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mãos sujas no labor do subsolo, apenas vos ofereço o choro vivo, a revolta profunda e ignorada dos homens solitários. Somos os filhos do chão escuro, os frutos sem planície e sem sol, os esquecidos trabalhadores das minas tenebrosas. Marinheiros do abismo sem estrela e âncoras. Caras de carvão, flores da treva, lírios de luto brotando num jardim de turfas. Homens duros e amargos, oriundos de solidões calcáreas, escondemos nosso protesto na ironia indócil, não cortante como lâmina, pungente como anedota de louco, confissões de bêbado, música de cego. É estranho esse modo de ferir, pedindo desculpas. Amigos, perdoem-nos, amigos, crede em nós, os homens tristes! Sob a nossa máscara solene existe um piedoso coração sangrando por nós, por vós. Um grito de mãe na tempestade, um morto não identificado, uma janela na noite do hospital, um pé descalço, retirantes num carro de segunda, um menino chorando numa esquina, um homem fulminado numa praça, a tecelã tossindo sob a miséria coletiva, ou uma bandeira no enterro do operário, tudo isso nos comove, nos fere, nos afoga em fundas cogitações e paralelos. Um detalhe qualquer do drama humano, da agonia milenária, prende a nossa imaginação e acende o lume de nossos poemas solidários. No entanto, há céticos que aconselham: "Ingênuos, por que esse apelo no deserto? Além há poetas cantando a vida amena. Fazei coro com eles. Os aplausos coroarão os vossos ofertórios. 129