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ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS AULA 1 Profª Michelle Struett 2 CONVERSA INICIAL Quando falamos em cordados, lembramos de animais vertebrados, certo? Entretanto, o Filo Chordata compreende tanto seres invertebrados como vertebrados. Os últimos fazem parte do grupo de animais mais representativos desse filo no mundo e, por isso, tendem a ser mais estudados. Além disso, fazemos parte de um país com biomas distintos, o que incide em nossa biodiversidade, considerada a maior do mundo. O presente interesse nesses animais é relacionado principalmente ao fato de pertencemos a esse grupo, ou seja, temos características morfofisiológicas e evolutivas semelhantes. Dessa forma, compreender a trajetória evolutiva dos vertebrados é nos conhecer. Nesta etapa, abordaremos o Filo Chordata (cordados). Aqui teremos uma base para compreendermos a origem e a diversificação dos vertebrados. Quais características esses animais tão distintos possuem em comum para pertencerem ao mesmo grupo? Como ocorreu a evolução dos representantes desse filo? Qual a diversidade e a importância desses animais no ecossistema? Após responder a essas questões, você conseguirá compreender a evolução e as principais características dos representantes dos cordados em termos sistemáticos, morfológicos e ecológicos. TEMA 1 – FILO CHORDATA Primeiramente, vamos classificar biologicamente os cordados. Isso nos ajudará a visualizar onde esse grupo está inserido segundo suas principais características. Pense em uma pasta organizadora em seu computador. Caso fossemos encontrar o Filo Chordata, precisaríamos clicar na maior pasta de todas, a qual representa o Domínio Eukaryota. Dentro dela, existem outras pastas que foram classificadas conforme critérios em comum. Na pasta do Reino Animalia, haverá inúmeras pastas, mas vamos clicar no sub-reino Eumetazoa e, em seguida, no Clado Bilateria e no superfilo Deuterostomia. Lá, encontraremos três pastas: Filo Echinodermata, Filo Hemichordata e Filo Chordata. Por fim, chegamos aos cordados. 1.1 Características gerais dos cordados e conceituação básica Os cordados são representados por três subfilos: Urochordata, Cephalochordata e Craniata. 3 Os dois primeiros são marinhos e invertebrados. Você pode estar se perguntando: mas onde estão os vertebrados? Em muitos lugares, você encontrará como sinônimos os termos “Craniata” ou “Vertebrata”, mas eles não são. Isso ficará mais claro nesta etapa quando falarmos sobre as feiticeiras, pois elas são conhecidas como vertebrados e não apresentam vértebras. A etimologia da palavra “Chordata” provém do latim chorda, que significa corda. Essa corda na verdade é a corda dorsal ou notocorda presente em todos os representantes deste grupo em alguma fase da vida. Outras características gerais dos cordados que são sinapomorfias (características evolutivas novas que são compartilhadas com todo o grupo) são: a presença de tubo nervoso dorsal oco, cauda muscular pós-anal, fendas faríngeas e endóstilo. A notocorda representa um eixo de sustentação do corpo associado à musculatura, estando localizada na posição dorsal desde a cabeça até o final da cauda. Possui origem mesodérmica e formará o esqueleto axial (coluna vertebral e cabeça). O tubo nervoso dorsal oco é de origem ectodérmica, localizado acima da notocorda e responsável por formar o sistema nervoso. A cauda muscular pós-anal tem função de propulsão e movimentação. O endóstilo ou glândula tireoide está localizado na parte ventral da faringe. Essa estrutura está relacionada à metabolização do iodo e à secreção de muco para auxiliar na alimentação. Assim, ela é importante em animais marinhos que são circundados de água rica em sais minerais, como o sódio e o iodo. Por fim, temos as fendas faríngeas, que são aberturas que auxiliam na filtração de partículas suspensas na água. Em animais aquáticos como os peixes, elas darão origem às brânquias internas e, nos vertebrados, aos órgãos respiratórios, como o meato acústico externo (nos humanos). 1.2 Diversidade e importância dos cordados vertebrados A diversidade dos cordados é enorme, principalmente a dos vertebrados, com mais de 56.000 espécies (Pough, 2008). Os peixes são o grupo mais representativo do filo Chordata no mundo, seguido das aves e dos répteis (figura 1). No Brasil, a riqueza (número de espécies) de vertebrados é de aproximadamente 8.930 espécies. Apesar disso, os invertebrados (não cordados) são o grupo mais rico! O infográfico a seguir representa a porcentagem de espécies de vertebrados no Brasil (figura 2): 4 Como podemos ver, os peixes (continental + marinho) são o grupo mais numeroso, seguido das aves e dos anfíbios. Os grupos menos numerosos são os répteis e os mamíferos. Perceba que o Brasil possui uma elevada riqueza de anfíbios se compararmos com o gráfico mundial. Devido ao avanço tecnológico nas áreas de filogenética e biologia molecular, a tendência é que a cada ano novas espécies sejam descobertas ou catalogadas. Figura 1 – Diversidade de espécies do Filo Chordata Imagens da Shutterstock: Four Oaks; Krakenimages.com; Sigitas Duoblis; Photoongraphy; Eric Isselee; dwi putra stock; kamnuan; dwi putra stock; Spalnic; Kiera Awayuki; John Back; kazumi miyamoto 5 Figura 2 – Infográfico dos vertebrados no Brasil (em parênteses, temos o número de espécies) Fonte: Struett, 2022, com base em ICMBio, 2022. Crédito: Bekirevren; Kenjo/ Adobe stock Os diversos vertebrados possuem importância ecológica, econômica e farmacológica. Muitas espécies de mamíferos estão no topo da cadeia alimentar. Alguns podem ser polinizadores, como os morcegos e os beija-flores; outros dispersores de sementes, como o lobo-guará. Os anfíbios são bioindicadores ambientais. Um exemplo na área da saúde são os soros antiofídicos utilizados para combater toxinas quando há acidentes com serpentes peçonhentas. Nosso organismo não produz anticorpos tão rápidos quanto a ação do veneno no corpo, por isso, precisamos do soro. No âmbito econômico, os peixes são muito utilizados para a alimentação humana e os pescadores sobrevivem da venda desses animais. Dessa forma, os cordados possuem um papel importante na natureza e na sociedade, ou seja, desempenham serviços ecossistêmicos favorecendo nossa economia e saúde. 6 TEMA 2 – EVOLUÇÃO DOS CORDADOS Os vertebrados têm origem há mais de 540 milhões de anos (Paleozoica) e passaram por inúmeros eventos climáticos e de deriva continental (movimento das placas tectônicas). Perceba que os cordados habitam diferentes ambientes (aéreo, aquático ou terrestre) e, assim, são morfologicamente distintos em suas formas e funções. Ao compararmos os aspectos da história evolutiva (origem) e da morfologia das espécies, podemos nos perguntar o porquê de organismos da mesma linhagem evolutiva possuírem estruturas tão diferentes. Outra pergunta, por que alguns têm formas tão similares, embora a sua origem evolutiva seja diferente? Cada grupo possui características em comum que vieram de um ancestral em comum, e a evolução pode ser analisada conforme as modificações dessas estruturas ao longo do tempo. Essa análise comparativa das estruturas e suas funções serve como uma ferramenta que nos ajuda na compreensão de aspectos biológicos relacionados aos evolutivos entre as espécies. Também falaremos aqui sobre alguns termos e representações filogenéticas. 2.1 Hipóteses sobre a origem dos cordados No século XIX, foram propostas duas teorias sobre o surgimento dos cordados. A primeira foi proposta por Geoffroy Saint-Hillaire (zoólogo francês) em 1822 e, mais tarde, foi reconsiderada por W. H. Gaskell e Willian Patten. Considerando os três, a teoria era de que as características como corpo segmentado, plano básico corporal (invertido) e semelhanças na regionalizaçãodo cérebro sustentariam a hipótese de que os cordados derivavam dos anelídeos e artrópodes. Já a segunda teoria é a mais clássica, proposta no início do século XX por Walter Garstang (biólogo britânico). Nela, foi levado em consideração que as larvas dos equinodermos possam ter sido os ancestrais dos cordados devido às semelhanças embrionárias (deuterostômios). Conhecida como Hipótese Auriculária, essa teoria propõe que a larva auriculária do equinodermo se manteve muito tempo nesse estágio, tornando-se sexualmente madura (pedomorfose) e fugindo do ciclo de se tornar adulta da mesma forma, mantendo características larvais na fase adulta. No entanto, ainda não é totalmente compreendida a origem, mas ambas as teorias serviram de base para os estudos dos cordados. 7 2.2 Sistemática filogenética dos cordados As relações entre as espécies podem ser representadas por árvores filogenéticas ou por cladograma. A árvore corresponde à história evolutiva ao longo do tempo, com caracteres indicadores (morfologia, comportamento, molecular, bioquímica) que agrupam as espécies em relação a um ancestral em comum, ou seja, a homologia. Já o cladograma é mais simplificado e evidencia as características comuns na história evolutiva. Além disso, não representa as unidades de tempo. Ambas as representações ilustram hipóteses de relações evolutivas entre as espécies com caracteres similares derivados compartilhados de um ancestral em comum. Vimos que a filogenia é uma ferramenta importante para o estudo da evolução, sendo também fundamental para a taxonomia e para a conservação. As linhagens na árvore filogenética é que dão base para a classificação das espécies em grupos hierárquicos. Também, é possível fazer esforços e mitigação para a conservação das espécies, pois a filogenia torna possível fazer previsões de espécies que serão mais afetadas ou mais vulneráveis em relação às mudanças climáticas. Vamos fazer uma analogia com uma árvore. Ela possui raiz, caule e ramos com folhas. Nessa ordem, podemos também visualizar partes de uma árvore filogenética e de um cladograma (figura 3). Na parte mais basal, temos a raiz que representa o grupo ancestral, o caminho percorrido ao longo do tempo são os ramos ou clados e os nós mostram de onde divergem esses ramos. Antes dos nós, é comum encontrarmos os caracteres sinapomórficos (novidades evolutivas) naqueles táxons. Os táxons próximos e que possuem o mesmo nó são considerados grupos-irmãos, ou seja, são semelhantes porque compartilham diversas características derivadas do grupo ancestral. 8 Figura 3 – Representação de um cladograma Os animais celomados são divididos em duas linhagens (figura 4): protostomata e deuterostomata. Os filos Chordata, Hemichordata e Echinodermata pertencem aos deuterostomados. As principais características que unem esses três grupos são os aspectos embrionários (figura 5). Nos protostômios (do grego proto = primeiro e stoma = boca), o blastóporo dá origem primeiro à boca. Também, a clivagem (divisão do ovo) é espiral, a formação do celoma (cavidade corporal) é do tipo esquizocélico e o esqueleto é de origem ectodérmica. São exemplos dessa linhagem os artrópodes, os anelídeos e os moluscos. Nos deuterostômios (do grego deuteros = segundo), o blastóporo dá origem primeiro ao ânus. Além disso, a clivagem do ovo é radial, o celoma é do tipo enterocélico e o esqueleto de origem mesodérmica. Por isso, os cordados são considerados aparentados das estrelas-do-mar e dos ouriços-do-mar (Filo Echinodermata). 9 Figura 4 – Diferenças no desenvolvimento embrionário de protostômios e deuterostômios Crédito: Elias Aleixo 10 Figura 5 – Relações filogenéticas do Reino Animal Crédito: Eliane Ramos TEMA 3 – PROTOCORDADOS Agora que vimos a origem e a evolução dos cordados, podemos continuar a história evolutiva. Os protocordados são todos invertebrados e conhecidos como os cordados primitivos. O prefixo “proto” provém do grego e significa “primeiro” ou “anterior”. São compostos por dois grupos: Cephalochordata e Urochordata (figura 6). Os principais representantes são os tunicados, do subfilo Urochordata, e os anfioxos, do subfilo Cephalochordata. Ambos os grupos são pequenos invertebrados, móveis ou sésseis e marinhos. Por fim, como são escassas as evidências fósseis, conhecer esse grupo que surgiu há 500 milhões de anos (Cambriano) nos permite entender a evolução dos cordados. Porém, falaremos antes sobre um grupo que precede os protocordados, conhecidos como Hemichordata. 11 Figura 6 – Cladograma simplificado das relações filogenéticas dos filos Echinodermata, Hemichordata e Chordata Crédito: Morphart/Adobestock; 3drenderings/Adobestock. 3.1 Hemichordata Os hemicordados (“meio” – cordados) possuem poucos representantes, com dois grupos distintos: enteropneustas e pterobranchia, constituindo, juntamente com os equinodermos, o agrupamento Ambulacraria. A principal estrutura que é compartilhada com os cordados são as fendas faríngeas. Também são deuterostomados e bilatérios. Seu corpo é dividido em: probóscide, colarinho e tronco. Alguns possuem um apêndice pós-anal, mas não possuem notocorda nem tubo nervoso dorsal oco. Os enteropneustas, representados pelos balanoglossos, são marinhos, vivem em tocas e possuem formato de verme, podendo ter mais de 1 m de comprimento. Alimentam-se de matéria orgânica e plâncton diretamente da água com sua probóscide. Sua excreção provavelmente é pela pele. Possuem um sistema vascular com dois vasos principais, e o sistema nervoso é difuso. São animais dioicos (sexo separado), e a fertilização é externa, com desenvolvimento indireto, ou seja, a larva tornaria passa por metamorfose até atingir a forma adulta. Já os pterobrânquios abrangem apenas dois gêneros, são pequenos e coloniais marinhos. Vivem em tubos fixos por um pedúnculo. Sua excreção envolve um glomérulo na probóscide. O sistema nervoso é simples, possuem poucas fendas faríngeas e uma estomocorda (oca e não rígida) localizada dentro da probóscide. https://stock.adobe.com/br/contributor/201267476/3drenderings?load_type=author&prev_url=detail 12 3.2 Urochordata O subfilo Urochordata ou Tunicata possui este nome devido à presença de “cordão na cauda”, ou seja, a notocorda (figura 7). Os principais representantes desse grupo são os tunicados, devido à presença de uma túnica que recobre o corpo. Podem ter ou não espícula de calcário. Nesse grupo, há mais de 2000 espécies, poucas são sésseis na fase adulta. São animais marinhos e filtram partículas na água por meio de uma faringe perfurada denominada cesta branquial. Os urocordados ou tunicados possuem várias divisões. As principais são: Ascidiacea, Larvacea e Thaliacea. Figura 7 – Representantes dos subfilos Urochordata e Cephalocordata evidenciando as principais características presentes nos cordados invertebrados do Filo Chordata Crédito: Eliane Ramos; Smile Ilustra. As ascídias possuem fase larval e os adultos são sésseis, geralmente com coloração brilhante (figura 8). Podem ser coloniais ou solitários, fazem metamorfose, são hermafroditas (mesmo sexo no indivíduo) e sua reprodução pode ser sexuada ou assexuada. Em relação a sua anatomia, é possível ver nas figuras 7 e 8 duas aberturas: o sifão inalante ou oral, ou seja, inala (entra) água, e o sifão exalante ou atrial, no qual há a saída da água. Esses orifícios tornam possível a passagem e a filtração da água para a alimentação e as 13 trocas gasosas. As Larvacea possuem poucos milímetros de comprimento e são planctônicas. Na fase adulta, as características larvais são prevalecidas, por isso o nome do grupo. Sua epiderme possui uma matriz gelatinosa para auxiliar na alimentação (filtração),além de um par de fendas e um endóstilo reduzido. Por fim, os Thaliacea são representados pelas salpas, que se diferem das ascídias devido ao fato de suas aberturas estarem localizadas em lados opostos. Devido a essa característica, conseguem se movimentar por meio de propulsão da água, sendo animais de vida livre e marinhos. O endóstilo é localizado na parte ventral da faringe. Figura 8 – Colônia de ascídias, principais representantes do subfilo Urochordata Crédito: Jung Hsuan/Shutterstock. 3.3 Cephalochordata Os cefalocordados são representados pelos anfioxos (figura 9). Seu corpo é alongado e afilado nas duas extremidades. Esses animais lembram pequenos peixes e ocorrem em águas rasas e quentes com ampla distribuição no mundo. Esse grupo possui pouco mais de 20 espécies e, no Brasil, há registros de quatro espécies de anfioxo (Alves et al., 2001). Eles são nadadores 14 devido à presença de miômeros de músculos segmentados em formato V, porém, na fase adulta, possuem o hábito de ficar parcialmente enterrados com a região anterior com cirros orais para fora a fim de captar alimentos. Essa captura ocorre devido a uma estrutura que se abre, a qual é chamada de átrio. O sistema circulatório lembra o dos vertebrados, no entanto, eles não possuem coração. O bombeamento se dá através de algumas veias e artérias. Também são dioicos (sexo separado) com fecundação externa, e sua larva é planctônica e ciliada. Por fim, os anfioxos mantêm as características diagnósticas que definem um cordado ao longo da vida: a notocorda, o tubo nervoso dorsal oco, as fendas faríngeas, o endóstilo e a cauda muscular pós-anal. Figura 9 – Anatomia do anfioxo (Cephalochordata) Crédito: Sciencepics/Shutterstock. TEMA 4 – AGNATOS E OS PRIMEIROS VERTEBRADOS Para entendermos a evolução dos vertebrados, temos que falar dos agnatos, que representam os vertebrados ancestrais que surgiram no Período Cambriano Inferior. O nome do grupo faz referência a animais sem maxilas na boca. Abordaremos os agnatos atuais, que são divididos em dois grupos: Myxinoidea (feiticeiras) e Petromyzontoidea (lampreias). Ambos pertencem ao subfilo Craniata, mas feiticeiras pertencem ao grupo craniata e as lampreias ao vertebrata. Dessa forma, a principal característica aqui seria a presença de um crânio, já que nem todos possuem vértebras. 15 4.1 Myxinoidea (feiticeiras) As feiticeiras são peixes marinhos com formato alongado, sem escamas e sem vértebras. Por serem cordados, o que os auxilia na movimentação e sustentação é a presença da notocorda. Possuem de uma a 15 aberturas branquiais em cada lado (Pough, 2008). Esses animais vivem em regiões profundas dos mares, ou seja, ambientes escuros que não têm incidência luminosa. Por isso, apesar de não possuírem olhos, possuem uma única e eficiente narina para caçar alimentos. Outra adaptação para procurar suas presas é a presença de seis tentáculos sensoriais na boca. Sua alimentação envolve animais em decomposição e ocorre por meio de estruturas queratinizadas para raspar a carne ou ingerir animais (Kardong, 2010). Como adaptação e forma de defesa, conseguem escapar de predadores por meio de enormes secreções de muco no corpo, associadas à capacidade de dar um nó com seu corpo. Esse comportamento também auxilia na sua alimentação, ajudando a arrancar pedaços da presa (Kardong, 2010; Pough, 2008). Em relação à reprodução, não se tem muito conhecimento devido à dificuldade de se encontrar ovos fertilizados. No entanto, há indivíduos dioicos com razão sexual maior para as fêmeas e hermafroditas (Pough, 2008). As feiticeiras possuem importância ecológica, já que são carniceiras e também podem ser presas de tubarões. Por fim, fazem parte da alimentação humana em países como Japão e Coréia. Além disso, o seu muco pode servir de base para ser utilizado nas indústrias têxtil e automobilística. O muco possui também potencial antibacteriano (Sushila; Devi, 2020). Por isso, são importantes na economia, na saúde, na alimentação e nos estudos evolutivos. 4.2 Petromyzontoidea (Lampreias) As lampreias se assemelham morfologicamente às feiticeiras, mas, na verdade, compartilham mais características com os gnatostomados (animais com maxila), como a presença de vértebras cartilaginosas reduzidas. Observe, na figura 10, a anatomia das lampreias. Elas possuem corpo cilíndrico e alongado, e suas nadadeiras não são pareadas. Apresentam uma única narina localizada na parte superior da cabeça, boca circular com língua áspera 16 com dentículos de queratina, sete aberturas externas de fendas branquiais e olho bem desenvolvido. Assim, podemos relacionar suas características ao ambiente em que vivem. As lampreias podem habitar ambiente de água doce ou oceanos. Algumas espécies podem ser anádromas, ou seja, vivem no oceano e, quando adultas, migram para a água doce a fim de se reproduzir. São animais dioicos e possuem fase larval, sua larva amocete e pode persistir nesse estágio por anos enterradas. A maioria das lampreias são parasitas, portanto, sua alimentação consiste em sugar fluídos corporais de peixes, baleias e golfinhos (Pough, 2008). Por fim, possuem importância evolutiva e também são consumidas em alguns países, sendo consideradas iguarias. Figura 10 – Anatomia externa da lampreia Crédito: 7Activestudio/Adobe Stock. TEMA 5 – ORIGEM E DIVERSIFICAÇÃO DOS GNATOSTOMADOS Uma das adaptações mais importantes para os vertebrados foi o surgimento das maxilas. Imagine a variedade de alimentos que foi possível obter com essa estrutura. Além disso, junto com os dentes é possível agarrar, manipular, cortar e moer alimentos. A presença dessa estrutura aumentou sua dieta com o aparecimento da dentição, de forma que podiam ser carnívoros e/ou herbívoros. Outra adaptação foi o surgimento de dois pares de nadadeiras (peitorais e pélvicas), aperfeiçoando a natação e as costelas, conferindo ancoragem dos músculos. Os gnatostomados são divididos em duas linhagens atuais que compreendem os Chondricthyes (peixes cartilaginosos) e os Teleostomi, bem como uma extinta, que são os Placodermi. O Teleostomi é constituído pelos 17 Acanthodii (extinto), Osteichthyes (peixes ósseos) e Tetrapoda (anfíbios, répteis, aves, mamíferos). Aqui, conheceremos a origem das maxilas e os grupos de peixes basais com mandíbulas, conhecidos como placodermi e acantódios. Ambos surgiram no Período Siluriano e estão extintos. 5.1 Origem e desenvolvimento das maxilas Existem diversas hipóteses e teorias para explicar o surgimento das maxilas nos vertebrados. Com o avanço nas tecnologias, descobertas de novos fósseis e estudos de gnatostomados atuais podem emergir sobre a origem e a diversificação das maxilas. Recentemente, pesquisadores descobriram que existem até genes envolvidos que expressam ou não a maxila, os chamados genes Hox. Explicaremos aqui a hipótese mais aceita e proposta sobre a origem das maxilas, a qual foi baseada em estudos de evidências embrionárias e anatômicas. Fato é que as maxilas são derivadas dos arcos branquiais anteriores (derivada da crista neural, um tecido embrionário). Esses arcos formam os arcos mandibulares, arco hioide e arco mandibular. A teoria conhecida como Teoria Serial surgiu da hipótese de que por meio de um agnato ancestral (sem maxilares), o primeiro e o segundo arco branquial originaram o arco mandibular, sendo que o próximo originou o arco hioide, e o restante originou os arcos branquiais dos peixes mandibulares (figura 11). 18 Figura 11 – Surgimento das maxilas nos gnathostomata Crédito: Elias Aleixo. 5.2 Placodermi Os placodermes que perduraram até o Devoniano são peixes primitivos recobertos com uma armadura dérmica óssea. Essa estrutura era segmentada em parte cefálica e tronco unidaspor articulação, assim, era possível movimentar a cabeça com eficiência na predação e na respiração. 19 Seus ancestrais eram marinhos, mas há diversas linhagens adaptadas para a água doce com hábitos bentônicos devido ao registro fóssil ter exemplares de placodermes com corpos achatados e olhos no topo da cabeça. Não tinham dentes para se alimentar, mas sim projeções da maxila (Kardong, 2010). Provavelmente, sua fecundação era interna, porque alguns apresentavam uma estrutura que auxiliava na fecundação chamada de clásper pélvico, estrutura essa que tubarões e raias também exibem. 5.3 Acanthodii (Teleostomi) Os acantódios, grupo-irmão dos peixes ósseos, perduraram do período Siluriano até o Permiano. Os primeiros tinham hábito marinho, mas no Devoniano a maioria habitava a água doce (Pough, 2008). Eles possuíam corpo delgado e podiam ter de 20 cm até 2 metros de comprimento. A principal característica derivada do nome desse grupo é a presença de espinhos especializados ao longo do corpo. Possuíam um arco mandibular similar aos encontrados em tubarões e peixes ósseos (Kardong, 2010). Além disso, apresentavam seis pares de nadadeiras (além das peitorais e pélvicas), olhos e cabeça grande. NA PRÁTICA Você conhece uma ferramenta chamada mapa conceitual? Essa ferramenta nos auxilia na organização de conceitos por meio de representações gráficas em estruturas em forma de rede. Além disso, possui uma pergunta que norteia a construção do mapa. Dessa forma, é uma ilustração que você pode relembrar a qualquer momento, facilitando o ensino e a aprendizagem de um determinado conteúdo. Como montar um mapa conceitual? Basicamente, você utiliza proposições ligadas por termos de ligação e de forma hierárquica, ou seja, conceitos mais gerais para os mais específicos. Acesse o artigo de Araújo-de-Almeida et al. (2020), no qual os autores explicam a importância dos mapas conceituais, apresentando como construir um e ilustrando com alguns exemplares. Disponível em: 20 <https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/19130/15362>. Acesso em: 3 jun. 2022. Por fim, nossa proposta de pergunta para esta etapa (realizada na nossa conversa inicial) e para a construção do mapa é: quais são as principais características morfológicas, ecológicas e taxonômicas do Filo Chordata? FINALIZANDO Nesta etapa, foi possível diferenciar em aspectos morfológicos, ecológicos e evolutivos dos principais grupos dos cordados. Seus representantes são muito diversos nesses aspectos, no entanto, compartilham caracteres importantes que permitem agrupar esses animais, como a notocorda, o tubo nervoso dorsal oco, a cauda muscular pós-anal, as fendas faríngeas e o endóstilo. O filo Chordata é constituído por três subfilos: Urochordata, Cephalochordata e Craniata. Abordamos as relações filogenética desses grupos, além da origem e evolução das suas características. Uma das adaptações mais importantes quando se estuda vertebrados são: o surgimento das maxilas e das nadadeiras. Por fim, vimos que as evidências fósseis dos vertebrados são de animais invertebrados marinhos, envolvendo tanto grupos gnatostomados (animais com mandíbulas) como agnatos (animais sem mandíbulas). 21 REFERÊNCIAS ALVES, M. S. et al. Cephalochordata do Estuario do Rio Paripe, Itamaracá, Pernambuco. Tropical Oceanography, Recife, v. 29, n. 2, p. 129-138, 2001. ARAÚJO-DE-ALMEIDA, E. et al. Elaboração e aprimoramento de mapas conceituais sobre táxons zoológicos. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 6, n. 10, p. 83651-83672, out. 2020. ICMBIO – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Fauna Brasileira. 2015. Disponível em: <https://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira>. Acesso em: 13 jun. 2022. KARDONG, K. V. Vertebrados: anatomia comparada, função e evolução. 5. ed. São Paulo: Roca, 2010. PATRICIO-COSTA, P. Zoologia. Curitiba: InterSaberes, 2021. POUGH, F. H. A vida dos vertebrados. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2008. SATOH, N.; ROKHSAR, D.; NISHIKAWA, T. Chordate Evolution and the Three- Phylum System. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, v. 7, n. 281, 2014. SUSHILA, S. S.; DEVI, S. Hagfish slime: The future clothing. Journal of Entomology and Zoology Studies, v. 8, n. 4, p. 372-375, jun. 2020.