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Categorias e Conceitos da Geografia

Ferramentas de estudo

Questões resolvidas

Qual teórico é considerado o principal representante da corrente do Determinismo Geográfico?

a) Friedrich Ratzel
b) Paul Vidal De La Blache
c) Richard Hartshorne

Qual é a divisão correta da Geografia como ciência?

a) Divisões da Geografia.
b) Geografia e Interdisciplinaridade.
c) Geografia Crítica.
d) Ramos da Geografia.

Qual ramo da Geografia estuda as origens e a evolução da estrutura e formas de relevos da Terra por meio da natureza das rochas, pelo clima e por fatores endógenos e exógenos a fim de identificar a formação dos elementos que compõem a superfície terrestre?

a) Geomorfologia
b) Climatologia
c) Pedologia

Qual ramo da Geografia estuda os fenômenos relacionados aos recursos hídricos existentes no planeta Terra, como rios, bacias hidrográficas, mares, oceanos, lagos, entre outros, buscando compreender as origens e as formações da água em diferentes regiões terrestres?

a) Biogeografia
b) Hidrografia
c) Cartografia

Qual é a principal divisão dentro da ciência geográfica?

a) Geografia Física e Geografia Humana.
b) Geografia Tradicional e Geografia Moderna.
c) Geografia Crítica e Geografia Social.

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Questões resolvidas

Qual teórico é considerado o principal representante da corrente do Determinismo Geográfico?

a) Friedrich Ratzel
b) Paul Vidal De La Blache
c) Richard Hartshorne

Qual é a divisão correta da Geografia como ciência?

a) Divisões da Geografia.
b) Geografia e Interdisciplinaridade.
c) Geografia Crítica.
d) Ramos da Geografia.

Qual ramo da Geografia estuda as origens e a evolução da estrutura e formas de relevos da Terra por meio da natureza das rochas, pelo clima e por fatores endógenos e exógenos a fim de identificar a formação dos elementos que compõem a superfície terrestre?

a) Geomorfologia
b) Climatologia
c) Pedologia

Qual ramo da Geografia estuda os fenômenos relacionados aos recursos hídricos existentes no planeta Terra, como rios, bacias hidrográficas, mares, oceanos, lagos, entre outros, buscando compreender as origens e as formações da água em diferentes regiões terrestres?

a) Biogeografia
b) Hidrografia
c) Cartografia

Qual é a principal divisão dentro da ciência geográfica?

a) Geografia Física e Geografia Humana.
b) Geografia Tradicional e Geografia Moderna.
c) Geografia Crítica e Geografia Social.

Prévia do material em texto

CATEGORIAS E CONCEITOS DA 
GEOGRAFIA 
APRESENTAÇÃO 
Professora Esp. Karitta da Silva Lopes 
 
● Licenciada em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). 
● Especialista em “História da África e Cultura Afro-Brasileira, Práticas Docentes, 
Relações Raciais e a Aplicação da Lei 10.639/03” pela Universidade Estadual de Maringá 
(UEM). 
● Atuou como professora de Geografia pelo Processo Seletivo Simplificado do 
Paraná da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED-PR). 
● Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/2751506907806550. 
 
Ampla experiência como docente na rede pública de Ensino Básico do Estado do Paraná, 
atuando em instituições como o Colégio Estadual João de Faria Pioli, Colégio Estadual 
Silvio Magalhães Barros, Instituto de Educação Estadual de Maringá, Colégio Estadual 
Antônio Francisco Lisboa e Colégio Estadual Jardim Independência, estes dois últimos, 
localizados no município de Sarandi-PR. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO DA APOSTILA 
 
Olá, seja muito bem vinda(o) à disciplina “Categorias e conceitos da Geografia”! 
 
Prezada(o) aluna(o), é com grande satisfação e apreço que lhe introduzo às 
temáticas e assuntos que compõem esta disciplina. Se você se interessou pelos 
conhecimentos apresentados e dinamizados aqui, o presente material será o início de 
uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Desde já te adianto que 
o desenvolvimento do conhecimento em Geografia se faz por meio de uma construção 
coletiva, ou seja, por relações conjuntas e recíprocas e nunca individuais ou unilaterais. 
Desta forma, é a partir do compartilhamento e socialização dos saberes 
geográficos, divididos em quatro unidades, que vamos estudar alguns dos princípios 
históricos, teóricos, metodológicos e epistemológicos da construção e consolidação da 
Geografia como ciência. 
Na unidade I vamos conhecer a disciplina de Geografia ao longo da História, com 
destaque ao seu desenvolvimento por meio das correntes do pensamento geográfico, 
das suas tendências mundiais e brasileiras e dos seus conceitos e categorias analíticas 
principais. 
Já na unidade II você irá saber mais sobre questões acerca da ação humana na 
natureza e as relações estabelecidas entre a sociedade e o meio ambiente, como 
também, sobre o impacto da sociedade na natureza e vice e versa, e algumas técnicas 
sustentáveis desenvolvidas para diminuir esse impacto. 
Na sequência, na unidade III falaremos a respeito das divisões da Geografia entre 
Geografia Humana e Geografia Física, das relações entre Geografia e 
interdisciplinaridade, dos princípios da Geografia Crítica enquanto uma corrente teórica 
presente nos estudos geográficos e dos diversos ramos da Geografia, como a 
Geomorfologia, Climatologia, Geografia Social e Geopolítica, entre outros. 
Em nossa unidade IV, vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina com estudos à 
respeito da leitura do espaço geográfico por meio das categorias geográficas de lugar e 
paisagem, do conceito de território e espaço geográfico de forma mais específica e 
aprofundada e, por último, da representação do espaço geográfico, em especial, através 
do ensino de Geografia nas escolas. 
Aproveito para reforçar o convite a você, para junto comigo, percorrer esta jornada 
de conhecimento a fim de multiplica-los a partir de tantos assuntos tratados em nosso 
material. Almejamos que esta disciplina possa contribuir para seu crescimento pessoal, 
profissional e acadêmico. 
 
Muito obrigada pela companhia e bons estudos! Se puder, fique em casa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE I 
 
CONCEITOS DA GEOGRAFIA 
Professora Esp. Karitta da Silva Lopes 
 
 
Plano de Estudo: 
 
● A Geografia ao longo da História. 
● As correntes do pensamento geográfico. 
● As tendências da Geografia mundial e Brasileira. 
● Conceitos fundamentais na compreensão do espaço Geográfico 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
● Compreender o processo histórico de evolução do pensamento geográfico. 
● Analisar os pressupostos da geografia como ciência e sua relação com outras 
áreas do conhecimento, através do tempo histórico. 
● Estabelecer relações entre a sociedade humana e o ambiente natural. 
● Classificar as categorias geográficas e compreender como os fenômenos 
espaciais se manifesta através delas. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezada(o) Aluna(o), seja bem vinda(o) a disciplina “Categorias e conceitos 
da Geografia”. É com grande satisfação e estima que te convido a compartilhar 
conhecimentos acerca das bases teóricas do pensamento geográfico. 
O presente material foi desenvolvido para introduzi-la(o) ao horizonte das 
discussões à respeito da Geografia enquanto ciência, portanto, é destinado à 
estudantes e pesquisadores interessadas(os) em compreender o processo 
histórico de constituição da ciência geográfica, cujo o objetivo é pensar 
epistemologicamente o espaço que vivemos, suas condições naturais, 
modificações territoriais e relações com práticas e intervenções humanas. 
Durante a trajetória escolar, você certamente cursou Geografia e teve 
contato com diversos conceitos específicos dessa disciplina, como território, 
espaço, lugar e região. A apresentação que você tem em mãos (ou à vista por 
meio de arquivos digitais) pretende aprofundar esses conhecimentos, obtidos no 
seu percurso educacional no decorrer do Ensino Básico, à respeito da formação 
do pensamento geográfico e sua consolidação como ciência pertencente às 
Humanidades. 
A Unidade 1 “Conceitos da Geografia” é composta por quatro tópicos que 
correspondem à um plano de estudo estruturado para que você possa obter 
conhecimento sobre a Geografia ao longo da História, as correntes do 
pensamento geográfico, as tendências da Geografia mundial e brasileira e os 
conceitos fundamentais na compreensão do espaço geográfico. 
Almejamos que esta unidade possa contribuir com sua aprendizagem, com 
a expansão do seu pensamento crítico e com o aprimoramento de suas 
habilidades cognitivas e investigativas em Geografia. 
 
 
Bons estudos! 
 
 
1 A GEOGRAFIA AO LONGO DA HISTÓRIA 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/old-vintage-retro-compass-
on-ancient-1014403549 
 
Ao darmos início aos estudos acerca da Geografia enquanto uma disciplina 
essencial para compreendermos o espaço que vivemos, suas condições naturais, 
modificações territoriais e intervenções humanas, precisamos, a priori, identificar a 
etimologia da palavra a fim de contextualizá-la ao longo da história. Logo, o termo em 
destaque, tem sua origem na junção dos radicais gregos geo, cujo significado é terra, e 
grafia, que significa descrição, ou seja, o estudo da superfície da terra. 
Nascida no berço do pensamento filosófico grego, a base científica da Geografia 
é reconhecida como uma das mais longínquas da Grécia Antiga, sendo classificada 
enquanto uma filosofia natural ou história natural. Nesse período histórico, os objetivos 
e análises que envolviam a ciência geográfica estavam voltadas a entender a localização 
da Terra no universo, bem como, a dimensão de sua superfície por meio de cálculos 
matemáticos e representações cartográficas. 
Em virtude disso, podemos dizer que as origens dos estudos geográficos se dão 
a partir do surgimento da geografia geral e da geografia matemática. De acordo com 
Paulo R. Teixeira de Godoy (2010), a utilização do termo Geografia foi motivada pela 
necessidade de designar aportes do cotidiano da sociedade grega, como relatos de 
viagens, descrição de lugares, escritos literários, relatórios estatísticos, registros 
cosmológicos, entre outros. Por esta razão, pesquisas históricas e evidências 
arqueológicas e etnológicas apontam que o mapa é a mais antiga forma de comunicação 
gráfica realizada pela humanidade 
 
Nesse momento histórico na Grécia,havia um esforço intelectual voltado para a 
compreensão do mundo, do universo e da realidade, ou como era conhecido à 
época, o cosmos. Para os gregos, o cosmos era uma totalidade organizada 
racionalmente, que só poderia ser descrito pela razão, levando a visualização de 
uma ordem, uma unidade e uma harmonia, onde coexistem uma multiplicidade 
caótica das coisas e acontecimentos (GODOY, 2010, p. 13). 
 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/old-vintage-retro-compass-on-ancient-1014403549
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/old-vintage-retro-compass-on-ancient-1014403549
Contudo, embora a construção e formulação das bases científicas da Geografia 
remonte a Era Clássica (entre o século VIII a.C. e o século V d.C) a partir da perspectiva 
dos estudos sobre as dimensões, formas e o campo gravitacional da Terra, não havia 
uma unidade de análise compreendida como método, de modo que, até o final do século 
XVIII, não é possível falar de um conhecimento geográfico sistematizado que 
apresentasse as conexões metodológicas necessárias para ser categorizada como 
ciência. 
Com o fim da Idade Média, período histórico marcado por uma organização social 
definida pelas aristocracias feudais, pelas imposições eclesiásticas da Igreja Católica e 
por um sistema econômico baseado na troca e no escambo, surge a necessidade de 
legitimar a ciência a partir do método a fim de racionalizar os seus procedimentos e 
descobrimentos, antes, desacreditados e questionados pelo clero, poder religioso da 
estrutura medieval que operava diretamente nas decisões políticas da sociedade 
europeia. 
Neste sentido, o pensamento moderno, inaugurado com as mudanças históricas 
proporcionadas pelo Iluminismo, pelo capitalismo e pelo positivismo, estipulou o método 
(baseado exclusivamente em concepções empiristas e quantitativas da época Moderna) 
como uma condição imprescindível para se fazer ciência. 
 
O conhecimento da realidade em diversas sociedades e na maior parte da 
história da humanidade foi buscado nos signos religiosos, nas lendas, na poesia 
e na religião. Foi rompendo com estas formas, até então tradicionais de 
explicação da realidade, que o pensamento moderno tomou forma inaugurando 
um novo período na história da humanidade onde o conhecimento foi tomado 
como ação racional (LEITÃO, 2017, p.12). 
 
Figura 1: O Homem Vitruviano (1490), obra renascentista de Leonardo da Vinci (1452 - 
1519) que se tornou símbolo do Antropocentrismo (homem no centro), conceito característico 
da Modernidade. 
 
https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/homo-vitruviano-vitruvian-man-
leonardos-detailed-602705321 
 
Desta forma, foi a partir do século XIX que a ciência geográfica inicia os primeiros 
passos na sistematização de um método por meio dos estudos dos intelectuais alemães 
Carl Ritter (1779 - 1859) e Alexander Von Humboldt (1759 - 1859), que no mesmo 
período histórico, dedicaram-se a estudar as interações entre o homem e a natureza. 
Portanto, podemos afirmar que Humboldt e Ritter, são os percursores da geografia 
sistematizada e de metodologias para se pensar tal ciência. 
 
Carl Ritter (1779 – 1859), ao lado de Alexander Von Humboldt (1769 – 
1859), é apontado como um dos organizadores das bases da Geografia 
Moderna. Apesar de nenhum destes dois geógrafos ter sido pioneiro no 
estudo da Geografia na Modernidade, foram os primeiros a proporem 
uma ciência geográfica, cujo objetivo fosse compreender as leis que 
regem a relação entre a natureza e a sociedade (LEITÃO, 2017, p. 12). 
 
Ao analisarmos a contribuição dos autores para a sistematização da geografia e, 
por consequência, sua consolidação enquanto ciência racionalizada por uma 
metodologia testada, podemos perceber que o que os diferenciavam teoricamente era o 
método de análise que propunham para desenvolver seus estudos. Segundo Leitão 
(2017), Humboldt era um naturalista empirista que viajou por diversos locais do mundo 
enquanto Ritter compôs sua obra a partir de atividades de revisão bibliográfica, propondo 
um sentido para a relação homem-natureza. 
Ambos os autores se encontravam inseridos em um contexto de profundas 
transformações na história na Alemanha e, sobretudo, na história Ocidental. A ciência, 
nesse período, estava fundamentada em uma compreensão mecanicista do universo, ou 
seja, estava ancorada na razão exacerbada, herança do positivismo iluminista, como 
vimos anteriormente. “Efetivamente, a epistemologia dominante fundamenta-se em 
contextos culturais e políticos bem definidos: o mundo moderno cristão ocidental, o 
colonialismo e o capitalismo” (TAVARES, 2009, p. 183). 
O pensamento moderno baseado nas contribuições da física de Newton iniciou a 
modernidade enquanto corrente científica. A física Newtoniana, concretizou a forma 
mecânica de compreender a natureza, afirmando que nada poderia fugir das relações de 
causa e efeito, sendo assim, as explicações dos fenômenos seriam logicamente medidas 
e traduzidas em equações matemáticas adequadas a explicar todos os eventos que 
acontecem no espaço. 
Contudo, a inspiração científica de Ritter, não foi somente instigada pela corrente 
racionalista que permeou a Modernidade, sua geografia preocupava-se em dar respostas 
aos dilemas do seu tempo e as questões que preocupavam sua geração, afirmando que 
a geografia seria capaz de encontrar leis racionais e universais que gerissem a conexão 
entre a humanidade e a natureza quando compreendesse, que mesmo a razão, era 
detentora de contradições e complexidades inerentes ao agir e pensar humano. 
Ao analisar as mudanças políticas, sociais, econômicas, culturais e 
epistemológicas que ocorreram no continente europeu pós-Revolução Francesa, 
relacionando-as com a corrente científica racionalista, o autor aponta: 
 
Muitos daqueles que esperavam que a Revolução Francesa fosse capaz 
de inspirar em toda a Europa uma sociedade mais igualitária e livre, 
assistiram à queda do tradicional Antigo Regime sem que isso 
representasse mudanças significativas na vida da maior parte da 
população. O homem moderno continuava refém das fraquezas 
humanas, mas em contrapartida, havia perdido seu elo com a natureza, 
aberto mão de sua tradição e perdido o contato integral da vida 
comunitária (LEITÃO, 2017, p. 13). 
 
À vista disto, Carl Ritter preocupou-se em sistematizar o conhecimento geográfico 
ao elaborar uma interpretação científica e racional para entender a interação entre o 
homem e a natureza e encontrar um significado para a existência humana. O geógrafo 
acreditava que a vontade de Deus havia desenvolvido a ciência racional como condição 
da humanidade se reconectar com a natureza e, consequentemente, se reconectar com 
Deus através da contemplação da mesma. 
Corroboramos que, mesmo com o fim da Idade Média e a ocorrência da 
Modernidade, tais transformações históricas não ocorreram do dia para a noite, logo, 
vale ressaltar que a religião, como instituição que molda as ações e pensamentos 
humanos, continuou a exercer grandes influências nas práticas sociais modernas. Tal 
fato explicaria a crença e pertença religiosa manifestada por Carl Ritter em seus estudos 
a respeito da geografia. 
 
Para Ritter, as adversidades da natureza moldam o caráter e o espírito 
de um povo, da mesma maneira que o homem é capaz de alterar a 
natureza. É desta relação, que é por essência conflituosa, que são 
moldadas as regiões em suas particularidades. As regiões, a natureza e 
os homens são, portanto, portadores de história. É a partir da história que 
o geógrafo se torna capaz de compreender os meandros da relação 
homem-natureza (LEITÃO, 2017, p. 29). 
 
A fim de compreender de que forma os fenômenos apresentam-se na superfície da 
Terra por meio de uma razão universal, ainda que estivesse focado em entender as 
particularidades de cada região, o autor encontrou um método que relaciona a parte e o 
todo. Logo, a partir de suas contribuições epistemológicas,Carl Ritter é reconhecido como 
o percursor da Geografia Humana como método científico. 
 
Ainda que Ritter tenha vivido no século XVIII, em um momento em que a 
própria concepção de ciência era concebida de forma mais holística, seu 
interesse foi o de utilizar a Geografia como forma de superar a 
fragmentação imposta pelo avanço da razão em sua época (MOREIRA, 
2010 apud LEITÃO, 2017, p. 14). 
 
Por outro lado, Alexander von Humboldt buscou formular teorias sobre a Terra a 
partir do empirismo racionado e do método intuitivo, isto é, a compreensão dos 
conhecimentos relativos a terra se dará a partir da observação como suporte para a prática 
e assimilação direta da realidade para além da razão. 
Durante suas expedições, o autor observou que as características da flora e da 
fauna de uma região estão estreitamente relacionadas com as condições climáticas, 
latitudes e tipo de relevo existentes nesse ambiente. A partir dessa elaboração analítica, 
Humboldt desenvolveu o conceito de “meio ambiente geográfico”, sendo reconhecido 
como percursor da Geografia Física. 
As respostas encontradas por Ritter e Humboldt para os impasses de sua época 
e suas formas de pensar a Geografia podem não ser adequadas às nossas pretensões 
atuais, mas entendê-los é fundamental para que possamos revisar nosso passado 
encontrando elementos que possam auxiliar as respostas que buscamos dar em nosso 
próprio tempo. 
Ao longo do presente tópico, buscamos apresentar os primeiros passos da 
sistematização da ciência geográfica como uma importante ferramenta de compreensão 
da realidade, cuja formulação e desenvolvimento teórico-metodológico vem a contribuir 
para que a humanidade possa entender a natureza e sua relação com ela, que pode vir a 
ser, tanto saudável e respeitosa, quanto nefasta e destrutiva. 
 
 
 
2 AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/aircraft-spotter-
searches-sky-binoculars-during-249573040 
 
Prezada (o) Aluna (o), estudamos no tópico anterior que as contribuições de Carl 
Ritter e Alexandre Von Humboldt, asseguraram caminhos abertos para as discussões 
teóricas acerca do pensamento geográfico, formulada por levantamentos experimentais 
e contagens esgotantes sobre distintos lugares da Terra. Vimos, também, a importância 
dos processos de sistematização do saber geográfico, de forma particular e autônoma, 
para que o mesmo fosse considerado uma ciência específica e com métodos próprios. 
Tendo em vista o conteúdo trabalhado anteriormente, neste tópico iremos dar 
continuidade aos estudos referentes a Geografia enquanto ciência e campo investigativo, 
focando nas correntes teóricas em que o pensamento geográfico foi construído, 
metodizado e elaborado cientificamente, pois para compreendermos as epistemologias 
da Geografia, precisamos conhecer o desenvolvimento das principais correntes que 
surgiram após a sua legitimação enquanto ciência sistematizada. 
Os primeiros princípios teóricos desenvolvidos para nortear as análises 
geográficas, presente em estudos até os dias atuais, foram realizados nos processos de 
sistematização metodológica que estudamos no tópico passado. Como afirma Antonio 
Carlos Robert Moraes (1994), fazem parte desse repertório o conhecimento acerca da 
extensão do planeta, o levantamento de informações a respeito da superfície terrestre, 
o desenvolvimento de técnicas cartográficas e o surgimento das teorias raciais do 
evolucionismo. 
Tais princípios, foram os primeiros passos rumo a consolidação da ciência 
geográfica, influenciando diretamente o surgimento de correntes teóricas cujo o objetivo 
é o de pensar a ciência em destaque e de servir como aporte teórico para investigações 
a respeito das problemáticas que envolvem a Geografia. Logo, as correntes do 
pensamento geográfico, com suas especificidades analíticas, semelhanças e cisões, 
podem ser identificadas em dois grandes grupos: a Tradicional, entendendo o 
agrupamento das correntes que não dialogam com as questões sociais, mas estudam a 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/aircraft-spotter-searches-sky-binoculars-during-249573040
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/aircraft-spotter-searches-sky-binoculars-during-249573040
relação entre a humanidade e a natureza amparada na percepção da Geografia como 
ciência descritiva e de observação dos fenômenos naturais, ou seja, positivista; e a 
Moderna, que questiona o tradicionalismo e o positivismo amparando a Geografia como 
ciência atenta às questões sociais e complexidades humanas. 
 
2.1 Geografia Tradicional 
 
 A corrente teórica da Geografia Tradicional têm seu desenvolvimento e 
consolidação possibilitada por três escolas distintas, sendo elas: 1- Determinismo, cujo 
o principal teórico é o alemão Friedrich Ratzel, que sustenta o argumento de que as 
circunstâncias naturais definem a relação com o homem e , por consequência, intervêm 
nas suas condições de evolução; 2- Possibilismo, estabelecido pelas ideias do francês 
Paul Vidal de La Blache, que defendia que a natureza oferece oportunidades para que o 
homem a transforme sem necessariamente indicar comportamentos; 3- Regionalismo, 
escola amparada pelo norte-americano Richard Hartshorne e, também, por Paul Vidal 
de La Blache, que afirmavam que o conhecimento das regiões geográficas e suas 
diferenças se davam por meio do detalhamento dos lugares e fragmentações territoriais. 
 
2.1.1 Determinismo Geográfico 
 
Teoria formulada no século XIX pelo geógrafo alemão Friedrich Ratzel, que aponta 
as influências que as condições naturais exercem sobre os seres humanos, a escola 
determinista sustenta a ideia de que o meio natural determina o homem, nesse sentido, 
os homens procurariam organizar o espaço para garantir a manutenção da vida. 
Segundo Moraes (1994), para Ratzel “A perda de território seria a maior prova de 
decadência de uma sociedade. Por outro lado, o progresso implicaria a necessidade de 
aumentar o território, logo, de conquistar novas áreas (p. 19)”. 
As análises de Ratzel estavam ligadas fortemente ao momento histórico que se 
encontrava inserido, compreendendo o período de unificação da Alemanha no século 
XIX. O expansionismo do império alemão, arquitetado pelo primeiro-ministro da Prússia 
Otto Von Bismarck (1815-1898), foi legitimado pelas duas principais correntes do 
pensamento Ratzeliano, o determinismo geográfico - que explicaria a superioridade de 
algumas raças, nesse caso a alemã, que naturalmente se desenvolveriam mais do que 
outras - e o espaço vital, que justificaria a conquista de novos territórios de formas 
violentas para suprir a maior demanda de recursos para seu desenvolvimento, ou seja, 
o expansionismo. 
 
Ratzel elabora o conceito de “espaço vital”; este representaria uma 
proporção de equilíbrio, entre a população de uma dada sociedade e os 
recursos disponíveis para suprir suas necessidades, definindo assim 
suas potencialidades de progredir e suas premências territoriais. É fácil 
observar a íntima vinculação entre estas formulações de Ratzel, sua 
época e o projeto imperial alemão. Esta ligação se expressa na 
justificativa do expansionismo como algo natural e inevitável, numa 
sociedade que progride, gerando uma teoria que legitima o imperialismo 
bismarckiano. Também sua visão do Estado como um protetor acima da 
sociedade, vem no sentido de legitimar o Estado prussiano, onipresente 
e militarizado. (MORAES, 1994, p. 19). 
 
Os discípulos da escola determinista foram além das proposições de Ratzel, 
chegando a afirmar que o homem seria um produto do meio ao defenderem que um 
ambiente mais hostil proporcionaria um maior nível de desenvolvimento ao exigir um alto 
grau de organização social para suportar todas as contrariedades impostas pelo meio. 
Ex: O inverno justificaria o desenvolvimento das sociedades europeias, que não tiveram 
grandes dificuldades em subjugaros povos tropicais, isto é, sociedades africanas e 
americanas, que segundo tal pensamento, seriam mais indolentes, incivilizados e 
atrasados. 
Essa ideia falaciosa serviu de justificativa para a colonização, a escravidão e o 
expansionismo neocolonial na África e na Ásia entre o fim do século XIX e o início do 
século XX. Pensamentos que, mais tarde, foram aproveitados pelos cientistas e políticos 
da Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial a fim de sustentar as 
atrocidades do Holocausto e o extermínio de populações consideradas racialmente 
inferiores, como judeus, negros, ciganos e pessoas com deficiência. 
Em acordo com Moraes (1994), a característica principal do Determinismo “[...] 
reside no fato de haver trazido, para o debate geográfico, os temas políticos e 
econômicos, colocando o homem no centro das análises. Mesmo que numa visão 
naturalizante, e para legitimar interesses contrários ao humanismo” (p. 21). 
 
2.1.2 Possibilismo Geográfico 
 
 A escola possibilista teve origem na França com Paul Vidal De La Blache, teórico 
que estava inserido no pensamento político dominante da sociedade francesa em um 
momento em que a nação tornou-se uma grande soberania. 
 
Para compreender o processo de eclosão do pensamento geográfico na 
França, e o tipo de reflexão que este engendrou, é necessário enfocar os 
traços gerais do desenvolvimento histórico francês no século XIX, e, em 
detalhe, a conjuntura da Terceira República e o conflito de interesses com 
a Alemanha (MORAES, 1994, p. 22). 
 
Paul Vidal De La Blache realizou estudos regionais procurando provar que a 
natureza exercia influências sobre o homem, mas que o homem tinha possibilidades de 
modificar e de melhorar o meio, ideia chave do Possibilismo. O autor delineou o enfoque 
da Geografia a partir da interação homem-natureza, na concepção da paisagem, 
inserindo o homem como um ser dinâmico, que sente a influência do meio, mas que 
opera sobre este, modificando-o. A partir dessa elaboração, constatou que as urgências 
humanas são influenciadas pela natureza, e que a humanidade procura recursos para 
satisfazê-las nos elementos e nas possibilidades ofertadas pelo meio. 
Conforme afirmado por Moraes (1994) a geografia vidalina tem como enfoque a 
população, o agrupamento social, e nunca a sociedade em si, isto é, tal escola aborda 
os estabelecimentos e feitos humanos a partir de técnicas e de instrumentos de trabalho, 
não as relações e dinamizações sociais ocorridas através de processos de produção e 
exploração. “Enfim, discute a relação homem-natureza, porém sem abordar as relações 
entre os homens. É por esta razão que a carga naturalista é mantida, apesar do apelo à 
História, contido em sua proposta” (MORAES, 1994, p. 26). 
Por fim, podemos dizer que o Possibilismo considera a natureza como 
fornecedora de possibilidades e o homem como o principal agente geográfico que atua 
e modifica a natureza. 
 
2.1.3 Regionalismo Geográfico 
 
 Essa corrente do pensamento geográfico tradicional, tem suas bases propostas 
pelo diálogo entre Paul Vidal de La Blache, que como já vimos é o teórico principal da 
escola possibilista, e Richard Hartshorne, norte-americano que afirma que os aspectos 
próprios da Geografia eram o espaço e os lugares. 
O método adotado por essa vertente compreendia em comparar regiões, sobre os 
critérios de semelhança e diferença, dedicando-se a coleta de informações descritiva 
sobre lugares ao dividir a Terra em regiões. Para Hartshorne, os espaços eram divididos 
em áreas nas quais os elementos mais homogêneos determinariam cada classe e, 
assim, as descontinuidades destes espaços trariam as divisões das áreas. 
 
Hartshorne argumentou que os fenômenos variam de lugar a lugar, que 
as suas inter-relações também variam, e que os elementos possuem 
relações internas e externas à área. O caráter de cada área seria dado 
pela integração de fenômenos inter-relacionados. Assim, a análise 
deveria buscar a integração do maior número possível de fenômenos 
inter-relacionados. (MORAES, 1994, p. 32). 
 
Logo, podemos afirmar que para o teórico em destaque, o pesquisador faria a 
análise de um só lugar, tentando compreender diversos elementos que levariam à 
construção de um importante e significativo conhecimento sobre determinado local. 
Buscamos visualizar e compreender tal método a partir dos exemplos expostos por 
Moraes: 
 
[...] o pesquisador seleciona dois ou mais fenômenos (p. ex. clima, 
produção agrícola, tecnologia disponível), observa-os na área escolhida, 
relaciona-os. Seleciona outros (p. ex. topografia, estrutura fundiária, 
relações de trabalho), observa-os, relaciona-os; repete várias vezes este 
procedimento, tentando abarcar o maior número de fenômenos (tipo de 
solo, destinação da produção, número de cidades, tamanho do mercado 
consumidor, hidrografia etc.); uma vez de posse de vários conjuntos de 
fenômenos agrupados e inter-relacionados, integra-os inter-relacionando 
os conjuntos; repete todo este procedimento, com novos fenômenos, ou 
novos agrupamentos dos mesmos fenômenos, em conjuntos diferentes; 
afinal, integram-se, entre si, os conjuntos já integrados separadamente 
(MORAES, 1994, p. 32). 
 
As propostas dessa corrente abriram inúmeras possibilidades para os estudos 
geográficos e foram amplamente discutidas, pois possibilitou análises locais, focadas na 
união de temas conectados, à exemplo de uma geografia dos recursos naturais e uma 
geografia dos transportes, relacionando e integrando uma diversidade de fenômenos 
relacionados a essas temáticas específicas. Tal pensamento geográfico definido como 
método regional, possibilitou um trabalho investigativo com uma quantidade diversa de 
elementos, relacionando interesses cada vez mais planejados e ágeis sobre determinada 
região. 
 A partir do exposto durante o presente tópico, a Geografia Tradicional contribuiu 
para a fundamentação de um campo amplo de investigações sistematizadas ao 
organizar uma continuidade de discussões estruturadas em conhecimentos 
metodológicos. 
 
Nesse processo, elaborou um temário válido, independente das teorias 
que desenvolveu; esse temário restou como a grande herança do 
pensamento geográfico tradicional. Assim, seu grande feito foi a 
identificação de problemas, o levantamento de questões válidas, às quais 
deu respostas insatisfatórias ou equivocadas (MORAES, 1994, p. 33). 
 
Concomitante à isso, a Geografia Tradicional contribuiu com uma quantidade 
vasta de informações e levantamento de diversas realidades, constituindo um material 
essencial para pesquisadores que vieram depois, beneficiados pelo caráter descritivo 
das informações levantadas e dados minuciosos sobre uma pluralidade de fenômenos, 
inclusive, para que tais teóricos subsequentes formulassem críticas e correntes 
divergentes às aqui explanadas. 
Para concluir, apesar de suas limitações generalistas e naturalistas, o 
pensamento geográfico tradicional contribuiu para a elaboração de alguns conceitos 
bases da Geografia atual como ambiente, território, região, habitat, etc. (reestruturados 
e ressignificados posteriormente). O cenário apresentado diz respeito às primeiras 
vertentes teórica-metodológicas da Geografia, as críticas levantadas a essa corrente, 
proporcionou avanços científicos na construção do pensamento geográfico e na 
produção epistemológica acerca dessa ciência. 
 
2.2 Geografia Moderna 
 
Por volta da década de 1950, com o fim da II Guerra Mundial (1939 e 1945) e a 
expansão do sistema capitalista, as correntes do pensamento geográfico tradicional 
foram questionadas, trazendo para as novas análises a defesa de fazer da Geografia 
uma ciência humana e social. Sobre a estruturação de novas formas e sentidos para 
pensar a disciplina nos anos seguintes, podemos apontar que 
 
A crise da Geografia Tradicional, e o movimento de renovação a ela 
associado, começam a se manifestar já em meadosda década de 
cinquenta e se desenvolvem aceleradamente nos anos posteriores. A 
década de sessenta encontra as incertezas e os questionamentos 
difundidos por vários pontos. A partir de 1970, a Geografia Tradicional 
está definitivamente enterrada; suas manifestações, dessa data em 
diante, vão soar como sobrevivências, resquícios de um passado já 
superado. Instala-se, de forma sólida, um tempo de críticas e de 
propostas no âmbito dessa disciplina. Os geógrafos vão abrir-se para 
novas discussões e buscar caminhos metodológicos até então não 
trilhados. Isto implica uma dispersão das perspectivas, na perda da 
unidade contida na Geografia Tradicional. Esta crise é benéfica, pois 
introduz um pensamento crítico, frente ao passado dessa disciplina e 
seus horizontes futuros. Introduz a possibilidade do novo, de uma 
Geografia mais generosa (MORAES, 1994, p. 34). 
 
Em virtude disso, o surgimento e consolidação da Geografia Moderna se deu a 
partir de duas grandes escolas teóricas: a Pragmática, que está ligada a Geografia 
aplicada e que acredita na tecnologia geográfica, mediada por dados estatísticos e 
diagnósticos que subsidiaram a estruturação das relações capitalistas ao incentivar 
tomadas de decisões de governos e empresas; e a Crítica, que apresenta propostas 
heterogêneas que se aproximam de análises acerca da realidade social, com suas 
desigualdades, assimetrias e contradições, apontando assim, a Geografia como uma 
ciência que vislumbra mudanças sociais em busca de uma coletividade mais justa e 
engajada politicamente junto ao meio ambiente. 
 
2.2.1 Geografia Pragmática (Nova Geografia, Geografia Teorética ou Quantitativa) 
 
 A Geografia Pragmática corresponde a um corrente do pensamento geográfico 
desenvolvida a partir da década de 50, emergente a partir da urgência da obtenção de 
dados exatos, calcados em conceitos teóricos, que fossem apoiados em análises 
estatísticas, matemáticas e exatas da realidade. A escola foi utilizada como forte 
ferramenta para a consolidação dos poderes do Estado através de soluções baseadas 
em dados quantitativos. 
 
Desta forma, seu intuito geral é o de uma “renovação metodológica”, o de 
buscar novas técnicas e uma nova linguagem, que dê conta das novas 
tarefas postas pelo planejamento. A finalidade explícita é criar uma 
tecnologia geográfica, um móvel utilitário. Daí sua denominação de 
pragmática (MORAES, 1994, p. 37). 
 
As características principais dessa corrente são de que todo o conhecimento está 
apoiado na experiência (empirismo) e que deve existir uma linguagem comum entre 
todas as ciências. Desse modo, tal interpretação recusa a ideia de um dualismo científico 
e forças complementares expressas entre as ciências naturais e as ciências sociais, 
exigindo assim, uma exatidão maior na aplicação da metodologia quantitativa e no uso 
de técnicas das ciências exatas. 
Portanto, os resultados das investigações científicas sob a alçada da Geografia 
Pragmática devem ser apresentados de forma lógica e apurada por meio do uso da 
linguagem matemática. Em razão disso, tais investigações ampliam a utilização da 
tecnologia na intervenção da realidade, pois se apresentam como uma artilharia de 
dominação para os interesses do Estado planejador que propõe suas ações balizadas 
em categorias técnicas, onde esconde os interesses de dominação almejadas, 
defendendo uma suposta neutralidade científica. 
 
A Geografia Pragmática é um instrumento da dominação burguesa, um 
aparato do Estado capitalista. Seus fundamentos, enquanto um saber de 
classe, estão indissoluvelmente ligados ao desenvolvimento do 
capitalismo monopolista. Assim, são interesses claros os que ela 
defende: a maximização dos lucros, a ampliação da acumulação de 
capital, enfim, a manutenção da exploração do trabalho. Nesse sentido, 
mascara as contradições sociais, legitima a ação do capital sobre o 
espaço terrestre. É uma arma prática de intervenção, mas também uma 
arma ideológica, no sentido de tentar fazer passar como “medidas 
técnicas”, logo, neutras e cientificamente recomendadas” a ação do 
Estado na defesa de interesses de classe (MORAES, 1994, p. 40). 
 
Enfim, essa corrente predominou nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, 
principalmente na década de 1960 e meados da década de 1970. Contudo, é a partir 
dos anos 60 que a Geografia Pragmática começa a sofrer diversas críticas, cuja principal 
delas está relacionada ao fato da escola não considerar as particularidades dos 
fenômenos ao reduzi-los a explicações estritamente exatas. 
Corroboramos que o método matemático não é eficiente para explicar sozinho os 
intervalos existentes entre diferentes momentos históricos, pois não alcança as 
especificidades das relações estabelecidas entre ação humana e espaço geográfico ao 
compreender o meio apenas de forma homogênea e quantificada em números. 
 
2.2.2 Geografia Crítica 
 
A Geografia Crítica surgiu na França, em 1970, e depois foi desenvolvida por 
pesquisas em diferentes realidades do mundo, como na Alemanha, Brasil, Itália, 
Espanha, México e outros países, ganhando força e se legitimando como um grande 
movimento de renovação da Geografia na década de 80. As primeiras referências à essa 
corrente do pensamento geográfico foram realizadas com ênfase na obra “A Geografia 
serve, antes de mais nada, para fazer a guerra” do Francês Yves Lacoste. 
 Ao estabelecer o rompimento da suposta neutralidade da Geografia Pragmática e 
propor maior engajamento e criticidade junto a toda a conjuntura social, econômica, 
política e cultural do mundo, a Geografia Crítica possibilita uma leitura honesta e 
coerente frente aos problemas e interesses que envolvem as relações de poder e os 
embates históricos por território, defendendo a diminuição das assimetrias sociais, 
econômicas e regionais presentes nas dinâmicas de cada sociedade. Propõe, ainda, 
uma mudança significativa no ensino de Geografia ao promover uma educação que 
estimule e pensamento crítico e interpretações contextualizadas historicamente que não 
reduzem e simplifiquem a Geografia por reducionismos, generalismos e preconceitos. 
 
O designativo de crítica diz respeito, principalmente, a uma postura frente 
à realidade, frente à ordem constituída. São os autores que se 
posicionam por uma transformação da realidade social, pensando o seu 
saber como uma arma desse processo. São, assim, os que assumem o 
conteúdo político de conhecimento científico, propondo uma Geografia 
militante, que lute por uma sociedade mais justa. São os que pensam a 
análise geográfica como um instrumento de libertação do homem 
(MORAES, 1994, p. 42). 
 
Nas ideias de Yves Lacoste (1988), o Estado possui uma visão estruturada do 
espaço, pois tem o poder de agir sobre todos os lugares, exercendo mais uma ferramenta 
de dominação. Logo, faz-se necessário construir uma visão integrada do espaço e da 
sociedade a partir de interpretações que socializem este saber, pois possuem estratégias 
fundamentais para momentos de disputas políticas e para uma organização social que 
pense o espaço de forma justa com as necessidades humanas de sobrevivência, não 
com ganâncias de consumo e esgotamento de terras, matérias-primas e recursos 
naturais. 
 
[...] a função ideológica essencial do discurso da geografia escolar e 
universitária foi sobretudo o de mascarar por procedimentos que não são 
evidentes a utilidade prática da análise do espaço, sobretudo para a 
condução da guerra, como ainda para a organização do Estado e prática 
do poder. É sobretudo quando ele parece “inútil” que o discurso 
geográfico exerce a função mistificadora mais eficaz, pois a crítica de 
seus objetivos “neutros” e “inocentes” parece supérflua. A sutileza foi a 
de ter passado um saber estratégico, militar e político como se fosse um 
discurso pedagógico ou científico perfeitamente inofensivo. Nós veremos 
que as consequências desta mistificação são graves (LACOSTE, 1988, 
p. 25).No Brasil, o grande nome da renovação da Geografia foi o teórico baiano Milton 
Santos, que publicou as primeiras contribuições dessa nova abordagem no país. O autor 
defende que toda manifestação produtiva do homem, implica em uma ação modificadora 
da superfície terrestre. 
 
Santos afirma que a organização do espaço é determinada pela 
tecnologia, pela cultura e pela organização social da sociedade, que a 
empreendem. Na sociedade capitalista, a organização espacial é imposta 
pelo ritmo de acumulação. Na verdade, esta representa uma dotação 
diferencial de instrumentos de trabalho, na superfície do planeta, uma 
fixação de capital no espaço, obedecendo a uma distribuição “desigual e 
combinada”. Diz que, desta forma, os lugares manifestam uma 
combinação de capital, trabalho, tecnologia e trabalho morto, expresso 
nas “rugosidades” (MORAES, 1994, p. 46). 
 
O pensamento crítico na Geografia significou principalmente uma aproximação 
com os movimentos sociais, na busca da ampliação dos direitos civis e humanos, 
expressa pelo acesso à educação gratuita e de qualidade, à moradia, à terra, combate à 
pobreza e à violência ambiental, como o desmatamento, poluição, extinção de 
organismos vivos pertencentes a fauna e a flora, entre outras temáticas. 
 
 
 
 
3 AS TENDÊNCIAS DA GEOGRAFIA MUNDIAL E BRASILEIRA 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/national-flags-
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Cara (o) Aluna (o), nos tópicos anteriores estudamos os paradigmas que 
marcaram a evolução do pensamento geográfico e a estruturação dos métodos que 
fundamentaram cientificamente a Geografia ao longo dos séculos. Faz-se necessário 
historicizar o processo de evolução do pensamento geográfico a fim de analisarmos e 
entendermos os pressupostos da Geografia como ciência e sua relação com outras 
áreas do conhecimento através do contexto histórico de sua produção. 
No presente tópico, temos por objetivo dar continuidade aos estudos acerca da 
Geografia como ciência de referência ao nos debruçarmos pelas tendências da 
Geografia mundial e, em específico, da brasileira. Corroboramos que o processo de 
desenvolvimento do pensamento geográfico, ocorrido desde a Grécia Antiga, possibilitou 
o surgimento de vertentes teóricas das quais são imprescindíveis para compreendermos 
a ciência geográfica atualmente. Logo, a História torna-se importante para pensarmos 
nossos objetivos de estudo, pois nos auxilia a confluir passado e presente para que 
possamos almejar direcionamentos à respeito da Geografia no futuro. 
Há um consenso entre a comunidade científica que, atualmente, a Geografia é 
considerada uma ciência interativa e sistêmica. Interativa pois proporciona uma relação 
com diversos elementos presentes nos fenômenos estudados a partir de um caráter 
multidisciplinar, dialogando com outros saberes científicos e áreas do conhecimento, à 
exemplo da História (como já vimos anteriormente). Sistêmica devido à premissas 
teóricas que definem o objeto de pesquisa ao conjugar métodos necessários para sua 
formulação e identificar conexões complexas presentes no mundo globalizado. 
Nas últimas décadas, a Geografia distanciou-se da preocupação em descrever 
fenômenos e repassar informações decoradas e repetitivas, como exemplo, as capitais 
dos países e estados, a quantidade populacional de um determinado lugar, a extensão 
dos rios e etc. Por conseguinte, os estudos geográficos se fortaleceram por meio de 
novas metodologias de análise, priorizando uma investigação sistêmica dos processos 
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demográficos, econômicos, urbanos, sociais que dêem ênfase ao desenvolvimento das 
pesquisas a partir das necessidades da nova ordem mundial. 
 
Os estudos geográficos físicos, populacionais, econômicos e geopolíticos 
são, atualmente, abordados por metodologias científicas, produzindo 
conceitos e interpretações a partir de análises sobre as causas das 
realidades geográficas. A relação causa-efeito só produzirá resultado 
científico se for estabelecida a razão geográfica da realidade em 
determinadas escalas regionais e macrorregionais. A territorialidade e as 
interações sistêmicas com os ambientes naturais, os processos 
demográficos e as mudanças geopolíticas nas transterritorialidades 
constituem, pois, a razão da ruptura epistêmica ocorrida na Geografia nas 
últimas décadas (VIEIRA, 2013, p. 74 - 75). 
 
Uma das grandes inovações ocorridas na Geografia atual é a utilização de 
ferramentas de alta tecnologia que proporcionam uma melhor análise e identificação das 
ocorrências e fenômenos que modificam a superfície da Terra, usufruídas por geógrafos 
e geógrafas em seus estudos e pesquisas. Como afirma Euripedes Falcão Vieira (2013), 
“técnicas de geoprocessamento e imagens de satélites facilitam localizações, 
movimentos da hidrodinâmica fluvial, devastação de ambientes florestais, dinâmica 
marinha costeira e tantos outros” (p. 78). 
Desta forma, podemos afirmar que a tecnologia advinda do desenvolvimento e 
democratização da internet, dos satélites e de uma comunicação global em alta escala, 
configura-se como mudanças significativas e essenciais para a ciência geográfica e para 
suas produções epistemológicas nos dias de hoje. 
Outra tendência importante para os estudos atuais da Geografia diz respeito às 
migrações que acontecem em escala global, evidenciando dinâmicas sociais de forte 
impacto na geopolítica dos espaços que sofrem e recebem grandes deslocamentos 
populacionais. Para compreendermos essa complexa temática é preciso utilizar diversas 
categorias analíticas, pois tal fenômeno interfere ativamente na vida social, na estrutura 
econômica, nas condições culturais e na dinâmica entre territorialidades e população. 
As migrações humanas ocorrem desde o Período Mesolítico – (10.000 – 8.000 
a.C.), momento histórico de diversas modificações geológicas e climáticas na Terra, fato 
que caracterizou a transição de uma sociedade nômade para uma sociedade sedentária 
do homem pré-histórico. Podemos observar, também, migrações durante os processos 
de colonização europeia nas invasões de territórios africanos e americanos no século 
XVI. 
 
As migrações em larga escala estão muitas vezes ligadas a antigas 
relações de conquista e domínios coloniais. Mas é preciso considerar, 
também, as que ocorrem por força da nova ordem econômica mundial, 
que globalizou a produção e criou, consequentemente, uma nova divisão 
internacional do trabalho. Há, ainda, o fator da intelectualidade global, 
ativando a mobilidade da população mais jovem (VIEIRA, 2013, p. 79). 
 
Desta forma, apesar de não ser um fenômeno atual, ou seja, um fenômeno que 
tem uma longevidade histórica, as migrações humanas ganharam novos sentidos e 
significados devido à globalização. É necessário pensarmos nos motivos que levam uma 
quantidade significativa de pessoas a migrar do seu local de origem para uma análise 
geográfica precisa, sem preconceitos ou reducionismos das populações migrantes, e que 
interconecte as categorias de uma sociedade global. 
Já no Brasil, as tendências da Geografia perpassam as preocupações acerca da 
nossa realidade histórica e social, como por exemplo análises capazes de responder 
questões referentes à estrutura fundiária e o agronegócio, à pobreza e desigualdade, à 
segurança política e defesa, à ameaças globais e transnacionais, à matriz energética e 
meio ambiente, ao minério e indústria extrativa, à riqueza genética e biodiversidade, à 
população e diversidade social, étnica-racial e de gênero, entre outras. Tais temáticas 
tornam-se relacionadas à posição do Brasil frente ao mundo globalizado, apresentando-
se como novas linhas e tendências analíticas napesquisa geográfica. 
De acordo com Armen Mamigonian (1999), as tendências atuais da Geografia 
aspiram dar resposta à crise da sociedade, da civilização e da própria disciplina. O autor 
nos aponta que o desenvolvimento do modo de produção capitalista levou o Brasil a 
mundialização da economia, fato que forçou uma redefinição dos espaços nacionais, 
regionais e locais, seus papéis na divisão territorial e social do trabalho, intervenções 
mais incisivas do Estado e novas tendências à concorrência internacional que 
provocaram assimetrias na distribuição geográfica do nosso território. 
 
Além do processo de urbanização tão brutal como nós vivemos nas 
últimas décadas e intimamente acoplado a ele afloraram novas 
problemáticas, que estão estimulando linhas de pesquisa que já existiam, 
mas foram renovadas: 1) a preocupação por decifrar os processos 
espaciais no interior das cidades, aprofundando os conhecimentos de 
renda capitalista da terra (também na agricultura), sobre influência 
marxista; 2) a preocupação por combinar desenvolvimento econômico e 
preservação ambiental, como nas propostas de eco-desenvolvimento 
(Ignacy Sachs na França, Aziz Ab’Saber no Brasil, por exemplo), 
procurando soluções de crescimento, com vantagens sociais (por 
exemplo, códigos de empregos) e ambientais (controle dos gases da 
combustão nas cidades, por exemplo); 3) a preocupação por uma 
geografia da percepção, cuja raiz está na crescente alienação das 
pessoas, incapazes de realizar “mapas mentais”, mas também vinculada 
à psicologia comportamental, de potencial totalitário (Skinner, por 
exemplo) conforme seu uso (MAMIGONIAN, 1999, p. 177). 
 
Diante dessas novas realidades, podemos afirmar que as tendências em vigência 
na teoria e na prática da ciência geográfica perpassam as demandas da sociedade atual, 
se apresentando em quatro grandes eixos: 1) diversidade de correntes teóricas e 
premissas filosóficas; 2) interdisciplinaridade no diálogo e interação epistemológica entre 
as disciplinas no interior da Geografia e da própria Geografia em relação a outras áreas 
do conhecimento; 3) aumento e popularização de linhas de pesquisas destinadas à 
perspectivas que estabeleçam relações dinâmicas entre a sociedade humana e o 
ambiente natural, como a geopolítica por exemplo; 4) reconfigurações de saberes e 
conceitos concomitantes às mudanças advindas da urbanização, globalização e 
democratização das tecnologias. 
 
4 CONCEITOS FUNDAMENTAIS NA COMPREENSÃO DO ESPAÇO 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/aerial-view-cars-
trains-intersection-junction-1457094053 www.shutterstock.com/ 
 
Estimada (o) Aluna (o), no presente tópico temos por objetivo conhecer conceitos 
fundamentais para a compreensão do espaço. A priori, devemos ter em vista que o 
conceito de espaço se apresenta como uma das mais importantes categorias analíticas 
para o estudo da Geografia. Tal estrutura conceitual é o início de inúmeras produções 
científicas de autores que dedicaram seus estudos à conceituação de espaço geográfico 
como uma categoria abrangente e democrática para as pesquisas referentes à ciência 
geográfica. 
Iniciaremos nossas análises acerca da categoria de espaço por meio da obra A 
natureza do espaço (1996) do geógrafo brasileiro Milton Santos, onde propõe que o 
espaço é “formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de 
sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o 
quadro único no qual a história se dá” (p. 63). Para o autor, a natureza é o início, ela 
provê a matéria-prima as quais são transformadas em objetos pela ação humana através 
da técnica, isto é, “a principal forma de relação entre o homem e a natureza”, definida 
como “um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua 
vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço” (1996, p. 29). 
Desta forma, para a ciência geográfica, o espaço pode ser conceituado como a 
parte da superfície da Terra onde ocorrem as interações entre o ser humano e o ambiente 
natural, ou seja, o espaço geográfico é interpretado e dinamizado a partir de ações e 
práticas humanas, que por sua vez, são impulsionadas pela natureza, se dando em uma 
relação recíproca de influências. 
Milton Santos (1996) nos oferece argumentos críticos para compreendermos que 
apesar de recíproca, essa relação se dá, muitas vezes, por meio de extremas assimetrias 
e desigualdades ao elaborar que 
 
No princípio, tudo eram coisas, enquanto hoje tudo tende a ser objeto, já 
que as próprias coisas, dádivas da natureza, quando utilizadas pelos 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/aerial-view-cars-trains-intersection-junction-1457094053
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/aerial-view-cars-trains-intersection-junction-1457094053
homens a partir de um conjunto de intenções sociais, passam, também, 
a ser objetos (SANTOS, 1996, p. 65). 
 
Em virtude disto, o estudo do espaço geográfico nos possibilita compreender a 
nossa organização social no presente, que se deu a partir de transformações históricas 
ocorridas durantes os séculos que, por consequência, permitiram a existência e 
continuidade da humanidade hoje e, quiçá, no futuro. Conforme o ser humano interfere 
na natureza de determinado lugar, ele gera e promove o espaço geográfico, categoria 
imprescindível para o estudo da Geografia. 
A partir da conceituação de espaço geográfico, buscamos dar ênfase a outras 
categorias conceituais e analíticas em Geografia, fundamentais para a compreensão de 
fenômenos espaciais que se manifestam através delas, são elas: região, lugar e território. 
Região é a categoria geográfica que busca estabelecer características comuns 
entre diferentes áreas espaciais, ou seja, há elementos pertencentes a determinada 
região que irão caracterizar todos as localidades que a integram, estabelecendo assim, 
critérios de qualidades e traços específicos compartilhados por essa região. Elas podem 
ser utilizadas para divisões e organizações administrativas, como bairros, municípios ou 
estados, um exemplo são as categorias designadas para agrupar a população brasileira 
em cinco grandes regiões geopolíticas: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste. 
Em sua obra Região e Organização Espacial (2003), Roberto Lobato Corrêa 
discorre acerca do conceito de região a partir das diversas correntes do pensamento 
geográfico que, como já vimos no tópico 2, estão dispostas em: Geografia Tradicional 
(Determinismo, Possibilismo e Regionalismo) e Geografia Moderna (Pragmática e 
Crítica). Para o autor, os conceitos de região e organização espacial são essenciais para 
o entendimento do “[...] caráter distinto da geografia no âmbito das ciências sociais, 
indicando a via geográfica de conhecimento da sociedade, quer dizer, das relações entre 
natureza e história” (p.5). 
Apesar das divergências teóricas e metodológicas, todas as correntes 
compartilham do pressuposto que as raízes da Geografia estão na busca da 
compreensão e diferenciação de lugares, regiões, países e continentes, resultados das 
relações sociais entre homem e natureza. É a partir dessa premissa que o conceito de 
região torna-se importante para os estudos geográficos, pois possibilita que agrupemos 
lugares com características semelhantes ao amparar a contextualização do espaço no 
qual os territórios estão inseridos. 
Já o conceito de lugar consiste em uma área da superfície terrestre à qual são 
conferidas especificidades e significados particulares, pois para a formação e 
constituição de um lugar não basta apenas explicações descritivas a respeito da 
configuração espacial ocorrida, faz-se preciso que se tenha o entendimento de como se 
deu o processo da sua composição a partir das interações entre as pessoas que vivem 
e produzem esse espaço. De acordo com Ana Fani Alessandri Carlos (2007), 
 
A produção espacial realiza-se no plano do cotidianoe aparece nas 
formas de apropriação, utilização e ocupação de um determinado lugar, 
num momento específico e, revela-se pelo uso como produto da divisão 
social e técnica do trabalho que produz uma morfologia espacial 
fragmentada e hierarquizada. Uma vez que cada sujeito se situa num 
espaço, o lugar permite pensar o viver, o habitar, o trabalho, o lazer 
enquanto situações vividas, revelando, no nível do cotidiano, os conflitos 
do mundo moderno (CARLOS, 2007, p. 20). 
 
Desta maneira, visualiza-se que cada indivíduo é único e constituído por 
experiências no tempo e no espaço de formas muito específicas, apesar de partilhadas 
e com interligação entre si. Logo, um lugar terá significados diferentes para cada 
indivíduo que nele vive, interfere e experiencia acontecimentos de vida. 
Por fim, o significado do conceito de território se encontra ligado à demarcação de 
espaços delimitados, definidos, geralmente, a partir de fronteiras, visíveis ou não, 
formadas e motivadas por interesses sociais, políticos, econômicos, culturais, religiosos 
e geográficos, os quais podem ser transformados de acordo com dinâmicas sociais que 
produzem novos interesses e relações de poder. Tais demarcações ocorrem tanto 
naturalmente, promovidas pelo meio ambiente, quanto socialmente, desenvolvidas pela 
ação humana pelas razões citadas acima. 
 
O conceito de Território, tratamos o espaço geográfico a partir de uma 
concepção que privilegia o político ou a dominação-apropriação. 
Historicamente, o território da Geografia foi pensado, definido e 
delimitado a partir de relações de poder. Observa-se que, historicamente, 
a concepção de território associa-se à ideia de natureza e sociedade 
configuradas por um limite de extensão de poder. Territórios são no fundo 
relações sociais projetadas no espaço. Por consequência, estes espaços 
concretos podem formar-se e dissolver-se de modo muito rápido, 
podendo ter existência regular, porém periódica, podendo o substrato 
material permanecer o mesmo (SUERTEGARAY, 2001). 
 
A partir das contribuições da autora, corroboramos que a divisão de territórios, em 
especial, a partir da consolidação do Estado como instituição que normatiza formas de 
controle social, torna-se importante para a ocupação e distribuição humana, pois regula 
áreas administrativas de organização política, instituindo marcadores em determinada 
área por um determinado código cultura. Exemplos de território: o Estado, as fronteiras 
que limitam países, regiões, estados, cidades, bairros e favelas, o narcotráfico, as zonas 
de guerra, etc. 
Diante das conceituações atribuídas às categorias de espaço geográfico, região, 
lugar e território, buscamos apontar que a Geografia expressa uma identidade particular 
em seu arcabouço teórico, devido seu caráter de ciência social com interface a ciências 
naturais e exatas. Segundo Corrêa (2003), devemos compreender que as correntes do 
pensamento geográfico representam conceitos e categorias antagônicas que, apesar de 
convergirem ou se completarem em alguns aspectos teórico-metodológicos, tiveram sua 
emergência em um determinado espaço e tempo a partir de uma elaboração sócio-
histórica específica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SAIBA MAIS 
 
Você sabia que o Geógrafo Brasileiro Milton Santos, é um dos intelectuais mais 
premiados da América Latina? Recebeu em 1994 o Prêmio Internacional Vautrin Lud, 
correspondente ao Nobel da Geografia. Pela primeira vez na história desse prêmio, ele 
era outorgado a um geógrafo que não era nem francês nem norte-americano. Para mais 
informações a respeito do professor Milton Santos, consulte o site oficial do mesmo, 
administrado por sua família. 
SANTOS, Nina. Site Milton Santos, 2011. Disponível em: 
http://miltonsantos.com.br/site/. Acesso em: 26/04/2021. 
 
REFLITA 
 
‘’O geógrafo é, antes de tudo, um filósofo, e os filósofos são otimistas, porque diante 
deles está a infinidade’’. Milton Santos. 
 
CONTEÚDOS de Geografia Geral e do Brasil. Horizonte Geográfico, 2016. Disponível 
em: https://horizontegeografico.wordpress.com/. Acesso em: 26/04/2021. 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Prezada (o) Aluna (o) Vimos no Tópico 1 que as contribuições de Carl Ritter e 
Alexandre Von Humboldt, asseguraram caminhos abertos para as discussões teóricas 
acerca do pensamento geográfico, formulada por levantamentos experimentais e 
contagens esgotantes sobre distintos lugares da Terra. Vimos, também, a importância 
dos processos de sistematização do saber geográfico, de forma particular e autônoma, 
para que o mesmo fosse considerado uma ciência específica e com métodos próprios. 
Buscamos apresentar os primeiros passos da sistematização da ciência geográfica como 
uma importante ferramenta de compreensão da realidade, cuja formulação e 
desenvolvimento teórico-metodológico vem a contribuir para que a humanidade possa 
entender a natureza e sua relação com ela, que pode vir a ser, tanto saudável e 
respeitosa, quanto nefasta e destrutiva. 
No tópico 2 demos continuidade aos estudos referentes a Geografia enquanto 
ciência e campo investigativo, focando nas correntes teóricas em que o pensamento 
geográfico foi construído, metodizado e elaborado cientificamente, pois para 
compreendermos as epistemologias da Geografia, conhecemos o desenvolvimento das 
principais correntes que surgiram após a sua legitimação enquanto ciência 
sistematizada. Vimos que o pensamento crítico na Geografia significou principalmente 
uma aproximação com os movimentos sociais, na busca da ampliação dos direitos civis 
e humanos, expressa pelo acesso à educação gratuita e de qualidade, à moradia, à terra, 
combate à pobreza e à violência ambiental, como o desmatamento, poluição, extinção 
de organismos vivos pertencentes a fauna e a flora, entre outras temáticas. 
Em seguida no Tópico 3 seguimos refletindo acerca da Geografia como ciência 
de referência ao nos debruçarmos pelas tendências da Geografia mundial e, em 
específico, da brasileira. Entendemos que o processo de desenvolvimento do 
pensamento geográfico, ocorrido desde a Grécia Antiga, possibilitou o surgimento de 
vertentes teóricas das quais são imprescindíveis para compreendermos a ciência 
geográfica atualmente. Logo, a História tornou-se importante para pensarmos nos 
nossos objetivos de estudo, pois nos auxilia a confluir passado e presente para que 
possamos almejar direcionamentos à respeito da Geografia no futuro. 
E por fim no tópico 4 conhecemos os conceitos fundamentais para a compreensão 
do espaço, tendo em vista que o conceito de espaço se apresenta como uma das mais 
importantes categorias analíticas para o estudo da Geografia. Tal estrutura conceitual é 
o início de inúmeras produções científicas de autores que dedicaram seus estudos à 
conceituação de espaço geográfico como uma categoria abrangente e democrática para 
as pesquisas referentes à ciência geográfica. Compreendemos que as correntes do 
pensamento geográfico representam conceitos e categorias antagônicas que, apesar de 
convergirem ou se completarem em alguns aspectos teórico-metodológicos, tiveram sua 
emergência em um determinado espaço e tempo a partir de uma elaboração sócio-
histórica específica. 
Desejo que o estudo dessa unidade seja de grande valia para sua jornada nessa 
disciplina. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. (Orgs.) Epistemologias do Sul. São 
Paulo; Editora Cortez. 2010. 637 páginas. 
 
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos vem desde o início dos anos 
noventa produzindo trabalhos significativos de análise sobre a estrutura e construção do 
conhecimento moderno. Podemos afirmar que inventariando as diversas raízes que 
organizaram e ainda sustentam as bases do conhecimento ocidental como culturalmente 
homogêneo, vem instigando a comunidade científica a debater sobre a eficácia da 
ciência na construçãoda realidade imediata das pessoas normais. O livro em questão, 
“Epistemologias do Sul” é um desdobramento desta jornada intelectual e uma busca de 
novas referências epistêmicas das ciências humanas. 
 
 
 
 
 
 
LIVRO 
 
 
 
• Título: Por uma Geografia Nova- Da Crítica da Geografia a uma Geografia Crítica 
• Autor: Milton Santos 
• Editora: Edusp 
• Sinopse: Há cerca de vinte anos, quando foi publicada a primeira edição de Por Uma 
Geografia Nova, a geografia vivia uma crise interna no mundo todo, impondo à ciência 
a necessidade de discussões de ordem metodológica, conceitual e epistemológica. A 
publicação deste livro contribuiu para a renovação crítica da geografia: A verdade, 
porém, é que tudo está sujeito à lei do movimento e da renovação, inclusive as 
ciências. O novo não se inventa, descobre-se , propõe o autor na introdução deste que 
se tornou um livro clássico desde então. Milton Santos contribuiu com esta obra para a 
superação dos impasses que se apresentavam, propondo uma análise acurada do 
objeto da ciência: o espaço, mostrando a necessidade de torná-lo verdadeiramente 
humano, relacionando-o com outras disciplinas afins. 
 
 
 
 
 
 
 
FILME/VÍDEO 
 
• Título: O Nome da Rosa 
• Ano: 1986 
• Sinopse: Em uma atuação impecável, o ator Sean Connery dá vida ao questionador 
monge franciscano Guilherme de Baskerville, chamado às pressas a um mosteiro italiano 
medieval para investigar vários casos de religiosos que tiveram mortes enigmáticas no 
lugar. A trama baseada no livro do escritor Umberto Eco se desenrola em 1327, época 
em que a Igreja Católica já exercia poderio absoluto em todo o continente europeu. As 
mortes, é claro, foram tidas desde o princípio como obra do demônio. Mas a investigação 
minuciosa conduzida por Guilherme acabou provando o óbvio: o mistério tinha uma 
explicação muito mais racional (e controversa) do que aparentava. Por embasar seus 
julgamentos em evidências e não em dogmas ou verdades reveladas, o frade é 
representado como uma espécie de precursor do cientista moderno. O filme também 
discute a relação de intolerância do pensamento religioso para com o científico. 
•disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=s0cdAv4ZODE.
 
REFERÊNCIAS 
 
CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo: FFLCH, 2007. 
 
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e Organização Espacial. São Paulo: Editora Ática, 
2003. 7ª ed. Série Princípios. 
 
GODOY, Paulo R. Teixeira de. (Org.). História do pensamento geográfico e 
epistemologia em Geografia. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. Disponível em: 
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/109157/ISBN9788579831270.pdf?s
equence=2&isAllowed=y. Acesso em: 20/02/2021. 
 
LACOSTE, Yves. A geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 
Campinas: Papirus, 1988. 
 
LEITÃO, Joyce Oliveira. O contexto histórico-filosófico da obra “Geografia 
Comparada” de Carl Ritter. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de 
Campinas, Instituto de Geociências. Campinas, SP: [s.n.], 2017. Disponível em: 
http://repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/325519/1/Leitao_JoyceOliveira_
M.pdf. Acesso em: 21//02/2021. 
 
MAMIGONIAN, Armen. Tendências atuais da Geografia. Geosul, Florianópolis, v. 14, 
n. 28, p. 171-178, jul./dez. 1999. Disponível em: 
https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/15325. Acesso em: 25/02/2021. 
 
MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 20. ed. São 
Paulo: Anablume, 1994. Disponível em: 
http://files.geografia19.webnode.com/200000003-
02b9b04359/Antonio_Carlos_Robert_Moraes_-_Geografia_-
_Pequena_Histori%20a_Critica_TEXTO_1_DE_FTP_GEOG_3%C2%BA_ANO_MARCI
ANA_(3).pdf. Acesso em: 21/02/2021. 
 
SANTOS, Milton. A natureza do espaço – Técnica e tempo. Razão e emoção. São 
Paulo: Hucitec, 1996. 
 
SUERTEGARAY, Dirce Maria Antunes. Espaço Geográfico uno e múltiplo. Scripta 
Nova – Revista Electrónica de Geografía Y Ciencias Sociales, Barcelona, v. 5, n. 
93, 2001. Disponível em: http://www.ub.edu/geocrit/sn-93.htm. Acesso em: 25/02/2021. 
 
TAVARES, Manuel. Epistemologias do Sul. Rev. Lusófona de Educação, Lisboa, n. 
13, p. 183-189, 2009. Disponível em: 
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S164572502009000100012. 
Acesso em: 18/02/2021. 
 
VIEIRA, Euripedes Falcão. A Geografia atual. Revista IHGRGS – Instituto Histórico e 
Geográfico do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, n. 148, p. 73-80. 2013. Disponível 
em: https://seer.ufrgs.br/revistaihgrgs/article/view/57546. Acesso em: 25/02/2021. 
 
UNIDADE II 
 
NATUREZA E RELAÇÃO HUMANA 
Professora Esp. Karitta da Silva Lopes 
 
 
Plano de Estudo: 
 
• Ação humana na natureza 
• Impacto da sociedade sobre a natureza. 
• Impacto da natureza sobre a sociedade. 
• Técnicas sustentáveis. 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
• Contextualizar a ação humana na natureza a partir das transformações históricas 
ao longo do tempo 
• Compreender os impactos da sociedade sobre a natureza e da natureza sobre a 
sociedade 
• Estabelecer a importância da adesão de técnicas sustentáveis para a preservação 
ambiental 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezada(o) Aluna(o), seja bem vinda(o) a disciplina “Categorias e conceitos 
da Geografia”. É com grande satisfação e estima que te convido a compartilhar 
conhecimentos acerca das bases teóricas do pensamento geográfico. 
O presente material foi desenvolvido para introduzi-la(o) ao horizonte das 
discussões à respeito da Geografia enquanto ciência, portanto, é destinado à 
estudantes e pesquisadores interessadas(os) em compreender o processo 
histórico de constituição da ciência geográfica, cujo o objetivo é pensar 
epistemologicamente o espaço que vivemos, suas condições naturais, 
modificações territoriais e relações com as práticas e intervenções humanas. 
Durante a trajetória escolar, você certamente cursou Geografia e teve 
contato com diversos conceitos específicos dessa disciplina, como território, 
espaço, lugar e região. A apresentação que você tem em mãos (ou à vista por 
meio de arquivos digitais) pretende aprofundar esses conhecimentos, obtidos no 
seu percurso educacional no decorrer do Ensino Básico, à respeito da formação 
do pensamento geográfico e sua consolidação como ciência pertencente às 
Humanidades. 
A Unidade 2 “Natureza e Relação Humana” é composta por quatro tópicos 
que correspondem a um plano de estudo estruturado para que você possa obter 
conhecimento acerca da ação humana na natureza, do impacto da sociedade 
sobre a natureza, do impacto da natureza sobre a sociedade e das técnicas 
sustentáveis. 
Almejamos que esta unidade possa contribuir com sua aprendizagem, com 
a expansão do seu pensamento crítico e com o aprimoramento de suas 
habilidades cognitivas e investigativas em Geografia. 
 
 
Bons estudos! 
 
1 AÇÃO HUMANA NA NATUREZA 
 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/silhouette-farmer-raking-
earth-hoe-philosophical-1721503573 
 
O ser humano (taxonomicamente nomeado como Homo Sapiens), assim como as 
demais espécies animais, atua sobre a natureza com o objetivo de satisfazer suas 
necessidades de sobrevivência, buscando abrigo, proteção e alimentos para si e seu 
grupo. Contudo, como a única espécie animal viva de primata bípede do gênero Homo 
cujo o cérebro altamente desenvolvido o torna um animal racional, consciente e sapiente, 
o ser humano é capaz de pensar, refletir sobre suas ações, inventar, planejar, construir 
pensamentos e ideologias e gerar resultados, com isso, criar conhecimento e 
desenvolver técnicas e cultura. 
No início, a humanidade pouco interferia na natureza, pois vivia da coleta, da caça 
e da pesca. Ainda que de forma nômade, era a natureza que determinava a obtenção de 
recursos para a manutenção e sobrevivência de grupos humanos. De acordo com Milton 
Santos (2014), “[...] em cada momento histórico os modos de fazer sãodiferentes, o 
trabalho humano vai se tornando cada vez mais complexo exigindo mudanças 
correspondentes às inovações" (p. 74). 
Neste sentido, é a partir do agir e pensar humano no tempo e no espaço, que se 
dão as transformações históricas. Deste modo, por volta de 12 mil anos atrás, no período 
intitulado por Neolítico, o ser humano começou a domesticar os animais e a cultivar a 
terra ao mesmo tempo que passou a utilizar instrumentos fabricados a partir da 
descoberta da técnica da pedra polida, marco que possibilitou grandes transformações 
sociais e culturais para a humanidade, como uma maior autonomia perante as alterações 
climáticas da natureza e uma vida sedentária. 
As novas técnicas de domesticação de animais e cultivo de sementes foram 
responsáveis pelo desenvolvimento da agricultura e da pecuária, melhorando a 
expectativa de vida dos homens pré-históricos e contribuindo para o crescimento das 
taxas populacionais. O homem deixa de ser nômade, assentando-se na terra, 
apropriando-se da natureza e utilizando-a para satisfazer seus interesses. 
 
 
A presença do homem na face da Terra muda o sistema do mundo. 
Torna-se, o homem, centro da Terra, do Universo, imprimindo-lhe uma 
nova realidade com sua simples presença. O homem é um dado da 
valorização dos elementos naturais, físicos, porque é capaz de ação. Usa 
suas forças intelectuais e físicas contra um conjunto de objetos naturais 
que seleciona como indispensável para se manter como grupo. Assim o 
homem é sujeito, enquanto a terra é objeto. É em torno do homem que o 
sistema da natureza conhece uma nova valorização e, por conseguinte, 
um novo significado. (SANTOS, 2014, p. 98) 
 
A partir de então a natureza tem sido cada vez mais transformada de suas 
condições naturais, pois através de suas ações humanas é que florestas são derrubadas 
para plantar lavouras, morros deslocados para abrir túneis e enseadas niveladas para 
construir cidades. 
A ação humana nesse processo, exige cada vez mais conhecimentos sobre os 
elementos que compõem a natureza e suas dinâmicas de funcionamento, nutrindo a 
ideia de domínio do homem sobre a natureza. Atualmente esse ponto de vista é 
legitimado por grande parte da humanidade, pois prevalece em nós a ideia de que 
homem e natureza são opostos um do outro, onde o homem detentor de inteligência, 
domina a natureza para retirar dela tudo o que necessita para sobrevivência, e a 
natureza, por sua vez, é reduzida como despretensiosa e inesgotável fonte de recursos 
naturais. 
De acordo com Igor Moreira (2004), podemos definir o conceito de recursos 
naturais como: 
 
[...] todos os bens oferecidos ao homem pela natureza. Eles podem ser 
dois tipos: renováveis e não renováveis. Os recursos naturais não 
renováveis são aqueles que se esgotam depois de aproveitados pelo 
homem, como o carvão, o petróleo, o ferro e os demais minerais. Os 
recursos naturais renováveis são aqueles que se multiplicam ou não se 
esgotam facilmente, como a água, o ar e o solo, chamados pela sua 
importância de recursos básicos (MOREIRA, 2004, p. 11). 
 
Neste panorama, a conexão do homem com a natureza é continuamente 
decorrente do trabalho, este entendido como a operação de transformar recursos 
naturais em produtos capazes de satisfazer e suprir as carências humanas. 
1.1. As transformações técnicas e científicas 
 
 
Entendemos como técnica o modo de fazer algo por meio de instrumentos de 
trabalho utilizados na ação, logo, as intervenções na natureza e, consequentemente, as 
modificações nela introduzidas são realizadas através de instrumentos e ferramentas 
criadas para esse fim. Para Milton Santos (1996), a técnica é “a principal forma de relação 
entre o homem e a natureza”, sendo definida como “um conjunto de meios instrumentais 
e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria 
espaço” (p. 29). 
Ao desenvolver novas técnicas, o ser humano cria novos instrumentos, visando 
aumentar o rendimento do seu trabalho, motivado por interesses ou por alguma 
necessidade apresentada pelo meio. Em geral, as inovações técnicas conduzem a novos 
problemas, desafios e necessidade de resolvê-los, resultando na evolução da técnica, 
ou seja, na continuidade de novas formas do fazer humano. Um exemplo disso se dá na 
invenção do pneu, que ocorreu logo após a criação do automóvel, em 1887, pois havia 
a necessidade de uma roda adaptável a esse novo modelo de transporte. 
Gradativamente, os instrumentos utilizados para o trabalho vão se tornando mais 
complexos, pois além de serem instrumentos manuais empregados para a 
transformação de elementos naturais em produtos, as técnicas de engenharia, por 
exemplo, podem se desenvolver em grandes empreendimentos impostos a natureza, 
como referência à técnica de represamento das águas de um rio que cria uma queda 
d'água artificial, utilizada para obter a força hidráulica necessária ao funcionamento de 
uma hidrelétrica. 
 
Figura 1: represamento das águas de um rio para geração de energia em hidrelétrica 
 
FOTO 
 
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/hydroelectric-power-plant-on-river-
475746370 
 
Desta forma, o aperfeiçoamento dos instrumentos de trabalho e as inovações 
técnicas, fixam desenvolvimento das engrenagens de tomada da natureza, significando 
grandes modificações e controle intenso sobre o meio natural. 
 
A intensificação da dominação do homem na natureza, assim como a pressa em 
desenvolver e difundir inovações técnicas, é marcada pelo início do modo de produção 
capitalista nos séculos XV e XVI. Anterior a isso, as relações econômicas eram 
praticamente de subsistência, os produtos artesanais eram fabricados manualmente e 
destinavam-se a utilização direta do homem, não possuindo valor de troca, mas sim, de 
uso. Na produção artesanal um mesmo trabalhador tinha o domínio de operar todas as 
fases produtivas. 
 
O homem vai construindo novas maneiras de fazer coisas, novos modos 
de produção que reúnem sistemas de objetos e sistemas sociais. Cada 
período se caracteriza por um dado conjunto de técnicas. Em cada 
período histórico, temos um conjunto próprio de técnicas e de objetos 
correspondentes. (SANTOS, 2014, p. 74). 
 
O modo de produção capitalista, buscando aumentar paulatinamente a produção 
de bens, entendida agora como mercadoria, promoveu a divisão do trabalho, nesse 
sistema cada tarefa é realizada por um trabalhador que se torna especialista na etapa 
do processo que desenvolve, gerando assim, etapas produtivas e a invenção de 
ferramentas específicas e adaptadas a cada categoria de trabalho. 
No século XIX, com a expansão da Revolução Industrial e intensificação do modo 
de produção capitalista, novas ferramentas adquiriram funções industriais, mecanizando 
o trabalho e produzindo mercadorias em grandes escalas. Com o aumento da 
produtividade, aumenta, consequentemente, o uso de matérias primas retiradas da 
natureza, impulsionando a exploração dos recursos naturais. Ainda, sobre as 
consequências da Revolução Industrial, Igor Moreira (2004) aponta: 
 
Fomentada por uma verdadeira corrida tecnológica e objetivando a 
acumulação de riqueza, a produção diversifica-se extraordinariamente, e 
os bens produzidos, inclusive os instrumentos de trabalho, tornam-se 
obsoletos em prazo cada vez mais curto, impondo sua substituição por 
outros mais “modernos”, isso ocasiona um consumo maior de recursos 
naturais, reforçado pela visão cada vez mais aprofundada da natureza 
como manancial à disposição dos homens (MOREIRA, 2004, p. 22). 
 
Faz-se necessário ressaltar que a concepção de supervalorizar a inteligência 
humana a serviço da técnica e exploração do meio natural, contribui para estabelecer a 
 
ideia colonizadora de que o controle do homem sobre a natureza tem possibilidades 
ilimitadas e que os recursos não se esgotam, partindo de uma ideia de dominação, 
universalizada por valores ocidentais impostospor séculos, e que descarta a existência 
de outras formas de viver de forma integrada à natureza. 
 
O desenvolvimento da chamada ciência moderna nos séculos XVI e XVII, 
contribuiu igualmente para a construção dessa concepção pragmática de 
natureza, na medida em que o saber científico, prático era aceito como 
única forma de conhecimento; e o conhecimento de tudo o que fosse 
externo ao homem significava controle e domínio- principalmente sobre o 
mundo natural (MOREIRA, 2004, p. 12). 
 
Portanto, nas sociedades ocidentais, o homem por meio do trabalho, e a natureza 
por meio dos recursos naturais e matérias primas que dispõe, transformaram-se em 
mercadorias. A civilização ocidental atual, delineada pela indústria, faz as sociedades 
reféns de suas próprias criações, afastando-a cada vez mais de uma relação de 
interação responsável e de preservação da natureza. 
Contudo, mesmo com pretensões totalizantes e universalizadoras, o Ocidente e o 
pensamento moderno não são as únicas formas possíveis de existência humana, à 
exemplo dos povos originários, indígenas e tradicionais, que mesmo diante de processos 
seculares de colonização, escravização e genocídio, continuam a (re)existir a partir de 
suas cosmovisões e relações com a natureza. 
Para algumas sociedades, como exemplo a diversidade dos povos originários do 
Brasil (atualmente existem cerca de 250 etnias), a natureza é algo sagrado e fonte de 
vida, não somente fonte de recursos para subsistência de sua comunidade, e nela não 
há separação entre a natureza e o homem, pois fazem parte de um sistema integralizado. 
Como afirma Ailton Krenak (2020) em Ideias para adiar o fim do Mundo, 
 
O Rio Doce, que nós os Krenak, chamamos de Watu, nosso avô, é uma 
pessoa, não um recurso, como dizem os economistas. Ele não é algo de 
que alguém possa se apropriar; é uma parte da nossa construção como 
coletivo que habita um lugar específico (KRENAK, 2020, p. 40). 
 
A partir dessa cosmovisão indígena, o trabalho não se apresenta como uma 
imposição, mas sim como forma de manutenção da vida em comunidade, tendo como 
 
finalidade o consumo do próprio grupo, as pessoas não são indivíduos, tornam-se 
pessoas coletivas. 
 
2 IMPACTO DA SOCIEDADE SOBRE A NATUREZA 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/paraopeba-river-polluted-by-
tailings-after-1333091225. 
 
Temos visto no decorrer da disciplina, em especial, na presente unidade, que o 
meio ambiente enquanto elemento natural e social, ou seja, cuja existência se dá pela 
relação entre sociedade e natureza, configura-se como o principal objeto de estudo da 
Geografia. Desta forma, podemos afirmar que as preocupações que envolvem a 
dinâmica entre o social e o natural se encontram presentes na origem da matriz 
epistemológica da ciência geográfica, portanto, é a partir dessa disciplina que podemos 
tratar e compreender o meio ambiente de forma mais completa e satisfatória. 
Milton Santos (1978), em sua obra Por uma Geografia Nova, atribui centralidade 
e protagonismo ao conceito de espaço, compreendendo-o como um conjunto de 
representações das relações sociais, elaboradas no passado e no presente, isto é, uma 
estrutura constituída por interações sociais e espaciais que se manifestam no decorrer 
dos processos do tempo histórico. 
 
Seria impossível pensar em evolução do espaço se o tempo não tivesse 
existência no tempo histórico, [...] a sociedade evolui no tempo e no 
espaço. O espaço é o resultado dessa associação que se desfaz e se 
renova continuamente, entre uma sociedade em movimento permanente 
e uma paisagem em evolução permanente. [...] Somente a partir da 
unidade do espaço e do tempo, das formas e do seu conteúdo, é que se 
podem interpretar as diversas modalidades de organização espacial 
(SANTOS, 1978, p. 42 - 43). 
 
À vista disto, a partir do consenso entre a comunidade científica de geógrafos e 
geógrafas, defendemos uma indissociabilidade entre natureza e sociedade, visto que é 
na natureza (espaço) que a humanidade se reproduz ao longo da história (tempo). 
Portanto, se a sociedade é constantemente construída e reconstruída na natureza, esta, 
por sua vez, também faz parte da estrutura social, caracterizando o que podemos intitular 
de estrutura sócio-espacial. 
 
 
O espaço por suas características e por seu funcionamento, pelo que ele 
oferece a alguns e recusa a outros, pela seleção de localização feita entre 
as atividades e entre os homens, é o resultado de uma práxis coletiva que 
reproduz as relações sociais, [...] o espaço evolui pelo movimento da 
sociedade total. (SANTOS, 1978, p. 171). 
 
Sendo produzida pela relação entre sociedade e natureza, a estrutura sócio-
espacial pode ser alterada pela ação humana de forma contínua a partir de intervenções 
entre indivíduos e grupos sociais nessas realidades. Logo, o impacto da sociedade sobre 
a natureza é um fator intrínseco a essas intervenções, que podem ser tanto benéficas, 
saudáveis e prósperas, como maléficas, insalubres e adversas para o meio ambiente. 
Em um mundo formatado a partir da ideologia e do sistema econômico capitalista 
neoliberalista, onde o consumo, a acumulação desenfreada e as necessidades de 
mercado se tornam princípios primordiais para a vida humana, o impacto da sociedade 
sobre a natureza é resultado de processos cruéis e nefastos ao meio ambiente, muitas 
vezes, irreversíveis, e prejudiciais à humanidade, em especial, à grupos que sobrevivem 
da natureza e têm nela seu local sagrado, como os povos indígenas brasileiros. 
Optamos por elencar e nos concentrar em alguns desses processos, causados 
pela exploração e esgotamento dos recursos naturais presentes no nosso meio 
ambiente, com foco para a realidade brasileira, sendo eles: a mineração e o 
desflorestamento. 
 
2.1 Mineração 
 
Tornada atividade socioeconômica desde a Antiguidade (de 4 000 a.C. a 476 
d.C.), a extração de minérios do subsolo de forma descomedida passa a ser responsável 
pelo desaparecimento progressivo de recursos naturais não renováveis. 
Com essa informação, não queremos diminuir ou simplificar o papel da mineração 
para a constituição das sociedades modernas e para a manutenção de bens e materiais 
de grande utilidade para as nossas vidas atuais, como combustíveis, equipamentos 
elétricos e eletrônicos, cosméticos, estradas e muitos outros produtos que desfrutamos 
inconscientemente todos os dias. Contudo, compreendemos que o uso incontido de 
 
recursos minerais realizados pela mineração vem causando impactos ambientais 
permanentes para o meio ambiente e, consequentemente, para a humanidade. 
De acordo com o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o conceito de 
impacto ambiental pode ser definido como: 
 
[…] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas 
do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia 
resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam 
o bem-estar e a saúde da população; as atividades socioeconômicas; a 
biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e a qualidade 
dos recursos ambientais (CONAMA, 1986). 
 
Na mineração, os impactos ambientais ocorrem desde o planejamento até as 
etapas de implementação, operação (lavra) e desativação das atividades extrativistas. 
Os principais impactos ambientais causados por esses processos são: 
- Desmatamento: causado pela mineração de lavra a céu aberto. 
- Alteração e degradação da paisagem: causada pelo desmatamento e retirada de 
solo fértil na fase de escavação de minas ou implementação de lavra à céu aberto. 
- Contaminação e compactação do solo: causada pela perda de fertilidade do solo, 
em especial, por meio de mineração de chumbo e zinco que possuem quantidades 
relevantes de arsênio em seus rejeitos que acabam por inutilizar o solo. 
- Contaminação do ar: causada por explosões que perturbam a biodiversidade e 
pela alteração da qualidade doar devido a emissão de partículas poluentes na 
atmosfera. 
- Contaminação dos recursos hídricos: causada pelo consumo excessivo de água 
para beneficiamento do minério, pelo rebaixamento de lençóis freáticos e diminuição do 
fluxo de água dos rios e do nível de recarga dos aquíferos no processo de extração e 
pelo mau escoamento de rejeitos com concentração de substâncias tóxicas. 
- Redução e perda de biodiversidade (fauna e flora): causada pelo desmatamento, 
pela poluição atmosférica e pela contaminação dos recursos hídricos e do solo. Com 
isso, muitos animais têm seus habitats perdidos, tendo que fugir para áreas onde não há 
recursos para sobreviverem, como também, espécies de plantas acabam 
 
desaparecendo devido à retirada da cobertura vegetal e impossibilidade de sua 
reprodução. 
Fim da disponibilidade de minerais: causadas por atividades extrativistas que 
esgotam totalmente o minério explorado, afetando o meio ambiente de forma irreversível. 
Um dos exemplos mais populares e revoltantes dos danos da mineração ao meio 
ambiente são as tragédias causadas pelo rompimento de barragens da mineradora 
multinacional brasileira Vale, nas cidades mineiras de Mariana, no ano de 2015, e de 
Brumadinho, no ano de 2019. 
Ambos descasos e provas cabais da irresponsabilidade ambiental, social e 
trabalhista da empresa Vale, juntamente com sua subordinada Samarco, são 
considerados dois dos principais desastres ambientais do Brasil, pois além de enterrarem 
as cidades sob a lama de rejeitos, causando centenas de mortes, acidentes e 
adoecimento físico e psíquico da população atingida, promoveram também, a perca de 
biodiversidade (hectares de Mata Atlântica), a morte de animais (peixes, aves e 
quadrúpedes), a poluição e contaminação de rios (Rio Gualaxo, Rio Doce e Rio 
Paraopeba), o assoreamento, desvio de cursos de água e soterramento de nascentes. 
 
Figura 3: rompimento da barragem da Samarco em Mariana-MG (2015) 
 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/mariana-oct-30th-2016-aerial-bento-519258250 
 
 
Figura 4: rompimento da barragem em Brumadinho-MG causa tragédia 
 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/mineral-tailings-mud-after-dam-rupture-1564968175 
 
2.2 Desflorestamento 
 
Considerado como um dos impactos ambientais mais graves da atualidade, o 
desflorestamento ou desmatamento consiste na redução dos tamanhos de florestas 
naturais e, em casos mais críticos, no desaparecimento de floras e espécies (extinção). 
Ao longo da história, a remoção de árvores têm gerado benefícios e bens para indivíduos 
e grupos, sendo utilizada de formas diversas, como para fonte de energia, construções 
de habitações e disponibilização da terra para agricultura. 
 
Porém, na medida em que as sociedades começaram a desmatar não por 
subsistência, mas para a acumulação de riquezas e para a urbanização como sinônimo 
de progresso à todo custo, a exploração de recursos naturais terrestres intensificou-se, 
colocando em risco o equilíbrio ambiental do planeta e comprometendo o futuro da 
humanidade. 
Com a Revolução Industrial e o surgimento de novas tecnologias e formas de 
consumo, as questões acerca do desflorestamento tomaram grandes proporções, pois 
foi nesse período que uma quantidade considerável de florestas temperadas e tropicais 
foram devastadas para atender as demandas da indústria e do forte mercado formado 
em torno da mesma. 
Ao longo dos anos, as taxas de desmatamento começaram a migrar dos países 
industrializados para os países considerados em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, 
em sua maioria, colônias e ex-colônias dos países industrializados, que encontraram na 
exploração dos recursos naturais de países vitimados pelo domínio colonial, uma fonte 
de riqueza e capital. 
O Brasil, país que abriga a maior biodiversidade do planeta, detentor do maior 
bioma de floresta úmida do mundo, a Amazônia, e do maior manancial de água doce do 
mundo, tem sofrido com a degradação ambiental promovida pelo desflorestamento de 
forma contínua ao longo dos séculos. Apesar da riqueza em ecossistemas e 
biodiversidade, o nosso país é um dos líderes mundiais em desmatamento. 
De acordo com um relatório emitido pela organização não governamental 
ambientalista dos Estados Unidos, World Resources Institute1, o Brasil é o país que mais 
desmatou florestas primárias no mundo em 2018, ou seja, regiões onde a vegetação se 
encontra em seu estado original e não em condição de replantio ou reflorestamento, 
sendo desmatados 1,3 milhão de hectares de floresta. Juntos, Brasil e Indonésia 
desmataram aproximadamente 46% das florestas tropicais no mundo no mesmo ano. 
As maiores motivações da retirada da cobertura vegetal original no Brasil estão 
ligadas à busca pelo crescimento econômico: construção desenfreada de estradas, 
pecuária em larga escala, expansão do agronegócio (principalmente da produção de 
 
1Fonte: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/04/25/brasil-liderou-desmatamento-de-florestas-
primarias-no-mundo-em-2018-mostra-relatorio.ghtml. 
 
soja), extrativismo vegetal e mineral (principalmente a extração de madeira), processo 
de urbanização massiva, densidade populacional e atividades ilegais que envolvem 
queimadas criminosas e exploração de áreas de preservação ambiental para fins 
pessoais e comerciais, como para a especulação fundiária. 
Os biomas brasileiros mais atingidos pelo desflorestamento em curso são a 
Amazônia, a Mata Atlântica e o Cerrado. 
 
2.2.1 A Amazônia 
 
A Amazônia Legal, que compreende os estados do Acre, Amazonas, Amapá, 
Rondônia, Roraima, Pará, Mato Grosso, Tocantins e parte do Maranhão, cobre cerca de 
60% do território brasileiro, abrigando 21 milhões de habitantes (12% da população total). 
Sozinho, o bioma amazônico corresponde a quase um quinto das reservas florestais 
mundiais. 
Segundo o relatório Causas do Desmatamento da Amazônia Brasileira (2003) 
realizado pelo Banco Mundial, o uso sustentável desse enorme patrimônio natural 
poderia garantir recursos para o futuro, tornando-se uma fonte de redução da pobreza e 
equidade social, já que os recursos naturais brasileiros representam uma proporção 
muito maior sob os bens da população pobre (cerca de 80%) do que da rica. 
Contudo, as políticas públicas destinadas à preservação da Amazônia começaram 
a minguar em 2016, retomando o desmatamento via publicação de medidas legais, como 
a chamada lei da grilagem implementada no início do governo Temer. Sobre a Amazônia: 
 
Da cobertura florestal original, 17% foram desflorestados, embora pelo 
menos um terço desse total esteja se recuperando. Seu valor global pode 
ser visto em sua rica biodiversidade e no possível impacto climático 
decorrente de seu desaparecimento. A crescente ameaça a 
ecossistemas chave é ilustrada por dados preliminares que indicam um 
desmatamento de 25.400 km2 em 2002, em comparação com uma média 
de 17.340 km2 observada na década precedente. O quase 
desaparecimento da Mata Atlântica brasileira também indica a urgência 
de ações. Algumas experiências mundiais e no Brasil com o uso 
sustentável de recursos naturais poderiam servir de base para uma 
estratégia ambiental com inclusão social (BANCO MUNDIAL, 2003). 
 
Figura 5: Área de desmatamento ilegal de vegetação nativa da floresta amazônica brasileira 
 
 
 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/area-illegal-deforestation-vegetation-native-
brazilian-1156323865 
 
2.2.2 A Mata Atlântica 
 
A Mata Atlântica é o bioma que mais sofreu com o desflorestamento no Brasil. Em 
referência a Fundação SOS Mata Atlântica, ONG ambiental brasileira atuante para a 
conservação da biodiversidade atlântica, podemos afirmar que restam apenas 12,4% da 
floresta original, região onde se encontra o maior número de espécies animais e vegetais 
brasileiras ameaçadas de extinção2. 
A Mata Atlântica abrange cerca de 15% do território nacional distribuída em 17 
estados, sendoo lar de 72% dos brasileiros e concentrando 70% do PIB nacional. Do 
bioma dependem serviços essenciais para a subsistência humana, como o 
abastecimento de água, a regulação do clima, a agricultura, a pesca e a energia elétrica. 
Devido a devastação da Mata Atlântica e, com isso, a extinção de diversas 
espécies por perda de habitats e falta de água nos estados abarcados por essa região, 
foi implementada no ano de 2006 a Lei da Mata Atlântica (nº 11.428/2006), tornando-se 
assim, o único bioma que possui uma legislação de proteção específica que regulamenta 
a criação de incentivos financeiros para restauração dos ecossistemas e regras para 
exploração econômica, estimulação de doações da iniciativa privada para projetos de 
conservação, delimitação do domínio da floresta, proibição do desmatamento de 
florestas primárias e definição da Mata Atlântica como Patrimônio Nacional. 
Embora a legislação em destaque seja uma conquista de grande valor para a 
proteção da Mata Atlântica, dados apresentados pelo Atlas dos Remanescentes 
Florestais da Mata Atlântica (2019) revelam que alguns estados ainda apresentam 
elevadas taxas de desmatamento do bioma, associada a produção de carvão, a 
plantação de soja e a indústria de celulose em larga escala, sendo eles: Minas Gerais, 
Paraná, Piauí, Bahia e Santa Catarina. 
 
Figura 6: a Mata Atlântica é o bioma que mais perdeu floresta no país até hoje 
 
2 Fonte: https://www.sosma.org.br/politicas/lei-da-mata-atlantica/ 
 
 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/aerial-view-deforestation-rainforest-being-removed-
1274894119 
 
2.2.3 O Cerrado 
 
O Cerrado configura-se como o segundo maior bioma do Brasil e a segunda maior 
região biogeográfica da América do Sul ao ocupar 25% do nosso território, ficando atrás 
apenas da área florestal ocupada pela Amazônia. E, assim como esta, tem sofrido com 
a intensificação exacerbada do desflorestamento devido a monocultura, agronegócio e 
pecuária. 
Apesar da redução da taxa de desmatamento nos últimos anos, faz-se necessário 
evidenciarmos que a perda da vegetação original do bioma já se encontra em 51%. 
Considerada a formação savânica mais biodiversa do mundo, o Cerrado têm sido alvo 
assíduo de desflorestamento devido suas características de região plana, com poucas 
árvores e vegetação rasteira, e vitimado por constantes queimadas criminosas para a 
expansão da atividade agrícola, em especial, da soja. 
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados 
mais de 21 mil focos de queimadas entre os meses de janeiro e agosto de 2020 no 
Cerrado, episódio trágico considerado como a maior destruição do bioma já registrada 
na história do Brasil3. 
 
Figura 7: vegetação destruída após queimada no Cerrado 
 
 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cerrado-area-eucalyptus-plantes-forests-burned-
1859854453 
 
3Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2020/09/15/avanco-do-desmatamento-cerrado-tem-mais-de-21-
mil-focos-de-queimadas 
http://cerrado.obt.inpe.br/ 
 
 
3. IMPACTO DA NATUREZA SOBRE A SOCIEDADE 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/paulo-sp-brazil-august-23-
2019-1488024101 
 
A partir do conteúdo dinamizado no tópico anterior, vimos alguns dos impactos da 
sociedade sobre a natureza que, de tão contínuos e brutais, podem provocar danos 
irreversíveis ao meio ambiente, como o fim de recursos naturais não renováveis e a morte 
de biodiversidades importantes para o equilíbrio climático. Neste tópico veremos a 
relação inversa, ou seja, algumas das possibilidades de impactos da natureza sobre a 
sociedade. 
De acordo com Ailton Krenak (2020), tudo é natureza, do cosmos à humanidade. 
Logo, torna-se impossível sustentar a ideia de que nós, humanos, sejamos imunes às 
reações, transições e etapas do curso da natureza. 
 
A ideia de nós, os humanos, nos descolarmos da terra, vivendo numa 
abstração civilizatória, é absurda. Ela suprime a diversidade, nega a 
pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos. Oferece o 
mesmo cardápio, o mesmo figurino e, se possível, a mesma língua para 
todo mundo (KRENAK, 2020, p. 22-23). 
 
Com isso, compreendemos que entre a natureza e a sociedade ocorre uma 
relação de inseparabilidade. Quando destruímos, desperdiçamos e extinguimos os 
recursos naturais disponíveis, estamos, ao mesmo tempo, destruindo o espaço onde 
vivemos e de onde tiramos elementos e matérias fundamentais para nossa 
sobrevivência, logo, estamos nos autodestruindo. 
A natureza tem sua própria dinâmica, seu próprio ciclo. Mesmo que coloquemos 
nossas imposições e vontades à frente de suas necessidades, iremos colher, juntamente 
com ela, os frutos da poluição do ar, da água e da terra, do desflorestamento, da 
mineração, da extinção de espécies da fauna e da flora, da erosão do solo, das 
mudanças climáticas, da destruição de habitats, entre outras formas de degradação e 
precarização ambiental. 
 
Durante este tópico, abordaremos alguns desses frutos, isto é, acontecimentos, 
muitas vezes, trágicos e catastróficos para a vida humana, gerados pelos maus usos e 
prejuízos que praticamos sobre os recursos naturais. Tais acontecimentos, somados à 
própria dinâmica da natureza e da superfície terrestre, ocasionam grandes impactos 
sobre a sociedade. 
O Brasil, país em que não existem desastres naturais significativos e em larga 
escala provocados por abalos sísmicos, choques de placas tectônicas e vulcanismo, 
como os terremotos, tsunamis e erupções de vulcões em atividade, poderia ser 
considerado um local de pouco impacto da natureza sobre a sociedade. 
Contudo, embora nosso país tenha uma posição estratégica em relação a 
repercussão de fenômenos próprios da natureza, a sociedade sofre constantemente com 
impactos naturais promovidos pela má ocupação do espaço geográfico, em especial, do 
urbano, e pela não distribuição regular da população, que se concentra na fachada 
litorânea. 
A urbanização em massa e a internacionalização da economia brasileira 
produziram a multiplicação de pobreza e de problemas sociais. O fato do poder público 
estar mais preocupado com a expansão das atividades econômicas em detrimento da 
satisfação das necessidades sociais, gerou um aumento significativo da população 
dessas cidades, porém não o aumento de habitação, infraestrutura urbana e serviços 
sociais, como a saúde, educação e segurança pública para essa população, que se 
encontra em um cenário de violência urbana, pobreza e vulnerabilidade socioeconômica. 
O crescimento das submoradias se dá no surgimento de favelas, localizadas, em 
sua maioria, em terrenos precários, íngremes e sujeitos a deslizamentos. Portanto, tal 
fenômeno torna-se um dos grandes impactos da natureza sobre a sociedade, que tem 
suas habitações e pertences destruídos e, em casos mais graves, suas vidas findadas, 
vítimas de soterramento da terra e dos escombros levados pela mesma. 
 
 
Figura 8: deslizamento de terras ocorrido em Guarujá-SP após tempestade 
 
 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/guaruja-sp-brazil-march-3-2020-1664766649 
 
Provocadas, também, pela ocupação inadequada das encostas dos morros em 
algumas metrópoles brasileiras, como o Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e 
Salvador, e pelo acúmulo de lixo doméstico e industrial, cujo os resíduos são depositados 
a céu aberto e em áreas alagadas, as enchentes tornam-se um dos fenômenos naturais 
de grande impacto para a vida humana. 
 
Figura 9: enchente na periferia da cidade de São Paulo, Brasil 
 
FOTO 
 
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/sao-paulo-brazil-august-24-2016-473335363 
 
 
Ao serem agravadas pelos processos de assoreamento dos rios e dos córregos 
em áreas onde ocorreram desflorestamentos e a ação erosiva da chuva é mais 
acentuada, mais frequentes nos grandes centros urbanos, as enchentes são 
responsáveis por inundações de casas,ruas e bairros inteiros, podendo gerar vítimas 
fatais de afogamento que são levadas pela força da água e das correntezas e de doenças 
como a leptospirose e a hepatite A. 
Tal fato, passa a contribuir com a escassez de tratamento da água, pois 
 
Nos grandes centros urbanos, a ausência de áreas verdes e o aumento 
contínuo das áreas asfaltadas e concretadas diminuem a absorção de 
água pelo solo, reduzindo o lençol subterrâneo que abastece os rios. A 
água se mantém na superfície, provocando enchentes e catástrofes [...] 
Nos países mais pobres, apenas 35% das pessoas têm acesso a água 
tratada, o que provoca elevados índices de doenças e mortes causadas 
pela contaminação (MOREIRA, 2004, p. 213 - 214). 
 
A escassez de água além de afetar diretamente a sobrevivência humana, podem 
intensificar conflitos internacionais, a exemplo da disputa entre Síria e Israel pelo rio 
Jordão, da disputa entre Índia e Paquistão pelo rio Ganges e da disputa na península da 
Indochina pelo rio Mekong. 
 
Para finalizar o presente tópico, corroboramos novamente com o pensamento de 
Ailton Krenak (2020), quando o autor nos dá fundamentos para questionar os sentidos 
atribuídos pela humanidade não só na dimensão de subsistência e manutenção de 
nossas vidas físicas, como também, na dimensão transcendente que dá significado à 
nossa existência material e espiritual. Até que ponto chegaremos à explorar, destruir e 
degradar o meio ambiente e os recursos naturais que ainda estão disponíveis? Que 
possamos refletir e nos conscientizar a respeito disto para a nossa própria sobrevivência. 
 
4 TÉCNICAS SUSTENTÁVEIS 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/hand-holding-light-bulb-
against-nature-1120037774. 
 
Prezado (a) aluno (a), no decorrer dessa unidade compreendemos diversas 
formas de relação entre a humanidade e a natureza e entre a natureza e a sociedade, 
na qual nossas ações têm impacto direto sobre a dinâmica ambiental do planeta em que 
vivemos. A partir disso, podemos afirmar que a ciência geográfica se dedica a estudar 
as ações humanas que transformam a natureza, por meio de técnicas empregadas, nas 
quais se desenvolveram ao longo dos séculos, e que nas últimas décadas evoluíram 
para um imenso avanço tecnológico científico-informacional. 
O avanço dessas técnicas, proporcionadas pelo crescimento do capitalismo por 
todo o globo terrestre, intensificou a produção industrial e, consequentemente, a 
exploração dos recursos naturais para a produção de mercadorias, fatos que 
ocasionaram um enorme desequilíbrio ambiental, perda substancial de biodiversidade e 
a ameaça de uma péssima qualidade de vida para as futuras gerações humanas. 
 Desde a década de 70 a problemática ambiental vem sendo pauta de diversas 
conferências mundiais, que buscando diálogo com a comunidade internacional, 
alertaram sobre os irreparáveis impactos que nossas atividades exploratórias causam ao 
meio ambiente e trouxeram à luz o termo desenvolvimento sustentável. Tal conceito 
enfatiza que a humanidade deve pensar em suprir suas necessidades sem afetar ainda 
mais o futuro do meio ambiente e das próximas gerações. 
Uma das conferências mundiais mais conhecidas é a Conferência das Nações 
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, ocorrida na cidade de Estocolmo, na Suíça, em 
junho de 1972, cujo um dos objetivos abordam “[...] a necessidade de um critério e de 
princípios comuns que ofereçam aos povos do mundo inspiração e guia para preservar 
e melhorar o meio ambiente humano” (ONU, 1972, p. 1). 
No evento foram levantadas indagações sobre a emissão de poluentes causadas 
pelas atividades industriais dos países desenvolvidos e discussões sobre maneiras de 
diminuir os impactos negativos dessas atividades, bem como, a assinatura de um 
 
manifesto, dos 113 países e diversas organizações internacionais e ONGs participantes, 
para a preservação do meio ambiente. Elencamos alguns dos princípios da conferência: 
 
1.O homem é ao mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que 
o cerca, o qual lhe dá sustento material e lhe oferece oportunidade para 
desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente. Em larga e 
tortuosa evolução da raça humana neste planeta chegou-se a uma etapa 
em que, graças à rápida aceleração da ciência e da tecnologia, o homem 
adquiriu o poder de transformar, de inúmeras maneiras e em uma escala 
sem precedentes, tudo que o cerca. Os dois aspectos do meio ambiente 
humano, o natural e o artificial, são essenciais para o bem-estar do 
homem e para o gozo dos direitos humanos fundamentais, inclusive o 
direito à vida. 
2. A proteção e o melhoramento do meio ambiente humano é uma 
questão fundamental que afeta o bem-estar dos povos e o 
desenvolvimento econômico do mundo inteiro, um desejo urgente dos 
povos de todo o mundo e um dever de todos os governos. 
3. O homem deve fazer constante avaliação de sua experiência e 
continuar descobrindo, inventando, criando e progredindo. Hoje em dia, 
a capacidade do homem de transformar o que o cerca, utilizada com 
discernimento, pode levar a todos os povos os benefícios do 
desenvolvimento e oferecer-lhes a oportunidade de enobrecer sua 
existência. Aplicado errônea e imprudentemente, o mesmo poder pode 
causar danos incalculáveis ao ser humano e ao seu meio ambiente. Em 
nosso redor vemos multiplicar-se as provas do dano causado pelo 
homem em muitas regiões da terra, níveis perigosos de poluição da água, 
do ar, da terra e dos seres vivos; grandes transtornos de equilíbrio 
ecológico da biosfera; destruição e esgotamento de recursos 
insubstituíveis e graves deficiências, nocivas para a saúde física, mental 
e social do homem, no meio ambiente por ele criado, especialmente 
naquele em que vive e trabalha (ONU, 1972, p. 1). 
 
Essas premissas basilares nortearam ações internacionais para o 
desenvolvimento de técnicas sustentáveis, criando pautas internacionais que 
culminaram em outra conferência, a ECO 92, realizada no Brasil, na cidade do Rio de 
Janeiro, em 1992. Esse encontro buscou consolidar o conceito de sustentabilidade e 
desenvolvimento sustentável, pensando ações a longo prazo capazes de garantir a 
manutenção e preservação do meio ambiente e a proteção dos recursos naturais. 
Foi a partir da Eco-92 que nasceu a Agenda 21, documento que institui a 
importância da ação conjunta de todos os países acerca do desenvolvimento 
sustentável, da preservação ambiental e da inclusão social. As demandas delineadas na 
 
Agenda 21 foram novamente levantadas em 2002, na Cúpula da Terra Sobre o 
Desenvolvimento Sustentável, em Johanesburgo, na África do Sul. 
Essas ações movidas pela comunidade internacional, tornaram-se um importante 
instrumento para a promoção de práticas socioculturais atreladas ao meio ambiente, 
sendo possível entendermos a sustentabilidade não somente como conceito ambiental 
descolado da sociedade, uma vez que as técnicas sustentáveis devem manifestar-se a 
partir da própria sociedade como um novo parâmetro cultural a ser seguido. 
 
É necessário olharmos para a diversidade cultural como uma aliada ao 
desenvolvimento sustentável. Os diversos modos de vida são 
instrumentos que podem contribuir de forma significativa para a criação 
de políticas públicas, planejamento, gestão e desenvolvimento de 
práticas sustentáveis, uma vez que, as mesmas influenciam diretamente 
na sociedade, através dos papéis sociais, dos gêneros de vida de cada 
indivíduo (SOUSA, 2017, p. 185). 
 
O conceito de sustentabilidade está associado ao conjunto de técnicas e 
estratégias elaboradas para minimizar o impacto negativo das ações humanas aos 
ecossistemas, afirmando que as técnicas empregadas a natureza devem ser: 
- Economicamente viáveis: que pensem o crescimento da economia sem degradar 
o meio ambiente; que priorizem a reciclagem de materiais para garantir o uso de matérias 
primas provenientes da reutilização; que diminuem a emissão degases poluentes 
procedentes da produção industrial desenfreada e o acúmulo de resíduos que levarão 
séculos para se decompor no meio ambiente, à exemplo do plástico, do isopor e da 
borracha; que promovem o uso de energias renováveis e limpas como a energia eólica, 
solar e biocombustíveis que têm impactos reduzidos ou quase nulos na geração de 
energia. 
- Ecologicamente corretas: que gerem um equilíbrio entre o que é retirado da 
natureza e o que é devolvido a ela, evitando o desperdício para não esgotar os recursos 
naturais; que privilegiam a não utilização de substâncias danosas para a vida humana e 
contaminadoras dos solos, lençóis freáticos, oceanos e qualidade do ar, como elementos 
tóxicos provenientes do lixo radioativo das usinas nucleares 
 
- Socialmente justas: que envolvem ações educadoras de responsabilidade, 
consciência ambiental e solidariedade ao pensar que ações individuais podem afetar a 
todos os seres vivos. 
- Culturalmente diversas: que valorizem as diversidades e diferenças locais de 
forma a gerar benefício para todos os indivíduos sem qualquer distinção e ou 
discriminação de raça, gênero, classe, região e religião. 
Partindo desses pressupostos, a ação conjunta da comunidade científica 
internacional se empenhou em desenvolver práticas e técnicas que, embora ainda não 
sejam aplicadas em escalas globais, capazes de reduzir em grandes proporções os 
impactos causados pelas por ações nocivas à biodiversidade e a humanidade, 
apresentam um caminho possível para conciliação do desenvolvimento partindo do 
respeito ao meio ambiente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SAIBA MAIS 
 
Você sabia que atualmente existem no Brasil cerca de 695 parques eólicos que 
contribuem para a redução da emissão de 22.900.000 de toneladas de Co2 por ano? Em 
referência à relatórios da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica)4, o total 
de emissões de Co2 evitadas no Brasil no ano de 2019, corresponde a emissão anual 
de cerca de 21,7 milhões de automóveis. 
O Co2, conhecido popularmente como gás carbônico, é resultado da queima de 
combustíveis fósseis. O gás é um dos principais responsáveis pela ocorrência do efeito 
estufa, fenômeno que resulta no aumento do buraco na camada de ozônio, filtro que 
bloqueia a entrada direta de raios solares na atmosfera terrestre e que se configura como 
uma das causas do aquecimento global. 
A energia produzida pelos ventos é renovável, ou seja, ela não polui, possui baixo 
impacto ambiental e contribui para que o Brasil cumpra com seus objetivos no acordo de 
Paris, última convenção internacional sobre o clima Global, realizada pela Organização 
das Nações Unidas sobre mudanças climáticas (COP21), composta por 196 nações e 
que determinou diretrizes para o combate das alterações climáticas e do aquecimento 
terrestre. 
De acordo com dados da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica)5, em 
2019 a fonte eólica correspondeu a 9,1% da matriz energética nacional, ficando atrás 
apenas da principal matriz energética utilizada no Brasil, isto é, a fonte de energia 
hidrelétrica. 
Logo, a energia eólica torna-se um importante instrumento para a modernização 
do setor elétrico ao aproveitar os bons ventos do Brasil e transformá-los em energia, 
contribuindo assim, para o desenvolvimento nacional que objetive uma relação 
sustentável do Estado e da sociedade com o meio ambiente. 
#SAIBA MAIS# 
 
4 Fonte: http://abeeolica.org.br/wp-content/uploads/2020/06/PT_Boletim-Anual-de-
Gera%C3%A7%C3%A3o-2019.pdf. 
5 Fonte: https://www.aneel.gov.br/sustentabilidade. 
 
 
REFLITA 
 
As tragédias do rompimento de barragens nas cidades mineiras de Mariana, em 
2015, e de Brumadinho, em 2019, evidenciaram, ainda mais, as negligências ocorridas 
nos processos de fiscalização de barragens do Brasil, problemas graves que acabam 
por incidir na falta de segurança dos trabalhadores e trabalhadoras das mineradoras, 
como também, na de toda uma cidade e biodiversidade, afetada e contaminada pelos 
rejeitos tóxicos. 
De acordo com o último relatório da Agência Nacional de Mineração (ANM), 51 
estruturas foram classificadas sob a categoria de "risco alto" e 47 delas estão em 
situação de emergência. A maioria, 42 no total, fica no estado de Minas Gerais, e duas 
delas pertencem à empresa Vale (Forquilha III, na cidade de Ouro Preto e Sul Superior, 
na cidade de Barão dos Cocais). 
Entretanto, tais números preocupantes são incompletos, pois o relatório prioriza 
as mineradoras de maior expressividade e notoriedade, ou seja, esses números não 
revelam toda a realidade ao ignorar empresas mineradoras locais, mais atuais e de 
menor conhecimento público. 
Outro problema enfrentado para a fiscalização e segurança das barragens 
brasileiras é o abandono de barragens ainda em atividade. Segundo a lei n. 14.066, de 
setembro de 2020, "o empreendedor deve manter o Plano de Segurança da Barragem 
atualizado e operacional até a desativação ou a descaracterização da estrutura" 
(BRASIL, 2020). 
Contudo, o descumprimento da lei está curso, também, devido à fiscalizações 
estatais falhas e incompetentes. Há diversos casos registrados de barragens que foram 
simplesmente esquecidas e largadas por suas empresas responsáveis, como a da 
Emicon Mineração e Terraplanagem Limitada, em Brumadinho, como mostrou 
reportagem da DW Brasil em 2019. 
A partir dessas informações, compreendemos que ambos crimes ambientais e 
sociais, ocorridos em Mariana-MG e Brumadinho-MG, ressaltaram a importância de uma 
fiscalização séria e comprometida com as necessidades básicas de preservação do meio 
 
ambiente e de segurança à vida humana. Porém, será preciso que mais tragédias 
ocorram para que o Estado e as empresas de mineração respeitem medidas de proteção 
à natureza e a sociedade? 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
No decorrer da presente unidade, buscamos aprofundar nossos estudos 
geográficos a respeito da relação existente entre a sociedade (ação humana) e a 
natureza (ação ambiental), compreendidas como inseparáveis. 
No tópico 1, evidenciamos a ação humana na natureza a partir de uma 
contextualização histórica acerca das transformações da interferência humana na 
natureza, que com a expansão da Revolução Industrial, no século XIX, propiciou o 
aumento exacerbado do uso de matérias primas retiradas da natureza, impulsionando a 
exploração dos recursos naturais, devido a intensificação do modo de produção 
capitalista, industrialização e mecanização do trabalho e produção de mercadorias em 
grandes escalas. 
Já no tópico 2 e 3, dinamizamos o conteúdo a fim de compreender os impactos 
da sociedade sobre a natureza e da natureza sobre a sociedade ao defendermos a ideia 
de indissociabilidade entre ambas. 
Desta forma, estudamos alguns dos impactos da sociedade sobre a natureza que, 
de tão contínuos e brutais, podem provocar danos irreversíveis ao meio ambiente, como 
o fim de recursos naturais não renováveis e a morte de biodiversidades importantes para 
o equilíbrio climático, principalmente, provocados pela intensa atividade 
extrativista/mineradora e pelo desflorestamento desenfreado no Brasil. Por outro lado, 
vimos, também, a relação inversa, ou seja, algumas das possibilidades de impactos da 
natureza sobre a sociedade, das quais nos concentramos nos deslizamentos de terras, 
enchentes e na escassez de água potável e tratada. 
Por fim, no tópico 4, objetivamos estabelecer a importância da adesão de técnicas 
sustentáveis para a preservação ambiental a partir da realização de conferências, 
encontros e acordos internacionais que consolidaram a ideia de sustentabilidade e 
desenvolvimento sustentável, em especial, das Conferências das Nações Unidas sobre 
o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, edições de Estocolmo (1972) e do Rio de Janeiro 
(1992). 
 
E assim concluímos nosso passeio por alguns aspectos ediscussões de grande 
importância para a sobrevivência da natureza e, consequentemente, da nossa própria! 
Até a próxima, bons estudos! 
 
 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
GIDDENS, Anthony. A política da mudança climática. Trad. Vera Ribeiro. Rio de 
Janeiro: Zahar, 2010, 314 p. 
 
Sinopse: As mudanças climáticas em curso podem ter consequências catastróficas para 
o planeta. Sabemos que precisamos agir rápido se quisermos conter esse risco. Então, 
por que não tomamos medidas imediatas? Anthony Giddens, um dos pensadores sociais 
mais importantes de nosso tempo, faz uma análise profunda, lúcida e, ao mesmo tempo, 
acessível sobre esse tema tão atual. Sem ser alarmista, aponta os prós e contras das 
soluções pensadas até agora, introduz novas propostas e examina as ligações entre 
mudança climática e segurança energética. Com abordagem multidisciplinar, Giddens 
trata a mudança climática sobretudo como uma questão política e defende que toda 
decisão deve observar o contexto econômico e geopolítico mundial. Disponível em: 
https://www.skoob.com.br/livro/126040ED139794-a-politica-da-mudanca-climatica. 
Acesso em:10/03/2021. 
 
 
 
 
 
 
LIVRO 
 
• Título: Ideias para adiar o fim do mundo. 
• Autor: Ailton Krenak. 
• Editora: Companhia das Letras. 
• Sinopse: Ailton Krenak nasceu na região do vale do rio Doce, um lugar cuja ecologia 
se encontra profundamente afetada pela atividade de extração mineira. Neste livro, o 
líder indígena critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, uma 
"humanidade que não reconhece que aquele rio que está em coma é também o nosso 
avô". Essa premissa estaria na origem do desastre socioambiental de nossa era, o 
chamado Antropoceno. Somente o reconhecimento da diversidade e a recusa da ideia 
do humano como superior aos demais seres podem ressignificar nossas existências e 
refrear nossa marcha insensata em direção ao abismo. Nas palavras do autor: 
"Nosso tempo é especialista em produzir ausências: do sentido de viver em sociedade, 
do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com 
 
relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, dançar e de cantar. 
E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, 
canta e faz chover [...] minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente 
sempre poder contar mais uma história." 
Desde seu inesquecível discurso na Assembleia Constituinte, em 1987, quando pintou o 
rosto com a tinta preta do jenipapo para protestar contra o retrocesso na luta pelos 
direitos indígenas, Ailton Krenak se destaca como um dos mais originais e importantes 
pensadores brasileiros. Ouvi-lo é mais urgente do que nunca. Ideias para adiar o fim do 
mundo é uma adaptação de duas conferências e uma entrevista realizadas em Portugal, 
entre 2017 e 2019. 
 
 
FILME/VÍDEO 
 
• Título: Ser Tão Velho Cerrado 
• Ano: 2018 
• Sinopse: os moradores da Chapada dos Veadeiros, preocupados com o fim do Cerrado 
em Goiás, procuram novas formas de desenvolver a região sem agredir o meio ambiente 
em que vivem. O desafio, agora, é conciliar os interesses relacionados ao manejo da 
Área de Proteção Ambiental do Pouso Alto. Para isso, a comunidade científica, grandes 
proprietários de terra e defensores do meio ambiente iniciam um diálogo delicado, mas 
necessário. 
• Vídeo disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=H4OSAyjAP6o. 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BANCO MUNDIAL. Causas do Desmatamento da Amazônia Brasileira. 1ª edição. 
Brasília: Estação Gráfica, 2003. Disponível em: 
https://www.terrabrasilis.org.br/ecotecadigital/pdf/causas-do-desmatamento-da-
amazonia-brasileira.pdf. Acesso em: 07/03/2021. 
 
BRASIL. Lei nº 14.066, de 30 de setembro de 2020. Altera a Lei nº 12.334, de 20 de 
setembro de 2010, que estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens 
(PNSB), a Lei nº 7.797, de 10 de julho de 1989, que cria o Fundo Nacional do Meio 
Ambiente (FNMA), a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que institui a Política 
Nacional de Recursos Hídricos, e o Decreto-Lei nº 227, de 28 de fevereiro de 1967 
(Código de Mineração). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/lei/L14066.htm. Acesso em: 10/03/2021. 
 
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Dispõe sobre procedimentos relativos 
a Estudo de Impacto Ambiental. Resolução CONAMA 1/86, de 23 de janeiro de 1986. 
Diário Oficial da União: Brasília, p. 2548-2549, 1986. Disponível em: 
https://cetesb.sp.gov.br/licenciamento/documentos/1986_Res_CONAMA_1_86.pdf. 
Acesso em: 07/03/2021. 
 
FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA; INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS 
ESPACIAIS. Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica. São Paulo: 
ArcPlan, 2019. 65 p. (Relatório Técnico 2017-2018). Disponível em: 
https://www.sosma.org.br/wp-content/uploads/2019/05/Atlas-mata-atlantica_17-18.pdf. 
Acesso em: 07/03/2021. 
 
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS. COORDENAÇÃO GERAL DE 
OBSERVAÇÃO DA TERRA. PRODES – Incremento anual de área desmatada no 
Cerrado Brasileiro. Disponível em: http://www.obt.inpe.br/cerrado. Acesso em: 
26/04/2021. 
 
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 2ª edição. São Paulo: Companhia 
das Letras, 2020. 
 
MOREIRA, Igor. O Espaço Geográfico: geografia geral e do Brasil. 47ª edição. São 
Paulo: Editora Ática, 2004. 
 
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração de Estocolmo sobre o Meio 
Ambiente Humano. In: Anais Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente 
Humano. Estocolmo, 6p., 1972. Disponível em: 
https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/registro/referencia/0000001728. 
Acesso: 10/03/2021. 
 
SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: Da Crítica da Geografia a uma Geografia 
Crítica. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1978. 
 
 
SANTOS, Milton. A natureza do espaço – Técnica e tempo. Razão e emoção. São 
Paulo: Hucitec, 1996. 
 
SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado: fundamentos teóricos e 
metodológicos da Geografia. 6. ed. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São 
Paulo (Edusp), 2014. 
 
SOUSA, Victor Pereira de. Geografia e Meio Ambiente: reflexões acerca das práticas 
socioculturais na concepção de sustentabilidade. Diversidade e Gestão. 1(2): 178-
188. 2017. Disponível em: http://www.itr.ufrrj.br/diversidadeegestao/wp-
content/uploads/2016/12/13.pdf. Acesso: 10/03/2021. 
 
 
 
UNIDADE III 
 
GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 
Professora Esp. Karitta da Silva Lopes 
 
Plano de Estudo: 
 
• Divisões da Geografia. 
• Geografia e Interdisciplinaridade 
• Geografia Crítica. 
• Ramos da Geografia. 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
• Conceituar e contextualizar historicamente as divisões e ramos existentes no 
interior da Geografia. 
• Estabelecer a importância da interdisciplinaridade nas investigações em 
Geografia. 
• Compreender como a Geografia Crítica surgiu e se estabeleceu enquanto 
corrente teórica profícua. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezada(o) Aluna(o), seja bem vinda(o) a disciplina “Categorias e conceitos 
da Geografia”. É com grande satisfação e estima que te convido a compartilhar 
conhecimentos acerca das bases teóricas do pensamento geográfico. 
O presente material foi desenvolvido para introduzi-la(o) ao horizonte das 
discussões à respeito da Geografia enquanto ciência, portanto, é destinado à 
estudantes e pesquisadores interessadas(os) em compreender o processo 
histórico de constituição da ciência geográfica, cujo o objetivo é pensar 
epistemologicamente o espaço que vivemos, suas condições naturais, 
modificações territoriais e relações com as práticas e intervenções humanas. 
Durante a trajetória escolar, você certamente cursou Geografia e teve 
contato com diversos conceitos específicos dessa disciplina, como território, 
espaço, lugar e região. A apresentação que você tem em mãos (ou à vista por 
meio de arquivos digitais) pretende aprofundar esses conhecimentos, obtidos no 
seu percurso educacionalno decorrer do Ensino Básico, à respeito da formação 
do pensamento geográfico e sua consolidação como ciência pertencente às 
Humanidades. 
A Unidade 3 “Geografia como ciência” é composta por quatro tópicos que 
correspondem à um plano de estudo estruturado para que você possa obter 
conhecimento acerca das divisões da Geografia, das relações entre Geografia e 
Interdisciplinaridade, dos princípios da Geografia Crítica e dos diversos ramos da 
Geografia. 
Almejamos que esta unidade possa contribuir com sua aprendizagem, com 
a expansão do seu pensamento crítico e com o aprimoramento de suas 
habilidades cognitivas e investigativas em Geografia. 
 
 
Bons estudos! 
 
1 DIVISÕES DA GEOGRAFIA 
 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/young-male-geography-
teacher-front-whiteboard-1706174938. 
 
Prezada (o) aluna (o), estudamos nas unidades anteriores o desenvolvimento da 
ciência geográfica, passando por diversos períodos históricos, sendo modificada e 
transformada de acordo com as influências de cada época. Vimos que na Modernidade, 
a Geografia se consolidou como a ciência empenhada em entender o espaço onde a 
humanidade desenvolve e cria suas atividades produtivas e também onde a mesma 
desenvolve relações sociais. 
A humanidade, vem ao longo dos séculos e de formas distintas, se apropriando 
da natureza para produzir através dela meios de garantir sua sobrevivência, portanto, 
natureza e sociedade estabelece um diálogo integrado ao espaço, este compreendido 
por Milton Santos (2012) como uma “acumulação desigual de tempos” (p. 256). 
Com isso, podemos dizer que um dos grandes atributos da ciência geográfica é a 
capacidade de estabelecer uma interpretação global e sintética da realidade 
intermediando as relações entre as ciências sociais e as ciências naturais. Logo, é a 
partir da divisão temática e metodológica entre Geografia Humana e Geografia Física 
que a ciência geográfica é operacionalizada e dinamizada frente aos processos de 
investigações acerca dos seus objetos de estudos e análises. 
Cabe destacar que até o século XIX a Geografia buscava uma individualidade, 
pois o conhecimento geográfico estava dissolvido em um bojo único de conhecimento. A 
forte influência do positivismo no conhecimento científico do século XIX, levou a 
fragmentação do diálogo entre as áreas de conhecimento ocasionando uma forte divisão 
entre ciências humanas, exatas e da Terra. De acordo com seus objetivos, cada uma 
delas desenvolveram seus próprios métodos, entretanto dentro de duas grandes áreas: 
Ciências Humanas e Ciências Naturais. 
Dentro da corrente tradicional, a Geografia, por ter um objeto de estudo amplo e 
vasto em relação a outras disciplinas, carecia de um método próprio que conciliasse o 
estudo de elementos humanos e naturais, levando a ter como objeto inicial a natureza 
sem o homem. A corrente possibilista salientou as análises humanas e sociais em 
 
desfavor das análises físicas, acentuando a divisão entre a Geografia Física e a 
Geografia Humana. 
No início do século XX, muitos geógrafos passaram a estudar o meio físico a partir 
da especialização, ferramenta importante para o desenvolvimento dessa ciência, como 
aponta Evandro César Clemente: 
 
De Martonne passou a estudar o meio físico dividido em vários ramos. 
Em sua obra “Tratado de Geografia Física” ele apresenta os primeiros 
passos para o surgimento dos sub-ramos dentro da Geografia Física: 
Geomorfologia, biogeografia e a climatologia. Cabe lembrar que a 
constituição destes ramos se deu influenciados pela Geologia, biologia e 
meteorologia (CLEMENTE, 2007, p. 198). 
 
Com a chegada do neopositivismo após a Segunda Guerra Mundial, podemos 
visualizar o início do chamado movimento de renovação da Geografia, que buscava 
afastar-se dos métodos de pesquisas conceituados pela corrente tradicional como a 
observação, empirismo e a descrição. As circunstâncias políticas, econômicas e sociais 
da época, somadas a invenção dos computadores, possibilitou a utilização de: 
 
[...] modelos matemáticos e quantitativos, bem como a Teoria dos 
Modelos e a Teoria dos Sistemas. Apesar do método “renovado”, a 
Geografia persistiu mascarando a dominação e o acirramento das 
desigualdades sociais e espaciais derivados da expansão do capitalismo 
(CLEMENTE, 2007, p. 199). 
 
Com o advento da Nova Geografia, os geógrafos físicos passaram a usufruir da 
teoria dos sistemas e dos modelos quantitativos e estatísticos, tornando cada vez mais 
evidente a divisão metodológica entre a Geografia Física e Humana, que confere o 
caráter científico à disciplina em destaque. “Passaram, portanto, a ignorar as produções 
dos geógrafos humanos, por considerá-las muitas vezes como meras divagações 
desprovidas de cunho científico” (CLEMENTE, 2007, p. 199). 
Em contrapartida a isso, no começo dos anos 60 frente às enormes desigualdades 
espaciais e sociais e também a grande exploração dos trabalhadores ocasionada pelo 
avanço do capitalismo, que dava início a fase de mundialização, ocorreu o preludio da 
corrente da Geografia Crítica, fortemente influenciada pelo pensamento marxista, 
 
fundamentado no materialismo histórico dialético. A exploração e as desigualdades 
passaram a ser denunciadas e criticadas pelos geógrafos dessa corrente, 
fundamentando a crítica a Geografia Física, pois para os teóricos críticos, os geógrafos 
físicos estariam servindo ao grande capital e suas produções consideradas sem 
comprometimento com as mazelas sociais ocasionadas pelo capitalismo imperialista. 
A visão Ocidental que enxerga o homem como descolado da natureza, intensifica 
a complexidade da metodologia dentro da Geografia Moderna, dificultando a superação 
da dicotomia entre Geografia Humana e Física. 
 
Diante do exposto, podemos fazer uma alusão à “evolução” da Geografia 
na citação de Norbert Elias “Sobre o tempo”, quando diz: “... ainda nos 
servimos amplamente de um aparelho conceitual que traça uma linha 
demarcatória muito clara entre os planos da integração física, social e 
individual. [...]. Do mesmo modo, a sociedade e a natureza aparecem 
frequentemente como mundos separados” (CLEMENTE, 2007, p. 199). 
 
Como vimos na unidade anterior, a partir dos anos 70, a comunidade científica se 
reuniu na conferência de Estocolmo com o intuito de discutir os graves problemas 
ambientais resultantes da apropriação desenfreada dos elementos naturais 
intensificados de forma predatória pelo sistema de produção capitalista. Diante dos 
problemas ambientais como o aquecimento global, agravado pela destruição da camada 
de ozônio, assim como a poluição dos solo, ar, rios e oceanos, os teóricos da Geografia 
Física começaram reconhecer a necessidade, cada vez mais emergente, de interpretar 
o modo de produção capitalista e sua organização social para compreender seus 
impactos na natureza. 
Vemos aí o que pode ser o início de um melhor caminho a ser percorrido pela 
ciência geográfica, trazendo análises complexas de como a sociedade se relaciona com 
a natureza a partir da compreensão da dinâmica interna e específica de seus elementos. 
Podemos afirmar também que a dicotomia Geografia Humana x Geografia Física 
enfraquece o campo de trabalho dos geógrafos, pois ao negar qualquer uma delas, os 
profissionais da Geografia acabam por limitar seu campo de trabalho, deixando de 
ocupar lugares em uma sociedade que apresenta um mercado de trabalho cada vez mais 
voltado à competitividade, pois debilita a possibilidade mais importante dessa ciência, a 
 
de fazer análises sintéticas e globalizadas da realidade, não alcançada por cientistas de 
outras áreas, como indica Sergio Henrique Pinto Silva (2007): 
 
À importância da temática ambiental, possivelmente o tema que mais une 
os diferentes ramos da Geografia, mas, ao mesmo tempo, é cobiçado por 
várias outras ciências, essa perda da Geografia é devido à sua 
fragmentação. A formaçãodualista da Geografia, englobando os 
aspectos físicos e sociais associados à capacidade de síntese, fornece 
uma ampla vantagem dessa ciência perante as demais (SILVA, 2007, p. 
41). 
 
Os caminhos distintos percorridos até então pela Geografia Humana e Física 
encontram confluência no século XXI, diante a uma sociedade que demanda cada vez 
mais uma visão integradora e multidisciplinar dos elementos, sendo capaz de responder 
questões urgentes a seu tempo. À respeito disso, Clemente (2007) enfatiza a importância 
de “[...] superarmos a clivagem Geografia Humana x Geografia Física e construir uma 
Geografia Global, capaz de resgatar o velho objetivo da Geografia de estudar de forma 
integrada Sociedade e Natureza” (p. 199). 
A valorização de uma visão global capaz de inter-relacionar os mais diversos 
dados existentes é reflexo da sociedade contemporânea e não está restrita ao meio 
científico, pois demonstra uma preocupação com o conjunto devido a necessidade cada 
vez mais urgente de um conhecimento não compartimentado capaz de realizar uma 
leitura complexa da realidade, como afirma Sansolo (1996): 
 
Em uma metrópole, embora o relevo tenha sido alterado pela construção 
de prédios, ou cuja bacia de drenagem foi impermeabilizada pelo asfalto 
e seus rios e córregos canalizados, ainda assim os processos naturais 
como os geomorfológicos, expressos pelo movimento de massa de 
vertentes e depósitos sedimentares em rios e córregos; processos 
climáticos, como sazonalidade das chuvas, temperaturas e umidade; 
migrações de aves continuam ocorrendo e vão continuar ocorrendo 
(SANSOLO, 1996, p. 36). 
 
É diante deste contexto, que o saber geográfico não fragmentado se apresenta 
como uma importante ferramenta capaz de contribuir para uma leitura complexa e não 
compartimentada do meio ambiente e da sociedade. A Geografia é única das ciências 
humanas que tem como objeto de estudo também o quadro natural do planeta. Diante 
 
disso, vemos a complexidade metodológica e epistêmica, pois analisar processos 
contínuos na natureza e na sociedade, seja individual ou conjuntamente, é uma tarefa 
que exige grandes competências. 
Corroboramos que a divisão entre Geografia Física e Geografia Humana pode 
contribuir para melhor delimitar metodologicamente os objetos de estudo e os fenômenos 
investigados, contudo, compreendemos que a relação e imbricação teórica e 
epistemológica entre ambas, combatendo possíveis hierarquizações, torna-se 
fundamental para análises e interpretações mais completas da realidade pesquisada. 
 
2 GEOGRAFIA E INTERDISCIPLINARIDADE 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-monochrome-
symbols-exploration-geography-equipment-1110430922. 
 
Cara(o) aluna(o), a partir do conteúdo do tópico anterior acerca das divisões da 
Geografia, ou seja, da divisão entre a Geografia Física e Humana e, consequentemente, 
das fragmentações existentes no interior dessas duas divisões centrais, podemos 
compreender que o conhecimento construído de forma fragmentada pela ciência 
geográfica passou a permitir uma interdisciplinaridade teórica-metodológica devido aos 
dilemas existentes com o seu objeto de estudo primordial, o espaço geográfico. 
Em razão das exigências formativas para obter os saberes naturais e sociais 
referentes ao espaço geográfico, faz-se necessário que a comunidade científica em 
Geografia estabeleça debates e diálogos com matrizes disciplinares distintas, tais quais 
se encontram disciplinas pertencentes às Ciências Humanas, Exatas e Naturais. 
Enquanto área do conhecimento, a Geografia traz em seu cerne epistemológico a 
preocupação com a busca da compreensão das relações dinamizadas entre a sociedade 
e a natureza. Em virtude disso, ela se diferencia, indo na contramão das demais ciências, 
que devido às condições particulares de seus objetos de pesquisa, foram 
individualizadas nos processos de classificação disciplinar. 
 
Pelo fato de serem exigidos para sua formação uma compreensão, 
um conhecimento da natureza e da sociedade e, pelo fato de 
compreenderem o espaço geográfico como a materialização na 
superfície da terra das diferentes formas de organização social foram 
sempre levados a construir uma ciência que chegaram a conceituar como 
de síntese e que internamente pode ser lida como uma ciência 
interdisciplinar (SUERTEGARAY, 2003, p. 45). 
 
Contudo, essa interdisciplinaridade intrínseca à Geografia, nem sempre foi um 
consenso, pois na medida em que a expansão da racionalidade tomava conta dos 
métodos e teorias científicas na Modernidade, foi sendo possibilitada, cada vez mais, a 
separação e compartimentação do conhecimento, logo, a divisão entre as Ciências 
Naturais/Exatas e as Ciências Sociais/Humanas. 
 
Por conseguinte, é nesse período histórico que a Geografia foi impossibilitada de 
alocar o hall de especificidades disciplinares exigidas pelo pensamento positivista da 
época, passando a ser desconsiderada do seu carácter científico e fragilizada diante das 
dificuldades de construção de métodos próprios, pois carregava em sua base 
epistemológica, num contexto histórico onde as dimensões separatistas entre os saberes 
eram o padrão aceito e reproduzido entre a comunidade científica, os dilemas relacionais 
entre natureza-sociedade/sociedade-natureza. 
Tais disputas para a individualização entre as ciências, premissa imposta pelo 
pela Modernidade, evidenciou a preocupação dos geógrafos e geógrafas em afirmar a 
Geografia como uma ciência autônoma com métodos únicos e exatos, fato que acabou 
por empobrecê-la. 
Como já vimos, em diferentes momentos históricos, foram construídas diferentes 
análises e concepções em Geografia, transformações que serviram como base de 
revisões científicas, conceituais, políticas e temáticas dessa disciplina. É a partir do 
movimento de renovação da Geografia nos anos de 1970, em especial, na França, na 
Inglaterra, na Itália, nos Estados Unidos e no Brasil, que ocorre a reelaboração 
epistemológica da Geografia Humana baseada no conceito de espaço geográfico como 
principal categoria analítica da ciência geográfica e, por consequência, a valorização e 
necessidade de estudos e explicações interdisciplinares. 
De acordo com Dirce Maria Antunes Suertegaray (2003), a interdisciplinaridade 
na Geografia é “um exemplo da possibilidade de compreensão conjuntiva”. A autora nos 
aponta que não devemos pensá-la “[...] como sombreamento mas como convergência 
de leituras na busca de compreensão de um acontecimento, da decifração de um 
problema, de uma questão” (p. 50-51). 
Logo, a aproximação da Geografia com outras ciências indica uma disciplina de 
caráter multidisciplinar, fato que não elimina possibilidades interpretativas, todo contrário, 
contribui na compreensão da dinâmica do espaço geográfico e seus elementos 
constituintes, bem como, de outras categorias analíticas e conceituais da Geografia. 
 
Se de um lado ainda trabalhamos com o recorte do espaço geográfico, 
de outro acreditamos que esses recortes poderão mais unir o discurso 
geográfico, do que separar. Isto porque cada um deles enfatiza uma 
 
dimensão da complexidade organizacional do espaço geográfico: o 
econômico/cultural (na paisagem), o político (no território), a existência 
objetiva e subjetiva (no lugar) e a transfiguração da natureza (no 
ambiente) [...] Por outro lado, acreditamos que conceber esta como uma 
das possibilidades analíticas da Geografia, tende a nos permitir a 
diferença de enfoques, ao mesmo tempo em que nos articula pelas 
conexões derivadas da fronteira tênue entre cada um desses 
conceitos. Costuma- se dizer na atualidade, que o objeto de estudo se 
constrói num contexto relacional. Por conseguinte, as conexões que 
permeiam os conceitos que aqui denominamos operacionais, aproximam 
as nossas práticas geográficas, muito mais que nos dividem 
(SUERTEGARAY, 2003, p. 50). 
 
SegundoMilton Santos em Por uma Geografia Nova (2012) a Geografia pode 
auxiliar no desenvolvimento de conceitos e fenômenos estudados por outras disciplinas 
e vice e versa, o autor trata do exemplo da economia neoclássica, que estuda a relação 
entre humanidade e meio geográfico e, com isso, bebe da fonte dos estudos acerca da 
Geografia. 
 
Em realidade a lista de ciências chamadas afins da geografia que se 
escrevia acompanhada de nomes como história, sociologia, economia 
(se nos limitando a geografia humana) tornou-se muito mais longa porque 
devemos acrescentar-lhe outros domínios do saber como a tecnologia 
(ciência das forças produtivas), a ciência política, o urbanismo, a técnica 
gerencial, a semiologia, a epistemologia, os negócios internacionais, a 
história das ciências, a ciência das ciências, chamada cienciologia, e 
mesmo a lógica e a dialética (SANTOS, 2012, p. 137). 
 
Outro exemplo citado pelo autor, é o do famoso historiador francês Marc Bloch, 
que defendeu a interdisciplinaridade ao compreender que o sociólogo Émile Durkheim e 
o geógrafo Vidal de La Blache “[...] deixaram sobre os estudos históricos do princípio do 
século XX uma marca incomparavelmente mais profunda que a de qualquer outro 
historiador” (BLOCH, 1974, p. 166 apud. SANTOS, 2012, p. 130). 
Desta forma, Milton Santos (2012), um dos mais significativos expoentes da 
geografia brasileira, afirma que a premissa da interdisciplinaridade não se restringe 
somente à ciência geográfica, tornando-se assim, geral à outras ciências também, ou 
seja, “[...] toda ciência se desenvolve nas fronteiras de outras disciplinas e com elas se 
integra em uma filosofia. A geografia, a sociologia, a economia, são interpretações 
 
complementares da realidade humana” (BOUDEVILLE, 1945, p. 75 apud SANTOS, 
2012, p. 131). 
A partir dos pensamentos trazidos à luz, podemos compreender que a 
interdisciplinaridade se encontra no horizonte de todas as disciplinas, pois contribui para 
a ampliação e aprimoramento de interpretações de múltiplos fenômenos, se constituindo 
como: 
 
[...] uma prática coletiva, que surge da organização em grupo, hoje em 
rede, e tem como objetivo a busca da compreensão/explicação de um 
problema formulado pelo conjunto dos investigadores. O trabalho 
interdisciplinar vai exigir um rompimento com os problemas específicos 
de cada campo, colocando na pauta da pesquisa questões de 
estruturação mais complexa (SUERTEGARAY, 2003, p. 51). 
 
Logo, a interdisciplinaridade garante à Geografia uma integração com outras 
disciplinas, que ao estabelecer relações e imbricações entre um mesmo objetivo de 
estudo, sem pretensões totalizantes, busca compreender os diversos aspectos e 
variáveis de um mesmo objeto de pesquisa. 
 
3 GEOGRAFIA CRÍTICA 
 
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Cara (o) aluna (o), vimos nos tópicos anteriores as divisões presentes no interior 
da Geografia, que evidenciaram a grande dicotomia entre a Geografia Humana e a 
Geografia Física, como também, os conhecimentos interdisciplinares que atravessam a 
construção do conhecimento geográfico. Estudaremos agora, a formação da abordagem 
crítica da Geografia, que se desenvolveu especialmente no Brasil com uma notável 
importância para a produção teórica na atualidade. 
A abordagem crítica pode ser entendida como um movimento de renovação 
teórica e metodológica do pensamento geográfico, colocando-se como “[...] uma 
revolução que procura romper, de um lado, com a geografia tradicional e, de outro, com 
a geografia teorético-quantitativa” (CORRÊA, 2001, p. 23). A sua base epistemológica 
está fundamentada pelo materialismo histórico dialético, proposto por Karl Marx, pois 
busca refletir sobre as constantes transformações na organização espacial, influenciadas 
diretamente pela acentuada urbanização, industrialização e avanço do capitalismo, que 
não encontrava respostas nas outras correntes do pensamento geográfico como o 
método regionalista, possibilista e determinista. 
Grande parte dos autores da Geografia Crítica assumem uma postura 
comprometida com as transformações sociais, utilizando o conhecimento para a 
formação de uma sociedade mais justa e que sirva como ferramenta de libertação da 
humanidade, assumindo um conteúdo fortemente político e militante e avaliando as 
contradições intrínsecas ao sistema capitalista de produção. 
 
O movimento da geografia crítica, em suas diversas vertentes, reproduz 
o embate ideológico contemporâneo da luta de classes na sociedade. Os 
geógrafos críticos, em suas diversas orientações, assumem a 
perspectiva popular, de uma transformação de ordem social. Por esta 
razão, buscam uma geografia mais generosa em um espaço mais justo, 
que seja organizado em função dos interesses dos homens e não do 
capital (MOURA; OLIVEIRA; LISBOA; FONTOURA; GERALDI, 2008, p. 
2). 
 
 
Analisaremos a partir de então, as diferentes escolas e os principais teóricos que 
contribuíram para a formação da teoria crítica nos debates acerca da geografia mundial 
e, especificamente, da geografia brasileira. 
Na França, em meados das décadas de 1930 e 1940, vemos uma evidente 
movimentação a favor da abordagem crítica em Geografia por meio da ala progressista 
da geografia regional francesa, que aos poucos, foi introduzindo a análise da produção 
do espaço aos processos sociais e econômicos, dando origem a uma discussão mais 
engajada politicamente aos estudos geográficos no país. 
Posterior a isso, encontramos na obra Geografia Ativa (1966), de Pierre George, 
Yves Lacoste, Bernard Kayser e Raymond Guglielmo, uma representação do movimento 
científico de renovação crítica ao propor a elaboração de uma análise regional que 
solucionasse as contradições do modo de produção capitalista. 
 
Neste caso, inaugurando uma geografia de denúncias das realidades 
espaciais injustas e contraditórias. Critica severamente a abordagem 
descritiva e enumerativa da geografia, apontando a necessidade e a 
carência de informação objetiva, que permitisse traçar perspectivas que 
subsidiassem tomadas de decisões. Ligada ao historicismo, seus autores 
consideravam a geografia como um prolongamento da história, mas com 
métodos próprios, deixando seu papel meramente contemplativo e 
assumindo um papel dinâmico, atuante, por meio do que chamavam uma 
“geografia ativa”, que buscasse estabelecer um elo entre passado e 
futuro (MOURA; OLIVEIRA; LISBOA; FONTOURA; GERALDI, 2008, p. 
3). 
 
Mais tarde ao desenvolver seus estudos, Pierre George impulsionou o uso de 
conceitos marxistas nos debates geográficos, fomentando assim, uma conciliação entre 
o materialismo histórico dialético e o método regional ao aprofundar seus estudos 
referentes às relações de produção x trabalho e, também, sobre a ação do grande capital 
e das forças produtivas e seu impacto nas relações entre sociedade e natureza. 
No ano de 1976, Yves Lacoste intensifica tais discussões com a criação de uma 
revista empenhada em debater e democratizar as novas tendências da ciência 
geográfica. 
 
Lacoste cria a revista Hérodote e começa, por meio dela, a dispor 
análises sobre inúmeros assuntos geográficos, como os problemas 
 
ideológicos, da paisagem, do trabalho no campo, do urbano, do 
imperialismo ligado à colonização, entre outros. Após o trigésimo número 
da revista, Lacoste convoca os geógrafos a uma maior atuação na esfera 
política e reanalisa o conceito de geopolítica. Para ele, não só a geografia 
como também outras ciências foram utilizadas pelos nazistas para 
justificar as expansões territoriais sobre outros povos. Lacoste (1989) 
procura mostrar que a geopolítica, adotada pelos Estados, poderia ser 
também empregada para que os povos conquistassem a libertação 
nacional, no plano externo, e a libertação interna (MOURA; OLIVEIRA; 
LISBOA; FONTOURA; GERALDI, 2008, p. 3). 
 
Concomitante a isso, a GeografiaCrítica ganha espaço com o engajamento dos 
geógrafos norte-americanos, no final dos anos de 1960, no curso das lutas e processos 
que desembocaram em transformações sociais associadas às revoltas internacionais de 
1968, como os movimentos contrários a guerra do Vietnam, os embates ao colonialismo, 
os movimentos contra a segregação racial e pelos direitos civis. Desta forma, podemos 
afirmar que as agitações e mobilizações políticas que abalavam a sociedade envolveram 
os geógrafos, que levaram para a luta social, seus aparatos e saberes científicos em 
Geografia. 
 
Trabalhos de geógrafos, particularmente norte-americanos e 
canadenses, voltados aos problemas sociais, passaram a circular e 
adquiriram certa relevância. Com base em Blaut (1979), Cobarrubias 
(2006) aponta como data de referência do surgimento da corrente o ano 
de 1969, no encontro da Associação Americana de Geografia, que reuniu 
a maioria dos movimentos locais, incluindo a Detroit Geographical 
Expedition (DGE) e o grupo responsável pela publicação Antipode, da 
Clark University (MOURA; OLIVEIRA; LISBOA; FONTOURA; GERALDI, 
2008, p. 4) 
 
Um outro exemplo de veículo científico acerca das discussões sobre a abordagem 
geográfica crítica, é a revista Antipode, organizada em 1969, cujo o objetivo inicial era o 
de divulgar e propagar os trabalhos desenvolvidos, passando a fazer uma crítica radical 
tanto a geografia tradicional, quanto a geografia teorética, ao ser concebida como porta 
voz de uma geografia alternativa, preocupada com a investigação e resolução de 
problemas locais e regionais. 
 
A revista Antipode teve grande aceitação, pois permitia a abertura de 
novos horizontes para os novos geógrafos, já que a maioria dos 
 
colaboradores eram geógrafos quantitativistas desolados com o método 
matemático-estatístico. À medida que evoluía e se desenvolvia, fez 
emergir a questão do método e do papel da ideologia na geografia 
(MOURA; OLIVEIRA; LISBOA; FONTOURA; GERALDI, 2008, p. 4). 
 
Em 1974, em plena evolução e busca teórica, a revista se ocupou da necessidade 
de explorar o campo do marxismo e estimular as investigações e contribuições dos 
países considerados de terceiro mundo ou subdesenvolvidos. Durante esse processo, 
foram elucidando os objetivos e ampliando as perspectivas e com isso, ganhando leitores 
fora dos Estados Unidos e da América do Norte. 
Em razão disso, a necessidade teórica de linhas alternativas de pesquisa na 
Geografia, começou a ganhar estrutura e público na América do Sul. No Uruguai e na 
Argentina, essa corrente se baseava em uma agenda estruturada em princípios que 
destaca o compromisso intelectual a serviço da sociedade e o tratamento das 
contradições inerentes ao desenvolvimento latino-americano em uma nova forma de 
compreender os processos de ensino e aprendizagem, assim como a necessidade de 
fazer política com os instrumentos e conhecimentos desenvolvidos pela ciência. Essa 
nova corrente de reflexão surge nas universidades e se apropria de conceitos chaves do 
marxismo para compreender e intervir no território e no espaço geográfico. 
Milton Santos, um dos expoentes da Geografia Crítica no Brasil, defendeu a 
importância de construir uma estrutura teórica latino-americana para entender, investigar 
e denunciar as contrariedades regionais compartilhadas pelos países tidos como de 
terceiro mundo, destacando as desigualdades sociais e diferenças com o mundo 
ocidental tido como desenvolvido. 
Como os espaços para a difusão de ideias era limitado, tal corrente se organizou 
através de encontros, como o Primeiro Encontro Latino-Americano da Nova Geografia, 
realizado em 1973 no Uruguai e que reuniu centenas de participantes. O segundo 
encontro aconteceu na Argentina em fevereiro de 1974, reunindo mais que o dobro de 
participantes do anterior, sob um cenário político que rapidamente caiu em censura. 
 
Foram convidados para esse Segundo Encontro, Pierre George, como 
referencial europeu, e Milton Santos, como referencial latino-americano, 
propulsores, entre os jovens geógrafos, de ideias comprometidas com a 
realidade social (Martínez, 2002), assim como estiveram presentes uma 
 
numerosa delegação uruguaia, entre os quais Germán Wettstein e Danilo 
Antón, e geógrafos argentinos, com destaque para Elena Chiozza e 
Carlos Reboratti, da Universidade de Buenos Aires, e Ricardo Capitanelli, 
da Universidade Nacional de Cuyo. Trataram de temas acerca do papel 
do geógrafo como profissional, entre outros que marcavam a realidade, 
indicando a preocupação dos participantes em gerir outra Geografia, está 
mais comprometida. (MOURA; OLIVEIRA; LISBOA; FONTOURA; 
GERALDI; 2008, p. 6). 
 
A geografia brasileira foi fortemente influenciada pelas diferentes formas de 
interpretar a geografia nos anos 1970, através das contribuições desenvolvidas na 
Europa e nas Américas. Nesse período, a censura somada às políticas de 
desenvolvimento adotadas pelo regime militar, favoreceram a introdução da corrente 
crítica no Brasil do final dos anos 70. Mesmo que sufocada pelo regime autoritário, a 
corrente crítica representou um momento de ruptura epistemológica e política ao 
influenciar os geógrafos brasileiros a procurarem novos caminhos científicos para a 
Geografia. 
Cabe destacar a grande importância da contribuição de Milton Santos na 
estruturação epistemológica da geografia brasileira e, também, mundial. Após o golpe 
militar de 1964, Milton Santos foi duramente perseguido, sendo exilado por 13 anos pelo 
regime ditatorial vigente no país. O exílio sofrido por ele deu origem a reformulação de 
sua visão de sociedade e do papel do geógrafo, bem como, da geografia do terceiro 
mundo. Como aponta o geógrafo e historiador brasileiro Manuel Correa de Andrade 
(2003), 
 
Foram anos que o levaram a uma reflexão maior dos mecanismos de 
relações entre a sociedade, o Estado e a natureza, no mundo 
subdesenvolvido, sobretudo nas regiões tropicais e pobres, e sobre as 
formas de utilização dos solos, a organização dos circuitos de relações 
comerciais e sobre as formas de dominação. Foram dessa época os livros 
de maior importância para a formação dos geógrafos e da geografia, daí 
a formulação e análise das formações espaciais e sociais aplicadas ao 
Brasil, das formas de sobrevivência das populações pobres, dentro de 
estruturas sociais marcadas pela herança da escravidão, das formas de 
relações de trabalho e os preconceitos que dificultavam a ascensão social 
dos humildes, dos pobres e da população de cor: negros, indígenas e 
caboclos (ANDRADE, 2003, p. 2). 
 
 
Alguns dos seus livros deste período podem ser considerados clássicos, devido 
aos caminhos abertos à evolução da Geografia e à compreensão do Terceiro Mundo, 
vale destacar também, sua contribuição como membro da União Socialista de Geógrafos 
(USG) e do comitê de redação da revista Hérodote, além de ter editado um número da 
Antipode. Após o seu exílio pela ditadura civil-militar, no final dos anos 70, o professor 
Milton Santos recém reintegrado à vida acadêmica brasileira publica a obra Por uma 
Geografia Nova: da crítica a geografia a uma geografia crítica (1978), considerada como 
uma das primeiras propostas de renovação da geografia brasileira ao propor uma 
avaliação crítica a geografia tradicional e a crise do pensamento geográfico. 
Outras publicações importantes de cunho crítico espalharam pelo país, 
particularmente o Boletim Paulista de Geografia, além de Território Livre, Terra Livre, 
Geonordeste, entre outras. 
São diversos os textos e autores que reforçam, atualmente, a concepção 
amparada pela corrente crítica, reivindicando a interação entre os meios acadêmicos, 
governamentais e sociedade civil, não apenas na investigação de um conhecimento 
concentrado nas inúmeras esferas de atuação, como na conquista de estratégias que 
contraponham a crescente desigualdade social e territorial contemporânea. Requer um 
posicionamento ativo do geógrafofrente aos dilemas do mundo, dando enfoque à 
preocupação da corrente crítica, contribuindo na renovação do que seria uma verdadeira 
totalidade geográfica: nem divisora nem dualista, mas unificada para o desenvolvimento 
da prosperidade humana. 
 
A geografia crítica renovou o pensamento geográfico, principalmente por 
admitir o papel da divisão social e territorial do trabalho. Permitiu e vem 
possibilitando a exposição de lógicas, processos, agentes. Da mesma 
forma, politizou o debate sobre espaço, território e ambiente, assumindo 
temas como dominação, controle, exclusão, desigualdade socioespacial, 
pobreza e vulnerabilidade. Em alguns casos, aproximou-se da geografia 
física, como por exemplo, nos trabalhos que discutem os problemas 
ambientais numa ótica crítica, relacionando a crise da sociedade ao 
modelo de desenvolvimento dos países industrializados e à cultura do 
consumo, além de salientar enfoques socioambientais. (MOURA; 
OLIVEIRA; LISBOA; FONTOURA; GERALDI, 2008, p. 18). 
 
 
Deste modo, podemos concluir que a corrente crítica, encaminhou e segue 
conduzindo contribuições essenciais à ciência geográfica. No período de sua ascensão 
o mundo vivia a ebulição de um momento de profundas contestações e mudanças 
históricas, condição social que possibilitou seu surgimento, caracterizando-a a partir de 
leituras, análises e investigações extremamente críticas ao funcionamento desigual dos 
processos de formação do espaço geográfico. 
 
4 RAMOS DA GEOGRAFIA 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/illustration-world-map-
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Como vimos durante toda a unidade, o desmembramento entre Geografia Física 
e Geografia Humana configura-se como a principal divisão da ciência geográfica. É a 
partir dessa separação temática e metodológica que iremos estudar, neste último tópico, 
os ramos dessa ciência. 
Desta maneira, nosso conteúdo se concentrará nas diferentes ramificações 
operacionais presentes nas preocupações e elementos de estudo da Geografia Física, 
mais voltados ao relevo, vegetação, clima, rios, entre outros agentes naturais, e da 
Geografia Humana, centrados na interação humana com os diversos elementos do meio 
ambiente. 
Corroboramos que a formação dualista da Geografia não deve ser utilizada para 
excluir afinidades e confluências analíticas, teóricas e metodológicas, nem para uma 
divisão sobrepor a outra, todo contrário, compreendermos que ao englobar os aspectos 
físicos e sociais associados à capacidade de síntese, a Geografia reforça possibilidades 
de estudar fenômenos que se relacionam a partir de ângulos diferentes, enriquecendo 
assim, os processos investigativos em Geografia. 
 
4.1 Alguns ramos da Geografia Física 
 
Geomorfologia: 
Estuda as origens e a evolução da estrutura e formas de relevos da Terra por meio 
da natureza das rochas, pelo clima e por fatores endógenos e exógenos a fim de 
identificar a formação dos elementos que compõem a superfície terrestre. 
Tal ramificação é utilizada, também, para os estudos à respeito dos processos 
morfogenéticos atuais com o objetivo de compreender os problemas ambientais em 
vigência, oferecer subsídios técnicos para orientar a ocupação humana e auxiliar na 
 
resolução dos danos provocados pelos desequilíbrios geoecológicos causados pela 
ação humana. 
 
Climatologia: 
Pesquisa os climas, suas distribuições entre as diversas regiões terrestres e suas 
variações, entre elas podemos citar: a chuva, o vento, a temperatura e outros elementos 
climáticos mais raros, como o granizo, a neve e as geadas. 
 
Investigações climatológicas importantes já provieram do campo 
geográfico e um rico campo de trabalho se apresenta aos geógrafos na 
organização das observações de estação através da livre observação e 
através da reunião de observações e especialmente na ligação dos 
processos climáticos com os fenômenos do balanço hídrico, do arranjo 
do solo, da cobertura vegetal e da vida humana (HETTNER, 2012, p. 
147). 
 
Logo, esse ramo geográfico preocupa-se, também, com os impactos de origem 
climática que causam danos nos meios físico e socioeconômico, tais como as 
tempestades, enchentes, inundações, alagamentos e enxurradas, muitas vezes, 
provocadas pela ação humana, como as enchentes ocorridas devido à depósitos e 
descartes inadequados de lixo pelo homem. 
 
Pedologia: 
É a ciência que estuda o solo em seus diversos aspectos morfológicos, de 
formação (gênese) e de classificação, buscando identificar e mapear os solos 
característicos de determinada região. Os estudos pedagógicos configuram-se como um 
ramo de pesquisa desafiador, pois trata da constituição e distribuição espacial dos solos 
na paisagem, com suas respectivas implicações sociais e ambientais. 
O solo é um recurso natural de grande importância para a sobrevivência humana, 
resultado de uma interação complexa de fatores, como o clima, a topografia e 
organismos nele existentes. É o solo que permite o sustento das florestas, ruas e 
construções, que filtra e armazena parte da água que bebemos, e que dá vida aos 
alimentos de origem vegetal que se alimentamos e às plantas que purificam o ar, 
produzindo parte do oxigênio que respiramos. 
 
Desta forma, a pedologia é uma ciência primordial para corrigir a fertilidade natural 
do solo, alterada pelo agronegócio, a pecuária e a mineração desenfreadas, neutralizar 
sua acidez, observar teores de matéria orgânica, preservar contra a erosão e identificar 
solos apropriados para cada cultura e/ou região, 
 
Biogeografia: 
Ramo da Geografia que estuda as paisagens biológicas e as formas de 
distribuição geográfica dos seres vivos (animais e plantas) em diferentes contextos 
históricos. 
 
Desde o período mais remoto, a Geografia também incluiu em sua 
investigação os mundos vegetal e animal, e certamente tanto no caráter 
geral da cobertura vegetal como a ocorrência de plantas e animais 
individuais, especialmente aqueles que são úteis ou nocivos ao homem. 
Nos tempos antigos, a descrição botânica ou zoológica esteve 
diretamente ligada com sua referência; apenas pouco a pouco a 
investigação geográfica se separou da [investigação] botânica e da 
zoológica (HETTNER, 2012, p. 147 - 148). 
 
Tais estudos têm por objetivo compreender os padrões de organização e 
ocupação espacial reproduzidos pela fauna e pela flora e, ainda, os processos que 
resultaram nesse parâmetro de disposições biogeográficas. Portanto, estudar as inter-
relações dos diversos fatores geográficos e ecológicos que atuam na distribuição, 
adaptação, expansão e associação dos seres vivos, configura-se como objeto de estudo 
e método imprescindível aos objetivos da Biogeografia. 
 
Hidrografia: 
Fragmentação da Geografia que estuda os fenômenos relacionados aos recursos 
hídricos existentes no planeta Terra, à exemplo dos rios, bacias hidrográficas, mares, 
oceanos, lagos, entre outros, buscando compreender as origens e as formações da água 
em diferentes regiões terrestres. 
“A água da superfície terrestre deve ser concebida como um grande sistema de 
circulação, que se considera sob diferentes pontos de vista, sob o da ordenação espacial, 
da formação topográfica, do balanço hídrico, das relações físicas e químicas” 
 
(HETTNER, 2012, p. 145). Logo, é a partir dos estudos hidrográficos que as relações 
topográficas das águas, suas ordenações e o balanço hídrico de uma região são 
compreendidas de forma sistemática. 
 
Cartografia: 
A cartografia é o ramo da Geografia que estuda e elabora a representação gráfica 
da superfície terrestre, tendo como produto final desse processo investigativo, o mapa, 
isto é, configura-se como a ciência responsável pela criação, estudo, difusão e utilização 
dos mapas. 
Devido à diversidade temática dos mapas, a cartografia é fundamental para o 
ensino de Geografia nas escolas e instituições educacionais, tanto para a compreensão 
do cotidianoquanto para o entendimento das regiões do planeta Terra. 
 
 
4.2 Alguns ramos da Geografia Humana 
 
De acordo com os nossos estudos durante esta unidade, podemos afirmar que a 
Geografia é uma Ciência Humana, pois seu objeto de pesquisa é o espaço geográfico 
produzido pela ação do ser humano, logo, é resultante das imbricações entre natureza e 
sociedade. Por consequência, métodos integradores no interior da ciência geográfica, 
que analisam fenômenos que contemplam os aspectos físicos e humanos, entendidos 
como problemáticas do espaço geográfico, tornam-se caras para os estudos e o 
pensamento geográfico. 
 
Geografia da População: 
É composta por investigações a respeito do crescimento/quantidade, composição, 
migração e distribuição da população humana em relação às características espaço-
geográficas e aos contextos históricos, ou seja, estuda de que maneira e sob quais 
condições o homem se transforma em população ao longo dos séculos e períodos 
históricos. 
 
 
[...] aos aspectos biológicos agregam-se a organização cultural, política, 
econômica e territorial da sociedade, que repercutem, por exemplo, no 
número de pessoas empregadas (população economicamente ativa), no 
número de pessoas que se desloca de um lugar para o outro e nas razões 
e consequências dessa mobilidade (migração), no número de pessoas 
que nascem e morrem em um local (crescimento populacional) e no 
número de pessoas que vivem em uma localidade e na forma como 
ocupam esse espaço (distribuição populacional). A busca pela 
compreensão dos fenômenos que geram essas diferenças, suas causas 
e consequências conduz a análise da dinâmica populacional que, na 
perspectiva da Geografia da População, é investigada a partir da 
espacialização da organização populacional (DANTAS; MORAIS; 
FERNANDES, 2011, p. 13). 
 
Isto posto, podemos afirmar que os estudos populacionais concentram-se nos 
aspectos políticos, sociais, culturais e econômicos que diferenciam as populações ao 
redor do mundo, analisando fatores importantes para a compreensão da humanidade 
como gênero, raça, etnia, classe social, idade, trabalho, grau de escolaridade, entre 
outros. 
 
Geografia Social: 
Ramos da Geografia Humana que pesquisa os fenômenos sociais dos grupos 
humanos e suas relações no interior do espaço geográfico. Ao encontrar-se intimamente 
relacionada com a sociologia e teorias sociais diversas, a Geografia Social busca 
compreender a relação do fenômeno social com as características e fatores espaciais 
que o constituem. 
Neste sentido, os principais objetos de estudo da Geografia Social são: a origem 
dos povos, as religiões, os conflitos, os índices de evasão escolar e desenvolvimento 
humano e social, as relações internacionais, as dinâmicas do mercado de trabalho e a 
governança da população sobre o território. 
 
Geografia Econômica: 
Campo geográfico que estuda os modos de produção e a utilização e distribuição 
de recursos, considerando as características do ordenamento, localização e organização 
espacial das atividades econômicas e trabalhistas disponíveis em nosso corpo social. 
 
A paisagem, o lugar e o território geográfico influenciam diretamente as atividades 
econômicas e as demandas de mercado de determinada região e/ou país, logo, a 
Geografia Econômica prioriza em suas produções a localização de indústrias e 
empresas, as rotas comerciais e de transporte, o mapeamento de atividades comerciais 
locais, nacionais e internacionais (tanto no atacado quanto no varejo) e as variações de 
valor de mercados que tratam intimamente do espaço geográfico, à exemplo do mercado 
imobiliário. 
 
Geopolítica: 
A Geopolítica é responsável por estudar e analisar a organização e distribuição 
espacial dos fenômenos políticos, realizando interpretações históricas de 
acontecimentos e episódios da atualidade em acordo com o desenvolvimento político 
das nações e suas respectivas formações sociais e geográficas. 
 
O termo Geopolítica [...] designa de fato tudo que concerne às rivalidades 
de poderes ou de influências nos territórios e as populações que nele 
vivem: rivalidades entre poderes políticos de toda sorte – e não somente 
entre Estados, mas também entre movimentos políticos ou grupos 
armados mais ou menos clandestinos – rivalidades pelo controle ou 
dominação de territórios de grande ou pequeno porte. Os raciocínios 
geopolíticos ajudam a melhor compreender as causas de tal ou tal 
conflito, dentro de um país ou entre Estados, mas também a considerar 
quais podem ser, por repercussão, as consequências destas lutas nos 
países mais ou menos distantes e por vezes até mesmo em outras partes 
do mundo (LACOSTE, 2006, p. 8). 
 
Portanto, um dos campos de pesquisa mais assíduos da Geopolítica visa 
compreender e explicar os conflitos internacionais, as questões políticas e de 
globalização e a utilização dos recursos naturais e energéticos no mundo. 
 
 
SAIBA MAIS 
 
Você sabia que após o golpe militar de 1964, o professor e geógrafo Milton Santos 
foi perseguido por sua produção intelectual, levando a ser exilado do Brasil por 13 anos? 
Durante esse período, Milton Santos viveu grande parte da cidade de Paris, na França, 
percorrendo outros países como: Tanzânia na África, Canadá e Estados Unidos na 
América do Norte e Venezuela e Peru na América do Sul. A volta do exílio apresentou 
um Milton Santos já amadurecido, que trouxe na bagagem a experiência de acompanhar 
a formação da universidade de Dar-el-Salaam na Tanzânia e também da vivência norte-
americana, com universidades típicas do mundo anglo-saxão e, finalmente, com a 
observação de problemas e fatos da América Latina de colonização espanhola, vivências 
que expandiram seu conhecimento em Geografia de forma crítica e enriquecedora. 
 
REFLITA 
 
Reflita sobre a seguinte afirmação de Milton Santos. Como ignorarmos as 
constantes e contínuas transformações históricas e sociais nos estudos e investigações 
em Geografia? 
 
Se as ações sobre um conjunto de objetos se dessem segundo tempos 
iguais não haveria história; o mundo seria imóvel. Mas o mundo é móvel, 
em transformação permanente – formando uma totalidade em processo 
de mudança para surgir amanhã como uma nova totalidade (SANTOS, 
1996, p. 167). 
 
SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo. Globalização e meio técnico-científico 
informacional. São Paulo: Hucitec, 1996. 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
No decorrer da presente unidade compreendemos que o desenvolvimento da 
ciência geográfica passou por diversos períodos históricos, sendo modificada e 
transformada de acordo com as influências de cada época. Vimos que na Modernidade, 
a Geografia se consolidou como a ciência empenhada em entender o espaço onde a 
humanidade desenvolve e cria suas atividades produtivas e também onde a mesma 
desenvolve relações sociais. Com isso, compreendemos que um dos grandes atributos 
da ciência geográfica é a capacidade de estabelecer uma interpretação global e sintética 
da realidade intermediando as relações entre as ciências sociais e as ciências naturais. 
Estudamos no tópico 1 que é a partir da divisão temática e metodológica entre 
Geografia Humana e Geografia Física que a ciência geográfica é operacionalizada e 
dinamizada frente aos processos de investigações acerca dos seus objetos de estudos 
e análises. Compreendemos então, que a divisão entre Geografia Física e Geografia 
Humana pode contribuir para melhor delimitar metodologicamente os objetos de estudo 
e os fenômenos investigados, contudo, devemos lembrar, que a relação e imbricação 
teórica e epistemológica entre ambas, combatendo possíveis hierarquizações, torna-se 
fundamental para análises e interpretações mais completas da realidade pesquisada. 
No tópico 2, buscamos compreender que o conhecimento construído de forma 
fragmentada pela ciência geográfica passou a permitir uma interdisciplinaridade teórica-
metodológica devido aos dilemasexistentes com o seu objeto de estudo primordial, o 
espaço geográfico. Logo, a interdisciplinaridade garante à Geografia uma integração com 
outras disciplinas, que ao estabelecer relações entre um mesmo objetivo de estudo, sem 
pretensões totalizantes, busca compreender os diversos aspectos e variáveis de um 
mesmo objeto de pesquisa. 
 A partir disso, no tópico 3 analisamos a formação da abordagem crítica da 
Geografia, que se desenvolveu especialmente no Brasil com uma notável importância 
para a produção teórica na atualidade. Concluímos então que a corrente crítica, 
encaminhou e segue conduzindo contribuições essenciais à ciência geográfica. No 
período de sua ascensão o mundo vivia a ebulição de um momento de profundas 
contestações e mudanças históricas, condição social que possibilitou seu surgimento, 
 
caracterizando-a a partir de leituras, análises e investigações extremamente críticas ao 
funcionamento desigual dos processos de formação do espaço geográfico. 
Por fim, vimos no tópico 4 que o desmembramento entre Geografia Física e 
Geografia Humana se configurou como a principal divisão dentro da ciência geográfica. 
Pudemos assim compreender as diferentes ramificações operacionais presentes nas 
preocupações e elementos de estudo da Geografia Física, voltados ao relevo, 
vegetação, clima, rios, entre outros agentes naturais, e da Geografia Humana, centrados 
na interação humana com os diversos elementos do meio ambiente. 
Desejo que os conteúdos trabalhados nesta unidade contribuam para seu 
desenvolvimento na compreensão dessa disciplina. 
 
 
 
 
 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
MOREIRA, Ruy. O que é Geografia. São Paulo: Brasiliense, 1980. 
Estrabão, ao criar a geografia no século I, apresentou-a como um saber 
comprometido com a construção de um mundo centrado na felicidade e na vida do 
homem. Desde então, a trajetória histórica da geografia tem trafegado no caminho dessa 
utopia ou do seu esquecimento, às vezes se aproximando daqueles que lutam por esse 
mundo e às vezes dos que se voltam para o extremo oposto, servindo ao diabo quando 
devia servir ao homem. 
Este livro é um estudo dessa trajetória, mostrando os momentos de um e os 
momentos de outro dos dois caminhos que trilhou, com particular atenção nos capítulos 
finais com o seu vínculo com a forma e os problemas da sociedade contemporânea. 
Sinopse oficial do livro disponível em: 
https://www.amazon.com.br/dp/B074JJS76P?ref_=cm_sw_r_kb_dp_DbZ3ybGJMJ3GP
&tag=pc161256-20&linkCode=kpe. Acesso em: 11/04/2021. 
 
 
 
 
LIVRO 
 
• Título: Geografia: pequena história crítica 
• Autor: Antonio Carlos Robert Moraes 
• Editora: Hucitec 
• Sinopse: Neste livro, Antonio Carlos Robert Moraes faz uma retrospectiva da ciência 
geográfica desde seu surgimento, passando por sua sistematização científica, e as 
principais correntes do seu pensamento de acordo com suas próprias definições, objetos 
de pesquisa, premissas teóricas, métodos e contextos históricos de formação e 
estruturação. Segundo o autor, tal obra foi concebida com o objetivo de contribuir com 
reflexões acerca da construção, historicidade e origem das principais correntes dessa 
ciência, em especial, a partir da divisão da Geografia Tradicional e da Geografia 
Moderna. 
 
 
 
 
FILME/VÍDEO 
 
• Título: Viajo porque preciso, volto porque te amo 
• Ano: 2009 
• Sinopse: Apaixonado pela esposa, o geólogo José Renato precisa fazer sozinho uma 
longa viagem pelo sertão nordestino. Longe dela, ele terá que realizar uma pesquisa de 
campo para definir o possível percurso de um canal, que irá amenizar o problema da 
seca na região. Apesar de a construção ser um alívio para muitas populações, pode ser 
um grande problema para aqueles com quem Renato cruza, já que provavelmente a 
região será alagada. Avaliando o terreno, ele percebe na seca e na pobreza daquelas 
pessoas uma sensação parecida com a que está tendo. Apesar de não ter dificuldades 
com a falta de recursos, José Renato sente um grande vazio, pela distância da mulher 
que ama. À medida em que a viagem avança, as saudades ficam cada vez maiores, e a 
distância física dela parece ser o menor dos problemas entre os dois. 
• Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=gperj-foF_0. 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ANDRADE, Manual Correia de. A trajetória de Milton Santos. Jornal do Commercio, 
Recife, 20 e 27 abril., 2003, Seção de Opinião. Disponível em: 
https://www.fundaj.gov.br/images/stories/observanordeste/miltonsantos2.pdf. Acesso 
em: 27/03/2021. 
 
CLEMENTE, Evandro César. Questões teórico-metodológicas da Geografia no limiar do 
século XXI: A questão da problemática na dicotomia Geografia Física X Geografia 
Humana. Revista Formação, v. 1, n. 14, p. 198-200, 2007. Disponível em: 
https://revista.fct.unesp.br/index.php/formacao/article/view/691. Acesso em: 28/03/2021. 
 
CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço, um conceito-chave da geografia. In: CASTRO, I.E. 
de; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R.L. (Org.) Geografia: conceitos e temas. Rio de 
Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. 
 
DANTAS, Eugênia Maria; MORAIS, Ione Rodrigues Diniz; FERNANDES, Maria José da 
Costas. Geografia da População. 2. ed. Natal: EDUFRN, 2011. Disponível em: 
http://bibliotecadigital.sedis.ufrn.br/pdf/geografia/geo_pop_Livro_Iva_WEB.pdf. Acesso 
em: 29/03/2021. 
 
HETTNER, Alfred. Os ramos da geografia e sua relação com as ciências da natureza. 
GEOgraphia (Revista do Programa de Pós-Graduação em Geografia da 
Universidade Federal Fluminense), v. 14, n. 28, p. 138-160, 2012. Disponível em: 
https://periodicos.uff.br/geographia/article/view/13646/8846. Acesso em: 28/03/2021. 
 
LACOSTE, Yves. Geopolitiqué: la longue histoire d’aujourdhui. Paris: Larousse, 2008. 
 
MOURA, Rosa; OLIVEIRA, Deuseles de; LISBOA, Helena dos Santos; FONTOURA, 
Leandro Martins, GERALDI, Juliano. Geografia Crítica: legado histórico ou abordagem 
recorrente?. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de 
Barcelona, Vol. XIII, nº 786, 5 de junio de 2008. Disponível em: 
http://www.ub.es/geocrit/b3w-786.htm. Acesso em: 02/04/2021. 
 
SANSOLO, D. G. A importância do trabalho de campo no ensino de geografia e para 
educação ambiental. São Paulo, 1996. 170 f. Dissertação (Mestrado em Geografia 
Física) – Departamento de Geografia, Universidade de São Paulo. 
 
SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: Da Crítica da Geografia a uma Geografia 
Crítica. 6. ed., 2. reimp. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), 2012. 
 
SILVA, Sérgio Henrique Pinto. Geografia Física e Geografia Humana: uma dicotomia a 
ser superada? Revista Outros Tempos, v. 4, n. 4, p. 40-49, 2007. Disponível em: 
https://uema.openjournalsolutions.com.br/outrostempos/index.php/outros_tempos_uem
a/article/view/411/346. Acesso em: 28/03/2021. 
 
 
SUERTEGARAY, Dirce Maria Antunes. Geografia e interdisciplinaridade. Espaço 
geográfico: interface natureza e sociedade. Geosul, Florianópolis, v. 18, n. 35, p. 43-53, 
2003. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/13601. 
Acesso em: 27/03/2021. 
 
UNIDADE IV 
CATEGORIAS GEOGRÁFICAS 
Professora Esp. Karitta da Silva Lopes 
 
 
Plano de Estudo: 
 
• Leitura do espaço geográfico através das categorias 
• Conceito de território 
• Espaço geográfico 
• Representação do espaço geográfico 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
• Compreender os tipos de leitura a respeito do espaço geográfico através das 
principais categorias e conceitos da Geografia. 
• Conceituar e contextualizar as categorias de território e espaço geográfico 
especificamente. 
• Estabelecer a importância de representações acerca do espaço geográfico para 
a compreensão e apropriação espacial de crianças e jovens. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezada(o) Aluna(o), seja bem vinda(o) a disciplina “Categorias e conceitos 
da Geografia”. É com grande satisfação e estima que te convido a compartilhar 
conhecimentos acerca das bases teóricasdo pensamento geográfico. 
O presente material foi desenvolvido para introduzi-la(o) ao horizonte das 
discussões à respeito da Geografia enquanto ciência, portanto, é destinado à 
estudantes e pesquisadores interessadas(os) em compreender o processo 
histórico de constituição da ciência geográfica, cujo o objetivo é pensar 
epistemologicamente o espaço que vivemos, suas condições naturais, 
modificações territoriais e relações com as práticas e intervenções humanas. 
Durante a trajetória escolar, você certamente cursou Geografia e teve 
contato com diversos conceitos específicos dessa disciplina, como território, 
espaço, lugar e região. A apresentação que você tem em mãos (ou à vista por 
meio de arquivos digitais) pretende aprofundar esses conhecimentos, obtidos no 
seu percurso educacional no decorrer do Ensino Básico, à respeito da formação 
do pensamento geográfico e sua consolidação como ciência pertencente às 
Humanidades. 
A Unidade 4 “Categorias Geográficas” é composta por quatro tópicos que 
correspondem à um plano de estudo estruturado para que você possa obter 
conhecimento acerca da leitura do espaço geográfico por meio das principais 
categorias e conceitos da Geografia, do conceito de território e espaço geográfico 
de forma mais específica e aprofundada e, por fim, da representação do espaço 
geográfico. 
Almejamos que esta unidade possa contribuir com sua aprendizagem, com 
a expansão do seu pensamento crítico e com o aprimoramento de suas 
habilidades cognitivas e investigativas em Geografia. 
 
 
Bons estudos! 
 
 
1 LEITURA DO ESPAÇO GEOGRÁFICO ATRAVÉS DAS CATEGORIAS 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/open-book-low-poly-vector-
illustration-1472608841 
 
Prezada (o) aluna (o), compreender a complexa realidade do mundo em que 
vivemos, é um esforço de diversas áreas do conhecimento científico. Diante disso, 
podemos então questionar: de que maneira a Geografia contribui para a leitura da 
realidade em que vivemos e nos encontramos inseridos? 
Durante a disciplina em curso, enfatizamos a necessidade de nos atentar ao fato 
de que a Geografia se depara com a importante responsabilidade de investigar o espaço 
geográfico como uma ampla categoria capaz de assimilar a realidade existente, 
transformando-o em objeto de análise principal de seu labor científico. A partir dessa 
premissa, compreendemos que o conhecimento geográfico se atenta “ao estudo do meio 
como resultante da ação do sujeito social responsável pela construção do lugar, da 
paisagem e do território” (GIOMETTI; PITTON; ORTIGOZA, 2012, p. 33). 
 Tais categorias supracitadas, precisam ser examinadas em suas correlações, 
imbricações e diferenciações, inerentes às características e dinâmicas do espaço 
geográfico, que além de compor a categoria principal da Geografia é construído, 
desconstruído e reconstruído ao longo da história dessa ciência, como vimos no 
desenvolver das unidades anteriores. Neste sentido, trabalharemos no presente tópico 
a leitura do espaço geográfico através das categorias de lugar e paisagem, 
encaminhando para os próximos tópicos uma ampliação da discussão ao analisarmos, 
especificamente, o conceito de território e espaço geográfico. 
 
1.1 Categoria de Lugar 
 
 A fim de compreendermos o lugar como uma categoria de análise do espaço 
geográfico, é necessário nos ater ao fato de que esse conceito esteve sempre presente 
nos estudos e pesquisas geográficas, sendo amplamente modificado em diferentes 
épocas e transformado de acordo com diferentes contextos históricos. 
 
 
Por muito tempo, a Geografia tratou o lugar com uma expressão do 
espaço geográfico sob uma dimensão pontual (localização espacial 
absoluta). Para ultrapassar esta ideia, a discussão de lugar tem sido 
realizada sob duas acepções: lugar e experiência, e lugar e singularidade 
(GIOMETTI; PITTON; ORTIGOZA, 2012, p. 35). 
 
Corroborando com as autoras e partindo de ambas acepções propostas pelas 
mesmas, o lugar de experiência torna-se caracterizado, sobretudo, por meio do 
reconhecimento e da valorização das relações afetivas desenvolvidas por sujeitos e 
grupos sociais com o meio ambiente. Desse modo, o lugar resulta de sentidos 
construídos pelas vivências individuais e coletivas e por referenciais afetuosos 
elaborados no decorrer dessas vivências. 
Por outro lado, o lugar de singularidade é qualificado por características históricas 
e culturais inerentes ao seu processo de formação e transformação, como também, por 
expressões advindas da globalidade. Assim, o conceito de lugar parte de uma 
perspectiva histórica relacionada com experiências do cotidiano, diariamente, 
manifestadas na superfície vivida. 
Em razão disto, podemos compreender o lugar como uma categoria que se 
diferencia conceitualmente do espaço, de modo que lugar representa algo particular, 
reservado e socializado, já o espaço, por sua vez, representa algo amplo e exterior, onde 
o lugar se encontra inserido. “Lugar significa muito mais que o sentido geográfico de 
localização. Não se refere a objetos e atributos das localizações, mas a tipos de 
experiências e envolvimento com o mundo, a necessidade de raízes e segurança” 
(RELPH, 1979, p. 156). 
Ao conceber e englobar espaços em que estabelecemos vínculos sociais afetivos, 
o lugar encontra referências particulares e valores que conduzem diversas maneiras de 
captar e edificar o espaço geográfico. Segundo a autora Ana Fani Alessandri Carlos 
(1996), pensar o lugar: 
 
Significa pensar a história particular (de cada lugar), se desenvolvendo, 
ou melhor, se realizando em função de uma 
cultura/tradição/língua/hábitos que lhe são próprios, construídos ao longo 
da história e o que vem de fora, isto é, que se vai construindo e se 
 
impondo como consequência do processo de constituição mundial. 
(CARLOS, 1996, p. 20). 
 
Diante das definições conceituais apresentadas, o conceito de lugar, na 
perspectiva da ciência geográfica, nos conduzem a consciência de viver o espaço, “onde 
estão inseridas suas necessidades existenciais, suas interações com os objetos e as 
pessoas, suas histórias de vida” (GIOMETTI; PITTON; ORTIGOZA, 2012, p. 36). Logo, 
o lugar pode ser compreendido pela ótica das percepções emotivas e por meio do 
compartilhamento cotidiano das dinâmicas e experiências afetivas entre populações e 
organizações institucionais. 
 
1.2 Categoria de Paisagem 
 
Semelhante ao conceito de lugar, apresentado anteriormente, o conceito de 
paisagem compõe uma categoria com definição específica para os estudos em 
Geografia, que ao longo dos anos teve inúmeras modificações e novos sentidos a partir 
das sistematizações do conhecimento geográfico. 
O caminho de assimilação do conceito paisagem está na maneira de interpretá-
lo, visto que, anteriormente, pautava-se somente no relato experienciado através da 
observação dos elementos que compõe o espaço e, atualmente, é acrescentado de 
“relações e conjunções de elementos naturais e tecnificados, socioeconômicos e 
culturais”. (GIOMETTI; PITTON; ORTIGOZA, 2012, p. 36). 
Ao ser assimilada como resultado histórico e social, a paisagem acaba por 
delinear as sociedades que a desenvolveu e ainda desenvolve, ajustando-se ao 
passado, presente e direcionando ao futuro, em uma coexistência de diferentes períodos 
históricos. 
Como apontam as autoras Giometti, Pitton e Ortigoza (2012), utilizando das 
contribuições do geógrafo francês Paul Vidal de La Blache, a paisagem é aquilo que “[...] 
o olho abarca com o olhar” (p. 36). Portanto, a paisagem é marcada pelo visível e pelo 
material, no entanto, ela não se configura de forma estática, pois está em constante 
processo de transformação e mutação, muitas vezes, caracterizado por grandes conflitos 
socioambientais. 
 
A partir dos seus múltiplos componentes e elementos, as paisagens podem ser 
classificadas como naturais, referindo àquelas que tiverampouca ou nenhuma 
interferência da ação humana, e culturais ou antrópicas, referindo àquelas resultantes 
das transformações proporcionadas pela atividade humana. 
 
A paisagem é um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais; é 
formada por frações de ambas, seja quanto ao tamanho, volume, cor, 
utilidade, ou por qualquer outro critério. A paisagem é sempre 
heterogênea. A vida em sociedade supõe uma multiplicidade de funções 
e quanto maior o número destas, maior a diversidade de formas e de 
atores. Quanto mais complexa a vida social, tanto mais nos distanciamos 
de um mundo natural e nos endereçamos a um mundo artificial. 
(SANTOS, 2014, p. 71). 
 
Neste sentido, a paisagem passa a depender da cultura dos indivíduos que a 
percebem e a constituem, tornando-se assim, um produto cultural resultado da relação 
entre meio ambiente e da atividade humana. Devido ao papel imprescindível que o 
aspecto cultural vem desempenhando na influência do comportamento das pessoas, as 
paisagens passaram a apresentar marcas culturais na sua configuração e a receber 
identidade particulares. 
Em razão disto, podemos afirmar que a problemática ambiental moderna está 
diretamente conectada às questões e interações culturais, pois devem considerar as 
diferentes ações dos grupos humanos na paisagem. Logo, a mutação da paisagem pelo 
homem representa um dos elementos centrais de sua formação. 
Por fim, é importante ressaltarmos que as categorias de paisagem e território, 
possuem uma relação de proximidade, visto que a paisagem pode ser compreendida e 
definida como “uma unidade visível do território. Dito de outro modo, no território tem-se 
um conjunto de paisagens contidas nos limites político-administrativos, como por 
exemplo: cidade, estado e país” (GIOMETTI; PITTON; ORTIGOZA, 2012, p. 37). 
No tópico a seguir, estudaremos de forma mais específica o conceito de território, 
outra importante categoria analítica para a disciplina de Geografia e para os processos 
de seu labor científico e epistemológico. 
 
2 CONCEITO DE TERRITÓRIO 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/triple-frontier-triborder-area-
between-paraguay-1738754657 
 
Prezada (o) aluna (o), vimos no tópico anterior que as conceitos de paisagem e 
território possuem uma proximidade relacional e analítica, visto que a paisagem pode ser 
entendida como uma categoria geográfica visível e material que se encontra no interior 
do território. Neste tópico, buscamos evidenciar e especificar as características que 
formam a categoria de território, qualificando-a como imprescindível para as pesquisas 
em Geografia. 
A produção acerca do conceito de território tem como pilar as conexões entre 
fatores econômicos, políticos e sociais que influenciam o gerenciamento do espaço. 
Posto isso, podemos compreender que a demarcação de um território está atrelada a 
junção de poder e o exercício de controle em um determinado espaço. O território, 
apresenta-se assim, como uma parte consistente do espaço geográfico, no qual são 
ressaltadas as divergências de conjunturas ambientais e de existências das populações. 
 
O território é fonte de recursos e só assim pode ser compreendido quando 
enfocado em sua relação com a sociedade e suas relações de produção, 
o que pode ser identificado pela indústria, pela agricultura, pela 
mineração, pela circulação de mercadorias etc., ou seja, pelas diferentes 
maneiras que a sociedade se utiliza para se apropriar e transformar a 
natureza (SPOSITO, 2004, p. 112-113). 
 
A complexidade de compreender a definição de território está atrelada a utilização 
diversificada da mesma, pois acaba por expressar as diferenças culturais que alcançam 
na produção do território e na autenticação de suas singularidades. A análise do 
processo de produção dos diferentes territórios deve atribuir ênfase ao homem como 
sujeito produtor do espaço, contemplando e sofrendo influência com aspectos sociais, 
culturais, econômicos, políticos e os seus respectivos princípios. 
 
No decorrer da história do pensamento geográfico, o território ganha 
diferentes tipos de abordagens, desde a representação de uma parcela 
 
do espaço, identificada pela posse e definida pela apropriação, até o 
importante papel dado à dominação. Ou seja, o território é dominado por 
uma comunidade ou por um Estado. A conotação política também ganha 
força nos estudos de Geopolítica (território = espaço nacional), 
significando área controlada por um Estado Nacional. O conceito de 
território se alarga permitindo explicar muitos fenômenos geográficos 
relacionados à organização da sociedade e suas interações com as 
paisagens. (GIOMETTI; PITTON; ORTIGOZA, 2012, p. 38). 
 
 Uma importante contribuição para a elaboração do conceito pelo prisma 
geográfico, é apontada pelo geógrafo e filósofo Eliseu Sposito, para o autor a categoria 
de território, 
 
Refere-se ao estabelecimento de redes de informação que, com o rápido 
desenvolvimento tecnológico, permitem a disseminação de informações 
em frações de tempo, tornando-se significativas por romperem com a 
barreira da distância-elemento fundamental para a apreensão do território 
em sua escala individual. Dessa maneira, os territórios perdem fronteiras, 
mudam de tamanho dependendo do domínio tecnológico de um grupo ou 
de uma nação, e mudam, consequentemente, sua configuração 
geográfica. (SPOSITO, 2004, p. 114). 
 
Para analisar o território, não podemos deixar de nos ater, portanto, a sua 
dinâmica social, visto que se configura como um dos alicerces geopolíticos que sustenta 
a continuidade das relações humanas. Outra premissa que integra os estudos do 
território é o fato de examiná-lo enquanto uma manifestação da ação política, porém, 
sem hierarquizar a sua dimensão política em detrimento da sua dinâmica social. 
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia, 
documento oficial elaborado para orientar os profissionais da Educação por meio da 
normatização de alguns conceitos e aspectos referentes à disciplina de Geografia no 
Ensino Básico, a conceituação de território está ligada à formação econômica e social 
de uma nação. “Nesse sentido, é o trabalho social que qualifica o espaço, gerando o 
território. Território não é apenas a configuração política de um Estado-Nação, mas sim 
o espaço construído pela formação social (BRASIL, 2000, p. 111). 
 
Logo, o significado do conceito de território se encontra ligado à demarcação de 
espaços delimitados, definidos, geralmente, a partir de fronteiras, visíveis ou não, 
 
formadas e motivadas por interesses sociais, políticos, econômicos, culturais, religiosos 
e geográficos, os quais podem ser transformados de acordo com dinâmicas sociais que 
produzem novos interesses e relações de poder. Tais demarcações ocorrem tanto 
naturalmente, promovidas pelo meio ambiente, quanto socialmente, desenvolvidas pela 
ação humana devido às razões citadas acima. 
 
Seja qual for o país e o estágio do seu desenvolvimento, há sempre nele 
uma configuração territorial formada pela constelação de recursos 
naturais, lagos, rios, planícies, montanhas e florestas e também de 
recursos criados: estradas de ferro e de rodagem, condutos de toda 
ordem, barragens, açudes, cidades, o que for. É esse conjunto de todas 
as coisas arranjadas em sistema que forma a configuração territorial cuja 
realidade e extensão se confundem com o próprio território de um país. 
Tipos de floresta, de solo, de clima, de escoamento, são 
interdependentes, como também o são as coisas que o homem superpõe 
a natureza. Aliás, a interdependência se complica e completa justamente 
porque ela se dá entre as coisas que chamamos de naturais e as que 
chamamos de artificiais (SANTOS, 2014, p. 84). 
 
Para concluir, corroboramos que a divisão de territórios, em especial, a partir da 
consolidação do Estado como instituição que normatiza formas de controle social, torna-
seimportante para a ocupação e distribuição humana, pois regula áreas administrativas 
de organização política, instituindo marcadores em determinada área por um 
determinado código cultural. 
Diante disso, podemos concluir que o território nos possibilita compreender as 
relações sociais engendradas no transcorrer dos tempos históricos, amparando uma 
dinâmica do espaço que está em constante reformulação. Alguns exemplos de território: 
o Estado, as fronteiras que limitam países, regiões, estados, cidades, bairros e favelas, 
o narcotráfico, as zonas de guerra, etc. 
 
3 ESPAÇO GEOGRÁFICO 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/green-city-future-harmony-
nature-sunny-527724742 
 
Estimada (o) aluna (o), vimos do decorrer dos tópicos anteriores categorias 
geográficas de grande relevância para os nossos estudos e para o processo de produção 
científica da Geografia, isto é, os conceitos e definições de lugar, paisagem e território. 
No presente tópico, iremos tratar, especificamente, da categoria central dessa ciência, 
ou seja, o espaço geográfico, objeto de pesquisa que protagoniza as investigações em 
Geografia. 
De acordo com o geógrafo brasileiro Milton Santos (1996), o espaço é constituído 
por “um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos 
e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual 
a história se dá” (p. 63). Para o autor, a natureza é o início, ela provê a matéria-prima as 
quais são transformadas em objetos pela ação humana através da técnica, isto é, “a 
principal forma de relação entre o homem e a natureza”, definida como “um conjunto de 
meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao 
mesmo tempo, cria espaço” (SANTOS, 1996, p. 29). 
À vista disto, para a ciência geográfica, o espaço pode ser entendido como a parte 
da superfície da Terra onde ocorrem as interações entre o ser humano e o ambiente 
natural, podendo ser interpretado e dinamizado a partir de ações e práticas humanas, 
que por sua vez, são impulsionadas pela natureza, se dando em uma relação circular de 
influências mútuas. 
Milton Santos (1996) pontua que apesar de recíproca, as relação entre sociedade 
e natureza são marcadas, muitas vezes, por extremas assimetrias, desigualdades e 
violências, pois 
 
No princípio, tudo eram coisas, enquanto hoje tudo tende a ser objeto, já 
que as próprias coisas, dádivas da natureza, quando utilizadas pelos 
homens a partir de um conjunto de intenções sociais, passam, também, 
a ser objetos (SANTOS, 1996, p. 65). 
 
 
Desta forma, o espaço geográfico torna-se resultado da ação humana sobre o 
próprio espaço, intermediados por tais objetos, que podem ser caracterizados tanto 
naturalmente quanto artificialmente. Os objetos naturais e artificiais, apresentados por 
Milton Santos, são estabelecidos pela configuração espacial, expressa pelo arranjo do 
território em acordo com elementos utilizados socialmente. Como aponta o autor, tais 
elementos podem ser exemplificados por meio de 
 
Plantações, canais, caminhos, portos e aeroportos, redes de 
comunicação, prédios residenciais, comerciais e industriais etc. A cada 
momento histórico, varia o arranjo desses objetos sobre o território. O 
conjunto de objetos criados forma o meio técnico, sobre o qual se baseia 
a produção, que evolui em função desta (SANTOS, 2014, p. 120). 
 
Neste sentido, o estudo do conceito de espaço geográfico nos possibilita a 
compreensão da nossa organização social no presente, que se deu a partir de 
transformações históricas, ocorridas durantes os séculos, e que permitiram a existência 
e continuidade da humanidade hoje e, quiçá, no futuro. Conforme o ser humano interfere 
na natureza de determinado lugar, ele gera e promove o espaço geográfico. 
A partir do entendimento que o espaço geográfico é produzido através da ação 
humana, balizado pela organização social e econômica da sociedade no decorrer do 
tempo histórico, podemos afirmar que 
 
O espaço geográfico como objeto de estudo vai além da dinâmica do 
espaço físico e, hoje, o grande desafio que se coloca é compreender a 
inter-relação entre sociedade e natureza. Esta categoria deve ser 
analisada, transformada, criada e produzida pela sociedade à medida que 
o Homem se apropria da natureza, que guarda a especificidade de ser 
permanentemente (re)elaborada pelo fazer humano (GIOMETTI; 
PITTON; ORTIGOZA, 2012, p. 34). 
 
 Com isso, o espaço geográfico pode ser compreendido como um conjunto prático 
de atividades que correlacionam fatores socioeconômicos, políticos, culturais, históricos 
e naturais. 
 
No conceito de espaço geográfico está implícita a ideia de articulação 
entre natureza e sociedade. Na busca desta articulação, a Geografia tem 
que trabalhar, de um lado, com os elementos e atributos naturais, 
 
procurando não só descrevê-los, mas entender as interações existentes 
entre eles; e de outro, verificar a maneira pela qual a sociedade está 
administrando e interferindo nos sistemas naturais. Para perceber a ação 
da sociedade é necessário adentrar em sua estrutura social, procurando 
apreender o seu modo de produção e as relações socioeconômicas 
vigentes (GIOMETTI; PITTON; ORTIGOZA, 2012, p. 34). 
 
Logo, estudar a ciência geográfica e suas categorias, nos possibilitam criar uma 
consciência específica para compreender as ações e intervenções humanas como 
transformadores ativos do meio ambiente, capazes de modificar constantemente o 
espaço geográfico. 
Diante do explanado até o momento, a compreensão da realidade por meio da 
abordagem geográfica, estruturada de acordo com as variadas categorias analíticas, 
deve ser indicada como um contínuo processo de elaboração de como essa realidade é 
vivenciada e percebida, tornando esse conhecimento complexo e inesgotável fonte de 
conhecimento para a compreensão da realidade que estamos inseridos. 
 
 
4 REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/pupils-study-classroom-
school-interior-education-1038587968 
 
De acordo com o que estudamos e discutimos durante toda a unidade, podemos 
perceber a complexidade conceitual e analítica que envolve definir e caracterizar o 
espaço geográfico, um dos principais objetos de estudo e pesquisa da Geografia. Tal 
complexidade é, ainda, multiplicada ao pensarmos na apropriação do conceito de espaço 
geográfico por alunos e alunas do Ensino Básico através das aulas de Geografia na 
escola. 
Logo, abordarmos formas de representação do espaço geográfico torna-se de 
grande relevância à estudantes de licenciatura em Geografia, ou seja, à professores de 
Geografia em formação, pois ao tratarmos desse conceito em sala de aula, 
possibilitamos o desenvolvimento do raciocínio geográfico e da aprendizagem de nossos 
alunos e alunas acerca da realidade em que se encontram inseridos/as. 
 
É na escola que deve ocorrer a aprendizagem espacial voltada para a 
compreensão das formas pelas quais a sociedade organiza seu espaço 
– o que só será plenamente possível com o uso de representações 
formais (ou convencionais) desse espaço (ALMEIDA; PASSINY, 2009, p. 
11). 
 
Segundo as autoras Rosângela P. de Almeida e Elza Y. Passiny, ao introduzir o 
conceito de espaço geográfico em suas aulas, os professores podem iniciar com análises 
acerca do espaço mais próximo ao estudante, todavia, nunca de forma isolada, sempre 
acompanhada de instâncias geograficamente e historicamente distantes aos mesmos, 
para que o/a jovem extraia elementos espaciais e temporais das explicações e, a partir 
disso, reflita a respeito dos processos de construção das categorias geográficas e suas 
respectivas especificidades científicas. Logo, analogias e comparações referentes à 
proximidade e distância espacial configura-se com uma forma de representação do 
espaço geográfico. 
 
 Umadas representações da categoria em destaque mais utilizadas por escolas 
e instituições de ensino, no geral, como também, pela mídia e afins, é a representação 
do espaço geográfico por meio de mapas. O mapa cumpre a função de sistematizar 
símbolos e sentidos que proporcionam a utilização de recursos externos à memória, com 
um significativo poder de sintetização e representação ao materializar noções espaciais. 
 
Ressaltamos, no entanto, que a localização, ou mesmo o mapeamento 
dos aspectos observados, não encerra uma análise geográfica, ao 
contrário, marca seu início. Essa análise ocorre quando o aluno se 
reporta ao processo de produção do espaço e o confronta com a 
configuração espacial do mapa. Ora, a compreensão do mapa por si 
mesma já traz uma mudança qualitativamente superior na capacidade do 
aluno pensar o espaço (ALMEIDA; PASSINY, 2009, p. 13). 
 
Entretanto, as autoras destacam que esse desenvolvimento cognitivo do 
pensamento geográfico ocorre a partir de participações ativas no processo de ensino e 
aprendizagem. Dessa forma, a construção do conhecimento em Geografia deve 
funcionar como uma rua de mão dupla, pois se o/a estudante precisa participar 
ativamente da construção desse conhecimento, o/a professor/a, por sua vez, necessita 
socializar esse conhecimento com os alunos e alunas através de métodos e respostas 
que não são dadas ou prontas, e sim, construídas de forma conjunta. 
De acordo com a psicogênese, área de pesquisa citada pelas autoras, a noção 
espacial passar por etapas próprias do desenvolvimento geral da criança/jovem na 
construção do seu conhecimento, sendo elas: o espaço vivido, o espaço percebido e 
espaço concebido. 
O espaço vivido retrataria o espaço físico experienciado por meio do movimento 
e do deslocamento, muitas vezes, materializado pela ação e noção corporal da pessoa. 
“Daí a importância de exercícios rítmicos e psicomotores para que ela explore com o 
próprio corpo as dimensões e relações espaciais” (ALMEIDA; PASSINY, 2009, p. 26). 
Já o espaço percebido não teria a necessidade de ser experienciado ou testado 
fisicamente/empiricamente, pois a criança/jovem passaria a identificar espaços, 
distâncias e percursos e a desenvolver esquemas mentais por meio de observações 
contínuas e sistemáticas. 
 
Por fim, o espaço concebido é caracterizado pela criação de condições cognitivas 
para que sejam estabelecidas relações espaciais entre elementos somente por meio de 
sua representação, ou seja, pelo desenvolvimento de habilidades como compreender e 
pensar sobre a área ou região tratada em um mapa sem, antes, ter estado ou visto ela. 
A partir dessas noções de espaço, podemos entender que 
 
[...] o professor deve levar o aluno a estender os conceitos adquiridos 
sobre o espaço, localizando-se e localizando elementos em espaços 
cada vez mais distantes e, portanto, desconhecidos. A apreensão desses 
espaços é possível, como foi visto, através de sua representação gráfica, 
a qual envolve uma linguagem própria – a da cartografia –, que a criança 
deve começar a conhecer. Cabe, pois, ao professor introduzir essa 
linguagem e através do trabalho pedagógico, levar o aluno à penetração 
cada vez mais profunda na estruturação e extensão do espaço a nível de 
sua concepção e representação (ALMEIDA; PASSINY, 2009, p. 27). 
 
A fim de desenvolvermos formas de representação do espaço geográfico, 
necessitamos refletir sobre o fato de cada categoria da Geografia possuir múltiplas 
acepções e, consequentemente, receber diferentes elementos que fazem com que tais 
definições não sejam fixas, imutáveis ou cristalizadas, pelo contrário, são definições 
flexíveis e que permite transformações e mudanças, inerentes às ciências que se 
preocupam com o agir e pensar humano. 
Logo, tal premissa revela que os conceitos da Geografia, como o espaço 
geográfico do qual temos atribuído protagonismo neste tópico, têm diferentes 
significados ao longo da história e das transformações teóricas e epistemológicas da 
ciência geográfica. Em razão disso, as representações acerca do espaço geográfico, em 
especial, por meio do ensino de Geografia nas escolas, também recebem diferentes 
sentidos e significados historicamente estipulados e definidos. 
Segundo Almeida e Passiny (2009), uma educação que promova o domínio 
cognitivo e a representação do espaço de forma plena e comprometida com a ciência 
geográfica, torna-se tão importante e necessária quanto a aprendizagem das habilidades 
de escrita e do raciocínio matemático. 
 
O desenvolvimento da noção de espaço e sua representação não surge 
em função das tarefas dadas em sala de aula [...] o professor pode de 
 
maneira indireta estimular o estabelecimento de todos os tipos de 
relações espaciais entre os objetos em diversos momentos (ALMEIDA; 
PASSINY, 2009, p. 90). 
 
Por fim, corroboramos que é por meio de ações cotidianas e autorreflexões à 
respeito do próprio espaço que se encontra inserido/a, que indivíduos poderão construir 
e desenvolver uma abstração cognitiva acerca da concepção do espaço e sua 
organização e, dessa forma, pensar geograficamente o espaço, como também, outras 
categorias e conceitos da Geografia. Com isso, a compreensão de categorias 
geográficas através de representações, pode possibilitar o aprimoramento dos 
pensamentos geográficos e, consequentemente, das investigações e pesquisas em 
Geografia. 
 
 
 
SAIBA MAIS 
 
Você sabia que durante o período da ditadura militar, que se estabeleceu no Brasil de 
1964 a 1985, as disciplinas de Geografia e História foram excluídas da matriz curricular 
e transformadas em uma única disciplina? 
Visando eliminar o pensamento crítico da matriz curricular nacional, e formar indivíduos 
controlados pela nova ordem social, as disciplinas de História e Geografia foram 
transformadas em Educação Moral e Cívica. Essa ação foi um reflexo da censura 
imposta aos professores da época e uma das estratégias do regime para manter o 
domínio em todas as esferas da vida social, econômica, política, cultural e educacional, 
contribuindo para a manutenção do regime por mais de 20 anos. 
 
REFLITA 
 
A partir da citação de Milton Santos, reflita acerca das práticas docentes que você segue 
ou quer seguir? Elas são constantemente renovadas de acordo com o tempo histórico 
ou são apenas para cumprir uma agenda formatada? 
 
A educação corrente e formal, simplificadora das realidades do mundo, 
subordinada à lógica dos negócios, subserviente às noções de sucesso, 
ensina um humanismo sem coragem, mais destinado a ser um corpo de 
doutrina independente do mundo real que nos cerca, condenado a ser 
um humanismo silente, ultrapassado, incapaz de atingir uma visão 
sintética das coisas que existem, quando o humanismo verdadeiro tem 
de ser constantemente renovado, para não ser conformista e poder dar 
resposta às aspirações efetivas da sociedade, necessárias ao trabalho 
permanente de recomposição do homem livre, para que ele se ponha à 
altura do seu tempo histórico (SANTOS, 2002, p. 42). 
 
Fonte: SANTOS, Milton. Espaço do Cidadão. São Paulo: Edusp, 2002. 
 
#REFLITA# 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Cara(o) Aluna(o), durante o desenvolvimento da presente unidade, tivemos como 
objetivo aprofundar nossos conhecimentos à respeito da leitura do espaço geográfico 
através das categorias e conceitos da Geografia, como também, das representações do 
mesmo ao atribuir ênfase para o ensino escolar da disciplina de Geografia à crianças e 
jovens. 
No tópico 1, buscamos compreender tipos de leitura do espaço geográfico ao nos 
concentrarmos nas categorias de lugar e paisagem. As categorias geográficas 
destacadas, precisam ser examinadas em suas correlações, imbricações e 
diferenciações, inerentes às características e dinâmicas do espaço geográfico, que além 
de compor a categoria principal da Geografia é construído, desconstruído e reconstruído 
ao longo da história dessaciência, como vimos no desenvolver das unidades anteriores. 
Nos tópicos seguintes, o 2 e o 3, encaminhamos os estudos para uma ampliação 
da discussão ao analisarmos de forma específica o conceito de território e espaço 
geográfico, respectivamente. 
Referente à categoria de território, buscamos evidenciar e especificar as 
características que a formam e a qualificam como imprescindível para as pesquisas em 
Geografia. Vimos que a produção acerca do conceito de território tem como pilar as 
conexões entre fatores econômicos, políticos e sociais que influenciam o gerenciamento 
do espaço. Posto isso, buscamos compreender que a demarcação de um território está 
atrelada a junção de poder e o exercício de controle em um determinado espaço, 
apresentando-se assim, como uma parte consistente do espaço geográfico, no qual são 
ressaltadas as divergências de conjunturas ambientais e de existências das populações. 
Já em relação à categoria de espaço geográfico, objeto de pesquisa que 
protagoniza as investigações em Geografia, tivemos o objetivo de conceituá-la e 
contextualizá-la. A partir das discussões, aprendemos que para a ciência geográfica o 
espaço pode ser entendido como a parte da superfície da Terra onde ocorrem as 
interações entre o ser humano e o ambiente natural, podendo ser interpretado e 
dinamizado a partir de ações e práticas humanas, que por sua vez, são impulsionadas 
pela natureza, se dando em uma relação circular de influências mútuas. 
 
Por fim, no tópico 4, estabelecemos a importância de representações acerca do 
espaço geográfico para a compreensão e apropriação espacial de crianças e jovens. 
Logo, vimos que formas de representação do espaço geográfico torna-se de grande 
relevância à estudantes de licenciatura em Geografia, ou seja, à professores de 
Geografia em formação, pois ao tratarmos desse conceito em sala de aula, 
possibilitamos o desenvolvimento do raciocínio geográfico e da aprendizagem de nossos 
alunos e alunas acerca da realidade em que se encontram inseridos/as. 
É a partir das discussões que compuseram a presente a unidade que concluímos 
nosso passeio por alguns aspectos e debates acerca de categorias e conceitos 
imprescindíveis para a ciência e o pensamento geográfico. Bons estudos! 
 
 
 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
Resumo do artigo indicado: O objetivo deste artigo é analisar o contexto sócio-histórico 
de desenvolvimento da chamada Geografia Crítica brasileira. Tal movimento insere-se 
no momento da ditadura civil-militar, um período de autoritarismo e repressão política, 
social e intelectual. O questionamento que move essa reflexão, portanto, se deu no 
sentido de compreender como um pensamento crítico – a Geografia Crítica - se fortalece 
e prolifera em um momento de repressão. Para tanto, trataremos do processo de 
modernização autoritária que o regime militar implementou, com especial interesse na 
modernização do ensino superior e consequências para a Universidade de São Paulo 
(USP), mais especificamente para a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 
(FFLCH). A intenção é compreender as possíveis relações entre tal contexto e a 
elaboração de novos temas e problemáticas na ciência geográfica, a partir dos sujeitos 
diretamente envolvidos nessa elaboração: os estudantes de graduação e pós-graduação 
em Geografia à época. 
 
VERDI, E. F. Pensar radicalmente sob a repressão: a geografia crítica brasileira no 
contexto da ditadura civil-militar. GEOUSP Espaço e Tempo (Online), [S. l.], v. 22, n. 3, 
p. 539-558, 2018. DOI: 10.11606/issn.2179-0892.geousp.2018.152423. Disponível em: 
https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/152423. Acesso em: 18 abr. 2021. 
 
 
 
 
 
 
 
LIVRO 
 
• Título: Pelo Espaço – Uma nova política da espacialidade 
• Autor: Doreen Massey 
• Editora: Bertrand Brasil 
• Sinopse: Apresentando apaixonado debate para a revitalização do modo como 
imaginamos o espaço, Doreen Massey, ganhadora do mais importante prêmio mundial 
da geografia, utiliza em Pelo espaço alguns pressupostos tradicionais da filosofia e 
algumas formas conhecidas de caracterizar o mundo do século XXI, e, a partir daí, 
mostra como limitam nossa compreensão, tanto do desafio quanto da potencialidade do 
espaço. O modo como pensamos o espaço é importante. Muda nossa compreensão do 
mundo, nossas atitudes para com os outros, nossas políticas. Afeta, por exemplo, a 
forma como entendemos a globalização, o modo como abordamos as cidades, a maneira 
como desenvolvemos e praticamos um sentido de lugar. Se o tempo é a dimensão da 
mudança, então o espaço é a dimensão do social: a coexistência contemporânea de 
outros. Esse é seu desafio, que tem sido, constantemente, evitado. Pelo espaço segue 
essa discussão através do engajamento filosófico e teórico, e também da manifestação 
 
de reflexões pessoais e políticas. Doreen Massey levanta questões como: qual a melhor 
forma de caracterizar esses tempos ditos espaciais, de que maneira esses pressupostos 
espaciais implícitos moldam nossas políticas e como poderíamos desenvolver a 
responsabilidade pelo lugar para além do lugar.“O argumento fundamental deste livro é 
que importa o modo como pensamos o espaço”, afirma a autora. “O espaço é uma 
dimensão implícita que molda nossas cosmologias estruturantes. Ele modula nossos 
entendimentos do mundo, nossas atitudes frente aos outros, nossa política. Afeta o modo 
como entendemos a globalização, como abordamos as cidades e desenvolvemos e 
praticamos um sentido de lugar. Se o tempo é a dimensão da mudança, então o espaço 
é a dimensão do social: da coexistência contemporânea de outros. E isso é ao mesmo 
tempo um prazer e um desafio.” Pelo espaço, de Doreen Massey, é leitura essencial para 
todos que se interessam pelo espaço e pela virada espacial nas ciências sociais e 
humanas. Sério, mas às vezes irreverente, é um manifesto que se faz necessário, que 
nos obriga a reimaginar espaços para esta época e enfrentar seus desafios. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILME/VÍDEO 
 
• Título: Documentário: Encontro com Milton Santos - O mundo global visto do lado de 
cá 
• Ano: 2006 
• Sinopse: O documentário “Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do 
Lado de Cá” procura analisar as contradições e os paradoxos deste modelo econômico 
e cultural chamado globalização. A linha geral do documentário é a entrevista com 
geógrafo baiano Milton Santos que se debruça sobre questões como: globalização, 
sociedade de consumo, território, as desigualdades da globalização e crises que esta 
promove, as barreiras físicas e simbólicas impostas pelo capitalismo como efeito da 
globalização e o papel da grande mídia como intermediária desta relação. 
Ao longo do documentário são apresentados diversos episódios em que a os efeitos da 
globalização são evidenciados com maior clareza como, por exemplo, a tentativa de 
privatização da água potável em Cochabamba, Bolívia, em 2000, que gerou uma forte 
onda de protestos. Trata-se de um ótimo documentário para se refletir não só sobre 
questões relativas à globalização, mas, também, para refletir sobre conceitos como 
capitalismo, território, sociedade de consumo, etc. 
 
• Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=ifZ7PNTazgY. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ALMEIDA, Rosângela P. de; PASSINY, Elza Y. Espaço Geográfico: ensino e 
representação. São Paulo: Contexto, 2009. Disponível em: plataforma.bvirtual.com.br. 
Acesso em: 12/04/2021. 
 
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: 
primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental: Caracterização da Área de 
Geografia. Brasília: MEC/SEF, 2000. 
 
CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do Mundo. São Paulo: HUCITEC, 1996. 
 
GIOMETTI, Analúcia Bueno dos Reis; PITTON, Sandra Elisa Contri; ORTIGOZA, Silvia 
Aparecida Guarnieri. Leitura do espaço geográfico através das categorias: lugar, 
paisageme território. Conteúdos e didática de Geografia, vol. 9, Unesp, Bauru-SP, 
2012. Disponível em: 
https://acervodigital.unesp.br/handle/123456789/47175?locale=pt_BR. Acesso em: 
12/04/2021. 
 
RELPH, Zech C. As bases fenomenológicas da geografia. Geografia, n. 4, v. 7, p. 1-
25, 1979. 
 
SANTOS, Milton. A natureza do espaço – Técnica e tempo. Razão e emoção. São 
Paulo: Hucitec, 1996. 
 
SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado: Fundamentos teóricos e 
Metodológicos da geografia. 6. ed. São Paulo: Ed. Edusp, 2014. 
 
SPOSITO, Eliseu S. Geografia e Filosofia: contribuição para o ensino do pensamento 
geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2004. 
 
 
 
 
CONCLUSÃO GERAL 
 
Prezada(o) Aluna(o), 
 
No presente material, destinado aos estudos da disciplina “Categorias e 
Conceitos da Geografia”, tivemos por objetivo apresentar os princípios históricos e 
epistemológicos da Geografia como ciência, algumas das tendências atuais da 
Geografia mundial e Brasileira, diferentes escolas e vertentes teórica-metodológicas 
dos estudos geográficos e conceitos e categorias analíticas fundamentais para as 
investigações em Geografia. 
Na Unidade 1 “Conceitos da Geografia”, composta por quatro tópicos, versamos 
acerca da disciplina de Geografia ao longo da História, do desenvolvimento das 
correntes do pensamento geográfico, das tendências da Geografia mundial e brasileira 
e dos conceitos fundamentais na compreensão do espaço geográfico. 
Já na Unidade 2 “Natureza e Relação Humana”, composta por outros quatro 
tópicos, tratamos de questões sobre a ação humana na natureza e as relações 
estabelecidas entre as mesmas, sobre o impacto da sociedade sobre a natureza e vice 
e versa, e sobre algumas técnicas sustentáveis. 
Ainda, na Unidade 3 “Geografia como ciência”, também composta por quatro 
tópicos, abordamos as divisões da Geografia entre Geografia Humana e Geografia 
Física, as relações entre Geografia e interdisciplinaridade, os princípios da Geografia 
Crítica enquanto uma corrente teórica presente nos estudos geográficos e os diversos 
ramos da Geografia, como a Geomorfologia, Climatologia, Geografia Social e 
Geopolítica, entre outros. 
Por fim, na Unidade 4 “Categorias Geográficas”, integrada por quatro tópicos, 
estudamos à respeito da leitura do espaço geográfico por meio das categorias 
geográficas de lugar e paisagem, do conceito de território e espaço geográfico de 
forma mais específica e aprofundada e, por último, da representação do espaço 
geográfico, em especial, através do ensino de Geografia nas escolas. 
Daqui em diante, almejamos que este material e todas as discussões aqui 
disparadas, possa contribuir com sua aprendizagem, com a expansão do seu 
pensamento crítico e com o aprimoramento de suas habilidades cognitivas e 
investigativas em Geografia. Acreditamos que você possa estar melhor preparado para 
seguir em frente em seus estudos ao desenvolver ainda mais seus conhecimentos 
sobre a ciência geográfica, essencial para refletirmos sobre a vida do planeta Terra, 
diretamente conectada, à nossa própria. 
 
 Até uma próxima oportunidade. Obrigada e se puder, fique em casa!

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