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Literatura Brasileira: Década de 40

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Literatura Brasileira III 
Aula 05: A Década de 40 
Tópico 03: Uma Inquietação Prenuncia o Pós-Moderno
A poesia da década de 40 parece não ter sido bem compreendida por parte da crítica brasileira, que 
reivindica um comprometimento da arte com a chamada realidade social. Para a crítica do empenho 
poético, poesia descomprometida é sinônimo de poesia de baixa qualidade. Esse ponto de vista, 
evidentemente, é passível de questionamento, como tudo em literatura. A qualidade da poesia certamente 
não está em seu assunto meramente, mas na combinação de um conjunto de recursos linguísticos e 
temáticos. Para se constatar a riqueza da poesia da década de quarenta, basta uma olhada em alguns 
nomes de poetas que publicaram nessa época: Cecília Meireles, Mário Quintana, João Cabral de Melo 
Neto, Drummond, Vinicius de Moraes. Poderíamos acrescentar a essa relação os nomes igualmente 
notáveis de Lêdo Ivo, Wilson Figueiredo, Bueno de Rivera, Henriqueta Lisboa, Augusto Frederico Schmidt, 
Alphonsus de Guimaraens Filho, Emílio Moura.
Nesse momento, a poesia continua a falar de amor, de injustiça social, de guerra, de poesia... Há, 
entretanto, uma inquietação própria dessa época, que se pode talvez desdobrar em um sentimento típico 
de nossa contemporaneidade: a ideia de que a palavra é insuficiente para propiciar o acesso ao real, de 
que o sentido não é mais algo apreensível sem contestação, de que a poesia não consegue mais 
estabelecer as verdades que o ser humano julgava bastantes para satisfazer seus anseios e seus desejos, 
de que a poesia não mais sustenta mais pela codificação de licenças...
O poeta Lêdo Ivo, no editorial da Revista Orfeu, de 1947, declara:
modernismo e o pós-modernismo, que fixam o maior período de densidade, pesquisa e criação 
já atingidos no Brasil, comprovam hoje a existência de um movimento cultural, ainda incerto em 
sua significação e em seus objetivos. (...) Essa incerteza somos nós. O tempo ainda não nos 
construiu ainda, ignoramos o que seremos ― é a vertigem de vir a ser que nos tenta e nos 
congrega. (...) Enquanto formos novos, seremos inacabados". Pode-se relacionar essa 
afirmação de Lêdo Ivo ao que escreveu, muitas décadas mais tarde, Leyla Perrone-Moisés: "Na 
sua gênese e na sua realização, a literatura aponta sempre para o que falta, no mundo e em nós 
(p. 104).
Essa estética da falta, da carência, da fratura, da impossibilidade tem muito a ver com a literatura 
nossa contemporânea. A poesia então deseja algo que nem ela mesma sabe o que é, fazendo-se a própria 
busca; ao libertar-se da velha lei da licença codificada, o texto poético parece subordinar-se a essa nova e 
estranha potência, que não se dá a conhecer, mas que move os poetas em seu fazer incessante.
Essa inquietação assaltou Carlos Drummond de Andrade ao final da década de 40. Após produzir 
duas das mais belas obras da poética engajada brasileira, Sentimento do mundo (1940) e Rosa do povo 
(1945), Drummond parece sentir que a poesia lhe aponta novos rumos, os quais, não obstante, ele ainda 
não vislumbra. Ele não vê os novos caminhos como promissores, antes considera-os obscuros, mas 
parece não conseguir evitá-los, e deixa-se conduzir fascinado como os navegantes pelo canto das sereias.
O poema "Jardim", do livro Novos poemas (1946/47), é exemplar dessa tendência, que parece 
consolidar-se no livro seguinte, Claro enigma (1951), cujo poema de abertura, "Dissolução" apresenta 
muitas semelhanças com o citado "Jardim". Apresentamos aqui os dois poemas, para sua leitura, reflexão 
e apreciação (condição para você participar do chat desta aula):
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