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ANÁLISE AMBIENTAL E GESTÃO DE RESÍDUOS AULA 6 Profª Adriana Helfenberger Coleto Assis 2 CONVERSA INICIAL O objetivo geral desta aula é mostrar que o envolvimento de todas as pessoas e todos os setores é essencial em uma sociedade ambientalmente responsável. Também desejamos evidenciar que as ações individuais de cada município, estado ou país têm reflexo em todos os espaços geográficos e sociais do planeta. Serão aplicados conceitos e definições estabelecendo a inter-relação entre os aspectos sociais e econômicos, mostrando que só é possível modificar a atual condição ambiental por meio de esforços maciços focados na educação e por meio do respeito e valorização dos profissionais que trabalham com reciclagem, por muitos, considerados apenas coadjuvantes no Sistema de Gerenciamento de Resíduos. TEMA 1 – INVENTÁRIO AMBIENTAL Em síntese, o governo federal, por meio do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), desenvolveu um programa para caracterizar os resíduos industriais por meio de um inventário nacional, com intuito de traçar e desenvolver uma política de atuação para reduzir a produção e destinação inadequada de resíduos perigosos. Fundamentada nas disposições do art. 17, inciso II, da Lei n. 6.938/81, e suas alterações, foi instituído o Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e utilizadoras de Recursos Ambientais. A Resolução CONAMA n. 06/88, posteriormente revogada pela Resolução CONAMA n. 313/02, estabelecia que as empresas apresentassem informações sobre os resíduos gerados e determinava responsabilidades aos órgãos estaduais de meio ambiente para a consolidação das informações recebidas. Por meio dessas informações seria produzido o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos. Em 1999, o Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, lançou edital de demanda espontânea para os estados interessados em apresentar projetos visando à elaboração de inventários estaduais de resíduos industriais. 3 Mas foi a publicação da Resolução CONAMA n. 313 em 2002 que serviu como subsídio à elaboração de diretrizes nacionais, programas estaduais e o Plano Nacional para Gerenciamento de Resíduos Sólidos Industriais (RSI), uma vez que o inventário é um instrumento fundamental de política que visa o controle e a gestão de resíduos industriais no país. O art. 4º dessa resolução determinou que os mais variados setores industriais deveriam apresentar ao órgão estadual de meio ambiente, no máximo um ano após a publicação da resolução, informações sobre geração, características, armazenamento, transporte e destinação de seus resíduos sólidos. As informações deveriam então ser apresentadas ao órgão ambiental estadual até novembro de 2003 e atualizadas a cada dois anos. Os órgãos ambientais estaduais, por sua vez, poderiam limitar o universo de indústrias a serem inventariadas, priorizando os maiores geradores de resíduos, e incluindo outras tipologias industriais, segundo as especificidades de cada estado. O art. 8º da mesma resolução obrigou as indústrias, após dois meses da publicação, a registrar mensalmente e manter na unidade industrial os dados de geração, características, armazenamento, tratamento, transporte e destinação dos resíduos gerados para efeito de obtenção dos dados para o Inventário Nacional dos Resíduos Industriais. Os órgãos ambientais estaduais deveriam passar os dados ao IBAMA. Essa resolução definiu ainda que o IBAMA e os órgãos estaduais de meio ambiente deveriam elaborar, até novembro de 2005, os Programas Estaduais de Gerenciamento de Resíduos Industriais e, até novembro de 2006, o Plano Nacional para Gerenciamento de Resíduos Industriais. Entretanto, uma parte significativa das exigências da Resolução CONAMA n. 313/02 não foi cumprida. Em 2004, o MMA e IBAMA realizaram uma avaliação preliminar dos inventários de resíduos industriais estaduais. Os estados do AC, CE, GO, MT, MG, PE, RN e RS já haviam apresentado seus inventários, mas alguns órgãos estaduais que foram contemplados com recursos para a elaboração do Inventário de Resíduos tiveram dificuldades na compatibilização do seu sistema de informações com o modelo adotado pelo IBAMA. Em 18 de dezembro de 2012, considerando a necessidade de se disciplinar a prestação de informações sobre o gerenciamento de resíduos 4 sólidos prestadas ao IBAMA, foi publicada a Instrução Normativa n. 13 do IBAMA. Esta contempla uma padronização da linguagem utilizada para prestação de informações sobre resíduos sólidos para facilitar o monitoramento, o controle, a fiscalização e a avaliação da eficiência da gestão e gerenciamento de resíduos sólidos nos diversos níveis. Essa instrução estabelecia que todo empreendimento passivo da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA) é obrigado a entregar até o dia 31 de março de cada ano um relatório das atividades exercidas no ano anterior (Figura 1), cujo modelo é definido pelo IBAMA, para o fim de colaborar com os procedimentos de controle e fiscalização, conforme parágrafo 1º do art. 17-C da Lei 6.938/81. Figura 1 – Cadastro técnico Fonte: IBAMA, [S.d.]. Foi estabelecida uma Lista Brasileira de Resíduos Sólidos, que foi utilizada para o Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou que utilizem de Recursos Ambientais, para Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental e para Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos. A Instrução Normativa estabeleceu ainda que todas as informações referentes a resíduos sólidos repassadas ao IBAMA serão disponibilizadas junto ao Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR) e ao Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (SINIMA). 5 Facilitando assim a análise das discrepâncias nas declarações das empresas por meio do cruzamento de informações de diversas fontes e vistorias técnicas para a averiguação dos dados declarados – dados do Cadastro Técnico Federal do IBAMA e do Licenciamento Ambiental Estadual. Vale ressaltar que, no Brasil, o gerador é responsável pelo resíduo gerado segundo art. 10 da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n. 12.305/10). Preferencialmente, os resíduos industriais deveriam ser tratados e depositados no local onde foram gerados, bem como ter destinação adequada, de acordo com as normas legais e técnicas vigentes. São instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, entre outros: • Os planos de resíduos sólidos; • Os inventários e o sistema declaratório anual de resíduos sólidos; • A coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras ferramentas relacionadas à implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; • O incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; • O monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária; • A cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado para o desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos, processos e tecnologias de gestão, reciclagem, reutilização, tratamento de resíduos e disposição final ambientalmente adequada de rejeitos; • A pesquisa científica e tecnológica; • A educação ambiental; • Os incentivos fiscais, financeiros e creditícios; • O Fundo Nacional do Meio Ambiente e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; • O Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR); • O Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA); • Os conselhos de meio ambiente e, no que couber,os de saúde; • Os órgãos colegiados municipais destinados ao controle social dos serviços de resíduos sólidos urbanos; • O Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos. 6 No que couber, os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, entre eles: a) Os padrões de qualidade ambiental; b) O Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais; c) O Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; d) A avaliação de impactos ambientais; e) O Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima); f) O licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras. TEMA 2 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL Originalmente publicado na década de 1960, nos Estados Unidos da América, o livro Primavera Silenciosa, da jornalista Rachel Carson, foi um grande marco na história da Educação Ambiental mundial. Ele trata da produção química dos chamados organoclorados (DDT), conhecidos como poluentes orgânicos persistentes. Esse livro alerta sobre as ameaças que os poluentes químicos orgânicos provocam. Aborda e enfatiza o ciclo natural de espécies, dentro de uma cadeia alimentar, seu próprio controle de nascimentos e mortalidades, responsáveis pela existência e manutenção da biodiversidade. Mas devido à intervenção humana na natureza, sobretudo, e de forma inconsequente e ambiciosa, esse ciclo natural foi rompido e tem sido cada vez mais degradado, levando diversas espécies, inclusive a humana, a adoecerem e morrerem. Assim, de forma poética, Rachel Carson mostra os impactos humanos sobre a Terra, por meio da contaminação do ar, do solo, dos rios e dos mares, por meio de materiais perigosos e até letais. Tais materiais são substâncias químicas diversas, utilizadas para combater as chamadas “pragas” e que, ao final, também atingem outros fins: fixam-se no solo e adentram nos organismos, causando toxicidade e diversos agravos em plantas, animais e nos humanos. O clamor que se seguiu à publicação do livro fez com que o governo norte-americano proibisse o uso de DDT e instigou mudança nas leis, com a 7 criação, em 1970, da Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana, da mesma forma que impulsionou um movimento ambientalista bastante engajado. No Brasil, foi na Constituição Federal de 1988, em seu no art. 225, inciso VI, que os conceitos de educação ambiental surgiram de forma explícita, com o objetivo de “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. No entanto, somente com a promulgação da Lei n. 9795/99, que ocorreu a regulamentação da educação ambiental. Esta dá sentido à educação, deixando claro que consiste em um processo por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Por meio da educação ambiental, é possível preparar cidadãos para a reflexão crítica e para a ação social corretiva e transformadora. Todos têm direito à educação ambiental. Cabe ao poder público, nos termos dos arts. 22 e 205 da Constituição Federal de 1988, definir as políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, assim como promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino. Cabe às instituições educativas promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem. Aos órgãos integrantes do SISNAMA, compete promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente. Os meios de comunicação devem colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação das informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental e sua programação. As empresas, entidades de classe e instituições públicas e privadas devem promover a capacitação de seus colaboradores visando a melhoria e o controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como suas repercussões do processo produtivo no meio ambiente. A sociedade como um todo deve manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem atuação individual e coletiva voltada à prevenção, identificação e a solução de problemas ambientais. É princípio básico da educação ambiental o enfoque humanista, holístico democrático e participativo, a concepção do meio ambiente em sua totalidade, 8 respeitando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural. Os objetivos fundamentais da educação ambiental são: • O desenvolvimento de compreensão integrada ao meio ambiente em múltiplas e complexas relações envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos. • Estímulo e fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social. • O incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício de cidadania. • O estímulo à cooperação entre as diversas regiões do país, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade. • Garantia de democratização das informações ambientais. • O fomento e fortalecimento da integração ciência e tecnologia. • O fortalecimento da cidadania, da autodeterminação dos povos e da solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. Reciclagem é um conceito muito utilizado na abordagem da educação ambiental, principalmente pela fácil associação entre reciclagem e diminuição do lixo que é disposto na natureza, assim como a quantidade de energia e de matéria-prima que é utilizada para a produção de novos produtos. O grande objetivo da educação ambiental é desenvolver nos cidadãos a consciência dos problemas ambientais e estimulá-los a buscar soluções. Para a prática da educação ambiental, é necessário que ocorra mobilização, informação, sensibilização e ação. TEMA 3 – O PAPEL SOCIAL NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL A educação ambiental não está limitada apenas à conservação ambiental. Ela é responsável por proporcionar mudanças individuais e coletivas na busca 9 de uma sociedade sustentável e solidária, por meio da mudança de comportamento social. Trata-se de um caráter estratégico do desenvolvimento sustentável, uma vez que a educação é produto social e instrumento de transformação da sociedade. Ela estimula a racionalidade moral e ecológica, promovendo uma mudança de atitudes e valores. Os indivíduos se veem inseridos em uma sociedade interativa, que compartilha objetivos, regras e valores, exercendo uns sobre os outros uma influência considerável, motivando a satisfação e interatividade e construindo a identidade de uma dada população. Vale ressaltar que ocorre um constante processo de reconstrução dessas identidades em função de influências constantes. A educação permite o desenvolvimento de estratégias economicamente vantajosas para as empresas, protegendo-as das infrações legais e despesas desnecessárias ou não previstas. Existem inúmeros benefícios relacionados ao desenvolvimento sustentável, dentre os principais estão a redução de custos, a redução de responsabilidade legal, a melhoria da imagem coorporativa e da segurança dos colaboradores. Minimizar a geração de poluentes que possam comprometer o meio ambiente e a saúde dos seres humanos é um método bastante eficiente e sensato que uma organização pode usar para se proteger de possíveis responsabilidadeslegais. Isso porque, sanado o risco, não há possibilidade de ocorrência de dano. O desenvolvimento de uma legislação mais restritiva e punitiva mostra que a redução na geração de resíduos é uma opção bastante racional para as indústrias, pois diminui sua responsabilidade legal. A redução dos custos e economia de recursos é um dos benefícios mais almejados por qualquer programa de prevenção a poluição industrial. A substituição de compostos químicos tóxicos por substâncias menos agressivas pode reduzir os custos com sistemas de controle da poluição, manipulação, transporte e disposição final dos resíduos gerados. A prevenção pode contribuir na redução de custos associados à obtenção de licenças de instalação e operação. A melhoria da imagem corporativa está diretamente associada aos programas de prevenção da poluição, pois uma organização que mostre comprometimento em reduzir os impactos negativos sobre o meio ambiente, em 10 razão de sua atividade, desenvolve um relacionamento mais amigável com a comunidade local e seus consumidores. A prevenção da poluição é, também, uma importante ferramenta para a melhoria da saúde e segurança de colaboradores, pois a substituição de substâncias tóxicas por compostos químicos menos poluentes e a redução na emissão de resíduos reduzem os riscos de exposição dos trabalhadores a materiais insalubres, melhorando as condições ocupacionais do colaborador. Mas, independentemente dos benefícios que possam ser obtidos com a implantação de programas de educação ambiental e prevenção da poluição, podem existir algumas barreiras culturais associadas à implantação destes em algumas organizações. A cultura corporativa e as normas institucionais são obstáculos fortes a serem superados, uma vez que é necessário autonomia sobre procedimentos e processos para possibilitar mudanças. TEMA 4 – A IMPORTÂNCIA DOS COLETORES Os catadores de matérias reutilizáveis e recicláveis desempenham fundamental importância na implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), pois atuam nas atividades da coleta seletiva, triagem, classificação, processamento e comercialização dos resíduos reutilizáveis e recicláveis, contribuindo de forma significativa para a cadeia produtiva da reciclagem. Sua atuação é desenvolvida sobre condições precárias de trabalho e de forma autônoma. Trabalham de forma individual em ruas e em locais de destino do lixo (Figura 2). Eventualmente, estão organizados de forma coletiva, por meio da organização cooperativa e associações. http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/politica-nacional-de-residuos-solidos.html http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/politica-nacional-de-residuos-solidos.html 11 Figura 2 – Catadores de papel Crédito: Felipecbit/Shutterstock. A atividade profissional é reconhecida desde 2002, segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). A atuação desses colaboradores impacta significativamente na disposição dos resíduos em aterros sanitários, por meio do aumento do tempo de vida. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) incentiva a criação, desenvolvimento de cooperativas e outras formas de associação de catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, determinando também que sua participação nos sistemas de coleta seletiva e de logística reversa deverá ser priorizada. A PRNS atribui o devido destaque à importância disso na gestão integrada de resíduos sólidos, estabelecendo como alguns de seus princípios o “reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania” e a “responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos” (Brasil, 2010). http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/catadores-de-materiais-reciclaveis/item/478.html 12 A atividade de recolhimento de recicláveis no Brasil é essencial para o gerenciamento de resíduos sólidos, da mesma forma que a inclusão social dos catadores é muito importante. Em função disso surgiu uma série de medidas indutoras na forma de leis, decretos e instruções normativas de fomento à atividade de catação. O Quadro 1 traz alguns exemplos. Quadro 1 – Marco legal da atuação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis Ano Legislação Observações 2006 Decreto n. 5.940 Institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis, e dá outras providências. 2007 Lei n. 11.445 Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis n. 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei n. 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências. Essa lei alterou o inciso XXVII do caput do art. 24 da Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993, tornando dispensável a licitação “na contratação da coleta, processamento e comercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta seletiva de lixo, efetuados por associações ou cooperativas formadas exclusivamente por pessoas físicas, de baixa renda reconhecida pelo poder público como catadores de materiais recicláveis, com o uso de equipamentos compatíveis com as normas técnicas, ambientais e de saúde pública”. 2010 Instrução Normativa n. 1 da Secretária de Logística Tecnológica de Informação. Dispõe sobre os critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens, contratação de serviços ou obras pela Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional e dá outras providências. 2010 Decreto n. 7.217 Regulamenta a Lei n. 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, e dá outras providências. 2010 Lei n. 12.375, arts. 5º e 6º Os estabelecimentos industriais farão jus, até 31 de dezembro de 2014, a crédito presumido do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na aquisição de resíduos sólidos utilizados como matérias-primas ou produtos intermediários na fabricação de seus produtos. Somente poderá ser usufruído se os resíduos sólidos forem adquiridos diretamente de cooperativa de catadores de materiais recicláveis com número mínimo de cooperados pessoas físicas definido em ato do Poder Executivo, ficando vedada, neste caso, a participação de pessoas jurídicas. 2010 Lei n. 12.305 Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. 13 2010 Decreto n. 7.404 Regulamenta a Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá outras providências. 2010 Decreto n. 7.405 Institui o Programa Pró-Catador, denomina Comitê Interministerial para Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis o Comitê Interministerial da Inclusão Social de Catadores de Lixo criado pelo Decreto de 11 de setembro de 2003, dispõe sobre sua organização e funcionamento, e dá outras providências. É importante registrar que a Lei n. 11.445/2007 incluiu uma alteração na Lei 8.666/1993, permitindo a dispensa de licitação para a contratação e remuneração de associações ou cooperativas de catadores de materiais recicláveis. O incentivo a geração de cooperativas e associações fortalece a organização produtiva dos catadores com base nos princípios da autogestão, proporciona oportunidades de geração de renda e de negócios, dentre os quais, a comercialização em rede, a prestaçãode serviços, a logística reversa e a verticalização da produção. O Decreto n. 7.405, de 23 de dezembro de 2010, instituiu o Comitê Interministerial para Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis (CIISC), reestruturando, com isso, o então Comitê Interministerial da Inclusão Social de Catadores de Lixo, que havia sido criado pelo decreto de 11 de setembro de 2003. O Programa Pró-Catador, também instituído pelo Decreto n. 7.405/10, tem por objetivo promover a integração indicada pelo governo federal, voltada aos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, destinadas ao fomento e apoio a organização produtiva dos catadores, melhoria das condições de trabalho, ampliação das oportunidades de inclusão social e econômica e expansão da coleta seletiva de resíduos sólidos, da reutilização e da reciclagem por meio da atuação desse segmento. A execução e o monitoramento do Programa Pró-Catador, com ações para a inclusão socioeconômica dos catadores, são coordenados pelo CIISC, e visa estruturar e fortalecer as cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis, como empreendimentos solidários. O MMA participa de Acordo de Cooperação Técnica, firmado em 2013 junto à Fundação Banco do Brasil, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), o http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm 14 Ministério do Trabalho e Emprego e a Secretaria-Geral da Presidência da República, para implantação do Projeto Cataforte – Estruturação de Negócios Sustentáveis em Redes Solidárias, por meio de apoio e fomento às ações de inclusão produtiva de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis. Esse ministério integra ainda o Comitê Estratégico do Cataforte, instituído pela Portaria n. 40/13, da Secretaria-Geral da Presidência da República, com atribuições de definir as diretrizes estratégicas sobre o Cataforte; realizar o acompanhamento estratégico das ações; selecionar empreendimentos a serem apoiadas no âmbito do projeto e aprovar os Planos de Negócios das redes. O Projeto encontra-se em sua terceira fase de implementação (Quadro 2). Quadro 2 – Fases do Projeto CATAFORTE Fases do projeto Características do projeto Primeira Destinou-se ao fortalecimento do associativismo e cooperativismo dos catadores de materiais recicláveis Segunda Deu enfoque à logística solidária, ou seja, ao fortalecimento da infraestrutura de logística das cooperativas e associações em rede, aprimorando as capacidades operacionais desses empreendimentos. Terceira Implementação destinada à estruturação de negócios sustentáveis em redes solidárias de empreendimentos de catadores de materiais recicláveis, visando avanços na cadeia de valores e inserção no mercado da reciclagem. O Ministério do Meio Ambiente é demandante para a oferta de cursos do Pronatec, na sua modalidade Pronatec Catador. No MMA, essa agenda é coordenada pela Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania (SAIC), por meio de seu Departamento de Cidadania Ambiental e Responsabilidade Socioambiental. Estabelece, também, a separação, na fonte geradora, dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, para destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis. Esses trabalhadores informais são especialmente importantes para a redução da quantidade de lixo doméstico gerado nos municípios e continuam marginalizados, não são pagos pelo município, não gozam de benefícios nem assistência, trabalham e sobrevivem. Esse é um dos males, entre muitos, de 15 uma sociedade injusta e profundamente desequilibrada em sua distribuição de renda. TEMA 5 – ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DA GESTÃO AMBIENTAL A busca pela qualidade e produtividade de serviços com responsabilidade ambiental é um conceito de desenvolvimento relativamente novo. Ele teve início a partir do reconhecimento da fragilidade do ecossistema e da necessidade de manutenção do equilíbrio ambiental. Esse início foi marcado em 1968, pelo Clube de Roma, resultante da atuação de um grupo de cientistas, filósofos, industriais e economistas de diversos países, que se reuniram na Academia Dei Licei em Roma, preocupados com a poluição provocada pela atividade humana e crescimento humano. Ocorreram diversas reuniões onde eram discutidos temas relacionados à economia internacional, política e, sobretudo, ao meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. A partir desses encontros foi elaborado um relatório sobre o futuro da humanidade. O documento, denominado The Limits to Growth (“Os Limites do Crescimento”), foi publicado em 1972 e abordava os grandes problemas que afligiam a humidade, como pobreza, deterioração do meio ambiente, alienação da juventude, expansão humana descontrolada e falta de empregos. Em 1969, os Estados Unidos da América criaram a National Environmental Policy Act (NEPA), que tornou obrigatória a elaboração de Estudos de Impactos Ambientais (EIA) para qualquer atividade com potencial poluidor. Em consequência dessa ação, foi criada a Agência de Proteção Ambiental (EPA), órgão regulador das questões ambientais nos Estados Unidos. Com a entrada em funcionamento da EPA, diversas leis importantes são promulgadas naquele país, destacando-se as seguintes: • Lei do ar puro; • Lei da água pura; • Lei de controle de substâncias tóxicas; • Lei federal sobre inseticidas e fungicidas. Nessa época, a preocupação ambiental apresentava-se fortemente reativa. Consistia em estratégia usada para corrigir os danos causados ao meio ambiente depois de sua ocorrência. Poucos esforços eram feitos para prevenir 16 esses danos. O objetivo era tratar a poluição gerada durante o processo produtivos e consumo, sem implementar a adoção de medidas para redução ou eliminação de sua geração. O seminário de Fournex, realizado em 1971 na Suíça, apresentou o Painel de Peritos em Desenvolvimento e Meio Ambiente, que tratou dos problemas associados à deterioração ambiental. O relatório resultante desse seminário foi fundamental para consolidar as bases da conferência de Estocolmo, realizada em 1972. Por ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, ficou claro que os países estavam preocupados em produzir a qualquer custo. E a poluição era vista como decorrência natural do processo produtivo, símbolo do progresso e preço a ser pago. A legislação preocupa-se basicamente em punir os culpados. Podemos afirmar que a Conferência foi marcada por duas posições antagônicas: • De um lado, os países desenvolvidos propondo um programa internacional de conservação dos recursos naturais, além de medidas preventivas imediatas, capazes de evitar um grande desastre; • Do outro, os países em desenvolvimento, dentro de um quadro de miséria, com consideráveis problemas sociais como moradia, saneamento básico e doenças infecciosas e que necessitavam se desenvolver economicamente. O grande questionamento era com relação às recomendações dos países ricos, que já haviam atingido o poderio industrial com o uso predatório de recursos naturais durante séculos, deteriorando o meio ambiente. Foram justamente esses países que impunham complexas exigências de controle ambiental, que encareciam e retardavam o desenvolvimento almejado pelos países subdesenvolvidos. É importante salientar, ainda, que nessa reunião foi firmado o conceito de ecodesenvolvimento, que defende o crescimento baseado no potencial do ecossistema, a participação da comunidade, a diminuição de desperdícios e a reciclagem. Durante essa Conferência, a Assembleia Geral da ONU criou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O objetivo desse programa foi: 17 • Facilitar a cooperação internacional no campo do meio ambiente;• Promover o desenvolvimento de conhecimento nessa área; • Monitorar o estado do ambiente global; • Chamar a atenção dos governos para problemas ambientais emergentes de importância internacional. No final dessa Conferência, ficou firmada a recomendação com relação a uma nova reunião internacional para discutir a educação ambiental. Esta ocorreu em Belgrado (antiga Iugoslávia), em 1975, sendo produzida a Carta de Belgrado, na qual era enfatizada a atenção para a necessidade de erradicar as causas da pobreza do analfabetismo e da distribuição equitativa dos recursos do mundo. No final da década de 1970, mais precisamente em 1978, surge na Alemanha o primeiro selo utilizado para a rotulagem de produtos considerados ambientalmente corretos, o selo verde, que recebeu o nome de “Anjo Azul”. Ele atestava produtos oriundos da reciclagem, com baixa toxicidade, sem CFC (clorofluorcarbonetos) etc. A partir dos anos 1980, a sociedade volta a debater duramente a respeito dos avanços da degradação ambiental. Algumas empresas começam a abandonar a visão de custo associada ao meio ambiente. Tornaram-se pioneiras na pesquisa de métodos ambientais para poupar dinheiro e aumentar suas vendas. A indústria começa a se dar conta de que, para se manter competitiva, precisa definir o meio ambiente como uma oportunidade de lucro. Em 1983 é criada a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Comissão de Brundtland, pelas Nações Unidas. Em 1987 foi publicado o Relatório Brundtland, com o título “Nosso Futuro Comum”, no qual foi difundido o conceito de desenvolvimento sustentável, que incorporou os conceitos de responsabilidade comuns ao processo de desenvolvimento econômico. Essa mudança de postura da indústria ficou evidente na multiplicação de selos verdes. Porém, os primeiros selos verdes ainda se apoiavam em critérios simples, como a redução ou a eliminação de uma ou mais substâncias poluentes presentes no produto. Os estudos elaborados pelos selos verdes procuram cobrir desde a produção até o descarte final do produto. Surge, assim, a ideia de ciclo de vida. 18 Os selos criados na década de 1980 foram os seguintes: • 1988 – Canadá (Environmental Choice); • 1988 – Países Nórdicos (White Swan); • 1989 – Japão (Eco Mark). Em 1988, o Anjo Azul, pioneiro entre os selos ecológicos, já era aplicado em 3.500 produtos diferentes. O selo ecológico, apesar de voluntário, adquire força e induz o consumidor a adquirir produtos ambientalmente corretos. Na década de 1990 intensificou-se a criação dos selos verdes, atingindo tanto países desenvolvidos como os em vias de desenvolvimento: • 1991 – França (NF – Environment); • 1991 – Índia (Eco Mark); • 1992 – Coreia (Eco Mark); • 1992 – Singapura (Green Label). Essa nova década estimula um novo grupo de rótulos ecológicos que visam não apenas a eliminação de substâncias poluentes dos produtos, mas de todo o processo produtivos. A Resolução 44/228, de 22 de dezembro de 1989, da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), convocou as nações do mundo inteiro para a Conferência Mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida como Cúpula da Terra ou Eco-92, que se realizou no Rio de Janeiro em 1992 e contou com representantes de 172 países, inclusive 116 chefes de Estado. Nessa mesma ocasião, paralelamente à Conferência, 4 mil entidades da sociedade civil do mundo todo organizaram o Fórum Global das ONGs. No Estocolmo-72, o número de ONGs havia sido aproximadamente 500. O Fórum Global elaborou quase quatro dezenas de documentos e planos de ação, demonstrando o grau de organização e de mobilização atingido pelas ONGs naquela década final do século XX. Os principais documentos que resultaram da Cúpula da Terra foram os seguintes: • Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, com 27 princípios orientando um novo tipo de atitude do ser humano na Terra, por 19 meio da proteção dos recursos naturais, da busca do desenvolvimento sustentável e de melhores condições de vida para todos os povos. • Agenda 21, que contempla planos de ação a ser implementadas pelos governos, agências de desenvolvimento, organizações das Nações Unidas e grupos setoriais independentes em cada área onde a atividade humana afeta o meio ambiente. A execução da Agenda 21 deve levar em conta as diferentes condições dos países e regiões, considerando todos os princípios contidos na Declaração do Rio Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Essas ações continham em pauta ações a longo prazo, estabelecendo os temas, projetos, objetivos, metas, planos e mecanismos de execução para diferentes temas da Conferência. Esse programa contém quatro seções, quarenta capítulos, 115 programas, e aproximadamente 2,5 mil ações a serem implementadas. As seções da Agenda 21 abrangem os seguintes temas: • Dimensões econômicas e sociais: trata das relações entre meio ambiente e pobreza, saúde, comércio, dívida externa, consumo e população. • Conservação e administração de recursos: trata das maneiras de gerenciar recursos físicos para garantir o desenvolvimento sustentável. • Fortalecimento dos grupos sociais: trata das formas de apoio a grupos sociais organizados e minoritários que colaboram para a sustentabilidade. • Meio de implementação: trata dos financiamentos e do papel das atividades governamentais não governamentais. A Convenção sobre Mudança do Clima foi assinada em 1992, no Rio de Janeiro, por 154 Estados, e reflete a preocupação com o aquecimento de nosso planeta, seus efeitos sobre a sobrevivência do ser humano e as condições adversas sobre os ecossistemas. O aquecimento do planeta é produzido pelo aumento de concentração na atmosfera terrestre dos chamados gases estufa (principalmente gás carbônico, emitido pela queima de combustíveis fósseis). As questões se arrastaram até a Conferência da ONU em Kyoto (Japão), em 1997, quando foi discutida, em especial, a questão da redução de tais emissões aos níveis de 1990 (ou a níveis ainda inferiores), por parte dos países 20 industrializados – principais responsáveis pelo efeito estufa, sendo elaborado no final o chamado Protocolo de Kyoto. Esse Protocolo foi assinado em 11 de dezembro de 1997 e ratificado em 15 de março de 1999. Em Kyoto, os Estados Unidos mostraram-se relutantes em aceitar a proposta da União Europeia: emissões em 2010 deveriam ser 15% menores que as de 1990. Os Estados Unidos, inclusive, procuram estender aos países em vias de desenvolvimento o compromisso de reduzir suas emissões. Estes, reunidos no G-77, grupo que compreende cerca de 130 países em desenvolvimento (inclusive o Brasil), insistem que a conta deve ser paga pelos principais responsáveis. Dez anos depois da primeira conferência, 97 governantes de todo o mundo se reuniram em Johanesburgo, na África do Sul, para a 2ª Conferência da Cúpula da Terra, denominada Rio+10, na qual foram discutidas as maneiras de alcançar o desenvolvimento sustentável, diminuir a desigualdade social sem provocar danos ambientais. Desde então, diversos países desenvolveram políticas ambientais e criaram agências de proteção ambiental a fim de adotar uma postura preventiva, atendendo as necessidades sem comprometer o desenvolvimento sustentável. Para isso, as empresas devem ter suas atividades planejadas segundo os conceitos da qualidade, produtividade e sustentabilidade ambiental, obtendo assim uma competitividade global. Todas as condições catastróficas desencadeadas por acidentes ambientais produziram uma mudança gradativa na postura dos cidadãos e das instituições, bem como das empresas, aprimorando o desenvolvimento de tecnologias de alto impacto ambiental. Mas a mudança de atitude é sempre uma coisa gradativa, bastante lenta e incompleta. Dentro de uma organização é possívelencontrar, convivendo lado a lado, posturas conservadoras, indiferentes, ou renovadoras, que podem ser resumidas da seguinte maneira: • Ausência de prevenção em relação às responsabilidades pela poluição: “A poluição é necessária para o desenvolvimento da nação”. • Consciência sem comprometimento: “Nós poluímos, mas tem empresas que fazem pior”. 21 Trata-se de uma atitude reativa. É feito apenas o necessário para evitar multas e punições. Não são atitudes efetivas, destinadas a gerar mudanças, atacar as fontes de poluição. A poluição é um problema que deve ser resolvido por todos nós e atacado diretamente nas fontes geradoras (postura proativa). É possível perceber o quanto a sociedade tem poder. A maioria das alterações nas leis foi forjada por acontecimentos que repercutiram em clamor público: • Grandes acidentes ambientais divulgados amplamente pela mídia; • Direitos assegurados aos cidadãos (exemplo o código do consumidor); • Direitos assegurados pela Constituição e pela legislação ambiental; • Análise da contabilidade ambiental das empresas, por parte de acionistas, credores e seguradoras; • Marketing verde (produtos cuja produção e/ou utilização causam menor impacto sobre o meio ambiente); • Atividade crescente das ONGs, que adquiriram base científica e tecnológica mais fundamentada e, por isso, deixaram de ser consideradas como simplesmente alarmistas; • Pressão dos consumidores, manifestada tanto pela escolha de produtos ambientalmente corretos quanto pela utilização de todos mecanismos disponíveis para fazer valer seus direitos – quando se sentirem prejudicados pelos produtos que adquiriram. As empresas que investem em uma imagem “mais verde”, utilizando processos menos poluidores, e que colaboraram para a preservação do meio ambiente, são mais respeitadas, têm a simpatia do público e crescem mais do que as outras. É importante salientar que poluição é qualquer tipo de matéria ou energia que ingressa no “sistema”, fora do esperado. A poluição não se restringe à matéria ou a um produto emitido pelo homem. Ela se associa à ideia de modificação, tanto estrutural quanto na composição do ecossistema, causando prejuízo. Nesse sistema, devemos associar as questões de poluição da atmosfera, que constantemente sofre alterações devido à emissão de resíduos sólidos e gasosos em quantidade superior à sua capacidade de absorção. 22 Essa poluição deriva de várias fontes, como: • Meios de transporte utilizados na logística de produtos. Estes são responsáveis por grande parte da poluição atmosférica, pois emitem gases como o monóxido e o dióxido de carbono, óxido de nitrogênio, dióxido de enxofre, derivados de hidrocarbonetos e chumbo. • Indústrias que, além do gás carbônico, emitem enxofre, chumbo, outros metais pesados e diversos resíduos sólidos. • Incineração de resíduos sólidos. • Poluição natural provocada pelas erupções vulcânicas. Uma organização pode programar um gerenciamento ambiental por inúmeros motivos: exigência dos clientes, ampliação de mercado consumidor e melhorar a imagem da organização perante a população, clientes, vizinhos, concorrentes etc. 5.1 O custo da reciclagem e recuperação de resíduos sólidos industriais Quando mencionamos a necessidade de uma destinação correta do resíduo gerado, estamos enfatizando uma transformação que viabilize economia ao processo. É bastante comum proceder ao tratamento com vista à reutilização ou com o objetivo de tornar o resíduo inerte. No entanto, a diversidade de possibilidades deixa claro a necessidade de pesquisar o processo economicamente viável. Em termos práticos, os processos de tratamento de resíduos mais comuns consistem na neutralização adequada para resíduo de caráter ácido ou básico; na secagem ou mistura adequada para resíduo com alto teor de umidade, o qual será misturado a materiais secos e inertes; no encapsulamento, que consiste em revestir o resíduo com uma camada de resina sintética impermeável e de baixo índice de lixiviação; na incorporação, em que os resíduos são misturados à massa de concreto, cerâmica ou materiais combustíveis em uma quantidade não racional nem prejudicial ao meio ambiente após a queima e os processos de destruição térmica. Vale ressaltar que não existem tratamentos economicamente viáveis para o lixo radioativo. No Quadro 3, estão relacionados alguns métodos de tratamento de resíduos. 23 Quadro 3 – Tratamento de resíduos e suas respectivas características. Tratamento Características Incineração É composto por duas câmaras de combustão onde, na primeira câmara, os resíduos, sólidos e líquidos, são queimados a temperatura variando entre 800 e 1.000 °C, com excesso de oxigênio, e transformados em gases, cinzas e escória. Na segunda câmara, os gases provenientes da combustão inicial são queimados a temperaturas da ordem de 1.200 a 1.400 °C, nesta os gases são rapidamente resfriados para evitar a recomposição das extensas cadeias orgânicas tóxicas e, em seguida, tratados em lavadores, ciclones ou precipitadores eletrostáticos, antes de serem lançados na atmosfera por meio de uma chaminé. A temperatura de queima não é suficiente para fundir e volatilizar os metais, estes se misturam às cinzas, podendo ser separados destas e recuperados para comercialização. Os resíduos contendo cloro, fósforo ou enxofre necessitam de maior permanência dos gases na câmara e sistemas de captação de resíduo gasoso. Fornos rotativos Servem para destruir termicamente os resíduos infectantes, porém são mais usados para resíduos industriais Classe I. São incineradores cilíndricos, com diâmetro da ordem de quatro metros e comprimento de até quatro vezes o diâmetro, montados com uma pequena inclinação em relação ao plano horizontal, chegam a 1500ºC. Pirólise Também é um processo de destruição térmica, com absorção de calor e ocorre na ausência de oxigênio, onde os materiais à base de carbono são decompostos em combustíveis e carvão, redução substancial do volume de resíduos, cerca de 95%. São muito utilizados no tratamento dos resíduos de serviços de saúde, onde o poder calorífico dos resíduos mantém uma determinada temperatura no processo. Em modelos de câmara simples a temperatura gira na faixa dos 1.000 °C, em câmaras múltiplas, a temperaturas varia de 600 e 800 °C na câmara primária, e de 1.000 e 1.200 °C na câmara secundária. Apresenta elevado risco de contaminação do ar, com geração de dioxinas a partir da queima de materiais clorados existentes nos sacos de PVC e desinfetantes Autoclavagem Consiste em um sistema de alimentação que conduz os resíduos até uma câmara estanque onde é feito vácuo e injetado vapor d'água (entre 105 e 150 °C) sob determinadas condições de pressão. Os resíduos permanecem nesta câmara durante determinado tempo até se tornarem estéreis, havendo o descarte da água por um lado e dos resíduos pelo outro. Não há garantia de que o vapor d'água atinja todos os pontos da massa de resíduos a não ser que seja efetuada trituração prévia à fase de desinfecção; Não produz efluentes gasosos e o efluente líquido é estéril. Não reduz o volume dos resíduos. Micro-ondas Os resíduos são triturados, umedecidos com vapor a 150 ºC e colocados continuamente num forno de micro-ondas onde há um dispositivo para revolver e transportar a massa, assegurando que todo o material receba uniformemente a radiação de micro-ondas. Não gera efluentes de qualquer natureza Radiação ionizante Os resíduos, na sua forma natural são expostos à ação de raios gama gerados por uma fonte enriquecida de cobalto 60 que torna inativo os microrganismos. A eficiência do tratamento é questionável, uma vez que há possibilidade de nem toda a massa de resíduos ficar exposta aos raios eletromagnéticos Eletrotérmica O resíduo triturado é exposto a um intenso campo elétrico de alta potência, gerado por ondas de rádiofrequência. Neste processo, os resíduos infectantes absorvem a energia elétrica do campo magnético, se aquecem rapidamente e atingem temperaturas entre 90 ºC a 100 ºC com tempo de residência médio de 15 minutos. 24 Tratamento químico Neste processo, os resíduos são triturados e, em seguida, mergulhados numa solução desinfetante que pode ser hipoclorito de sódio, dióxido de cloro ou gás formaldeído. A massa de resíduos permanece nesta solução por alguns minutos e o tratamento ocorre por contato direto. Fonte: Genon; Brizio, 2008; Ibam, 2001; Scwarzenbach; Gschwend; Imboden, 1993. Todos esses processos apresentam elevados custos operacionais. As estimativas das faixas de custo de operação estão apresentadas na Tabela 1: Tabela 1 – Preços operacionais de tratamento de resíduos sólidos Custos operacionais Tipo Custo (R$/ton) Processo Radiação Desinfecção Incineração Pirolise Micro-ondas Radiação ionizante Eletrotérmica Autoclave Desinfecção química 600,00-720,00 600,00-720,00 480,00-720,00 300,00-340,00 300,00-360,00 180,00-300,00 140,00-200,00 Quando da escolha pelo melhor método de tratamento de resíduos, as vantagens e desvantagens devem ser levadas muito a sério, uma vez que a economia operacional, muitas vezes, não é um parâmetro suficiente de escolha. Deve-se optar pela maior eficiência do tratamento dos resíduos, ou seja, aquele que reduza o volume do resíduo e não gere efluentes líquidos ou gasosos. NA PRÁTICA Determinada empresa gera, por mês, 100 kg de resíduos de politereftalato de etileno. Esse produto é enviado a um aterro industrial há aproximadamente seis anos. Entretanto, o novo gestor da organização quer reciclar esse resíduo. Isso é possível? Durante esses seis anos, a empresa gastou, com destinação, o valor médio de R$ 186,00 por tonelada. Se o resíduo for vendido por R$ 0,90 para a reciclagem, qual será o lucro obtido? 25 FINALIZANDO Todo empreendimento passivo da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA) é obrigado a relatar as atividades exercidas no ano anterior, a fim de colaborar com os procedimentos de controle e fiscalização para constituir o Sistema Nacional de Informações e o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente. Nesse sentido, a implantação de uma educação ambiental forte permite o desenvolvimento de estratégias economicamente vantajosas para as empresas, protegendo-as de infrações legais e de despesas desnecessárias para reparar danos causados. Da mesma forma, a valorização e o fortalecimento de profissionais que trabalham com a reciclagem e recuperação de resíduos sólidos é essencial para consolidar o sistema de gestão ambiental do país. 26 REFERÊNCIAS GENON, G.; BRIZIO, E. Perspectives and limits for cement kilns as a destination for RDF. Waste Management, v. 28, p. 2375-2385, 2008. IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal. Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidência da República. Manual de gerenciamento integrado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro, 2001. SCHWARZENBACH, R. P.; GSCHWEND, P. M.; IMBODEN, D. M. Environmental organic chemistry. New York: John Wiley, 1993.