os alunos obtiveram ações bastante simbólicas, pois havia dentro do ambiente escolar relação afetiva entre os mesmos e o professor, logo fica evidente que a relação ali estabelecida era bastante coletiva, havia uma interação entre os alunos, a troca de conhecimentos e a apropriação dos meios simbólicos e da afetividade. Conclui-se a missão precípua de investigação do plano de trabalho foi relevante para que houvesse a constituição da pedagogia da significação que seria essa preocupação em ensinar a linguagem, a leitura e a escrita em sala de aula, de maneira contextualizada, transformando a relação de conhecimentos também em uma relação afetiva. 239 REFERENCIAS BOCK. Ana Maria, M; GONÇALVES. M. Graça. Psicologia Sócio-Histórica- 3.ed – São Paulo: Cortez, 2007. DANIEL. Harry. Vygotsky em foco: pressupostos e desdobramentos – 5. ed. Campinas – SP: papirus, 2001. FONTANA, Roseli; CRUZ; Maria Nazaré. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual, 1998 OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vigotski: aprendizado e desenvolvimento: Um processo sócio-histórico. São Paulo: ed. Scipione; 2001. VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: M. Fontes, 1987 VIGOTSKI, L. S. A Formação social da mente. São Paulo: M. Fontes, 1998a. VIGOTSKI, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: M. Fontes, 1998b. 240 Educação Sexual em Escolas de Ensino Médio de Breves/Marajó: percepções de alunos e profissionais da educação Valéria de Oliveira Pena BORGES Universidade Federal do Pará Benedita Celeste Moraes PINTO Universidade Federal do Pará E-mail do autor principal: valeriaborgesz11@gmail.com INTRODUÇÃO Diante da crescente necessidade de tratar a sexualidade na escola, em decorrência dos inúmeros casos de gravidez na adolescência, sobretudo no contexto da Amazônia, bem como os frequentes noticiários de abuso/exploração sexual, e os alarmantes índices de violência de gênero e orientação sexual, questiona-se: como a escola, e em particular, as escolas de ensino médio da cidade de Breves, na ilha do Marajó, compreendem e atuam em relaçãoà educação sexual? OBJETIVOS • Investigar a perspectiva da escola em relação ao conceito de educação sexual. • Analisar se a escola trabalha com o tema e de que modo isso acontece na prática. mailto:valeriaborgesz11@gmail.com 241 • Compreender os principais desafios para implementação de uma educação sexual ampla nas escolas estaduais de ensino médio no município de Breves METODOLOGIA Além do levantamento bibliográfico de autores que trabalham com a temática da educação sexual como ARAÚJO(2018), FIGUEIRÓ(2004), DEL PRIORE(2011), SILVA(2017) e ROSEMBERG(1985), a pesquisa conta com entrevistas e questionários aplicados em quatro escolas estaduais do município de Breves. Os dados do presente estudo foram analisados a partir de uma perspectiva quanti- qualitativa, objetivando compreender qual a perspectiva da escola (profissionais da educação e alunos) em relação à: conceito, importância e aplicação de ações no campo da educação sexual no âmbito escolar. Para tanto, trabalha-se com colaboradores da classe de profissionais da rede pública de educação, bem como alunos de quatro escolas estaduais de ensino médio da cidade de Breves, distribuídos entre os três anos do ensino médio: 1º, 2º e 3º ano. É importante mencionar que por questões éticas da pesquisa, nomes e demais informações que possam identificar as identidades dos colaboradores não serão reveladas. Assim, outras nomenclaturas serão utilizadas por ocasião das análises dos dados deste estudo. Nestas condições, foram formuladas três questões básicas para nortear as entrevistas com os profissionais, sendo elas: a) Como você, enquanto profissional da educação, compreende a educação sexual na escola? b) Há algum projeto ou práticas de educação sexual na sua escola? 242 Se sim, como ocorre? c) Em sua opinião, quais os principais desafios para o desenvolvimento e aplicação de práticas de educação sexual na sua escola? Além disso, levando em conta que alguns alunos eram menores de 18 anos, os termos de consentimento foram entregues aos pais para assinatura e posterior aplicação do questionário. RESULTADOS E DISCUSSÃO As heranças da tradição religiosa na realidade brasileira e, sobretudo, na educação, resultaram em uma sociedade que possui dificuldades em separar a religiosidade de questões de direito. No âmbito da educação sexual, em particular: A igreja católica constituiu um dos freios mais poderosos, até a década de 60, para que a Educação Sexual formal penetrasse no sistema escolar brasileiro. Em primeiro lugar, por sua posição claramente repressiva em matéria de sexo; em segundo lugar, pela posição de destaque que ocupou na educação nacional (ROSEMBERG, 1985, p.12). É a partir da segunda metade dos anos 60 que começam a ser vivenciadas de maneira sistemática algumas experiências de educação sexual no cenário nacional, especialmente em instituições de ensino do Rio de janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Entretanto, “experiências tímidas circunscritas a umas poucas classes da rede oficial, atingindo um número insignificante de alunos” (ROSEMBERG, 1986, p.13), e que mesmo assim “não 243 sobreviveram ao agravamento do autoritarismo do país que assumiu, mais claramente, uma postura nitidamente moralista” (IBIDEM, 1986), representativa do período da ditadura militar. De fato, o que percebemos é que os discursos sexistas, conservadores e religiosos circundaram a temática “Educação Sexual” ao longo da história brasileira até os dias atuais. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais1, ignorar, ocultar, reprimir são as respostas mais habituais dadas pelos profissionais da escola em relação às manifestações da sexualidade dos estudantes no âmbito escolar. “Essas práticas se fundamentam na idéia de que o tema deva ser tratado exclusivamente pela família” (p.77). Contudo, dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social do Pará (SEGUP) indicaram um número de 1.400 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, que em sua maioria são menores de 14 anos. Os crimes têm como principais agressores indivíduos que vivem perto das vítimas, como tios, avôs, pais, padrastos2. Como esperar, então, que a educação sexual seja uma iniciativa exclusivamente da família? A presente pesquisa demonstrou que as atividades escolares envolvendo o tema ainda são iniciativas pouco articuladas. A primeira pergunta feita aos profissionais questionava: Como você, enquanto profissional da educação, compreende a educação sexual na escola? Os quatro demonstraram dar importância ao tratamento do 1 Para acessar documento completo: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro102.pdf 2 Para acessar esta informação: https://www2.mppa.mp.br/noticias/mppa-realiza-evento-sobre-a- violencia-sexual-contra-criancas-e-adolescentes.htm http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro102.pdf https://www2.mppa.mp.br/noticias/mppa-realiza-evento-sobre-a-violencia-sexual-contra-criancas-e-adolescentes.htm https://www2.mppa.mp.br/noticias/mppa-realiza-evento-sobre-a-violencia-sexual-contra-criancas-e-adolescentes.htm 244 tema, como observa-se na resposta de um dos colaboradores: É muito importante que nós tenhamos uma educação que aponte para esclarecer certas questões que, às vezes, são obscuras e acabam gerando até prejuízo pro aluno, problemas de saúde, toda uma série de situações, e não só saúde, que a gente pode dizer assim, física, né? Na área da doença. Mas hoje, principalmente na sociedade que nós estamos, a questão da angústia, do psicológico (Profissional 1). De acordo com Mary Neide Figueiró(2004), cabe aos profissionais pensar em uma proposta pedagógica que promova, antes de tudo, um contexto aberto, livre e seguro, no qual o aluno se sinta livre para estabelecer diálogo. Por essa razão, a autora destaca a importância de priorizar o uso do termo “educação sexual” ao invés de “orientação/instrução sexual”, como é abordado nos PCN’s, pois para ela, o primeiro define melhor o tipo de proposta que se deve ter na escola em relação à sexualidade. Com relação à segunda pergunta, isto é, se há algum projeto ou prática de educação sexual na escola do entrevistado, os 4 profissionais responderam que são ações isoladas. Apesar de reconhecida a importância, eu creio que por conta de alguns entraves que se apresentam, a escola ela não tem uma ação mais específica, mais concreta mesmo para área da educação sexual. O que nós temos são algumas ações que eu posso dizer assim, isoladas, pontuais, onde você trabalha temas como reprodução 245 humana, anatomia também. Aí por tabela, alguns professores acabam comentando (Profissional 3). Destaca-se que, conforme os PCN’s, o tema deve ser trabalhado de maneira transversal, indo além dos aspectos ligados ao corpo, pois conforme o documento, a abordagem exclusivamente das ciências naturais “não abarca as ansiedades e curiosidades das crianças, pois enfoca apenas o corpo biológico e não inclui as dimensões culturais, afetivas e sociais contidas nesse mesmo corpo”. Em relação à terceira questão da pesquisa, ou seja, quais os principais desafios encontrados por esses profissionais para a implementação de ações em educação sexual em suas escolas, os mesmos destacaram principalmente a formação adequada aos professores para uma abordagem responsável e significativa. Pra ser sincero, eu acredito que os próprios professores não têm a qualificação, o nível de informação necessária pra se abordar de uma maneira mais apropriada. Ás vezes até pros professores mesmo já é um tabu. Então como é que ele vai trabalhar na sala de aula? (Profissional 1). Sobre a percepção dos alunos em relação à educação sexual, os resultados demonstram que o tema não vem tendo grandeespaço na escola: 246 A família tem exercido maior influência na percepção dos alunos quanto à origem das informações/orientações que recebem no campo da sexualidade. A porcentagem de informações vindas das mídias e àquelas vindas dos amigos demonstram o mesmo percentual, ao passo que a escola apresenta o menor número. Com relação à questão número 2, referente à escola ter ou não a função de orientar sobre questões de sexualidade, observamos: Esta questão do questionário pedia que eles explicassem porque acreditam que sim/não e, nesse sentido, a maioria das respostas apontam para a confiança nas informações vindas da escola “pois a escola pode orientar Minha família Internet, televisão, livros e outras mídias Escola Amigos Acham que sim Acham que não 247 de forma melhor, através de conhecimento científico e de dinâmica” (Aluno B). Quanto aos alunos que responderam que não é papel da escola tratar de sexualidade, a maioria não justificou. Entretanto, os que responderam apontaram em sua maioria que o assunto deve ser restrito à família. “É a família que deve falar com os filhos sobre educação sexual, porque eles que são os responsáveis pelo que acontece na vida dos jovens” (Aluno D). CONCLUSÕES Seja na concepção de profissionais da educação, seja na percepção dos alunos, nota-se na pesquisa que a importância da educação sexual na escola é reconhecida por quase a totalidade dos membros da coletividade escolar. No entanto, mesmo com o reconhecimento deste espaço como apropriado para a efetivação de práticas de educação sexual, todos relataram não ter ações significativas na formação para uma sexualidade livre e responsável. O tema ocupa um lugar desfocado nas aulas, tendo um pouco mais de atenção na disciplina referente à biologia, desviando a atenção de outras dimensões atreladas à sexualidade, como as construções históricas e sociais, os sentimentos, o respeito por si e pelo outro. Tais dimensões não podem escapar dos olhos da escola, dada sua função de formação integral. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto 248 ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília: MECSEF, 1998. _____. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MECSEF, 2000. FIGUEIRÓ, Mary Neide Damico. Educação Sexual: Como ensinar no espaço da escola. Revista Linhas. n. 7, 1: p. 1- 21, 2004 ROSEMBERG, Fulvia. Educação sexual na escola. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 53, p.11-9, maio 1985. SILVA, Gleidson; AMORIM, Simone Silveira. Apontamentos sobre educação no Brasil Colonial. Interações (Campo Grande), Campo Grande, v. 18, n. 4, p. 185-196, dezembro de 2017. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S1518-70122017000400185&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 21 dez. 2019. 249 O Ensino de Línguas para Alunos Surdos Interligados a Transversalidades Culturais no Atendimento Educacional Especializado Wanessa Suely Cardoso RODRIGUES Universidade Federal do Pará José Orlando Ferreira de MIRANDA JÚNIOR Universidade Federal do Pará E-mail da autora principal: wanessacardoso98@gmail.com INTRODUÇÃO O estudo desta pesquisa tratou-se, em geral, do desenvolvimento do conhecimento sobre surdez no espaço escolar e familiar e especificamente do aspecto cultural na transição e decorrer do ensino da língua portuguesa em modalidade escrita e língua de sinais para alunos surdos, ouvintes e formações continuadas para professores, na Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Santa Terezinha. Localizada no Estado do Pará, Município de Cametá/PA, zona urbana, a referida escola oferta ensino regular e atendimento educacional especializado-AEE, implantado na escola a partir do ano de 2018. Recebe cerca de vinte alunos de diversas categorias, entre eles, dois alunos com surdez que frequentaram somente o primeiro semestre do ano de 2018, e após isso, desistiram, voltando apenas um a participar, no ano de 2019, depois das atuações do projeto de extensão “Carto(grafias) da Educação de Surdos: Espaços para a Diferença na Escola.” mailto:wanessacardoso98@gmail.com 250 A investigação ocorreu no ambiente escolar, é de suma necessidade que se quebrem barreiras comunicativas do sujeito surdo, com o intuito de viabilizar o seu conhecimento e projetar caminhos de interação com o meio cultural por meio das línguas, desligando-se daquilo que Skliar (2016) chama de binarismo raso de ideias entre língua de sinais/língua portuguesa, inclusão/exclusão, deficiência/eficiência. Freire, nascido em 1921, é educador que trata do ensino mediante a ligação à vida cotidiana, com junção de ideais éticos de preito, percepção e empatia. Nesse seguimento, declara: Os educadores jamais devem permitir que a voz dos alunos seja silenciada por uma legitimação deformada da língua padrão. A voz dos alunos jamais deve ser sacrificada, uma vez que ela é o único meio pelo qual eles dão sentido à própria experiência no mundo (FREIRE, 1990, p. 100). Essa abordagem especifica que as lacunas abertas na educação de surdos em relação ao ensino da língua são profundas, visto que é importante reconhecer o aluno mais à frente das ideias binárias, em artificio de ser o ensino que aceite a nacionalidade, classe social, gênero, contexto de identidade e, com isso, quebrar o ambiente hegemônico de ideias ouvintes para usar o aprendiz surdo como mero ser patológico. O traçar é inverso a ideias binárias, dado que o principal é colocar a voz do aluno surdo diante das possibilidades de decidir sobre sua própria cultura. Em vista disso, a problemática da pesquisa surgiu em torno da seguinte indagação: De que maneira o ensino de línguas 251 para alunos surdos interligados a transversalidades culturais contribui para a inclusão na Escola Municipal de Ensino Fundamental e Infantil Santa Terezinha? Diante desta problemática, foram realizadas ações vinculadas ao projeto de extensão, realizado na Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Santa Terezinha, no período de agosto de 2019 a julho de 2020. O Projeto de extensão, intitulado “Carto(grafias) da Educação de Surdos: Espaços para a Diferença na Escola”, foi viabilizado por meio do Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Educação de Surdos pela Universidade Federal do Pará, Campus Cametá, Faculdade de Linguagem e Pró-Reitoria de Extensão/UFPA. OBJETIVOS Por intermédio desse projeto de extensão, foi possível atingir objetivos satisfatórios para este estudo. Esta pesquisa culminou com objetivos diversificados, tais como: contribuir para o existir e resistir cultural por meio do ensino das línguas, influenciando a integridade dos alunos com surdez no atendimento educacional especializado da Escola Municipal de ensino Infantil e Fundamental Santa Terezinha; desenvolver o ensino da língua de sinais e língua portuguesa para a inclusão e conhecimento cultural no atendimento educacional especializado; diferenciar o aprendizado para alunos surdos mediante de didáticas no atendimento educacional especializado afim de traçar contextos culturais. METODOLOGIA 252 A metodologia desta pesquisa constitui-se do método cartografia. Desde o princípio, foram acompanhadas pistas de um processo de processualidade, no seguimento de que não se investiga para obter coleta e análise de dados, mas para a produção de subjetividade, que neste caso, gira em torno de um processo que já se realiza no espaço escolar. O mesmo é um espaço que o cartógrafo não habitava no começo, ou seja, na Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Santa Terezinha. Nessesentido, adentrou-se sem ter conhecimentos prévios sobre o lugar, adotando-se como primeiro passo buscar subsídios teóricos em autores influentes na área da educação e surdez. O método cartografia foi o mais adequado para esta pesquisa devido que o seu objetivo não visa isolar o objeto da transição histórica que cada um pertence, mas unir-se a tudo que está conectado, assim como o ensino da língua deve ligar-se ao mundo cultural que está presente no cotidiano dos sujeitos, tornando-os independentes para trilhar caminhos nas essências culturais, comunicativas e eruditas da sociedade. Ressalta-se que durante a pesquisa foram respeitados todos os direitos éticos. Desse modo, os participantes aceitaram participar voluntariamente das ações do projeto de extensão. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os fatos relevantes desta pesquisa foram a percepção da ausência de conhecimento dos professores sobre surdez e ensino da língua portuguesa modalidade escrita para a aluna com surdez, dado que os professores relataram, na primeira instância, que a aluna detinha uma caligrafia deslumbrante, e desta forma, ela sabia ler, 253 interpretar e escrever. Porém, a aluna e os professores não sabiam comunicar-se por língua de sinais. Diante disso, desejavam que ocorressem formações continuadas de língua de sinais para os professores. O linguista Luiz Antônio Marcuschi, conhecido por suas obras voltadas sobre linguística textual, gêneros textuais e análise conversacional, propõe que “Uma teoria da escrita que só observasse forma seria uma teoria falha” (MARCUSHI, 2001, p. 31), ou seja, a forma bonita da escrita da aluna com surdez não garante que ela saiba ler e escrever, tampouco que esta escrita esteja relacionada com seu meio cultural. Na mesma obra, é salientado que “Não vejo a produção de sentido na escrita relacionada apenas ao que é lexicalmente transcrito no papel, nem postulado que o uso da escrita neutro (nem seu estudo é neutro). (MARCUSHI, 2001, p. 31). Nessa perspectiva, a língua escrita é uma comunicação que vai além do somente transcrever e está ancorada na percepção de entendimento e cultura. Por isso, as atividades que eram propostas foram adaptadas. Depois de analisadas as dificuldades da aluna, com o primeiro contato e com as atividades dispostas no caderno, analisou-se que a aluna era apenas copista, não entendia o que escrevia, não sabia escrever sozinha e não detinha fluência da língua de sinais. Seguindo isto, os resultados foram positivos para a aluna conseguir entender as diferenças da língua de sinais e língua portuguesa, como também relacionar com respectivas vivências do seu dia, com a associação do sinal, palavra e imagem para descrever família, sua cidade, animais, alimentos, dentre outros. A aluna ficou bastante tímida no começo, mas após a chegada de uma outra pessoa 254 com surdez começou a sentir-se à vontade para participar da atividade. Esse contato com a comunidade surda torna- se importante para o ensino, pois demonstra o encontro de uma representatividade cultural barrada por falta de comunicação, a criação de encontros culturais. Nesse sentido, segundo Skliar (2016, p. 54), é “(...) essencial para a construção da identidade surda, é como um abrir o baú que guarda os adornos que faltam ao personagem”. Nesse percurso, observou-se que o atendimento não deveria isolar-se, mas adentrar em outros espaços. Por isso, resolveu-se inserir a formação para os alunos que estudavam com a aluna, visto que o propósito projeto compreendia agregar as relações culturais da aluna. Diante disso, foram realizadas aulas de língua de sinais para os alunos do 5° ano do ensino regular, juntando com experiências do dia a dia. Para isso, começou-se a ensinar o alfabeto em libras, saudações, materiais, família, cores, trânsito, e aulas com a presença de vídeos sobre surdez. Assim, nesse momento, conseguiu-se direcionar o aprendizado tanto para a aluna com surdez como para os colegas, no aspecto da cultura visual. É possível entender sobre um ensino mais inclusivo se houver respeito à alteridade e reconhecermos as diversas culturas que nos integram em sociedade. Por isso, ações intervencionistas foram levadas para o ambiente escolar. Mesmo com variadas facetas negativas, a presente pesquisa mostra que é possível fazer um ensino que reconheça a cultura e que ensine para além de formas escritas que exclui o entendimento e os assuntos corriqueiros do cotidiano. CONCLUSÕES 255 Diante do estudo desta pesquisa, é alentado o cenário educacional inclusivo para alunos com surdez no campo sobrecarregado de práticas que vislumbram imposições, deixando o aluno que se difere por seu aspecto linguístico e cultural da maioria dos demais à margem da sociedade. A educação garante em lei aos sujeitos a capacitação para estabelecer relações, aprendizados, comunicação e responsabilidades de entender os valores sociais com o outro, independentemente de qualquer crença, costume e língua de determinada comunidade. O primeiro passo a ser dado é garantir o respeito e ensino igualitário a todos e garantir o conhecimento para todo o público escolar, alavancando a reflexão e a conscientização sobre o ensino para alunos surdos. Quantas vezes alunos surdos quiseram socializar e não foram vistos, e tantas vezes forçados a usar a oralidade, pressionados a mudar sua cultura por meio visual para adentrar a normalização e padronização dada pela decisão dos demais e majoritários ouvintes? Em função disso, foram imprescindíveis as ações do Projeto de extensão “Carto(grafias) da Educação de Surdos: Espaços para a Diferença na Escola”, que construíram reconhecimentos políticos, mudanças de discursos e entendimentos sobre o além do ser surdo, em contexto visual interligado a variadas particularidades como: linguístico, nacionalidade, gênero, classe social, dentre outros. REFERÊNCIAS FREIRE, P. Leitura da palavra: leitura do mundo. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1990. 256 MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008. SKLIAR, C. A surdez: um olhar sobre as diferenças. 8. ed. Porto Alegre: Mediação, 2016. 257 RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E EDUCAÇÃO 258 Capoeiras Versus Sistema CONFEF/CREF’S: negociação e conflitos no Norte do Brasil? Antonio ALENCAR FILHO Instituto Federal do Pará Luiz Augusto Pinheiro LEAL Universidade Federal do Pará E-mail do autor principal: alencarfisica@hotmail.com INTRODUÇÃO Os diálogos e tensões entre o sistema CONFEF/CREF´s e as e os praticantes de Capoeira começaram a ser travados a partir da Lei 9696/98 (BRASIL, 1998). A Lei trata da regulamentação da Profissão de Educação Física e da criação e implantação do sistema CONFEF/CREF´s. Ela estabeleceu que: o exercício das atividades de Educação Física e a designação de Profissional de Educação Física são prerrogativas dos profissionais regularmente registrados nos Conselhos Regionais de Educação Física; quais profissionais poderiam ser inscritos nos quadros dos Conselhos Regionais; as competências do Profissional de Educação Física; a criação do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de Educação Física e os primeiros membros efetivos e suplentes. A organização estrutural e financeira ocorreria por meio de resoluções e portarias internas, ou seja, os presidentes, vice-presidentes e os conselheiros teriam o poder da lei para argumentar quais seriam as atividades mailto:alencarfisica@hotmail.com 259 exclusivas “dos seus profissionais” e automaticamente o campo de ação profissional (NOZAKI, 2004).Em uma de suas várias resoluções internas, como exemplo a de nº 046/2002 que dispõe sobre a Intervenção do Profissional de Educação Física, das respectivas competências e define os seus campos de atuação profissional, precisamente no Art. 1º da Resolução, é possível notar o infinito apetite colonizador e vago do CONFEF. Com isso o sistema CONFEF/CREF´s procurou limitar a prática da Capoeira a uma atividade física esportiva sujeita à intervenção exclusiva do Profissional de Educação Física. Nesse cenário a Capoeira entrou como atividade física esportiva perante o CONFEF. As intervenções do sistema CONFEF/CREF´s na Capoeira e as resistências dos e das capoeiristas de vários lugares do Brasil provocaram embates e consequências no mundo do trabalho, em especial, a partir das modificações que vinham ocorrendo na Educação Física Brasileira devido à regulamentação da profissão se direcionar não apenas aos e as trabalhadoras da Educação Física, mas também aos de várias outras áreas das práticas corporais. A regulamentação do profissional de Educação Física se tratava de uma estratégia corporativista de adaptação à gerência da crise do capital, afetando o trabalho e a formação/qualificação de várias práticas corporais e que apesar da estrutura avançada capitalista do CONFEF/CREF´s ouve diversas resistências dos e das trabalhadoras das práticas da cultura corporal, das quais os e as capoeiras fizeram parte (NOZAKI, 2004). OBJETIVOS 260 • Entrevistar Mestres de Capoeira do Pará que se relacionaram diretamente ou que tiveram alguma tensão com o sistema CONFEF/CREF´s. • Problematizar a implementação do sistema CONFEF/CREF´s e sua repercussão no Pará em relação à prática da Capoeira. • Averiguar como ocorreu à intervenção do sistema CONFEF/CREF’s no universo da capoeiragem paraense, como também as resistências dos capoeiras. METODOLOGIA Predominantemente, mas não exclusivamente, a base lógica do método dessa pesquisa tanto para coleta de dados, informações, análise, quanto em outras estratégias do trabalho que favoreceu na orientação necessária a “objetividade e a precisão no estudo dos fatos sociais” (GIL, 2008, p. 15), baseia-se no método histórico, pois a ênfase está direcionada “a investigação de acontecimentos ou instituições do passado, para verificar sua influência na sociedade de hoje” (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 36), nesse caso, especialmente, na construção e transformações históricas da capoeiragem paraense, laçamos mão na história oral, para além de outras, “fazer um registro “subjetivo” de como um homem, ou uma mulher, olha para trás e enxerga a própria vida, em sua totalidade, ou em uma de suas partes” (THOMPSON, 1992, p. 258). Portanto, para melhor compreender suas funções e realidade atual foi fundamental fazer o caminho do retorno. Assim sendo, averiguamos como ocorreu à intervenção do sistema CONFEF/CREF’s no universo da 261 capoeiragem paraense, e interagimos diretamente com o cotidiano dos e das capoeiras para sabermos como ocorreram as resistências. Antes de conhecer e conseguir informações dos principais sujeitos desta pesquisa, preparamos informações básicas por meio de leituras relacionadas ao tema, e mapeamos um campo para adquirir ideias e informações (THOMPSON, 1992). Os Mestres mais velhos e que se relacionaram diretamente ou que tiveram alguma tensão com o sistema CONFEF/CREF´s foram à prioridade para a escolha, conseguimos entrevistar quatro deles. A limitação do tempo, escassez de recursos financeiros, a logística e disponibilidade foram um dos fatores que nos levaram a entrevistar apenas quatro dos Mestres de Capoeira do Pará. Antes das entrevistas gravadas com os quatro Mestres de Capoeira do Pará elaboramos um roteiro de perguntas semiestruturadas para o aprofundamento das questões referentes em especial, à implementação do sistema CONFEF/CREF’s e sobre sua repercussão no Pará em relação à prática da Capoeira; se houve, como ou porque houve intervenção do sistema CONFEF/CREF’s direcionados aos capoeiras, sem deixar de perguntar indiretamente se ocorreram resistências da parte dos capoeiras frente as ordens emanadas do Conselho, entre outras. RESULTADOS E DISCUSSÃO Vamos ouvir de quem na grande maioria das vezes não lhe foi dado o direito de falar por si e sobre si, ou seja, o capoeira, quando lhe perguntado sobre a implementação 262 do sistema CONFEF/CREF e a sua repercussão no Pará em relação à prática da Capoeira: O CONFEF/CREF, ele iniciou em 1998 aqui no estado do Pará, ele foi criado também em 1998 e se espalhou pelos estados, em 2000 teve uma reunião dentro da escola de Educação Física quando eles queriam implementar, a força, que os Mestres de todas as artes marciais, judô, caratê, muay thai, boxe, e principalmente a Capoeira, e se reuniu os Mestre antigos e foram pra lá, eu me lembro assim do episódio do Mestre Ferro falando pra senhora lá quando ela entregou as fichas de inscrição pra todo mundo se afiliar, o Ferro disse: que não ia se afiliar porque ele tinha academia dele e o CREF não conseguiria fechar, e a senhora lá, coordenadora do CREF disse assim mesmo que, pediu endereço, ele deu, ai ele pegou e disse assim mesmo: eu trabalho com cultura, a senhora pode fechar? Eu trabalho com berimbau, tocando, eu trabalho com criança, adolescente, com a musicalidade da capoeira. Então, foi o primeiro baque dos Mestres de Capoeira nessa discursão, que eles pegaram, porque eles queriam fazer algo que não entendiam, não sabiam o que era, e outra que não dão subsídios pra capoeirista nenhum, ai você me pergunta, você é contra? , não, não sou contra, tudo que vem pra somar com o capoeirista é bom, mais que venha com ideologia de formação, o CREF não tem ideologia de formação pra Mestre de Capoeira nenhum, eles estavam forçando os Mestres a se formar dentro de uma área como 263 Educação Física pra ter mais associados essa é a função do CREF aqui, associados e a briga por estado de coordenação, é o que eu vejo, eu Mestre Walcir [...] (SILVA, 2019). As resistências, negociações e assimilações estavam em fluxo contínuo tanto do lado oprimido quanto do lado opressor, houve nesse momento, além de outras questões, o que poderíamos chamar de “uma enorme negociação política por autonomia e reconhecimento social,” (REIS; SILVA, 1989, p. 21), especialmente das e dos capoeiristas em luta contínua para fazer sua vida história e cultural. Mestres de várias estirpes estavam em campo lutando pela sua cultura, conhecimento, ancestralidade e trabalho contra o explorador disfarçado de guardião fiscalizador e organizador da cultura corporal popular e protetor da sociedade. Algumas críticas anteriormente realizadas ao sistema CONFEF/CREF´s vai ao encontro coerentemente a argumentação de que “o CREF não tem ideologia de formação pra Mestre de Capoeira nenhum, eles estavam forçando os Mestres a se formar dentro de uma área como Educação Física pra ter mais associados essa é a função do CREF aqui”, de fato, pois a ideologia de formação mencionada, refere-se à concepção do mundo da capoeiragem, o qual se manifesta implicitamente e explicitamente no processo histórico, na cultura, ao constuir os instrumentos musicais, os cânticos, o jogo, os acordos de convivência, a política, nas manifestações individuais e coletivas, enfim, na formação cultural de instrução, educação e consciência crítica da realidade dos e das capoeiristas, “[...] conscientização, que lhe possibilita inserir-se no processo histórico, como sujeito, evita os 264 fanatismos e o inscreve na busca de sua afirmação” (FREIRE, 2019, p. 32). CONCLUSÕES No Pará, as resistências não aconteceram via força física, mas sim por meio de estratégias diversase complexas, das quais: realizações de reuniões contra a intromissão do CONFEF na Capoeira, abaixo assinado, panfletagens, vinculação e desvinculação com o CONFEF, intransigência a qualquer aproximação do sistema CONFEF/CREF´s com a Capoeira, entre tantas outras. Enfim, ficou explícito que houve negociação, conflitos e política na capoeiragem paraense, tanto nos argumentos dos Mestres de Capoeira entrevistados, quanto nas fontes presentes na página oficial do sistema CONFEF/CREF´s, como também, pela falsa generosidade e bondade, a exemplo dos cursos preparatórios, da tolerância em registrar e regularizar os capoeiras que trabalhavam e tinham como provar que já ensinavam Capoeira bem antes da lei 9696/98; pela violência simbólica ao ameaçar fechar academias, amedrontar e denunciar os capoeiras por exercício ilegal da profissão caso não se registrassem e pagassem anuidade; coerção ao registro e ao ingresso em curso superior de Educação Física; uso de órgão infiltrado e que tem influência na Capoeira, ou seja, a CBC, para o aumento de filiados e financiadores do sistema CONFEF/CREF´s, entre outras. Portanto, no Pará, as estratégias dos capoeiras, como forma de resistência, foram múltiplas. Variava da adesão parcial à sabotagem sutil ao sistema CONFEF/CREF´s. 265 Uma relação tensa, mas reveladora da ausência de afinidades entre as duas instituições. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n.º 9696, de 1º de setembro de 1998. Dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física, cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2 set. 1998. CONFEF. Resolução n.º 046/2002, de 18 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre a Intervenção do Profissional de Educação Física e respectivas competências e define os seus campos de atuação profissional. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: http://www.confef.org.br/confef/ resolucoes/82, Acesso em: 23 de mar. 2018. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Pez e Terra - 69ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo, 2019. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. NOZAKI, Hajime. Educação Física e Reordenamento no Mundo do Trabalho: Mediações da regulamentação da profissão. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2004. PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do trabalho científico: métodos e 266 técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo, RS: FEEVALE, 2013. REIS, João José; SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. Companhia das Letras, São Paulo, 1989. SILVA, José Walcir Lopes da. [Entrevista concedida em 29 jan. 2019]. Mestre Walcir, Belém-PA, 2019. THOMPSON, P. A voz do passado: história oral. Tradução de Lólio Laurenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. 267 Obax, uma pedra e um caminho de imaginação: as possibilidades pedagógicas das narrativas afrocentradas à luz da interdisciplinaridade Claudia Cristina FERREIRA Universidade Estadual de Londrina Marlei Budny dos Santos SOUZA Universidade Estadual de Londrina Lucas Matheus da Silva de CARVALHO Universidade Estadual de Londrina E-mail do autor principal: claucrisfer@sercomtel.com.br INTRODUÇÃO Uma das expressões culturais mais significativas para aulas de língua estrangeira/adicional é a literatura e pode ser utilizada como método ou complemento pedagógico em sala de aula, especialmente após a publicação de leis que efetivam a implementação de conteúdos de temática africana, afro-brasileira e indígena em atividades escolares em uma união complementar de estudos, colaborando com o combate ao racismo. A primeira diretriz em forma de lei, Lei Federal nº 10.639/03 (BRASIL, 2003), que implica na adaptação curricular e inserção desta temática, modificou o mercado editorial de livros de modo a suprir a demanda da temática mailto:claucrisfer@sercomtel.com.br 268 exigida por lei e, mesmo timidamente, abordou, ano a ano, ancestralidade, protagonismo, culturalidade, por exemplo. OBJETIVOS Após pouco mais de dezessete anos de sua publicação, os padrões ainda se expandem para a valorização da cultura africana e afrodescendente, as múltiplas identidades, e uma maior diversidade de representações. Neste viés, o escopo desta proposta objetiva apresentar algumas das possibilidades interdisciplinares para Obax (NEVES, 2010), exequíveis de maneira afirmativa (BRASIL, 2004; GOMES, 2002; MUNANGA, 2001) de maneira a valorizar a resistência tão representativa da personagem. METODOLOGIA Nossa pesquisa se inicia pelo levantamento de obras que abordem a temática exigida por lei, com vistas à escolha de uma obra que seja relevante e significativa para o espaço escolar, uma vez que personagens do continente africanos são ora apresentados a partir da escravidão em livros didáticos, ora sub-representados, aspectos que deveriam ser repensados neste ambiente, pois reforçam a condição subalterna dessa parte da população. A partir da diretriz que determina a valorização da história e cultura africana, afro-brasileira e indígena – incluída posteriormente com a Lei 11.645/08 (BRASIL, 2008) – optamos por utilizar o recorte de personagens de origem africana em nossa pesquisa por entendermos que melhor alcançaria, no momento, o público-alvo a que se destina – uma escola de ensino fundamental I e uma escola 269 de ensino fundamental II, ambas periféricas e com um número significativo de alunos afrodescendentes. Para Munanga (2001, p. 31), as ações afirmativas, positivas, política compensatória ou discriminação positiva são formas de “oferecer aos grupos discriminados e excluídos um tratamento diferenciado para compensar as desvantagens devidas à sua situação de vítimas do racismo e de outras formas de discriminação”, informação na qual nos baseamos para a elaboração desta proposta por compreendermos que a reconstrução da identidade, resgate da autoestima, formação da identidade pessoal e reconceituação nacional se ressignifiquem em atividades como a que propomos. O ambiente escolar é um espaço adequado para a reconstrução das múltiplas identidades que o compõem. Mas é necessária atenção para a centralidade curricular, o afrocentrismo no lugar do eurocentrismo, revisitação e redescoberta à história. Ao professor compete o papel de dirigir essa (re)visão de maneira mais adequada e que leve a uma nova perspectiva, mais próxima possível da realidade histórica. Para Silva e Christal (2015), a temática dos livros infantis mais atuais é a apresentação dos universos das culturas afro-brasileira e africana, discussões contemporâneas sobre preconceito racial, apresentação de diversidade nas identidades negras e na cultura brasileira, além da presença de personagens negros em situação de igualdade aos demais, em número crescente. Obax (NEVES, 2010) é um exemplo de como isso pode ser pensado: uma menina, uma pequena pedra e um universo de imaginação, imagens que representam aspectos relacionados ao continente africano, bem como ao próprio 270 universo infantil, retrato de aldeias isoladas pertencentes há alguns países da África ocidental, tais como: Nigéria, Costa do Marfim, Senegal, Mauritânia e Mali. É fundamental o papel da escola na construção da identidade por meio da escolha de livros que contemplem a diversidade presente neste espaço e que ressignifiquem, seja historicamente ou conceitualmente, o respeito ao outro, sua cultura, sua ancestralidade. Com sugestão, relacionamos abaixo algumas atividades possíveis de serem realizadaspara extrapolar apenas a contação e que sejam práticas significativas no aprendizado e relacionadas ao currículo escolar de escolas do estado do Paraná. Tabela 1. Sugestão de conteúdos Fonte: os próprios autores. Estas são algumas das possibilidades viáveis a serem adaptadas ao currículo escolar e factíveis de adequação aos mais variados públicos. Ressaltamos que há uma inúmera lista de outras sugestões aqui cabíveis e que cabe ao professor explorar outras possibilidades de 271 execução, de acordo com seu público, espaço e necessidades apresentadas durante o percurso pedagógico. RESULTADOS E DISCUSSÃO As crianças precisam e devem saber que podem ser representadas em livros como protagonistas. Obax (NEVES, 2010) é uma obra que demonstra essa possibilidade, os criativos, meninas, afrodescendentes… aí eles se encontram e se reconhecem como indivíduos capazes de criar sua própria história e protagonizar as mais belas aventuras. As atividades propostas ainda não foram aplicadas por conta da pandemia de COVID-19, mas espera-se com elas a elevação da autoestima dos alunos que na obra se reconhecem, bem como desmistificar a cultura do outro e a maneira como se enxerga os que estão à nossa volta, também o respeito e valorização do outro e colaborar no crescimento individual dos alunos. (IN)CONCLUSÕES Espera-se, com as propostas aqui viabilizadas, contribuir para a desconstrução de visões estereotipadas e apresentadas na história, bem como levar à reflexão da importância da análise do currículo escolar e sua possível adaptação interdisciplinar à temática aqui debatida, bem como colaborar nas discussões que tematizam preconceito e racismo e que tornem o espaço escolar mais democrático. REFERÊNCIAS 272 BRASIL. Decreto-lei n° 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro- Brasileira", e dá outras providências. Brasília, 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639. htm>. Acesso em: 05 dez. 2017. BRASIL. Decreto-lei n° 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena. Brasília, 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2008/lei/l11645.htm>. Acesso em: 05 dez. 2017. GOMES, Nilma Lino. Educação e identidade negra. Aletria. Revista de estudos em literatura. Alteridades em questão. Belo Horizonte, POSLIT/CEL, Faculdade de Letras da UFMG, v.06, n.09. dez, 2002. Disponível em: <http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/aletria/ar ticle/view/1296/1392. P. 38-47>. Acesso em 20 jun. 2020. MUNANGA, Kabengele. Políticas de ação afirmativa em benefício da população negra no Brasil – um ponto de vista em defesa de cotas. In: Sociedade e Cultura, v. 4, n. 2, jul./dez. 2001, p. 31-43. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/1296/1392 http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/1296/1392 http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/1296/1392.%20P.%2038-47 http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/1296/1392.%20P.%2038-47 273 NEVES, André. Obax. São Paulo: BRINQUE-Book, 2010. SILVA, Mauricio; CHRISTAL, Wendel. Uma flor africana: literatura infanto-juvenil e relações étnico-raciais. IN: Leitura, v. 2, nº 56 – jul/dez 2015, p. 74-87. Disponível em: <https://www.seer.ufal.br//index.php/revistaleitura/article/ viewFile/2316/2036>. acesso em 20 jun. 2020. https://www.seer.ufal.br/index.php/revistaleitura/article/viewFile/2316/2036 https://www.seer.ufal.br/index.php/revistaleitura/article/viewFile/2316/2036 274 Invisibilidade Racial no Espaço Escolar Dulcineia Beatriz OLIVEIRA Barbacena – MG E-mail: oliveira.dulcineia2020@gmail.com INTRODUÇÃO A discriminação racial no ambiente escolar é muitas vezes velada e ou se justifica como sendo brincadeiras entre pares ou seja “normal da idade” e muitas vezes tratadas como bullying. A reflexão aqui apresentada é essencial nos dias atuais, tendo como cerne o combate contra o Racismo a partir conscientização das ações de violências como bullying racial, enfatizando a tentativa da redução desse fenômeno no ambiente escolar. E se evidencia por ser um fenômeno mundial o bullying, logo por tratar de uma brincadeira peculiar do crescimento e desenvolvimento da criança, entretanto, com significado equivocado, a ação vem crescendo no espaço escolar, acarretando efeito à falta de respeito, o preconceito para com o próximo, promovendo um bloqueio na aprendizagem do discente. Para além de combater o racismo, possibilitar a reflexão da conscientização para a prevenção das ações de bullying racial no ambiente escolar. Trazer para o campo acadêmico reflexões que englobam as diferentes violências das quais vivenciam alguns dos discentes que são vítimas e ou violentados diariamente, passando por vezes como “brincadeiras”, corroborando para a invisibilidade da pratica racista no meio. mailto:oliveira.dulcineia2020@gmail.com 275 Contraditório a violência, promover a solidariedade, o respeito, o diálogo e a valorização das diferenças culturais. É relevante e latente a realização reflexiva sobre o racismo no espaço escolar e como é possível trabalhar a questão racial desde a educação infantil até a Universidade, o que corrobora para uma escola anti- racista. Compreende- se que o racismo é estrutural e estruturante e o bullying é um instrumento grosseiro, ambos precisam de desconstrução, e precisa ser extinto. O interesse desta fundamentou-se a partir de pesquisa realizada para apresentação do TCC, foram utilizadas pesquisas em alguns sites e os autores Cleo Fante (2005), Gabriel Chalita (2008) foi apresentado uma abordagem histórica sobre o bullying, conceituando-o como todos os atos de violência física ou psicológica intencional e repetitiva, e como ele se apresenta, as conseqüências referentes ao bullying, o papel da família e o papel da escola frente ao bullying. No cerne da temática, o que colaborou para a mesma foi através de experiência dentro da sala de aula e pátio da escola questões das quais são tratadas como simples brincadeiras que corroboram para a propagação e a invisibilidade racial cometida no ambiente escolar, oportunizando um espaço envolvido na dialética para reflexões no que cerne a questão para a escola antirracista. OBJETIVO (S) Combater o Racismo no Ambiente Escolar e promover uma escola antirracista; ainda assim, Promover a igualdade racial; proporcionar reflexões no espaço escolar referente a temática para corpo acadêmico e comunidade escolar. 276 METODOLOGIA O presente trabalho foi desenvolvido a partir da analise e experiência em sala de aula com ênfase a temática é necessário quebrar paradigmas da desigualdade e o combate ao racismo. O argumento deve ser trato de forma a mostrar a igualdade enquanto individuo que somos e deixar claro que somos todos iguais e devemos respeitar cada um na sua individualidade e etnia, tendo em conta, nãoé a cor da pele, o cabelo crespo que, definira a condição do Outro, não gostar do outro é um ponto que parte de cada individuo no entendimento de Ser, mas, para uma sociabilidade entre pares é importante oportunizar as relações Sociais, para que haja um convívio em que necessário é respeitar-nos em plenitude enquanto Ser Humano que somos perante nossa existência. Tendo por base realização reflexiva sobre o racismo no espaço escolar e pensando na autonomia, e que uma outra educação possível, como quebrar paradigma perante a questão racial, uma vez que, o assunto é latente no meio educacional e social. RESULTADOS ALCANÇADOS Debatendo o tema foi utilizada a visão de que é o racismo comportamental e a aversão do outro a partir do reconhecimento deste e de sua parcialidade. Contudo fica constatado que o racismo ainda é uma lacuna que deve ir além escola, essencial é trazer um debate que atinge; Escola, Comunidade, Sociedade, Pais e filhos. Possível, também, alguns entendimentos teórico-metodológicos 277 sobre o racismo e os modos pelos quais permeiam a forma de enfrentá-lo. Entendimentos surgidos em minha experiência enquanto docente e pesquisadora, quando pude, abordar esse tema. A partir de problemas raciais vivenciados em sala, logo, o grande desafio é pensar teorias e artefatos culturais que é possível trabalhar no espaço escolar, atrelando com o que temos e renovando conforme a necessidade, em que o espaço escolar nos dispõe, permitindo aos docentes liberdade para agregar ferramentas para o êxito na construção de uma ação pedagógica. Ao longo dessa, poderá averiguar meios de romper paradigmas e compreender que o racismo em linhas gerais atinge a sociedade, que por sua vez vai replicando o que apresenta uma superioridade no Brasil, preciso trazer para o meio escolar a comunidade e ou a família para compreender o temática e contribuir para um diálogo permanente que vai além dos muros da escola. CONSIDERAÇÕES FINAIS É sabido que, o racismo é Estrutural e estruturante e que as desigualdades se perpetuam com as brechas que o sistema oportuniza. Necessário se faz quebrar o paradigma da desigualdade e proporcionar a equidade social, os embates e limites entre a degradação e a positividade na constituição do sujeito, ou seja, do lugar de onde falo, penso que temos que reconhecer parte dessa estrutura e nos posicionar na contribuição para o letramento racial em todas as esferas sociais. Trabalhar a prática antirracista na escola contemplara a toda sociedade de modo geral pois, vai além 278 dos muros da escola. Importante é nesse processo pontuar a cerne da branquitude (SCHUKMAN, 2014) mostrando as práticas racistas e o reconhecimento de privilégios. Não basta apenas não ser racista, necessário é mudar a estrutura do pensamento da sociedade, tornado-se reconhecedora dos privilégios que tem e assim ser antirracista. REFERÊNCIAS CHALITA, Gabriel. Pedagogia da amizade – Bullying: O sofrimento das vítimas e dos agressores, Ed. Gente, 2008. FANTE, Cléo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. São Paulo: Verus, 2005. SCHUKMAN, Lia Vainer. Sim, nós somos racistas: estudo psicossocial da branquitude paulistana. Psicologia & Sociedade, 26(1), p. 83-94, 2014. 279 As representações do negro no Livro Didático de Língua Portuguesa: uma leitura crítica da relação entre a negritude pedagógica e a realidade dos jovens negros à luz de Adolescer Eduardo HENRIQUES Universidade Federal de Pernambuco – UFPE Guilherme BARBBOSA Universidade Federal de Pernambuco - UFPE E-mail autor principal: eduardohenriquesdearaujo@hotmail.com INTRODUÇÃO O presente trabalho nitidifica o processo pelo qual o Livro Didático de Língua Portuguesa, paulatina e progressivamente, nos últimos 50 anos, vem ganhando destacado papel na engenharia pedagógica que orquestra a experiência escolar das brasileiras e dos brasileiros (SOARES, 2001). Paralelamente, este instrumento ganhou atenção por, muitas vezes, ser a janela pela qual comunidades escolares inteiras têm acesso às janelas do mundo, demandando, portanto, sensível e continuado processo de aperfeiçoamento às demandas curriculares fiduciárias às finalidades constitucionais da Educação, as quais se estruturam sob os pilares da formação cidadã, da formação humanística e da formação para o mercado de trabalho. mailto:eduardohenriquesdearaujo@hotmail.com 280 Também ao longo de meio século, qual nunca havia sido feito no país, os direitos das pessoas negras no Brasil estão sendo reafirmados consoante políticas públicas que, mais do que realçar, apontam instrumentos complementares de garantia das dignidades fundamentais dos cidadãos aos afrobrasileiros. Dentre essas ações, a compreensão do racismo estrutural como um nefasto traço cultural brasileiro ganha relevo nas ações assertivas de combate à exclusão social das dos povos negos, bem como no desvelamento das refinadas engenharias de manifestação do preconceito e do subjugo dessas pessoas à marginalização. Logo, o desmantelamento da secular cultura da abjeção à negritude figura como basilar engajamento de promoção à cidadania, havendo, para isso, a irretorquível demanda por uma educação que, mais do que ser antirracista, urgencie a abertura de espaços às populações negras, legitimando-as na ocupação de lugares sociais que, desde a horrenda escravização de africanos sequestrados para trabalhos forçados na colônia sul-americana portuguesa, há quase quatrocentos anos estão de portas fechadas às pessoas que não ostentam a herança do vil colonizador (SANTOS, 2014). Justamente em atenção a esse nodal papel da Educação na desarticulação do racismo como traço da cultura nacional, apela-se ao Livro Didático como lugar de visibilidade e de contemplação crítico-reflexiva da temática, em função de sua notoriedade na materialização das políticas públicas. Essas tanto curriculares, vocacionadas aos objetos naturalizados ao ensino conteudístico das ciências, das artes e da filosofia, quanto sociais, já que à escola recai o dever de formar pessoas para o exercício plena da cidadania, as quais necessitam partilhar 281 das convenções morais e legais que regem o estamento societário de seu país. Em face do trabalho com a cultura no cerne de sua produção e reprodução – ativo-crítica ou passivo- conformada -, a aula de língua portuguesa compreende em si um trabalho linguístico cuja envergadura afixada pela perspectiva dos Letramentos (BRASIL, 1997) orienta luzes para significados culturais na efetiva dinamicidade que eles têm na sociedade, primordialmente baseando-se nos textos da modalidade escrita que, mais do que materializar, cristalizam – em certa medida – e também conferem ar de oficialidade a esses significados (SOARES, 2001). Assim, o Livro Didático de Língua Portuguesa revela-se como ambiente ideal de construção de pontes entre as crianças e jovens em situação de escolarização e o mundo para além da escola. De certo, há a lucidez de que tais textos apresentam e representam recortes do mundo operados segundo lentes ideológicas de seus autores, quais também agem de parte de todo o processo editorial de confecção dos manuais de ensino, mas até mesmo esse processo deve ser considerado objeto de reflexão em sala de aula (BUNZEN & ROJO, 2005). OBJETIVO(S) Com vistas a identificar como o Livro Didático de Língua Portuguesa posiciona visões de mundo a serem experienciadas por estudantes do ensino básico regular nacional em relação às representações das pessoas negras no Brasil, o presente documento perquiriu objetivamente as construções discursivas de negras e negros no tocante à adolescência, analisando,para isso, a Unidade Adolescer, 282 do manual para o 8º ano, do Livro Didático de Língua Portuguesa Português: Linguagens, de Willian Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães (2017). Na referida unidade, o livro explora o universo de desenvolvimento biológico, psíquico e social do ser humano a partir do processo de maturação da adolescência, com enfoque à sexualidade. Pelo exposto, a pesquisa intentou identificar como são textualizadas as representações de pessoas negras no processo de desenvolvimento da infância à idade adulta, avaliando se temáticas que contemplem a especificidade da emancipação social das pessoas negras do subjugo invisibilizante ao pleno gozo das faculdades cidadãs - ainda que essas configurem anacronismo jurídico para atender às sucessivas reorientações da sociedade e do exercício e das representações dos direitos políticos (NOHARA, 2010) – são exploradas. Adicionalmente, observou-se quais expectativas o livro projeta em sua audiência por meio das representações de vida adulta que elabora nas narrativas das personagens dos textos que alinhava na composição da Unidade Adolescer e se há alguma referência à ocupação dessas expectativas por pessoas negras. METODOLOGIA A fim de concretizar o empreendimento sinalizado, a pesquisa de cunho bibliográfico e documental qualitativa lançou sobre a unidade as lentes da Linguística Aplicada, compreendendo o corpus a partir do gênero Livro Didático (BUNZEN, 2005; BUNZEN & ROJO, 2005), na especificidade do ensino curricular básico da Língua Portuguesa (SOARES, 2001), compreendendo a finalidade 283 da educação como a promoção da cidadania (NOHARA, 2010; BRASIL, 1997; BRASIL, 1996), e, por tal, necessariamente engajada na desconstrução de estruturas opressivas e marginalizadoras das negras e dos negros no país (SANTOS, 2014). Consoante a especificidade de Adolescer, conclamou-se, também, os estudos de Moita- Lopes (2002) sobre as construções discursivas de raça, gênero e sexualidade em contextos escolares como o elo entre as teorias outras evocadas nesse trabalho, a fim de que a Linguística Aplicada Indisciplinar oferte, apoiando-se nos fenômenos apresentados pelo próprio Livro Didático para a temática, um universo analítico de ancoragem transdisciplinar, qual também o é a própria cultura em situações não acadêmicas de observância. RESULTADOS ALCANÇADOS O processo investigativo debruçou-se sobre textos verbais e não-verbais que corporificam a Unidade Adolescer e ratificou a hipótese inicial da pesquisa sobre a não menção a temas da agenda emancipatória da população negra brasileira, como também, em quesitos gerais, não ilustrar quaisquer detalhamentos ético-racionais, ainda que eles sejam demandados para que se interprete com verídica consciência a realidade do país, conforme já há mais de três décadas sentencia ser ofício da educação escolar a Constituição, havendo ainda o reforço na LDB (BRASIL, 1996): “consideração com a diversidade étnico-racial”, Lei nº 12.796/2013; “torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira”, Lei nº 11.645/ 2008; e “O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo 284 brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia” Lei nº 9.394/1996. CONSIDERAÇÕES FINAIS Consequentemente, à guisa de contentamento ou mesmo de absoluta indignação, os resultados da investigação trazem à baila a continuidade de uma invisibilidade consternadora que advoga em contrário aos esforços de reparação das violências impetradas às negras e aos negros no Brasil, qual também de urdidura de uma sociedade mais equânime e depositária do amplo acesso à dignidade humana, social, civil e política à totalidade dos nacionais. Portanto, mais do que reclamar por novas políticas públicas assertivas à temática, os resultados aclaram uma inescrupulosa inércia dos produtores de materiais didáticos em confrontar o status quo societário e legitimar a inserção das populações não socioeconomicamente hegemônicas na história do Brasil ao espaços de cultural e aprendizagem, negando a essas pessoas o reconhecimento de si mesmas como dignatárias de ocupar as posições que reclamam e de fazerem usofruto da cidadania como quaisquer outro ser humano, independentemente da cor, mas, indubitavelmente, em atenção e em reconhecimento da historicidade e da memória dessa cor. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. 285 ______. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília (DF): MEC/SEF, 1997. BUNZEN, C. dos S. B. J. Livro Didático de Língua Portuguesa: um gênero do discurso. Campinas, SP: [s.n.], 2005. BUNZEN, C.; ROJO, R. Livro didático de Língua Portuguesa como gênero do discurso: autoria e estilo. In: COSTA VAL, M. G.; MARCUSCHI, B. (orgs.). Livros didáticos de Língua Portuguesa: letramento e cidadania. Belo Horizonte: Autêntica, 2005, p. 73-118. CEREJA, W. R. & MAGALHÃES, T. C. Português: linguagens. 8º ano. São Paulo: Editora Atual, 2017. MOITA LOPES, L.P. Identidades Fragmentadas: A Construção Discursiva de Raça, Gênero e Sexualidade em Sala de Aula. Campinas: Mercado de Letras, 2002. NOHARA, I. P. Conceito de cidadão ou usuário: reflexões sobre o atendimento jurídico gratuito nas faculdades de Direito. Disponível em: < http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leit ura&artigo_id=7884> Acessado em 20.06.2018. SOARES, M. O Livro Didático como fonte para a história da leitura e da formação do professor-leitor. In. Marildes 286 Marinho (rog.) Ler e Navegar: espaços e percursos da leitura. Campinas: Mercado das Letras, 2001. 287 Do passado ao presente: um percurso sobre as memórias da literatura indígena latino- americana Francelina Barreto de ABREU Universidade Federal do Pará E-mail do autor principal: francymes18@gmail.com INTRODUÇÃO Durante o mestrado e a análise realizada para a dissertação, alguns pontos mostraram-se inquietantes. Um deles está relacionado a construção histórica das memórias da literatura indigenista e indígena e, como ela vem sendo desenvolvida ao longo da história. Primeiro, observamos que no princípio não há uma literatura indígena, mas relatos idealizados, criados pelos invasores sobre os povos americanos e sua posterior denominação de “Índios”. As obras Ursúa (2005), El pais de la Canela (2008) e La serpente sin ojos (2012) de Wlliam Ospina, são romances repletos de memórias históricas sobre os primeiros anos dos espanhóis na Colômbia culminando com o descobrimento do Rio Amazonas, e ao longo das narrativas encontramos as descrições sobre esses homens e mulheres que enfrentavam as naus com seus arcos e flechas. Descritos, como veremos adiante, ora como fortes e guerreiros, ora como débeis e fracos, temos a construção do discurso e dos padrões exteriores a realidade americana aplicados a ela. Assim, partindo do pressuposto de que inicialmente e mailto:francymes18@gmail.com 288 durante séculos conhecemos a escrita sobre o continente na perspectiva do invasor, observamos que: Como é sabido, não existe História neutra ou História que seja uma mera reprodução dos fatos ocorridos em determinado momento histórico. (...) Na verdade, o fato histórico é sempre uma escolha, um recorte feito, e que reflete uma subjetividade, um posicionamento diante do mundo e daquela realidade que está sendo descrita. (PRESTES, 2010, p. 91-92) Este posicionamento se deu em nosso continentepor meio de uma perspectiva externa que passou a definir o ser e o saber (Quijano, 2005). Para além disso, definiu as pessoas quanto a raça tornando umas inferiores a outras de acordo com a escala classificatória na qual a cor da pele foi utilizada como elemento de identificação. Desta forma, quanto mais clara a cor da pele mais alta a posição da raça e o contrário também. Essa classificação passou a ser utilizada como justificativa para se considerar um povo melhor que o outro. Índios, negros e mestiços pertenciam as camadas mais baixas e segundo Maldonado-Torres (2007) quanto mais clara a cor da pele, mais próxima do ideal de humanidade, essa “justificativa” sem fundamento, foi usada como argumento para a escravidão, massacre e dizimação dos povos indígenas. OBJETIVO Apresentar brevemente o percurso histórico das memórias sobre e a partir dos indígenas, apresentando a 289 violência, submissão e luta pelo reconhecimento de sua história e cultura. METODOLOGIA Esta investigação caracteriza-se como bibliográfica, de análise de materiais, qualitativa, com o estudo sobre Literatura Indígena produzida a partir e sobre os povos, com o estudo de teorias sobre Memória e História como caminhos que corroboram coma construção e representação de si. RESULTADOS/ DISCUSSÃO Nas narrativas de Ospina percebemos uma preocupação em expor a violência, o extermínio e a apropriação dos bens Incas pelos invasores espanhóis. A escolha dos romances se deu com o objetivo de evidenciar o sofrimento e dar visibilidade a população indígena esquecida durante tanto tempo. O autor nos apresenta o extermínio indígena no fragmento que segue “Pizarro [...] Chamou os seus capitães mais fiéis e deu uma ordem horrível, precisavam escolher dez índios dos mais influentes e jogá-los aos pedaços aos cães” (OSPINA, 2008, p. 100, tradução nossa). A narrativa continua “se não os matamos não sairemos vivos daqui, nem eles e nem nós” (OSPINA, 2008, p. 101, tradução nossa). E segue, Basta dizer que o primeiro cão que vimos trazia uma mão mutilada na boca. Eu vi todas essas coisas horríveis, mas essa imagem foi suficiente para encher muitos sonhos daqueles dias, e ali senti pela 290 primeira vez uma fadiga insuportável, um mal-estar terrível, de beirar a loucura, de estar sem remédio onde estava, vendo o que via, por que todos estávamos em uma prisão de árvores e de águas, rodeados de bestas e ao mesmo tempo obrigados a sermos. (OSPINA, 2008, p.102, tradução nossa) No fragmento fica evidente a cena de violência e assassinato dos índios por meio do relato da mão, ela representa muito mais que a morte física, mas a morte do povo, da cultura e da história Inca. Observamos ao longo das narrativas todo o sofrimento com a destruição de suas tribos, com a morte dos familiares, com a escravidão e a exploração de seus lugares sagrados (tesouros de ouro). A obra nos permite visualizar e sentir a dor do outro. A perspectiva indígena apresentada vem comprovar que “A história é jogo de revelação e encobrimento, de manifestação e ocultação” (ROSSI, 2010, p. 19) na qual por percebemos o apagamento da história deles, da ocultação de suas lutas, de sua história. Entretanto, as cenas de violência não estão em um passado distante, permeiam os dias atuais, a expulsão do indígena de sua terra não é lembrança dos antepassados, a destruição de sua gente não ficou para traz. Como apresenta Eliane Potiguara (2019, p.151) em sua obra Metade Cara, Metade Máscara: Eu não tenho minha aldeia Minha aldeia é minha casa espititual Deixada pelos meus pais e avós A maior herança indígena. [...] 291 A autora denuncia as violações sofridas nos dias de hoje pelo povo indígena, eles continuam sendo expulsos de suas terras, suas mulheres continuam sendo violentadas sexualmente e tem sua força de trabalho explorada, a sua cultura continua influenciada e transformada pelo exterior. CONCLUSÃO O entrelaçamento das memórias e da história são fundamentais para traçarmos uma observação panorâmica do trajeto histórico das populações indígenas. A produção “sobre” representada por Ospina (2008) é relevante e significativa na recuperação do passado, mas a produção desde o interior “a partir” representada por Potiguara (2019) apresenta um clamor de resistência e valorização étnico- racial, as denúncias feitas pela autora evidenciam que o que aconteceu a séculos passados persiste e precisa ser combatido. Ao assumir o papel de porta-voz. Potiguara dá um grande passo na luta, mais ainda não chegamos ao final, a literatura indígena segue como ferramenta de existência. REFERÊNCIAS MALDONADO-TORRES, N. Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo de un concepto. In: El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Iesco-Pensar-Siglo del Hombre Editores. 2007 OSPINA, W. El país de la canela. Bogotá, Colombia: Grupo editorial norma. 2008. 292 PRESTES, Anita Leocadia. O historiador perante a história oficial. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Londrina, v. 1, n. 2, p. 91-96; jan. 2010 POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade máscara. São Paulo: Global, 2019. QUIJANO, A. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino- americanas. Buenos Aires: CLACSO. 2005. ROSSI, Paolo. O passado, a memória, o esquecimento: seis ensaios da história das ideias. São Paulo, Editora Unesp: 2010. 293 Educação: um caminho para a liberdade e respeito à diversidade religiosa afro-brasileira Galbanéa Luciano SIDRIM Universidade Regional do Cariri – URCA E-mail da autora principal: galsidrim@hotmail.com INTRODUÇÃO Palco de grandes eventos religiosos a cidade de Juazeiro do Norte no Ceará recebe o título de “Terra da fé”, partindo desse pressuposto este trabalho traz como proposta a análise e o debate sobre A Caminhada pela Liberdade Religiosa, um evento de cunho religioso, social, cultural e político que leva para as ruas de Juazeiro um movimento social de luta, de perseverança, de resistência e de disseminação das religiões de matrizes africanas e afro- brasileiras. Dentre os vários objetivos a “Caminhada pela liberdade Religiosa” propõe também um diálogo com as demais manifestações religiosas que acontecem na região do Cariri, principalmente na cidade de Juazeiro do Norte, visto que, a mesma sedia um grande número de adeptos e simpatizantes das religiões sedimentadas, principalmente, nas práticas e princípios do cristianismo. Nesse contexto, torna-se de suma importância a realização de eventos, de manifestações e de estudos que tragam para o âmago da sociedade um debate que aborda, entre outras, as questões como o respeito, o preconceito, a discriminação e a intolerância religiosa. mailto:galsidrim@hotmail.com 294 Desse modo, enfatizamos que o estudo proposto encontra-se em fase inicial e que, neste momento, pretende-se fazer uma reflexão sem a pretensão de ser exaustiva e de esgotar todas as possibilidades de interpretação e análise dos fatos, principalmente, devido à complexidade, à dinâmica e à diversidade da temática. Vamos apenas dialogar e pontuar alguns aspectos relevantes para que possamos registrar reflexões que emergem sobre o tema. Consideramos ainda a existência de outros estudos e visões que abordam essa temática, porém apesar de serem muitos e diversos, sempre nos salta um novo aspecto que ainda não foi percebido, uma tênue linha que ainda não foi desenvolvida e que merece ser analisada. OBJETIVOS Objetivando dialogar com saberes que nos ajudem a compreender