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APOCALIPSE E ESCATOLOGIA AULA 4 Prof. Antonio Carlos da Silva 2 CONVERSA INICIAL Quando se trata de escatologia é ainda mais necessário se dedicar a um estudo sistemático para interpretar com segurança. As regras hermenêuticas vêm sendo aperfeiçoadas continuamente e, na atualidade, há melhores recursos, como dicionários, comentários, documentários, avanços na arqueologia, melhor acesso às línguas originais e interação interdisciplinar, entre outros aspectos para obtermos uma melhor compreensão. TEMA 1 – EXEGESE E EISEGESE Em termos de hermenêutica bíblica, o intérprete coleta informações, averigua a relevância e profundidade de cada contribuição e após isso emite seu parecer sobre determinado texto. Como o livro do Apocalipse apresenta uma grande parte da composição literária em linguagem enigmática, a nossa cautela é maior ainda quanto a sua interpretação. 1.1 Exegese A prática da exegese conduz a interpretações que primam por descobrir para quem era a mensagem, quando e como se daria o seu cumprimento. A exegese ajuda a entender o texto, contexto e abre perspectivas de aplicação equilibrada. A palavra grega exegesis apresenta o sentido na língua portuguesa de “extrair para fora”. Cada texto precisa ser analisado quanto à sua forma, gênero, estrutura, tradução, significado e aplicação, dentro de um contexto histórico, social, cultural e religioso. Por exemplo: “Pelejarão eles contra o Cordeiro e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis, vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele” (Ap.17.14). O cenário descrito pelo texto é de uma batalha. Um líder e seguidores diante de inimigos já declarados como vencedores antes mesmo que a batalha acontecesse, o que dá ao texto um caráter profético. Há que se considerar também que há um texto anterior e um posterior. 3 1.2 Eisegese O termo eisegese é utilizado quando se acrescenta ou subtrai informações do texto. Quando a originalidade do texto é ferida ela traz risco a quem a ouve. Basicamente isso ocorre quando o intérprete já tem uma compreensão de um texto e acaba levando ideias, conceitos e pressupostos para dentro dos textos com possíveis pretextos. Isso pode acontecer de modo consciente ou inconsciente. Mas, por exemplo, em relação ao fim do mundo, já surgiram grupos que firmaram datas para tal acontecer e até o momento o mundo continua existindo. TEMA 2 – MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DO APOCALIPSE Neste momento vamos nos aprofundar um pouco mais. Podemos não apenas pensar em quatro, mas em cinco métodos. O livro do Apocalipse vem sendo estudado à luz de diferentes conceitos e métodos de interpretação. Por exemplo, sobre o número da besta, 666 (Ap.13.18), de acordo com alguns estudiosos, não se trata de um simples número, mas sim de uma representação das características predominantes da besta que seria um sistema político. Pensando desta forma, o número 666 representaria sistemas políticos humanos fadados ao fracasso. Há quem diga que esse número se encontra na coroa do Papa (tiara papal) e estaria ligado intimamente ao sistema romano tanto com importância religiosa como política a ser mais bem conhecido pela humanidade na ocasião dos eventos profetizados no Apocalipse. Esse é apenas um exemplo sobre a dificuldade que é interpretar textos apocalípticos. 2.1 Conceitos e métodos de interpretação Um modo de pensar sobre o livro do Apocalipse é que ele narra uma série de episódios profetizados que culminarão no fim do mundo, ou seja, o fim da vida terrena como se conhece até o momento. A palavra Apocalipse também é entendida por alguns como um sinônimo para Armagedom, uma batalha final entre Deus, os pecadores terrestres e o diabo. Mas, por exemplo, os evangélicos (protestantes) acreditam no arrebatamento, ao menos uma parte, e os católicos não acreditam, eles aceitam a segunda vinda de Cristo, ao menos uma parte. 4 Estas são apenas duas perspectivas, mas há outras quando propõe a analisar o livro. 2.1.1 Preterista Relaciona as profecias do Apocalipse com os eventos registrados no final do Século I d.C. pensando que a maior parte do livro já se cumpriu. Essa visão trata o Apocalipse como uma imagem simbólica de conflitos da igreja primitiva que já se cumpriram. Ela combina a interpretação alegórica e simbólica com o conceito que não há ligação com eventos futuros específicos. Em princípio todas as profecias dos textos do Novo Testamento sobre o fim dos tempos se cumpriram quando os romanos atacaram e destruíram Jerusalém e Israel no ano 70 d.C. 2.1.2 Historicista Procura encaixar todos os acontecimentos previstos no Apocalipse em várias épocas da história da humanidade. Esta perspectiva entende que as profecias se cumprem com o transcorrer da história a partir do momento em que o profeta tem a visão e a torna pública. Sendo assim, uma parte do Apocalipse já teria se cumprido e outra parte aguarda por eventos que acontecerão envolvendo o que há de acontecer na natureza e na humanidade/sociedade globalizada de modo geral. Por exemplo, se o apóstolo João está preso quando recebe a revelação sobre o que estava acontecendo em relação às igrejas, surge a pergunta sobre quem teria levado as cartas às cidades mencionadas nos capítulos 2 e 3 do livro (Éfeso, Esmirna, Sardes, Pérgamo, Tiatira, Filadélfia e Laodicéia). Além deste fato ligado à história dessas igrejas, o que pode ser extraído de cada carta para aplicar nos dias atuais nas igrejas que existem em vários lugares do mundo? Nessa visão há a expectativa pelo cumprimento de boa parte do conteúdo do livro em um futuro próximo. 2.1.3 Simbólico ou Místico Entende o livro do Apocalipse como não essencialmente profético ou histórico, mas sendo uma coletânea de símbolos místicos com o intuito de ensinar lições espirituais e morais. Por exemplo, quando se pensa sobre a 5 importância ou significado das sete trombetas (Ap.8.1-9.21). Esta porção do Apocalipse tem o intuito de mostrar a todos o poder de Deus. Resumidamente, pensando em escala global, a primeira trombeta anuncia juízo sobre um terço dos alimentos; a segunda, juízo sobre um terço do comércio; a terceira, juízo sobre um terço das águas; a quarta, juízo sobre um terço da natureza (meio ambiente); a quinta, indica o tormento causado por gafanhotos (aviões com armamento químico ou similar para atacar e causar dor e não morte); a sexta relata a existência de um grande exército (duzentos milhões de soldados sob a influência demoníaca, ou segundo alguns intérpretes, os próprios demônios) com autoridade para matar a terça parte da humanidade por meio de alguma arma com efeitos devastadores. Por fim, a sétima trombeta para anunciar o início do governo messiânico dizendo: “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo...” (Ap.11.15). Na descrição dos eventos das sete trombetas um fato que pode ser destacado é que mesmo em meio a juízos devastadores uma parte dos habitantes do mundo não se arrepende das suas obras, que estão ligadas à idolatria, violências e imoralidades (Ap.9.20,21). 2.1.4 Futurista Uma parte desta vertente teológica defende que todo o livro é preditivo, inclusive os capítulos 2 e 3 (que representam sucessivos estágios da história da Igreja). Em relação a estes dois capítulos há uma interpretação conhecida como as sete eras da Igreja. Nela acontece a seguinte divisão histórica: Éfeso (53-110 d.C.), Esmirna (170-312 d.C.), Pérgamo (312-606 d.C.), Tiatira (606-1520 d.C.), Sardes (1520-1750 d.C.), Filadélfia (1750-1906 d.C.) e Laodicéia (1906 até o momento). Boa parte desta visão defende que as profecias terão seu cumprimento apenas no fim dos tempos e serão rápidas. Elas virão para provar o mundo e com elas encerrar a história da humanidade. Por fim, haveráum julgamento final ratificando que apenas o Cordeiro e seus seguidores poderão estar presentes nos chamados Novo Céu e Nova Terra conforme Apocalipse 21.1-7. 6 2.1.5 Eclético Este método acaba por representar uma sincretização de elementos de outros métodos. Ele mistura ideias de todos os métodos de modo que nenhum domine os demais. Segundo essa visão há pontos de difícil compreensão. Ele aceita a aplicação literal, histórica, alegórica e futurista em porções separadas do Apocalipse. Pode-se dizer que cada geração de teólogos e intérpretes bíblicos vêm retrabalhando a interpretação do Apocalipse para atender à realidade escatológica de sua época. Já que o mundo ainda não acabou, podemos avançar no estudo do Apocalipse a fim de compreendermos melhor seu conteúdo e que contribuições estes métodos têm fornecido para o desenvolvimento de uma teologia interconfessional e escatológica equilibrada e fiel ao sentido original do texto. TEMA 3 – TEORIAS SOBRE O ARREBATAMENTO Há duas declarações bíblicas que podem dar início ao estudo das teorias sobre o arrebatamento. A primeira delas é feita pelo próprio Jesus em Mateus 24.30 “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu com poder e muita glória”. No sermão sobre o fim dos tempos Jesus pré-anuncia o seu retorno. E, a outra, está no livro de Atos 1.11, quando dois varões vestidos de branco disseram: “...por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu, assim virá do modo como o vistes subir”. Esses dois textos apontam para o cumprimento do mesmo evento escatológico. Agora, quando o arrebatamento ocorrerá é a questão que mais tem gerado debates. Há alguns elementos escatológicos principais que farão parte deste evento. Primeiro aparecerão os sinais, depois se estabelecerá o período da tribulação, logo após, o surgimento do anticristo (pessoa/ sistema) e por fim, Cristo retorna para derrotá-lo e estabelecer o seu reino. A dúvida está se o arrebatamento ocorrerá antes, durante ou no fim da tribulação. Vejamos algumas teorias. 7 3.1 Pré-milenismo O pré-milenismo segue o método de interpretação normal, literal, histórico-gramatical. Defende que a descrição bíblica a respeito do milênio e de acontecimentos futuros são fatos históricos e proféticos. Não há unanimidade entre os pré-milenistas quanto ao tempo que acontecerá o arrebatamento. Ele apresenta quatro teorias principais a respeito do arrebatamento: 3.1.1 Arrebatamento Pré-tribulacional Alguns argumentos são apresentados. A Igreja de Cristo será arrebatada antes do período de sete anos de tribulação. A expressão “... te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro”, no capítulo 3 verso 10, é uma das bases bíblicas dessa posição. O período de tribulação será de manifestação da ira de Deus sobre os moradores da Terra e a Igreja será isentada desta ira (Ap.6.17; 1 Tessalonicenses 1.10 e 5.9). O arrebatamento só pode ser iminente se for pré-tribulacional (cf. 1Tessalonicenses 5.6). 3.1.2 Arrebatamento parcial Defende que o arrebatamento ocorrerá antes da tribulação, mas que apenas os cristãos “preparados” serão levados. Os demais cristãos passarão pela tribulação para serem provados em sua fé sem o auxílio divino do Espírito Santo. Haverá a defesa da fé em Deus de modo racional e estarão sujeitos à perseguição e martírio em meio à tribulação. Conforme Hebreus 9.28 Cristo aparecerá a segunda vez apenas aos que aguardam a sua vinda. Nessa perspectiva surge uma distinção de atitude entre os cristãos, um grupo crê e aguarda, outro pode até crer, mas não aguarda. 3.1.3 Midi-tribulacionismo Essa posição também é conhecida como arrebatamento mesotribulacionista. Todos os cristãos serão arrebatados na metade da tribulação, quando se completarem os primeiros três anos e meio. Conforme Apocalipse 11.15, a sétima trombeta soará nesse momento para levar a todos os fiéis a Cristo. O texto de 1 Coríntios 15.2 também é usado para esse evento “...num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta...”, assim os 8 cristãos serão preservados de passarem pela Grande Tribulação que acontecerá na segunda metade de três anos e meio. Pensando sobre as semanas que o profeta Daniel menciona (Daniel 9.24-27), nesse momento estaríamos nos últimos três anos e meio da septuagésima semana. 3.1.4 Pós-tribulacionismo Essa perspectiva entende que todos os cristãos serão arrebatados no final da tribulação. Toda a humanidade passará pela tribulação de sete anos, mas os cristãos serão protegidos em meio a ela. A provação prevista no Apocalipse 3.10 não afetará aos cristãos. Todos os juízos anunciados acontecerão apenas com pessoas não cristãs em todas as nações da Terra. Seria como ocorreu na ocasião da saída dos hebreus do Egito. Conforme os relatos do Êxodo 8.22 “Naquele dia separarei a terra de Gósen, em que habita o meu povo para que nela não haja enxame de moscas...” e Êxodo 9.26 “Somente na terra de Gósen, onde estavam os filhos de Israel, não havia chuva de pedras” TEMA 4 – SINAIS DA VINDA DE JESUS Quando lemos a respeito da primeira vinda de Cristo vemos que além dos textos proféticos do Antigo Testamento que anunciam o seu nascimento, temos também alguns do Novo Testamento. Dentre eles destacamos o seguinte: “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gálatas 4.4). Assim como na primeira vinda, Cristo voltará na plenitude do tempo, momento, em que todos os propósitos de Deus terão se cumprido em relação à Igreja. Há uma referência em Mateus 24.14 que também tem sido usada como argumento para identificarmos o cumprimento deste tempo “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então virá o fim”. Além destes textos há um outro ainda que também merece menção: “Por isso, estai vós apercebidos também, porque o Filho do Homem há de vir à hora em que não penseis” (Mateus 24.44). Será um retorno rápido e inesperado. Entre os muitos possíveis sinais, quatro podem ser destacados aqui. 9 4.1 O avanço da ciência Quando lemos o livro de Daniel encontramos a expressão “...a ciência se multiplicará” (Ap.12.4). Para Daniel isso foi uma revelação. E aproximadamente dois mil e quinhentos anos depois, temos presenciado esse avanço da ciência em quase todas as esferas da vida humana. No Século XVIII houve a Revolução Industrial. No Século XIX ela alcança seu auge. Em seguida se consegue inventar o automóvel, o avião e o foguete espacial. Mas, além da questão tecnológica, tem havido sede em busca do conhecimento, querer saber mais sobre diversos assuntos. Talvez a ciência médica seja a quem tem mais avançado. Há um anseio em descobrir cada vez mais informações sobre o corpo humano com o intuito de preservar a vida humana e aumentar a sua expectativa de vida. Mas há quem diga que este avanço sem o devido respeito a Deus e ao próximo é um risco, pois todo o conhecimento adquirido pode ser usado para produzir malefícios ao próximo e ainda a si mesmo. 4.2 Comunicação global No Século XX surgem a televisão, a computação e a telefonia celular. A notícia que no passado levava dias para ser transmitida, agora se dá instantaneamente. Comunicação sem uso de fios que informa em tempo real de modo global. Quando houve a queda das torres gêmeas em 11/09/2001 a notícia foi veiculada para todo o mundo e em poucos minutos teve essa experiência. Há quem associe este avanço da comunicação com o relato do Apocalipse no capítulo 11.3, 7-10, em relação às duas testemunhas do Apocalipse que profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, serão mortas, e, depois serão ressuscitadas sendo vistas pelo mundo inteiro via satélite.Se este evento apocalíptico for literal ele poderá ser presenciado pelo mundo todo. Este avanço pode ser considerado positivo, pois ele tem sido muito importante na proclamação do Evangelho aos lugares mais distantes da Terra. Ele pode acelerar a missão cristã de anunciar o evangelho o que abrirá caminho para o retorno de Cristo. Na segunda carta escrita pelo apóstolo Pedro encontramos a expressão “...esperando e apressando a vinda do dia de Deus” (2 Pedro 3.12). Este “apressar” é questionável, mas é algo a se pensar, pois na 10 atualidade, uma mensagem cristã pode ser comunicada instantaneamente ao mundo todo. 4.3 Proliferação da mentira (fake news) Quando lemos o Evangelho de Mateus encontramos a seguinte expressão dita por Jesus “... Vede que ninguém vos engane” (Mateus 24.4) e “levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos” (Mateus 24.11). Pensando no termo “engano” nos lembramos de situações em que não se fala a verdade. Há um texto escrito pelo profeta Jeremias que tem sido usado como profético em relação a uma época em que “cada um zombará do seu próximo e não falará a verdade; ensinarão a sua língua a proferir mentiras...” (Jeremias 9.5). O Novo Testamento apresenta textos que alertam os cristãos sobre os falsos profetas e falsos mestres (2 Pedro 2.1), falsos apóstolos (2 Coríntios 11.13), falsos irmãos (2 Co.11.26), que existiram em suas épocas e que surgirão no fim dos tempos. Com o advento das redes sociais neste Século XXI, a presente geração tem se deparado com muitas falsas notícias (fake news) que têm causado perturbação e confusão. Esta realidade diz respeito à vida em sociedade e inclui a questão religiosa. Em termos escatológicos Jesus alertou que surgirão dizendo ser o Cristo e enganarão a muitos (Mateus 24.5). 4.5 Maldade generalizada A sociedade do Século XXI tem testemunhado a forma violenta de conduta de pessoas que demonstram não possuir nenhum tipo de amor para com o próximo, para consigo mesmo e principalmente para com algum tipo de deus (Deus). O autor do Gênesis relata que na época de Noé “O Senhor viu que a maldade do homem se havia multiplicado na terra, e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração (cf. Gênesis 6.5). O comportamento atual em agir com maldade se assemelha com a realidade social dos dias de Noé, ao menos é o argumento de alguns estudiosos dedicados à escatologia (Mateus 24.37). Na época do Império Romano também houve grande manifestação de violência, principalmente contra os cristãos do primeiro Século d.C. que foi o contexto vivido por Jesus e seus discípulos/apóstolos. Embora do Século II ao XIII tenham ocorrido muitos 11 episódios violentos na humanidade, o que surge no Século XV mostra ao mundo registros de intolerância religiosa com requintes de crueldade muito alto. No Século XV quando acontecem a Reforma Protestante e a Contra- Reforma, uma das violências cometidas contra os cristãos foi a prática da chamada “Inquisição Religiosa”, ocasião em que se queimava cristão em praça pública apenas por se defender sua convicção religiosa que divergia de outros grupos (talvez este seja um exemplo do que acontecerá com as duas testemunhas no capítulo 11 do Apocalipse). As violências vêm ocorrendo ao longo dos séculos, mas têm nos Século XX e XXI se manifestado por todo o mundo atingindo pessoas de todas as idades e em todas as chamadas “classes sociais” em escala alarmante. TEMA 5 – TEORIAS SOBRE O MILÊNIO O tema Milênio já vem sendo estudado por nós até aqui, mas algumas informações e argumentações podem ser acrescentadas. Que não há consenso não é novidade e quanto às divergências sobre a literalidade dos mil anos não se pode acrescentar muito. Porém, por fazer parte dos últimos capítulos do Apocalipse é possível perscrutar um pouco mais sobre este tema. Há ao menos três teorias sobre esse assunto. 5.1 Amilenismo Ensina que não haverá milênio de reinado na Terra. Alguns teóricos dizem que, como o Apocalipse é simbólico, não há necessidade em considerar a literalidade do milênio. A interpretação amilenista espiritualiza as promessas feitas a Israel como nação, entendendo que elas se cumprem na Igreja. Nele se defende que os justos mortos em Cristo já experimentam o milênio no céu. O Apocalipse 20 descreve a cena das almas nos céus durante a primeira e a segunda vinda de Cristo (cerca de dois mil anos). 5.2 Pós-milenismo Corrente que começou a se espalhar a partir do Século XVIII. Interpreta o milênio como uma extensão do período atual da Igreja. Ensina que o poder do Evangelho ganhará o mundo todo para Cristo e a Igreja assumirá o controle dos reinos seculares numa Terra restaurada em que não haverá mais pecado. O 12 milênio será uma época de paz e abundância promovida pelos esforços da Igreja. 5.3 Pré-milenismo Interpreta as profecias do Antigo e do Novo Testamento de maneira literal. A ordem dos eventos seria em uma das visões, ao término do período de sete anos de tribulação, acontece o retorno de Cristo, a ressurreição dos salvos, o estabelecimento do Tribunal de Cristo, para julgamento das obras dos salvos e o cumprimento literal dos mil anos. No final deste, os ímpios são julgados, Satanás será solto temporariamente para enganar as nações, mas por fim ele e todos os ímpios serão lançados para dentro do lago de fogo. NA PRÁTICA O Apocalipse é o livro dos acontecimentos futuros. Os métodos de interpretação apresentados têm feito parte da História da Igreja, mas na medida em que os anos se passam, é possível identificar que alguns argumentos vão perdendo força enquanto que outros vão se fortalecendo. Todas as teorias apresentadas precisam ser estudadas, pois em todas elas não há consenso. Há divergências principalmente sobre quando ocorrerá o arrebatamento e o retorno de Cristo. O essencial é continuarmos investigando, tanto os textos bíblicos pertinentes ao tema como as opiniões dos estudiosos que vêm se dedicando a compreender melhor a literatura apocalíptica e escatológica. FINALIZANDO Nesta aula, vimos que interpretar os textos bíblicos em seu contexto original é ponto de partida para se estudar escatologia. Foram abordados cinco métodos tradicionais de interpretação envolvendo principalmente os livros do Apocalipse e Daniel. Os métodos Preterista, Historicista, Simbólico ou Místico, Futurista e Eclético, que mescla alguns conceitos de cada teoria. Foram abordadas quatro teorias sobre o arrebatamento. Antes da tribulação para todos os cristãos. No meio da tribulação para todos os cristãos. 13 Antes da tribulação apenas para os cristãos que estiverem preparados para o encontro com Cristo. No final da tribulação para todos os cristãos. Estudamos ao menos quatro sinais da vinda de Jesus. O avanço da ciência, a comunicação global instantânea, a proliferação da mentira e a generalização da maldade. E, por fim, três teorias a respeito do milênio. O amilenismo, o pós- milenismo e o pré-milenismo. Estudamos basicamente sobre a literalidade do Milênio. Mas o que acontecerá no Milênio se ele for literal? E, se ele já estiver acontecendo, quais são as suas peculiaridades? Será um desafio interessante a analisar posteriormente. 14 REFERÊNCIAS A TORRE de Babel: qual é a sua mensagem? Cléofas, 6 set. 2019. Disponível em: <https://cleofas.com.br/a-torre-de-babel-qual-e-a-sua-mensagem/>. Acesso em: 30 set. 2019. BÍBLIA. Disponível em: <http://biblia.com.br/joaoferreiraalmeidarevistaatualizada/daniel/dncapitulo12/>. Acesso em: 05 jan. 2019. BIBLIOTECA BÍBLICA. Teologia do livro de Apocalipse. Disponível em: <https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2009/11/teologiadolivrodeapocalipse.htm l>. Acesso em: 30 set. 2019. DAVID Blunt, D. O Papado é o Anticristo. Projeto Os Puritanos. Recife: Clire, 2013. Disponível em: <https://livros.gospelmais.com.br/files/livro-ebook-o-papado-e-o-anticristo.pdf>. Acesso em: 30 set. 2019. BROWN, C.; COENEN, L. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000. CALVINO, J. Romanos. Tradução de Valter Graciano Martins. São Paulo: Paracletos, 1997. CARSON, D.A.; MOO, D. J.; MORRIS, L. 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