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Meta da aula
Destacar as atividades agrárias, principalmente a agricultura 
e a pecuária, além da paisagem rural, como relevantes para 
um segmento turístico cada vez mais importante para o 
mercado turístico: o turismo rural.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, 
você seja capaz de:
reconhecer as condições que propiciaram o advento 
do turismo rural como importante segmento turístico 
contemporâneo;
identificar os diferentes segmentos do turismo pre-
sentes no espaço rural;
destacar a paisagem rural como recurso turístico, 
identificando os diferentes elementos de caracteriza-
ção da paisagem rural.
1
2
3
Geografia Agrária
Gilmar Mascarenhas/Marcello de Barros Tomé Machado
146
Aula 9 • Geografia Agrária
Introdução
Na aula anterior, percebemos as importantes relações que envol-
vem a compreensão do turismo e a Geografia Cultural, relevante 
corrente do pensamento geográfico. Nesta aula, veremos o espa-
ço rural no contexto do turismo, a partir de um importante ramo 
dos estudos geográficos: a Geografia Agrária.
A Geografia Agrária
A Geografia Agrária se impõe de forma diferenciada na 
construção do saber geográfico, desenvolvendo-se com o obje-
tivo de conhecer a superfície terrestre e detectar as principais 
formas de exploração (cultivos, técnicas), sendo esta, a princípio, 
a primeira forma de analisar a agricultura.
A agricultura pode ser definida como a atividade econômi-
ca praticada pelo homem que visa, a partir do cultivo de vegetais, 
à produção de alimentos e matéria-prima.
Figura 9.1: Agricultura: plantação de cana-de-açúcar.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Faz_S_Sofia_canavial_ 
090607_REFON_.JPG
Outras atividades econômicas desempenham o mesmo 
papel e compõem, juntamente com a agricultura, o Setor Primá-
rio das atividades econômicas. São elas:
Fundamentos Geográficos do Turismo
147
Pecuária:•	 caracteriza-se pelo conjunto de processos técni-conjunto de processos técni-
cos usados na domesticação e criação de animais com fi na-domesticação e criação de animais com fi na-e criação de animais com fi na-de animais com fina-
lidade econômica, ou seja, destinada não apenas ao consu-
mo próprio, mas também à comercialização. Os principais 
tipos de pecuária são a avícola, caracterizada pela criação 
de aves como galinha, peru, codorna etc.; bovina, caracte-
rizada pela criação de bois; suína, caracterizada pela cria-
ção de porcos (Figura 9.2); ovina, caracterizada pela criação 
de ovelhas; bufalina, caracterizada pela criação de búfalos; 
caprina, caracterizada pela criação de cabras; equina, pela 
criação de cavalos etc.
Figura 9.2: Criação de suínos.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/21/
Piglets_DSC03981.jpg
Extrativismo:•	 é indicado como a mais antiga atividade hu-
mana, antecedendo o próprio cultivo de vegetais (agricultu-
ra) e a criação de animais (pecuária). É caracterizado como a 
coleta parcial ou integral de vegetais (extrativismo vegetal), 
minerais (extrativismo mineral) ou animais (caça e pesca), 
ocorrendo, geralmente, em seus próprios ecossistemas.
148
Aula 9 • Geografia Agrária
Figura 9.3: Extrativismo vegetal: látex 
extraído da seringueira.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/b/b3/Latex_dripping.JPG
Caça e pesca:•	 retirada de animais, em geral, do seu hábitat, 
objetivando diferentes usos, tais como a alimentação, matéria-
prima industrial ou mesmo lazer.
Figura 9.4: Pesca.
Fonte: http: / /pt.wikipedia.org/wiki /
Ficheiro:Fish_on_Trawler.jpg#file
Fundamentos Geográficos do Turismo
149
Silvicultura:•	 a origem etimológica do termo silvicultura pro-
vém do latim “silva” (floresta) e “cultura” (cultivo) e tem 
como definição: campo de estudo e atuação dedicado aos 
estudos dos métodos naturais e artificiais que têm como 
objetivo regenerar e melhorar os povoamentos florestais 
visando à satisfação das necessidades do mercado e, ao 
mesmo tempo, à aplicação dos referidos estudos para a ma-
nutenção, o aproveitamento e o uso racional das florestas. 
É muito comum no Brasil a silvicultura do eucalipto, visando 
principalmente à madeira. Vale destacar que alguns autores 
dividem a silvicultura em silvicultura clássica e silvicultura 
moderna. A silvicultura clássica opera quase exclusivamen-
te com as florestas naturais, recorrendo às forças produtivas 
decorrentes do sítio. Seus limites são determinados pela ne-
cessidade de não ameaçar a estabilidade natural, condicio-
nada pelo ecossistema. A silvicultura moderna opera quase 
exclusivamente com as florestas, plantações, e o mais inde-
pendente possível do sítio natural.
Figura 9.5: Silvicultura de eucalipto.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/aa/
Eucalyptus_sp.jpg
150
Aula 9 • Geografia Agrária
O estudo das atividades agrárias dá-se em um contexto 
no qual estas são consideradas como elementos da paisagem 
dita rural e, portanto, de interesse não apenas da Geografia, mas 
também do Turismo.
A significativa diversificação da oferta turística em escala 
mundial em relação à demanda, entre outros fatores, proporcio-
na a ampliação do mercado turístico e o surgimento e a conso-
lidação de variados segmentos turísticos. A segmentação, nesse 
caso, deve ser entendida como uma forma de organizar o turis-
mo para fins de planejamento, gestão e mercado. Os segmentos 
turísticos são estabelecidos a partir dos elementos de identidade 
da oferta e também das características e variáveis da demanda. 
No que se refere à oferta, o Brasil apresenta recursos singulares 
que, somados à diversidade e riqueza da cultura brasileira, propi-
ciam experiências turísticas distintas, nos quais se pode afirmar 
como segmentos turísticos, tais como o ecoturismo, o turismo 
cultural, o turismo de negócios, o turismo de sol e praia e, é cla-
ro, o turismo rural, além de tantos outros.
Turismo rural
Em 2008, a população urbana, segundo expectativas da 
Organização das Nações Unidas (ONU), superou pela primeira 
vez na história da humanidade a população rural. Isso significa 
que existem mais pessoas morando na cidade do que no campo. 
Muitos habitantes urbanos, buscando fugir temporariamente do 
cotidiano habitual das grandes cidades, têm procurado novas 
opções para escapar da vida urbana e do estresse provocado 
diariamente pelo referido modo de vida, tais como poluição do 
ar, poluição sonora, poluição visual, trânsito, insegurança etc. 
Estas características negativas das grandes cidades muitas ve-
zes funcionam como fatores limitantes para que espaços urba-
nos sejam escolhidos como próximos destinos turísticos. A ten-
dência, portanto, é que parte significativa da população urbana 
acabe não optando pelos destinos turísticos tradicionais, como 
Fundamentos Geográficos do Turismo
151
o litoral e seu segmento turístico de sol e praia, que já apre-
sentam algum desgaste devido aos fluxos constantes. A busca 
por qualidade de vida nas localidades receptoras reforça o inte-
resse das pessoas, principalmente aquelas que vivem em gran-
des cidades, por destinos que representem possibilidades de 
contato com experiências e modos de vida diferentes daqueles 
encontrados nos espaços urbanizados. Uma possibilidade para 
alcançar no destino a qualidade de vida e o contato com experi-
ências e modos de vida almejados é o espaço rural, a partir do 
turismo rural. 
O espaço rural passa por consideráveis mudanças, prin-
cipalmente no que tange às relações de produção e trabalho, 
decorrentes do processo de globalização e modernização da 
agricultura, inviabilizando técnica e economicamente muitas 
propriedades rurais, já que estas não têm recursos para a aqui-
sição de tecnologia que possibilitaria sua inserção ou manu-
tenção no mercado, impossibilitando que sua produção agrária 
concorra em pé de igualdade com produtores que moderniza-
ram o modo de produção em suas propriedades.
As atividades agropecuáriasvêm enfrentando problemas, 
como a desagregação das formas tradicionais de articulação 
da produção e uma desvalorização gradativa em relação a 
outras atividades, levando à busca de novas fontes de ren-
da que gerem a dinamização econômica dos espaços rurais 
(BRASIL, 2008, p. 13).
Tal conjuntura vem propiciando a valorização do modo 
de vida no campo e o surgimento de novas funções econômi-
cas, sociais e ambientais no espaço rural. Esses novos enfoques 
têm sido decisivos para o crescimento da atividade turística no 
meio rural devido especialmente ao caráter transversal, dinâmi-
co e global do turismo capaz de interferir nas várias dimensões 
que afetam os processos de desenvolvimento de modo geral. 
“O agricultor aos poucos deixa de ser somente um produtor de 
matéria-prima e descobre a possibilidade de desenvolvimento de 
152
Aula 9 • Geografia Agrária
atividades não-agrícolas, de modo a garantir sua permanência 
no campo” (BRASIL, 2008, p. 14). O turismo vem a ser uma delas, 
nesse caso, o turismo rural.
A definição de turismo rural adotada pelo Ministério do 
Turismo encontra-se fundamentada nos aspectos vinculados ao 
turismo, ao espaço rural e à sua base econômica, aos recursos 
naturais e culturais e à comunidade. 
Turismo Rural é o conjunto de atividades turísticas desen-
volvidas no espaço rural, comprometidas com a produção 
agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, res-
gatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da 
comunidade (BRASIL, 2008, p. 20).
Esta definição indica uma coerente valorização das parti-
cularidades do Turismo Rural e pode ser compreendida a partir 
do detalhamento das ideias nela sintetizadas, como descrito a 
seguir, conforme indicado na bibliografia norteadora do Turismo 
Rural no Brasil, produzida pelo Ministério do Turismo (Turismo 
Rural: orientações básicas):
a) Atividades turísticas no espaço rural 
As atividades de turismo rural constituem-se na oferta de 
serviços, equipamentos e produtos de: 
operação e agenciamento; •	
transporte;•	
hospedagem;•	
alimentação;•	
recepção à visitação em propriedades rurais;•	
recreação, entretenimento e atividades pedagógicas vincu-•	
ladas ao contexto rural;
eventos;•	
outras atividades complementares às já listadas, desde •	
que praticadas no meio rural e que existam em função do 
turismo ou que se constituam no motivo da visitação.
Fundamentos Geográficos do Turismo
153
b) Espaço rural 
A concepção de espaço rural aqui adotada baseia-se no cri-
tério da destinação da terra e na valorização da ruralidade. 
Nos espaços rurais, tais elementos manifestam-se, predo-
minantemente, pela destinação da terra, notadamente foca-
da nas práticas agrícolas e na noção de ruralidade, ou seja, 
no valor que a sociedade contemporânea concede ao rural. 
Tal valor contempla as características mais gerais do meio 
rural: a produção territorializada de qualidade, a paisagem, 
a biodiversidade, a cultura e certo modo de vida, identifica-
dos pela atividade agrícola, pela lógica familiar, pela cultura 
comunitária, pela identificação com os ciclos da natureza.
c) Comprometimento com a produção agropecuária 
É a existência da ruralidade, de um vínculo com as coisas 
da terra. Dessa forma, mesmo que as práticas eminente-
mente agrícolas não estejam presentes em escala comer-
cial, o comprometimento com a produção agropecuária 
pode ser representado pelas práticas sociais e de traba-
lho, pelo ambiente, pelos costumes e pelas tradições, pe-
los aspectos arquitetônicos, pelo artesanato, pelo modo 
de vida considerados típicos de cada população rural.
d) Agregação de valor a produtos e serviços 
A prestação de serviços relacionados à hospitalidade em 
ambiente rural faz com que as características rurais passem 
a ser entendidas de outra forma que não apenas focadas na 
produção primária de alimentos. Assim, práticas comuns à 
vida campesina, como manejo de criações, manifestações 
culturais e a própria paisagem, passam a ser consideradas 
importantes componentes do produto turístico rural e, con-
sequentemente, valorizadas por isso. A agregação de valor 
também se faz presente pela possibilidade de verticalização 
da produção em pequena escala, ou seja, beneficiamento 
de produtos in natura, transformando-os para que possam 
ser oferecidos ao turista sob a forma de conservas, embuti-
dos, produtos lácteos, refeições e outros. 
154
Aula 9 • Geografia Agrária
e) Resgate e promoção do patrimônio cultural e natural 
O turismo rural, além do comprometimento com as ativida-
des agropecuárias, caracteriza-se pela valorização do patri-
mônio cultural e natural como elementos da oferta turística 
no meio rural. Assim, os empreendedores, na definição de 
seus produtos de turismo rural, devem contemplar com a 
maior autenticidade possível os fatores culturais, por meio 
do resgate das manifestações e práticas regionais (como o 
folclore, os trabalhos manuais, os costumes, as festas, os 
“causos”, a gastronomia etc.), e primar pela conservação 
do ambiente natural, da paisagem e cultura, tais como o 
artesanato, a música, a arquitetura etc. (BRASIL, 2008, p. 
20-21).
Atividade
Atende ao Objetivo 1
1. O turismo é uma das atividades econômicas que mais crescem 
no mundo, apresentando diversos segmentos, entre eles o tu-
rismo rural. Identifique um motivo que explique a ampliação do 
fluxo turístico receptivo direcionado ao espaço rural.
Comentário
A partir da situação encontrada no espaço rural brasileiro, onde pe-
quenos produtores rurais precisam de outras fontes de renda a fim 
de superar as dificuldades impostas pela modernização do cam-
po. Some-se a isso o desejo de uma parcela da população urbana, 
que no Brasil estima-se ser de quase 80% do total de habitantes, 
desejar a fruição de localidades que permitam a fuga do cotidiano 
habitual urbano. Tem-se, então, o advento de um segmento deno-
minado turismo rural.
Fundamentos Geográficos do Turismo
155
Turismo no espaço rural
A grande diversidade dos espaços rurais no Brasil tem pro-
vocado a necessidade de uma profunda reflexão sobre os cri-
térios e conceitos utilizados para a delimitação administrativa e 
econômica do que vem a ser rural.
Camarano e Abramovay (1999) afirmam não existir critério 
válido para a delimitação das fronteiras entre o rural e o urbano. 
Na Espanha, na Grécia, na Itália e em Portugal, são rurais os ha-
bitantes que vivem em assentamentos com população absoluta 
inferior a 10 mil habitantes e que guardam certa distância dos 
grandes centros urbanos. Na França, o limite populacional esta-
belecido para definir localidades rurais é de 2 mil habitantes.
Vários países latino-americanos (Argentina, Bolívia, México, 
Venezuela, Honduras, Nicarágua, Panamá) adotam igual-
mente um limite populacional que varia entre mil e 2,5 mil 
habitantes na definição de população rural. Na Costa Rica, 
no Haiti, no Uruguai e em Cuba são rurais as localidades 
com “características não-urbanas”. No Chile, além do pata-
mar populacional, a localidade rural deve ter menos de 50% 
de sua população ativa ocupada em atividades secundárias 
(BRASIL, 2008, p. 17). 
No Brasil, o critério é mais administrativo do que geográfico 
ou econômico. O que vale não é a intensidade ou certas qualida-
des dos assentamentos humanos, mas o fato de serem conside-
rados administrativamente como urbanos ou não pelos poderes 
públicos municipais. Segundo a definição do IBGE (1997):
Na situação urbana consideram-se as pessoas e os domicí-
lios recenseados nas áreas urbanizadas ou não, correspon-
dentes às cidades (sedes municipais), às vilas (sedes distri-
tais) ou às áreas urbanas isoladas. A situação rural abrange 
a população e os domicílios recenseados em toda a área 
situada fora dos limites urbanos, inclusive os aglomerados 
rurais de extensão urbana, os povoados e os núcleos. 
156
Aula 9 • Geografia Agrária
A especificidade das questões queenvolvem as atividades 
turísticas no espaço rural faz com que seja imprescindível a cons-
trução de referenciais que permitam constituir marcos orientado-
res para todos que desenvolvem o tema.
No âmbito federal, o Ministério do Desenvolvimento Agrá-
rio adota um conceito que pode referenciar as ações relaciona-
das ao turismo no espaço rural. Os espaços rurais são compre-
endidos como:
(...) um espaço físico, geograficamente definido, não neces-
sariamente contínuo, caracterizado por critérios multidimen-
sionais, tais como o ambiente, a economia, a sociedade, a 
cultura, a política e as instituições, e uma população, com 
grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam 
interna e externamente por meio de processos específicos, 
onde se pode distinguir um ou mais elementos que indi-
cam identidade e coesão social, cultural e territorial. Predo-
minância de elementos “rurais”, sobretudo a paisagem e os 
elementos constitutivos da cultura, valores, história e eco-
nomia (BRASIL, 2008).
Os espaços rurais se caracterizam a partir da função do 
solo, focada nas práticas agrícolas e na noção de ruralidade, ou 
seja, no valor que a sociedade contemporânea concebe ao rural 
e que contempla as características mais gerais do meio rural: a 
produção agropecuária, a paisagem, a biodiversidade, a cultura 
e certo modo de vida, identificados pela atividade agrícola, a ló-
gica familiar, a cultura comunitária, a identificação com os ciclos 
da natureza etc. (BRASIL, 2008).
A partir dessa referência, faz-se necessário destacar que 
os espaços rurais propiciam diferentes experiências e atividades 
turísticas. Portanto, é preciso considerar que, por turismo no es-
paço rural, no meio ou em áreas rurais, entende-se:
Todas as atividades praticadas no meio não urbano, que 
consiste de atividades de lazer no meio rural em várias mo-
dalidades definidas com base na oferta: Turismo Rural, Turis-
mo Ecológico ou Ecoturismo, Turismo de Aventura, Turismo 
Fundamentos Geográficos do Turismo
157
de Negócios, Turismo de Saúde, Turismo Cultural, Turismo 
Esportivo, atividades estas que se complementam ou não 
(BRASIL, 2008, p. 18).
Entende-se o espaço rural como um recorte geográfico 
no qual o turismo rural está inserido. Assim, muitas práticas 
turísticas que ocorrem nesse meio não são, necessariamente, 
turismo rural, e sim práticas de lazer e outras atividades que 
ocorrem alheias ao meio em que estão inseridas. O ecoturis-
mo é um dos segmentos mais importantes no atual cenário 
turístico brasileiro e mundial. Este segmento turístico acontece 
predominantemente no espaço rural, pois a realização de ativi-
dades tipicamente ecoturísticas, tais como as caminhadas eco-
lógicas em trilhas de florestas, ocorrem em espaço rural, pois 
as atividades econômicas predominantes nas florestas são ex-
trativismo, agricultura e pecuária. Portanto, poderíamos carac-
terizar grande parte das trilhas florestais onde são realizadas 
tais caminhadas, também definidas como trekking ou hiking, 
como trilhas existentes em espaço rural.
Figura 9.6: Caminhada ecológica: hiking.
Fonte: Acervo pessoal do professor Marcello de Barros Tomé 
Machado.
Hiking 
Atividade de caminhada 
por áreas de predomínio 
natural com percurso 
relativamente curto e de 
baixa ou média duração.
Trekking 
Atividade de caminhada 
por áreas de predomínio 
natural por percurso 
extenso, muitas vezes 
sendo necessário pernoi-
tar e, consequentemente, 
de longa duração.
158
Aula 9 • Geografia Agrária
Assim sendo, diversos segmentos turísticos acontecem no 
espaço rural, alem do próprio Turismo Rural e do Ecoturismo, tais 
como o Turismo Cultural, que tem como principal fator motiva-
dor a busca de interação com diferentes culturas, como a caiçara, 
a quilombola, a ameríndia e suas distintas manifestações; e o Tu-
rismo de Aventura, através de práticas desportivas em áreas de 
predomínio natural e que envolvam risco controlado, tais como 
o rapel, o rafting, o montanhismo etc.
Atividade
Atende ao Objetivo 2
2. O turismo rural é o único segmento turístico que acontece 
no espaço rural? Responda esta pergunta e contextualize com 
exemplos.
Resposta Comentada
Existem outros segmentos turísticos que ocorrem no espaço rural, 
tais como o ecoturismo, o turismo ecológico, o turismo de aventura, 
o turismo cultural etc. Estes não são considerados expressões do Tu-
rismo Rural, mas acontecem também no espaço rural, pois os fatores 
motivadores de fluxos turísticos direcionados ao espaço rural não se 
caracterizam exclusivamente pelas atividades agrárias ali existentes.
Fundamentos Geográficos do Turismo
159
O espaço rural e sua paisagem como 
recurso turístico
A expressão “paisagem” tem sua origem etimológica no an-
glo-saxão antigo Land scaft, passando para landschaft no alemão 
moderno e para landscape no inglês moderno (PIRES, 2001). Quan-
to à definição conceitual de paisagem, Pires (2001, p. 119) atesta 
que esta é mais complexa em decorrência dos seguintes fatores:
a paisagem implica uma percepção sensorial principalmente •	
visual, e isso supõe um subjetivismo que se manifesta quan-
do desejamos dar valor e significado à paisagem;
a paisagem é tema de diversos campos de estudo e de in-•	
teresse de diversos profissionais, como geógrafos, arqui-
tetos, engenheiros, turismólogos etc., e cada um destes 
profissionais, embasados pela sua área de conhecimento, 
terá uma interpretação diferente em relação à paisagem.
O espaço rural brasileiro apresenta relevante potencial pai-
sagístico, resultante de pelo menos três importantes fatores, a sa-
ber: a grande extensão territorial do Brasil; a diversidade de bio-
mas que lhe servem de entorno e suporte; o notável matizamento 
cultural, disseminado em todas as regiões do país. Determinados 
elementos presentes no espaço rural, submetidos ao “olhar” do 
turismo, passam a ser considerados singulares, compondo uma 
paisagem rural turisticamente atrativa. São exemplos destes ele-
mentos que agregam valor turístico à paisagem rural:
Propriedades rurais produtivas, com extensões de terras •	
cultivadas: o turista muitas vezes se sente atraído pela pai-
sagem rural típica, vinculada à produtividade do campo. 
Fazendas com grandes extensões de terra cultivadas fazem 
parte do imaginário do campo e atraem turistas.
160
Aula 9 • Geografia Agrária
Figura 9.7: Paisagem rural: fazenda com grande extensão 
de terras com cultivo.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c3/
Pico_Alto_REFON.jpg
Antigas obras de engenharia, como roda-d’água, ponte •	
pênsil etc: determinados objetos inseridos no espaço ru-
ral agregam valor turístico à sua paisagem. É o caso de 
antigas construções, relevantes no passado, mas, muitas 
vezes, hoje, com valor exclusivamente paisagístico.
Figura 9.8: Antiga roda-d’água.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/e/e8/Muehlrather_muehle3.jpg
Fundamentos Geográficos do Turismo
161
Moradias com estilo arquitetônico representativo: muitas •	
propriedades rurais preservaram edificações seculares de 
grande valor arquitetônico e cuja forma interessa para o 
turismo, pois o aspecto visível exterior da edificação atrai 
o turista pela beleza cênica.
Figura 9.9: Antiga sede da Fazenda Quissamã.
Fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/89/
Casa_da_Fazenda_Quissam%C3%A3_frente_04.jpg
Benfeitorias rústicas, como estábulos, fornos e chaminés, •	
muros de pedra etc.: elementos típicos de antigas fazendas 
produtivas e que agregam valor paisagístico.
Figura 9.10: Muro de pedra tendo ao fundo antigo celeiro. 
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/66/
Riba_de_Ave.jpg
162
Aula 9 • Geografia Agrária
Instalações tradicionais típicas, como moinhos, adegas, •	
alambiques e ferrarias: objetos relevantes para a produção 
rural atual ou que muitas vezes são apenas testemunhos 
da antiga produção. 
Figura 9.11: Antiga adega em quintaportuguesa.
Fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bb/
Adega_tradicional%2C_antigas_vinhas_junto_ao_Farol_da_
Serreta%2C_ilha_Terceira%2C_A%C3%A7ores%2C_Portugal.JPG
Aldeias, povoados e paragens remotas: a paisagem de pe-•	
quenos povoados rurais é atrativa aos olhos do turista.
Figura 9.12: Pequeno povoado rural.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/
ae/Cachoerinha_2.JPG
Fundamentos Geográficos do Turismo
163
Travessia, caminhos antigos: vias utilizadas para desloca-•	
mento junto ao espaço rural e, que pelas características, 
agregam atratividade.
Figura 9.13: Antigo caminho rural.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/13/
Caminho_rural.JPG
Edificações, monumentos, fortificações, igrejas e capelas: •	
monumentos ou objetos arquitetônicos presentes no espa-
ço rural que agregam valor turístico.
Figuras 9.14: Antiga capela em espaço rural.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/42/
RPS_Capela.jpg
164
Aula 9 • Geografia Agrária
Atividade
Atende ao Objetivo 3
3. A paisagem é apontada como um dos mais importantes re-
cursos turísticos. No caso da paisagem rural, esta é apontada 
como bucólica e, por conta disso, turisticamente atrativa. Indique 
elementos típicos da paisagem rural que você consideraria turis-
ticamente atrativos.
Resposta Comentada
São vários os objetos que remetem à paisagem rural, tais como as 
antigas sedes de fazendas, capelinhas, celeiros, estábulos, áreas de 
cultivo e criação etc. Todos estes elementos encontram-se no imagi-
nário turístico rural.
Classificando o turismo rural
Ao pensar o turismo rural como a fruição dos recursos pre-
sentes no espaço rural e nas atividades desportivas e ecológicas 
que lá podem ocorrer, além da dimensão cultural, com foco no modo 
de vida das comunidades rurais, podemos refletir sobre a classifica-
ção do Turismo Rural, a partir de diferentes características.
Rodrigues (2001, p. 110-115) afirma ser possível classificar 
o turismo rural a partir do seu cunho histórico e através da sua 
natureza contemporânea, propiciando definir dois modos de tu-
rismo rural com suas respectivas modalidades. Seriam estes os 
modos de turismo rural: o turismo rural tradicional e o turismo 
rural contemporâneo.
O turismo rural tradicional estaria vinculado à estrutura 
usufruída pelo turismo, cuja função original não era turística. 
Neste modo, temos as seguintes modalidades:
Fundamentos Geográficos do Turismo
165
a) Turismo rural tradicional de origem agrícola: caracterizado 
por propriedades rurais que historicamente foram unida-
des de produção agrária relevantes, como as antigas fazen-
das do ciclo do café e do ciclo do açúcar. Muitas destas fa-
zendas se estruturaram para atender à demanda turística, 
criando serviços de lazer e entretenimento como pesque-
pague, ordenha de vaca, coleta de verduras nas hortas etc. 
Muitas transformaram-se em hotéis-fazendas, cujas sedes, 
às vezes seculares, testemunham a pujança do passado. É 
o caso das antigas fazendas do Vale do Café fluminense.
b) Turismo rural tradicional de origem pecuária: seriam as áre-
as onde a atividade pecuária funcionou como instrumento 
de apropriação do território, principalmente durante o início 
da colonização, existindo equipamentos de hospedagem 
que muitas vezes se originaram na época, como as localida-
des de pouso dos tropeiros, na Campanha Gaúcha.
c) Turismo rural tradicional de colonização europeia: proprie-
dades rurais e seu entorno cuja origem vincula-se à histó-
ria da imigração europeia, como acontece na Serra Gaú-
cha, com influência italiana e alemã, entre outras.
Outro modo de turismo rural apontado por Rodrigues 
(2001) é o turismo rural contemporâneo, caracterizado por en-
globar equipamentos recentes e, muitas vezes, com função estri-
tamente turística. Entre as modalidades de turismo rural contem-
porâneo, Rodrigues (2001, p. 113-115) destaca:
a) Hotéis-fazenda: meios de hospedagem no espaço rural, 
forjados para atender a demanda turística, apresentando 
características rurais e oferecendo serviços tais como pas-
seio a cavalo, ordenha, retirada de frutas do pomar, alimen-
tação de animais, atividades desportivas e culturais etc.
b) Pousadas rurais: alojamentos com pouca estrutura presentes 
no espaço rural, propiciando ao turista usufruir do entorno e 
não da propriedade, como acontece com os hotéis-fazenda.
166
Aula 9 • Geografia Agrária
c) Spas rurais: vinculados ao turismo de saúde, equipamen-
tos que usufruem das características rurais para ampliar as 
ações de salubridade almejadas, principalmente emagreci-
mento e desintoxicação.
d) Segunda residência campestre: é o típico “sítio”. Famílias 
que possuem pequena ou média propriedade rural onde 
frequentemente passam uma temporada. É comum ter pe-
quena produção agrícola, em geral para consumo particu-
lar ou comercialização limitada.
e) Campings ou equipamentos rurais: equipamentos presen-
tes no espaço rural capazes de hospedar grandes grupos 
e famílias, muitas vezes em alojamentos múltiplos. Geral-
mente têm programação intensa, atrelada à faixa etária. 
Muito procurado por escolas.
f) Turismo de caça e pesca: o dito turismo cinegético; ocorre 
em áreas onde a caça é permitida por lei.
g) Turismo Ecorrural: possui caráter de integração, valori-
zando o meio ambiente local, a partir de visitas ao espaço 
natural adaptado do empreendimento, do seu entorno ou 
da região, valorizando a natureza, as tradições locais e as 
atividades agropecuárias.
h) Turismo rural místico-religioso: estabelecimento localizado 
no espaço rural, cuja calma e tranquilidade faz com que, 
além da hospedagem, propicie meditação, práticas místi-
cas e/ou oração.
i) Turismo rural científico-pedagógico: voltado principalmen-
te para alunos e estagiários, cujo espaço rural atende a de-
terminada necessidade em sua formação.
j) Turismo rural etnográfico: a busca pelo contato com deter-
minados povos e grupos sociais, tais como os indígenas, 
ribeirinhos, quilombolas, caiçaras, muitas vezes concentra-
dos no espaço rural.
k) Turismo rural gastronômico: a farta e saborosa culinária 
muitas vezes é a grande atração e fator determinante ao 
deslocamento turístico direcionado ao espaço rural.
Fundamentos Geográficos do Turismo
167
l) Agroturismo: apontado como a modalidade de Turismo Ru-
ral relacionada à aquisição de produtos rurais tais como 
compotas, embutidos, artesanato e plantas etc.
Sobre os modos e modalidades que compõem o turismo 
rural, temos casos em que uma modalidade não exclui a outra, 
ou seja, é possível fazer turismo rural e usufruir de diversas mo-
dalidades do mesmo.
Atividade
Atende ao Objetivo 4
4. Qual o modo e qual a modalidade de turismo rural que um 
turista teria feito ao deslocar-se para uma localidade no espaço 
rural e se hospedar em um meio construído recentemente e que 
possui criação de diversos animais e cultivo de hortaliças, legu-
mes e frutas, sem o objetivo de comercialização e que oferece 
diversos serviços de lazer relacionados à ruralidade? Justifique.
Resposta Comentada
Como modo teríamos o turismo rural contemporâneo e como mo-
dalidade teríamos os hotéis-fazenda, pois esta modalidade caracte-
riza-se como empreendimento estabelecido com função turística, ou 
seja, a principal função está ligada ao setor de serviços, destacando 
a hospedagem e a comercialização de produtos.
168
Aula 9 • Geografia Agrária
Conclusão
Percebemos que o turismo rural é um importante seg-
mento do mercado turístico contemporâneo e que a fruição do 
mesmo ocorre prioritariamente no campo, ou seja, no espaço 
rural, podendo manifestar-se de diferentes modos e modalida-
des, propiciando um farto leque de opções ao turista que deseja 
ausentar-se do cotidiano urbano a partir do deslocamento do seu 
entorno habitual, no caso a cidade, buscando muitas vezes uma 
paisagem bucólica e as características rurais.
AtividadeFinal
Atende aos Objetivos 1, 2 e 3
Consulte sites relacionados a operadoras, agências de viagens 
e revistas de viagens e turismo e pesquise se estas fontes ofere-
cem pacotes direcionados ao espaço rural ou pelo menos ofere-
cem informações sobre destinos turísticos rurais. Analise se as 
atividades oferecidas poderiam ser pensadas como turismo rural 
ou como outro segmento cuja fruição acontece no espaço rural.
Comentário
Existem muitos portais e sites de turismo que recomendam e comer-
cializam produtos turísticos em espaço rural. No entanto, como foi 
visto nesta aula, nem todos os segmentos oferecidos e predominan-
tes no espaço rural são modos e modalidades de turismo rural.
Fundamentos Geográficos do Turismo
169
Resumo
A necessidade de viajar visando fugir do cotidiano habitual dos 
aglomerados urbanos é comum nos habitantes das cidades e 
apresenta a tendência de crescimento; afinal, estes vivem mui-
tas vezes em uma situação de elevado desconforto, seja pela 
violência, seja pelo trânsito, por problemas no trabalho ou pela 
poluição comum em muitas cidades. O estresse resultante des-
ta situação estimula os cidadãos a buscarem localidades mais 
tranquilas para passarem seu tempo livre, tais como finais de 
semana e férias. O espaço rural passa a ser uma relevante opção 
para este grupo, pois determinados segmentos turísticos como 
o modelo globalizado de sol e praia implicam, muitas vezes, situ-
ações de estresse semelhantes às encontradas nas grandes cida-
des. Até porque muitos dos importantes destinos de sol e praia 
encontram-se em grandes cidades, tais como o Rio de Janeiro, 
Recife, Salvador, Fortaleza etc.
Os turistas buscam no espaço rural segmentos como o ecoturismo, 
o turismo de aventura, o turismo cultural etc., procurando também 
usufruir cada vez mais do turismo rural e das suas diferentes mo-
dalidades, graças à diversidade de sua paisagem, e dos objetos, 
cujas formas e funções ampliam a atratividade do campo.
O turismo rural é uma realidade que, planejada e assessorada 
por profissionais competentes — como turismólogos, engenheiros 
agrônomos, engenheiros florestais, arquitetos, entre outros, e im-
plantada por proprietários com espírito empreendedor — pode ser 
uma importante fonte de renda para a propriedade rural, além de 
propiciar relevante experiência ao turista rural.
Informação sobre a próxima aula
Na próxima aula, trataremos da contribuição para os estu-
dos do turismo de um campo fundamental: a cartografia.

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