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M ar ci a M io tt o Ro sa en M ar ia K as pa ry G es tã o de R es íd uo s Só lid os Marcia Miotto Rosaen Maria Kaspary Gestão de Resíduos Sólidos Curitiba 2016 Marcia Miotto Rosaen Maria Kaspary Gestão de Resíduos Sólidos Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501 M669g Miotto, Marcia Gestão de resíduos sólidos / Marcia Miotto, Rosaen Maria Kaspary. – Curitiba: Fael, 2016. 186 p.: il. ISBN 978-85-60531-42-4 1. Gestão ambiental 2. Resíduos sólidos I. Rosaen, Maria Kaspary II. Título CDD 628.4 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão FabriCO Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/3RUS Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao aluno | 5 1. Introdução à Gestão de Resíduos Sólidos | 9 2. Resíduos Sólidos: leis, caracterização e classificação | 29 3. Sistema Integrado de Resíduos Sólidos | 49 4. Logística Reversa (LR) | 65 5. Mecanismos de Desenvolvimento Limpo | 79 6. Usina de Reciclagem – Compostagem | 95 7. Reciclando o Ambiente | 111 8. Agregando Valor Ao Resíduo | 127 9. Gestão de Resíduos para o Desenvolvimento Sustentável | 145 10. Educação Ambiental | 159 Conclusão | 169 Referências | 171 Prezado(a) aluno(a), A Gestão de Resíduos Sólidos vai muito além da separação do “lixo” e o seu descarte final. É preciso, antes de qualquer coisa, conhecer todas as etapas que estão inseridas nessa questão. Entender a evolução do homem, seu comportamento e sua cultura, saber o quanto a economia interfere na geração de resíduos, e a forma de tratamento. Neste capítulo, você irá ter uma ampla visão de como os órgãos governamentais atuam para atender a essa problemática. Irá também conhecer mais profundamente quais são os impactos ambientais provocados e as formas de contenção bem como as tec- nologias e soluções que podem contribuir para o atendimento da gestão. Por fim, você terá condições de identificar as necessidades de Educação Ambiental, de forma a provocar mudanças significativas e permanentes para a sustentabilidade da gestão. Carta ao aluno Gestão de Resíduos Sólidos – 6 – Você sabia que a geração de resíduos é um problema que foi ignorado por muitos anos e ainda continua sendo pela maioria da população, inde- pendentemente de seu nível educacional ou classe social? Esse descaso pode afetar a evolução do homem, principalmente pelo uso indiscriminado dos recursos naturais e o descarte incorreto dos resíduos gerados, pois cada resí- duo possui um tempo diferenciado de decomposição na natureza. Sendo assim, os novos recursos dependem do conhecimento adequado desse pro- cesso. Nesse sentido, o profissional que atua na área ambiental precisa ter uma visão sistêmica da questão para aplicar as soluções necessárias em cada etapa da gestão de resíduos sólidos. A disciplina “Gestão de Resíduos Sólidos” tem o objetivo de capacitá- -lo(a) para a compreensão do sistema como um todo, fornecendo-lhe os con- ceitos, legislações, tecnologias e práticas necessárias para esse entendimento. Os conceitos fornecidos a você apresentam as informações que o auxiliarão na tomada de decisões para a escolha dos processos na implantação do sistema de gestão de resíduos. Assim, o conhecimento da legislação permite o aten- dimento dos requisitos exigidos pelos órgãos responsáveis pela fiscalização da atividade Dessa forma, você estará devidamente preparado para fornecer consultoria profissional no mercado de trabalho. Os demais componentes da disciplina contribuem para que você possa entender o processo de planejamento e implantação de um programa de ges- tão de resíduos. Compreendendo a logística requerida, as tecnologias utili- zadas para a redução da geração na fonte, as soluções para a reutilização e reciclagem, reduzindo, assim, o descarte. E tão importante quanto conhecer as etapas de um sistema como este é conhecer os tipos de resíduos e seus riscos à saúde. Contudo, a disciplina também tem como objetivo apresentar a você a caracterização e a classificação dos resíduos gerados, possibilitando a sua segregação e o manuseio correto nas atividades profissionais. A partir da apreensão de todos esses conhecimentos, você estará ampla- mente capacitado para enfrentar os desafios do mercado de trabalho. Todos esses desafios incluem mudanças nos padrões de consumo para a promoção de ações, visando à melhoria na qualidade de vida, com a redução da poluição e o desenvolvimento sustentável. Durante o processo de aprendizagem, você deverá ter subsídios para desenvolver as seguintes competências: – 7 – Carta ao aluno 2 entender e aplicar a Sistemática da Gestão de Resíduos Sólidos; 2 identificar os diferentes tipos de resíduos, a forma e as fontes de geração e os potenciais riscos à saúde e ao meio ambiente; 2 conhecer, por meio do histórico, as causas da problemática para entender e aplicar as políticas ambientais relacionadas; 2 distinguir e reproduzir as metodologias e técnicas para a redução, reutilização e reciclagem dos resíduos sólidos; 2 buscar alternativas para reaproveitamento dos resíduos em outros processos, como a geração de energia limpa/renovável; 2 atuar na Educação Ambiental para atender às legislações vigentes, bem como à melhoria na qualidade de vida da população e na pre- servação ambiental. 1 Introdução à Gestão de Resíduos Sólidos Neste capítulo, você irá conhecer os contextos que envol- vem a problemática dos Resíduos Sólidos. Aqui, serão apresentados os principais conceitos da Gestão Ambiental e da Gestão de Resí- duos, assim como o histórico da geração a partir das mudanças no estilo de vida da população e dos problemas que o homem enfrenta pelo acúmulo de resíduos. Você também terá a oportunidade de estudar com acuidade a necessidade de implantação de um sistema de gestão e quais são as políticas criadas para atender a essa cres- cente demanda, bem como as responsabilidades dos atores envol- vidos – governo (federal, estadual e municipal), comunidade em geral, indústrias, entre outros. Gestão de Resíduos Sólidos – 10 – Objetivos de aprendizagem: 2 analisar o histórico da geração de resíduos para compreender as causas da problemática e utilizá-las como base da Gestão de Resí- duos Sólidos - GRS; 2 entender os conceitos da GRS para fundamentar o planejamento e implantação do sistema; 2 compreender as necessidades das políticas ambientais e como elas são regulamentadas; 2 compreender as etapas da GRS visando à maximização da efici- ência dos projetos para minimização, reutilização e reciclagem dos resíduos. 1.1 Contextualização / Histórico As preocupações com o meio ambiente, principalmente em relação à qualidade ambiental acompanham a história do homem. Porém, com a evo- lução da sociedade, essas preocupações se intensificaram e tornaram-se cru- ciais para a qualidade de vida das pessoas. Nos dias de hoje, há uma extensiva preocupação com o meio ambiente, sobretudo como forma de manutenção da vida em centros urbanos, cuja densidade demográfica aumenta enquanto os recursos naturais diminuem. Nesse sentido, compreender os diferentes estilos de vida da população no decorrer do tempo e como os recursos natu- rais são utilizados, ou não, em cada período é fundamental para a gestão de resíduos sólidos e, consequentemente, para atender às questões ambientais. Importante Um sistema de gestão de resíduos sólidos tem potencial para a redu- ção dos impactos ambientais negativos e da melhoria na qualidade de vida das pessoas em função do uso correto dos recursos naturais e do desenvolvimento econômico. Por esse motivo, é fundamental que haja esta contextualização como base deste estudo. – 11 – Introdução à Gestão de Resíduos Sólidos 1.1.1 Recursos Naturais O homem,assim como os demais seres vivos, utiliza os recursos naturais para sua sobrevivência. Contudo, o ser humano os utiliza de maneira diferenciada, visando, além do conforto, à prosperidade. Essa diferença, porém, provocou mudanças no meio ambiente ao longo da his- tória, incluindo mudanças no estilo de vida do homem, principalmente a partir da Era Industrial, que favoreceu as aglomerações urbanas, o que, por sua vez, provocou ainda mais os problemas ambientais, caracterizados a partir dessas mudanças de hábitos. Segundo Braga (2005, p. 5), a definição de Recurso Natural é “qual- quer insumo de que os organismos, as populações e os ecossistemas neces- sitam para sua manutenção”. Sendo assim, é possível definir como recurso natural um elemento ou composto que seja útil. Essa utilização inclui os recursos processados que necessitam de tecnologia para a sua utilização, como o álcool, proveniente da cana de açúcar ou o magnésio, utilizado para compor ligas metálicas. Os Recursos Naturais podem ser classificados, segundo Braga (2005), como: renováveis e não renováveis. Quanto aos recursos renováveis, eles podem ser reutilizados após seu uso, com ou sem recursos tec- nológicos, como é o caso da energia eólica, a água etc. Enquanto que os recursos não renováveis têm seu fim após uma ou mais utiliza- ções, como o carvão, que após a queima vira cinza ou ainda materiais radioativos que deixam de gerar radia- ção depois de um tempo específico. Esses dois exem- plos mostram que existe Recurso natural Renovável Não renovável Água, biomassa, ar, vento Minerais energéticos, combustíveis fósseis, urânio Minerais não energéticos - cálcio, fósforo, etc. Figura 1 – Classificação dos Recursos Naturais. Fonte: Braga, 2005. Gestão de Resíduos Sólidos – 12 – uma diferença dentro dos recursos naturais não renováveis, possibilitando, assim, que Braga (2005) classifique essa categoria em outras duas, conforme é possível observar na figura a seguir. É salutar a percepção de que os recur- sos não energéticos são transformados ou convertidos, podendo também ser reutilizados, mas com alta tecnologia e custo, além do tempo para a sua total recomposição, tornando irrelevante sua reutilização pelo ser humano. 1.1.2 População e Consumo Os recursos, assim como a vida do ser humano, podem ser expressos em ciclos. Desde o domínio do fogo, a evolução do homem é manifestada com o uso de diferentes tecnologias e, em consequência, por diferentes estilos de vida. No entanto, a Era Capitalista aponta para uma evolução mais acelerada em função do sistema de produção, pela expansão dos parques industriais e, ainda, para uma cultura direcionada à massificação do consumo (NORÕES, 2011). Essa nova cultura favoreceu o crescimento da população, trazendo, com isso, inúmeras mudanças de hábitos que culminaram no aumento da geração dos resíduos e, consequentemente, a degradação ambiental. Segundo Bidone e Povinelli (1999), há diferenças na geração de resíduos entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, em que se observa claramente que no primeiro grupo a fabricação de materiais e resíduos recicláveis é maior do que no segundo grupo. Com o processo de urbanização, podemos observar também o aumento das carências relacionadas ao saneamento básico, no qual se inclui a disposição inade- quada do lixo gerado. E, apesar de o problema estar caracterizado com fatos histó- ricos, este é um fenômeno contemporâneo evidente. Como consequência desses fatos, os resíduos produzidos pelo homem a cada dia ocupam mais espaço, sendo dispostos, muitas vezes, em locais inadequados e sem qualquer tipo de tratamento e medidas de proteção ambiental. Embora esse processo ocorra como um fenô- meno natural de aglomeração, tanto pelo estilo de vida quanto pelo aumento da população, ele é potencializado pela criação de materiais sintéticos que, em sua maioria, não são absorvidos pelo ciclo natural de decomposição na natureza, de modo a aumentar o acúmulo de resíduos no meio ambiente. As figuras, a seguir, apresentam o ciclo do uso de recursos até a geração dos resíduos ou subprodutos e o acúmulo de materiais obtidos a partir de – 13 – Introdução à Gestão de Resíduos Sólidos fontes naturais. No entanto, após o uso, eles são descartados, evidenciando, com isso, que o seu excesso pode provocar a degradação ambiental. Figura 2 – Ciclo de utilização dos recursos. Produção Re cu rs os n at ur ai s Consum o Resíduos Degradação ambiental Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Braga, 2005. Neste sentido, analisamos a produção do papel que é feito a partir da madeira – um recurso natural, e após seu consumo pode ser reapro- veitado. No entanto, sem a destinação correta e/ou o acúmulo do resíduo, este entra no processo que contribui para a degradação ambiental. O mesmo pode ocorrer com o plástico, feito a partir de polímeros derivados do petróleo, pois, seu descarte indevido e acúmulo inter- rompe o ciclo natural do processo de produção/consumo. Assim podemos exemplificar todos os produtos que uti- lizamos, por isto é fundamental o uso consciente dos recursos e o seu descar- -te adequado. Figura 3 – Simulação do planeta Terra coberto por. F on te : S ch ut te rs to ck , 2 01 5 . Gestão de Resíduos Sólidos – 14 – Você sabia O primeiro elemento sintético descoberto foi o Tecnécio em 1937 (peso atômico 43). Os elementos podem ser sintetizados a partir do bombardeamento de um elemento com peso atômico maior (tabela periódica). Por exemplo: o Urânio e o Plutônio, ou pela situação inversa, pela fusão de dois elementos com peso atômico mais leve. Apesar do impacto ao meio ambiente, os elementos e compostos sin- téticos são amplamente utilizados para o bem-estar do homem, princi- palmente na medicina. Disponível em: <http://www.buzzle.com/articles/synthetic-elements.html>. 1.1.3 Geração de Resíduos Segundo D’Almeida (1995, p 34), o lixo sólido urbano pode ser com- preendido como “um conjunto de detritos gerados em decorrência das ati- vidades humanas nos aglomerados urbanos”. Incluem-se, nesse contexto, os resíduos gerados em domicílios, em estabelecimentos comerciais, industriais, os de serviços de limpeza pública urbana, de estabelecimentos de saúde (sép- ticos e assépticos), os entulhos da construção civil e demais serviços, como terminais rodoviários, ferroviários e aeroportos. Essa denominação no Brasil geralmente está associada ao “lixo”, sendo que a Lei nº 12.305/10 determina que as prefeituras municipais devem se res- ponsabilizar pela coleta, transporte e destinação final do resíduo domiciliar, comercial e do público. Já os resíduos industriais sépticos e os produzidos em portos e aeroportos são de responsabilidade do gerador em decorrência do potencial risco à saúde humana e ao meio ambiente. Além disso, esses resí- duos devem ser acondicionados em local apropriado, e a coleta, o transporte e principalmente a destinação final desses resíduos exigem tratamento especial. Com o objetivo de investigar as condições de saneamento básico de todos os municípios brasileiros, a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), por meio de convênio entre o Ministério da Saúde e o IBGE, rea- lizou, em 1974, o primeiro levantamento técnico nacional (IBGE, 2000). A – 15 – Introdução à Gestão de Resíduos Sólidos avaliação foi realizada em conjunto com órgãos públicos e empresas privadas que atuam nesse setor para verificar as condições ambientais e suas implica- ções diretas com a saúde e qualidade de vida da população a partir de: 2 Abastecimento de Água (AA); 2 Esgotamento Sanitário (ES); 2 Drenagem Urbana (DU); 2 Limpeza Urbana e Coleta de Lixo (LC). Para avaliar a Limpeza Urbana e a Coleta de Lixo (LC), a PNSB investiga: 2 a prestação dos serviços de limpeza urbana e coleta de lixo; 2 a varrição e capina; 2 a coleta seletiva; 2 o destino dos resíduos; 2 o processamento para seu reaproveitamento; 2 o tratamento de resíduos especiais;2 os veículos e equipamentos utilizados no manejo dos resíduos. Os últimos resultados da pesquisa, realizada em 2008, apresentam uma melhora nos serviços de saneamento básico, de maneira geral. Sendo que quase 100% dos municípios brasileiros possuem manejo de resíduos sólidos apesar de ainda não terem a destinação correta, considerando que boa parte dos resíduos ainda é descarregada em lixões. A tabela a seguir apresenta a evolução do serviço de destinação dos resíduos sólidos urbanos no Brasil considerando os dados da pesquisa de 1989, 2000, 2008 e 2013. Os dados apresentam uma mudança positiva a partir da lei de resíduos sólidos (12.305/2010). (ABRELPE, 2013). Tabela 1 – Destino dos resíduos sólidos. Ano Destino final dos resíduos sólidos por unidade de destino dos resíduos (%) vazadouro a céu aberto aterro controlado aterro sanitário 1989 88,2 9,6 1,1 Gestão de Resíduos Sólidos – 16 – Ano Destino final dos resíduos sólidos por unidade de destino dos resíduos (%) vazadouro a céu aberto aterro controlado aterro sanitário 2000 72,3 22,3 17,3 2008 50,8 22,5 27,7 2013 17,4 24,3 58,3 Fonte: PNSB, 2008; ABRELPE, 2013. Vazadouro a céu aberto: comumente denominado de “Lixão”, foi a solução encontrada por gestores públicos para descarregar os resíduos urbanos – “lixo”, coletados conforme sua responsa- bilidade. O local dos lixões foi escolhido adotando o critério da distância dos centros urbanos. Não há, nesses casos, a preparação do local com estudos de impacto ou impermeabilização do solo. As contaminações podem abranger os lençóis freáticos e demais cursos hídricos, o ar com gases tóxicos prejudiciais à saúde de forma direta e indireta pela depleção da camada de ozônio, além de outros riscos de contaminação direta em função das inúme- ras pessoas que buscam nos lixões o seu sustento, bem como alguns animais que procuram material orgânico como alimento. Aterro Sanitário: segundo a ABNT (1992, p. 1), é a forma de dispor os “resíduos sólidos urbanos no solo sem causar danos à saúde pública e sua segurança”. O local é primeiramente analisado por meio de recursos tecnológicos, evitando a implantação em locais de proteção ambiental. Posteriormente, o local é prepa- rado - impermeabilizado, nivelado - e são realizadas obras para drenagem e captação do chorume ou percolado. Com o local pronto, o próximo passo é a disposição dos resíduos previa- mente triados e preparados, com a adição de uma camada protetora na superfície para evitar contaminações. A última etapa do aterro sanitário ocorre quando sua capacidade máxima é atingida, este é, então, selado, e vegetação é – 17 – Introdução à Gestão de Resíduos Sólidos plantada na superfície. Os controles e queimas das emis- sões de gases, assim como a coleta do material percolado, devem continuar até que não haja mais contaminantes. Aterro Controlado: é um intermediário entre os lixões e o aterro sanitário. Em muitos casos, os lixões foram adaptados com a utilização de selantes , capturas de gases, porém sem controles e coleta do material percolado (chorume). A geração de resíduos conforme já vimos, aumenta conforme a popula- ção se desenvolve, tanto pelo aumento da densidade demográfica quanto pelo estilo de vida. Nesses aspectos, podemos contextualizar a geração per capta dependente de pelo menos três fatores principais: status socioeconômico, grau de urbanização e tamanho das famílias. Ao analisarmos o histórico da questão, podemos verificar que a des- carga do “lixo” nas cidades de todo o mundo sempre representou um sério problema para a saúde pública e para o meio ambiente. Os depósitos em áreas urbanas sempre estiveram associados à propagação de doenças, a partir da contaminação dos mananciais de água, dos solos e dos alimentos ou por vias diretas de contaminação, envolvendo os animais e pessoas que coexistem nesses locais. De acordo com o Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, RQMA, (2013) – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Reno- váveis (IBAMA) e Ministério do Meio Ambiente (MMA), em pesquisa rea- lizada entre os anos de 2008 a 2011, nos municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes foi observado que 100% deles oferecem coleta de lixo domiciliar. Na composição desses resíduos, 31,9% é de Material Reciclável, 51,4% é de Material Orgânico e 16,7% é referente a outros materiais não recicláveis e também não orgânicos, conforme podemos observar na figura a seguir. No entanto, apenas 2% do total coletado são enviados para unida- des de processamento de resíduos. Gestão de Resíduos Sólidos – 18 – Figura 4 – Caracterização do RSU - 2008 a 2011. 60 50 40 30 20 10 0 Resíduo orgânico Reciclável Não reciclável Fonte: PNSB, 2008. Outro estudo apresenta o aumento de 12,8% na geração de resíduos sólidos urbanos per capita, comparando a geração entre 2008 e 2013. Esse aumento pode estar relacionado ao aumento da renda da população e maior consumo de produtos industrializados. A Figura a seguir ainda apresenta o aumento de 15,9 % na coleta dos resíduos. Figura 5 – Aumento da geração e coleta RSU de 2008 a 2013 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0,812 0,941 15,9% 12,8% 0,923 1,041 2008 2013 Coletado Gerado Kg percapta/dia Gerado Fonte: ABRELPE, 2013. – 19 – Introdução à Gestão de Resíduos Sólidos É importante ainda considerar as migrações temporárias, conforme des- taca Lima (2004). Os períodos de férias escolares, por exemplo, podem pro- vocar consideráveis mudanças na rotina de estabelecimentos, comerciais ou industriais, principalmente em cidades ou regiões com alto potencial turís- tico. Com essas mudanças, o volume de resíduo gerado pode dobrar num curto espaço de tempo, provocando novos problemas ambientais e sociais. Saiba mais De acordo com os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Apli- cada (IPEA), em 2014, o Brasil tinha 2.906 lixões distribuídos por 2.810 municípios que precisam ser erradicados. Conforme estimativa do Ministério do Meio Ambiente, essa realidade mantém cerca de 800 mil brasileiros convivendo diariamente com todos os riscos oca- sionados pela busca da sobrevivência em lixões. Conheça melhor essa realidade brasileira. Acesse: <http://www.jb.com.br/ciencia-e- -tecnologia/noticias/2015/08/01/milhoes-nao-tem-destinacao-correta- -de-lixo-e-prazo-para-fim-de-lixoes-foi-prorrogado/>. 1.2 Conceitos e Definições Na construção de um processo, independentemente da atividade ou fim, é fundamental o conhecimento básico do sistema, seu histórico e também as definições de cada componente ou etapa. Nesse sentido, esta seção contribui para o melhor aproveitamento dos estudos que envolvem o Sistema de Gestão de Resíduos Sólidos, principalmente pela ambigui- dade de alguns significados dentro da Gestão Ambiental, o que pode pro- vocar interpretações diferentes, dependendo do contexto ou aspecto a ser analisado. Temos como exemplo a “Poluição” e o “Impacto Ambiental”. Segundo Sanchez (2006), a terminologia Impacto Ambiental atualmente é mais utilizada por ter um conceito mais abrangente dos problemas ambien- tais do que a palavra poluição. Assim, veremos alguns dos conceitos mais empregados nessa temática e que serão utilizados como base para aplicação no planejamento do processo. Gestão de Resíduos Sólidos – 20 – A Gestão Ambiental, referenciada pelo próprio IBAMA (Disponível em: http://www.ibama.gov.br/rqma/gestao-ambiental), é “o processo de articula- ção das ações dos diferentes agentes sociais que interagem em dado espaço, visando garantir, com base em princípios e diretrizes previamente acordados/ definidos, a adequação dos meios e exploração dos recursos ambientais/natu- rais, econômicos e socioculturais às especificidades do meio ambiente”. A partir das pesquisas fundamentadas para compreender a essência das questões ambientais, podemos verificar a necessidade de mais autonomia das Ciências Ambientais, de métodos específicos para abordar a realidade, de limites claros e objetivos,no sentido de relacionar além das causas específicas, também a distinção entre o natural e o artificial. As questões ambientais são trabalhadas a partir de conceitos interdisciplinares envolvendo a natureza e a sociedade, porém de forma isolada, sem comunicação entre si. Nesse sentido, podemos interpretar o meio ambiente conforme a legisla- ção brasileira como “um conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” – Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, art. 3º, I. (BRASIL, 1981, p.1). Lembrando que cada país possui uma definição dis- tinta para o meio ambiente. No entanto, existem similaridades, alguns países são mais abrangentes, outros mais sucintos para essa conceituação. A Gestão Ambiental, assim como o ambiente, é afetada pelas atividades antrópicas. Por isso, devemos compreender também os fatores que motivam o uso dos recursos e a forma de socialização. Esses fatores podem estar relacio- nados ao aspecto cultural de uma comunidade, que pode ser entendido como o oposto ou o complemento da natureza. Segundo Rischbieter (2015), a relação do homem com a natureza é intrín- seca, o homem modifica o seu espaço, mudando assim o seu meio. Os motivos dessas transformações, nas quais a produção do espaço acontece pela necessi- dade de adaptação do homem em função das diferentes regiões em que se domi- cilia, considera o período histórico de sua formação social. Essas transformações ocorrem de forma contínua e vão se alterando à medida que novos espaços são criados e novas teorias são introduzidas na crescente produção social. Nesse cenário, podemos citar o patrimônio cultural como uma forma de preservação e identificação, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), “O patrimônio cultural é de – 21 – Introdução à Gestão de Resíduos Sólidos fundamental importância para a memória, a identidade e a criatividade dos povos e a riqueza das culturas”. Importante É compreendido como patrimônio o conjunto de todos os bens, mate- riais ou imateriais, que, pelo seu valor próprio, devem ser considerados de interesse relevante para a permanência e a identidade da cultura de um povo. É tudo o que nos pertence, é a nossa herança do passado e o que construímos hoje. Com isso, todos nós temos a obrigação de preservar, transmitir e deixar todo esse legado para as gerações vindouras. O conceito de poluição foi disseminado a partir das discussões rela- cionadas aos problemas ambientais. Assim, a definição surge do verbo “poluir”, com efeito, o “ato de profanar a natureza”. A poluição, segundo Sanchez (2006), pode ser entendida como uma condição do entorno dos seres vivos que possa ser danosa para eles. Essa base conceitual foi fun- damental para o estabelecimento de legislações de controle ambiental, ou seja, o controle da poluição. Uma característica peculiar dessa definição é a possibilidade de men- suração da poluição partindo de parâmetros que possam ser fiscalizados e responsabilizados pelos poluidores, bem como seu efeito – emissões, presença de matéria ou energia, sempre de forma negativa. Nesse sentido, a definição mais ampla e utilizada para a poluição é: a “Introdução no meio ambiente de qualquer forma de matéria ou energia que possa afetar negativamente o homem ou outros organismos” (SANCHEZ, 2006, p.26). O conceito que define a degradação ambiental também possui uma conotação negativa e é descrita de forma bem abrangente na maioria das legislações que relacionam o aspecto às questões ambientais e pode provocar controvérsias na sua interpretação. Nesse contexto, uma das definições mais aceitas e utilizadas refere-se a “qualquer alteração adversa dos processos, fun- ções ou componentes ambientais”, ou seja, a redução ou perda da capacidade de um determinado ecossistema em restabelecer seu equilíbrio para sua sobre- vivência. (SANCHEZ, 2006, p.27). Gestão de Resíduos Sólidos – 22 – Enquanto o impacto ambiental é ainda mais controverso, pois possui igualmente uma conotação “negativa”, o que nem sempre é real, pois o impacto pode ser tanto negativo quanto positivo. Essa definição errônea é descrita em muitos estudos técnicos, científicos e inclusive nas legisla- ções, o que pode provocar distorções em sua aplicação como fiscalização, remediação etc. Vale lembrar que o impacto ambiental apresenta alterações no meio ambiente, podendo ou não ser provocadas pela ação do homem. Essas alterações ou impactos podem ser benéficos ao meio. Um exemplo sim- ples e usual é a geração de empregos por um novo empreendimento, ou as mudanças ocorridas a partir da instalação de uma usina de triagem de resíduos. Portanto, o impacto ambiental pode ser entendido como o resultado de uma ação humana. Nas palavras de Sanchez (2006, p.36), “uma rodovia não é um impacto ambiental, a rodovia causa impac- tos ambientais”. De acordo com o entendimento que temos dos impactos ambien- tais, podemos analisar o sentido dos Aspectos Ambientais, que, segundo a norma ISO 14.001 da ABNT (2004, p. 2), é “o elemento das atividades, produtos e serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente”. A interpretação desse conceito é mais relacionado às percep- ções ambientais, é a manifestação das ações humanas. Você sabia Uma das terminologias mais utilizadas para analisar os aspectos ambientais é o termo “Avaliação de Impacto Ambiental” (AIA), que, segundo a International Association for Impact Assessment (IAIA), é definida como o “processo de identificar as consequ- ências futuras de uma ação presente ou proposta”. (SANCHEZ, 2006, p. 52) Essa avaliação identifica, prevê e mitiga os efeitos sociais, biofísicos, entre outros, evitando, com isso, futuros impactos negativos, ou ainda remedia danos existentes. Enquanto o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) – 23 – Introdução à Gestão de Resíduos Sólidos possui uma função de prevenção, essa análise é realizada para investigar os possíveis impactos em um novo empreendimento. Em um sistema de Gestão de Resíduos Sólidos, além dos requisitos já analisados, podem ser necessárias ações que visam à recuperação ambiental e, quando aplicáveis, podem ser realizadas a partir de técnicas de manejo ou outras que possibilitem a reutilização da área degradada para outros fins, ou ainda para a mesma utilização após o período de recuperação. Usualmente o termo “Remediação” é utilizado nas legislações para esta atividade. No caso específico da GRS, é possível fazer a remoção dos resíduos dispostos irregu- larmente, tratar a área com a remoção dos contaminantes e prepará-la para a destinação correta dos resíduos. Segundo o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, por meio da Lei nº 12.305/2010 (BRASIL, 2010), a gestão integrada dos resíduos sólidos “é um conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável”. A gestão integrada deve contemplar os resíduos originados de serviços de saúde, construção civil, mineração, portos, aeroportos, incluindo áreas de fronteira. Também estão contemplados os resíduos industriais e de atividades agrossilvipastoris, ou seja, resíduos oriundos de áreas rurais com agricultura, pastagem e florestas. Enquanto que o Gerenciamento dos resíduos sólidos, segundo a Lei citada, refere-se ao “conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de Coleta, Transporte, Transbordo, Tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos”. Vale lembrar que a Logística Reversa também está inserida nesse sistema de gestão e pode ser entendida como um “instrumento de desenvolvimento econômico e social caracte- rizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinadosa viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada”. (BRASIL, 2010). A figura, a seguir, apresenta um exemplo de logística reversa para o caso de medicamentos vencidos e não consumidos no prazo de validade. Gestão de Resíduos Sólidos – 24 – Figura 6 - Fluxo de Medicamentos vencidos e não consumidos no prazo – Exemplo de Logística Reversa. LABORATÓRIO DISTRIBUIDOR FARMÁCIA CONSUMIDOR FARMÁCIA DISTRIBUIDOR MEDICAMENTO Fonte: Elaborado pela autora, com base na PNRS, 2010. Assim, a Logística Reversa compreende atividades que vão além da des- tinação adequada de um resíduo, pois contribui para o desenvolvimento de novas tecnologias e produtos e pode gerar empregos, impulsionando a eco- nomia, além da satisfação do consumidor direto ou indireto. E, ainda, pode contribuir para o equilíbrio ambiental. 1.3 Política Ambiental – Sistema de Gestão Para a implantação de políticas ambientais, visando principalmente ao equilíbrio entre o meio ambiente e o desenvolvimento do ser humano, é pre- ciso entender como elas estão relacionadas ao sistema de gestão, considerando a relação intrínseca entre a política e a gestão, em que, de acordo com Philippi Jr. (2004), esta última pode ao mesmo tempo ser ontológica. – 25 – Introdução à Gestão de Resíduos Sólidos Ontológica – é a Ciência do ser em geral, inde- pendente de suas ideias ou expressões. Na Filosofia. É estudada através do Aristotelismo. “Parte da filosofia que se dedica ao estudo das características mais gerais do Ser, sendo separada das categorizações que, ao delimitá-lo, ofuscam sua essência absoluta”... Disponível em: < http://www.dicio.com.br >. Acesso em: 16/10/2015. Assim, os conceitos básicos que envolvem as questões ambientais são fundamentais para o planejamento inicial de um Sistema de Gestão de Resí- duos Sólidos, pois é preciso conhecer a trajetória do problema e como o ser humano interage com a questão. As políticas são elaboradas de acordo com os conceitos definidos nacional ou internacionalmente, com base no histó- rico da problemática e ainda pelas projeções e perspectivas futuras. Por esse motivo, são considerados também os aspectos culturais, sociais e econômicos e, quando aplicável, os fatores regionais pertinentes. De acordo com Helu (2010), a Política Ambiental é definida como um conjunto de ações ordenadas e práticas implantadas por empresas e também pelo Governo, visando ao desenvolvimento sustentável por meio da preservação do meio ambiente. A política ambiental normalmente é constituída por dire- trizes e estratégias, com princípios norteados por valores ambientais com foco na Sustentabilidade. Essa por sua vez, pode ser entendida em função do atendi- mento das necessidades das gerações presentes, sem comprometer o desenvolvi- mento e a capacidade das futuras gerações em atender a suas precisões. De maneira geral, devemos compreender que as políticas ambientais, segundo Souza (2010), estão relacionadas à preservação do meio ambiente no sentido de promover o desenvolvimento social e ambiental, buscando o equilíbrio e a sustentabilidade para a sociedade. Normalmente o conceito de meio ambiente está ligado aos recursos naturais e suas interações com os seres vivos, por vezes, desvinculando o próprio homem desse conceito, associando- -o apenas ao “verde”. Gestão de Resíduos Sólidos – 26 – Importante A natureza transformada pelas atividades antrópicas, também com- põem o meio ambiente. Esse meio inclui a “floresta” cinza das cidades urbanas, criação do homem. Outro fator a ser considerado nas políticas ambientais e demais situa- ções é o fato de vivermos num mundo globalizado, no qual as questões locais podem ser afetadas, bem como podem interferir nas questões globais. Em resumo, o resíduo gerado aqui, e descartado de forma incorreta, pode causar impactos ambientais negativos a quilômetros de distância ou, ainda, do outro lado do hemisfério. Um exemplo clássico de impacto é a diminuição na camada de ozônio, sendo que a região mais afetada é a Antártida e lá pratica- mente não existe atividade antrópica. Outro item importante da política ambiental está no seu objetivo, seja por meio da regulamentação, seja pelo estabelecimento de padrões (controle de emissões, uso do solo etc.), ou por mecanismos econômicos (taxação de cargas poluidoras, entre outras). O resultado deve ser a redução da deterio- ração da qualidade ambiental. Lembre-se de que o foco está sempre no equi- líbrio, de modo que a sociedade e os indivíduos possam ter a sua disposição um ambiente com qualidade. Em relação à mensuração para controle econômico, podemos usar como exemplo a cobrança pelo uso dos recursos ambientais, teoricamente, o valor cobrado deve ser proporcional ao dano provocado, contudo, este é um aspecto difícil de mensurar, considerando a possibilidade de depleção de um determinado recurso. Ainda assim, as cobranças podem ser benéficas para um controle maior do uso dos recursos, bem como do descarte dos resíduos. Para o caso específico dos resíduos sólidos, a formulação das legislações abrange, além dos requisitos mencionados, o produto, ou seja, o resíduo sólido, pela sua constituição, pelo potencial poluidor, entre outros. Depleção: segundo o dicionário – significa a “Redução de alguma substância ou processo físico, químico ou biológico. Este termo nor- – 27 – Introdução à Gestão de Resíduos Sólidos malmente é empregado em biologia ou medicina para indicar a redução drástica de uma substância no meio celular ou ainda redução de uma via metabólica ou evento funcional”. Quando relacionado aos recursos naturais, pode significar sua redução ou, ainda, sua total extinção. Disponível em: < http://www.dicio.com.br >. Acesso em: 16/10/2015. Importante Ao analisarmos o resíduo como um produto, um dos requisitos den- tro da política ambiental, que trata exclusivamente dessa atividade, está relacionado às metas para Redução, Reutilização e Reciclagem dos resíduos (3Rs). A partir dessas metas, podem ser estabelecidas novas políticas, novas estratégias, entre outras diretrizes, para contemplar a problemática como um todo, inter-relacionando outras legislações e competências, como é o caso da Educação Ambiental, incentivos governamentais para a criação de tecnologias visando ao atendimento dos 3Rs, a inclusão de ações danosas como crime ambiental, entre outros. Nesse contexto, cabe ainda destacar o importante papel do Governo como agente regulador e também como moderador da questão, Oo seja, o Governo deve ser um agente atuante em todas as esferas e também nos processos que envolvem um Sistema de Gestão de Resíduos Sólidos, tanto pela sua abrangência quanto pela criticidade da questão. Por outro lado, cabe às empresas privadas e aos cidadãos o cumprimento das legislações, atuando ainda como agentes fiscaliza- dores das políticas e suas implementações. Sem que haja a conscientização e a participação de todos, conside- rando a responsabilidade de cada um, nenhuma política ou sistema terá dos. Nesse sentido, cabe ao Gestor Ambiental, a tarefa de compre- ender todos os elos, analisar as situações e tomar as decisões corretas no que se refere ao atendimento da Gestão de Resíduos Sólidos. Gestão de Resíduos Sólidos – 28 – O planejamento ambiental pode ser utilizado como uma ferramenta institucional e processual para aplicar os princípios de desenvolvimento sus- tentáveis em todas as esferas da atividade, tanto econômica quanto social. Trata-se de um processo político, social, econômico e tecnológico, com cará- ter educativo e participativo, no qual as lideranças, por meio de atividades estatutárias ou não, devem atuar de forma conjunta para as definições de ações em atendimento aos conceitos relacionados às questões ambientais. Nesse sentido, o gestor ambiental no gerenciamento de resíduossóli- dos tem como objetivo a redução na produção dos resíduos finais, utilizando métodos e atividades de forma integrada. É também seu papel garantir a minimização na geração, sua reutilização como matéria-prima na produção de outros bens, gerando como benefício a redução de impactos ambientais negativos, bem como os relacionados à saúde e, ainda, a promoção de impac- tos positivos na economia e, consequentemente, na sociedade. Resumindo Neste capítulo, analisamos de forma sucinta o histórico das questões relacionadas à geração de resíduo sólido, contextualizando os aspectos da sociedade, as mudanças conforme as tecnologias disponíveis em cada ciclo/ era e a necessidade do enfrentamento dessa problemática. Vimos alguns conceitos que permeiam todas as etapas e processos asso- ciados ao planejamento de um Sistema de Gestão de Resíduos Sólidos, a situação dessa geração e as responsabilidades envolvidas na gestão conforme descreve a política ambiental relacionada ao tema. Note a importância e abrangência que a Gestão de Resíduos relaciona, sendo que, consequente- mente, a mesma definição está intrínseca no papel do Gestor Ambiental para essa atividade, considerando que as ações relacionadas ao resíduo interferem em aspectos econômicos, culturais, sociais, ambientais, entre outros. 2 Resíduos Sólidos: leis, caracterização e classificação Neste capítulo, você conhecerá como as leis e as normativas estão estruturadas para o atendimento das questões ambientais no Brasil, principalmente as relacionadas à Gestão de Resíduos Sólidos, bem como as principais definições adotadas por organismos interna- cionais (OCDE, Opas, CEE, entre outros). Assim como cada órgão responsável estabelece os parâmetros de controle ambiental e qual a responsabilidade de cada instituição física ou jurídica (nas esferas Municipais, Estaduais, Federais ou ainda de organismos internacio- nais). Entenderá como os resíduos são caracterizados e classificados para sua correta destinação, seja por meio de redução na geração, reutilização ou, ainda, via descarte final adequado, quando não há possibilidade de outro uso. A partir do conhecimento da tipificação dos resíduos, você poderá identificar os potenciais riscos à saúde, bem como a potencialidade poluidora de cada resíduo. Gestão de Resíduos Sólidos – 30 – Objetivos de aprendizagem: 2 Conhecer a Legislação brasileira sobre Resíduos Sólidos, incluindo as definições sobre resíduos sólidos adotadas por orga- nismos internacionais; 2 Identificar os tipos de licenciamento ambiental para a GRS e como são obtidos; 2 Analisar a forma de caracterização e classificação; 2 Identificar os diferentes resíduos gerados nas atividades antrópicas. 2.1 Aspectos legais e institucionais Com a evolução industrial, a sociedade desenvolveu-se de forma muito expressiva desde o início do século XVIII, no entanto, este fato ocorreu sem planejamento, de maneira desordenada, sem respeitar os limites de regeneração da natureza, contribuindo para o aumento da poluição e degradação ambiental. Os impactos ambientais negativos com- prometeram a qualidade do ar e, principalmente, a saúde das pessoas, contaminando rios, afetando o solo, tornando-o infértil e contribuindo para o processo de desertificação. Em consequência deste processo de degradação ambiental, surgiram novas tecnologias para remediar os danos provocados ao meio ambiente, considerando principalmente as áreas mais críticas que envolveram diretamente a população. Além de inovações tecnológicas, focou-se também na ordenação urbana e indus- trial, com planejamento e ações para promoverem o desenvolvimento sem com- prometer o meio ambiente, pois as tecnologias, apesar de avançadas, de forma isolada não atendem totalmente o problema ambiental. Importante As ações conjuntas apresentaram resultados positivos, assim, com este novo processo de desenvolvimento surgiram os controles e as alternativas para o uso dos recursos naturais, incluindo parametriza- ções associadas às inovações. – 31 – Resíduos Sólidos: leis, caracterização e classificação Mas como garantir a aplicação destas ferramentas e minimizar a degrada- ção ambiental? Para favorecer as limitações, foram estabelecidas as legislações e regulamentações, com as parametrizações e demais disposições com limites necessários, e condições para a fiscalização e controle destas diretrizes. Estas legislações incluem sistemas e processos para ações de medidas preventivas que, segundo Braga (2005), impedem ou reduzem a ocorrência dos fatores de degra- dação. Enquanto as medidas corretivas são ações que devem ser realizadas para remediar os danos já existentes, embora o custo da correção possa ser elevado e de difícil implementação, sua aplicação é fundamental para a manutenção do meio ambiente, considerando sua preservação e o desenvolvimento do homem. Você sabia No Brasil, as legislações ambientais surgiram ainda no período colonial, com o intuito de preservar a Mata Atlântica pela intensa atividade extrativa de madeiras nobres e também pelo processo de colonização e urbanização, caracterizado por movimentos migratórios internos e por novas imigrações na área da Mata Atlântica, principalmente onde atualmente situa-se a região metropolitana de São Paulo. DEAN, W. A ferro e fogo: a história da devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Cia das Letras, 1996. A partir das leis gerais, foram estabelecidas legislações específicas para que haja mais criticidade em determinadas atividades e agentes poluidores, no sentido de atender as diretrizes gerais de forma mais concisa, permitindo uma fiscalização adequada para a redução da poluição e degradação ambien- tal. Conforme podemos observar na figura a seguir, há a demonstração de como estão estruturadas as principais legislações da esfera Federal para o aten- dimento aos Resíduos Sólidos no Brasil. Em 1972, Estocolmo, capital da Suécia, sediou a Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente. Nela, os cientistas buscaram evidenciar as consequências da degradação ambiental e destacar o homem como protagonista deste fato. A principal causa da degradação apresentada no evento foi a poluição atmosférica, que ocorre através de todas as atividades antrópicas, incluindo a geração de resíduos, principalmente a sua destina- Gestão de Resíduos Sólidos – 32 – ção incorreta. A partir deste evento, alguns países se comprometeram a tomar providências para a redução dos poluentes, instituindo leis e implementando ações preventivas e corretivas para atender aos objetivos propostos durante ou após a confe- rência de Estocolmo. Neste sentido, foram criados também organismos independentes, que possuem maior autonomia para tratar das questões ambientais, definindo parâmetros e controles mais adequados para o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e o meio ambiente, estabelecendo assim, juntamente com as ques- tões sociais, o desenvolvimento sustentável. Desta forma, as legislações ambientais brasileiras foram então ampliadas e discutidas em todas as esferas, inclusive com o setor privado, buscando o atendimento das diretrizes do documento gerado na conferência de Estocolmo, bem como nas conferências realizadas posteriormente, como a Rio92 e Quioto. Sempre com foco no desenvolvimento sustentável, que inclui além da preserva- ção ambiental, o crescimento econômico e a redução das desigualdades sociais. Assim, as leis no Brasil atendem as questões ambientais, no sentido da preserva- ção dos recursos naturais, e também as questões sociais, como no caso da Lei nº 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Importante Esta lei dispõe sobre diretrizes para a implantação da Gestão Inte- grada de Resíduos Sólidos, considerando os aspectos do desenvolvi- mento sustentável, incluindo entre outras disposições: (i) o fomento à economia, através da logística reversa, destacando a atenção à vida útil dos produtos, asatisfação do consumidor, a geração de empregos Constituição federal / 1988 art 225 Lei 6.938/81 PNMA - SISNAMA CONAMA - CTFA - DA Lei 12.305/10 PNRS Resoluções / Portarias / Deliberações Congresso nacional - Senadores / Dep. Fed Presidência da república MMA IBAMA CONAMA Figura 1: Principais legislações da esfera federal para o atendimento aos resíduos sólidos no Brasil. Fonte: Elaborado pela autora, com base em BRASIL, 2010. – 33 – Resíduos Sólidos: leis, caracterização e classificação e atividades de reuso dos resíduos e principalmente; (ii) a extinção dos lixões e criação de usinas de triagem, consequentemente, favore- cendo as pessoas que trabalham na separação/catação dos resíduos, erradicando também o trabalho infantil, comum na atividade. Na figura a seguir, podemos observar um menino que “trabalha com a família catando materiais do lixo” sem nenhuma segurança e em contato com possíveis materiais contaminados, disputando os restos com outros animais. A Constituição Federal, em seu artigo 225, declara que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Desta forma, as demais leis ambientais obrigatoriamente atendem a este artigo, definindo as disposições e princípios em cada regulamentação, bem como definindo as responsabilidades incluindo os crimes ambientais e ações penais pertinentes, conforme prevê a Lei Federal nº 6.905/98. 2.2 As legislações e a políticas públicas na área de meio ambiente Os serviços de saneamento, inclui-se aqui o gerenciamento de resíduos sólidos urbanos, têm um caráter público assegu- rado pela Constituição Federal, uma vez que o acesso aos serviços é um dever do Estado e um direito de cada cidadão, sendo a titularidade dos serviços assegurada aos municípios, de acordo com os preceitos das normas estadual e federal. A Constitui- ção Federal do Brasil, de 05 de outubro de 1988, estabelece a competência de todos os entes federativos, União, Estados e Municí- Figura 2: Principais legislações da esfera federal para o atendimento aos resíduos sólidos no Brasil F on te : S hu tt er st oc k (2 01 4) . Gestão de Resíduos Sólidos – 34 – pios, para legislar sobre a matéria ambiental e atuar na proteção e defesa do meio ambiente, enquanto a Lei n.º 6.938, de 31 de agosto de 1981, institui a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. Essa lei define as finalidades e objetivos da política ambiental no Brasil, os instrumentos a serem utilizados e os mecanismos de aplicação, dentre eles os conceitos, princípios, objetivos e penalidades. A lei também instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), o Cadastro de Defesa Ambiental e o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). (BRASIL, 2010). Importante O art 2º da Lei nº 6.938/81 define que “a PNMA tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socio- econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dig- nidade da vida humana”. Já o SISNAMA, definido por meio do art 6º da referida lei, que é constituído por órgãos federais, entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, visa a proteção e melhoria da qualidade ambiental. As responsabilidades e regulamen- tações são definidas conforme a esfera de abrangência de cada órgão. O CONAMA, órgão consultivo e deliberativo do SISNAMA, institu- ído pelas Leis nº 6.938/81 e nº 8.028/1990, possui finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo diretrizes de políticas governa- mentais para o meio ambiente e aos recursos naturais, assim como deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida. Este conselho foi regulamentado via Decreto nº 99.274/90, e é um organismo ativo e em constante atualização devido ao seu formato e pela sua abrangência, contendo representantes de todas as esferas. Mas como é a atuação do CONAMA? O conselho atua de forma ampla no atendimento às questões ambientais, principalmente na elaboração de resoluções que visam a criação de normas técnicas, critérios e padrões relacio- nados à proteção ambiental, bem como o uso adequado dos recursos naturais. – 35 – Resíduos Sólidos: leis, caracterização e classificação Por exemplo, a Resolução nº 469/2015, que altera a de nº 307/2002 traz: “considerando o disposto na Resolução CONAMA nº 307, de 05 de julho de 2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil...”. Enquanto que a moção emitida pelo conselho trata de um manifesto relativo ao meio ambiente, independente da natureza, como a moção 093/2008, que solicita providências para a elaboração de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos. Desta forma, as atividades relacionadas aos resíduos sólidos, independente da classificação e origem, são regulamentadas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), a partir das legislações em vigor. Contudo, as resoluções que deliberam sobre a classificação, caracterização e demais aspectos relaciona- dos aos resíduos sólidos podem ser definidas, segundo a Norma NBR 10.004 de 2004, considerando os riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, garantindo o gerenciamento adequado destes resíduos. Assim, a norma define os resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam... “... de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comer- cial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta defini- ção os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.” (ABNT, 2004). Neste contexto, os parâmetros analisados para a caracterização com- preendem os principais aspectos físico-químicos, biológicos, qualitativos ou quantitativos relativos ao resíduo. Enquanto sua classificação está vinculada à origem, considerando o processo ou atividade, seus constituintes e caracte- rísticas, verificando principalmente substâncias cujos impactos à saúde e ao meio ambiente sejam conhecidos. Importante O CONAMA é composto por Plenário, Cipam, Grupos Asses- sores, Câmaras Técnicas e Grupos de Trabalho. O conselho é pre- sidido pelo ministro do Meio Ambiente e sua Secretaria Executiva é exercida pelo Secretário-Executivo do Ministério. A Política Nacio- Gestão de Resíduos Sólidos – 36 – nal do Meio Ambiente possui um importante instrumento, que é a Avaliação de Impactos Ambientais, mas quem estabelece as normas e critérios para o licenciamento dessas atividades efetivas ou poten- cialmente poluidoras é o CONAMA. Já a responsabilidade pela concessão é dos Estados, supervisionados pelo IBAMA. O CONAMA, através da Resolução 01/86 (alterada pelas Resolu- ções 11/86 e 05/87), tornou obrigatória a elaboração de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima). Você sabe para que servem estes documentos? O EIA é des- tinado a atividades poluidoras ou “modificadoras” do meio ambiente, contemplando, entre outras prerrogativas, “todas as alternativas tecno- lógicas e de localização do projeto, confrontando-se, inclusive, com a hipótese de não execução”. Já o Rima deve ser apresentado de forma objetiva e adequado à compreensão e precisa ser disponibilizado para acesso do público. (Ministério do Meio Ambiente) Saiba maishttp://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html http://www.mma.gov.br/port/conama/estr.cfm https://qualisysconsultoria.files.wordpress.com/2015/11/resoluc3a- 7c3a3o-conama-tabela-2015.pdf 2.3 Caracterização dos resíduos sólidos O homem deixa sua marca através do resíduo que gera, neste sentido, a quantificação de resíduos sólidos residenciais ou urbanos, bem como suas carac- terísticas, podem ser analisadas com base na cultura, na renda, na localização geográfica, etc. Tendo como principal característica diferenciadora nos resíduos: a quantidade de material reciclável e não reciclável. (MORAES et all., 2004). A verificação da composição física normalmente é a primeira análise a ser realizada, esta é expressa em peso ou porcentagem, sua análise também contempla o aspecto geral do resíduo, seco ou molhado, grau de heteroge- – 37 – Resíduos Sólidos: leis, caracterização e classificação neidade, etc.. Estudos de Análise Gravimétrica são importantes para deter- minar estas características e subsidiar ao Gestor Ambiental (de entidades públicas ou privadas) a avaliar e reconhecer as melhores práticas relaciona- das ao gerenciamento dos diferentes tipos de resíduos. Na composição química podemos observar os componentes orgânicos, principalmente os compostos de carbono e nitrogênio. Os parâmetros tam- bém podem estar relacionados ao pH, concentração de sólidos fixos e volá- teis, entre outros. As análises químicas são críticas para o resíduo industrial, pois sua composição química e quantidade serão utilizadas como base para o tratamento adequado. Identificar os componentes inorgânicos também é fundamental para a Gestão de Resíduos Sólidos, pois sua composição pode, além de identificar a origem da geração e atividade antrópica, demonstrar a forma de manufatura, bem como sua geração e diretrizes para o acon- dicionamento, armazenamento, transporte e destinação final seguros. Os compostos inorgânicos em sua maioria são recicláveis, porém, isto depende da forma como são descartados e também do custo para o seu reuso. A con- taminação com compostos orgânicos ou a complexidade de sua formulação podem comprometer a reciclagem, assim como também podem compro- meter a decomposição por agentes biológicos. Um exemplo disto é a contaminação de papel ou papelão por óleos lubrificantes (comum em oficinas mecânicas). Papel e papelão limpos são plenamente recicláveis, já se estiverem contaminados com óleos lubrifican- tes (que são compostos orgânicos derivados de hidrocarbonetos), perderão seu potencial de reciclagem e deverão ser tratados como resíduos sólidos perigosos, alterando toda a forma de gerenciamento deste resíduo devido aos riscos relacionados à saúde e ao meio ambiente. Importante Os aspectos biológicos também estão associados à composição orgânica dos resíduos e serão os responsáveis pela decomposição microbiológica, que pode ocorrer de forma aeróbica, com presença de oxigênio. Esta forma de decomposição é mais rápida e produz quantidades significativas de gás carbônico, sais minerais de nitrogê- nio, fósforo, potássio, entre outros, além de produzir calor. Por outro lado, a decomposição anaeróbica ocorre sem a presença de oxigênio Gestão de Resíduos Sólidos – 38 – e pode demandar um tempo maior para consumir o material orgânico, principalmente quando não há adição de catalisador. Este processo produz compostos nocivos à saúde e ao meio ambiente, como a amônia, ácidos orgânicos, gás sulfúrico, metano, etc. Em termos gerais, analisar o tipo de resíduo orgânico também é impor- tante para identificar o tipo de tratamento e decomposição. Ambos os pro- cessos geram, em maior ou menor quantidade, o material percolado, deno- minado chorume, altamente rico em matéria orgânica e este deve receber o tratamento adequado para evitar a contaminação do solo e cursos hídricos. Percolado ou Chorume: é caracterizado por um líquido turvo (preto), bem viscoso, de cheiro forte, proveniente da decomposição do lixo, mais precisamente, da matéria orgâ- nica que compõe o lixo. O material percolado, quando em contato com a água, principalmente a água da chuva, quando em aterros sanitários ou lixões, pode, além de contaminar o solo por anos, atingir os lençóis freáticos, causar mortandade de organismos aquáticos por aumento de substâncias quími- cas no ambiente (como nitritos e nitratos), causar eutrofização, além de geração de odores quando de sua decomposição. A partir da análise básica do resíduo sólido ou semissólido, outra importante avaliação para a gestão é identificar a origem do material, pois esta etapa influen- cia em diferentes responsabilidades, potenciais poluidores e ainda diferentes des- tinos e tratamentos, considerando sua degradabilidade. Assim, segundo a Norma NBR 10.004/2004, a origem dos resíduos é classificada como: 2 Industriais: Resíduo proveniente da atividade industrial. Incluem-se aqui todos os resíduos gerados no processo de fabricação e o lodo proveniente dos processos de tratamento de efluentes. Em regiões muito industrializadas, a quantidade deste resíduo pode corresponder a até 75% do total gerado no município. Não – 39 – Resíduos Sólidos: leis, caracterização e classificação estão inclusos os resíduos gerados em escritórios, ou classificados como não perigosos quando em pequenas quantidades, nestes casos a coleta é realizada pela gestão municipal. Considerando a periculosidade de alguns resíduos, a norma os divide em classes, conforme o risco à saúde e ao meio ambiente: Quadro 1: Confira as classificações dos resíduos conforme o risco que representam à saúde e ao meio ambiente CLASSE Tipo de Resíduo Descrição I Resíduos perigosos Apresentam características de inflamabilidade, corrosividade, reati- vidade, toxicidade e ainda patogenicidade, por este motivo podem apresentar risco tanto à saúde pública quanto ao meio ambiente. II Resíduos não perigosos Substâncias não contaminadas por agentes químicos tóxicos – resí- duos de restaurante (restos de alimentos); sucata de metais ferrosos e/ou não ferrosos; papel / papelão; sucata de borracha, etc. A - Resíduos não perigosos - não inertes Possuem características de biodegradabilidade, combustibilidade ou solúveis em água, porém não se enquadram na classificação de resíduos Classe I ou Classe II B (Inertes). B - Resíduos não perigo- sos - inertes Substâncias cujos constituintes não solubilizam em água destilada ou desionizada, conforme especificações das normas NBR 10.007 e 10.006 e de padrões de potabilidade de água. Obs.: Algumas bibliografias dividem os resíduos em classe I, II e III, a partir de suas propriedades tóxicas e poluentes. Fonte: Elaborado pela autora, baseado na norma NBR 10.004, ABNT, 2004. 2 Urbanos: Estes resíduos, apesar da grande polêmica, são menos representativos com relação ao volume total gerado, e correspon- dem a tudo o que é produzido em domicílios, estabelecimentos comerciais – incluindo hotéis, restaurantes, escritórios, serviços de limpeza urbana, etc. Segundo Philippi Jr. et all (2004), os resíduos não domiciliares são coletados pela prefeitura municipal, desde que não ultrapasse 50 kg/dia. Cabe a cada município tratar, através de legislação própria, sobre esta quantificação já que cabe a ele a res- ponsabilidade sobre os resíduos urbanos. Gestão de Resíduos Sólidos – 40 – 2 Entulhos: Os entulhos normalmente são originados a partir da construção civil, principalmente de demolições ou restos de obras, porém também podem ser gerados por outras atividades, como limpezas que geram uma quantidade significativa de resíduo, esca- vações, entre outros. A coleta e destinação adequada destes resíduos são da fonte geradora. 2 Serviços de saúde: Os resíduos produzidos pelas atividades rela- cionadas à saúde recebem um tratamento específico, considerando seu potencial de contaminação tanto às pessoas como ao meio ambiente e são classificados conforme a norma NBR 12.808/93 e RDC ANVISA nº 306/2004,a responsabilidade por toda a ges- tão – coleta, logística, destinação final, é do gerador. Nesta fonte, estão inclusos os hospitais, clínicas, laboratórios, farmácias, vete- rinárias, consultórios odontológicos, entre outros. (PHILIPPI JR. et all, 2004). Lembrando que são considerados resíduos relativos à saúde todos os materiais contaminados, ou seja, resíduos sépticos. A RDC ANVISA nº 306/2004 apresenta as diferentes formas de tratamento dos resíduos de serviços de saúde. Os resíduos comuns, como papéis, restos de alimentos, etc., gerados nestas atividades podem ser coletados com os demais resíduos urbanos, neste caso a responsabilidade, desde que dentro da quantidade limitada pelo município, é da gestão municipal. 2 Portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários: Estes resíduos devem receber tratamento diferenciado em função do potencial risco à saúde, pois podem constituir organismos pato- gênicos oriundos de outros municípios, estados ou até de outros países. O seu gerenciamento é de responsabilidade destes gerado- res, sendo a forma mais adequada de destinação, é aquela dada aos resíduos perigosos (Classe I), independente da presença de agentes perigosos nestes resíduos já que se adota o princípio da precaução pela potencial presença de agentes patogênicos. 2 Agrícolas ou Agrossilvipastoris: O principal resíduo gerado nesta atividade corresponde às embalagens, pois os resíduos orgânicos normalmente são aproveitados na forma de adubo ou alimento para – 41 – Resíduos Sólidos: leis, caracterização e classificação os animais. As embalagens utilizadas na atividade agrossilvipasto- ril podem conter resíduos de produtos químicos com alto grau de toxicidade. Neste caso, a responsabilidade é compartilhada, o gera- dor deve acondicionar o material corretamente e encaminhá-lo à empresa responsável pela fabricação do insumo. Esta também pode providenciar a coleta no local de consumo, e será responsável pelo tratamento adequado das embalagens utilizadas. 2 Radioativos: Os resíduos radioativos, em função do seu alto índice de poluição e danos, são geridos pela Comissão Nacional de Ener- gia Nuclear (CNEN). Estão inclusos, além dos compostos utiliza- dos na produção de energia e os materiais empregados em equipa- mentos que operam elementos radioativos, como os equipamentos de Raios-X em Clínicas de Diagnósticos e Hospitais. 2.4 Resíduos sólidos urbanos e a coleta seletiva nos municípios brasileiros A problemática ambiental relacionada aos resíduos, conforme já anali- samos, é antiga, porém ainda é um fardo pesado para os municípios que têm a responsabilidade de atendimento ao saneamento básico para a população. Neste contexto, está inclusa a gestão dos resíduos sólidos, principalmente a coleta e destinação final deles. O principal empecilho para a gestão nos municípios sempre está relacionada aos altos custos de operacionalização e transporte, da mesma forma, a necessidade de um gerenciamento técnico qualificado e adequado, considerando toda a estrutura necessária para a des- tinação final em locais adequados. Neste sentido, o planejamento ambiental se faz cada vez mais neces- sário para aplicar os princípios que almejam o atendimento ao desenvolvi- mento sustentável em todas as esferas da atividade ambiental, social e econô- mica. Contudo, “o ambiente, no planejamento ambiental, é destacado como um potencial de recursos a ser apropriado e mobilizado pela sociedade”, (RODRIGUEZ; SILVA; DE CABO, 2004). Hidalgo (1991) ainda comple- menta que para a preservação da natureza, promovendo um desenvolvimento equilibrado e compatível com o conceito de meio ambiente: Gestão de Resíduos Sólidos – 42 – 2 planejamento ambiental é um processo político, social, econômico e tecnológico, de caráter educativo e participativo, onde líderes políticos, institucionais e comunitários, em conjunto com o Poder Público Federal, Estadual e Municipal, devem escolher as melhores alternativas. (HIDALGO, 1991, p.12) Assim, analisando a questão com um viés ambiental, pode-se descrever a coleta seletiva do lixo como um papel fundamental na formação de hábitos e costumes da população, contribuindo com o fomento e a discussão das questões ligadas ao meio ambiente, bem como o desenvolvimento de ten- dências educacionais que visem atuar nas causas do problema. Entretanto, o atendimento das questões ambientais relacionadas aos resíduos demanda um planejamento adequado, sendo que este deve contemplar as legislações vigen- tes, garantidas pela obtenção de licenças pertinentes à atividade. Segundo o Art. 1º da Resolução CONAMA 237/1997, o Licenciamento Ambiental é um “procedimento administrativo realizado pelo órgão ambien- tal competente”, podendo estar representado pela esfera federal, estadual ou municipal. O objetivo deste processo é “licenciar a instalação, ampliação, modificação ou operação de atividades e empreendimentos” que se utilizam de recursos naturais, e/ou atividades com potencial poluidor. Importante O licenciamento ambiental é um dos instrumentos da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, em que são avaliados os impactos provocados por um empreendimento. Estes impactos podem gerar: (i) líquidos poluentes como efluentes ou outros despejos; (ii) resí- duos sólidos; (iii) emissões atmosféricas; (iv) ruídos e, ainda, (v) podem provocar explosões e incêndios. A partir do planejamento, cujo intuito seja exercer alguma atividade que possa interferir no meio ambiente, faz-se necessário, então, a obtenção do licenciamento ambiental, sendo que este normalmente é realizado em três etapas, que demandam processos individuais para o atendimento à legislação pertinente, tornando viável a atividade, sem comprometer o meio ambiente. Vamos conhecer as etapas? Confira a seguir: – 43 – Resíduos Sólidos: leis, caracterização e classificação 2 Licença Prévia (LP) - é solicitada ainda na fase de planejamento da implantação, alteração ou ampliação do empreendimento. Demonstra a viabilidade de implantação do empreendimento considerando o espaço geográfico pretendido e restrições de uso do solo e espaço territorial, porém não autoriza o início das obras. Nesta etapa, dependendo do tipo de empreendimento, são rea- lizados os Estudos de Impacto Ambiental (EIA), bem como o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), com as devidas con- siderações quando aplicável. Também são realizadas audiências públicas para conhecimento do projeto e dos impactos, sejam positivos ou negativos. 2 Licença Instalação (LI) – esta licença aprova os projetos. Nesta etapa, o início da obra/empreendimento é autorizado considerando todos os documentos e projetos apresentados. É concedida depois de atendidas as condições previstas na Licença Prévia. 2 Licença de Operação (LO) - autoriza o início do funcionamento do empreendimento/obra. É emitida depois de atendidas as con- dições da Licença de Instalação estarem devidamente cumpridas. Esta licença possui prazo de validade, sendo que varia de acordo com o projeto, considerando o fator de risco do empreendimento. Independente da atividade, toda licença ambiental exige monito- ramento constante, com envio de documentação das atividades, conforme o órgão emitente. Lembrando, ainda, que a solicitação de qualquer licença deve estar em conformidade com a fase em que se encontra a atividade/empreendimento, seja na concepção, na execução da obra, operação ou ampliação. Ou seja, caso algum empreendimento já possua a LO e pretenda realizar uma amplia- ção ou executar nova atividade, esta deve solicitar a LP para a nova situação, mantendo a LO para a atividade vigente. No encerramento da LP e LI para as novas atividades, as LO’s poderão ser unificadas. Dependendo do potencial poluidor da atividade pretendida, bem como de sua localização, o licenciamento pode se dar pelos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente ou pelo IBAMA, mas sempre considerando os requisitos locais, estabelecidos pelos órgãos municipais de meio ambiente,todos vincu- lados no SISNAMA. Gestão de Resíduos Sólidos – 44 – Você sabia A fiscalização, bem como as demais providências instituídas na legis- lação da PNMA, é de responsabilidade dos órgãos de controle ambiental integrantes do SISNAMA, que compreende os órgãos ambientais estaduais, e permite aos municípios concederem o Licen- ciamento Ambiental e todas as tratativas para o atendimento aos parâ- metros identificados como de risco à saúde e ao meio ambiente. Saiba mais ht tp://www.mma.gov.br/es t ru turas/sqa_pnla/_arquivos/ 46_11112008102612.pdf http://www.fepam.rs.gov.br/central/atividades_lic_municipal.pdf 2.5 Principais Definições Adotadas por Outros Organismos A questão dos resíduos sólidos está relacionada a fatores como economia e cultura, entretanto, é possível analisar, a partir do volume gerado, bem como da sua caracterização, a necessidade de implantação de políticas mais rigorosas e restrições à geração e destinação adequada. Por este motivo, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) (Organization for Economic Cooperation and Development - OECD) analisa a geração de resíduo per capita em conjunto com o crescimento econômico através do PIB. Apesar de não haver ainda uma correlação adequada, os países mais desenvolvi- dos, membros da OCDE, buscam ações para minimizar a geração dos resíduos, priorizando a produção mais limpa, logística reversa, visando assim, a redução da geração na fonte, bem como a destinação adequado do restante. Contudo, a inclusão de instrumentos econômicos na política de resíduos é necessária para conter o crescimento da geração, considerando principalmente a falta de espaço físico adequado para o tratamento. (CAMPOS, 2012). – 45 – Resíduos Sólidos: leis, caracterização e classificação Para a OCDE, os resíduos urbanos são recolhidos e tratados por, ou para, os municípios. Esta sistemática abrange os resíduos domiciliares, incluindo os volumosos, resíduos semelhantes de comércio e negócios, bem como de escritórios (centros comerciais), instituições e empresas de pequeno porte, de varrição como de quintal e jardim, incluindo o lixo da rua e, ainda, o conteúdo das lixeiras, e dos supermercados. Estão excluídos deste sistema os resíduos das redes de esgoto municipal, inclusive o resíduo tratado, bem como de construção civil e demolição em geral. Enquanto que a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) – Pan American Health Organization (PAHO) -, define os resíduos sólidos ou semis- sólidos como: os gerados em centros urbanos, o que inclui os resíduos domés- ticos, comerciais, os produzidos pela indústria e instituições de pequeno porte – também os resíduos de clínicas hospitalares, de varrições e limpeza pública. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (PIMM) - Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) -, inclui os seguintes materiais na definição dos resíduos sólidos urbanos: desperdício de comida; varrição/entulhos jardim (quintal) e resíduos dos parques; papel e papelão; madeira; têxteis; fraldas descartáveis; borracha e couro; plásticos; metais; vidro - incluindo cerâmica e porcelana; e outras; como por exemplo, cinzas, sujeira, poeira, solo, lixo eletrônico. Segundo Trotta (2011), a “Comissão Europeia, em sua estratégia geral para resíduos, estabeleceu a hierarquia preferencial de gestão, como”: redu- ção, reutilização, reciclagem, tratamento biológico, incineração (preferencial- mente com a produção de energia) e ainda a disposição em aterros sanitários controlados, porém reduzido ao mínimo indispensável. Conforme a carac- terização dos resíduos na Europa, os provenientes da agricultura são mais expressivos em volume, no entanto, os industriais ainda são os mais significa- tivos para o meio ambiente, em função do potencial impacto ambiental nega- tivo. Também são críticas as fontes da construção civil, exploração mineral e os resíduos urbanos em geral. OCDE – é uma organização internacional, composta por 34 países, sua sede é em Paris, na França. O objetivo é promover políticas que visem o desenvolvimento econômico e também o bem-estar social das pessoas em todo o mundo. Estas atividades Gestão de Resíduos Sólidos – 46 – incluem as questões ambientais, o combate à corrupção e a evasão fiscal. Sua composição é formada por países desenvolvidos e alguns em desenvolvimento como: México, Chile e Turquia, no entanto, sua abrangência é mundial. O Brasil, assim como outros países em desenvolvimento, não estão incluídos como membros da OCDE, porém participam de algumas reuniões e realizam atividades conjuntas. http://www.oecd.org/brazil/ OPAS - a Organização Pan-Americana da Saúde é um organismo internacional de saúde pública com um século de experiência, dedicado a melhorar as condições de saúde dos países das Améri- cas. O trabalho de cooperação internacional é promovido por téc- nicos e cientistas vinculados à OPAS/OMS (Organização Mundial da Saúde), especializados em epidemiologia, saúde e ambiente, recursos humanos, comunicação, serviços, controle de zoonoses, medicamentos e promoção da saúde. http://www.paho.org/bra/ PIMM - é o órgão criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) para estudar os problemas que afetam as mudan- ças climáticas. A orga nização reúne 2.500 cientistas em mais de 130 países. O objetivo deste painel é analisar as informações científicas disponíveis sobre os efeitos das mudanças climáticas. A partir destas informações, são elaboradas estratégias para a redução de possíveis impactos ambientais, bem como socioeconô- micos, prioridades no contexto do painel. http://www.ipcc.ch/index.htm CEE – foi precursora da UE (União Europeia), criada com a finalidade de estabelecer um mercado comum europeu, bem como políticas conjuntas para a agricultura, trans- portes, emprego, fortalecendo sua base econômica. http://ec.europa.eu/environment/waste/ publications/pdf/eufocus_pt.pdf – 47 – Resíduos Sólidos: leis, caracterização e classificação Analisando as diferentes definições sobre a adoção de medidas pelos organismos internacionais para o atendimento das questões ambientais, principalmente quando relacionadas aos resíduos sólidos, podemos obser- var alguns pontos em comum, sendo o principal, os relacionados à saúde da população. Esta preocupação ocorre em função do aumento per capita na geração dos resíduos, bem como do aumento da população, mais pre- cisamente, pela elevação da densidade demográfica em grandes centros urbanos onde, sem uma destinação adequada, podem ocorrer fenômenos ambientais ou epidemias, em ambos os casos, as consequências são sofri- das pela população. Conforme lembra Campos (2012), da “inexistência de medidas efi- cazes no tratamento e eliminação de resíduos, surgiram graves problemas de saúde pública, como a Peste Bubônica”, sendo responsável pela conta- minação de milhares de pessoas, provocando o extermínio de metade da população da Europa durante a Idade Média, e atingindo principalmente a parte mais carente. Como consequência desta e de outras catástrofes, os governos tornaram obrigatória a responsabilidade do poder público pelo gerenciamento dos resíduos em todo o mundo. No entanto, ainda existem muitas arestas no tratamento efetivo destas questões. Resumindo Neste capítulo, conhecemos algumas das principais legislações que con- templam a Gestão dos Resíduos Sólidos, quais suas premissas e princípios. Analisamos as definições e como estas questões são consideradas ao redor do mundo. Bem como suas interferências econômicas e sociais, tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. Estas, no entanto, podem ser propulsoras de inovações tecnológicas, visando a redução dos resíduos através de mecanismos limpos, entre outras atividades. Analisamos a classificação dos resíduos sólidos, sua origem e degradabili- dade, as principais características observando seu aspecto
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