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Reflexões sobre a Poesia de Drummond

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Fonte [9]
As perguntas são muitas, e não podem ser respondidas 
pragmaticamente; assim é a obra de arte: podem-se levantar hipóteses 
sobre o efeito que ela produz, perguntas devem ser feitas, para que se 
tenha uma nova leitura de palavras velhas. É nesse suspense, nesse 
estado de contemplação a que o poema nos conduz que o efeito poético 
deve ser buscado. Não é necessário ficar triste nem alegre, nem expressar 
sentimentos patéticos diante do texto. Os sentidos é que devem ficar 
abertos para que a experiência poética penetre, para que possamos 
aproveitar o poema. 
E assim, de poesia (no sentido de estado poético) em poesia, 
Drummond vai revelando sua concepção de vida e de mundo.
As concepções da existência são várias, e normalmente vestem um 
tom escuro, relacionado ao envelhecimento, à perda dos encantos da 
juventude. 
Tal como a sombra no vale,
a vida baixa...
("Cantiga de enganar")
tudo me atormentava 
sob a escureza do dia,
("Rola mundo")
Negro jardim onde violas soam
e o mal da vida em ecos se dispersa
("Jardim")
A tonalidade obscura às vezes vem acompanhada da ideia de frieza 
ou de silêncio.
(...) e a fala
que de uma para outra sala
ouvimos em certo instante
é silêncio que faz eco
e que volta a ser silêncio
no negrume circundante
("Cantiga de enganar")
Ganhei (perdi) meu dia.
E baixa a coisa fria
também chamada noite, e o frio ao frio
em bruma se entrelaça, num suspiro.
("Elegia")
Em "Elegia", o escuro da noite da vida contrasta com a claridade do 
dia, metáfora da juventude:
Dia,
espelho de projeto não vivido,
e contudo viver era tão flamas
na promessa dos deuses (...)
As inquietações do poeta revelam-se através de oposições: antíteses, 
fusões de contrários, paradoxos. É a velhice, por exemplo, que traz paz, 
mas uma paz destroçada, em oposição ao espírito agressivo da mocidade; 
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